Revista Família de Esperança 2019

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2019

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EM DEFESA DA

FAMÍLIA BÍBLICA

IDEOLOGIA DE GÊNERO: MECANISMOS DE UMA REVOLUÇÃO DA MENTALIDADE

IDEOLOGIA DE GÊNERO QUESTÕES BIOLÓGICAS E MÉDICAS

O MODELO BÍBLICO DA FAMÍLIA EM RESPOSTA À IDEOLOGIA DE GÊNERO


PALAVRA DO PRESIDENTE

VITÓRIA COM O

SENHOR

A

Pr. Erton Köhler é presidente da Igreja Adventista em oito países sul-americanos

família faz parte dos grandes momentos de Deus. familiar e os segredos de seu funcionamento e felicidade. Mas Ela foi estabelecida na criação, com Adão e Eva. precisamos lembrar sempre que esta é uma batalha espiritual e Quando o mundo foi repovoado, lá estava a família que só será vencida com as armas espirituais. O inimigo é mais de Noé. Quando Israel deixou a escravidão no Egito, forte e esperto do que qualquer um de nós. Apenas o Senhor a Páscoa foi estabelecida como uma celebração pode derrota-lo. Por isso, precisamos levar nossas famílias à em família. Quando o mundo havia chegado à “plenitude dos presença do Senhor de maneira regular e intensa. Se Deus não for o primeiro, poderá até haver prosperidade, tempos” (Gal. 4:4) nasceu Emanuel, “Deus conosco” (Mat. 1:23) como parte da família de José e Maria. O primeiro verso do Novo mas perderemos a eternidade. Os pais terão conquistas mas não Testamento apresenta Jesus como membro da família de Abraão salvação, os filhos serão bom profissionais, mas não terão valores e Davi. Jesus fez seu primeiro milagre em uma festa de casamento espirituais, os casamentos trarão momentos de prazer mas não de felicidade. A vida perderá seu maior significado. e também usou essa mesma relação como Precisamos levantar uma geração de famílias símbolo de seu compromisso com a igreja. A FAMÍLIA É que comecem cada dia com Deus. Que A chegada à nova terra é apresentada UM LEGADO DE DEUS. POR realizem sua comunhão pessoal e seu como sendo a festa de casamento, culto familiar. Onde os pais não apenas a “ceia das bodas” (Apoc 19:7-9), MAIS QUE ALGUNS A ENCAREM orientem sobre a vida espiritual, mas quando Ele, o noivo, e Sua igreja, COMO UMA SIMPLES OPÇÃO, SEM vivam uma vida cristã coerente. Onde a noiva, estarão juntos para a oração e a fé são exercidas como sempre. A família do céu e VÍNCULOS SAGRADOS OU MODELOS a primeira opção e não a última da terra se tornarão unidas e ESTABELECIDOS, ELA FAZ PARTE DO alternativa. Onde o envolvimento definitivas (Efe 1:9,10). com as atividades da igreja seja um Se a família tem todo este PLANO ESTRATÉGICO DO CÉU PARA compromisso sagrado e não uma valor para Deus, não deveria A FELICIDADE HUMANA, PARA A opção conveniente. Precisamos vencer ser também fundamental para REVELAÇÃO DO CARÁTER DE DEUS pelo poder do Senhor e ser um farol que nós? Ele está buscando filhos que ajuda a iluminar outras famílias que estão tenham o compromisso de vivê-la, E O FORTALECIMENTO DE em busca de orientação, socorro e salvação. defendê-la e protegê-la. De exaltar seus SUA IGREJA. Ellen White nos assegura que “Deus mora valores com palavras, influência e fé. em toda habitação; ouve cada palavra proferida, escuta O momento exige uma igreja que se levante cada oração erguida ao Céu, experimenta as dores e as decepções em defesa da família bíblica. Como Satanás já está derrotado, ele luta agora apenas para destruir o que é mais precioso e de cada alma, e considera o tratamento dispensado a pai e mãe, estratégico para o Senhor. Por isso ataca as famílias e altera irmã, amigo e semelhante. Ele cuida de nossas necessidades, e valores e princípios. Ele muda os papéis e a identidade, procura Seu amor, Sua misericórdia e graça estão continuamente a fluir confundir, dividir, distorcer e desestabilizar, para atacar o caráter para satisfazer nossa necessidade” (Exaltai-o, MM, p. 38). Coloque sua família e as famílias da sua igreja de Deus e levar Seus filhos à infelicidade e perdição. A família está no palco do grande conflito. Está exposta permanentemente na presença do Senhor. Apenas Ele dará a a riscos cada dia mais claros e fatais, mas o Senhor continua proteção, satisfação e salvação. trabalhando para fortalecê-la e restaura-la. Para isso, não podemos esquecer da clara orientação bíblica sobre o modelo

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FAMÍLIA ESPERANÇA


SUMÁRIO/

FAMÍLIA ESPERANÇA É UMA REVISTA DO MINISTÉRIO DA FAMÍLIA DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA COORDENAÇÃO GERAL ALACY BARBOSA EDITOR FELIPE LEMOS EDITORES ASSOCIADOS MAUREN FERNANDES SECRETÁRIA CRISTINA BARBOSA PRODUÇÃO EXECUTIVA ERTON C. KÖHLER MARLON LOPES EDWARD HEIDINGER COLABORADORES CESAR GUANDALINI – UCB CHARLLES ANTONIO BRITIS – UCOB ALMIR AUGUSTO OLIVEIRA – ULB ALMIR AFONSO PIRES – UNB JADSON ROCHA – UNEB ARILDO SOUZA – UNOB JOSÉ DOS SANTOS FILHO – USB GERALDO MAGELA TOSTES – USEB CONSELHEIROS WILLIE OLIVER ELAINE OLIVER HELDER ROGER DIAGRAMAÇÃO MARIANE BARONI C. IAUCCI FOTO DE CAPA SHUTTERSTOCK IMPRESSÃO E ACABAMENTO CASA PUBLICADORA BRASILEIRA TIRAGEM: 40 MIL

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ANO 08, N. 08 #2019

ENTREVISTA – IMPORTANTES NA MESMA MEDIDA IDEOLOGIA DE GÊNERO MECANISMOS DE UMA REVOLUÇÃO DA MENTALIDADE CALENDÁRIO – EVENTOS E DATAS DE 2019 A INFLUÊNCIA DA IDEOLOGIA DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO FORMAL A TEOLOGIA DA FAMÍLIA ADVENTISTA

FAMÍLIA SAUDÁVEL: COMO CONSTRUÍ-LA IDEOLOGIA DE GÊNERO QUESTÕES BIOLÓGICAS E MÉDICAS UMA VISITA À FAMÍLIA DE ELLEN G. WHITE MODELO BÍBLICO DE FAMÍLIA E IDENTIDADE DE GÊNERO O PAPEL DA SEXUALIDADE NO MODELO BÍBLICO A HERANÇA EPIGENÉTICA TRANSGERACIONAL E A HOMOSSEXUALIDADE DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO O MODELO BÍBLICO E CRISTÃO EDUCAÇÃO ADVENTISTA: PARCEIRA NA FORMAÇÃO DOS VALORES DA FAMÍLIA UM MANUAL PARA A ETERNIDADE

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www.adventistas.org/familia

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EDITORIAL

O DESAFIO DA COMPLEXIDADE DOS TEMAS

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ivemos definitivamente tempos em que tudo parece estar mais complexo de se entender. A constituição ou formação de uma família, por influências socioculturais bem distintas, com um importante reforço midiático, é um desses temas. Há, talvez, 50 anos, pouco se discutia sobre quem constituía uma família. Era basicamente o núcleo conhecido e aceito de forma geral, por influência da cosmovisão bíblica e do pensamento judaico-cristão, formado por pai, mãe e filhos. Muita coisa mudou nos últimos anos e surgiram formações bem alternativas. O que também mudou, no entanto, foi a forma de se encarar essas transformações. Há um grupo cada vez mais crescente que, conscientemente ou não, luta para que o conceito de família seja reformulado e que modelos excepcionais (diferentes do tradicional pai, mãe e filhos) sejam aceitos e considerados

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Felipe Lemos, assessor de Comunicação da Igreja Adventista em oito países sulamericanos e editor da Revista Família Esperança

absolutamente viáveis sob todos os pontos de vista (sociais, psicológicos, religiosos etc). Há ainda os defensores do modelo tradicional, que apresentam suas justificativas e não ignoram a existência de outras formações. Porém, compreendem que essas formações não significam exatamente a regra geral ou que deve nortear necessariamente o comportamento predominante da sociedade. As razões para se pensar em uma família tradicional nos moldes delineados pela narrativa bíblica são apresentados, de diferentes maneiras, nessa edição da Revista Família Esperança. Demos espaço a psicólogos, psiquiatras, teólogos, educadores, um sociólogo e um geneticista em um genuíno esforço de apresentar múltiplas visões capazes de explicar por que o modelo bíblico de família é razoável mesmo diante de discussões atuais como identidade, gênero, homossexualidade, entre outros. Nossos articulistas não fugiram desses assuntos e suas características específicas, enfrentando o tema com argumentação coerente, embasada em pesquisas e na própria experiência que muitos possuem em clínicas e no atendimento a famílias. A discussão não se encerra com essa publicação, mas cremos que damos uma importante contribuição para debater essa temática ao oferecer a pluralidade de olhares, algo necessário em tempos de muita polarização de ideias e dificuldade em se escutar ou ler o que difere do nosso pensamento. Quem se interessa pelo futuro das famílias não deve apenas ler os artigos cuidadosamente, mas estudá-los e, se desejar, reproduzi-los e compartilhá-los com quem, também, mostra-se disposto a mergulhar nessa temática. Este é um ótimo material para embasar boas conversas, bons pensamentos e boas ações em favor desse modelo de família que tem seu lugar importante na sociedade.


Ênfases

do Ministério da Família CONTRIBUIÇÕES •

Formar uma Nova Geração capaz de liderar a Igreja Remanescente neste tempo final da história da Humanidade; Instrumentalizar as famílias para o enfrentamento do Grande Conflito, no qual todas as famílias estão imersas. (CRM); Contribuir de forma integral com os demais departamentos para o cumprimento da Missão da Igreja na Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

COMUNHÃO

Levar cada família a viver e desfrutar a beleza de estar com Cristo na primeira hora do dia.

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#PrimeiroDeus

RELACIONAMENTO

Fortalecer os vínculos entre os membros da família e estimular o envolvimento de cada família na vida em comunidade através da rede de pequenos grupos.

#VidaemComunidade

MISSÃO Preparar as famílias para serem intrumentos de salvação usando seus talentos como ministério.

#MeuTalentoMeuMinisterio FAMÍLIA ESPERANÇA

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ARQUIVO DE FAMÍLIA

ENTREVISTA

IMPORTANTES NA

MESMA MEDIDA

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or muito tempo existiu a ideia de que o homem era o único a prover o sustento do lar e a mulher só podia cuidar da casa e dos filhos. Classificar a importância do homem e da mulher teve resultados não apenas no lar, mas no ambiente de trabalho ou na rua, influenciando o modo de pensar e agir das pessoas, em sua maioria. Esse cenário vem mudando, mas a realidade de anos atrás deixou muitas marcas na sociedade. Nós conversamos com o casal Sócrates Quispe e Fany Quispe, servidores da sede sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Sócrates trabalha na vice-liderança do Departamento de Educação da Igreja Adventista em nível sul-americano, enquanto Fany cuida dos filhos e do lar. Mas, como mesmo nesse cenário, é possível viver e ensinar a igualdade de importância entre o homem e a mulher? Conversamos sobre isso e outros assuntos como ministério, vida espiritual e atuação prática na igreja. Revista Família Esperança: Vocês dois participam na igreja com o Clube de Desbravadores e na Escola Sabatina em

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Inglês. Por que você acha importante atuar nos ministérios da igreja? Você acredita que isso influencia na formação espiritual dos seus filhos? Família – Acreditamos que o envolvimento nas atividades e departamentos tem um grande impacto na visão dos nossos filhos em relação à igreja, por dois motivos. Primeiramente, quando estamos envolvidos nas atividades da Igreja, aumenta a nossa necessidade pessoal de buscar e conhecer mais sobre Deus. Consideramos que isto fará com que a nossa vida espiritual seja cada vez melhor e assim poderemos refletir os frutos do nosso relacionamento com Deus. Em segundo lugar, ao observar o nosso envolvimento, os nossos filhos nos imitam. Quando estamos envolvidos nos programas da Igreja, eles se tornam colaboradores, querem chegar cedo nos cultos e nas classes da escola sabatina, assim como no clube, além de gostar de participar ativamente em outras atividades da Igreja. Quando eles nos veem ensinando, eles também querem ensinar de Jesus.


“É MUITO FÁCIL DIZER A ELES O QUE DEVEM FAZER, MAS A GENTE FALA MUITO MAIS COM O QUE FAZ. E ISSO TEM QUE SER CONSTRUÍDO DESDE O NASCIMENTO.” Qual a importância da Escola Sabatina na formação dos seus filhos? A Escola Sabatina é o melhor espaço para fazer o discipulado com os nossos filhos, além de fortalecer o relacionamento num ambiente espiritual. Isso é fortalecido pelo estudo das lições da escola sabatina, as quais são realizados todos os dias, sendo que cada um dos meus filhos memoriza seus versos. Consideramos que, ao estudarem sua lição e perceber que estamos comprometidos com a igreja, eles se sentem motivados para participar de todos os momentos que envolvem a escola sabatina; eles nunca querem perder uma escola sabatina e gostam de participar ativamente nas diversas atividades. Tudo isto traz felicidade ao ir para igreja, buscar saber mais de Deus e aprender mais sobre a Bíblia. Como vocês dividem as tarefas e responsabilidades da família, mesmo com a rotina de viagens e trabalho? Fany– Embora o trabalho de Sócrates demande estar ausente em muitos momentos, ele está sempre presente de alguma forma. Mesmo numa viagem, existe diálogo, e tentamos conversar para resolver várias coisas de casa, e até ajudamos aos nossos filhos nas tarefas escolares. Agora, quando ele está em casa, ele leva as crianças para a escola, participa nas atividades da escola, volta cedo para brincar um pouco, faz experimentos com as crianças, organiza alguns cultos familiares e lê histórias da Bíblia para as crianças. Além disto, ele ajuda no cuidado da casa, compartilhando a limpeza, realizando as compras, arrumando alguns espaços. Sempre que podemos dividimos o trabalho. De que formas vocês fortalecem a igualdade de importância do homem e da mulher para os seus filhos? Fany e Sócrates: O que dizemos aos nossos filhos é que, tanto o homem quanto a mulher, são iguais em termos de capacidades e habilidades para atingir os seus objetivos. Temos igualdade de direitos e merecemos o mesmo respeito, porque fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Assim, o fato de o homem suprir o sustento e a mulher cuidar de casa, não determina a superioridade de ninguém. O único que existe é que cada um tem um papel diferente que cumprir. Em casa, sempre dialogamos ao respeito e, sempre que podemos, intercambiamos papeis. No nosso diálogo, estabele-

cemos que eu sou responsável de prover uma sólida estrutura para o desenvolvimento dos nossos filhos, administrando os recursos para os projetos familiares, enquanto a Fany considera que é responsável por cuidar dos detalhes relacionados com as atividades diárias de casa, provendo assim as condições para o nosso crescimento familiar que, de fato, é árduo, mas que ela o faz com muita alegria. Embora tenhamos papeis diferentes, ninguém demonstra superioridade frente ao outro, pois o nosso objetivo fundamental é ajudar a ter um lar saudável, priorizando o desenvolvimento físico, mental e espiritual dos nossos filhos. O fato de termos diferentes profissões também não é uma demonstração de superioridade, pois usamos estas diferenças para complementar o nosso papel em casa, principalmente na hora de ajudar aos nossos filhos. Consideramos que os nossos filhos percebem os nossos papeis, e sentem orgulho pelo que somos, como pais e profissionais. Assim, consideramos que somos iguais diante de Deus e também dos homens, mas com papéis diferentes. .

Mauren Fernandes, jornalista .

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IDEOLOGIA DE GÊNERO

MECANISMOS DE UMA REVOLUÇÃO DA MENTALIDADE por Thadeu J. Silva Filho

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deologia de gênero é o movimento político nascido da alegação de que homem e mulher são papéis sociais impostos e que o sexo (pênis ou vagina) é somente um detalhe na formação da identidade de alguém. Em muitos casos, o sexo seria mesmo um acidente de percurso em que uma pessoa teria nascido no corpo errado. Para seus adeptos e simpatizantes, o objetivo do movimento é libertar as pessoas dos comportamentos que a sociedade teria prescrito como naturais e obrigatórios. Ao novo comportamento e à nova aparência dão o nome de identidade de gênero ou de transgenerismo. Tal qual o feminismo, a ideologia de gênero nasce de um ideal de “libertação”. O feminismo quer libertar as mulheres do sistema de dominação masculina e da obrigação de ser mãe (que, no seu entender, são os dois fatores de restrição à descoberta do seu “verdadeiro eu”). Já a ideologia de gênero quer libertar as pessoas da “tirania” de ter que ser homem

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porque nasceu com pênis ou ter que ser mulher porque nasceu com vagina – afinal, para a ideologia de gênero, a biologia não compõe nem define a identidade de uma pessoa. Essas duas ideias de libertação se alimentam da ideia marxista de libertar o ser humano das garras da religião e do capitalismo, que teriam alienado ele de si mesmo e da humanidade. Muito da adesão a esses movimentos vem do projeto de fazer um mundo melhor, mas que, conforme se vê em qualquer fase da história, só piorou as condições de vida, levando ao embrutecimento das pessoas, à divisão da sociedade de luta de classes (dominantes contra dominados, mulheres contra homens, ricos contra pobres, negros contra brancos etc.), ao ódio crescente entre os indivíduos, ao empobrecimento dos países e à tensão gerada pelo interesse de consertar o que muitas vezes não está quebrado.


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Libertação da dominação masculina O intuito do movimento feminista no seu início (década de 1960) era libertar as mulheres da dominação masculina por meio da equiparação entre os sexos, mantendo as óbvias diferenças biológicas entre eles. Dez anos depois, o que se viu foi uma luta contra os homens e contra a família, tendo como um dos seus pilares filosóficos a obra “A Origem da Família, da Propriedade e do Estado”, de Friedrich Engels, de 1884. Nesse sentido, um dos trechos exemplares do livro é: "nos casos em que a família monogâmica reflete fielmente sua origem histórica e manifesta com clareza o conflito entre o homem e a mulher, originado pelo domínio exclusivo do primeiro, teremos um quadro em miniatura das contradições e antagonismos em meio aos quais se move a sociedade, dividida em classes desde os primórdios da civilização, sem poder resolvê-los nem superá-los”. De lá para cá, os temas do feminismo se ampliaram muito, mas o fundamento das suas bandeiras de luta continua o mesmo ideal de libertar-se do seu inimigo externo: a família monogâmica – que é o modelo bíblico de família. Comparativamente, enquanto o aborto é a solução apresentada pelo feminismo para a mulher passar a ser, definitivamente, dona do seu corpo e se libertar da obrigação de ser mãe, adquirir um gênero diferente do seu sexo é, para a ideologia de gênero, a solução para tornar-se livre da “imposição” de ser homem ou mulher. Essas soluções trazem embutidas a imagem de vitimização das classes dominadas, que teriam sido oprimidas a tal ponto de serem condenadas a viverem aprisionadas pela imposição social chamada família. Não por acaso as soluções para esse cenário passam por relativizar e desconstruir os fundamentos do modelo bíblico. As afirmações da ideologia de gênero se baseiam em um erro biológico fundamental: que homem e mulher seriam papeis sociais, não realidades nascidas com a biologia. Ora, se homem e mulher fossem invenções da sociedade para perpetuar o domínio masculino; se a sexualidade fosse uma construção social, opcional e moldável em qualquer direção, como as pessoas teriam nascido? A ideologia de gênero transformou esse erro básico em ódio direcionado a tudo que não é espelho e em utopia dos seus objetivos, sendo o maior deles o estabelecimento de um modelo de vida sem limites, guiado somente pela vontade – a tão almejada libertação. Esse pensamento exige eliminar as ideias dominantes da sociedade, que a ideologia de gênero diz serem as do cristianismo. Mas ela se esquece que, neste mundo, é impossível viver completamente livre de leis e de convenções. Independentemente de ser homem ou mulher, todos os

seres humanos estão sujeitos a limitações biológicas, físicas, sociais e existenciais (em especial, a liberdade do outro). Não é possível sair disso sem se destruir. A ideologia de gênero não somente acredita nesta utopia como, para implantála, busca dominar os debates públicos, seja no parlamento, na esfera jurídica ou no poder executivo, principalmente no campo da educação. O veículo de revolução das mentes é a linguagem. Como não consegue impedir a livre manifestação das pessoas que pensam diferentemente sobre os temas da vida, a ideologia de gênero busca alterar o vocabulário, o significado das palavras e a ênfase do fato. Exemplo disso é o caso do aborto para o feminismo: por ser proibido na maioria dos países, o movimento feminista passou a propagá-lo sob o nome de “saúde reprodutiva da mulher” e na condição de direito fundamental ao qual todos os governos têm que atender se quiserem ser democráticos. Outra ferramenta teórica é o Desconstrutivismo, que diz que a cultura tem que passar por uma reinterpretação e ressignificação até não haver mais fatos nem verdade, somente interpretações. A Virada Linguística (Linguistic Turn) também é um dos recursos de alteração dos significados. Diz que a realidade social não é nada mais do que uma narrativa criada pelo discurso e que a história é só um gênero literário, sem pretensão de expressar a verdade. Soma-se a estes a ideologia do “politicamente correto”, em que é proibido falar certas palavras ou manifestar pensamento contrário à moda, e se compreende que a ideologia de gênero depende do marxismo cultural para sobreviver e, ao mesmo tempo, é uma de suas derivações. Facilmente se percebe como ideologia de gênero é uma doutrina antagônica à de Cristo. Seu intuito é descobrir seu “verdadeiro eu”, numa manifestação de justiça própria característica do humanismo. Diferentemente, a Bíblia diz que o caminho do ser humano é se desenvolver em Cristo, de acordo com a Sua graça e os dons que Ele concede a cada um. Desta distinção deriva tudo: ou a criatura, ou o Criador.

Thadeu J. Silva Filho é bacharel, mestre e doutor em Sociologia. Atualmente, é o diretor do Departamento de Arquivo, Estatística e Pesquisa (DAEP) da Divisão Sul-Americana (DSA) da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

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Calendário

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13-20- Semana Santa

Abril

Encontro de casais: um por distrito/ano

Curso de Noivos: conforme o calendário da sua Associação ou Missão

09 - Encontro de Pais 24- Quebrando o Silêncio

22 - Encontro de Pais

Novembro

02, 09, 16 - Adoração em família

Outubro

04, 11, 18, 25 - Adoração em família

Setembro

07, 14, 21, 28 - Adoração em Família

Agosto

07 a 09 - Fim de semana da família

15 - 17 – Encontro de Líderes de União do Ministério da Família na DSA

15 -Encontro de Pais

Junho

25 – Impacto Esperança

03 - Encontro de Pais

Maio

Março

14/02 – 23/02 - 10 Dias de Oração e 10h de Jejum

Fevereiro


ENCONTRODIÁRIO

O culto familiar deve ser um acontecimento diário dentro de um lar cristão. Nele, todos se concentram em uma única atividade, em um único propósito: conectar-se a Deus. Além de fortalecer a fé e a confiança no Criador ao sair ou voltar das atividades do dia, o culto familiar também é uma oportunidade para estreitar os laços entre os membros. Neste pequeno guia, conheça orientações que podem ajudá-lo a fazer deste um dos momentos mais significativos do dia.

CONHEÇA SETE DICAS PARA TER UM CULTO FAMILIAR DE ÊXITO. por Jefferson Paradello, jornalista Ilustrações por Gustavo Leighton

Deve ser realizado no momento mais cômodo para a família quando todos estiverem reunidos. Se possível, pela manhã e à noite. No entanto, caso não haja condições, pode acontecer em um desses dois períodos.

O culto deve ser agradável, alegre e objetivo. Por isso, um tempo de 10 a 15 minutos é suficiente, principalmente se existirem crianças em casa.

É importante que neste momento a família cante, ore, extraia uma reflexão da Bíblia e compartilhe experiências vivenciadas recentemente. A meditação também pode ser baseada no estudo de um livro específico dos escritos de Ellen G. White.

O testemunho é importante para relembrar as bênçãos concedidas por Deus e expressar gratidão a Ele. Isso impactará especialmente as crianças e os adolescentes quando perceberem que Deus ouve seus pedidos.

Todos devem usar seus talentos durante o culto, seja tocando um instrumento ou recitando um verso bíblico. Aquilo que se faz bem feito deve ser utilizado para louvar a Deus.

Orar é fundamental, principalmente para que as crianças aprendam e entendam que Deus está sempre ao lado de cada pessoa. Reserve esse momento para abrir o coração a Ele e pedir Sua direção.

O culto familiar não substitui o encontro individual com Deus. Por isso, o ideal é que cada pessoa esteja em contato com Ele, a sós, por meio da oração e do estudo da Bíblia, logo na primeira hora da manhã.

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A INFLUÊNCIA DA IDEOLOGIA DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO FORMAL por Moisés Sanches

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ão existe forma fácil de abordar temas polêmicos. Ou você agradará um grupo, desagradando a outro, ou desagradará aos dois, caso tente ficar se equilibrando sobre o muro da neutralidade. Neste contexto de missão, “professorar” tem se tornado cada vez mais difícil, principalmente quando um tema desta complexidade, adentra as portas da escola. Toda escola existe em um contexto, em um meio social, em uma comunidade específica. Sob esta ótica, é de se esperar que hábitos, escolhas, modelos e práticas socialmente presentes, ocorram no ambiente escolar, afetem sua dinâmica e modulem suas discussões. Ou seja, se algo afeta a sociedade, afetará a escola. Se algo acontece na sociedade, acontecerá também na escola. O advento do tema “gênero” na sociedade atual se aproxima aceleradamente do ambiente escolar em todos os níveis. Ao tentar responder como o tema gênero e suas consequentes ideologias afetam a escola formal, e o que inferem seus adeptos, indico algumas das propostas ou teses atualmente defendidas:

1. Em primeiro lugar, muda-se a concepção de sexualidade biológica para sexualidade psicológica ou social. Impõe-se que a mente é quem determina a sexualidade e não o corpo. 2. Ao fazer isso, cria-se artificialmente um conflito entre mente e corpo, colocando a ciência e as evidências da biogenética em segundo plano, e as hipóteses e ideologias em primeiro plano. 3. Ao promover a cisão entre a mente e o corpo, propõe-se dogmaticamente que o desajuste esteja no corpo, e não na mente, e em consequência, que tal desajuste deva ser corrigido no corpo, e não na mente. 4. De forma arbitral, acusa-se de preconceituoso qualquer profissional que tentar corrigir o desajuste mente-corpo, atuando pela reorientação da mente, taxando-o de um retrógrado, conservador ou até contraventor. 5. Propõe-se uma revisão do conceito científico de sexualidade biológica, migrando a abordagem para sexualidade psicológica nos currículos escolares. FAMÍLIA ESPERANÇA

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6. Propõe-se que, sendo a sexualidade uma questão psicológica, não se deva ensinar às crianças que meninos sejam meninos e meninas sejam meninas, mas que apenas têm um corpo com determinados órgãos, e que a identidade feminina ou masculina será um processo de construção e experiência ao longo da vida. E vão além, propondo que a escola deva estimular formas variadas de relações de maneira a proporcionar experiências aos alunos para que descubram sua “identidade de gênero”. 7. Infere-se que a escola seja o campo de instrução que deva instruir crianças e adolescentes sobre todas as opções existentes para reorientar sua identidade de gênero caso assim o desejem. 8. Propõe-se que o processo de reprodução seja apenas uma casualidade da natureza, e que, não implica nenhuma imposição de relações sociais ou constituições formais. Procriar e ter filhos é um processo não restrito à família convencional, e deve ser, portanto, algo livre de qualquer contexto biologicamente determinado. 9. A escola deve ser um ambiente progressista e que auxilie a sociedade a mudar a concepção sexista e tradicional de família pai-mãe-filhos, entendendo, aceitando e promovendo toda e qualquer manifestação de afetuosidade e relacionamento que quaisquer pessoas queiram definir para si. 10. Define-se que a escola seja um ambiente neutro, onde se produza ciência, e que tenha por obrigação guiar mentes jovens a um processo de pensamento autônomo e independente, desvinculado das concepções tradicionais de seus antecessores (pais, família, comunidade), pois presume-se que as novas gerações sejam mais evoluídas que as anteriores. Supõe-se que a imposição de restrições conservadoras e “tradições” familiares ou sociais, atrase a difusão e progressão do conhecimento acadêmico. 11. Afirma-se que a escola deva desenvolver a tolerância e a valorização da diversidade e, portanto, deva estimular que novas concepções e manifestações se proliferem, pois isso incentiva a ciência, a cultura, a criatividade e a evolução da sociedade.

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12. Arbitra-se que em nome da tolerância e inclusão, bem como da autonomia e liberdade de construção identitária, crianças e adolescentes devam ser tratadas pelo nome e/ou pronome que desejem ser chamados, independentemente da sexualidade biológica. 13. Propõe-se que os livros e materiais escolares sejam revisados, incluindo novas concepções de família, relacionamento e expressão de afetuosidade, amor e erotismo. 14. Arbitra-se que, como forma de acelerar o processo de desenvolvimento social, crianças devam ser obrigadas à ir a escola em idades cada vez menores, ser educadas em currículos oficiais produzidos pelo Estado, e que se restrinja, se possível, qualquer tentativa de educação fora da escola, ou em escolas com currículos não formatados aos moldes do estado(como home schooling, escolas confessionais ou escolas privadas). Estes são apenas alguns exemplos de dificuldades que precisam ser enfrentadas pelo sistema formal de ensino. Dentre as várias perguntas que persistem como reflexão, talvez eu deva elencar algumas: • Quem concedeu aos defensores da ideia de gênero o poder de definir que o corpo é que carrega o desajuste do “gênero” e não a mente? • Porque defender a opção de gênero não biológico é politicamente correto e aceitável, e defender a concepção de família biologicamente evidente não tem o mesmo direito? • Por que grupos que defendem direitos iguais, só o fazem quando o tema lhes é favorável ou atende seus desejos? Quando Deus disse “façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança” e, em seguida acrescentou “homem e mulher os criou”quer me parecer que não fora coincidência que, em seguida, tenha vindo uma expressão de benção, e como produto da benção, os filhos. É na família que aprendemos de maneira mais ampla e clara quem é Deus. Uma família desajustada em qualquer de seus pressupostos afetará diretamente a compreensão e a imagem que os filhos, e consequentemente as próximas gerações, terão de Deus. Neste contexto, a quem interessa a dissolução da família e a consequente incompreensão de Deus? O que você está fazendo em sua família para instruir e proteger seus filhos? Pense nisso.

Moisés Sanchez é teólogo e educador, doutor em Atividade Motora Adaptada e Saúde pela Unicamp. Atualmente, além de ser professor universitário, compõe a equipe que gerencia a Educação Adventista no Estado de São Paulo.

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A TEOLOGIA DA

FAMÍLIA ADVENTISTA por Marco Lamarques

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elacionamentos sempre foram um desafio e, na atualidade, não é diferente. Mas é alarmante o avanço da instabilidade da família nessas últimas décadas. O conhecido escritor e filósofo Zygmund Bauman identifica a sociedade atual como aquela que continua buscando contato, mas que “não quer pagar o preço da intimidade”. De certa forma, o padrão social de hoje tende a fugir de relacionamentos que envolvam compromisso e empurrar o ser humano cada vez mais para o isolamento. Na realidade, vivemos uma síndrome moderna que defino como a ideia da felicidade individual absoluta. Isto faz com que o indivíduo idealize um tipo de relacionamento com expectativas incoerentes, que seja livre de frustrações, e apenas com experiências individuais felizes, e que jamais comprometam sua

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autonomia. E, como fica a família adventista nesse cenário atual? Uma síndrome moderna e a restauração pela família Martin Buber, um psiquiatra e escritor que viveu no século passado, declarou que existem dois tipos de relacionamento: “Eu – Você e Eu – Objeto”. O “EuVocê” considera as necessidades emocionais do outro; o “Eu-Objeto” só vê a utilidade do outro. Praticamente podemos sintetizar a falta de compromisso nos relacionamentos atuais na síndrome do Eu-Objeto. O fato de considerarmos o outro como um objeto dificulta a tolerância com as falhas humanas, presentes nos ajustes de qualquer experiência familiar ou conjugal.


algumas consequências emocionais, espirituais e físicas que isto tem causado. Vejamos alguns desses exemplos: 1. Quando Ellen G. White aborda a questão do individualismo e do isolamento, ela esclarece que “aquele que se encerra dentro de si mesmo, não está preenchendo a posição que era desígnio de Deus que ele ocupasse.” Então ela justifica que, “quando o pensamento se concentra no próprio ‘eu’, é afastado de Cristo, a Fonte de vigor e vida. 2. A terapeuta de família Maria Consuelo Passos identifica as relações interpessoais desafetadas como resultado de “indivíduos encapsulados” , que prezam unicamente pela satisfação própria.

Partindo deste pressuposto, a restauração da família começa com a restauração do indivíduo. Costumo usar em meus seminários a máxima que diz que “a felicidade do meu relacionamento começa comigo”, e percebo uma reação de desconforto do auditório, porque muitos que estão ali sentados me ouvindo creem que a solução para seu relacionamento depende unicamente do outro. Paulo destaca a importância desse assunto em dois momentos, com as famílias da igreja cristã primitiva: primeiramente ele fala do princípio: “Não pensem unicamente em seus próprios interesses, mas preocupem-se também com os outros e com o que eles estão fazendo.” Filipenses 2:4 (Bíblia viva). No segundo momento, o apóstolo identifica as demandas de uma atitude individualista ao alertar que “qualquer um que não cuide dos seus próprios parentes quando eles necessitam de ajuda, especialmente aqueles que vivem na sua própria família, não tem direito de dizer que é cristão. Tal pessoa é pior que um pagão”. I Timóteo 5:8 (Bíblia Viva). A família começa com a singularidade de cada integrante Vivemos em tempos de mudanças intensas e frequentes. Consequentemente, essa instabilidade de parâmetros influencia os pensamentos da sociedade, bem como suas referências. De certa forma, isso também atinge os cristãos e suas famílias, direta ou indiretamente. Por isso é relevante identificarmos

3. Impressionam as consequências físicas do isolamento apontadas em uma matéria da revista Veja , que traz um artigo científico publicado no jornal Heart, da Sociedade Cardiovascular Britânica. O artigo alerta que o risco de solitários infartarem é 29% mais alto e de sofrerem derrame é de 32% mais elevado em comparação com as pessoas mais sociais. A família pode ser um ambiente de amadurecimento emocional e espiritual Com essas considerações, vamos abordar os recursos divinos para as sequelas modernas, apresentados em Gênesis 2. O primeiro princípio está no verso 18, quando, nos momentos conclusivos da criação, Deus identifica a solidão do ser humano como um intruso, e a criação da mulher como solução. A família representa o espaço por excelência para solucionar a negatividade da solidão, para tanto recebe a bênção divina e a participação humana. Com isso, desde seu início, a família carrega em si a doação recíproca, como um dos princípios e um dos segredos da vida. É a partir dessa lógica que Gênesis 2:24 aborda o método para eliminar o isolamento e, também, como acontece a mudança do espaço individual para o coletivo. A associação entre o “homem” (’ish) e a “mulher” (’ishah) está nas palavras “deixar” e “uma só carne”, que tem sua relevância muito mais pela mudança de ênfase e prioridade, do que pela mudança de status. Quando está solteiro, o indivíduo vive em um ambiente que prioriza a si próprio; ao casar-se, e constituir uma família, o ambiente muda e o indivíduo agora é incentivado a enfatizar o coletivo. Acima de tudo, não mais viver sozinho é valorizar o outro além de si próprio. Neste texto, a expressão FAMÍLIA ESPERANÇA

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VIVEMOS UMA SÍNDROME MODERNA QUE DEFINO COMO A IDEIA DA FELICIDADE INDIVIDUAL ABSOLUTA. ISTO FAZ COM QUE O INDIVÍDUO IDEALIZE UM TIPO DE RELACIONAMENTO COM EXPECTATIVAS INCOERENTES, QUE SEJA LIVRE DE FRUSTRAÇÕES, E APENAS COM EXPERIÊNCIAS INDIVIDUAIS FELIZES, E QUE JAMAIS COMPROMETAM SUA AUTONOMIA.

“deixar” pode ser interpretada como um processo no qual cada membro da família precisa compreender a importância de priorizar o coletivo em detrimento ao isolamento, com vistas para o crescimento da saúde familiar. Contudo, é relevante salientar que essa mudança de ênfase acontece de maneira dinâmica e não estática. O “deixar” acompanhará a experiência diária da família e de cada um de seus integrantes, durante toda a sua vida; é um processo onde a natureza egoísta é descartada à medida que a família decide que o amor é algo que deve ser recíproco. A partir da lógica descrita em Gênesis 2, os sentimentos dos membros da família devem ser administrados para que não se tornem ações negativas ou atitudes rudes. A emoções são planejadas para nos

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levar para perto de Deus e, consequentemente, uns dos outros. Mesmo que a família seja um ambiente de diferenças e emoções complexas, o que fazemos com ambas é que as tornará certas ou erradas. Como identifica Esther Carrenho, “família é o ambiente onde se pode errar e recomeçar diversas vezes.” É um lugar de crescimento! Ou seja, o ambiente da família se torna um espaço para nosso amadurecimento emocional e um obstáculo para nosso excesso de autonomia.

Marco Lamarques é pastor, e trabalhou em igrejas do Mato Grosso e São Paulo. Atualmente é pastor do distrito central de Jacareí.


FAMÍLIA SAUDÁVEL: COMO CONSTRUÍ-LA

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ma família saudável é a realidade que todos queremos para a nossa vida, pois desejamos dar aos nossos queridos uma experiência familiar que seja edificante e feliz. Todos queremos viver e conviver numa família harmoniosa, porém muitos lares não conseguem viver assim. Então, como construir uma família mais saudável?

TEMPO DE QUALIDADE

Estar juntos é fundamental para o conhecimento do outro e formação de vínculos que resistirão aos momentos mais difíceis. Quando estiver em família, tente esquecer do mundo ao seu redor.

ACEITAÇÃO

Ser aceito é uma necessidade básica de todo ser humano. Se não forem aceitos em casa, especialmente os adolescentes e os jovens, eles buscarão preencher esta necessidade fora de casa e, muitas vezes, vão encontrar esta aceitação em lugares e grupos que não serão saudáveis para ele e para a família.

Em primeiro lugar, é importante saber que família saudável não é sinônimo de família perfeita, mas, sim, uma família que aprendeu a lidar com seus conflitos e diferenças a fim de encontrar equilíbrio e boa convivência. A vida em família é uma construção, não é sorte ou acaso. Sendo assim, vamos considerar alguns pontos relevantes para a construção de uma família saudável.

BOA COMUNICAÇÃO

ADMINISTRAÇÃO DOS CONFLITOS

Construa uma comunicação aberta, clara e objetiva, porém não esqueça que estamos lidando com as pessoas mais importantes da nossa vida. É preciso ter amor e respeito no “que” falo e carinho e firmeza no “como” falo. Não economize nas expressões que expressem alegria, reconhecimento e valorização do outro.

Os conflitos sempre existirão e fazem parte do amadurecimento das relações. Discuta com quem está perto de você qual a melhor maneira de lidar com eles para que não se tornem “problemas”. Muitos conflitos são inevitáveis, mas os problemas podem ser evitados.

AMOR E RESPEITO ENTRE OS PAIS

Depois do amor de Deus, o amor, o respeito entre os pais é um dos fatores mais relevantes que gera nos filhos, especialmente nas crianças, segurança e equilíbrio emocional.

COERÊNCIA

A coerência dos pais no lar e fora dele fala mais alto que muitas palavras. Viver o que fala é a regra de ouro.

PRIMEIRO DEUS

Para alcançar um nível saudável no lar é fundamental estabelecer prioridades. Portanto, na rotina da família, é indispensável o espaço para o culto familiar e momentos de oração. Desta forma, as demais atividades ocuparão seu devido lugar.

Alacy Barbosa é teólogo e pedagogo. Atualmente é o líder do Ministério da Família para os adventistas na América do Sul.

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IDEOLOGIA DE GÊNERO E

QUESTÕES BIOLÓGICAS E MÉDICAS por Cesar Vasconcellos de Souza

IDEOLOGIA DE GÊNERO É A IDEIA DE QUE SERES HUMANOS NÃO NASCEM COM GÊNERO MASCULINO E FEMININO E QUE ISSO É UMA CONSTRUÇÃO SOCIAL E CULTURAL. O CONCEITO TAMBÉM FALA QUE CADA UM PODE CONSTRUIR SEU GÊNERO COMO QUISER. SABE-SE QUE IDEOLOGIA É UM CONJUNTO DE IDEIAS, DOUTRINAS OU VISÕES DE MUNDO QUE UMA PESSOA OU GRUPO POSSUI E QUE, DE ALGUMA FORMA, INFLUENCIAM O SOCIAL, O PSICOLÓGICO, O RELIGIOSO E ATÉ POLITICAMENTE NA SOCIEDADE.

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O TERMO “GÊNERO”, NO CONTEXTO DESTE ARTIGO, É O SEXO ATRIBUÍDO, CORRESPONDENTE AO ÓRGÃO SEXUAL COM QUE O INDIVÍDUO NASCEU (PÊNIS É MASCULINO, VAGINA É FEMININO). NA IDEOLOGIA DE GÊNERO, ALGUÉM TER NASCIDO COM O ÓRGÃO SEXUAL

Biodiversidade, Genética e Evolução na Universidade do Porto, e trabalha num centro de pesquisas em biodiversidade e biologia evolucionária3. Em seu artigo Sobre a ideologia de gênero ela comentou: “Não aceitar ideologia de gênero não é discriminação, não é ser intolerante nem homofóbico. É simplesmente biologia. […] O fato de nascer homem ou mulher não é um fato cultural, é biológico. […] A ideologia de gênero não promove a igualdade entre os sexos. Promove a assexualização do ser humano. […] Essa ideologia é uma corrente de pensamento, não uma teoria científica, muito menos uma evidência científica.”4

MASCULINO OU FEMININO, NÃO FAZ COM QUE SE IDENTIFIQUE OBRIGATORIAMENTE COMO HOMEM OU COMO MULHER.

Disforia de gênero

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Quando se fala de medicina e biologia, há importantes considerações a serem feitas sobre o assunto e que merecem ser levadas em conta. Os guevedoces (“pênis aos 12”), por exemplo, são uma prova de que a biologia define o sexo masculino ou feminino. Cientistas estudaram essa condição genética rara na República Dominicana, local onde se encontraram muitos meninos que nascem sem o pênis por deficiência de uma enzima ligada à formação completa dos órgãos sexuais masculinos, ainda no útero. Estes meninos eram criados como meninas até a puberdade, quando ocorre a segunda onda de testosterona, então, nascendo músculos, testículos e pênis. Quem estudou esta condição incomum foi a Dra. Julianne McGinley, do Cornell Medical College, em Nova York, Estados Unidos, onde dá aulas e realiza pesquisas na área de Endocrinologia. Ela explica que cerca de oito semanas após a concepção, os hormônios sexuais aparecem. Se o feto é geneticamente homem, o cromossomo Y instrui as gônadas a virarem testículos e envia testosterona para a estrutura chamada tubérculo. Lá, ela é convertida em hormônio mais potente, a dihidrotestosterona pela enzima 5-alfarredutase, e este hormônio transforma o tubérculo num pênis. Se o feto é mulher e não há produção uterina de dihidrotestosterona, o tubérculo vira o clitóris. Suas pesquisas mostraram que, na maioria dos casos, os novos órgãos masculinos funcionam bem e a maioria dos guevedoces passa a viver como homem. O interessante é que esses meninos, apesar de criados como meninas, em sua maioria demonstraram preferências sexuais heterossexuais. Ela concluiu que os hormônios no útero têm um papel mais decisivo sobre a orientação sexual do que o tipo de criação recebido.2 Pamela Puppo é cientista, com doutorado em

Em janeiro de 2017, a revista Ser Médico, do Conselho de Medicina do Estado de São Paulo, publicou uma entrevista sobre disforia de gênero com a psicóloga Peggy CohenKettenis. Atualmente, Peggy atua no departamento de Psicologia Médica e no Centro de Perícias em Disforia de Gênero do Centro Médico da Universidade Vrije, em Amsterdam, na Holanda. Também desenvolve pesquisas no departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Utrecht, na Holanda. Sobre o assunto, disse que crianças podem demonstrar comportamentos de gênero antes dos três anos de idade e que, provavelmente, não serão futuros adultos com disforia de gênero. Crianças com diagnóstico de desordem de identidade de gênero nem sempre permanecem assim ao entrarem na puberdade. Estudos realizados mostram que há famílias que confundem e insistem que seus filhos são transexuais, quando, de fato, não são. Peggy cita um estudo no qual crianças que já viviam completamente no papel do sexo oposto tiveram problemas para dizer aos pais que queriam mudar de volta. No artigo Dores Crescentes: Problemas com Supressão na Puberdade no Tratamento da Disforia de Gênero, Paul Hruz e Paul McHug5 falam sobre os perigos do uso de hormônios na adolescência para jovens com disforia de gênero. Segundo esses dois especialistas, os melhores estudos sobre o assunto concluíram que a maioria das crianças com disforia de gênero passam a aceitar seu sexo de nascimento.6

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focusonthefamily.com

(Michael Mosley, 21 Set 2015: “Guevedoces: o estranho caso das ’meninas’ que ganham pênis aos 12 anos”. bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150921_meninos_ puberdade_lab)

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cibio.up.pt

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Alguns fatores psicológicos, ligados a conflitos subconscientes ou inconscientes, em jovens e adultos que sofrem com disforia de gênero: 7 1. Rejeição severa na infância por colegas, criando intenso medo de rejeição ligada à crença inconsciente de que se sentiria seguro se fosse do sexo oposto. 2. Experiências severas de traição em relação à pessoa com que esperava casar, gerando intenso medo e crença inconsciente de que seria mais seguro se fosse do outro sexo. 3. Visão negativa na infância sobre masculinidade por causa de raiva excessiva de figuras masculinas importantes para o menino. 4. Imagem pobre do corpo e sensação de fracasso achando que seria mais atrativo e autoconfiante se fosse do sexo oposto. 5. Em meninos com talentos artísticos, haveria forte apreciação pela beleza, coisa mais comum na feminilidade, facilitando um desejo de ser feminino por gostar de seus talentos. 6. Nas meninas fortes haveria um amor pelo que elas percebem como força masculina e tratamento preferencial para machos. 7. Em meninos, severa rejeição por parte da mãe, com crença inconsciente de que poderia ganhar o amor dela se ele se tornasse menina. 8. Forte raiva e desconfiança da mãe sobre masculinidade.

O que fazer quando o meu filho tem conflitos na esfera sexual? 8 1. Aumentar a qualidade do tempo com o pai. 2. O pai aumentar a afirmação dos dons masculinos do filho, participar e dar apoio aos esforços criativos do filho. 3. Instruir e apoiar o filho no desenvolvimento de confiança e habilidades atléticas. 4. Lentamente diminuir o brincar com brinquedos do sexo oposto. 5. Animar o menino a ser agradecido por seus talentos masculinos. 6. Pai e mãe se comunicar com outros pais cujas crianças se submeteram ao tratamento do transtorno de identidade de gênero, e que conseguiram resultados positivos ao seguirem o sexo original. 7. Ajudar mães com conflitos emocionais que as levam a querer que seu filho seja uma menina. 8. Nas famílias religiosas, ter gratidão pelos dons divinos de masculinidade. E se for a minha filha? 1. Encorajar a filha a apreciar as coisas boas de sua feminilidade, incluindo seu corpo, e desenvolver amizades e atividades com crianças do mesmo sexo. 2. Melhorar a qualidade do tempo gasto entre mãe e filha. 3. Trabalhar com a filha para ela perdoar colegas que a machucaram. 4. Animar a filha a ter equilíbrio nas atividades atléticas. 5. Abordar os conflitos dos pais que querem que sua filha seja um menino. 6. Em famílias religiosas, ter gratidão pelo dom divino da feminilidade. 4

www.posicion.pe

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Professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Univ. Johns Hopkins

world.wng.org/content/doctors_puberty_blockers_are_a_dangerous_experiment Visita em 11 de Março de 2018.

6

K. J. Zucker e S. Bradley, Transtorno da Identidade de Gênero e Problemas Psicosexuais em Crianças e Adolescentes,1995

7

8 maritalhealing.com/conflicts/transsexualIssues.php#_edn4 Visita em 11 de Março de 2018.

Cesar Vasconcellos de Souza é psiquiatra, especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria e Associação Médica Brasileira, membro da American Psychosomatic Society, escritor, apresentador do programa “Claramente” na TV Novo Tempo, pai de um casal de filhos e avô de cinco netos.

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UMA VISITA À FAMÍLIA

DE ELLEN WHITE

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llen cresceu em um lar cristão, mas ela e sua família foram excluídos da Igreja Episcopal Metodista de Portland, em 1843, por aceitarem a mensagem milerita. Apenas “quatro dos oito filhos da família Harmon tornaram-se observadores do sábado – Ellen, Mary, Sarah e Robert Jr., que morreu em 1853 de tuberculose, com a idade de 27 anos. Tanto o pai Robert, como a mãe Eunice, se tornaram adventistas observadores do sábado” 1. Ellen escreveu a respeito de sua família, que “embora, no que diz respeito ao dever religioso, não concordassem em todos os pontos, era um o coração deles”.2 Ela trabalhou intensamente em favor de sua irmã gêmea Elizabeth, apelidada de Lizzie. Embora tenham permanecido próximas, seguiram caminhos bem diferentes no que se diz respeito a escolhas religiosas, e, ao que tudo indica, nunca aceitou Jesus como seu Salvador. Ellen viveu um casamento muito abençoado com Tiago White. Foram quase 35 anos de vida conjugal “alicerçada em amor mútuo e na convicção de que as visões de Ellen eram de origem divina. O público considerava Ellen a evangelista e Tiago, o organizador.”3 L. H. Christian, antigo líder adventista, escreveu: “Como marido e mulher, eles formavam uma equipe evangelística sólida e inigualável. Seu método e divisão de trabalho eram perfeitos. Os adventistas nunca mais tiveram algo parecido.”4 Mas isso não

significa que não tenham enfrentado problemas e dificuldades. Tiveram um início de casamento com muita privação e pobreza. Eram jovens, inexperientes, mas com o propósito de se dedicarem à obra de Deus. Por vários anos, moraram em casas de outras pessoas e trabalharam sem salário. Quando a doença atingiu Tiago, as coisas em casa se tornaram mais tensas e complicadas. Ele desenvolveu a tendência de ser exigente demais e ditatorial. Escreveu Herbert Douglass: “Ao experimentar os efeitos de diversos derrames e o avanço da idade, pensamentos de desânimo e ressentimentos o assaltavam.”5 Num desses momentos mais delicados, Ellen, então com 49 anos, escreveu a seu marido: “Lamento haver dito ou escrito algo que o magoou.6 Estamos vivendo em um tempo muito solene e não podemos permitir que, em nossa velhice, existam diferenças que alternem nossos sentimentos. Não reivindico a infalibilidade nem mesmo a perfeição do caráter cristão. Não estou isenta de erros e equívocos em minha vida. Nunca mais lhe escreverei em minhas cartas uma linha ou expressão para o angustiar. Outra vez lhe peço, perdoe-me, cada palavra ou ato que o magoou.” Tiago White morreu em 1881, aos 60 anos. Ellen ficou viúva aos 54 anos e permaneceu, assim, por mais quase 34 anos, até sua morte em 1915.

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Ellen esposa e Tiago marido Outro aspecto da vida de Ellen White que sempre nos ensina preciosas lições diz respeito ao relacionamento dela e de Tiago com os filhos. Eles tiveram quatro meninos – Henry Nichols, James Edson, William Clarence e John Herbert. Experimentaram duas vezes a terrível dor de enterrarem um filho. O pequeno Herbert, caçula, morreu em 1860, com aproximadamente três meses, vítima de erisipela, quando Ellen tinha apenas 33 anos. Três anos depois, Henry faleceu com 16 anos de idade, vítima de pneumonia. Que dura prova!

Grande parte da sua obra e de seus conselhos foi dedicada a destacar a importância da família, do lar e do bom relacionamento com os filhos. Livros como O Lar Adventista e Orientação da Criança têm sido uma fonte inesgotável de ensino para milhares de pais ao longo de décadas. Seus preciosos ensinamentos refletem a experiência de quem não foi perfeita, mas que demonstrou ao longo da vida, por entre alegrias e sofrimentos, uma firme dependência de Deus e um constante desejo de fazer a vontade dAquele que um dia a chamou para ser Sua mensageira.

Imagem gratuita

Em 1862, pouco antes da morte de Henry, Ellen estava com 35 anos de idade e Tiago com 41. Procuravam incessantemente equilibrar as responsabilidades do trabalho para a igreja com o cuidado dos três filhos. Ela escreveu: “Foi-me mostrado com respeito à nossa família, que temos falhado em nosso dever. Temos sido demasiadamente complacentes com eles, temos tolerado que sigam suas próprias inclinações e desejos. Temos ficado tão separados deles que, quando estamos em sua companhia, devemos trabalhar perseverantemente para ligar seu coração a nós a fim de que, quando estivermos ausentes, possamos ter influência sobre eles. Vi que devemos instruí-los com firmeza, e, no entanto, com bondade e paciência”.7

“Para Ellen White, seus filhos eram prioridade máxima. Seus apontamentos em diários, cartas a outros e aos próprios filhos, indicam sua interminável preocupação por eles, especialmente pelo seu crescimento espiritual.”8 Ela viveu quase todas as experiências que alguém pode imaginar. Casou-se com 18 anos, foi mãe aos 19, viveu sob intensa privação e sentiu as dores da morte e da enfermidade dentro da sua própria casa. Ao lidar com as lutas e dificuldades, primeiramente na família paterna, depois em seu próprio lar com o marido e os filhos, deixou-nos um legado precioso que nos motiva a seguir em frente, apesar das contrariedades. Ela encontrou forças e encorajamento na comunhão pessoal com Cristo e na sua viva ligação com os valores eternos.

Herbert E. Douglass, Mensageira do Senhor, p. 48

1 2

Ellen G. White, Review & Herald, 21 de abril de 1868

3

Herbert E. Douglass, Mensageira do Senhor, p. 52

4

Lewis H. Chistian, The Fruitage Spiritual Gifts, p. 50

5

Herbert E. Douglass, Mensageira do Senhor, p. 54

6

Ellen G. White, Carta 25, 1876

7

Manuscrito 8, 1962

8

Herbert E. Douglass, Mensageira do Senhor, p. 59

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Hélio Carnassale é teólogo e mestre em Ciëncias da Religião pela Umesp. Atualmente é o líder de Liberdade Religiosa e Espírito de Profecia para os adventistas na América do Sul.


O MODELO BÍBLICO DE FAMÍLIA E IDENTIDADE DE GÊNERO por Maurício Comte Donoso

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esde as primeiras páginas da Bíblia, é apresentada a origem e importância da família. O livro de Gênesis relata o início da humanidade e como Deus estabeleceu sua formação e organização na sociedade, através de todas as eras, tendo como base a família. O modelo da família que nos é apresentado tem sua origem na ideia e ação de Deus, que começa criando a humanidade à sua imagem e semelhança (Gênesis 1:27). Essa humanidade se expressa em sua totalidade como homem e mulher. Frank Hasel aponta que “fica absolutamente claro que a criação divina não deu lugar a um ser humano andrógino, mas a natureza humana (ha Adam) consiste desde o princípio em ser mulher ou homem. Mesmo o homem e a mulher sendo criados à imagem de Deus, podese dizer que só os dois juntos constituem a imagem humana de Deus em sua plenitude”1 Logo depois desse ato criador do casal humano, Deus celebrou o primeiro casamento descrito da seguinte maneira em Gênesis: “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne” (Gênesis 2:22-24) e a seguinte recomendação lhes é dada: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a

terra” (Gênesis 1:28). Ellen White comenta: “Deus celebrou o primeiro casamento. Assim esta instituição tem como seu originador o Criador do Universo. “Venerado [...] seja o matrimônio” (Hebreus 13:4); foi esta uma das primeiras dádivas de Deus ao homem, e é uma das duas instituições que, depois da queda, Adão trouxe consigo além das portas do Paraíso.2 Portanto, biblicamente, o matrimônio e a família são criação de Deus e este acontece quando se abençoa um homem e uma mulher para que se unam em totalidade física, emocional, espiritual e cresçam com a chegada dos filhos. Tudo isso em seu conjunto forma a família, a expressão mais profunda da imagem de Deus na humanidade. Essa imagem não deve ser reduzida ao indivíduo em essência, mas na comunidade criada: homem-mulher/mulher-homem filho, descreve Edesio Sánchez Cetina.3 Atualmente, esse modelo bíblico de pessoa e família é fortemente questionado e rejeitado com diferentes modelos de vida, de fazer e ser família. Uma das mudanças mais radicais não tem a ver com seu continente ou número de membros do núcleo familiar, se não com seu conteúdo, os que podem formar; deixando de ser o modelo heterossexual a única configuração. FAMÍLIA ESPERANÇA

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O TERMO “GÊNERO” FOI INTRODUZIDO NA DÉCADA DE 1950, PARA TRATAR DE EXPLICAR A VIDA SEXUAL DAS PESSOAS QUE CROMOSSOMICAMENTE TEM UM SEXO, MAS ANATOMICAMENTE TEM OUTRO E QUE NO MUNDO REPRESENTAM 1% DA POPULAÇÃO MUNDIAL. É ASSIM COMO HOJE, ESSE CONCEITO FOI TOMADO PELA PSICOLOGIA SOCIAL E SE CONHECE COMO IDENTIDADE DE GÊNERO QUE SE DEFINE COMO “A DIMENSÃO PSÍQUICA DETERMINADA DE UM MORFISMO SEXUAL BIOLÓGICO; ISTO É, A EXPERIÊNCIA PRIVADA DE PERTENCER A UM OU OUTRO SEXO. ESSES NOVOS CONCEITOS CONDUZEM RAPIDAMENTE À VISÃO ATUAL DE CONSIDERAR O SEXO ALGO BIOLÓGICO E O GÊNERO, SOCIAL”, EXPLICA UMA PESQUISADORA. As teorias mais fortes conhecidas para explicar esse fenômeno se fundamentam nas teorias cognitivas e psicocognitivas. Na primeira, entende-se que a identidade de gênero se deve a sua autoconstrução, processos internos do sujeito que o levariam a definir o seu gênero em contradição a sua sexualidade biológica. A segunda corrente agrega a primeira, a influência de seu meio social próximo ou distante, mas em todos os casos passa por uma escolha pessoal. 1 Mueller, E – Brasil de Souza, E. Casamento, Princípios Bíblicos e Teológicos. CPB, Tatuí, SP. p. 18 2

Ellen White, Patriarcas e Profetas, p. 19.

Maldonado, Jorge-editor. Fundamentos bíblicos-teológicos del matrimônio y la familia. p. 75, Libros Desafios, Grand Rapids, Michigan, USA, 2006.

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Algumas re�lexões: À luz do que foi apresentado, podemos compartilhar algumas reflexões dessa teoria social, comparando-a ao modelo bíblico: • Essa ideologia é contrária a revelação bíblica, pois põe um critério de identidade e conduta das pessoas que se baseia no pensamento social, pensamento que muda e é relativo. • Negação de uma identidade definida por Deus e que está regulada de acordo com mecanismos biológicos desde a concepção, e que está presente muito antes de ter consciência de ser uma pessoa individual ou parte de uma comunidade. • Uma supervalorização da identidade individual que se expressa no comportamento de coletivo, e também contra o que é ser homem ou mulher como Imago Dei, segundo o plano original de Deus. • Imposição de um terceiro sexo social, não biológico, que se origina desde o gênero social, rejeitando a ordem natural estabelecida por Deus que define gênero masculino e feminino a partir da identidade sexual. Essa teoria social de identidade de gênero é uma negação do plano original de Deus e um desvio para a aceitação e concretização do plano restaurador do modelo edênico de casamento, que se dá dentro de um quadro escatológico para as famílias deste mundo. A identidade de gênero nos apresenta desafios ideológicos que precisamos responder não apenas porque é contrário a nosso ideal e meta de família, mas que também planteia uma quantidade de impactos sobre estilos de convivência social e cívica, educação, saúde e outros que não foram dimensionados. Diante desses desafios, a Bíblia e o Espírito de Profecia devem ser os fundamentos que nos dão resposta, e nosso estilo de família a maneira prática de demonstrar que, apesar do pecado, o plano de Deus é e continuará sendo o único modelo de desenvolvimento harmonioso para a humanidade.

Maurício Comte Donoso é Reitor da Universidade Adventista do Chile. Licenciado em Teologia. Pós-graduado em Estudos da Família – Pontífica Universidade Católica do Chile. Mestre em Estudos da Família – Universidade de Montemorelos – México.


O PAPEL DA SEXUALIDADE NO MODELO BÍBLICO por Victoria Martinez e Yván Balabarca

Em meio à agitação da saída, buscou uma forma de estar a sós com ele. Sua aparência era a mais adequada para uma reunião de sábado. Sua fama na igreja era das melhores. Não havia nada reprovável em sua conduta, mas naquele sábado apenas se aproximou e conversou com seu amigo. “Não aguento mais. Não sei o que fazer. Não temos problemas financeiros nem de trabalho. Estamos bem com as crianças e com os vizinhos. Nossa saúde é boa. Mas faz mais de quatro meses que não tenho intimidade com minha esposa. Ela apresenta mil e uma desculpas para recusar.” A vida do casal pode se tornar um desafio em alguns momentos da relação. Uma das perguntas que se deve fazer, nesses casos, não é tanto: “Por que você imagina que isso está ocorrendo?”, mas, “Desde quando isso ocorre?”, a fim de poder ajudar a pessoa a identificar os momentos que desencadearam a situação e poder fazer os devidos acertos. A vida sexual faz parte das oito áreas que conseguimos identificar para o crescimento familiar. São: apoio espiritual, administração das finanças, papéis conjugais, paternidade, diálogo saudável, sexualidade no casamento, família de origem e administração de crises. Isso não significa que uma seja maior ou mais determinante do que a outra, mas que todas provocam impacto entre si. Estão separadas apenas para fins pedagógicos, mas, na prática, todas formam o mesmo sistema que ajuda na ligação do casal.

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Oito áreas observadas desde o Éden São oito área que podemos destacar: Apoio espiritual (Gênesis 2:24), administração das finanças (Gênesis 1:29), papéis conjugais (Gênesis 1:28 b, 2:8, 15), paternidade (Gênesis 1:28 a), diálogo saudável (Gênesis 1:26), sexualidade no casamento (Gênesis 1:27, 28 a., 2:23), família de origem (Gênesis 2:24) e administração de crises (Gênesis 2:24; 3:21). No entanto, ao longo dos séculos, as práticas relacionadas ao sexo destruíram a relação de Deus com Seu povo, mas Ele não deixou Seus filhos sem orientação nesse sentido (Êxodo 20:14; Jó 31:1; Provérbios 6:27-29; Mateus 5:2; Atos 15:20; Romanos 13:13; 1 Coríntios 6:9, 10; Gálatas 5:19). A esses conselhos somam-se os conselhos e repreensões feitos pela escritora Ellen White a alguns casais: “Muitos professos cristãos que passaram diante de mim, pareciam destituídos de domínio moral. Tinham mais de animal que de divino. Eram, na verdade, quase simplesmente animais. Homens dessa espécie degradam a esposa a quem prometeram proteger e amar ternamente. Ela é tornada um instrumento a serviço das propensões vis e concupiscentes. E muitas mulheres se submetem a tornar-se escravas de paixão concupiscente; não possuem seu corpo “em santificação e honra”. 1 Tessalonicenses 4:4. A esposa não conserva a dignidade e o respeito de si mesma que possuía anteriormente ao casamento” (Testemunhos Sobre Conduta Sexual, Adultério e Divórcio, p. 111).

Vida sexual equilibrada Visto que, desde a criação, conselhos sobre a vida sexual têm sido dados na Bíblia, e nos tempos modernos eles foram reforçados com os escritos nos livros do Espírito de Profecia, concluímos que esse aspecto do ser humano é relevante em seu processo de desenvolvimento natural e normal neste mundo. Porém, são os limites que, por fim, desenvolvem a convivência agradável em cada um dos oito aspectos das relações familiares e, em especial, no aspecto sexual. Somos seres com um aspecto biológico, e a vida sexual (pertencente a esse aspecto) é impactada pelo desenvolvimento harmonioso dos outros. A vida sexual saudável ocorre quando a mente desfruta amor,

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prazer, paz, paciência, cortesia, bondade, fé, mansidão e temperança; quando há boas relações interpessoais com a família, os amigos e os vizinhos; quando se tem um lar, uma casa arrumada, limpa, adequada; quando se desfruta uma comunhão verdadeira com Deus. Diante disso, devemos acrescentar que, ao contemplar o aspecto sexual, para desfrutar boa saúde nesse aspecto, devemos não apenas resolver as altercações ou conflitos que desencadearam qualquer desordem sexual, mas devemos aprender a estar em paz com Deus e desenvolver um estilo de vida cada vez mais próximo do Criador e buscar o bem do cônjuge (com o equilíbrio oferecido por pensar na dignidade e saúde do ser amado). O aspecto sexual não é pecaminoso, assim como o biológico, o psicológico, o social, o ecológico e o espiritual também não são. Porém, ele é parte do todo, e, com todo o nosso ser, devemos amar a Deus e cuidar das oito áreas da vida conjugal. É importante lembrar que a sexualidade é uma parte tão importante quanto o diálogo, ou como a resolução das crises, ou qualquer das outras áreas para um casal, visto que, com as desavenças, carências afetivas ou crises não resolvidas, o casal terá menos desejo de ter satisfação com a sexualidade saudável. A sexualidade é parte constitutiva do ser humano e foi oferecida pelo Senhor para ser desenvolvida no marco conjugal e não fora nem antes desse marco. Tampouco deve ser levada ao excesso para humilhar algum dos cônjuges. A prática da sexualidade conjugal, devidamente desenvolvida, oferecerá felicidade e realização ao casal.

Victoria Martinez é doutora em Educação. Ela conduz o programa Sin Tabú (Sem Tabus), da TV Nuevo Tiempo, além de ser coordenadora do currículo universitário da Universidade Peruana Unión. Yván Balabarca é doutor em Educação Familiar da Universidade de Montemorelos. Ele conduz o programa Noviazgo sin Límites (Namoro sem Limites), da Radio Nuevo Tiempo, além de ser coordenador do departamento de Educação Religiosa da Universidade Peruana Unión.


SHUTTERSTOCK

por Tiago Alves Jorge de Souza

A HERANÇA EPIGENÉTICA TRANSGERACIONAL E A HOMOSSEXUALIDADE

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ordem divina “crescei e multiplicai-vos”, dada ao casal no Jardim do Éden conforme o livro de Gênesis, visava permitir que os seres humanos, assim como Deus, tivessem a oportunidade de originar seres a sua imagem e semelhança, os quais iriam perpetuar as promessas e bênçãos comunicadas inicialmente a Adão e Eva. Nesse contexto, a Bíblia enfatiza que, passar um bom legado para as gerações futuras, é algo de suma importância. Hoje sabemos que esse legado vai muito além da educação e dos bons ensinamentos que transmitimos aos nossos filhos após eles nascerem. Para entendermos a extensão desse legado é necessário considerar que, um dia, todos nós já fomos uma única célula chamada zigoto, a qual continha genes de origem paterna e materna. Todos os 200 tipos de células do nosso corpo se originaram a partir dessa célula primordial e, portanto, possuem os mesmos genes. Dessa forma, as diferenças que observamos entre as células de diferentes partes do nosso corpo só

existem devido à presença de moléculas que interagem com o DNA ativando e desativando os genes de forma distinta em cada tipo celular. As diversas interações entre essas moléculas e o DNA são denominadas "marcas epigenéticas." Obviamente, essas moléculas não fazem decisões conscientes, mas a concentração delas em cada uma de nossas células determina quais genes serão transcritos em RNAs e, posteriormente, traduzidos em proteínas, as quais permitem que o nosso corpo se desenvolva e funcione da forma correta. Só que, para que isso ocorra, é preciso que essas moléculas estejam na concentração correta em cada uma das nossas células e que existam enzimas para mediar a interação delas com o DNA. Algumas dessas enzimas atuam permitindo que as marcas que definem cada tipo celular sejam mantidas (por exemplo, DNMT1), enquanto outras (por exemplo, DNMT3a) atuam adicionando novas marcas. Essas novas marcas podem mudar o padrão epigenético FAMÍLIA ESPERANÇA

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das células, o que, dependendo do gene em questão, pode predispor o indivíduo a desenvolver doenças e alterações psicológicas e comportamentais. Apesar do fato da ativação/desativação dos genes ser algo dinâmico ao longo da vida, as modificações epigenéticas, induzidas pelo meio ambiente, podem criar efeitos no esperma e no óvulo. Isso afeta não apenas o indivíduo no qual elas ocorrem, mas, também, as gerações seguintes. Esse tipo de herança é conhecido como ˜epigenética transgeracional˜. Nesse contexto, algumas pesquisas1,2 têm identificado indícios desse tipo de herança em populações humanas. Um estudo publicado em 2014 por pesquisadores ingleses, por exemplo, demonstrou que garotos que começam a fumar antes do início da puberdade (período no qual os espermatozoides começam a se desenvolver), possuem filhos com maior tendência de acumular gordura do que a média populacional1. Obviamente, por questões éticas, os estudos que avaliam esse tipo de herança em humanos se limitam a analisar dados populacionais acumulados ao longo de gerações ou situações criadas por circunstancialidades (por exemplo, fome, guerras, traumas) que podem ter um impacto nas gerações futuras. Dessa forma, para termos uma relação de causa e efeito mais clara, é necessário a realização de experimentos com modelos animais seguidos de uma extrapolação dos resultados obtidos, de forma apropriada, para o ser humano. Nesse contexto, por exemplo, foi demonstrado que uma dieta rica em gordura de origem suína adotada por ratos machos aumenta a predisposição da prole de fêmeas desses animais de desenvolver câncer de mama3. Em função da gestação, os hábitos das fêmeas possuem influência ainda maior sobre a prole. Em camundongos, por exemplo, foi observado que a alimentação das fêmeas durante a gestação pode regular a expressão do gene Agouti. Caso a fêmea não tenha uma alimentação adequada durante a gestação o gene Agouti permanece ativo gerando uma prole de camundongos grandes, amarelos e com susceptibilidade à obesidade e a diversas doenças como câncer e diabetes. Por outro lado, caso a fêmea tenha uma dieta saudável durante a gestação, diversos silenciadores epigenéticos se ligam ao redor desse gene, reprimindo a sua transcrição, o que resulta em camundongos saudáveis (esbeltos, marrons e sem predisposição para doenças)4. As condições presentes logo após o nascimento também podem ter influência sobre a ativação/

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desativação dos genes e impactar de forma direta o comportamento dos filhotes. Diversas análises têm demonstrado que a interação entre a fêmea e sua prole durante as primeiras semanas após a gestação pode ter consequências a longo prazo na vida dos filhotes. Algumas dessas análises, por exemplo, demonstraram que ratinhos que sofrem abandono materno em suas primeiras semanas de vida possuem maior dificuldade de lidar com estresse5 e apresentam variações no seu comportamento sexual6.

Comportamento sexual Mais especificamente em relação ao comportamento sexual, estudos têm demonstrado que fêmeas expostas ao estresse associado ao álcool durante as primeiras semanas da gestação apresentam prole de machos com modificações epigenéticas relacionadas a tendências homossexuais7,8. Dentre outros efeitos, essas modificações levam a uma queda da neurotrofina BDNF (Brain Derived Neurotrofic Factor). Em análises realizadas por Popova e colaboradores (2011), por exemplo, foi demonstrado que fêmeas de camundongo do grupo experimental (GE), as quais foram expostas a estresse associado ao álcool durante as primeiras semanas de gestação, apresentaram uma prole de machos com incidência de comportamento homossexual aproximadamente dez vezes maior do que a verificada na prole do grupo controle (GC - fê meas não estressadas e não expostas ao álcool). Considerando a relação entre as modificações epigenéticas associadas ao comportamento homossexual e baixos níveis de BDNF, Popova e colaboradores (2011)8, resolveram injetar essa neurotrofina no cérebro dos camundongos homossexuais, cujas mães pertenciam ao grupo experimental, e cerca de 70% deles voltaram a apresentar atração heterossexual8. Considerando a natureza epigenética da predisposição homossexual desses camundongos, a administração do BDNF foi capaz de restaurar o perfil epigenético padrão relacionado à sexualidade nesses murinos8. Esses resultados exemplificam a possibilidade de se reverter padrões epigenéticos. Ou seja, apesar de serem potencialmente herdadas, as marcas epigenéticas podem ser modificadas e apagadas. Obviamente, o comportamento sexual humano é muito mais complexo e multifacetário do que o verificado em animais. No entanto, estudos como o relatado acima mostram indícios de que a atração homossexual humana pode


possuir base epigenética, o que é corroborado por diversos estudos que correlacionam alterações dos níveis de BDNF com a sexualidade humana9-11.

Inspiração divina É interessante que Ellen White, inspirada por Deus, nos advertiu há mais de um século não apenas acerca da necessidade de haver planejamento familiar e um ambiente harmonioso no lar, como também sobre o perigo da influência dos hábitos nutridos no seio da família sobre os filhos, antes mesmo deles nascerem:

A herança epigenética nos auxilia a compreender que as nossas escolhas não impactam apenas as nossas vidas, mas também as gerações futuras. Os maus hábitos cultivados ao longo de muitos anos estão afetando, entre outros aspectos, a sexualidade das gerações atuais, o que ameaça a estrutura e a perpetuação da família como inicialmente idealizada por Deus. A luta no campo da sexualidade é extremamente desafiadora, mas não devemos nos esquecer que não estamos sozinhos no campo de batalha. Foi Deus quem começou a boa obra em nós e é Ele que irá completá-la até o dia de Cristo Jesus (Filipenses 1:6).

“As práticas contrárias à saúde, das gerações passadas, afetam as crianças e a juventude de hoje. A incapacidade mental, a fraqueza física, os descontrolados nervos e os apetites contrários à natureza são transmitidos como legado de pais aos filhos. E as mesmas práticas, continuadas pelos filhos, vão crescendo e perpetuando os maus resultados” 12.

1

NORTHSTONR K, GOLDING J, DAVEY SMITH G, MILLER L . L, PEMBREY M, Prepubertal start of father’s smoking and increased body fat in his sons: further characterisation of paternal transgenerationalreponses. European Journal of Human Genetics, v.22, n. 12, p 1382*6,2014.

2

Kaati g, bygren lo, edvinsson s. Cardiovascular and diabetes mortality determined by nutrition during parents’and grandparents’slow growth period. European Journal Human Genetics, v.10, n. 11, p. 682-8, 2002.

Tiago Alves Jorge de Souza é bacharel em Ciências Biológicas. É mestre e doutor também em Ciências Biológicas, com ênfase em Genética, atuando nas áreas de genética molecular, bioinformática, citogenética e mutagênese.

7 POPOVA, N. K,; MOROZOVA, M. V.; AMSTISLAVKAYA, T. G. Prenatal stress and etanol exposure produces inversion of sexual partner preference in mice. Neuroscience Letters, v. 489 n. 1, p. 48-52, 2011. 8

POPOVA, N. K.; MOROZOVA, M. V.; NAUMENKO, V. S. Ameliorative e�fect of BDNF on prenatal etanol and stress exposure-induced behavioral disorders. Neuroscience Letters, v. 505, n. 2, p. 82-6, 2011.

9

3

AUTRY, A. E.; ADACHI, M.; CHENG, P.; MONTEGGIA, L. M. Gender-specific impact of brain-derived neurotophic fator signaling on stress-induced depression-like behavior. Biological Psychiatry, v. 66, n. 1, p. 84-90, 2009.

4

10 YANG, L.Y.; VERHOVSHEK, T.; SENGELAUB, D. R. Brain-derived neurotrophic fator and androgen Interact in the maintenance of dendritic morphology in a sexually dimorphic rat spinal nucleus. Endocrinology, v. 145, n. 1, p. 161-8, 2004.

FONTELLES, C. C.; GUIDO, L. N.; ROSIM, M. P.; ANDRADE, F. O.; LU J.; INCHAUSPE, J. Et al. Paternal programming of breats câncer risk in daughters in a rat model: opposing e�fects of animal- and plant-based high-fat diets. Breast Cancer Research, 18:71,2016. WOLFF, G.L,; KODELL, R. L.; MOORE, S. R; CONNEY, C.A. Maternal licking regulates hippocampal glucocorticoid receptor transcription Avy/a mice. FASEB J. V 12, n. 11,p. 949-57,1998. 5

HELLSTROM, I. C.; DHIR, S. K.; DIORIO, J. C.; MEANEY, M. J. Maternal licking regulates hippocampal glucocorticoid recptor transcription through a thyroid hormoneserotonin-NGFI-A signalling cascad. Philosophical Transactions Royal Society B: Biological Sciences, v. 367, n. 1601, p. 2495-2510,2012.

11

FUSS, J.; BIEDERMANN, S. V.; STALLA, G. K.; AUER, M K. On the quest for a biomechanism of transsexualism: is there a role for BDNF? Journal of Psychiatric Research, v. 47, n. 12, p. 2015-7, 2013. 12

WHITE, E. G. A Ciência do bom viver. Ellen G. White Estate, Inc, 2013.

6

CAMERON, N. M. Maternal Programming of Reproductive Function and Behavior in the Female Rat. Frontiers in Evolutionary Neuroscience, 3: 10, 2011.

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DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO

O MODELO BÍBLICO E CRISTÃO por Janete Tonete Suárez

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uidados especiais nos primeiros anos de vida da criança são decisivos para um bom desenvolvimento até a fase adulta. Estes normalmente incluem atenção especial com os aspectos físico, emocional, social e cognitivo. A família, cujos fundamentos educacionais estão alicerçados em um modelo bíblico cristão, reconhece, no entanto, a necessidade de colocar em prática, igualmente, a formação do caráter dos filhos; “obra mais importante já confiada aos mortais” (WHITE, 2004). Essa formação deve ser exercida desde o berço, enquanto “sentados em casa, andando pelo caminho, ao deitarem e ao se levantarem” (Deuteronômio 11:19), buscando familiarizar os filhos com Deus e à Sua palavra de forma a habilitá-los para a vida eterna O escritor F. E. E. Burkhalter (1967) apresenta uma ideia de por que é fundamental priorizar a formação do caráter dos filhos durante seu período de maior desenvolvimento, ao afirmar o seguinte: “As crianças, juvenis e adolescentes são o único material dado por Deus, com o qual podemos fazer homens e mulheres.

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São elas que ocuparão nossa cadeira no Senado e o nosso lugar no banco da Corte Suprema. Elas assumirão o governo das cidades, Estados e do País. Dirigirão presídios, igrejas, escolas, universidades, corporações e empresas”. O autor diz, ainda, que “tudo o que fizermos será louvado ou condenado por elas; nossa reputação e futuro estão em suas mãos. Toda a nossa obra será delas e o destino da nação e da humanidade dependerá de nossas crianças. As crianças, juvenis e adolescentes de hoje serão os homens e mulheres de amanhã. Elas continuarão aquilo que começarmos. Ficarão exatamente no lugar que agora ocupamos. E, quando nos formos desta vida, nossas crianças cuidarão das coisas que julgamos importantes. Poderemos traçar mil planos a curto ou longo prazo, mas o modo como esses planos serão executados depende em grande parte do menino e da menina que hoje educamos”. (BURKHALTER,1967, p. 11 a 13). Percebe-se que, para alcançar uma educação com propósitos elevados, é preciso ir além de uma educação


normal, não podendo ainda, terceirizá-la ou negligenciá-la. Ademais, os pais de hoje constituem a primeira geração que testemunha as mais rápidas e incomuns mudanças de paradigmas na sociedade. Por vezes sentem-se perdidos, sem reação, tendo que reagir e indagar: O que fazer? Que atitudes tomar? Uma contra reação proposital e na mesma velocidade das mudanças que vem ocorrendo provavelmente seja a melhor fórmula para a formação de um caráter nobre e aprovado por Deus nos filhos. Para tanto, é preciso: a. Orar e depender de Deus intensamente – a família vive tempos difíceis, é urgente a necessidade de estabelecer prioridades quanto à oração diária, leitura da Bíblia, Lição da Escola Sabatina e Espírito de Profecia; b. Tornar a formação do caráter dos filhos, uma “missão”– Outros projetos podem esperar, a formação caráter deve ter prioridade e não ser permissiva. (FOWLER, 1977; White, 2013; 2014); c. Ser o primeiro e principal discipulador dos filhos – Há que instruir os filhos a andar com Deus e ter uma amizade sincera e individual com Ele (PHILLIPS, 2011; WHITE, 2007); d. Ser um modelo – Os filhos observam e copiam a forma como os pais vivem, enfrentam desafios, solucionam problemas, se divertem, negociam e como interagem com Deus. Quanto mais coerência houver entre a ação e o discurso, maior seu impacto; e. Ter conhecimento de causa – uma família cristã deve estar bem instruída quanto às fases do desenvolvimen-

to dos filhos. Conhecer cada uma é essencial a fim de orientar corretamente e fazer a diferença entre outras teorias e tendências por vezes errôneas e impostas por pessoas mal intencionadas. Os pais precisam ter claro que crianças de determinada faixa etária apresentam características peculiares e normalmente similares. Aos cinco anos, por exemplo, desenvolvem-se muito fisicamente, crescem em torno de 15 centímetros por ano, ganham em torno de quatro quilos, vestem-se sozinhas, amarram os sapatos, escovam os dentes e etc. Socialmente, começam se relacionar com pessoas fora de casa e, espiritualmente aceitam o fato de Deus como Criador e Pai. No desenvolvimento sexual, essas crianças costumam querem saber de onde vieram, questionam sobre bebês e se interessam pela diferença entre meninos e meninas. A unidade familiar nas suas mais diversas esferas de ação, constitui o principal canal para passar tais informações, às quais devem progredir gradualmente diante de devidas orientações e dúvidas. (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2010). Educar os filhos para o conhecimento da vontade de Deus, não é uma missão fácil. É preciso lembrar, no entanto, que, a despeito das dificuldades, os pais também têm um grande “Pai” para o qual tudo é possível, um “Pai” que os toma pela mão direta e diz: “não temas, (meu filho) que eu te ajudo” (Isaías 41:13). Janete Tonete Suárez é mestre em Psicologia e doutoranda em Psicologia.

BURKHALTER, F. E. Como ganhar os adolescentes. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1967.

PAPALIA, Diane. E; OLDS, Sally Wendrikos; FELDMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento humano. 10 ed. Porto Alegre: AMGH, 2010.

PHILLIPS, Keith. A Formação de um Discípulo. 2a edição. São Paulo: Vida, 2011.

WHITE, ELLEN, G. Orientação da criança. Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, 2013.

FOWLER, John M. The Concept of Character Development in the Writings of Ellen G. White. Andrews University, Berrien Springs, MI, United States, 1977.

. Fundamentos da Educação Cristã. Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, 2007. . O Lar Adventista. Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, 2014.

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EDUCAÇÃO ADVENTISTA:

PARCEIRA NA FORMAÇÃO DOS VALORES DA FAMÍLIA por Sócrates Quispe-Condori

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estaurar no homem à imagem de seu Autor, levá-lo de novo à perfeição em que fora criado, promover o desenvolvimento do corpo, espírito e alma para que se pudesse realizar o propósito divino da sua criação — tal deveria ser a obra da redenção. Este é o objetivo da educação, o grande objetivo da vida (White, 2008, p.15). Em 2017, participei da inauguração do Colégio Adventista de Campo Grande em Cariacica, Espírito Santo. Centenas de famílias estavam reunidas na quadra do colégio, aguardando com expectativa os diferentes atos protocolares. O que as famílias estavam esperando deste momento? Quais eram as mensagens que estavam aguardando? Diversos discursos foram apresentados, porém quando um dos palestrantes declarou que nesta escola é defendido o princípio de que “criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gên. 1:17), as famílias ficaram emocionadas e começaram a aplaudir com intensidade. O que teve esta frase que despertou este sentimento? Nos tempos em que vivemos, as famílias vêm sendo atacadas por diversas correntes filosóficas que colocam em risco os seus valores fundamentais. O pós-modernismo, relativismo, secularismo, marxismo e evolucionismo, vêm ganhando espaço a cada dia, criando novos conceitos relacionados à identidade de gênero, que colocam em risco o conceito divino de uma família saudável. Manter famílias saudáveis, famílias onde os valores bíblicos sejam praticados, “onde o contentamento, a cortesia e o amor” fazem habitação e “que a paciência, a gratidão e o amor mantenham no coração a luz solar” (White, 2013, p.393), é cada vez mais um grande desafio.

PELA COSMOVISÃO ADVENTISTA, TER DEUS COMO BASE É O MAIS IMPORTANTE, JÁ QUE “TODO O SABER E DESENVOLVIMENTO REAL TÊM SUA FONTE NO CONHECIMENTO DE DEUS.” (WHITE, 2008, P.14). Esse principio deve ser ensinado nos diferentes âmbitos educacionais, sendo o lar o primeiro deles. Assim, é de fundamental importância que as famílias entendam o conceito de uma educação cristã, baseado em princípios divinos e valores bíblicos. White (s.d.) afirma que “o treinamento inicial das crianças é um assunto que todos devem estudar cuidadosamente. Como pais e mães, devemos nos treinar, disciplinar e preparar, assim como aos nossos filhos, para a futura herança imortal”. Se, como pais, entendermos este princípio, desejaremos continuar com esta educação em instituições que garantam o aprimoramento e fortalecimento dos ensinos do lar.

MAS O QUE DEFINE CONCEITUALMENTE UMA FAMÍLIA SAUDÁVEL? Segundo Swindoll (2014), uma família saudável se caracteriza por membros que estão comprometidos, passam tempo juntos, comunicam-se frequentemente, trabalham juntos nas dificuldades, expressam palavras de encorajamento, têm comunhão com Deus, confiam uns nos outros e desfrutam de liberdade. FAMÍLIA ESPERANÇA

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QUEM PODERIA DAR A CONTINUIDADE A EDUCAÇÃO COM VALORES? Para a Igreja Adventista do Sétimo Dia, “a educação compreende não somente a disciplina mental, mas aquele cultivo que garante a sã moral e o correto comportamento (White, 2007b, p.51). Assim, para a educação adventista, “Educar é redimir”, pois “no mais alto sentido, a obra da educação e da redenção são uma” (White, 2008, p.30). Nenhuma outra rede educacional procura este fim tão elevado, nobre e santo. Para esta formação, a educação adventista toma como base a Bíblia, que ocupa o primeiro lugar no plano curricular, já que “a religião da Bíblia é a única salvaguarda dos jovens” (White, 2007b, p.61). Também, desde 2008, é promovido anualmente um Plano Mestre de Desenvolvimento Espiritual (PMDE), que tem por objetivo fortalecer a formação em valores de uma família saudável. Desde 2016, a cada ano é selecionada uma das 28 crenças fundamentais da Igreja Adventista para ser trabalhada em nível temático. No próximo ano, o PMDE promoverá a crença fundamental número 6, ou seja, a criação, resgatando o princípio de que “Deus criou o universo; e, em uma criação recente, que durou seis dias, o Senhor fez “os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há” e descansou no sétimo dia. O primeiro homem e a primeira mulher foram formados à imagem de Deus como obra-prima da criação”. White, E. G. (2008). Educação. Tatuí, SP: CPB. White, E. G. (2007a). Conselhos para a Igreja. Tatuí, SP: CPB. White, E. G. (2007b). Conselhos sobre Educação. Tatuí, SP: CPB. White, E. G. (2007c). Fundamentos da Educação Cristã. Tatuí, SP: CPB. White, E. G. (2013). A Ciência do Bom Viver. Tatuí, SP: CPB. White, E. G. (s.d.). The Advocate, 40. (Logos) Swindoll, Ch. R. (2014). 8 Characteristics of a Healthy Family. Disponível em: lifeway.com/en/articles/eight-characteristics-of-a-healthy-family. Acessado em 02/05/2018.

Sócrates Quispe-Condori é diretor sssociado do Departamento de Educação, Divisão Sul Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

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ASSIM, A EDUCAÇÃO ADVENTISTA É A MAIS SÓLIDA PARCEIRA NA FORMAÇÃO DOS VALORES DE UMA FAMÍLIA SAUDÁVEL. “QUANDO DEVIDAMENTE DIRIGIDAS, AS ESCOLAS SERÃO O MEIO DE ERGUER O ESTANDARTE DA VERDADE NOS LUGARES EM QUE FUNCIONAM; POIS AS CRIANÇAS QUE RECEBEREM EDUCAÇÃO CRISTÃ, SERÃO TESTEMUNHAS DE CRISTO”. (WHITE, 2007A, P.215).


UM MANUAL PARA A

ETERNIDADE por Marcos Blanco

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onta-se que o Ford, modelo T, de um homem quebrou ao lado de uma estrada. Como ele conhecia algo de mecânica, começou a consertar o carro ali mesmo. Ele tentou várias soluções, mas nada funcionou. Alguns minutos depois, outro Ford T parou atrás dele. Um velho saiu e, depois de observar por alguns minutos, perguntou se poderia ajudá-lo. O homem nem sequer respondeu. Mas o velho continuou lá e ofereceu sua ajuda várias vezes, a qual sempre foi rejeitada. Depois de muito tempo, já cansado, o "mecânico" improvisado concordou com o pedido do ancião, dizendo:

– SE EU NÃO CONSEGUI CONSERTAR, NÃO ACHO QUE VOCÊ CONSEGUIRÁ. MAS, SE QUISER, PODE TENTAR.

A família está em crise, desintegrou-se. E milhões de pessoas não conseguem encontrar amor, aceitação, proteção e segurança. A humanidade, como o homem teimoso desta história, rejeitou quem projetou a família e não sabe como consertar esses relacionamentos perdidos. Deus não apenas projetou o ser humano (ver Gênesis 1 e 2), mas também estabeleceu a estrutura correta para ele encontrar amor e felicidade. No projeto original, Deus estabeleceu que a família deve ser formada pela união de um homem e uma mulher que deixam seus pais para formar um novo grupo familiar no contexto de um relacionamento monogâmico de confiança, amor e respeito mútuo (Gênesis 2:24). Como resultado desse relacionamento, nascem os filhos, que são considerados uma bênção (Salmos 127: 3) e que devem ser instruídos nos caminhos de Deus (Provérbios 22: 6).

O velho pegou uma ferramenta, ajustou uma peça do motor, ligou o motor e, de repente, o carro voltou a funcionar! Surpreso, o dono perguntou ao velho:

– COMO VOCÊ SABIA O QUE FAZER?

– MEU NOME É HENRY FORD – disse o velho –

– E EU INVENTEI ESSE CARRO. Imagens disponibilizadas gratuitamente.

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A Bíblia nos deixa instruções claras para encontrar a felicidade e o amor que o contexto familiar tanto precisa: 2. Um dia para a família. O sábado foi concebido por Deus não só para manter contato com nosso Criador (Gênesis 2: 3 e 4), mas também para o deleite da família, como um dia de descanso que proporciona tempo de qualidade para pais e filhos.

3.Esperança para o futuro.Deus criou a família para ser desfrutada pela eternidade. Quando Jesus voltar, Deus criará "um novo céu e uma nova terra", sem tristeza choro ou dor (Apocalipse 21: 1-3).

Imagen s disp onibili zadas gratui tamen te.

1. Primeiro Deus. Quando colocamos Deus em primeiro lugar, vemos todas as nossas outras necessidades satisfeitas (Mateus 6:33). Mesmo as crianças, desde muito cedo, devem ser instruídas a amar a Deus acima de todas as coisas (Deuteronômio 6: 5-7, NVI).

Colocando Deus em primeiro lugar, desfrutando do sábado na companhia de nossos queridos e nutrindo a esperança da segunda vinda de Jesus, nós não só faremos de nossa casa uma antecipação do Céu, mas também poderemos desfrutar de nossa família junto com Jesus para sempre. Marcos Blanco é teólogo, mestre em teologia e chefe de redação da Revista Adventista em espanhol.

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