Nomeados – Páginas 56–63
Nelson Mandela &
Texto: ANNIK A FORSBERG L ANGA FOTO: LOUISE GUBB
Por que Nelson é nomeado? Nelson Mandela é nomeado à Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por uma vida de lutas pela libertação das crianças sul-africanas, durante o Apartheid, e pelo grande apoio aos seus direitos. Depois de 27 anos de prisão, ele foi o primeiro presidente democraticamente eleito na África do Sul – um país onde hoje, pela primeira vez, crianças de todas as cores desfrutam os mesmos direitos. Nelson continua a ajudar as crianças sul-africanas e a exigir que seus direitos sejam respeitados. Ele dirige sua própria fundação – a Nelson Mandela Children´s Fund, NMCF (Fundo Nelson Mandela para Crianças) – que ajuda crianças cujos pais morreram de Aids, crianças de rua, crianças com necessidades especiais e crianças pobres. Quando presidente, ele doou a metade do próprio salário à crianças pobres, e quando recebeu o Prêmio Nobel da Paz, doou parte do prêmio às crianças de rua. Nelson não só deseja que todas as crianças se sintam amadas, também quer oferecer-lhes um futuro melhor. É por isso que ele lhes dá apoio para que tenham a oportunidade de desenvolver os seus talentos.
Graça Machel e Nelson Mandela são casados. Eles são os melhores amigos das crianças de Moçambique e da África do Sul. Eles levantam suas vozes contra a violação dos direitos da criança sempre que necessário. Ambos dirigem organizações que trabalham para ajudar crianças em dificuldades e promover a garantia de seus direitos.
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ela conheceu Samora Machel, líder do movimento de libertação. Os dois se casaram em 1975, ano em que Moçambique conquistou sua independência. Samora tornou-se presidente de Moçambique e Graça, Ministra da Educação. Muitas crianças começaram a frequentar a escola nessa época, mas logo começaria uma nova guerra. Em 1986, Samora morreu em um misterioso acidente de avião. Alguns anos depois, Graça começou a trabalhar na ONU, informando ao mundo sobre a situação das crianças vítimas da guerra. Ela queria ajudar, especialmente, as crianças soldados e as crianças feridas em explosões de minas. Graça era capaz de se confrontar com quem fosse, sempre que os direitos da criança estavam em questão. Logo que foi assinado o acordo de paz em Moçambique, começaram os trabalhos da ONU de busca e desativação de Do lado das crianças Quando Graça era criança, minas. Moçambique era ainda uma colônia portuguesa e quase todos os africanos eram pobres. Graça começou a lutar pela liberdade do país. Como os portugueses queriam colocá-la na prisão, Graça foi obrigada a se refugiar na Tanzânia. Em uma missão secreta no norte de Moçambique pai de Graça Machel morreu antes dela nascer e sua mãe teve que prover sozinha para os sete filhos: Graça e seus seis irmãos. Antes da sua morte, o pai dissera que aquela criança na barriga da mãe deveria ir à escola. Assim, quando Graça completou sete anos, entrou para a primeira série. Sua professora se chamava Ruth e era uma missionária norteamericana. Todas as crianças tinham medo dela. Mas a pequena Graça escreveu uma carta à Ruth, agradecendo por tudo o que havia aprendido. Graça ganhou uma bolsa para estudar na capital, Maputo. Aos domingos, ela frequentava a igreja e achava injusto que apenas os meninos pudessem liderar o grupo de jovens da paróquia. Ela se levantou na igreja e de pé exigiu direitos iguais para as meninas.
Graça fundou a organização FDC (Fundação para o Desenvolvimento Comuni tário), em Moçambique, que tem como objetivo realizar um trabalho de prevenção de doenças infantis fatais. – “Nós compramos vacinas e fazemos o possível para que crianças não morram de doenças que podem ser evitadas’, ela conta. Graça ajuda também as
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a & Graça Machel em casa, trabalhando nas tarefas domésticas.
crianças que não têm recursos a frequentar a escola. – “Eu conheço bem a vida dessas crianças. Eu também fui uma menina pobre’, conta Graça. Graças a seus esforços, em breve, metade dos estudantes das escolas moçambicanas serão meninas. Antes, as famílias mandavam apenas os fi lhos homens à escola. As meninas tinham que ficar
Salário para as crianças Graça Machel se casou com Nelson Mandela quando ele completou 80 anos. Ambos amam as crianças e empenharam suas vidas na luta pelos seus direitos. Nelson também cresceu em uma família pobre. Quando foi para a grande cidade de Joanesburgo, se deparou com o Apartheid, que significa ‘segregação’. Os negros e os brancos viviam separados e os negros eram maltratados. Nelson tinha horror à injustiças e não podia aceitar que uma pessoa fosse tratada de forma diferente por causa da cor de sua pele. Ele não queria ver seus fi lhos – e todas as outras crianças da África do Sul – crescerem sob o Apartheid. Ele disse que estava disposto a dar a própria vida para que as crianças tivessem um futuro melhor. Sua luta contra o Apartheid e pela liberdade das crianças sul africanas custou-lhe 27 anos de prisão! Nelson tinha 72 anos quando foi posto em liberdade. Apesar dos maus tratos de que foi vítima, ele não queria se vingar dos responsáveis pelo Apartheid. Ele queria que brancos e negros
vivessem em paz, para construir juntos um futuro melhor. Em 1993, quando recebeu o Prêmio Nobel da Paz, Nelson declarou: – “Os fi lhos da África do Sul brincarão em campo aberto, sem serem torturados pelas dores da fome e das doenças, e sem sofrerem ameaças de agressões. As crianças são nosso maior tesouro’. Em 1994, Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul e fez com que todas as leis injustas fossem suspensas. Hoje as crianças brancas e negras podem ser amigas, e todos têm direitos iguais. Mas Nelson Mandela não parou por aí. Quando era presidente, ele doava a metade do seu próprio salário para as crianças pobres e, quando recebeu o Prêmio Nobel da Paz, doou uma parte do prêmio para ajudar as crianças de rua. Atualmente, Nelson Mandela está aposentado e dirige sua própria fundação, a Nelson Mandela Children´s Fund, NMCF (Fundo Nelson Mandela para Crianças), que ajuda crianças cujos pais morreram de Aids, meninos de rua, crianças com necessidades especiais e crianças pobres. No www.worldschildrensprize.org você poder ler a história em quadrinhos “O Pimpinela Negro” sobre toda a vida de Nelson Mandela.
POR QUE GRAÇA É NOMEADA? Graça Machel é nomeada à Heroína dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por sua longa e corajosa luta pelos direitos da criança, principalmente em Moçambique. Ela lutou pelo direito das meninas de frequentar a escola. Quando foi Ministra da Educação, o número de estudantes nas escolas de Moçambique aumentou 80%. A meta de Graça é ter nas escolas o mesmo número de meninos e meninas. Nas áreas rurais, a maioria das meninas tem que trabalhar e é obrigada a se casar muito jovem. Por isso, Graça fundou um grupo de teatro para conscientizar os pais sobre a importância da educação para as meninas. Graça construiu escolas em comunidades onde estas não existiam ou onde a quantidade não era sufi ciente. Depois das enchentes de 2000, Graça e sua organização – FDC (Fundação para o Desenvolvimento Comunitário) - doaram novos livros escolares aos alunos e realocaram famílias em novas casas. Graça também luta contra todas as formas de violência e abusos contra crianças. Graça trabalhou internacionalmente, ajudando crianças vítimas da guerra e no combate ao tráfi co de crianças.
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Nós
Graça e Mandela “Eu amo o Mandela. Eu e ele fazemos aniversário no mesmo dia. Um dia, eu lhe mandei um cartão de aniversário e lhe perguntei se queria ser meu pai adotivo.” Kefiloe, 10, Soweto
“Graça Machel é a mulher mais corajosa do mundo. Não tem medo de nada e sempre ajuda as crianças. Especialmente aquelas que passam por dificuldades, como as crianças de rua. Eu li no jornal que o Mandela também é assim. Ele ajudou muito a África do Sul.” Faustino, 10, Maputo
“Graça Machel realmente ama as crianças. Ela constrói escolas e protege as crianças da Aids. Ela se veste super bem também. Um dia, ela visitou a nossa escola. Quando cantamos para ela, ficou tão feliz que começou a dançar.” Lina, 13, Changalane
“Mamãe Graça nos mostrou o caminho para o futuro. Ela é a prova de que as meninas podem fazer tudo o que os meninos fazem. Ela me ajudou a ser a pessoa que sou hoje.” Anabela, 14, Chaukwe
“Nelson Mandela tem um bom coração. Ele ajuda as crianças com deficiências físicas e mostrou que o povo pode mudar para melhor. Ele esteve preso durante 27 anos, mas não pensou em vingança. O que queria era a paz e mostrar que os negros e os brancos podem viver lado a lado. Acho fantástico!” Phumeza, 14, com necessidades especiais, e Alexandra
“Para mim, Nelson Mandela é um herói. Ele sempre acredita no melhor das pessoas e confia nas crianças. Ele sabe que as crianças têm talento e que podem ter êxito, basta que lhes seja dada uma oportunidade. Tê-lo aqui é uma sorte.” Abae, 12, Sebokeng
“Mandela lutou pelos nossos direitos e salvou nosso país. A vida seria muito difícil hoje, se ele não tivesse nos ajudado. Se eu o encontrasse, diria assim: – Prazer em conhecê-lo e obrigado por nos ter dado a liberdade!” Zanele, 12, Soweto
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O maior presente de Mandela às crianças
Liberdade e igualdade de direitos
A história da avó Minha avó conta que veio de Transkei para a Cidade do Cabo. Transkei era uma pobre ‘terra natal’, assim o governo do Apartheid chamava estes lugares onde os negros eram obrigados a
Como um cão – Um dia, vi pela janela um inspetor na rua. Ele percorria todas as casas para controlar os passes das empregadas. Telefonei para a Madame, minha patroa. Ela mandou que eu me escon-
O maior presente de Nelson Mandela às crianças da África do Sul foi sua longa luta pela liberdade e pela igualdade de direitos dessas crianças. Essa luta lhe custou 27 anos de cárcere. Peliswa nos conta como era a vida, durante o Apartheid na África do Sul. As crianças negras eram maltratadas, frequentavam as piores escolas e tinham que viver separadas dos pais.
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Crianças do apartheid Racismo legalizado O racismo sempre existiu e ainda hoje existe no mundo inteiro. Porém, durante o século XX, havia mais do que apenas racismo na África do Sul. Nesse país, em 1948, o racismo foi legalizado e recebeu o nome de Apartheid. Apartheid Apartheid quer dizer ‘segregação’ em africânder. Os negros e os brancos eram mantidos separados uns dos outros. O Apartheid era um
racismo legalizado, apoiado pelo governo, pelas leis e pelos tribunais de justiça. Famílias proibidas O casamento entre negros e brancos era ilegal. Se um negro e um branco tivessem um filho juntos, ele era chamado de ‘criança de cor’ e era obrigado a morar com quem fosse negro, o pai ou a mãe. Se a polícia descobrisse que os pais viviam juntos, estes eram processados e, às vezes, presos.
Lares ilegais A África do Sul foi dividida em áreas de brancos e áreas de negros. Milhões de crianças e suas famílias viram-se forçadas a abandonar suas casas nas áreas de ‘brancos’, para se mudarem para os guetos de ‘negros’. Nesses lugares, o desemprego massivo obrigava os chefes de família a deixarem seus filhos com parentes, em busca de trabalho longe dali, nas residências dos brancos, na agricultura e nas fábricas. Muitas crianças negras viam seus pais apenas no Natal.
Gogo Somlayi, prima Babalwa, mãe Nomonde e Pelizwa.
desse atrás de um armário até que ela voltasse para casa. Quando ela chegou, escutei-a dizendo ao inspetor que havia apenas um cão dentro de casa. – Assim era a nossa vida, naquela época. Nós carregávamos os fi lhos dos brancos nas costas e os educávamos, enquanto nossos próprios fi lhos tinham que ficar sozinhos na ‘terra natal’. A história da mãe Minha mãe cresceu em Transkei, na casa da mãe da Gogo, minha bisavó, que morreu enquanto minha avó trabalhava para os brancos. Então, minha mãe foi morar na casa de uns vizinhos em Transkei. Ela só podia encontrar Gogo no Natal.
TEXTO: MARLENE WINBERG FOTO: GÖTE WINBERG; LOUISE GUBB & UWC-RIM MAYIBUYE ARCHIVES
u moro em Khayelitsha, na periferia da Cidade do Cabo, na África do Sul. Eu pedi à minha mãe e à minha Gogo (avó materna) que explicassem o que era o Apartheid. Como vocês podem imaginar, na minha vida nunca houve Apartheid e não há nada que eu seja proibida de fazer só por ser negra.
viver. Naquela época, todos os negros tinham que portar passes quando saíam de suas ‘terras natais’. O passe permitia-lhes transitar nas áreas destinadas aos brancos. Minha avó não tinha esse passe, mas mesmo assim, foi de ônibus para a Cidade do Cabo e conseguiu trabalho na casa de uma senhora branca. – Todos os dias, eu saía de casa às seis horas da manhã da favela em que vivia, pois às oito horas começava o controle de passes dos passageiros dos ônibus. Se você não tivesse um passe, levava uma surra e ia para a prisão. Depois, deportavam as pessoas de volta para Transkei, onde acabavam passando fome, lembra Gogo.
Escolas pobres para negros As escolas nos guetos ‘negros’ eram muito pobres. As crianças tinham que compartilhar as carteiras escolares e, com frequência, mais de 60 estudantes se empilhavam numa única sala de aula ou embaixo de alguma árvore. As crianças negras eram proibidas de
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Muitas vezes, havia mais de 60 crianças em cada sala de aula, nas escolas pobres para crianças negras.
Nessas datas, Gogo trazia para ela as roupas velhas das crianças que ela cuidava. – Eu nunca fui tão próxima da minha mãe como eu e você somos. Eu sentia falta dela e quando minha Gogo morreu, fiquei praticamente órfã. Eu sabia que minha mãe cuidava de crianças brancas, longe de casa. Quando fi z onze anos, ela veio me buscar e passamos a morar juntas na favela. – Um dia eu a acompanhei ao trabalho para ajudá-la a polir a prata da Madame. Quando chegamos à estação de trem na área para brancos, pude ler cartazes por toda parte que diziam: ‘Exclusivamente para bran-
cos’. Eles estavam em todos os lugares: em ônibus, portas, lojas, bancos de praça. Achei muito estranho que os brancos não quisessem que nós, negros, nos sentássemos em seus bancos. Mamãe me explicou que nós nunca podíamos desobedecer aquelas ordens. Caso contrário, a polícia ou qualquer branco poderia nos bater. Mamãe me proibiu também de usar os copos da casa da Madame. Ela me disse que poderia perder o emprego. Eu bebia água de um pote de geléia que mamãe havia lavado para mim.’ Adolescente revoltada Foi nessa época que mamãe escutou falar de Nelson Mandela pela primeira vez. Ela viu uma fotografia em
frequentar as escolas das crianças brancas. Além disso, as escolas para ‘negros’ contavam com poucos recursos e a meta do ensino era preparálas para trabalharem para os brancos. Em 1975, o governo investia 42 rands na educação de cada criança negra e 644 rands, isto é, 15 vezes mais, na de cada criança branca.
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Trabalho infantil Milhares de crianças trabalhavam em fábricas e nas fazendas de brancos. Elas eram mal alimentadas, mal remuneradas pelo seu trabalho e nunca iam à escola.
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Crianças trabalhavam pulverizando o campo sem nenhum tipo de proteção contra os agrotóxicos.
que negros fugiam de uma tenda onde ficavam os trabalhadores das minas de ouro. Gogo explicou que a polícia tinha chegado para agredir um grupo de manifestantes, que protestavam contra o uso obrigatório dos passes. Gogo me contou que meu avô trabalhava nas minas, por isso nunca o víamos. Aquelas tendas eram como prisões para os escravos. Gogo me contou que Mandela era o presidente do CNA (Congresso Nacional Africano) que liderava os protestos. Minha mãe me contou que durante a sua infância, ela vivenciou todas as coisas terríveis que o Apartheid fez contra as crianças. Quando chegou à adolescência, tinha muita raiva. Em 1976,
ela e milhares de crianças protestaram contra o baixo nível do sistema educacional para crianças negras. As escolas eram muito pobres e tinham alunos demais. – Estávamos tão revoltados que decidimos lutar com todos os meios, para terminar de vez com o Apartheid. Na manhã de 16 de junho de 1976, eu e meus amigos nos juntamos atrás do barraco onde morávamos e fabricamos bombas com areia, gasolina, fósforos e um pedaço de pano, que colocamos dentro de uma garrafa de Coca-Cola.
Preso por não ter passe Os negros eram obrigados a carregar um passe, denominado ‘dompas’, que significa ‘passe estúpido’. Se fossem pegos sem o passe, eram presos ou enviados de volta às ‘áreas dos negros’, perdendo, assim, seus empregos.
Apartheid em todo lugar Uma lei de 1953 tornou ilegal para crianças negras e seus pais o uso de ônibus, parques, bancos, banheiros públicos,
A história da minha prima Minha prima Babalwa é muito mais velha do que eu. A mãe dela era membro do CNA e deixava Babalwa e a
Crianças na Prisão Milhares de crianças foram às ruas porque não tinham um lar para viver. Elas formaram gangues de rua e criaram ‘famílias’ sem adultos. Elas tinham que roubar para comer e foram colocadas na prisão por furto.
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irmã sozinhas em casa, para ir a reuniões secretas, já que o CNA era uma organização clandestina. Babalwa conta: – Quando mamãe viajou para uma reunião, nos disse para não abrirmos a porta para ninguém. Tínhamos muito medo, pois sabíamos que muitos tinham desaparecido quando foram capturados pela polícia. O que aconteceria se a polícia viesse e nos perguntasse onde estava nossa mãe? E se não lhes respondêssemos, seríamos presas? Conhecíamos muitas crianças que, quando se recusaram a cooperar, tinham apanhado da polícia e sido postas na prisão.
Minha história Eu nunca fi z protestos, nunca me escondi e não perdi minha mãe no Apartheid. Quando eu nasci, Mandela já estava livre e o CNA não era mais proibido. Hoje posso crescer e desfrutar da liberdade pela qual meus pais e Mandela lutaram tanto. Nelson Mandela é também meu herói, porque ele se preocupa com todas as vítimas do HIV/Aids. Ele fala em favor das famílias e crianças atingidas pelo vírus e, como é muito famoso, todos o escutam.
Nelson Mandela com crianças que hoje possuem direitos iguais, na inauguração do Fundo Nelson Mandela para Crianças, NMCF.
Eu vi com o vida de ta o apar theid tornou nt di Nelson M as crianç as e criei fícil a andela pa o ra C rianç as Fundo . Não pode m gatos gord os viver como os en quanto tantas cria fome. Um nç as passam te salário de rço do meu pr vai para o esidente Fu para Cria ndo nç as .
Madiba, em tod você pensa sem lar. Oas as crianç as Fu é a melho ndo Mandela r id alguém já éia que teve .
* Na África do Sul, muitos chamam Mandela de Madiba.
Madiba* 27 anos d, você deu a pela minhsua vida a vida.
Madiba, ag ir a qualquora posso er graças a escola você .
Leia a história em quadrinhos de Mandela na íntegra no www.worldschildrensprize.org
Violência contra crianças Os protestos estudantis continuaram por 15 anos, até o fim do Apartheid. A polícia e os militares usaram de violência contra jovens e crianças. Muitos deles foram presos, torturados e assassinados.
Crianças que foram presas porque protestavam contra o apartheid.
Pais encarcerados Os negros sul-africanos sentiam-se revoltados com as injustiças cometidas contra eles. Era-lhes impossível cuidar dos próprios filhos. Havia poucos hospitais pediátricos nos guetos negros para atender às crianças doentes. As moradias e as escolas eram pobres e não havia áreas de lazer. Os negros, então, se reuniam em grupos anti-Apartheid e protestavam. Milhares de crianças perderam seus pais, que foram assassinados ou presos porque protestaram.
lojas, hotéis, restaurantes e muitos outros serviços destinados apenas aos brancos. A sinalização dizia: ‘Somente brancos’. Parentes no exílio As organizações políticas dos negros, incluindo o CNA de Mandela, eram banidas. Centenas de pais tiveram que deixar o país e milhares foram presos. Muitos adultos tinham que viver viajando para escapar da polícia. Como resultado, milhares de crianças tiveram que ser criadas pelas avós, enquanto seus pais lutavam contra o apartheid.
Protesto nas escolas Em 16 de junho de 1976, estudantes negros fizeram um protesto contra a baixa qualidade do ensino para os negros. A polícia respondeu com tiros e bombas de gás lacrimogêneo. Hector Pieterson, de 13 anos, foi assassinado. Hoje, na África do Sul, o dia 16 de junho é feriado nacional, em homenagem a todos os jovens que perderam a vida na luta contra o Apartheid.
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Leoa na escola. Leoa e a melhor amiga Juliana a caminho da escola.
Leoa vai à es
Certa noite, um homem foi visitar a casa de Leoa. Ela não o conhecia, mas sabia bem o que ele queria. Dois anos antes, um estranho estivera na casa de uma amiga dela e lhe pedira em casamento. Os pais da amiga consentiram e ela se casou contra a sua própria vontade. – Foi horrível, ela só tinha doze anos. Agora ela tem um bebê e o marido a proibiu de ir à escola, conta Leoa.
O
maior pesadelo de Leoa é ser obrigada a se casar contra a sua vontade. Ela preferiria se formar na escola e conseguir um bom trabalho. Seus pais, porém, são pobres e a menina teme que eles aceitem a proposta de casamento do desconhecido.
Leoa suplicou aos pais e lhes explicou que sonhava em poder cursar o ensino médio para conseguir um bom emprego. A mãe de Leoa nunca foi à escola e não sabe ler nem escrever. O pai só estudou por pouco tempo. Mesmo assim, ambos compreenderam a
filha e disseram ao homem que ela era jovem demais para se casar. A escola de Graça Machel Leoa mora na aldeia Metuge, ao norte de Moçambique. Como a maioria das famílias ali são pobres, quase nenhuma
menina acima de 12 anos tem permissão para ir à escola. Assim que escutou falar no problema, Graça Machel decidiu construir quatro novas escolas na aldeia. Assim, ninguém poderia dizer que as salas de aula estavam lotadas e que só havia lugar para os meninos. Mas apenas construir escolas não era o bastante. Alguns pais não estavam convencidos do quanto a escola era importante para as meninas. Então, Graça fundou um grupo de teatro,
O professor quebrou o braço de Fernando Graça Machel e sua organização – FDC – trabalham para cessar a violência e os abusos contra crianças. Fernando é uma das crianças que sofreu em consequência da violência dos adultos. – Uma vez, meu professor ficou tão irritado comigo, que pegou uma bengala e começou a bater nas minhas mãos. Eu estava conversando com o colega ao lado e o professor ficou furioso. Ele bateu sem parar, até que errou a mira e golpeou o meu antebraço. Um médico me examinou e constatou que o meu braço estava fraturado. 62
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Leoa sempre tem muito o que fazer em casa.
à escola de Graça que encenava peças que explicavam a importância da educação para a vida das meninas. Para Juliana Adolfo, a melhor amiga de Leoa, as peças fizeram uma diferença muito grande na sua vida. Apesar de seus pedidos insistentes, os pais lhe diziam que não tinham recursos para colocá-la na escola. Mas depois de assistirem à peça, mudaram de idéia, e o sonho de Juliana tornou-se realidade. Atualmente, Juliana e Leoa vão juntas para a esco-
la todos os dias. Mas elas não dizem que vão à escola, e sim, que vão à Graça Machel. É assim que as cinco escolas da aldeia Metuge são conhecidas, mesmo que, na verdade, tenham outros nomes. “Graça Machel é minha heroína. Ela se preocupa conosco e ela encontrou uma forma de explicar às pessoas, porque é muito importante que nós, as meninas, tenhamos permissão de ir à escola”, disse Leoa.
A grandiosa arvoré Baobá, na vila de Leoa, pode viver milhares de anos. Acredita-se que ela é mágica.
Mandela e as crianças de rua Uma manhã, antes de Nelson Mandela se tornar presidente, ele caminhava pelas ruas da Cidade do Cabo, quando avistou alguns meninos de rua que, na calçada, se despertavam. Nelson foi conversar com eles. Ele acabara de receber o Prêmio Nobel da Paz e tinha decidido doar grande parte da quantia do prêmio para as crianças de rua da África do Sul. Os meninos lhe perguntaram porque ele os amava tanto. Nelson achou a pergunta bastante estranha. Ele respondeu que todo mundo gostava de crianças. Os meninos não concordaram, pois tinham acabado nas ruas exatamente porque ninguém os amava. Nelson pensou que aquilo era uma tragédia e não conseguia parar de pensar naqueles meninos. Ele queria fazer algo a mais para ajudá-los. Quando foi eleito presidente em 1994, Nelson Mandela criou um fundo para ajudar as crianças abandonadas e órfãs.
Obrigado pela casa e pelas escolas! Quando a água inundou Chaukwe, Carlitos, 13 anos, estava sozinho em casa. – Eu fiquei muito preocupado com meus irmãos e minha mãe. A família de Carlitos conseguiu se salvar, mas a casa fora levada pela inundação. A família não tinha recursos para construir uma nova casa e Carlitos viu-se forçado a morar em uma barraca feita de gravetos e sacos plásticos. Ali, o menino viveu até o ano passaGraça construiu casas para aqueles que perderam seus lares na inundação.
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do, quando Graça Machel mandou construir 206 casas para as famílias mais pobres. A inundação destruiu tudo. Sua escola, que estava velha e trincada, desmoronou e o diretor pediu que as crianças ficassem em casa. A organização de Graça Machel construiu quatro novas escolas em Chaukwe, e deu às crianças materiais escolares novos e uma biblioteca.
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