Grips Editora – Ano 19 – Nº 129 – julho/agosto 2018
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A revista de negócios do aço
Congresso do aço discute as alternativas A retomada da indústria
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Expediente
Edição 129 - ano 19 Julho/Agosto 2018 Siderurgia Brasil é uma publicação de propriedade da Grips Marketing e Negócios Ltda. com registro definitivo arquivado junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial sob nº 823.755.339. Coordenador Geral: Henrique Isliker Pátria
Editorial
Resultados muito promissores. Podemos acreditar? HENRIQUE ISLIKER PÁTRIA EDITOR RESPONSÁVEL
Diretora Executiva: Maria da Glória Bernardo Isliker TI: Vicente Bernardo Consultoria jurídica: Marcia V. Vinci - OAB/SP 132.556 mvvinci@adv.oabsp.org.br Editor e Jornalista Responsável: Henrique Isliker Pátria - MTb-SP 37.567 Repórter Especial: Marcus Frediani MTb:13.953 Projeto Editorial: Grips Editora Projeto Gráfico: Ana Carolina Ermel de Araujo Edição de Arte / DTP: Ana Carolina Ermel de Araujo Capa: Criação: André Siqueira Fotos: Montagem com fotos da Shutterstock Impressão: Ipsis Gráfica e Editora DISTRIBUIÇÃO DIRIGIDA A EMPRESAS DO SETOR E ASSINATURAS A opinião expressada em artigos técnicos ou pelos entrevistados são de sua total responsabilidade e não refletem necessariamente a opinião dos editores. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Rua Cardeal Arcoverde 1745 – conj. 113 São Paulo/SP – CEP 05407-002 Tel.: +55 11 3811-8822 grips@grips.com.br www.siderurgiabrasil.com.br Proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou qualquer meio, sem prévia autorização.
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Depois de ler as várias reportagens e artigos que apresentamos nesta edição da revista Siderurgia Brasil, principalmente as estatísticas divulgadas, nossos leitores, com certeza, terão a firme convicção de que podemos dividir o ano de 2018 em dois períodos distintos: o “antes” e o “depois” da greve dos caminhoneiros. Em matéria sobre a produção industrial brasileira, verifica-se que em todos os setores pesquisados – como, por exemplo, o químico, o de plásticos, o de borracha, o setor de siderurgia e metais, o automotivo e o de máquinas e implementos, entre vários outros – fica claro como tal paralisação foi penosa para o nosso país. Mas a resposta veio rapidamente, e a retomada foi mais auspiciosa do que se esperava. Em nossa especialidade, o Instituto Aço Brasil divulgou que no primeiro semestre o crescimento da produção foi de 2,9% alcançando um total de 17.192 milhões de toneladas, enquanto as vendas internas evoluíram 9,9% no período, alcançando 8.830 milhões de toneladas de aço. Em junho, o setor de distribuição registrou uma alavancagem de mais de 50%, atingindo pouco mais de 307 mil toneladas vendidas. Tal recomeço é elogiável. E esperamos continuar nesse ritmo para desmentirmos os economistas e os institutos que revisaram a previsão de crescimento do PIB para apenas 1% este ano. Até por conta disso, “recheamos” esta Edição Especial de atrativos, in-
cluindo nela matérias fundamentais para quem atua no campo da siderurgia. Além das estatísticas e comentários sobre crescimento, você verá uma panorâmica perfeita de como anda a indústria siderúrgica brasileira e mundial, vista pelos olhos de vários especialistas em reportagens feitas com absoluta exclusividade para nossos leitores. Nela, também trazemos uma entrevista do novo presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, que toma posse agora, no final do mês de agosto, durante a realização do Congresso Aço Brasil 2018, na qual ele fala dos planos gerais de sua gestão para a siderurgia nacional no contexto mundial. Outro assunto de destaque é uma reportagem sobre o atual momento da política nacional, vista sob a perspectiva do diretor de um dos maiores institutos de tecnologia do Brasil, na qual ele diz o que pensa, o que espera e o que devemos “exigir” dos novos governantes do Brasil. Tudo feito com muito carinho e muita dedicação para você, nosso leitor, que é nossa razão e o alvo principal de todos os nossos esforços e ações. Por essa razão, por favor, não deixe de manifestar seu ponto de vista sobre os temas tratados e sobre a nossa revista: seus comentários são fundamentais para aprimorarmos ainda mais o nosso conteúdo físico e pela internet, bem como a qualidade de nossas próximas edições. Boa leitura!
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Índice de matérias
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EDITORIAL Resultados muito promissores. Podemos acreditar?
CONGRESSO DO AÇO Em busca do tempo perdido
FUTURO Preparado para a luta
AÇO NO MUNDO Otimismo controlado
TECNOLOGIA A inovação necessária para a indústria crescer
ECONOMIA Não tem mágica. Precisamos crescer!
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MERCADO DE AÇÕES
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ADMINISTRAÇÃO
Bons sinais na Bolsa
INDÚSTRIA A recuperação da indústria nacional
A importância dos Conselhos de Administração e Fiscais
ESTATÍSTICAS
VITRINE
ANUNCIANTES
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Em busca do tempo perdido
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Apesar dos números positivos registrados na atividade do primeiro semestre de 2018, a situação do mercado siderúrgico brasileiro permanece delicada e inspirando cuidados. Marcus Frediani
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Melhorou, mas continua ruim. Assim, no jargão popular e de forma não muito técnica, podem ser definidos os resultados da indústria brasileira do aço no primeiro semestre de 2018. Os percentuais de crescimento do período até foram positivos, mas apenas porque a base de comparação em termos de desempenho com o mesmo intervalo do ano passado era fraca. “A base dos seis primeiros meses de 2017 é tremendamente deprimida, de modo que devemos relativizar este crescimento”, pontuou o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, durante a Coletiva de Imprensa promovida pela entidade no dia 25 de julho, em São Paulo. Em resumo, as vendas internas foram de 8,8 milhões de toneladas de aço nos primeiros seis meses de 2018, o que representou um crescimento comparado de 9,9%. O consumo aparente atingiu 10,1 milhões de toneladas (+9,3%), sustentado pelo crescimento das ven-
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das internas. A produção brasileira do aço foi de 17,2 milhões de toneladas (+2,9%). Já as exportações somaram 6,9 milhões de toneladas, cravando um recuo de 5,7% em relação ao resultado obtido no primeiro semestre de 2017. E as importações aumentaram 5,6% na mesma época, totalizando 1,3 milhões de toneladas. Como não poderia deixar de ser, apesar dos números positivos, a greve dos caminhoneiros, em maio passado, contaminou parte do crescimento da indústria do aço em 2018 tanto no que diz respeito às vendas domésticas, quanto às exportações, via preferencial na qual as usinas apostam para tentar elevar a utilização de sua capacidade instalada, ainda longe da meta almejada pela indústria. “O setor opera atualmente em 68,3% da capacidade, sendo que o ideal seria 80%”, registrou Marco Polo. “Contudo, não Sérgio Leite de Andrade – Vice-Presidente do Conselho Diretor do vemos perspecInstituto Aço Brasil e Marco Polo de Mello Lopes – Presidente Executivo tiva de crescido Instituto Aço Brasil, durante Coletiva de Imprensa
mento da economia e do consumo aparente de aço que nos faça retomarmos a ocupação da indústria para esse patamar nos próximos quatro ou cinco anos”, destacou, por sua vez, o outro componente da mesa da Coletiva de Imprensa, Sergio Leite de Andrade, CEO da Usiminas e futuro presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, a partir do final de agosto. De acordo com ambos os executivos, essa dinâmica faz parte de uma equação perversa que tem em um de seus lados o recorrente excesso de capacidade de 550 milhões de toneladas de aço no mundo, dos quais 280 milhões vêm da China. E, ainda pode não ser surpresa que esse potencial venha a ser desaguado no Brasil, caso o país mantenha seu mercado mais aberto. Já sobre os preços praticados no mercado interno, segundo o Instituto Aço Brasil, os ajustes recentes ocorreram pela grande diferença da inflação geral do país nos últimos anos e os valores praticados pela indústria. “Pela
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crise recente, criou-se uma barriga entre os preços do aço e a inflação. O que há agora é uma retomada”, afirmou Marco Polo. Profusão de salvaguardas Naturalmente, esse quadro ficou ainda mais nebuloso a partir do início do mês de março, com a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump de estabelecer tarifa de 25% para o aço importado e, posteriormente, negociar cotas de exportação para o aço de alguns países, entre os quais o Brasil, no âmbito da Seção 232, sob o argumento de que as importações de aço constituem “ameaça à segurança” dos Estados Unidos. Tal medida impactou as projeções do Aço Brasil para o ano, considerando o fechamento de
outros mercados na esteira da decisão americana. E tal quadro está se agravando ainda mais, porque o que os Estados Unidos fizeram acabou “puxando” uma fila. “É importante registrar que não são só norte-americanos adotaram políticas de salvaguarda para seus mercados. Estas estão ‘pipocando’ ao redor do planeta, como estão sendo os casos das barreiras e taxações à importação de aço que passaram a ser levantadas pela União Europeia, Marrocos, Turquia, Índia, Vietnã, Tailândia, Malásia, Indonésia, Filipinas, África do Sul e Costa Rica. Entre os continentes, só o Cone Sul ainda não as adotou”, ressaltou Sergio Leite. “Aliás, face à ausencia de barreiras comerciais à entrada do aço estrangeiro em nossa parte do globo, a grande pergunta
é: O Brasil pode continuar a ser liberal em um mundo protecionista?”, instigou Sergio Leite. Como base para reflexão ele destacou o fato de que de janeiro a junho deste ano as exportações de aço brasileiro caíram 5,7% na comparação com o mesmo período do ano anterior, chegando a 6,9 milhões de toneladas. Por outro lado, houve um aumento de 16% no valor total desses embarques em dólar, atingindo US$ 4,29 bilhões. “Por agora, as importações estão baixas em função do real depreciado, mas pode haver um surto se o câmbio mudar. O cenário está muito indefinido”, deixou o alerta. Perspectivas tímidas Embora os resultados do primeiro semestre de 2018 divulgados pelo Instituto Aço Brasil tenham sido positivos,
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todos foram revisados para baixo em relação às expectativas no início do ano, diante da não retomada do crescimento econômico como esperado. As previsões da entidade para indústria brasileira do aço em 2018 são de aumento das vendas internas de aço em 5% em 2018, totalizando volume de 17,7 milhões de toneladas, enquanto o consumo aparente de aço deve subir 4,9% este ano. Para a produção de aço, a projeção de crescimento foi cortada pela metade: se antes era de 8,6%, atualmente é de 4,3%, para 35,8 milhões de toneladas. Contudo, o efeito deletério deverá ser mais sentido nas exportações. A expectativa anterior, divulgada em abril, era de crescimento de 10,7%. Agora, a estimativa da entidade é de queda de 0,6%, para 15,3 milhões de toneladas. Complementarmente, os dados do Instituto Aço Brasil demonstram que os principais mercados consumidores do aço no país ainda registram queda em relação a 2013, ano considerado recorde da indústria nacional. A construção
civil, responsável por 38,1% do consumo aparente no País, está com retração de 29,7% na sua produção de janeiro a maio de 2018 na comparação com 2013. Mesmo o setor automotivo, que apresentou números fortes de crescimento até a greve dos caminhoneiros, ainda está 32,5% atrás de 2013 nos volumes do período.“A crise afetou todos os segmentos, com queda do PIB e aumento do custo Brasil. Construção civil, automotivo e máquinas e equipamentos já reduziram as suas projeções para este ano, então não vamos ter uma retomada como a esperada”, lamentou Marco Polo de Mello Lopes. Cenário pós-eleições Cabe destacar que todos os países que alcançaram bom nível de desenvolvimento econômico e social, tiveram a indústria como mola propulsora do seu crescimento. No Brasil, vem ocorrendo exatamente o oposto: a indústria de transformação vem perdendo, de forma significativa, ao longo dos anos, participação no PIB. “A indústria brasileira do aço espera que, estando a três meses das eleições para a Presidência da República, este seja um tema prioritário na agenda de todos
os candidatos”, registrou o presidente do Aço Brasil. Na verdade, de uma forma geral, os executivos do setor siderúrgico deixam claramente transparecer um acentuado nível de decepção quanto às políticas liberais adotadas pelo governo atual, muitas delas marcadas muito mais pelo viés ideológico do que pelo eminentemente técnico. Com isso, crescem naturalmente as expectativas dos empresários em torno do cenário eleitoral, assim como as esperanças de que o ambiente de negócios se torne mais propício para a atividade da indústria. Objetivamente, na leitura de Marco Polo e Sergio Leite, os candidatos à Presidência que apresentam plataformas mais alvissareiras nesse sentido são Jair Bolsonaro (PSL), Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB) e Álvaro Dias (Pode), na contramão das resistências já postuladas nos programas de governo de Ciro Gomes (PDT) e de Marina Silva (Rede). Com relação às políticas para proteger a indústria nacional, Marco Polo citou nominalmente Alckmin e Bolsonaro como aqueles em que o setor mais deposita expectativas. “O Alckmin tem preparo pelas gestões no governo de São Paulo. E, apesar do apoio de economistas que defendem uma abertura como a atual, ele tem uma equipe preocupada com a correção das assimetrias. Já o Bolsonaro tem uma postura mais nacionalista, buscando a preservação do mercado interno”, finalizou.
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Protecionismo global, defesa comercial, assimetrias competitivas, conteúdo local, compensação dos resíduos tributários: Sergio Leite alinha os principais tópicos do que deve ser sua gestão como novo presidente do Conselho do Aço Brasil. Marcus Frediani
E Foto: Divulgação Usiminas
Em agosto, no primeiro dia do Congresso Aço Brasil 2018, Sergio Leite de Andrade, CEO da Usiminas, vai assumir a Presidência do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil. A expectativa, é claro, é de que ele dê continuidade ao excelente trabalho da gestão anterior, que foi capitaneada pelo vice-presidente sênior do Grupo Vallourec para a América do Sul, Alexandre de Campos Lyra, que continua a integrar o Conselho como um de seus 16 membros. Administrador brilhante, Sergio, contudo, deverá imprimir sua forte marca pessoal no novo cargo. Nesta entrevista, Sergio Leite fala com exclusividade para a revista Siderurgia Brasil a respeito de como irá conduzir esses trabalhos, dentro de uma dinâmica de planos e metas voltada ao fortalecimento da indústria e de toda a cadeia siderúrgica nacional, o que, naturalmente, deve contemplar o enfrentamento de grandes desafios, principalmente em função dos atuais desdobramentos e empecilhos que o
setor atravessa não só no Brasil, como no mundo inteiro. Confira! Siderurgia Brasil: Sergio, qual a dinâmica que se deve observar no mercado siderúrgico brasileiro em 2018? Sergio Leite: Este ano, nós já vivenciamos quatro momentos. No primeiro trimestre, havia uma perspectiva concreta de um crescimento do PIB na ordem de 3% e do crescimento da demanda do consumo aparente de aço em torno de 10%. O segundo momento foi em abril, no qual começamos a perceber uma desaceleração do ritmo de crescimento do país e do consumo de aço. Aí, veio o terceiro momento, em maio e junho, com a crise dos caminhoneiros e seus impactos, no qual o caos e um pessimismo se instalou no Brasil. Agora, no momento que começamos a vivenciar em julho, registramos uma melhora do humor no campo econômico, embora já saibamos que o nosso PIB deve crescer apenas algo de 1%, e que a perspectiva do con-
sumo aparente do aço foi revista e deve ficar apenas em torno de 5%. Então, vamos ter, sim, crescimento da economia e do consumo de aço, mas muito aquém daquilo que nós esperávamos e do que o Brasil precisa. Uma trajetória perversa, aliás, que vem de muito tempo, não é mesmo? Pois é. Na verdade, o país completa o quinto ano de uma situação bastante delicada, para não dizer catastrófica. Nós enfrentamos no período 2014-2016 uma recessão das maiores que o Brasil já atravessou, e, em 2017 e 2018, um crescimento pífio. Quando você olha o movimento de queda do consumo aparente de aço de 2013 a 2018, ela já está na ordem de quase 30%. O melhor ano de vendas de aço no país foi em 2013, 20 anos após do outro pico semelhante, que aconteceu em 1993. Então, precisamos que o Brasil volte a crescer, e dentro desse crescimento, a indústria tem que voltar a ter prioridade.
Não podemos ser liberais num mundo protecionista. Precisamos agir em consonância com essa realidade. Sergio Leite de Andrade, CEO da Usiminas, futuro Presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil.
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Futuro O Brasil deveria seguir o exemplo do mundo inteiro e implantar salvaguardas, principalmente no sentido de reduzir ou até mesmo eliminar as assimetrias de competitividade que atrapalham a evolução do nosso mercado, que, como eu já disse, convive com uma situação delicada há cinco anos. Então, nosso posicionamento é bem claro no sentido de trabalhar para que a indústria volte a ser tratada como prioridade de governo. A indústria de transformação que, no final dos anos 1990, representava mais de 25% de participação no PIB brasileiro, hoje está apenas num patamar próximo a 10%. Então, é extremamente importante trazermos de volta essa prioridade, porque, além de fornecedora de bens de grande relevância para a sociedade, ela é forte geradora de empregos de qualidade. Nesse contexto, nós vamos trabalhar em ações de incremento das exportações e de preservação do mercado interno. Atualmente, a utilização de nossa capacidade instalada de produção está abaixo de 70%, quando o ideal seria estarmos num patamar acima de 85%. Então, esse é um ponto em que vamos trabalhar com intensidade.
E isso pode significar o quê? O levantamento de salvaguardas, como tem acontecido em vários países e regiões do planeta?
E a questão da compensação dos resíduos tributários, via Reintegra? Seguramente, esse será outro foco importante que vai merecer a nossa aten-
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Como será a sua gestão na Presidência do Conselho do Instituto Aço Brasil? Qual será a sua “pegada” pessoal no que tange à condução dos temas que hoje fazem parte da pauta da indústria siderúrgica nacional? No Instituto Aço Brasil temos um colegiado, que trabalha sempre de forma sintonizada, com um CEO, que é o Marco Polo de Mello Lopes, e um Conselho, que passarei a presidir, formado por 16 membros. Então, na minha gestão, procurarei dar continuidade ao trabalho que vem sendo realizado. No momento atual, com um cenário de excesso de capacidade instalada no mundo, de mais de meio bilhão de toneladas, convivendo com uma situação de protecionismo mundial, temos que ficar atentos a algumas questões primordiais. Veja bem, o mercado brasileiro do aço tem viés liberal, e nós somos a favor do liberalismo. Contudo, somos a favor, também, das relações de comércio equilibradas, isonômicas, portanto somos contra o protecionismo. Ou seja, não podemos ser liberais num mundo protecionista. Precisamos agir em consonância com essa realidade.
ção. Embora os técnicos do Ministério da Fazenda considerem o Reintegra um subsídio, ele é, na verdade, uma compensação dos resíduos tributários que precisa ser feita ao longo de toda a cadeia produtiva. O valor ideal seria o valor do Reintegra ser de 5% a 7% do valor das exportações, ou até mais 2% acima disso. Só que com a crise dos caminhoneiros, após a desastrada negociação, o Reintegra veio para 0,1%, ou seja, praticamente nada. Infelizmente, para 2018, isso está perdido. Essa, então, é outra bandeira que nós vamos trabalhar para que, no ano que vem, possamos trazer de volta o Reintegra para um patamar mais favorável à indústria. Independentemente de quem for o vitorioso nas eleições de outubro, vamos realizar um esforço de articulação, de aproximação e de negociação com o governo brasileiro. E, pelo que vem sendo manifestado nas campanhas, como você sente o grau de sensibilidade dos principais candidatos e o clima político para a aceitação dessas propostas? No governo atual, temos um apoio muito forte do Ministério da Indústria e do Comércio Exterior e Serviços, que sempre se posicionou ao lado da indústria e, muito particularmente, ao lado da indústria do aço, o que infelizmente não se observa no Ministério da Fazenda e em outros ministérios. O MDIC nos apoiou em episódios que foram marcantes, como a questão do antidumping que nós abrimos contra a Rússia e a China. O relatório foi aprovado e foi um trabalho muito bem feito, só que a aplicação das sobretaxas foi suspensa. Então, não temos muito mais a esperar do atual governo. Claro, convivemos com uma incerteza de como tudo isso será conduzido a partir de 1º de janeiro de 2019, mas a nossa expectativa no Instituto Aço Brasil é de que o próximo governo priorize a indústria, priorize o crescimento econômico, e seja sensível ao posicionar nosso país dentro do viés que hoje impera no mundo. Ou seja, vocês procurarão dar ainda mais atenção a questão das já citadas assimetrias competitivas.
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PANATLÂNTICA/AFILIADAS RUMO A NOVOS DESAFIOS MENSAGEM ÀS EMPRESAS DO SETOR
Cumprimentos ao pessoal dos centros de serviços independentes de aços planos de todo o país e votos para que neste 2° semestre do ano de 2018 os objetivos e as performances comerciais sejam positivos e façam parte de um novo sopro de esperança no contexto da recuperação econômica do país! Que os bons fluidos do povo brasileiro, e em especial de sua juventude, iluminem e impulsionem a economia da nação brasileira, e tragam a todos novas realizações, novos desafios e novas etapas para o parque industrial do país - em especial para nossa heróica siderurgia brasileira de aços planos! Oxála se descortine condições de retornar os investimentos produtivos dos centros de serviços de aços planos e se deslumbre uma nova e positiva etapa na vida econômica das empresas do setor.
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Esse será, também, um foco importante do nosso trabalho, no qual vamos nos concentrar fortemente. Hoje, o Brasil é um país que exporta imposto e, ao competir com outros países, como, por exemplo, a China – que não é uma economia de mercado e não remunera adequadamente a sua mão de obra e nem o capital –, enfrenta, de maneira acachapante, essas assimetrias na concorrência pelo mercado internacional. Já vimos trabalhando nisso ao longo dos últimos anos, mas esse é um ponto que precisa ser enfatizado com muito mais força. Com relação a isso, o tema da defesa comercial continuará a ser prioritário, principalmente no sentido de enfatizar uma distinção clara entre questões técnicas e políticas? Sem dúvida. Defesa comercial engloba temas essencialmente técnicos, regidos pela Organização Mundial do Comércio, e não temas políticos. E, ao contrário disso, no Brasil as questões de defesa comercial foram politizadas nas decisões da CAMEX. Além disso, vamos trabalhar também fortemente pela retomada dos investimentos na economia, e aí eu destaco a construção civil, a infraestrutura – que vive, atualmente, um momento de caos – e o setor automotivo, que, felizmente, está se recuperando e deve apresentar crescimento de 12% em 2018. Num mundo cada vez mais globalizado, como vocês pretendem dar continuidade às tratativas relacionadas ao protecionismo crescente? A questão dos Estados Unidos parece ter sido equacionada a contento, mas podem vir outras “pauladas” por aí, como, já vem sendo o caso dos outros países que já levantaram salvaguardas contra as exportações, não é? Vamos procurar manter abertos os canais de diálogo e de negociação com todos os países, como fizemos há pouco com os Estados Unidos. Sim, com a ajuda do nosso Ministério das Relações Exteriores, conseguimos evitar a taxação do aço brasileiro que vai para lá, mas ficamos limitados a cotas, o que não é o
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ideal e reduziu a nossa exportação. Foi o melhor que nós conseguimos, mas vamos continuar nessa discussão, tentando trazer o mundo para o liberalismo econômico. Contudo, temos que convir que o momento hoje é de protecionismo. E como vocês pretendem estimular o “by Brasil”? Bem, se o“by America”é um sucesso, temos que estimular e focar também o “by Brasil”. Nesse sentido, já temos um movimento que é o “Produz Brasil”, que integra uma coalizão de diversas entidades, como as federações da indústria de São Paulo, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro, além de entidades como a ABITAM, ABIMAQ e ABINE, que vem trabalhando conosco, no sentido de priorizar a produção no Brasil e evidentemente o consumo, por meio da valorização do produto nacional. Vamos intensificar esse trabalho também, incluindo nele a defesa do conteúdo local. Nesse âmbito, como vocês pretendem tratar os reveses que a siderurgia nacional vem sofrendo, por exemplo, com o setor de Óleo & Gás? No Brasil, o setor de Óleo & Gás tinha um posicionamento bem claro e favorável com relação a conteúdo local. O problema é que ele foi reduzido, e mais do que isso, querem estender essa redução a contratos antigos, o que não tem sentido, até porque isso gera uma ins-
tabilidade jurídica. Então, estamos trabalhando e continuaremos trabalhando fortemente nesse campo. Precisamos ter um patamar mais sustentável nesse sentido, porque se olharmos a história das grandes economias, os países produtores de petróleo, vamos observar que os países com política de conteúdo local – e aí eu destaco Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Noruega –, têm um posicionamento de IDH, de PIB per capita excelente, ao passo que os países produtores de petróleo que não tem uma política de conteúdo local, como a Venezuela, sofrem com esses índices e vivenciam problemas bastante graves. Tudo isso, com certeza, fará parte das discussões e debates do Congresso Aço Brasil 2018, que vocês vão realizar agora, no final do mês de agosto. Quais são as suas expectativas em relação a esse evento? São as melhores possíveis. Teremos um dia e meio de trabalhos intensos, com a realização de diversos painéis nos quais vamos abordar temas de interesse do Brasil e, particularmente, temas de interesse da indústria do aço. Nossa expectativa é de ter, como sempre tivemos, uma presença marcante em termos de público. Trata-se de mais uma oportunidade que teremos para discutir os rumos da indústria nacional. Então, nossa expectativa em relação à realização do Congresso é muito positiva.
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O mercado de siderurgia passa por uma boa fase no mundo. Mas os altos riscos permanecem. Marcus Frediani
os empregos americanos como promessas de campanha eleitoral do Presidente Donald Trump. Um rearranjo de prioridades em mercados importantes em todo o mundo, como a China e a zona do euro, também poderia dificultar esse momento. As forças especulativas promoveram a volatilidade, principalmente no mercado de zinco. Embora todos esses fatores sejam válidos, algumas diferenças-chave são dignas de nota e a perspectiva não é homogênea para todos os metais. O modelo de precificação estatística da Coface prevê que os preços dos principais metais básicos (alumínio, cobre, níquel e zinco) de uma perspectiva econômica global aumentem gradualmente no final de ainda positiva, parece que já estamos 2019. O alumínio deve crescer apenas além do pico do crescimento global, o 2% entre dezembro de 2017 e dezembro que teoricamente deveria exercer uma de 2019. O cobre deve seguir a mesma pressão negativa sobre os preços no mé- tendência, crescendo 2,4% no mesmo dio e longo prazos. período. Os preços do níquel e do zinco provavelmente aumentarão 18% e 14%, Protecionismo e tensões respectivamente. Em contrapartida, os E não é só isso. Outros fatores que preços do aço provavelmente diminuijá estão impactando e, provavelmen- rão em 19% entre dezembro de 2017 e te, deverão impactar ainda dezembro de 2019. Segunmais o setor siderúrgico indo os analistas da seguracluem o nível ainda elevado dora, os sinais são de que de tensão geopolítica e um o excesso de capacidade se ambiente cada vez mais fortaleça à medida que as protecionista ao redor do condições econômicas se planeta. Itens de siderurtornarem menos favoráveis. gia, sendo um componente Além disso, como as sideimportante para a indústria rúrgicas chinesas não têm manufatureira, são frequendisciplina na produção dutemente alvo de medidas rante períodos de queda de protecionistas. Exemplo Khalid Aït Yahia, preços, um efeito de “bola claro foi a decisão de março economista setorial da de neve” – com as produde 2018 dos Estados Unidos Coface, baseado em Paris: toras de aço continuando a de impor taxas sobre todos “O mercado siderúrgico produção mesmo se a deos produtos importados está experimentando manda estagnar para atingir de aço (25%) e alumínio tendências divergentes um mínimo de utilização de (10%), a fim para proteger em 2018.” capacidade e ganhar parFoto: Divulgação
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Na cola da recuperação altamente sincronizada das principais economias mundiais, o mercado mundial de produtos siderúrgicos vem surfando uma boa onda desde meados de 2016. A robusta retomada dos negócios nesses países provocou um aumento global do uso de metais e ajudou os setores de mineração e fundição a se recuperarem após o fim do superciclo de commodities no final dos anos 2000. Aliás, tal aumento na demanda não era observado desde o período posterior à crise econômica e financeira de 2008-2010. Como não poderia deixar de ser, tal cenário, agravado pelo enfraquecimento do dólar, traduziu-se em aumento dos preços dos metais, desenhando um quadro que perdura até hoje. De lá para cá, os preços do alumínio, por exemplo, registraram alta de 37%, enquanto que os do cobalto quadruplicaram, e os do cobre e do níquel aumentaram, respectivamente 44% e 53%. Já os preços do zinco dobraram, em comparação com aqueles praticados mundialmente no início de 2016. Mas, apesar do fato de o crescimento e a lucratividade terem retornado à maioria dos segmentos em termos globais, a indústria siderúrgica continua encarnando um dos maiores riscos na avaliação setorial da Coface – seguradora de crédito francesa e líder no mercado brasileiro –, com uma avaliação de crédito de “alto risco”. Assim, na contramão desse ambiente de aumento de preços e demanda crescente – que, como já foi dito, provocou a reabertura de algumas minas, o que poderia reduzir os déficits de oferta global de alumínio, cobre e zinco –, os analistas da Coface, no entanto, esperam que as tendências do setor sejam“misturadas”daqui para frente. Por quê? Bem, levando em conta a crescente demanda por metal no contexto
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Aço no mundo ticipação de mercado – provavelmente impactará os preços. Esse fenômeno foi observado entre 2013 e 2015, e resultou em altas exportações de produtos siderúrgicos, o que deprimiu ainda mais os preços.
“Com a atual guerra comercial, as empre- visão do segundo trimestre de 2018. No sas estão experimentando cada vez mais entanto, as empresas norte-americanas incertezas, o que reduz sua confiança nos nos setores automotivo, de manufatura e negócios, como mostram os de construção estão sofreníndices relacionados em todo com o aumento dos predas as regiões. Esperamos ços das matérias-primas, o que a oferta de aço cresça, que afetará sua margem de assim como a demanda, em lucro”, explica, por sua vez, um contexto de incapacidaPatrícia Krause, economista de das siderúrgicas chinesas da Coface América Latina, de ter sua produção compabaseada em São Paulo. tível com a demanda global. Por outro lado, PatríIsto irá exercer pressão descia destaca que, até agora, cendente sobre os preços do as autoridades chinesas aço em 2019”, observa ainda anunciaram medidas de Patrícia Krause, Khalid. retaliação para os setores economista da Coface agroalimentares americaAmérica Latina, baseada Isolamento dos EUA nos, visando principalmente em São Paulo: “As Contudo, as implicações aos produtores de grãos e siderúrgicas americanas do protecionismo crescente carne. “mas outras medidas estão gerando mais lucro dos Estados Unidos e das de retaliação provavelmente com suas atividades medidas de retaliação da serão anunciadas. As autoridomésticas.” China sobre esse processo dades europeias, mexicanas vão além. Na opinião dos analistas da e canadenses também implementaram Coface, esse contexto de protecionismo contramedidas, concentrando-se em dos Estados Unidos e medidas protecio- certas exportações dos Estados Unidos, nistas recíprocas entre as duas superpo- como grãos, aço e alumínio. Nesse contências contribuirá para isolar o mercado texto, o abastecimento será mais desainterno dos Estados Unidos dos concor- fiador para as empresas dos Estados rentes estrangeiros. Como consequência, Unidos, afetando a lucratividade e o os preços estão se fortalecendo agora, e gerenciamento da produção”, projeta a isso deve continuar. executiva. “As siderúrgicas americanas estão gerando mais lucro com suas atividaAlto risco des domésticas. Isso nos levou a atuaVoltando à questão do risco, vale reslizar nossa avaliação do setor de metais saltar que, embora todo arcabouço posidos Estados Unidos de ‘Alto Risco’ para tivo descrito no início desta reportagem ‘Médio Risco’ durante nossa última re- a coisa não anda muito animadora para Foto: Divulgação
Tendências divergentes Assim, nesse cenário, infelizmente, o aço será o único metal a apresentar queda. O excesso de capacidade deverá aumentar, devido à falta de disciplina na capacidade de produção das siderúrgicas chinesas durante períodos de preços fracos. Este cenário básico de queda de preços em metais ferrosos é principalmente baseado nos altos níveis de endividamento das empresas. As taxas de financiamento líquidas são particularmente altas na China, onde o setor é dominado por grandes empresas do governo, bem como nos Estados Unidos (15%), onde as companhias estão muito mais expostas a potenciais correções nos fluxos de caixa. “O mercado siderúrgico está experimentando tendências divergentes em 2018. Os preços do aço vêm caindo na China desde o início do ano (-7%), enquanto na Europa registraram um aumento relativamente bom (+4%) e os preços do americano dispararam (+30%). Acreditamos que isso ajudará as siderúrgicas americanas a aumentar suas margens de lucro, já que seu mercado interno parece um pouco isolado do resto do mundo”, pontua Khalid Aït Yahia, economista setorial da Coface, baseado em Paris. Ainda segundo ele, do ponto de vista europeu, a ascensão também é boa. No entanto, o mero fato de os Estados Unidos protegerem o seu mercado interno de produtos siderúrgicos importados, existe o risco destes serem desviados para mercados europeus, como observado pela associação Eurofer, caso a Comissão Europeia não fique atenta. Por sua vez, os preços chineses estão caindo devido ao crescimento econômico menos dinâmico do país. Observamos que, cada vez que os preços mostram fragilidades, as siderúrgicas chinesas tentam exportar seus excedentes, principalmente para os países vizinhos no sul da Ásia.
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Aço no mundo a siderurgia. No handbook “Country & Sector Risk 2018” – estudo econômico desenvolvido publicado recentemente pela Coface, abordando temas como “Risco País”, tendências macroeconômicas mundiais e as perspectivas políticas para cada uma das 160 nações nas quais a pesquisa é feita – o setor aparece como detentor de“Alto Risco Setorial”em praticamente todas as regiões do planeta, a exceção da Europa Central, onde o risco é “Médio”. Assim, seria legítimo pensar que o provável agravamento dos problemas atuais – notadamente a guerra comercial e o excesso de produção – poderá mergulhar o setor num poço ainda mais profundo nos próximos anos? E qual seria o melhor cenário para evitar que isso acontecesse? “Nesse ponto, o melhor cenário possível para a indústria siderúrgica seria continuar o crescimento econômico global, acompanhado por uma drástica redução do excesso de capacidade chinesa. Embora nosso cenário atual indique que o crescimento em 2018 continuará sólido, consideramos que superamos o pico do crescimento global. Os riscos estão crescendo e afetarão definitivamente a indústria siderúrgica”, destaca Khalid Aït Yahia, enfatizando também o que já foi citado no início desta reportagem. Um adendo importante feito ainda pelo economista setorial Coface, é o fato de que as autoridades chinesas tentaram reduzir o excesso de capacidade do aço – uma tarefa difícil –, cujos esforços veremos se darão frutos nos próximos meses.
“De acordo com os dados disponíveis que descrevem a situação de excesso de capacidade do aço na China, parece que as autoridades do país começaram a atacar esse problema. Se forem bem-sucedidos, isso levará a um ambiente econômico menos dinâmico”, acredita Khalid. Esperanças e possibilidades Vale destacar que no “Country & Sector Risk 2018” da Coface há também uma notícia bastante alvissareira, particularmente para nós, latinos. O estudo deste ano mostra que depois de dois anos de recessão, economicamente falando a América Latina voltou a crescer em 2017. De acordo com Patrícia Krause, no ano passado houve uma alta de 1,1%, e a estimativa é de +2,4% em 2018.“Esse crescimento deve ser liderado por Chile e Brasil. A estimativa da Argentina foi revisada para baixo por conta da seca e dos recentes acontecimentos”, explica a economista. Segundo Patricia, as moedas começam a reportar maior volatilidade e, por ora, ainda há espaço para política monetária expansionista na região, com exceção da Argentina e do México. A economista salienta que o longo calendário eleitoral em 2018 e cenário de maior protecionismo global são riscos a serem monitorados.“No Brasil o cenário ainda é muito incerto, difícil de prever qualquer movimentação política mais assertiva”, afirma a executiva da Coface, destacando, ainda, que as taxas de juros na região da América Latina ainda estão em níveis historicamente baixos.“Se
o prêmio de risco subir abruptamente, bancos centrais ficariam sob pressão para aumentar as taxas”, explica Patricia. No caso do Chile, a expectativa da Coface é de uma forte aceleração do crescimento econômico em 2018. Em 2017 o PIB registrou um crescimento de 1,5%, enquanto para 2018 a estimativa é de uma alta de 3,4%. Tal movimento pode ser atribuído à melhora recente dos indicadores de confiança da economia (depois de quatro anos em patamares pessimistas) e fundamentos de renda positivos (inflação em baixo patamar 2,2% e taxa de juros em 2,5%). “A recuperação dos indicadores de confiança, por sua vez, tem relação com a alta dos preços internacionais do cobre (+14% em junho de 2018 comparado com igual mês de 2017 ou +34% contra o valor de janeiro 2016) e por uma mudança de governo chileno, que deve adotar uma agenda mais pró-mercado”, pontua Patrícia Krause. Dados de atividade até o momento corroboram essa visão: a economia cresceu 4,2% no primeiro trimestre de 2018 por lá, no comparativo com o mesmo trimestre de 2017. Para o Brasil, entretanto, o passo da carruagem deverá ser outro, o que motivou até uma revisão da projeção de crescimento do país registrada originalmente no“Country & Sector Risk 2018”. “Atualmente, esperamos uma alta de 1,8% do PIB em 2018, porém com risco de ser ainda menor. A visão relativamente mais pessimista leva em conta o fraco desempenho da economia no primeiro trimestre de 2018 – o PIB cresceu apenas 1,2% em relação ao mesmo período de 2017 –, bem como a greve dos caminhoneiros no final de maio. Algumas das perdas ocorridas no período tendem a ser transitórias, principalmente na indústria, onde ainda há capacidade ociosa. Já outras – como perdas no setor de pecuária e serviços – podem não ser revertidas. Fora isso, temos também um impacto sobre indicadores de confiança. Por fim, apesar de todos os fatores mencionados anteriormente, o crescimento da atividade econômica deve ser maior do que o reportado no último ano de 1%”, finaliza a economista da Coface.
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Estados Unidos X resto do mundo: a guerra do comércio chegou Análise extraída do “Country and Sector Risks Barometer” da Coface (junho 2018)
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Os primeiros sinais da potencial guerra comercial global que surgiu no início deste ano foram confirmados no segundo trimestre de 2018: definitivamente, ela está aqui. Iniciativas da administração dos Estados Unidos nesta área assumiram diversas formas. Em primeiro lugar, dizem respeito às relações comerciais com a China: embora as crescentes tensões sino-americanas no início do ano tenham diminuído temporariamente graças a uma declaração conjunta em maio, elas foram reacendidas em junho, quando os Estados Unidos anunciaram uma série de medidas protecionistas contra aquele país asiático, que posteriormente anunciou suas próprias medidas de retaliação. Isto não é surpresa, uma vez que os detalhes do acordo que deveria fluir da declaração conjunta das duas nações permanecem vagos até agora. Além disso, essa declaração de intenções sugere que as autoridades chinesas só atenderiam a uma seleção dos desejos expressos pela Casa Branca nos últimos meses, com o objetivo de reduzir o déficit comercial entre os Estados Unidos e a China para cerca de US$ 200 bilhões até 2020, um grande corte, comparado aos cerca de US$ 350 bilhões registrados em 2017. Na declaração de intenção acima mencionada, a Chi-
na prometeu comprar mais “da América”, mas sem avançar nenhum número. Esse déficit comercial crônico, devido à baixa taxa de poupança, não pode, portanto, ser revertido da noite para o dia. Assumindo a mesma taxa de crescimento das importações que em 2017, a China teria que reduzir suas exportações para os Estados Unidos em 13% ao ano em média por dois anos para reduzir seu excedente com os Estados Unidos para os tais US$ 200 bilhões. Dessa forma, a queda acentuada nas exportações chinesas para os Estados Unidos prejudicaria os consumidores norte-americanos. A política protecionista dos Estados Unidos também se intensificou no segundo trimestre com relação às importações de aço e alumínio. Após o anúncio em março de tarifas de 25% sobre o primeiro e de 10% sobre o segundo, a administração dos Estados Unidos havia isentado temporariamente vários países, incluindo Estados que mantêm acordos
com a União Europeia, como México e Canadá. Estas isenções foram finalmente levantadas e as medidas entraram em vigor no dia 1º de junho. Os produtores canadenses de aço e alumínio serão mais afetados que seus equivalentes mexicanos e da UE. A administração dos EUA parece agora inclinada a decidir sobre medidas protecionistas no setor automotivo. Embora sua escala permaneça muito incerta neste estágio, eles provavelmente afetariam pelo menos o setor automotivo alemão e, em particular, as marcas “premium”, muitas vezes apontadas pelo presidente Donald Trump. A administração dos Estados Unidos também considera que o déficit comercial de seu país vis-à-vis a Alemanha é muito grande (US$ 55 bilhões em 2017). De acordo com o que parece ser a estratégia “tentada” do presidente Trump, essa ameaça ao setor automotivo alemão poderia ser uma forma de obter concessões comerciais (os direitos alfandegários de importação de carros para a União Europeia dos Estados Unidos são de 10%, contra apenas 2,5%) na direção oposta). O setor automotivo alemão é muito importante para a economia do país: representa cerca de 20% do faturamento do setor manufatureiro da Alemanha e empregou diretamente cerca de 480.000 pessoas em 2017.
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Aço no mundo
O quebra-cabeça chinês Análise extraída do “Panorama Coface Economic Publications (junho 2018)
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Em mais uma tentativa para intensificar seus esforços de anos e anos para reduzir as preocupações com excesso de capacidade em seu setor de aço inchado e fortemente dominado pelo Estado, o Ministério da Indústria e Informação da China anunciou medidas para reduzir sua capacidade de produção da liga. O plano original pedia a redução de 150 milhões de toneladas de capacidade de produção de aço até 2020, mas a China poderia cumprir sua meta de reduzir a capacidade de produção de aço dois anos antes do previsto: de acordo com os anúncios oficiais, a China eliminou de sua produção 115 milhões de toneladas de aço entre 2016 e 2017, e reduziu a produção de mais 140 milhões de toneladas de fornos de indução que usam sucata metálica para fazer aço. O governo também implementou medidas para reduzir a fundição ilegal e anunciou cortes sazonais na produção para aliviar os problemas de poluição nos principais centros populacionais da China nas partes norte do país (Pequim, Tianjin) e leste (Xangai). Isso se traduz em uma dinâmica de oferta e demanda mais favorável. Dada a participação da China na produção mundial de aço (quase 50%), quaisquer desenvolvimentos no país têm
grandes implicações para os preços globais do aço. Por exemplo, um forte aumento das exportações chinesas de aço em 2016 contribuiu para um colapso no preço do aço, reduzindo as receitas dos líderes mundiais de mercado, incluindo a ArcelorMittal na Índia, a Posco na Coreia do Sul, a japonesa Nippon Steel e Sumitomo Metal Corporation (NSSMC) e US Steel. Isso provocou grandes perdas de emprego e levantou questões sobre o futuro da indústria. No entanto, essa situação se inverteu em 2017. As reformas do lado da oferta na China levaram a um aumento dos preços, que por sua vez levou à inflação nos preços ao produtor, como mostra a notável recuperação do Índice de Preços ao Produtor (PPI) da China em 2017. Preços industriais mais altos ajudaram a impulsionar os ganhos, melhorando assim a lucratividade dos players de aço na China e além. E é provável que esse movimento comece a se reverter em 2018. A China enfrentará mais pressão para lidar com o excesso de ca-
pacidade, uma vez que os preços fortes reduziram a disposição das siderúrgicas em cortar capacidade, conforme apontado pelo Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação daquele país. Apesar dos controles mais rigorosos e restrições de capacidade, a China produziu um volume recorde de aço em 2017: 832 milhões de toneladas. Isso porque tentar controlar a capacidade de aço na China é como jogar um jogo daqueles em que o jogador tem que acertar a cabeça de várias toupeiras na sequência, para fazê-las voltar ao buraco. O aumento dos preços do aço ajudou a elevar os lucros da China em sete vezes em 2017 em relação ao ano anterior, para 177,3 bilhões de yuans (aproximadamente US$ 27,74 bilhões), enquanto a receita de vendas aumentou 34,1% em relação ao ano anterior, para 3,69 trilhões de yuans (US$ 580 bilhões), de acordo com um comunicado do Ministério da Indústria. Preços mais altos e melhor lucratividade têm incentivado os produtores de aço a impulsionar as produções, a fim de colher os benefícios do impacto de curto prazo da limpeza da capacidade siderúrgica da China. Este é, nomeadamen-
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te, o caso dos produtores fora das áreas afetadas pelos cortes sazonais do controle da poluição. Observamos uma queda significativa na produção entre setembro de 2017 e abril de 2018 em áreas industriais vizinhas a cidades onde os cortes de poluição estavam presentes. Por exemplo, a produção caiu -60%, -33% e -20%, respectivamente, em Tianjin, Henan e Hebei, que são potências industriais em torno de Pequim. A produção caiu -32% em Zhejiang, vizinha de Xangai. Enquanto isso, a produção de aço foi autorizada a aumentar em áreas que estavam isentas dos controles de poluição do inverno (Fujian 11%, Hunan 12% e Yunnan 17%), ou em províncias onde o setor siderúrgico representa
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uma proporção muito importante do PIB e emprego (Heilongjiang 24% e Jilin 52%). Para piorar a situação, os produtores começaram a aumentar a produção em março de 2018, quando os controles de poluição do inverno começaram a diminuir, significando que mais capacidade atingiria a rede, aumentando as pressões descendentes sobre os preços do aço no mundo. A China começou a realizar verificações no primeiro semestre de 2018 em fornos de indução fechados e fornos ilegais para evitar que voltassem a produzir. Também é possível que as autoridades considerem proibir a adição de novas capacidades, quaisquer que sejam estas. Em abril de 2018, a China emitiu regras mais rigorosas
para a construção de novas unidades de produção de aço para substituir instalações obsoletas, enquanto Tangshan – a capital do aço da China – anunciou que estenderia as restrições de poluição no inverno para melhorar o meio ambiente. Os últimos movimentos ressaltam a determinação das autoridades em conter o excesso de capacidade em seu setor de aço maciço e inchado. No entanto, dadas as mudanças estruturais e geográficas na produção que foram observadas durante os últimos meses, é improvável que elas sejam bem-sucedidas, a menos que um declínio gradual e estável dos preços do aço seja projetado.
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Tecnologia
A inovação necessária para a indústria crescer Os pilares necessários para a indústria voltar a crescer são: capacitação da mão de obra, desenvolvimento de novas tecnologias e revisão da carga tributária incidente. Moises Bagagi*
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A indústria nacional tem sofrido muito nas últimas duas décadas, tendo um resultado muito claro de desaceleração. Pode-se dizer que a evolução vista entre os anos de 1950 a 1980 não se repetiu a partir dos anos 1990. Muitos analistas econômicos atribuem isso a abertura comercial, uma vez que a indústria nacional estava defasada em relação às industriais europeias, japonesas e norte americana. Contudo, já estamos caminhando para completar 30 anos que isso ocorreu, e até o momento, lê-se através dos dados que a indústria nacional pouco evoluiu. Fato é que o Brasil tem vários problemas a serem resolvidos, como a baixa produtividade, falta de investimentos, alta carga tributária e a defasagem tecnológica quando comparado com os Estados Unidos, Europa, Japão, China e Coréia do Sul. Os caminhos para que a indústria brasileira volte a crescer e seja relevante são vários, mas a questão primordial que se deve responder é se a indústria tem chances reais de se recuperar. Com retrações mensais, ano a ano a indústria brasileira se destaca negativamente na composição das riquezas do país, medido pelo PIB. Isso demonstra que o cenário
de desindustrialização está de fato se consolidando. Por isso, é necessário priorizar algumas ações para que seja possível reverter essa situação. Os pilares são: capacitação da mão de obra, desenvolvimento de novas tecnologias e revisão da carga tributária incidente. O resultado esperado destas ações é a retomada do crescimento industrial e a relevância que o setor voltará a ter na composição das riquezas nacionais. Ao tomar estes três pilares (capacitação, tecnologia e tributação) como bases para a retomada do crescimento, é preciso estabelecer objetivos claros. A capacitação deve estar focada na melhoria da produtividade, uma vez que trabalhadores com maior preparo têm condições de tornar as linhas de produção mais eficazes. A tecnologia necessita de atuação forte em duas frentes, como o investimento em pesquisa e desenvolvimento (onde o produto se destaca) e na renovação do parque industrial (onde a complexidade produtiva se destaca), uma vez que com isso, os produtos oferecidos terão maior valor agrega-
do. E por fim, a revisão tributária deve ter foco na competitividade, sendo um canal para garantir custos menores e incentivos ao desenvolvimento, tanto do mercado interno quanto do mercado externo. Como faremos isso? Sim, porque é necessário fazer. Fazer com rapidez, foco e consciência da importância dos resultados esperados. O primeiro passo é a busca por investimentos. O risco de investir na indústria é alto, tanto quanto o de se investir no mercado financeiro. Por isso, a indústria – através dos seus atores – precisa demonstrar que o retorno do investimento produtivo compensa os riscos, e a médio e longo prazo contribuem para uma sociedade mais evoluída, geradora de riquezas e de alta competitividade. Tanto o capital nacional quanto o capital internacional precisam ter garantias de retorno, segurança jurídica e mercadológica, além de expectativa real de retorno. E isso, é trabalho para os gestores industriais e suas representações. O segundo passo é a melhoria das políticas de financiamentos. Deve-se começar por ações governamentais de incentivo a produção. Se medidas focadas Depositphotos.com
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gico, geração de emprego, distribuição de renda e arrecadação para o governo. Colaboração, foco e resultados claros são fundamentais. A indústria tem chance e sim, pode voltar a crescer. ivulgaçã
de distribuições de favores para aplacar a miséria) e assim, fomentar o consumo. Com maior consumo, aumenta-se o faturamento da indústria, sua relevância, a contratação de mão de obra e tem-se a criação de um ciclo virtuoso de crescimento. Já os players industriais tem sua participação também, com aplicação de investimentos em melhoria do parque industrial, busca por desenvolvimento de tecnologia, melhoria de produtos (foco na produção de bens de alto valor agregado), aumento da produtividade e expansão além das fronteiras nacionais. É necessário, portanto, que todas as partes direcionem seus esforços para o mesmo objetivo: contribuir para a retomada do crescimento industrial e da relevância econômica que o setor merece, tanto internamente quanto para os mercados externos. Uma indústria forte, que atrai investimentos e com baixo custo de financiamento pode gerar muita riqueza, trazendo desenvolvimento tecnoló-
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na flexibilização da legislação tributária, trabalhista e regulatório setorial forem adotadas, os atores industriais passam a ter condições de abrirem novas fontes de financiamentos. Subsídios podem ser considerados, mas apenas para alavancar algumas ações no curto prazo. Além disso, o setor financeiro deve ser acionado para que reavalie suas politicas de juros, prazos e garantias. Associar-se à indústria é uma forma de diversificar seus investimentos e mitigar os riscos das suas operações. Por fim, os investidores institucionais (como fundos de pensões e previdência) podem participar ajudando a fomentar o crescimento com aportes de financiamentos, como sócios dos negócios industriais com retornos com baixo risco a médio e longo prazo. O terceiro passo é o fortalecimento da indústria diante dos seus mercados. No mercado interno, o governo tem atuação fundamental, buscando criar mecanismos de emprego e renda (não apenas
*Moises Bagagi – Economista (Mackenzie) com MBA em Finanças (FIA/USP) e mestrando em Economia e Mercados (Mackenzie). Professor de economia, finanças e controladoria (FIA/USP e UNIESP) e consultor com atuação em grandes empresas nacionais e internacionais.
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O novo governo deverá ser reformista. Se ele não possuir um plano bem coordenado para resolver imediatamente questões cruciais e impor sua autoridade continuaremos a caminhar sem rumos. Sem um choque de gestão imediato em vários setores da vida nacional fica impossível resolver o Brasil! Henrique Pátria
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“Estamos diante de uma grande encruzilhada. O Brasil precisa urgentemente crescer e para isto a necessidade de mudanças é a “pedra de toque” do novo governo. A imediata solução de nosso déficit público que necessariamente passa pelo enxugamento da máquina pública, a definição de políticas de geração de novos empregos e principalmente a negociação imediata das várias reformas que todos sabemos quais são, darão ao novo governo a sustentação necessária para que ele imponha seu ritmo, mostre a sua força e o Brasil volte definitivamente para os trilhos”. Esta opinião é do Prof. Ricardo Balistiero, mestre em Economia, especialista em Economia Brasileira e coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, que por sua vez é um centro de excelência de ensino no país. Ele gentilmente abriu espaço em
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sua agenda, para receber a reportagem da revista Siderurgia Brasil num momento conturbado da vida nacional, pois estamos às vésperas de grandes mudanças no executivo e legislativo brasileiros. O Brasil tem um imenso potencial, mas tem também uma gigantesca necessidade de começar quase tudo de novo. Os ajustes a serem promovidos nas diversas áreas de nossas vidas mostram a nossa vulnerabilidade diante de um mundo que se torna cada vez mais competitivo e exigente. Siderurgia Brasil: Estamos prestes a enfrentar a verdade das urnas e vivendo uma situação muito diferente das demais eleições, pois não há até o momento uma definição pouco mais clara de qual corrente assume a presidência do Brasil a partir das eleições. Como o senhor vê este quadro e quais as suas perspectivas?
Ricardo Balistiero: Em minha opinião há muitos paralelos entre a eleição de 2018 e a eleição de 1989, somente com duas grandes diferenças. Naquele ano o cenário macro era muito pior do que o de hoje, pois vínhamos de uma hiperinflação e estávamos saindo de uma moratória. Hoje neste aspecto o quadro está melhor, com as condições macro mais favoráveis, já que a inflação está sob controle, os juros dentro das taxas possíveis para nossos cenários e o câmbio razoavelmente equilibrado. Mas por outro lado temos uma gigantesca massa de desempregados, um déficit público insustentável e as reformas absolutamente necessárias que enfrentam resistências e são de difícil negociação. A segunda grande diferença é que em 1989 a eleição era somente para o Presidente da República, uma vez que o Congresso já estava constituído e não haveria mudanças, pelo menos no primeiro ano do novo governo.
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Economia
A eleição múltipla deve facilitar ao novo governo uma rápida composição, com as forças que irão dominar o congresso nacional o que deve tornar mais “fácil” a implementação das reformas necessárias. Prof. Ricardo Balistiero, mestre em Economia
Enquanto hoje, teremos eleições gerais para renovação de 2/3 do Senado e para a totalidade da Câmara Federal. Com isso haverá a recomposição do cenário político, que deve mudar de forma muito pontual, já que a imensa maioria dos atuais deputados e senadores são candidatos à reeleição, além dos antigos caciques que tentam a sua volta ao cenário, e ainda temos historicamente a continuidade de mandados com a eleição dos herdeiros dos antigos políticos, (filhos, agregados, netos etc.). Em suma, eu não acredito que esta renovação no legislativo deve passar de 10%. Isso é muito ruim para a forma de fazer política no Brasil e a prova disto é que aos olhos da sociedade civil os parlamentares brasileiros têm os menores índices de aprovação possíveis e um grau de confiabilidade quase inexistente. No entanto, a eleição múltipla deve facilitar ao novo governo uma rápida composição, com as forças que irão dominar o congresso nacional o que deve tornar mais “fácil” a implementação das reformas necessárias. Além disso, ele terá a força dos votos conquistados nas urnas, que lhe dará principalmente no primeiro ano de mandato, a sustentação necessária para implementar suas ideias. Para a presidência da república precisamos de alguém com espírito reformista.
Então o senhor entende que as reformas tão decantadas neste governo, mas que pouco evoluíram, devem ser as prioridades do próximo governo. E como ele conseguirá “driblar” as forças políticas contrárias a tais reformas? Sim, sem dúvida eu entendo que as reformas são absolutamente necessárias, pois sem elas o Brasil literalmente quebra. Aliás, se o Brasil fosse uma empresa privada já estaria quebrada com o enorme déficit público que carrega de mais de 500 bilhões de reais. Vínhamos bem até 2013, mas o governo da Dilma a partir de 2014 perdeu a mão deste controle e hoje não temos nenhum espaço de manobra para nenhum tipo de investimento. Esta correção é difícil e dolorida, mas tem de ser buscada imediatamente. Mas, voltando às reformas. Eu vejo necessária uma reforma total do Estado brasileiro a começar pela reforma da previdência. E a reforma da previdência tem pelo menos dois motivos fundamentais para ser implementada imediatamente. O primeiro é que com a reforma da previdência, ele estará mostrando coragem, competência e força política, virtudes que o governo anterior (que é este que vivemos hoje) não teve condições de utilizar. A mesma força política que a presidente Dilma teve com folga em seu primeiro
mandato, mas não teve a competência para enfrentar e resolver um dos maiores problemas do Brasil que é questão da previdência O presidente Temer também no início de seu mandato, desfrutou de alguns lampejos de força política, que perdeu-se após as primeiras denúncias de corrupção. Tanto é verdade que conseguiu aprovar algumas medidas importantes como a Lei do Teto dos Gastos, o Congelamento das nomeações de políticos para as empresas estatais, a Reforma Trabalhista, que mesmo sendo muito aquém do necessário já serviu para mostrar um espaço para outras medidas. Mas o Brasil é cheio de incongruências e com uma simples canetada de um Ministro do Supremo, “na calada da noite, ou na calada do ano”, no último ato na passagem de 2017 para 2018, definiu o reajuste do funcionalismo público que está custando aos cofres públicos algo como 68 bilhões de reais até o fim de 2019. Esta reforma da previdência a que nos referimos já havia sido “costurada” no governo Fernando Henrique e por um erro na votação, quando um aliado votou “não” quando deveria votar “sim”, determinou o seu arquivamento. O segundo ponto que eu vejo importante na reforma da previdência é que esta medida estará preparando o Brasil para o futuro. Pouquíssimas são as alte-
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rações que irão impactar agora na vida das pessoas no curto prazo mas, para mim, o grande desafio reside na reforma da previdência, do judiciário e dos demais funcionários públicos. Tem de ter coragem para determinar que a previdência deles seja somente sobre os R$ 5.645,80 que é o teto do INSS e a diferença para os mais de trinta mil reais (teto do funcionalismo) sejam cobertos pela previdência privada individual de cada interessado. Aí está um desafio gigantesco. Em minhas análises, a equipe de comunicação deste governo não soube como vender a reforma da previdência para os brasileiros. Foram colocados na mesma cesta, o trabalhador que recebe um salário mínimo e o funcionário público ou de estatal que recebe trinta mil ou mais. Para o primeiro, foi dito que ele teria de trabalhar dez anos a mais para se aposentar, e para o segundo é que ele perderia seus privilégios. Era quase im-
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A outra reforma imediata é a reforma tributária. Está mais do que provado que os tributos penalizam o mais pobre. O imposto é alto, a legislação é complexa e burocrática, e tudo isto trava o país. As empresas repassam naturalmente para o preço dos seus produtos os custos dentre os quais os tributos estão inclusos. Quando se compra qualquer produto, vem junto uma imensa carga tributária. E tanto o rico, como o pobre, pagam por isso. Como tudo é muito complexo, desde o recolhimento até a fiscalização, passando por um controle facilitado a sonegação, abrem-se muitas margens para a corrupção. possível obter aprovação popular, para algo que foi assim comunicado. E a próxima reforma? Qual seria em sua opinião?
Temos participado de diversos fóruns e na maioria deles ouvimos de empresários, que parece que a indústria não faz parte das prioridades do governo. Ela que deveria ser melhor
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Economia
tratada por gerar o desenvolvimento de um país e gerar milhões de empregos, é vista no Brasil como uma atividade secundária. O senhor concorda com esta afirmação? Eu entendo que a última política industrial que realmente foi implementada vem da época do JK. De lá para cá houve uma série de remendos, mas nunca tivemos uma definição clara de algo coordenado e de incentivos reais para a indústria. Em minha opinião, deveria haver um protocolo onde se reunissem empresários, governo e a sociedade civil. Dou como exemplo, as Câmaras Setoriais dos diversos setores industriais que foram feitas no passado e que davam um norte para o setor e para o
A universidade deveria ser um campo de desenvolvimento de novas tecnologias, como ocorre nos países desenvolvidos. governo, indicando onde deveria haver mais investimentos, mais incentivos, liberar-se importações etc. Por exemplo, em minha opinião, todos os países desenvolvidos protegem seus empresários com medidas que aos olhos da comunidade internacional não são consideradas protecionistas, mas determinam paralelos que devem ser observados, para a importação de alguns bens. Entendo que, deve haver métricas muito bem definidas para que os empreendedores possam investir com segurança, buscando competitividade para seus produtos. Talvez o maior exemplo de proteção da indústria seja o atual governo americano, que definiu uma série de medidas em favor de sua indústria, alegando a segurança nacional.
Falando em competitividade. O senhor é responsável pela direção em um estabelecimento em que o assunto tecnologia está presente no seu dia-a-dia. Quando lemos, relatórios internacionais vemos que a cada vez mais o Brasil aparece nas ultimas posições em diversos parâmetros mundiais, no que diz respeito à tecnologia, competitividade, avanços científicos etc. Onde erramos e como deve ser corrigido este erro? Infelizmente, acho que perdemos uma geração inteira, desde 80 para cá, por termos tido uma escolha errada. Faltou projeto, definição de regras e metas. No mandato do presidente Lula, definiu-se o investimento na educação voltado para a criação de universidades federais. O primeiro investimento é o físico e material para construção e colocação em funcionamento das unidades, mas o segundo e permanente é o investimento em custeio, manutenção, professores, laboratórios, pesquisas etc. Para isso é preciso ter um plano, um projeto. Não adianta termos a universidade se eu não tiver alunos capacitados para frequentá-la. Em minha opinião o problema da educação no Brasil não são os recursos financeiros. Recentemente tivemos a informação oficial de que há mais de 13 bilhões de reais já aprovados e não investidos na educação, na saúde e na infraestrutura por falta de projetos con-
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fiáveis. Faltam projetos. É necessário gestão. O mesmo se aplica para outras áreas do setor público. Eu entendo que o próximo governo deve fazer um investimento maciço na educação de base. É possível num quadro social como o nosso, a pessoa nascer em um ambiente desigual, mas na educação básica que deve ser igual para todos, ela deve adquirir condições de chegar à universidade com as mesmas oportunidades dos demais. E na universidade, aquele que tiver mais aptidão, melhor desempenho, melhor dedicação vai se sobressair. Eu acho que deveria se debater com seriedade a questão da gratuidade do ensino superior por uma questão simples: não há mais recursos no orçamento para bancar o custeio da quantidade de universidades públicas no país. Evidentemente, aos estudantes que não tiverem condições de frequentá-la por questões de incapacidade financeira, devem ser oferecidas bolsas
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de estudos com contrapartidas claras de retorno, como pesquisa ou atividades de interesse do país. Nos últimos 15 anos foram criadas várias novas IES públicas no país (além da expansão das já exis-
tentes), muitas delas federais, mas não se estabeleceram metas claras a serem atingidas, nem sequer foi desenvolvido um plano de sustentação financeira de médio e longo prazos.
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Economia A universidade deveria ser um campo de desenvolvimento de novas tecnologias, como ocorre nos países desenvolvidos. Deveria haver investimentos em pesquisas, laboratórios, experimentos em novas técnicas, em novos processos ou produtos. Assim como estamos no Instituto de Tecnologia Mauá, um centro de excelência, deveria haver vários outros estabelecimentos com esse perfil pelo país, para aproveitarmos o potencial dos nossos jovens estudantes. Hoje, o que se verifica, no geral, é a chegada de alunos sem nenhuma base e com enormes dificuldades de acompanhar o desenvolvimento natural das disciplinas que estão cursando no ensino superior. Muito se fala sobre o problema das desigualdades sociais que gerou a política de cotas. Por sua vez esta é explicada como a dívida existente da raça branca para com a raça negra, desde o tempo da escravatura. Há uma confusão muito grande neste campo. O que senhor pensa a respeito? Eu acredito que a questão das reminiscências históricas não acontecem só no Brasil, vários países do mundo convivem com fantasmas do seu passado e devem lutar para superá-los e evitar sua repetição. Eu vejo que a questão de cotas é mal direcionada e fruto de um país ainda altamente segregacionista. Como eu posso explicar para um estudante que tirou uma nota boa no vestibular que ele não será matriculado, porque outro que tirou nota menor, tomou seu lugar através do sistema de cotas? É por isso que eu vejo a questão de outro ângulo. Eu entendo que deve haver igualdade de oportunidades para todos no início de suas vidas, de modo a que as pessoas possam, pelo seu esforço e dedicação, mudar seu destino. Você viaja para outros países e vê que a filha do jardineiro, ou do motorista de ônibus está na mesma escola que a filha do ministro do supremo. Elas terão as mesmas oportuni-
dades e, futuramente, dependendo da aptidão de cada uma, ocuparão seu lugar na sociedade. Esse tipo de ação ajudaria a esfriar esse tipo de debate estéril no país. O maior exemplo do mundo é o presidente Obama, um negro descendente de imigrantes africanos ter se tornado o homem mais poderoso do mundo. É uma questão de igualar as oportunidades. Outro exemplo, de que esta questão é superficial, aqui no Brasil, mesmo com todas as diferenças, tivemos um presidente do Supremo negro, poliglota e com excelente aceitação na sociedade. Acho que não deveríamos radicalizar essa separação tipo“nós e eles”, mas é necessário alterar profundamente o acesso às oportunidades no início da vida, para ricos e pobres. E isso somente pode ser feito pela via da educação básica de alto nível universal, obrigatória e gratuita.
judiciais que acabam minimizando ou livrando-os do cumprimento total das penas originalmente determinadas, mas de qualquer forma há a condenação e o constrangimento, além do automático afastamento da vida pública. Infelizmente este caminho é muito longo e muito árduo e reconheço que infelizmente existem ainda inúmeros corruptos agindo nas diversas esferas e que, mesmo com todos os acontecimentos em curso, continuam praticando seus atos ilícitos ainda hoje. Eu acho que no momento em que retomarmos o desenvolvimento econômico e a sociedade crescer não só na educação adquirida na escola, mas também nos seus costumes e nas suas ações, deveremos ter outros mecanismos de controle da própria sociedade sobre este tipo de prática.
E a questão da corrupção. Descobrimos de uns tempos para cá que ela é uma das maiores responsáveis por grande parte do atraso do Brasil. Como fazer para conter ou afastar esta prática de nossa vida pública? Devemos considerar que realmente este é um mal que nos aflige diretamente, mas temos de reconhecer que nos últimos quatro ou cinco anos, várias coisas foram feitas no sentido de minimizar o problema. Hoje temos ex-presidente da república, ex-presidentes de câmaras, senadores, deputados, inúmeras figuras da vida pública, empresários e outras pessoas de projeção, que em outros tempos seria impensável que estariam presos, condenados e cumprindo suas penas. É certo que há inúmeros meios
E para finalizar, quais são os seus comentários finais? Não existe mágica. Não há na história um país que tenha conseguido crescer convivendo com um enorme déficit público. Esta é a primeira lição de casa de qualquer governo que assumir em janeiro de 2019. E volto a bater na tecla de criarmos condições iguais, que só podem ser atingidas quando tivermos uma educação básica gratuita, obrigatória e de qualidade para todos. Assim, todos chegarão com as mesmas condições de competitividade. E na política, eu acho que o parlamentarismo seria um regime que deveria ser repensado e talvez o mais adequado ao nosso país. Desde a época em que o Franco Montoro, que foi governador de São Paulo, empunhou a bandeira do parlamentarismo, fiquei convencido de que este regime facilitaria muito a nossa governabilidade. Não teríamos episódios doloridos e que pararam o país por vários meses, como nos casos do impeachment da Dilma e a posterior posse do Temer, que até hoje são motivos de protestos.
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Mercado de ações
Bons sinais na Bolsa Embora distante do que poderia ser considerado ideal, a dinâmica do mercado de ações da siderurgia brasileira traz alento para os investidores. Marcus Frediani
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dos investimentos relacionada à mudança para patamares mais elevados na cotação do dólar. E, o terceiro, a elevação da incerteza política, quadro que sofreu um agravamento tanto após a greve dos caminhoneiros, quanto em função da falta de clareza no cenário eleitoral, com aumento de chances de um candidato de perfil populista ser eleito, lançam dúvidas sobre o equilíbrio das contas públicas, o que contribui para minar a confiança dos agentes econômicos. Interesse renovado No âmbito do mercado siderúrgico brasileiro, todos esses fatores vêm rimando também com uma fase nada auspiciosa. Entretanto, ao mesmo tempo em que isso parece não ter desestimulado as empresas do setor a se modernizarem e a se aparelharem para continuar prontas e atualizadas uma eventual (e muito esperada) retomada de negócios,
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“Bem amarelo”. Foi dessa forma que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) descreveu em recente relatório o cenário de investimentos no Brasil em 2018. Na verdade, o fato representa uma mudança na “cor do semáforo” do mercado de ações, após este começar a inverter a trajetória positiva que vinha tendo até o mês de abril deste ano. Nesse mês específico, o Indicador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) havia avançado 1,5% ante o mês de março. E em relação a abril de 2017, o avanço no índice do Ipea havia batido nos 13,1%. Segundo o órgão, a projeção não muito animadora para o cenário para os investimentos até dezembro de 2018 tem três motivos principais. O primeiro foi o fraco desempenho da atividade econômica no início do ano, que, justamente, frustrou as expectativas de continuidade da dinâmica que vinha se pronunciando até abril. O segundo, o “encarecimento”
do ponto de vista do mercado de ações, há sinais de que o apetite dos investidores – principalmente os internacionais – em nossas empresas produtoras de aço não arrefeceu. “Os investidores internacionais têm voltado a olhar para o mercado siderúrgico brasileiro desde meados do ano passado, apesar da conjuntura econômica seguir bastante fraca. O crescimento do setor automotivo, apoiado nas exportações, e o aumento global no preço do aço desencadearam esse interesse, ao propiciar ligeira melhora no desempenho operacional das companhias”, afirma Sabrina Stefani Cassiano, analista de Investimento em Siderurgia da corretora Coinvalores. Segundo ela, os investimentos em tecnologia direcionados à busca de eficiência operacional, aliados ao maior controle de custos, também foram aspectos fundamentais para a inflexão dos resultados do setor. Por outro lado, ainda de acordo com a especialista, a dinâmica de fusões e aquisições na indústria siderúrgica nacional revela outro viés associado a esse tipo de movimentação. Isso porque está profundamente relacionada com a crise que afetou o setor nos últimos anos. E aí não há segredo, pois diante de condições financeiras mais restritivas, a estratégia adotada por algumas companhias, com destaque para aquelas que possuem ações negociadas na Bolsa de Valores, foi de enxugar suas operações e focar em ativos de maior rentabilidade. “Portanto, vislumbramos que, sim, a dinâmica de fusões e aquisições tende a continuar em alta ao longo desse e do próximo ano”, sinaliza a executiva da Coinvalores.
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as contas públicas do país de volta nos trilhos. “Ademais, a recente escalada do protecionismo global também configura um risco não trivial”, faz o alerta.
vidade, que já vem patinando, deve perder ainda mais fôlego. Isso porque as reformas, principalmente em âmbito fiscal, a princípio, são de suma importância para garantir um crescimento robusto e Habilidade política sustentável da economia O cumprimento desbrasileira. sa tarefa, entretanto, “Além disso, é essentem a ver com um comcial que o novo presidente Sabrina Stefani Cassiano, ponente também nada atue em prol de questões analista de Investimento trivial, que é a vontade como infraestrutura, seem Siderurgia da corretora política do novo governo gurança jurídica, abertura Coinvalores que assumirá o Brasil no comercial e, também, na início do ano que vem. Para Sabrina redução da burocracia, dentre outras. Cassiano, embora o cenário eleitoral A habilidade política para aprovar mesiga extremamente incerto e nebulo- didas junto ao Congresso também é so, ainda assim, há a expectativa de outro aspecto importante, e que deve que um candidato com viés reformista ser monitorado pelos investidores, batome posse em 2019. Caso contrário, a lizando o desempenho do mercado de confiança dos agentes tende a seguir ações a partir de outubro”, enfatiza a em trajetória de deterioração e a ati- analista da Coinvalores. Foto: Divulgação
Alta nas ações Embora o “Risco Brasil” permaneça alto e a retomada dos graus de investimento no Brasil deva-se dar de uma forma lenta, muito distante da velocidade ideal, diversos analistas do mercado de ações falam, atualmente, de uma possível retomada econômica da América Latina. E, ao que tudo indica, trata-se de uma expectativa consistente. “Essa perspectiva já tem impulsionado as ações do setor siderúrgico, tanto que na média a valorização é de quase 18% no acumulado desse ano, frente a menos de 4% de alta no principal índice de ações, o Ibovespa. E, ainda há um potencial interesse para os papéis do setor, pois, apesar da recente recuperação, as companhias ainda operam com um nível de ociosidade bastante elevado”, informa Sabrina Cassiano. Todavia, ela faz questão de destacar que essa perspectiva está condicionada a aprovação de reformas que coloquem
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Indústria
A recuperação da indústria nacional Os números de junho que começam a ser divulgados mostram que a indústria brasileira se recuperou da brutal queda acontecida durante a greve dos caminhoneiros. Henrique Pátria Segundo dados divulgados pela Agência de Notícias Brasil, órgão oficial de notícias do Governo Federal, a indústria brasileira recuperou-se em junho das quedas que sofreu durante a greve dos caminhoneiros apresentando desempenho considerado ótimo. De acordo com a nota, baseada em dados divulgados em 1º de agosto pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o faturamento real da indústria aumentou 26,4% em junho, na comparação com maio e na série livre de influências sazonais, recuperou a queda de 16,7% de maio. “O forte crescimento do faturamento deve ser analisado com cautela. Esse resultado excepcional é explicado pelo fim do represamento de embarques”, diz a CNI, na pesquisa. Mesmo com a recuperação, o 2º trimestre foi mais fraco que o anterior, com queda de 2,7% no faturamento. Na comparação com junho de 2017, houve aumento do faturamento em 10,2%. No primeiro semestre, o crescimento ficou em 4,4% na comparação com o mesmo período de 2017. Ainda, segundo a CNI, a recuperação das horas trabalhadas na produção e na utilização da capacidade instalada, foi inferior ao recuo registrado em maio. As horas trabalhadas na produção cresceram 1,3% em junho frente a maio, na série de dados dessazonalizados. Com isso, o indicador não conseguiu reverter a queda de 1,7% do mês anterior. O nível de utilização da capacidade instalada aumentou 0,8 ponto percentual em junho, na comparação com o mês anterior, também na série com ajuste sa-
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zonal, depois de cair 2,2 pontos percentuais em maio. Com a alta de junho, o nível de utilização da capacidade instalada ficou em 76,7%, pouco menor do que os 77,2% registrados no mesmo mês de 2017, também na série dessazonalizada. Já, em conformidade com a agência Reuters de Notícias, em matéria divulgada em seu site no dia 1º de agosto informou que, segundo dados do IBGE sobre a indústria nacional, a produção industrial brasileira registrou alta de 13,1% em junho na comparação com o mês anterior. Este é o melhor resultado da série histórica, iniciada em 2002, superando os efeitos negativos provocados pela greve dos caminhoneiros, no mês anterior. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a produção subiu 3,5%. As expectativas em pesquisa da Reuters com economistas eram de alta de 14,1% na variação mensal e de 4,55% na base anual. “A conjuntura continua a mesma, mas houve produção maior para repor o descompasso da greve”, disse o economista André Macedo, gerente da pesquisa “Não só eliminamos a perda como voltamos a um patamar superior ao de abril e se aproxima de dezembro do ano passado, quando a indústria vinha numa trajetória de crescimento.” O IBGE também revisou levemente para 11%, ante 10,9%, a queda da produção industrial de maio, quando o protesto de caminhoneiros levou desabastecimento a empresas e residências de todo o país, além de perdas para a agricultura, levando governo e economistas a reverem
para baixo suas projeções de crescimento do PIB, neste ano. Ainda, de acordo com o economista, “Não se pode deixar levar pelo resultado de junho e achar que entramos numa nova era. Os níveis de confiança ainda estão baixos e a demanda doméstica ainda tem fragilidades, visto que o mercado de trabalho ainda tem um enorme contingente de pessoas fora.” E na Pesquisa Focus do Banco Central, que ouve uma centena de economistas todas as semanas, mostra que a estimativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do país neste ano, estava em 1,5%, depois de ter chegado a 3% alguns meses antes. O levantamento mostrou ainda que, pela mediana das projeções, a produção industrial vai crescer 2,91% neste ano. Nesta pesquisa, segundo informou o IBGE, dois destaques positivos em junho foram o crescimento de 47,1% na produção de veículos automotores, reboques e carrocerias e de 19,4% nos produtos alimentícios. Bebidas (33,6%), e produtos de minerais não-metálicos (20,8%), também tiveram desempenho relevante. Na outra ponta, o ramo de “outros equipamentos de transporte”, registrou uma queda de 10,7%, no segundo recuo mensal consecutivo. “Os setores que lideram o crescimento, são ligados à indústria automobilística, que tem aumentado a produção e exportação. A cadeia automotiva, como tinta, borracha, plástico, metalurgia, acessórios, respondem positivamente aos resultados”, finalizou Macedo. Henrique Pátria, Editor Chefe da revista Siderurgia Brasil
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Administração
A importância dos Conselhos de Administração e Fiscais Tais conselhos fortalecem a administração e tem determinante papel auxiliar na gestão das companhias. José Osvaldo Bozzo*
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conselhos. Outros raros grupos empresarias de capital fechado investem em gestões que contam com esse tipo de instância. O que percebemos é que predominam nessa área empresas sob administração familiar, que, na maioria das vezes, pouco valorizam diferenciais de governança. Assim, o acesso a recursos mais baratos e em melhores condições no mercado financeiro e de capitais é restrito a poucas corporações do segmento. À grande maioria das empresas resta recorrer a agentes financeiros que exigem alto retorno sobre o capital emprestado, extensas garantias e impõem restrições à concessão de benefícios em relação a prazos e formas de pagamento. Transformar essa realidade é um grande desafio para que o segmento sucroenérgico possa garantir sua continuada eficiência e perenidade. ivulgaçã
conduta e estratégias mais adequadas ao negócio e ao ambiente. Também devem fiscalizar números, a aplicação dos princípios traçados e avaliar se o trabalho dos executivos é correto e alinhado ao planejamento empresarial. Já o Conselho Fiscal, como o próprio nome diz, tem a tarefa de fiscalizar a correta gestão da empresa, analisando dados, indicadores e estruturas para garantir que os preceitos legais, fiscais, normativos, contábeis e éticos vêm sendo seguidos à risca. É evidente que a simples criação de conselhos não dá garantias de que será agregada qualidade à gestão empresarial. Sua composição deve ser estrategicamente pensada para agregar profissionais e gestores experientes e ativos, que de fato acrescentem valor à administração. Quanto mais instrumentos de governança corporativa adotados, melhor será a percepção externa, ou de “mercado”, em relação a uma companhia. Quanto melhor essa percepção, mais positivas e facilitadas serão as oportunidades de capitalização da empresa. Organizações que investem em governança têm acesso facilitado a capitais, a investimentos e a crédito mais barato e em melhores condições de pagamento do que aquelas que não adotam tais práticas. Tratando do setor sucroenergético, sabemos que poucas administrações investem em instrumentos de governança. Hoje, existem algumas companhias de capital aberto, que são obrigadas a possuir
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A extrema complexidade do mundo dos negócios impõe às empresas estarem preparadas a garantir uma gestão adequada e alinhada às exigências estabelecidas por essa instituição abstrata que chamamos de “mercado”. Tratar da boa gestão das companhias é falar em governança corporativa, que, simplificadamente, envolve a capacidade e os instrumentos que as empresas dispõem para aplicar as melhores e as mais corretas práticas administrativas, garantindo respeito às pessoas, à sociedade, às leis, às normas, e aos princípios éticos e mercadológicos em vigência. Entre os instrumentos de gestão característicos da boa governança corporativa, destaque à instituição dos conselhos de Administração e Fiscais. São instâncias que contribuem para garantir que cada organização seja conduzida da maneira mais alinhada aos preceitos da boa administração. O Conselho de Administração tem determinante papel auxiliar na gestão das companhias. Cabe a seus membros analisar e avaliar dados e estratégias, agregar proposições e aprovar as políticas e soluções adotadas, ou a serem implementadas, pelos gestores principais de uma empresa, que, em geral, são representados pela Diretoria Executiva. Esse conselho é responsável, também, por eleger os diretores e indicar os integrantes de eventuais comitês acessórios à gestão empresarial. Os conselheiros de administração são os principais responsáveis por apontar os caminhos que a gestão da empresa deve trilhar, indicando os preceitos, normas de
*José Osvaldo Bozzo é tributarista e sócio da MJC Consultores. Formado em Direito, iniciou carreira na PwC. Foi sócio da KPMG e professor na USP-MBA de Ribeirão Preto.
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Estatísticas
Recorde na venda de aços planos
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Segundo dados do Inda – Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço, no mês de junho houvee ão uma sensível recuperação do setor de distribuição. Este foi o melhor resultado na venda de aços planos, desde que passamos a divulgar as estatísticas do Inda. Devemos considerar que no mês anterior grande parte dos resultados negativos ficou por conta da greve dos caminhoneiros que paralisou o país por um período de quase quinze dias e que em alguns setores ainda não permitiu a recuperação total. Vendas As vendas de aços planos em junho apresentaram um aumento de 51,5% quando comparada a maio, atingindo o montante de 307,4 mil toneladas contra
m toneladas. Se consi203 mil derarmos o mesmo mês do ano passado, quando foram vendi223 2 mil tone das 223,2 toneladas, a alta registrada foi de 37,8%. Compras As compras do mês de junho registraram alta de 20,7% perante maio, com volume total de 270,8 mil toneladas. Frente a junho do ano passado (229,6 mil ton.), a alta foi de 17,9%. Estoques Com esta reviravolta toda, os estoques de junho sofreram queda de 3,9% em relação ao mês anterior, e atingiram o montante de 910,6 mil toneladas. O giro dos estoques obteve queda, fechando em 3 meses. No mês passado nosso comentário era para a
o alto volume apresentado, que representava um número muito fora da curva regular de estoques nas mãos dos distribuidores. Importações As importações encerraram o mês de junho com alta de 15,4% em relação ao mês anterior, com volume total de 127,6 mil toneladas. Comparando-se ao mesmo mês do ano anterior (102,4 mil ton), as importações registraram avanço de 24,6%. Segundo os dirigentes do Inda que apresentaram estes números a expectativa para julho é de que haja uma acomodação natural nas estatísticas e tanto as compras como as vendas apresentem uma queda de aproximadamente 15%. www.inda.org.br
Aumento da produção de aço
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Segundo o IABr, os percentuais de crescimento do 1º semestre do ano, na verdade, foram positivos devido à comparação com o mesmo período de 2017, que teve fraco desempenho. As vendas internas foram de 8,8 milhões de toneladas de aço nesse período (+9,9%). O consumo aparente atingiu 10,1 Mt (+9,3%), sustentado pelo crescimento das vendas internas. A produção brasileira do aço foi de 17,2 Mt, (+2,9%). Já as exportações somaram 6,9 Mt (-5,7%). As importações aumentaram 5,6% na mesma época, totalizando 1,3 Mt. Apesar dos números positivos, a greve dos caminhoneiros ocorrida em maio passado contaminou parte do crescimento da indústria do aço em 2018 tanto no mercado interno quanto para as exportações. Cabe lembrar, que as produtoras brasileiras de aço
o para elevar têm buscado a exportação a utilização da capacidadee instalada – estr es tree do ano. ano no.. 68% na média do 1º semestre Segundo os dirigentess da entidade o ideal seriaa atingirmos números pró-ximos de 80%. nNo entanto, o já conturbado cenário interna-cional deteriorou aindaa mais desde o início dee março, com a decisão do presidente dos Estados Unidos – Donald Trump, de estabelecer tarifa de 25% para o aço importado e, posteriormente, negociar cotas de exportação para o aço de alguns países, entre os quais o Brasil. Isso no âmbito da Seção 232, sob o argumento de que as importações de aço constituem ameaça à segurança dos EUA. Tal medida impactou as projeções do Aço Brasil para o ano,
conside considerando o fechamento de oum tros mercados na esteira da decisão americana. am são As previsões do Instituto Aço Bras para indústria brasileira Brasil d aço em 2018 são de audo m mento das vendas internas d aço em 5% em 2018, totade l lizando volume de 17,7 mil lhões de toneladas. A produç ção deve aumentar 4,3% em relação ao ano passado e as exportações devem cair 0,6% este ano na comparação com 2017, enquanto o consumo aparente de aço deve subir 4,9% em 2018. Embora os números sejam positivos, todos foram revisados para baixo em relação às expectativas no início do ano, diante da não retomada do crescimento econômico como esperado. www.iabr.org.br
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Recuperação após greve dos caminhoneiros
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A indústria de máquinas, representada pela Abimaq, divulgou nesta semana suas estatísticas relativas ao mês de junho, quando registrou uma expansão na ordem de 23% em relação ao mês anterior. Já em relação ao mesmo mês do ano anterior a expansão registrada esteve na casa dos 13%. Com a divulgação destas informações podemos perceber que no semestre de janeiro a junho de 2018, a expansão registrada esteve na casa dos 4,2%, se comparada com o mesmo período do ano anterior. Tais resultados foram obtidos em função da grande recuperação observada no setor que teve grande parte de sua atividade prejudicada pela grave dos caminhoneiros no mês passado. As receitas líquidas totais registraram crescimento de 23% atingindo R$ 7.121,06 mil enquanto no semestre o total acumulou receitas de R$ 35.075,43 mil. Já as exportações em junho registraram crescimento de 67,7% e no ano o crescimento foi de 16,8%. Também o nível de empregados ocupados cresceu neste primeiro semestre em índices próximos a 1% atingindo 296 mil postos de trabalho ocupados. Um detalhe ressaltado é que o índice de custo de fabricação medido pela Abimaq cresceu em cerca de 3,3% no primeiro semestre puxado pelo aumento de preços de vários componentes e insumos usados na produção. Este aumento ainda não foi repassado integralmente para os preços dos produtos finais, o que certamente comprime a margem dos empresários dos setor. Outro índice importante e alentador é o do consumo aparente que no primeiro semestre cresceu 8,3%. Isto vem demonstrar que está havendo uma retomada de atividade, mesmo que ainda não nos níveis esperados para a plena recuperação. Felizmente, mesmo com o alto índice de ociosidade da economia e a atividade industrial operando abaixo de sua capacidade, tem-se observado uma retomada de investimentos e novos planos que certamente irão impactar o setor. Por fim o nível de utilização da capacidade instalada voltou a crescer em junho, e chegou agora a 74,9% e mesmo assim a carteira de pedidos continua registrando quedas que mesmo que pequenas preocupam os dirigentes da entidade. Na sua opinião a baixa atividade no setor de fabricantes de máquinas para infraestrutura e indústria de base tem sido o responsável por tais resultados. A direção da entidade divulgou que com estes resultados fica mantida a projeção de crescimento de 7% para o ano de 2018. www.abimaq.com.br JULHO/AGOSTO 2018 SIDERURGIA BRASIL 41
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Novo uso para o porto da Usiminas Divulgação
A Usiminas possui, em sua unidade de Cubatão, em São Paulo, um porto marítimo próprio onde recebe matérias primas e envia seus produtos acabados ou semi-acabados. É um excelente referencial da logística da Usiminas. A empresa acaba de anunciar que fechou acordo com a Petrocoque, que irá usar estas instalações da Usiminas para embarcar coque calcinado de petróleo. Os primeiros navios já foram carregados e a expectativa é de que inicialmente sejam expedidos dois navios por mês totalizando cerca de 30 mil toneladas mensais. Este produto é utilizado como matéria prima na fabricação de alumínio primário. É o primeiro passo da Usiminas, no sentido de diversificar suas operações na unidade de Cubatão em São Paulo. Fonte: Assessoria de Imprensa Usiminas – LVBA Comunicação
Anunciantes Aços Favorit Distribuidora Ltda. ................................................................................................................................41 Arcelormittal Brasil S.A. ..................................................................................................................................4 a capa AVB - Aço Verde do Brasil. ....................................................................................................................................... 9 Centro Manufatureiro do Aço Ltda. ......................................................................................................................... 25 Divimec Tecnologia Industrial Ltda. .......................................................................................................................... 31 Esquadros Indústria e Comércio Ltda. ...............................................................................................................3a capa Instituto Aço Brasil .................................................................................................................................................. 21 JI Desenvolvimento Humano e Treinamentos Ltda. ....................................................................................................41 Lubrimatic Comercial Ltda. - EPP ............................................................................................................................. 29 Metalurgia 2018 .................................................................................................................................................... 35 Metalúrgica Spillere Ltda. ....................................................................................................................................... 33 Panatlântica S/A .....................................................................................................................................................15 Regional Telhas Ind. Com. Prod. Siderúrgicos Ltda. .................................................................................................. 37 Sinobras - Siderúrgica Norte Brasil S.A. ....................................................................................................................11 Star Tecnologia Indústria e Comércio Ltda. .............................................................................................................. 27 Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A. .........................................................................................................2a capa White Martins Gases Industriais Ltda. .......................................................................................................................17
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