Vida Urbana

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Projeto Laboratorial – N o 16 – Dezembro/2012 – UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto

Cidade

Buraco x luxo Cultura

Teatro ao ar livre Estilo de vida

Arte e qualidade de vida

Negócios

Boom: Construção movimenta economia


EXPEDIENTE

EDITORIAL

Reitora da UNAERP: Profa. Elmara Lucia de Oliveira Bonini

Paixão e Compromisso

Coordenadores do Curso de Comunicação Social: Habilitação em Jornalismo

Profa. Me. Flávia Cortese Martelli Habilitação em Publicidade e Propaganda

Prof. Me. João de Assis Soares Professores responsáveis: Carmen Cagno – Pauta, reportagem, redação e edição Daniel do Carmo – Projeto gráfico, arte e editoração Elivanete Zupollini Barbi – Pauta, reportagem, redação e edição Reportagem, Fotografia, diagramação e editoração Bruna Zanuto Carol Strabelli Célia Santos Cláudia Koisumi Daniele Longo Flávio Coelho Francieli Spadari Joanna Prata Larissa Costa Leandro Martins Luara Galacho Lucas Martins Lucas Moreira Luiz Eduardo Mariana Nabor Natália Dovigo Rogério Moroti A Revista Vida Urbana é uma produção laboratorial da 8a. Etapa do Curso de Jornalismo da UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto. Av. Costábile Romano, 2201 Ribeirão Preto – SP Fone: (16) 3603-6716

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revista Vida Urbana é o projeto de encerramento do curso de Jornalismo da Universidade de Ribeirão Preto e já, há alguns anos, vem cumprindo o objetivo de finalizar esse processo de aprendizado e experiência de forma brilhante. Escolhemos a mídia revista para esse momento por entendermos que se trata do mais sofisticado suporte para veiculação de notícias. Sendo assim, durante o processo de produção das matérias, agora publicadas on-line, os alunos concluintes têm a rara oportunidade de, ainda na Universidade, entrarem em contato com o que se convencionou chamar reportagens interpretativas ou dissertativas. Abordando temas que se referem exclusivamente à comunidade em que vivem, trabalham e estudam, ou seja, a região de Ribeirão Preto, os jovens repórteres podem, no caso de uma revista, se aprofundar em questões que não seriam contempladas numa notícia ou mesmo reportagem de jornal, TV ou internet. Isso porque essa é a mídia que permite alargar e verticalizar o foco do tema tratado, discutindo-o e analisando-o, através das fontes apropriadas. Trata-se, portanto, do ponto mais alto da função jornalística - aquele que exige rigor na apuração, adequação e beleza textual, além de uma noção estética mais abrangente no projeto gráfico.

Esse ano, a edição de Vida Urbana mais uma vez demonstra que os formandos de uma nova turma de Jornalismo da Unaerp estão prontos para ingressarem no mercado com as ferramentas técnicas necessárias, mas, mais que isso, com o compromisso e a paixão que todo bom jornalista deve ter pelo ofício de informar e integrar sua comunidade. Foto capa: André Paterlini



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Pedras no me As idas e vindas a pé são bem mais complicadas do que parece. Constantemente interrompidas por obstáculos, lixo, degraus, as calçadas mais atrapalham do que ajudam o caminho seguro dos pedestres.

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As calçadas são vias destinadas exclusivamente a quem caminha e fazem parte do sistema viário (calçadas + leito carroçável). Como sistema viário é um bem público, o município é o responsável pela exigência de sua execução. Por determinações das legislações municipais, esta responsabilidade é atribuída aos proprietários particulares, de forma que se a calçada esta localizada defronte a um imóvel particular, a responsabilidade pela execução e manutenção da calçada é do seu proprietário, sendo o papel da Prefeitura estabelecer as normas, exigência no cumprimento às regras que estabelecem sua execução, bem como fiscalizar a manutenção e o estado de conservação. No caso do terreno pertencer ao poder público, esta responsabilidade está relacionada também à sua propriedade, quer seja municipal, estadual ou federal, incidindo as mesmas obrigações.

io do caminho Texto e Fotos: Danielle Longo

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simples ato de caminhar a pé em ruas e avenidas da maioria das cidades brasileiras pode ser uma aventura. O problema não é recente, vem crescendo com o passar dos anos e com o aumento da população. E atividades corriqueiras como ir até a padaria ou praticar uma caminhada de 500 metros podem colocar em risco uma parte do corpo ou até mesmo a vida do pedestre. Em Ribeirão Preto não é diferente. Andar a pé tornou-se perigoso por causa da falta de políticas públicas, infraestrutura e planejamento, propiciando um crescimento desordenado nas cidades brasileiras, além de não se priorizar o pedestre. Os passeios públicos, as famosas calçadas, não seguem padrão algum, o que resulta em más condições do tráfego de pedestres. Piso frio, lixo,

degraus, mato são alguns dos obstáculos que as pessoas, entre elas idosos, portadores de deficiência e crianças, têm que superar ao andar a pé. O arquiteto Mauro de Castro Freitas explica que realmente não se tem um modelo que sirva de referência para as calçadas da cidade, como as calçadas de “Copacabana”. Entretanto, o Código de Obras (ver Lei Complementar 2.158 de 12 de janeiro de 2007) exige que o piso da calçada seja antiderrapante e tenha uma declividade máxima de 3% (ou seja, para uma calçada de três metros de largura deve haver desnível máximo de nove centímetros), suficientes para o escoamento de águas de lavagem. Embora o poder público estipule regras para a construção de calçadas e disponibilize material informativo pa-

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Culpa e

ra orientar os proprietários de imóveis, para a lei funcionar é preciso um esforço conjunto entre prefeitura e órgãos técnicos. “Para uniformizar o passeio público e mobilizar os donos de imóveis é necessário definir parâmetros para a construção de calçadas e transferir conhecimento para que a paisagem e as condições de uso estejam dentro do chamado Desenho Universal, termo que se refere a parâmetros para a construção arquitetônica ou adaptação de espaços físicos, acessível a todos os cidadãos”, explica o urbanista Fernando Freire. Esse desenho universal citado por Freire faz parte da NBR 9050 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), uma norma extensa que define aspectos e conceitos relacionados às condições de acessibilidade no meio urbano, democratização do uso dos espaços baseado na preocupação com a oferta de ambientes que possam ser utilizados por todos, além de legislações de âmbito municipal. Freire relata que dentro desse

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conceito, muitas prefeituras adotaram medidas para melhorar a infraestrutura urbana e mobilizar os proprietários de imóveis. Nesses moldes, estão as calçadas que prevêem a existência de até três faixas. A primeira faixa, chamada de faixa de serviço, estaria destinada a árvores, rampas de acesso para veículos ou pessoas com deficiência, postes, lixeiras, entre outros artifícios. A segunda faixa prevê um passeio livre, exclusivo ao trânsito seguro de pedestres e a terceira é a faixa de acesso a estabelecimentos comerciais, onde poderiam ser disponibilizados toldos, mesas de bar, floreiras. “Ribeirão Preto, através das leis complementares ao Plano Diretor, ainda não tem uma legislação específica que disciplina esta questão, pois a Lei Complementar do Mobiliário Urbano, que contemplaria a regulamentação das calçadas nos moldes da NBR 9050 e Desenho Universal sequer foi discutida, sendo a única lei complementar do Plano Diretor ainda não aprovada”, esclarece o urbanista.

fiscalização A fiscalização das calçadas por sua vez, é do município através do Setor de Fiscalização Geral da Secretaria Municipal da Fazenda, e da Divisão de Fiscalização de Obras da Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão Pública. Este trabalho, na prática, se dá por meio de vistorias às obras, quando de sua execução e emissão do Habite-se, bem como pela observação de situações irregulares nas calçadas existentes na cidade e também através de denúncias. “Onde eu moro tem um terreno vazio que é um quarteirão inteiro e não tem calçada, mas a população abusa e aproveita a falta de calçada e joga lixo. Ai, fica difícil. Já não tem calçada e cheio de lixo é impossível conseguir andar, tenho que caminhar na rua”, reclama o estudante Rodrigo Luiz Melo, morador do bairro Jardim Independência. Quando o pedestre sofrer algum tipo de acidente ou se sentir prejudicado no seu direito de ir e vir ele pode procurar a Justiça. A queixa será objeto de investigação podendo originar um processo criminal incidindo a chamada responsabilidade. Quanto à responsabilidade do proprietário, “somente se caracterizará se comprovar que houve dolo ou culpa, ou seja, que o proprietário em algum momento agiu com imprudência, negligência e imperícia na manutenção da calçada, daí seria possível uma indenização por algum acidente nas calçadas”, explica o urbanista Fernando Freire.


Problemas visíveis Sem regulamentação, muitos obstáculos podem ser vistos com facilidade quando caminhamos pelas cidades. Degraus estão por toda a parte e aparecem no meio das calçadas quando você está andando e sempre acaba tropeçando. Há também os desníveis em rampa acentuada (acima de 3%), além de pisos escorregadios e deteriorados. Embora seja proibida a colocação desse tipo de calçamento muitas pessoas assentam azulejos, caco de mármore, deixam pedras soltas, entre outros descuidos. Outros problemas são a ocupação irregular como gradis e portões basculantes de garagens, mesas e cadeiras de bares e jardineiras que avançam sobre as calçadas; barreiras arquitetônicas como plantas, escadas, buracos e rampas acentuadas; elementos do mobiliário urbano como lixeiras mal posicionadas, luminosos, placas de sinalização, postes de iluminação, ponto de ônibus, bancos impedindo a passagem; iluminação pública insuficiente que causa risco e insegurança; e falta de manutenção como lixo e mato em locais que não receberam calçamento. Outra norma que dificilmente é cumprida é a do rebaixamento de guias. O Município de Ribeirão Preto, através da Lei Complementar nº 2158/07, denominada Código de Obras, capítulo VII, seção II, artigo 81, estabelece: “O rebaixamento de guias destinados a acesso de veículos não poderá exceder a 30 % (trinta por cento) da extensão da testada do imóvel, até o limite máximo de 7,00 (sete) m, excetuando-se os conjuntos de habitações agrupadas horizontalmente, com dimensão mínima de 2,50 m (dois metros e cinqüenta centímetros), exceção feita aos lotes com testada menor que 10 metros em que poderá ser admitido rebaixamento de no máximo 50 % (cinqüenta por cento) e edificações comerciais, que possuam área reservada para estacionamento junto ao recuo frontal”. São exemplos que diariamente dificultam o direito constitucional de ir e vir dos cidadãos. “A população sofre com tantos problemas nas calçadas. Muitas vezes a gente tem que andar na rua e corre o risco de ser atropelado”, enfatiza a dona-de-casa Nair Finatto. As calçadas têm que ser adequadas para toda a população, mas os que mais sentem esses problemas são os cadeirantes e os idosos que habitualmente sofrem incidentes. Maria Aparecida Santos é cadeirante e garante que é bem complicado andar pela cidade. “Se já é difícil para uma pessoa sem deficiência andar, imagina para um cadeirante. É mais difícil ainda”. Outro a fazer críticas é o aposentado Luiz Carmo, que diz ser comum tropeçar nos degraus e escorregar nos pisos inadequados. “Eu gosto de caminhar, mas fica difícil. Eu sempre escorrego. A gente já tá velho, né?”, lembra Carmo. A Lei Complementar nº 2505/12, Capítulo V, Seção I, Subseção III, artigo 97, estabelece que “nas esquinas das vias públicas e nos canteiros centrais das avenidas, o empreendedor deverá executar dispositivo para facilitar a travessia de pessoas com dificuldade de locomoção, de acordo com a legislação vigente e com as normas da NBR 9050 da ABNT ou as que as substituírem”. Portanto, a responsabilidade no caso de um empreendimento novo, loteamento ou condomínio, recai sobre o empreendedor da construção. Em locais onde as calçadas já estão consolidadas, essa incumbência caberá ao município, através da Secretaria de Obras Públicas.

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Cuidado com Texto e Fotos: Larissa Costa

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son ho de dirigir um a Ferrar i, BM W, A udi R8 ,P ors ch e

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faz parte da descri


o buraco

rição de um dia perfeito de vários apaixonados por carro. Boca seca, entusiasmo e o coração bate mais forte. Acelerar, sentir o ronco do motor, grudar no banco por causa da potência são descrições de quem já teve essa oportunidade. Mas, uma coisa é verdade, ruas e asfaltos em más condições podem acabar com esse prazer.

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m Ribeirão Preto, interior de São Paulo, não só os veículos convencionais lotam as ruas da cidade. Outra categoria é muito apreciada: os carros de luxo e superesportivos. A cidade comporta quase todas as concessionárias de marcas Premium como BMW, Porsche, Land Rover, Mini, Mercedes, Audi entre outras, além de importadoras independentes que também trazem outros modelos das grandes marcas já conhecidas (Ford, Chevrolet, Chrysler). “A gente vê Ribeirão como um polo para esse tipo de serviço, já que muitas pessoas da região vêm até à cidade para adquirir um carro importado”, afirma o empresário e sócio proprietário de uma importadora independente, José Paulo Parra. Apesar desse potencial econômico investido em serviços, Ribeirão, com apenas 156 anos, sofre com as pavimentações. “A falta de adequação da malha vi-

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ária e a falta de uma política descente de transporte público tornará nosso trânsito um inferno cada vez maior”, lamenta o empresário e apaixonado por carros, José Mário Restini. De acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Automotores (Abeiva), o aumento do IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) e do dólar refletiram na queda de importações no primeiro semestre de 2012. Foram emplacadas 1.632.808 unidades este ano, contra 1.638.086 veículos de janeiro a junho do ano passado. Apesar da queda de 0,3%, o setor é um dos que mais crescem no país. Desses emplacamentos, mais de 80% são de carros importados pelas próprias monta-

doras e têm preços variados. Segundo a assessoria de imprensa da Porsche Stuttgart (importadora oficial no Brasil), de janeiro a julho deste ano entraram 249 Porsches no Brasil. Desses, 47 vieram para Ribeirão Preto. Com esse montante, a cidade ficou atrás somente das duas lojas da Porsche em São Paulo e, assim, à frente das lojas do Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre, totalizando 19% das vendas nacionais. Em 2011 não foi diferente. De 1.134 Porsches vendidos no Brasil, 156 saíram da concessionária de Ribeirão Preto. A “Califórnia brasileira” ou a “Petit Paris” (a pequena Paris) está entre as cinco cidades que mais comercializam carros importados no país.


X valetas

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evolução dos meios de transporte aconteceu há pouco mais de um século e de lá pra cá o ser humano se tornou um rompedor de barreiras técnicas e de design. Seja com o primeiro carro construído no século XIX ou com a chegada da produção em massa por Henry Ford em 1914, as pessoas souberam que mais cedo ou mais tarde, o mundo estaria sobre rodas. E, para alguns, rodas de luxo. Para os apreciadores de carros mais luxuosos ou dos superesportivos o que vale é o prazer de dirigir um carro com alta potência e sofisticação, porém Restini reconhece que as ruas de Ribeirão desanimam qualquer proprietário. “Há lombadas e valetas onde uma Lamborghini Gallardo, um Dodge Viper, uma Ferrari 355 ou uma Ferrari 360 simplesmente não passam. Isso piora se falarmos de Ferraris mais antigas que são muito baixas”. Ele ainda relembra um dos problemas que passou com uma Ferrari 355 por causa de buracos. “O carro tinha restrições sérias com lombadas e valetas. Passei num buraco uma vez, à noite, e havia uma boca de lobo redonda, daquelas de ferro, fazendo um relevo. Resulta-

do: R$15mil de prejuízo e quase arrancou o câmbio fora”, conta o empresário. Para o mecânico especialista em carros importados, Ricardo Ribeiro, os buracos e valetas são os principais vilões para os carros de luxo e superesportivos. “O que mais ocorre são problemas com quebra de suspensão, desalinhamento, rodas amassadas e os

veículos mais atingidos são os europeus por serem mais baixos, como os Porsches, BMWs e Lamborghinis”. As ruas e avenidas de Ribeirão são pauta para discussões diárias sobre o tipo de asfalto empregado, qualidade e durabilidade. Questões que afetam toda a população que usa a malha viária urbana. No período de chuvas a situação parece piorar, mas segundo o engenheiro civil da Secretaria de Obras da cidade, Hélio Marcos Júnior, o asfalto em Ribeirão está dentro das normas exigidas pela ABNT. “Todos os serviços executados como galerias de águas pluviais, guias e sarjetas de concreto, pavimentação asfáltica, etc, são executados dentro de padrões técnicos pré-estabelecidos pelas normas brasileiras”.

O mecânico utiliza o “diablo”, equipamento que mapeia os problemas do carro

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Em Ribeirão é muito fácil encontrar carros de luxo dividindo espaço com outros veículos

Tropicalização Para uma cidade que, de acordo com os dados da ACIRP (Associação Comercial de Ribeirão Preto), possui 38 empresas que trabalham com venda de carros importados, os problemas com a pavimentação e consequências para seus usuários preocupam. “Hoje o proprietário de um esportivo quer mais usabilidade, mesmo nos países de primeiro mundo. O consumidor americano quer entrar com facilidade na sua garagem, passar em lombadas de shoppings, ir buscar o filho na escola com o carro ‘fodão’. Carro baixo hoje

é carro fora de moda”, afirma Restini. Ribeiro reforça que os veículos de maior esportividade e desempenho possuem estruturas diferenciadas. “Normalmente, devido à aerodinâmica, a proteção inferior não é de metal, pois ele foi desenvolvido para ser mais leve e melhorar o desempenho em velocidade”, e diz que a suspensão do veículo pode sofrer nesse caso. “Se a pancada for nessa parte inferior, geralmente de plástico ou carbono, os problemas podem afetar o motor e câmbio que são mais próximas do asfalto”. A assessoria da Porsche Stuttgart ex-

O apaixonado por carros superesportivos, José Mário Restini

plica que os carros encomendados pelas importadoras oficiais já saem de fábrica com especificações técnicas adequadas para a nossa gasolina e condições viárias. Quando o pedido chega à fábrica, o código específi

A diferença de altura de um carro popular, como o Ecosport, para um superesportivo como o Porsche pode variar até 10 centímetros.

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Terrenos e o asfalto

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asicamente o asfalto é composto por brita, pó de pedra e o material asfáltico ou cimento asfáltico de petróleo. Porém, para que essa mistura seja depositada no solo, o terreno deve ser limpo, raspado e adequado ao tipo de tráfego que haverá naquele local. Em ruas e avenidas de trânsito intenso e pesado o terreno é mais rebaixado para que seja aplicada uma camada mais espessa de brita e material asfáltico. De acordo com Hélio, a vida útil de uma pavimentação pode variar. “Ela gira em torno de 8 a 10 anos, mas se o recapeamento é realizado hoje em uma rua de tráfego leve e depois de um tempo esse mesmo local passa a receber uma linha de ônibus, logicamente que esse trecho vai receber mais carga do que o previsto na pavimentação, consequentemente sua vida útil vai ser diminuída”. Então, por que o asfalto parece não ter essa durabilidade? Um dos problemas graves da cidade, segundo o engenheiro, são os asfaltos muito antigos. “Quando o pavimento passa da sua vida útil ou é solicitado além do previsto, começam a aparecer fissuras, desagregações na capa e o rompimento do reforço e da base por fadiga ao longo do tempo. Esses locais são ideais para infiltrações de águas pluviais que ajudam a degenerar ainda mais o pavimento”. Hélio completa afirmando que o terreno possui influência de outras redes de abas-

tecimento que também acabam afetando o asfalto. “As redes elétricas, redes de água e esgoto atrapalham também por ser necessário, às vezes, para manutenção das mesmas, remover o pavimento e depois executar a sua reposição. Apesar de fazerem os serviços dentro das especificações o local aberto e refeito também é um ponto frágil em relação às infiltrações das águas de chuva”. Agora, exemplifiquemos alguns números. Cada metro quadrado de materiais necessários para asfalto novo em Ribeirão Preto custa de aproximadamente R$50 para a Prefeitura. No recapeamento, são apenas R$27. Comparado aos preços de algumas peças de carros importados, esse valor é irrisório. Segundo o mecânico Ricardo, os desgastes prematuros de componentes vão gerar duas dores de cabeças para o cliente. “As peças têm que ser importadas, diferente de carros nacionais que você tem a reposição imediata, além do custo que para cada tipo de reparo varia. Um amortecedor, por exemplo, pode custar R$2.500 ou o de uma Mercedes, R$17mil cada um. Tudo vai depender do modelo e esportividade do carro. Quanto mais caro o veículo, é natural que as peças também sejam mais caras”.

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Apesar de ser um carro alto, a Mercedes ML teve problemas com a suspensão e rodas por causa de buracos na cidade.

co do importador já faz o carro sair da linha de montagem pronto para rodar no Brasil. O mesmo afirma o mecânico: “o carro já sofre uma tropicalização, pois eles sabem que nosso asfalto e nosso clima são diferentes mas, não adianta eles colocarem uma suspensão de um carro off-road em um carro esportivo ou de luxo, não tem como. O que eles fazem são molas com mais rigidez para que aguentem mais trancos, mesmo assim, o buraco pode causar sérios danos”. Direitos e deveres Os proprietários de veículos importados ou mesmo dos carros populares já sofreram por causa das más condições de ruas e avenidas, para o engenheiro Hélio Marcos Júnior a pessoa que se sentir lesada tem o direito de procurar ajuda legal para o caso. “Este caso é mais jurídico do que técnico e depende de vários fatores. Independentemente, o munícipe, no meu modo de entender, tem direito de reclamar judicialmente em casos em que ele se ache prejudicado”, afirma. Segundo o Art. 186 do Código Civil, “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,

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violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Portanto, é direito das pessoas recorrerem de algum dano causado em consequência de má conservação de vias públicas, que é obrigação do Poder Público manter. Para o advogado Carlos Gabarra, o mais importante é conseguir o maior número de provas possíveis. “Testemunhas oculares, foto do veículo no ”buraco” e dos danos causados, boletim de ocorrência - se possível com a presença de policial no local, o que é muito

Carlos Gabarra, advogado.

difícil, optando então por comparecer a uma Delegacia de Polícia e lavra-lo - e três orçamentos de oficinas mecânicas. Em seguida, tentar o ressarcimento pelas vias amigáveis, expedindo-se uma notificação extrajudicial instruída com cópias de todos os documentos. Não obtido sucesso, ingressa-se no Judiciário, através de advogado, com uma ação ordinária de ressarcimento. Aí, haja paciência”, afirma. Os processos e leis podem até andar devagar, mas em Ribeirão Preto, os proprietários de carros importados superesportivos querem mesmo é poder usufruir dos veículos sem ter que mapear as melhores ruas para ir ao trabalho ou dar um passeio aos finais de semana. Para uma cidade, que segundo o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) já está com uma frota de veículos superando 500 mil para um número de habitantes de cerca de 620 mil (de acordo com dados do senso do IBGE deste ano), a malha viária precisaria de uma reestruturação para comportar o volume. Para nossa cidade o lema deveria ser igual ao do expresidente Washington Luís: “governar é abrir estradas”. E que elas sejam, pelo menos, decentes!


Texto e Fotos: Lucas Martins

Conhecido como Clínicas, o HC de Ribeirão Preto é um dos hospitais mais importantes da América Latina, sua importância se dá através das pessoas de todo Brasil que procuram tratamento de qualidade.

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Nos corredores do HC circulam pessoas que viajam dezenas Fundado há 50 anos, o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto é exemplo na área da saúde em toda a América Latina, sendo um dos três mais importantes hospitais do continente. Por ele, passam diariamente 12 mil pessoas, dos quais 8 mil são de cidades da região de Ribeirão Preto e de outros estados brasileiros. Em seus corredores circulam histórias interessantes de pessoas que viajam dezenas, centenas ou milhares de quilômetros em busca da cura. Mirian Bezerra, professora de Educação Física, 25 anos, é uma dessas pacientes “estrangeiras” que vai ao hospital pelo menos uma vez por semana para tratar uma doença conhecida como escoliose. Residente em Guará, a 100 km de Ribeirão Preto, a jovem acorda por volta das 5 horas da manhã, e depois de um café da manhã reforçado para aguentar o longo dia de espera que terá pela frente, vai até à esquina de sua casa onde espera o transporte sanitário. Transporte gratuito, da área de saúde cedido pelas prefeituras para que seus moradores possam realizar tratamento em cidades maiores, onde os recursos de saúde são mais avançados, como no caso de Ribeirão Preto. Às 6 horas da manhã, o ônibus passa. A viagem de uma hora e dez minutos já se tornou habitual. “Logo que chego ao hospital, na recepção, pego um encaminhamento e vou até à sala fazer os exames de radiografia e o acompanhamento da fisioterapeuta”. Para ela tudo é muito sofrido e enquanto espera a turma da cidade fazer

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seus exames, se depara com realidades que chocam. “Já me deparei com pessoas com câncer e que ainda encontram prazer em viver, e que esperam a cura até o último instante, que acreditam acima de tudo na misericórdia de Deus. Isso marcou em mim e essas pessoas ficaram pra sempre em minha memória”. No final da tarde diz que agradece a Deus por mais um dia de batalha e chega em casa às 18 horas, aliviada, dando valor ainda mais à vida. “O maior desafio no HC é ver que tem pessoas com doenças piores e histórias mais sofridas que as minhas e isso me leva a lutar ainda mais”, finaliza a jovem. Segundo a assessora de imprensa do Hospital, Patrícia de Souza Cainelli, um olhar de carinho, um ges-

to solidário e um sorriso valem muito. “Com essas terapias simples e ao mesmo tempo poderosas, médicos, funcionários e voluntários garantem que, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, o ponto de partida é sempre o paciente, não a doença”, narra a assessora. Patrícia explica que além de tratar as doenças, também importa para a equipe do HC garantir aos seus pacientes confortos emocionais e respeito à condição humana. Ali são desenvolvidos projetos de humanização hospitalar, oferecendo novas perspectivas para o tratamento médico. Este trabalho conta com o apoio de mais de 100 pessoas. Outro ponto destacado é a impressionante “romaria” de ônibus que chega todas as manhãs, trazendo pa-

Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto é exemplo na área da saúde


centenas ou até milhares de quilômetros em busca da cura cientes em busca de tratamentos que são realizados exclusivamente no HC. Centro de referência em dezenas de doenças, o Hospital é também um espaço privilegiado da alegria da cura e um lugar de contrastes únicos. Repleto de sofrimentos, é um local onde os melhores profissionais trabalham com as melhores técnicas para salvar vidas e atenuar a dor.

Hospitalidade

Nenhum paciente nem sua família estão preparados para enfrentar a dura realidade de uma hospitalização. Um momento difícil na vida de qualquer pessoa, especialmente em casos de urgências e emergências. Carregada de inseguranças e angústias, a internação instala uma crise, ao tirar o paciente do seu cotidiano e colocá-lo em um mundo desconhecido. O programa de Acolhimento ao Paciente e Familiar realizado pelo Serviço Social Médico busca a humanização do atendimento, visando um tratamento digno, minimizando a ansiedade no impacto da internação. Programas como esses buscam detectar possíveis agravantes psicossociais que possam interferir na alta hospitalar. Mauro Souza Silva, morador de Ribeirão Corrente há 120 km de Ribeirão Preto, precisou da ajuda desta ação e conta que graças ao esforço dos funcionários do Hospital, conseguiu superar uma doença cardíaca. Segundo ele, não fosse a ajuda da equipe de psicólogos do HC, ele poderia carregar algum trauma que aquele lo-

cal lhe causou ao conviver com pessoas e realidades diferentes e tão doídas como a dele. “Fiquei internado no Hospital das Clínicas por alguns meses para fazer o tratamento. Eles estão realmente preparados para lidar com pacientes como eu e me fizeram perder o medo de encarar uma doença e um lugar com uma realidade muito dura, que não desejo que ninguém passe por isso”. Antes de chegar ao HC para qualquer tratamento o cidadão passa por uma triagem na sua cidade natal, onde é analisada a gravidade da doença e se os hospitais da própria localidade têm estrutura para a realização do tratamento adequado. É o que confirma a responsável pelo transporte sanitário na cidade de Guará, Lídia Junqueira. “Encaminhamos todas as especialidades que não temos no município, casos de alta complexidade ou urgências pelo sistema do SUS, mas a maioria dos atendimentos já são pacientes que têm o cartão do HC”. Seo Júlio Cesar Teófilo, aposentado de 56 anos, sai três vezes por semana, de Santa Rosa do Viterbo (74 km de Ribeirão) para fazer tratamento dos rins. Ele conta que o hospital de sua cidade não tem estrutura suficiente para tratar a doença. “Lá não temos muita estrutura, fiz um exame e o médico me indicou o HC para me tratar”. Emocionado, ele fala das dificuldades. “Vir aqui não é fácil, a viagem cansa, o tratamento também, mas é com muita vontade, coragem

e o apoio da família que supero meus problemas”. Com a voz embargada, Seo Júlio fala da relação com o HC. “Minha relação com o hospital de Ribeirão é como de mãe para filho. as Clinicas é essa mãe que me acolhe e aceita mesmo com as minhas debilidades da doença. Agradeço aos médicos, e a todos deste lugar pelo apoio”. Motorista de um dos chamados transporte sanitário, Adailton Cristino Rissi, viaja toda semana mais 80 km com 50 doentes e admira a forma com que esses pacientes se relacionam com suas dificuldades. “É impressionante a alegria com que eles encaram esses problemas, sempre sorrindo, conversando, cantando e contando sobre suas vidas como se nada estivesse acontecendo com elas”. Adailton disse aprender com cada um dos transportados. “Muitas vezes reclamo sobre a minha vida, se eu tivesse uma doença como essas pessoas têm, com certeza eu reclamaria mais. Encarar tudo isso com alegria é para poucos. Vendo o que eles vêem dentro desse hospital e vão embora mais realizados do que vieram, isso me surpreende. Estou aprendendo muito com eles”, finaliza o motorista. Vários desse relatos fazem do HC um lugar de contrastes, e sobre tudo um lugar do reencontro com a esperança, onde as dificuldades existem para serem superadas. Alegria, tristeza, doença, dor, conforto, todos são adjetivos que envolvem o Hospital das Clínicas, mobilizam pacientes viajantes que vêm para Ribeirão em busca da cura.

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Negócios

Ribeirão Preto

a força no int Texto: Francieli Spadari

Fotos: Francieli Spadari e Divulgação

Considerada destino indutor do turismo de negócios e eventos, cidade mostra potencial em nível nacional e internacional. Uma cidade do interior com cara de metrópole.

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ue Ribeirão Preto é uma cidade boa para se viver muita gente já sabe. Reconhecida como um dos principais centros de pesquisas na área de saúde do País e um dos maiores centros universitários do Brasil, com sete universidades, é polo respeitado de prestação de serviços e comércio. Com tanta qualidade de vida e economia, é natural que a cidade seja destaque nacional. Mas não para por ai. Recentemente, recebeu do Ministério do Turismo (MTur), o título de Destino Referência em Turismo de Negócios e Eventos. Isso demonstra que Ribeirão é muito mais do que Capital Nacional do Agronegócio. É uma potência em constante crescimento e adaptação. Para se ter ideia, uma pesquisa divulgada pelo IPC Marketing apontou que em 2012 o interior de São Paulo vai ultrapassar, pela primeira vez na histó-

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ria, a região metropolitana da capital como o maior mercado consumidor do País. Entre 2009 e 2011, o Produto Interno Bruto (PIB) de Ribeirão cresceu, em média, 8%. A título de comparação, o crescimento do PIB brasileiro de 2010 foi de 7,5%. Agora, ao se tornar Destino Referência do Turismo de Negócios e Eventos, o município se torna vitrine para investidores e indústria turística, pois o turismo de negócios está diretamente relacionado à alta capitalização, uma vez que movimenta a economia local gerando receita para bares, restaurantes, aeroporto, táxis, centros de eventos e, principalmente, para o setor hoteleiro. O que atrai essa modalidade de turismo é a completa infraestrutura que está em contínua melhoria. Os empresários percebem e investem aqui. Uma volta pela cidade e é possível notar, por exemplo, a

quantidade de hotéis e flats que estão sendo construídos. A expectativa em médio prazo é que os leitos cheguem a mais de 11 mil, hoje são 10,6 mil. Para o secretário de Turismo, Ta-


terior paulista

Em sua última edição, a 18ª Feira Internacional de Tecnologia em Ação (Agrishow 2012), movimentou cerca de R$ 2,3

bilhões - com um crescimento de 13% em relação ao ano anterior - e as operações financeiras movimentaram R$ 1,75

bilhão. O evento recebeu agroempresários de várias regiões do Brasil. Foram mais de 135 mil visitantes, dos quais 800 eram estrangeiros que negociaram cerca de R$ 25 milhões em tecnologia agrícola, segundo a assessoria do evento. Dados do Sindicato de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, apontam que 70% das acomodações da cidade foram reservadas para a Agrishow.

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Negócios

Ribeirão tem o excelente estigma de ser uma localidade que concentra renda, prosperidade e oportunidades de negócios. É a nossa filial mais importante e expressiva.

Karina Lima Consultora Organizacional da Calcos Operadora (São Paulo)

Gerente Comercial da Sprinntur Operadora (Ribeirão Preto)

Ricardo Domingues Diretor Executivo da Associação de Resorts do Brasil

nielson Campos, os pontos de destaque que tornam a cidade referência estão relacionados à infraestrutura. “Apresentamos uma localização privilegiada no interior paulista, atendida por excelentes rodovias e com voos diários para as principais cidades do país. Além disso, Ribeirão possui excelentes centros de convenções e eventos”. O secretário explica ainda que a criação de uma secretaria específica alavancou ainda mais os incentivos para atrair mais investidores para e mais eventos do segmento façam

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O que impressiona e acho que faz a diferença, são as pessoas. Ribeirão Preto é uma cidade grande que ainda atende as pessoas com jeitinho de interior. Temos que manter essa característica sempre, claro, com competência e com tecnologia atualizada.”

A mais de seis anos a Resorts Brasil realiza, ao menos, um evento na cidade. A infraestrutura é fantástica e encontramos o suporte necessário para a realização de eventos profissionais. Outro atrativo da cidade é o poder de consumo de seus habitantes, atraindo ainda mais nossos investimentos neste mercado.

parte da agenda da cidade. A Secretaria Municipal foi criada há quatro anos. É mais velha qua a Secretaria Estadual e somente seis anos mais nova que o próprio ministério do Turismo, criado em 2002. “Ribeirão Preto está com um nível de maturidade muito legal. Estamos trabalhando, não com o intuito de promover eventos, mas de divulgar a cidade para captar esses eventos de negócios e trabalhar as políticas públicas para cada vez mais receber melhor”. Entre as lutas da Secretaria, Tanielson destaca o ae-

roporto que já melhorou, segundo ele, mas que agora irá se transformar em aeroporto internacional de cargas, o que trará a Vigilância Sanitária (ANVISA), a Polícia Federal, entre outros importantes órgãos. O turismo de negócios é a modalidade turística de maior influência no giro de capital da cidade. Diferente, por exemplo, de destinos praianos, onde o turista leva coisas da própria cidade ou fica na casa de parentes e amigos, o turista de negócios que vai para um evento ou reunião quer apro-


veitar um pouco mais o que a cidade tem a oferecer. Atrair esse público não é tarefa simples. Para Márcio Santiago, presidente do CV&B (Convention Visitors & Bureau), o caminho também está na construção de estruturas e condições propícias para o desenvolvimento da modalidade. “Basta ver o número de novos hotéis executivos que estão vindo para cá e o aumento de empresas de eventos, segurança, fornecedores de equipamentos, buffets, espaços para eventos, baladas, choperias, locadoras de veículos, etc”, diz Santiago. Além disso, Ribeirão é o centro de uma região que tem 85 cidades num raio de 100 quilômetros. São 3 milhões e meio de habitantes da região, mais os 600 mil de Ribeirão. Outro atrativo para esse público são as opções de lazer e entretenimento. Ribeirão conta com 2,1 mil estabelecimentos de alimentação e não é à toa, que é bastante lembrada pelos botecos e casas noturnas, tanto que aqui também acontece o famoso concurso “Comida de Boteco”, que abre margem para destacar a gastronomia multicultural. “Na gastronomia não temos um prato típico de Ribeirão, mas temos a do mundo inteiro, tanto que trouxemos para cá o Restaurante Week, um evento de alta gastronomia” afirma Campos. É comum encontrar bares, restaurantes, boates e casas de shows lotados. Além da questão comercial, esse encontro entre diferentes públicos, possibilita troca de culturas e interação. “Ribeirão tem um roteiro cultural fantástico. Temos o segundo maior teatro de ópera do Brasil, temos o Municipal, de Arena e particulares como o Minaz e o Santa Rosa. Há espaços culturais como o Cine Cauin, vários museus como o Instituto Figueiredo Ferraz, o MARP, bibliotecas, além de sete parques” acrescenta Campos.

O Brasil está na moda, está na vitrine dos grandes eventos e estamos inserindo a cidade nessa vitrine e a tendência é cada vez mais atrair o turismo de negócios e mundo para Ribeirão Tanielson Campos Secretário de Turismo

Fatores que tornam Ribeirão Preto destino referência em Turismo de Negócios ÅÅ ÅÅ ÅÅ ÅÅ ÅÅ ÅÅ ÅÅ ÅÅ

ÅÅ ÅÅ ÅÅ

A concentração de um polo industrial expressivo Existência de centros tecnológicos e acadêmicos de excelência Boa acessibilidade terrestre Existência de aeroporto com frequência regular de voos nacionais e regionais Ocorrência frequente de eventos técnico-científicos nacionais e internacionais Existência de feiras de negócios regulares Boa infraestrutura geral Boa infraestrutura turística, com destaque para equipamentos relacionados à realização de eventos (hotéis com salas, centros de convenções e exposições) 52 hotéis, com 8,6 mil leitos (ou vagas), além de 30 motéis, com 2 mil leitos, totalizando 10,6 mil leitos de quartos na rede da cidade; A gastronomia variada que conta com 851 casas, entre bares e restaurantes, que atraem turistas e geram mais de 4.000 empregos diretos; Centros de convenções e espaços para eventos com capacidade para mais de 5mil pessoas.

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Negócios

Os eventos de negócios

O Encontro Nacional das Agências de Viagem acontece há 15 anos em Ribeirão Preto, no Centro de Eventos Taiwan – um dos maiores da cidade,

com mais de 6 mil metros quadrados. Segundo a assessoria de imprensa,

este ano em sua 16ª edição, o evento reuniu mais de 2 mil expositores

nacionais e internacionais, ligados aos diferentes setores do turismo, como aviação, hotelaria, operadores, marítimas, entre outros. Mais de 4 mil

agentes de viagem se reuniram durante dois dias em busca de oportunidades, parcerias e negócios com expositores.

E

ventos como a Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agricola em Ação), AVIRRP (Encontro Nacional das Agências de Viagem) e a Feitrans (Feira de Negócios, Tecnologia e Logística do Transporte), são exemplos visíveis desse progresso. Embora com focos diferentes, apresentam características comuns, como a presença de público em massa, expositores nacionais e internacionais, oportunidade de negócios entre os participantes e principalmente a movimentação direta da cadeia econômica da cidade. A organização

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vai muito além de montar estandes e mostrar os produtos. Existem palestras de capacitação, congressos, fóruns que acontecem dentro da programação e podem ser considerados mega eventos. Mas há dezenas de outros de menor visibilidade, porém de alcance nacional e internacional. As principais características dos eventos de negócios são exatamente proporcionar vendas, networking e parcerias. Segundo o MTur, o turismo de negócios (e eventos) compreende o conjunto de atividades turísticas decorrentes dos encontros de interesse profissio-

nal, associativo, institucional, de caráter comercial, promocional, técnico, científico e social. De acordo com o Núcleo de Economia da Associação Comercial e Industrial (ACIRP), o turismo de negócios constitui-se em oportunidades de incremento e diversificação do investimento em uma região. Por esse motivo, ajuda a determinar a trajetória de crescimento e desenvolvimento econômico da cidade. “Esse movimento pode ser mensurado pela análise da estrutura econômica existente no espaço urbano. Os tipos de empreendimentos e projetos existentes na economia de Ribeirão Preto revelam a infraestrutura, o suporte e apoio ao crescimento dessas atividades. São palestras, workshops, videoconferências, rodada de negócios, eventos empresariais dos mais diversificados que movimentam os empreendedores em busca de novas oportunidades”, comenta o economista Fred Guimarães.



Negócios

para o alto Em 10 anos, o crescimento imobiliário em Ribeirão Preto valorizou em 300% os imóveis de alguns bairros da cidade; o número de imobiliárias triplicou.

A

Texto e Fotos: Luís Eduardo Sandrin

cidade de Ribeirão Preto é conhecida pelo chopp, pela fama de capital do agronegócio, por seus pontos turísticos, mas além dessas atrações também ocupa a 19º posição no ranking dos municipios brasileiros com maior poder de consumo no ano de 2011, superando capitais como Sergipe, Cuiabá, Florianópolis, Macapá, Rio Branco, Vitória, Boa Vista e Palmas. É o que aponta o estudo IPC Maps, da IPC Marketing Editora. Transformado em valo-

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res, são quase R$ 13 bilhões em consumo no ano passado. Esses números chamam a atenção de grandes empresas, investidores e de pessoas bem sucedidas procurando qualidade de vida em uma cidade do interior. O estudo mostrou que a média da renda per capita anual urbana da cidade, medido pela IPC foi de R$ 20.776,78. Todos esses atributos fazem com que haja um crescimento imobiliário em Ribeirão Preto que tem sido destaque no cenário nacio-


nal. Nos últimos três anos, foram centenas de empreendimentos lançados e ainda há dezenas já aprovados pela Prefeitura Municipal que devem ser construídos nos próximos meses. O mercado de alto padrão se destaca. Em junho de 2012, um edifício inteiro de apartamentos, na área nobre da cidade, foi vendido em dez horas, ainda na planta. O valor das 84 unidades e quatro coberturas variavam entre R$ 500 mil e R$ 900 mil. Segundo o diretor de uma grande imobiliária local,

Leonardo Meneguzzi, Ribeirão Preto ainda tem muito potencial de crescimento e está na mira de empresas de todo o País. Observando esse crescimento as imobiliárias se empolgam, e com o crédito acessível para adquirir a casa própria, as pessoas ficam cada vez mais entusiasmadas em sair do aluguel. Com todo esse poder de compra e venda, a procura por apartamentos é quase unânime, e aos poucos as casas vão se esvaziando, principalmente na região central da cidade. 2012 – VIDA URBANA

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Cidades

Por esse fato, as imobiliárias estão lotadas de casas para alugar, embora até para alugar os inquilinos procurem apartamentos, principalmente estudantes de fora que vêm morar aqui. Muitos moradores também que residiam em casas em bairros residenciais, mudaram-se para condomínios horizontais. A paisagista Helôisa Bortoletto morou toda sua vida em um bairro residencial na zona oeste de Ribeirão Preto, em uma casa 102 metros quadrados. Recentemente mudou-se para um apartamento de 66 metros na zona sul, com seu marido e os dois filhos ainda estudantes, Anna Terra e Alvaro. Ela diz que fez a opção por ser a realização de um sonho que tinha com o marido desde recém-casados, no caso, morar em um bairro valorizado, com boa qualidade de vida. “A escolha pelo apartamento foi porque os empreendimentos nessa região são todos prédios e condomínios fechados. Na maioria das vezes, os apartamentos são mais convenientes, porque pegamos o imóvel pronto, sem contar que é mais barato”, diz Helôisa. Os apartamentos também são preferidos por muitos moradores por questão de segurança. Esse fato foi o que influenciou o marido, Álvaro Bortolleto, a concordar com a mudança. “A segurança foi outro ponto crucial em nossa escolha. Nossa casa foi roubada duas vezes, meus vizinhos já até perdi as contas e no apartamento é mais difícil que isso aconteça. Na chancela tem porteiro, em todas as paredes e corredores têm câmeras, os meus filhos podem chegar da faculdade ou da balada à noite sem se preocupar com o movimento em volta, já que o porteiro está presente e as câmeras filmando”, explica. Essa procura por apartamentos faz com que as construtoras invistam

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mais e mais nesse tipo de empreendimento. Segundo dados fornecidos pela Secretaria de Planejamento, de 2007 até 2012, de 109 prédios foram construídos na cidade. Leonardo Meneguzzi diz que esse número mostra o crescimento expressivo para um cidade do interior do estado. “ Essa expansão atrai os mais diversos tipos de investidores. Muitos veem os imóveis como fonte de renda fixa, no caso de aluguel, ou de moeda de troca, no caso de compra e venda, segundo o corretor, Eduardo Ricci. Por esse motivo, o número de imobiliárias na cidade cresce tanto quanto a construção civil. De acordo com o Cadastro Nacional em 10 anos Ribeirão Preto duplicou o seu número de imobiliárias regularmente registradas. Em 2002 eram 114; já em 2012 são 243, sem contar as pessoas que trabalham informalmente ou com o Cresci de pessoa física, diz Rodrigo Wilde, diretor do site Marketing Imobiliário. O número mostra que Ribeirão é a segunda cidade com mais imobiliárias no interior de São Paulo, atrás de Campinas com 293 e na frente de São José do Rio Preto, com 192. O crescimento se dá na mesma proporção no cadastro dos imóveis. Dez anos atrás o número de imóveis registrados nas imobiliárias era de 1.752. Hoje são 4.521 para venda e locação, de acordo com o site do Cadastro Nacional de Imóveis. A zona sul de Ribeirão é o foco das construtoras. De acordo com um breve levantamento feito com os corretores das construtoras Stéfani Nogueira, Bild, Copema e Habiart, a maioria dos empreendimentos residenciais é localizada na zona sul ou na zona leste. Já os empreendimentos corporativos são feitos na área central. Há oito anos a empresária Tereza Caneli comprou um apartamento em

um pequeno prédio no Jardim Irajá, na zona sul de Ribeirão Preto, por 60 mil reais. Recentemente ela e a filha queriam se mudar e chamaram um corretor que avaliou o apartamento em 260 mil reais, uma valorização de 340% em oito anos, “ Nunca imaginei que um apartamento pudesse valorizar tanto assim em tão pouco tempo. Se tivesse dinheiro investiria nisso”, fala Tereza. Já a administradora Marcela Nogueira morava em uma casa no bairro Vila Seixas, região sul da cidade. Há 15 anos ela havia pago 58 mil reais na casa. Por motivos profissionais mudou-se para Sertãozinho e alugou a casa. Há alguns meses ela decidiu vender sua casa e comprar um apartamento usado em um prédio na mesma rua. Segundo ela, o valor do imóvel é de 240 mil reais. Já sua casa, que é em frente ao prédio, é avaliada em apenas 150 mil reais. “ Não compensa vender. É melhor deixar alugado, pois como o valor que recebo de aluguel pago o financiamento do novo apartamento”, diz a administradora. Segundo Eduardo Ricci, muitos bairros e imóveis vêm se valorizando por causa dos novos empreendimentos que são construídos em volta. “Isso acaba dando um ar de novidade, coisa nova para o bairro, acaba virando uma referência, desperta o interesse dos compradores e acaba aumentando a procura e os valores” . De acordo com profissionais da área de economia e marketing imobiliário, as grandes capitais lideram o mercado de imóveis no Brasil, mas no interior paulista a líder é Ribeirão Preto. Segundo o economista Mauricio Machado não existe risco de uma catástrofe financeira ou uma bolha imobiliária. “ Se houver virá primeiro nas capitais, mas conforme acontecer, o Governo Federal certamente tomará providências para conter uma possível crise”.

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Mundo Digital

A democracia da internet seduz, assusta e para aqueles que sabem fazer uso da ferramenta o mundo virtual é um terreno fértil para os négocios

D

esde que começou a fazer a parte da rotina dos brasileiros em 1994, a internet mudou muitos hábitos e o que antes parecia ficção científica tornou se realidade.Hoje o universo online faz parte da rotina dos brasileiros e um dos setores mais movimentados é o de compras. A facilidade de se comprar qualquer coisa em qualquer parte do mundo sem sair de casa é o principal atrativo do ecommerce. A rede apresenta um ambiente onde a concorrência é livre e traz vantagens tanto para quem vendedores quanto para compradores. Gigantes nacionais e estrangeiras foram as pioneiras no ramo quando

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não se sabia muito o que estava por vir e atualmente movimentam milhões por ano, figurando na lista das maiores empresas do mundo. O faturamento do setor saltou de 500 mil em 2001 para 18,7 milhões em 2011. De acordo com o Instituto Nielsen Netratings, o Brasil possui 47,5 milhões de usuários ativos na rede. Desses, 31,7 milhões fazem compras online. Tamanho crescimento leva especialistas a estudar o fenômeno. Assim, em meados de 2010, o Ibope realizou uma pesquisa para medir o perfil desses usuários. Foram 2.500 pessoas entrevistados no Sul, Sudeste CentroOeste e Nordeste do Brasil, entre 15

e 64 anos . A pesquisa indicou que as classes A e B são a maioria dos compradores virtuais somando 61%. A classe C possui a fatia de 35% , sendo os outros 4% da classe D. O perfil dos usuários indica fidelidade dos consumidores. Álvaro Filho, turismólogo, faz compras online desde 2008 quando adquiriu um par de tênis pela internet pela primeira vez. “Me lembro de que havia um receio quanto à segurança. Eu não tinha garantia nenhuma que o tênis ia chegar, mas quando vi que o site era correto e os produtos chegavam no prazo me tornei cliente assíduo” . Assim como Álvaro, 83% dos usuários da internet usam a rede


Texto: Joanna Prata

lões. Com cerca de 40 peças vendidas por mês inicialmente ela aumentou a renda em mil reais. “A ideia veio da minha filha quando eu buscava uma renda extra para os gastos de fim de ano”, diz Lucy. Deu tão certo que dois anos depois Lucy solicitou o cadastro no Micro Empreendedor Individual (MEI) para poder vender também produtos novos e aumentar ainda mais sua fonte de renda. “Os sites de leilões democratizam o comércio online. Grandes empresários, pequenos e pessoas físicas brigam pelo mesmo público na plataforma”, explica Lucy.

como principal meio de pesquisa de produtos e empresas. A maior fatia do bolo de vendas cabe às passagens aéreas, sites de leilões, automóveis e empresas especializadas apenas em vendas online.Porém, o maior crescimento na atualidade é a expansão de negócios físicos para o universo online. Gustavo Campos em 2010 incluiu no site da sua loja de armarinhos a opção de compras e desde então os lucros aumentaram cerca de 35%. “Através da internet eu pude alcançar um maior público. Com a vantagem de estar no conforto de casa gastam mais tempo pra escolher e acabam gastando mais

que nas visitas à loja”. Algumas adaptações tiveram que ser feitas na administração para que tudo funcionasse bem. “Eu estudei tudo antes com um advogado e com meus fornecedores. A dificuldade maior foi para planejar a logística para o envio das mercadorias nos prazos fechados com os clientes.” E embalado nesse crescimento, quem nunca havia se arriscado no universo das vendas tem encontrado uma forma para aumentar a renda, como aconteceu com Lucy Andrade, dona de casa, que descobriu uma nova atividade para o computador. Ela começou em 2007 a vender bolsas usadas através de um site de lei-

Ambiente aberto A internet é um ambiente aberto a todos e a má fé pode ser facilmente camuflada com a proteção da identidade de quem está sentado do outro lado da tela. Soma-se a isso a legislação brasileira que ainda não é clara quanto aos direitos do consumidor. “O CDC (Código do Defesa do Consumidor) alberga o consumidor de maneira genérica. Em toda relação contratual, como a relação comercial entre fornecedor e consumidor, é aplicável o CDC. Não há nenhum tópico específico quanto a compras online. Mas é importante salientar que em compras efetuadas em sítios estrangeiros, fica muito reduzida a aplicabilidade da legislação nacional ”, alertou o advogado João Henrique de Paula Lopes, especialista em Direito do Consumidor. Para evitar dores de cabeça, o consumidor deve sempre verificar o histórico da loja, números de telefone e sites de reclamações de usuários. Em defesa do consumidor, na última semana de novembro a Fundação Procon-SP divulgou uma lista com 200 sites de compras online que devem ser evitados. A lista tráz os endereços, a razão social, o CNPJ ou CPF e está disponivel no endereço: http://www.procon.sp.gov.br/pdf/acs_sitenaorecomendados.pdf

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Blo

Mundo Digital

na moda do

Texto: Carol Strabelli – Fotos: Carol Strabelli / Divulgação

C

om a evolução da internet, os blogs estão cada vez conquistando espaço na vida das pessoas. A chamada “blogosfera” chega a ganhar um novo blog a cada 7,4 segundos, de acordo com o site Technorati, buscador que monitora os blogs. Independente de qual seja o tema abordado, o objetivo dos blogueiros é a exposição - serem lidos por outras pessoas, expor seu ponto de vista

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e dar sua opinião. Nos últimos tempos, porém, um novo tipo de blog parece se sobrepor aos outros: o que está na moda são os blogs de moda. Mulheres e homens integrados ao universo “fashion”, onde comercializam ou simplesmente consomem as últimas novidades, utilizam o espaço virtual para discorrerem sobre as tendências nos seus blogs, e alguns trabalham com isso 24 horas por dia.

Moda nada mais é do que a tendência de consumo da atualidade e pode ser encontrada até no simples ato de escolher o que vestir todos os dias pela manhã. É um tema que se encaixa em qualquer assunto, e serve de inspiração para aqueles que a seguem. E em 2012, a moda se transforma a cada dia que passa. Esse universo gigantesco e cada vez mais profissiona-


og ‘‘

Eu vejo como as pessoas se vestem na rua, o que está nas vitrines das lojas e leio muitas revistas especializadas.

lizado e divulgado pela mídia se supera e surpreende as pessoas com cores mais vivas, texturas fantásticas, tendências novas, cortes inusitados e inovadores. No Brasil, de acordo com uma pesquisa realizada em 2011, a indústria da moda reúne 30 mil empresas, movimenta R$ 50 bilhões por ano e emprega 1,7 milhão de pessoas. Nos últimos 10 anos, o país investiu US$13

bilhões na indústria da moda, tendo um total de 9 bilhões de peças de confecção produzidas por ano. Referência mundial em design de moda praia, “jeanswear” e “homewear”, o Brasil tem crescido também nos segmentos de “fitness” e “lingerie”. Por ano, cerca de 130 jornalistas de

moda de todo o mundo visitam o país. Em Ribeirão Preto não é diferente. Na cidade, o comércio de moda é intenso, com cerca de 1300 lojas voltadas para os vários segmentos desse 2012 – VIDA URBANA

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Mundo Digital

nicho, como modinha, moda clássica, acessórios, moda praia e surf e sapatos. Além disso, Ribeirão conta com um público de grande poder aquisitivo e no final de novembro ganhou mais 41 novas lojas só em um dos shoppings da cidade. Sem contar a próxima inauguração de um shopping de elite que trará para a cidade várias grifes internacionais. Ribeirão não poderia ficar atrás quando a moda migrou para a blogosfera. A blogueira Vick Santanna, do blog ViCkNeWs (www.vicksantanna.blogspot.com.br), tem seu blog há quase 1 ano. Ela conta que enquanto cursava a faculdade de Publicidade e Propaganda, sempre se direcionou mais para a área de redação, roteiros de vts e imagens. “Penso que sempre fui blogueira mesmo antes de ter um blog”, afirma Vick. “Nas redes sociais, desde o antigo Orkut, eu gostava de unir textos e fotos de diversos assuntos”, comenta. Depois de uma especialização em Produção de Moda e de ter conhecido outras blogueiras que a estimularam, Vick se sentiu incentivada a dar vida a um blog voltado para esse universo. “Em um fim de semana, me animei e fiz vários posts sobre viagens, gastronomia, eventos e, principalmente, moda. De lá pra cá, nunca mais parei”, completa. Moda como conceito Com um blog todo trabalhado no “animal print” de onça, que já é sua marca registrada, Vick conta que o que gera mais repercussão no seu blog são as novidades, por isso leva o nome “ViCkNeWs”. “Tudo o que é “new”, as leitoras gostam bastante e muitas até copiam. Em geral, os eventos que frequento, mas também as atualidades das personalidades, as tendências de moda que pesquiso e divulgo. Sempre dou a minha opinião a respeito, e a “tag” (seção) ‘A cor da

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“ “

Virei blogueira por

Sempre fui

acaso, não tinha a

blogueira mesmo

fiz o blog para “trocar

um blog.

menor intenção de ser, figurinha” com as minhas irmãs.

antes de ter

- Vick Santanna

- Monica Davi

semana’ que é a cor e marca de esmalte que estou usando naquela semana faz muito sucesso”, finaliza. Colunista de moda de uma revista de Ribeirão que veicula a coluna também como blog, Maisa Valochi (http://revide.com.br/blog/maisa-valochi/) conta que, pra ela, a moda vai muito além da combinação de roupa + sapato + acessórios. “Através do que se veste, cria-se uma imagem, passa-se um conceito, expressase uma ideia. A moda é uma forma de manifestação”, comenta ela. Jornalista há 10 anos, Maisa teve seu primeiro contato com a moda através da revista de um shopping da cidade. Essa relação foi se estreitando com o passar do tempo. Há alguns anos, ela foi convidada pela direção da revista onde está até hoje para escrever uma

coluna de moda, cujo conteúdo seria publicado também em seu portal. “Minhas postagens são feitas semanalmente, assim como a periodicidade da revista”, diz ela, que tem muitos seguidores entre as duas mídias. “Vejo como as pessoas se vestem na rua, o que está nas vitrines das lojas e leio muitas revistas especializadas. Os comentários mais frequentes são de solicitação de endereço e telefone, o que demonstra que realmente as leitoras estão interessadas em consumir”, explica. Dona do blog “Hoje é Dia de Irmã” (http://hojediadeirma.blogspot.com. br/), a blogueira Monica Davi comenta que se interessou pela atividade por acaso e que moda é sinônimo de liberdade de expressão. “Hoje, mais do que nunca, a moda é muito mais livre e se tornou meio de expressão individual. É


isso que ela carrega de mais interessante e importante”, conta. Monica revela que começou escrevendo e-mails para as irmãs. Moravam longe e conversavam sobre coisas que descobriam e viam, até que uma prima também quis receber esses e-mails, assim como uma colega de trabalho. “A coisa cresceu, transformei esses relatos em um blog. Mudei um pouco o assunto e passei a escrever mais sobre moda, beleza e viagens, mas minhas irmãs continuam sendo minha principal motivação, eu escrevo pra elas”, relata. Com um público bastante diversificado, o blog da Monica possui leitoras até no exterior, algumas são, inclusive, blogueiras que se interessam pelos assuntos que Monica aborda no seu espaço virtual. Ela conta que o que mais repercute no seu blog são

as fotos. “As fotos são minhas, sou eu que faço, mas quando vou falar de alguma coisa da qual não tenho imagem, eu pego na internet”, afirma. “Não comercializo. Quando gosto de uma marca, publico em troca de nada, nem de presentes”. Diferentes visões Leitora assídua, a jornalista de Ribeirão Francis Neves conta que lê vários blogs voltados para o mundo da moda e que usa as dicas no seu dia a dia. “Acesso com o objetivo de ver diferentes estilos e formas de montar os looks, para que sirvam de referência no meu jeito de vestir”, comenta. “O que mais me interessa são os looks do dia, que a maioria das blogueiras postam, mostrando como elas se vestem nos eventos que frequentam”, completa Francis, “Eu cos-

tumo prestar atenção nos “reviews” das marcas, que é como uma análise crítica que elas fazem. Acho que vale muito na hora de comprar”, finaliza. Patrícia Cardeal, jornalista de site, lê os blogs para se manter atualizada no mundo da moda. “Eles trazem diferentes visões, tendências e dicas super úteis”, garante. “Gosto de ver o que está em alta e o que está sendo usado fora do Brasil. Aproveito para ver também se o meu guardaroupa está acompanhando a moda”, completa. Patrícia conta também que adora as dicas que os blogs dão. Segundo ela, às vezes aquela peça ou acessório que você tem dentro do guarda-roupa e está pensando em aposentar, com as dicas de moda dos blogs, pode ser renovado e voltar a ser uma peça nova. 2012 – VIDA URBANA

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Olha s贸 quem est谩 cantando de galo.


Mundo Digital

A tecnologia é um mundo encantado para as crianças. Luzes, sons e movimentos atraem os pequenos e transformam os aparelhos eletrônicos num parque de diversões. Mas até onde essa relação é saudável? Texto: Natália Dovigo – Fotos: Natália Dovigo/Divulgação

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Isabella acorda às dez horas. Levanta, toma o café da manhã, escova os dentes, troca de roupa e quando termina seu ritual matutino, já está na frente do computador. Joga até a hora de vestir o uniforme, almoçar e ir para a escola. Com apenas sete anos, a pequena adora estar conectada e ficar se divertindo com os jogos online. A mãe tenta controlar o tempo que ela fica em frente ao aparelho, verifica os jogos e tenta aliar a tecnologia a brinquedos lúdicos. “Faço a Isabella entrar somente em sites com jogos direcionados para crianças, além de levar ela e o irmão para brincar no parque nos finais de semana e se distrair com outras coisas que não sejam virtuais”. Computadores, tablets, celulares e vídeo games. Essas mídias estão cada vez mais presentes na vida e no cotidiano das crianças, seja na escola ou em casa. Mas será que essa relação entre os pequenos e a tecnologia é saudável? Um fato inegável é que desde a barriga da mãe, o bebê tem contato com a tecnologia, através de ultra-sonografias super modernas que são cada vez mais comuns no mercado. Ou seja, as crianças já nascem imersas no mundo digital. Ao longo do crescimento e dos estímulos externos, a intensidade do contato com os aparelhos eletrônicos

Giovanni com o pai: a importância do convivio prazeroso

é cada vez maior. Muitos querem “copiar” os pais, utilizando celulares. Outros sentem necessidade de se adequar aos padrões midiáticos indo em busca de jogos tecnológicos. Segundo um estudo do Comitê Gestor de Internet, CGI, sobre o uso de tecnologias por crianças entre cinco e nove anos de idade, uma em cada quatro crianças brasileiras usa internet. Das 2.516 crianças ouvidas, 51% disseram já ter usado um computador, e cerca de metade delas (27%), internet. Os celulares também têm vez. Praticamente seis em cada dez crianças já utilizaram um aparelho móvel e duas possuem seu próprio. 59% disseram usar celular e 18% declararam possuírem um. Um número surpreendente, que faz muitos pais temerem que seus filhos se envolvam demais com o mundo digital e deixem a sociabilidade de lado. Segundo a doutora em educação, Heliana Palocci, ensinar a criança a conviver com outras é uma tarefa que demanda a atenção dos pais, já que esse é o começo da vida social do pequeno. Para ela, o equilíbrio e o bom senso são essenciais na educação de uma criança. A educadora explica que os pequenos não podem passar a tarde inteira jogando no computador, ou atravessar a madrugada conectados a um tablet. E acredita que é importante ter contato com a tecnologia, mas isso não pode se tornar um motivo de vida para o jovem. Participação e supervisão É o caso do Guilherme, uma criança de apenas seis anos de idade e que ganhou de aniversário dos pais esse ano, um tablet. Antes tudo era con-

trolado, ele somente acessava jogos educativos e não tinha problemas com o tempo de utilização do aparelho, mas depois de um tempo a rotina da criança foi se tornando diferente. Guilherme passou a ter notas baixas na escola, e o motivo alegado por seus professores era que ele estava disperso e não tinha motivação para fazer outras coisas a não ser brincar no tablet. Quando chegava na casa, o menino não fazia as tarefas propostas pela escola e nem brincava com os carrinhos e jogos de tabuleiro. Sua única conexão era com seu aparelho. Os pais, percebendo os problemas causados pelo equipamento eletrônico, decidiram estabelecer regras para o uso, como estipular horários e fiscalizar os tipos de jogos que o filho acessava. Com isso, segundo eles, a criança teve uma melhora escolar significativa. Essa iniciativa tomada pelos pais é um dos princípios adotados pela psicopedagoga Flávia Rossini. Ela acredita que a relação criança-tecnologia pode ser muito boa, mas se tiver a participação, supervisão e moderação dos pais ou cuidadores. “Não há dúvida de que esses aparelhos podem contribuir para melhorar algumas habilidades da criança, despertar a curiosidade e desenvolver estratégias durante os jogos”, garante Rossini. “Porém é preciso a interação da família para direcionar a melhor maneira de usar tudo isso”. A educadora lembra que a fantasia, o convívio social, a criatividade, e o entendimento de que

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Mundo Digital

o mundo real não é igual ao virtual, são fatores extremamente importantes que precisam ser levados em consideração. Portanto, o adulto tem que “fazer” parte dessa interação, mediando e delimitando tempo para essa atividade e refletindo junto à criança sobre o que é permitido e o que não é. Outra questão, levantada pela coordenadora de educação infantil Teresa Pedreira, é se as crianças estão ou não preparadas para interagir com a tecnologia. Segunda ela, mesmo em fase de aprendizado, as crianças não devem receber alguns estímulos antes da hora certa. Um exemplo dessa antecipação é aprender noções de informática e ingressar no mundo digital antes que haja maturidade emocional e intelectual para isso. A educadora explica que essa imersão na tecnologia em certas fases da vida dos pequenos não proporciona o entendimento correto e eles não têm estrutura para saber trabalhar com os novos dados. Para Teresa, as crianças têm fases de desenvolvimento que devem ser respeitadas, não podendo ser dado a elas alguns conceitos antes do momento adequado. “As crianças aprendem muito rápido tudo o que lhes é ensinado, mas isso não significa que elas devem

Isabella e Giovanni: curiosidade por um mundo novo e fascinante

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conhecer esse conteúdo antes de estarem prontas. Esse excesso de informação e de estímulo precoce, numa fase de formação, pode ser prejudicial”, explica. Giovanni é irmão de Isabella, nossa primeira personagem dessa história, e tem apenas um ano e dez meses. Várias vezes fica junto com a irmã na frente do computador, observando-a jogar e até tentando brincar também. Os pais, Carlos e Isis, vêem isso como uma vontade de estar perto da irmã e não um “vício” em relação ao computador, já que o menino gosta mais de seus carrinhos que da máquina. “Levamos as crianças para brincar no parque, empinar pipa e o Giovanni adora’’, avalia Isis. “Além disso, ele é muito pequeno para querer ficar brincando no computador. Jogos educativos são mais importantes para ele”, garante o casal. A psicopedagoga Rossini comenta que a organização do tempo da criança deve ser estipulada pelos pais/cuidadores, e cumpri-la é fator decisivo

para que essas crianças não se tornem adultos sem ter vivido uma infância feliz. “Uma infância plena, nos dias de hoje, não significa ter apenas essas habilidades com máquinas e jogos eletrônicos, mas estar preparado para as diversidades, principalmente para que o convívio social seja prazeroso, a criatividade seja liberada, a fase das fantasias, vividas e o cérebro bem exercitado”. Assim, Isabella, Giovanni e Guilherme, com o apoio dos pais e a estrutura familiar e escolar auxiliando todas as brincadeiras, virtuais ou não, vão ter uma infância construtiva, unindo e desenvolvendo o lado cognitivo e emocional. Ou seja, tudo indica que o avanço tecnológico e o acesso a este novo mundo não são prejudiciais em si. Podem até ser mais um canal de estímulo e inteligência. O importante, segundo especialistas e pais ponderados, é a forma como se ingressa e se interage nesse fascinante mundo virtual.


Projeto

C O D

InInMemoriam Memoriam

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Universidade de Ribeirão Preto Universidade de Ribeirão Preto

2012 Projeto Projet Projet Projeto

CURSO DE

OCC DDO

COMUNICAÇÃO SOCIAL

201 201 201 201


Educação

Limites e possibilidades de uma forma tecnológica de ensinar e aprender Texto e fotos: Claudia Koizumi

A educação a distância, antes vista como uma modalidade secundária ou especial para situações específicas, destaca-se hoje como um caminho estratégico para realizar mudanças profundas na educação como um todo. É uma opção cada vez mais importante para aprender ao longo da vida, para a formação continuada, para a aceleração profissional, para conciliar estudo e trabalho.

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Educação

O

dia-dia repleto normalmente se estende também na hora de estudar. O ritual inclui encher a bolsa ou a mochila, braços ou pastas com livros, cópias, apostilas e cadernos e se deslocar para a universidade ou faculdade. Mas, para 930 mil brasileiros essa rotina já não é mais necessária, pois esses estudantes fazem cursos em suas próprias casas ou em um lugar onde tenham acesso a computador e internet. A educação mediada por tecnologia, ou Educação a Distância (EAD), é uma modalidade de ensino que veio para ficar e sua principal vantagem é que tanto o professor quanto o aluno não precisam se encontrar na mesma hora e local para que as aulas aconteçam. No Brasil, a EAD aparece no século passado, por volta de 1904. Na ocasião, escolas internacionais, que eram instituições privadas, ofereciam cursos pagos, por correspondência. Trinta anos mais tarde, em 1934, chegou ao País o Instituto Monitor e, em 1939, o Instituto Universal Brasileiro tornou famosos os cursos a distância. Por meio digital, a EAD apareceu na década de 1990. Até bem pouco tempo, cerca de uma década atrás, no Brasil, havia somente 20.685 estudantes de EAD e apenas os cursos universitários presenciais eram respeitados. Quem oferecia graduação a distância eram instituições pequenas e pouco conhecidas. Hoje, essa realidade mudou e há cursos em EAD em praticamente todas as universidades, faculdades e centros universitários do País. A expectativa é que até 2015 um terço dos universitários estejam estudando nessa modalidade, proporção semelhante a dos países desenvolvidos, aproximadamente 16% a mais do que hoje. Para o professor da FEA-USP de Ribeirão Preto, José Dutra de Oliveira Neto, a graduação no modelo

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Dutra: expansão de vagas a distância foi inserida no Brasil por iniciativa do governo em busca de expansão do número de vagas no ensino superior, embora sem a preocupação com a qualidade. Mas, isso não foi empecilho para o desenvolvimento da modalidade. “A realidade brasileira já mudou e o governo criou leis, estabeleceu normas e critérios de qualida-

Flávia: muito proveitoso de para a modalidade de educação a distância no país”, explica o professor. Essa modalidade está crescendo devido a vários fatores como a flexibilidade nos horários de estudo, inexistência de problemas de deslocamento que resultam em perda de tempo - o que é muito comum nas grandes cidades - além dos preços serem mais aces-


Quem

síveis. Mas, o ensino digital também tem outra vantagem. O professor Dutra comenta que para aqueles que são mais tímidos é muito mais fácil interagir do que no ensino tradicional em que os mais extrovertidos se sobressaem. Também há a opção de personalizar a didática e oferecer a cada aluno um atendimento individual que numa classe presencial não seria viável. O coordenador da Divisão de Educação a Distância da Unaerp, Dyjalma Bassoli afirma que outro motivador desse crescimento é o desenvolvimento da tecnologia. “Há dez anos nós não tínhamos tecnologia suficiente como hoje. Atualmente, com a contínua evolução virtual, a forma de acesso e disponibilidade está ficando cada vez mais simples e rápida”. A expanssão da EAD se reflete no crescimento de formandos em algumas profissões. De acordo com o INEP/MEC – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o País tem formado mais professores para a Educação Infantil e para o Ensino Fundamental I por meio de Educação a Distância do que de forma presencial. Dos estudantes que em 2009 obtiveram as habilitações citadas, 55% graduaram-se por EAD, enquanto 45% fizeram-nas através do método tradicional. Diferentemente do aluno presencial, que tem todo um ambiente ao seu dispor, o aluno de EAD possui algumas características próprias que o ajudam a prender a atenção por longos períodos de estudo. Bassoli comenta que normalmente quem procura a EAD já está no mercado de trabalho e busca uma nova formação ou um complemento da formação. São também pessoas com mais idade e maturidade. O aluno virtual precisa ser autodidata e saber conduzir sua agenda de estudo de maneira que as

faz EA D diz :

A Ed ucaçã quem melho o a Distân ci r do q tudan ue o a a possui v te de ár lu Marke duaçã ting, F no para fa ias caracte o pres rístic lar s láv en eém uito p cial – come ia Feitosa – obre o assu as, mas nt r n o q t procu ra pel veitoso!”. C a com entu ue já curso o? A esa mod u uma s rários alidad om essa ex iasmo: “Est gra , pois o e p u r e v e l adora eio da ssão, e a trab Já o n a l do f l a a ha e t explic em um cilidade de – que estudante a q u ea de Jo conci a cria cursa rn liar os n a inseri das em penas algu alismo, Fel ça pequena homas d i . a dese s iscipli pe Baronce jar”. S eu curso – n l o Me as a d eg cr acomp deiros istânc anham undo Felip itica a mo i a , d e q e a , u n l i e a t d o e re A al ade: estão gran tá cur una do curs torno do p de dificuld “Ainda de san ad ixa ro o do mo do sua seg de Pedagog fessor. e é a falta unda i do pre d a , o Patríc gradu sencia estuda i a a C ç ã l a , r do q o EAD sa ue no pensa difer , além dey, que já cia e ente. presen diz qu esd e po “Tem cia ej de aul mais c ssuir outra a, poi á não tem l”. Ela com onteú enta s mais p do A tam s como tra o a b c r e i ê b ncia d sua pr para bém e alha o Nasci e s e t fe d udant mento e de P ia todo pre ficar em um rên, com ao cu edago fere e a sala enta rso studar g já está , por ter fic que no iní ia, Wailza s o z i nh Maria cio fo ad a i muit Ferna a. pre qu daptada. “H o um bom o n des d ero ap tempo oje eu if rende sem e ícil se adap leio m r mais studar tar ais, pe ”. ,m squiso bastan as hoje te e s em-

tarefas sejam realizadas sem a necessidade de cobrança por parte do professor, pois ele sabe que a vantagem de fazer suas tarefas em hora e local escolhidos não o isentam da realização das mesmas. O estudante “digital” precisa também levantar questionamentos, trocar informações, dar sugestões e opiniões, elaborando e expressando suas idéias de forma clara e concisa. De acordo com a tutora de disciplinas EAD da Unaerp, professora Alessandra Fracaroli Perez, os alunos dessa modalidade criam o hábito de pesquisar e abranger seus conhecimentos além do que está sendo pedido. Não somente em cursos de graduação, hoje a EAD abrange públicos que vão desde aquele que deseja concluir o ensino fundamental e médio, até quem deseja cursar um aperfeiçoamento, uma especialização e até mesmo mestrado. Os cursos de tecnologia estão entre os mais procurados. A educação superior

tecnológica dispo-

nibiliza mais de 3.500 opções de cursos para os estudantes. Graças aos avanços e investimentos nessa modalidade de ensino, 16% dos cursos superiores são destinados à formação de tecnólogos. Com todas essas alternativas, a educação a distância é a principal modalidade para quem tem dificuldade de acesso à educação presencial. Antes, a EAD não tinha credibilidade, era um assunto polêmico e gerava muitas divergências, mas hoje conquistou o seu espaço. Para os especialistas já é uma opcão importante e respeitada, pois o que determina a qualidade do ensino não é a modalidade, mas sim o conteúdo e os docentes que atuam em uma ponta e os alunos e sua dedicação no outro lado das telas dos computadores.

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RVAS medicinais

Plantas medicinais são frutos da terra, um presente que a natureza nos dá. Mas, para usá-las é preciso cautela. Muitas ainda não possuem dados científicos concretos, o que as tornam um fator de risco e intoxicação. Outras a ciência, no desenvolvimento da fitoterapia, já comprovou que possuem princípios que trazem benefícios à saúde.

Texto e fotos: Célia Santos

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o Brasil, os primeiros conhecimentos sobre o uso de plantas como remédio, remonta ao descobrimento do país, de acordo com relatos do historiador Gabriel Soares de Souza, autor do Tratado Descritivo do Brasil, de 1584. Nele há descrição dos produtos medicinais utilizados pelos índios, como no artigo “As Árvores e Ervas da Virtude”. “Com a vinda dos primeiros médicos portugueses ao Brasil, diante da falta de remédio empregado na Europa, os doutores recebiam o valor das consultas em moeda local: plantas medicamentosas utilizadas pelos indígenas”, diz o relato. Este fato histórico ilustra a influência cultural indígena no que se refere às ervas medicinais. Maria Dilma Vicalho Favacho, que há 29 anos é proprietária da Floresta Produtos Naturais, opina que os índios têm conhecimentos de plantas nativas dos quais absorvemos apenas alguns, que passaram de geração a geração. E continua Dilma: “Eu, por exemplo, venho do mato, nasci e fui criada na roça e meu pai tinha um conhecimento muito grande acerca da natureza das plantas, o cultivo, a colheita, para que servia, e passou pra gente, principalmente para mim que era mais velha: ‘tem que plantar na lua tal, tem que colher na lua tal...”’ E na medida em que esta matéria vai se compondo, percebe-se que os frutos da terra como presente da natureza para nós, aos poucos vão se tornando um presentão, porque não ficam limitados à cultura indígena, ou num tempo também limitado, mas se somam ao que diz Ademar Menezes Júnior, que fez mestrado em Produção Vegetal, voltado para plantas medicinais. “O Brasil é formado por vários

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povos. Os índios aqui estavam e tinham conhecimento das plantas nativas, e o Brasil recebeu muitas outras culturas. Recebeu o europeu, que trouxe suas ervas de lá e muitos de seus conhecimentos também. Os negros, africanos que trouxeram muitas ervas e conhecimentos. O Brasil recebeu os asiáticos, japoneses, chineses, coreanos e desta forma vieram plantas de lá, e conhecimentos de lá também”, explica Ademar. Outro pesquisador, Alex Batsoris, sócio fundador do Instituto Brasileiro de Plantas Medicinais, do Rio de Janeiro, diz que em sociedades indígenas sempre houve, por exemplo, um pajé, o curandeiro responsável pelas receitas indicadas a cada enfermidade. E é claro, continua ele, “que a atualidade não nos permite uma relação tão estreita com a natureza, no entanto a boa notícia é que a medicina vem pouco a pouco se rendendo ao poder terapêutico das plantas”. Nesse contexto, Dilma, que aprendeu com seu pai o bom trato e o bom relacionamento com as plantas, encontrou com seus próprios passos a fonte generosa dos produtos naturais. Batalhou muito, fez curso de alimentação natural, alimentação macrobiótica, vegetarianismo, probiótica, aprofundando assim, cada vez mais, seu conhecimento sobre as plantas. Há trinta anos ela iniciou essa busca “Naquela época, aqui em Ribeirão Preto quase ninguém acreditava nos produtos naturais”, enfatiza. Mas, apesar de todos esses conhe-

cimentos e adeptos quem dá a palavra final em relação às ervas medicinais a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A ANVISA, em março de 2008, criou uma Gerência de Farmacovigilância com o intuito de receber informações qualificadas na forma de bancos de dados. Esse banco traça um perfil das notificações de eventos adversos encaminhadas para a Agência sobre plantas medicinais e fitoterapia. A divulgação desses dados visa sensibilizar os profissionais de saúde e usuários quanto ao risco sanitário desses produtos, além de promover a atualização das bulas de medicamentos fitoterápicos, permitindo uma melhor análise risco-benefício em direção ao uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos. Há muita gente qualificada para ajudar a fazer uso dessa fonte inesgotável de saúde, vinda das plantas que


a natureza dá de presente. Mas, fica tudo muito devagar, os conhecimentos demoram a chegar para a maioria das pessoas e Ademar, sócio-proprietário da Oficina das Ervas, farmácia de manipulação fitoterápica e produtos naturais, entra nessa parte do assunto. “Hoje a ciência tem mostrado, sim, a eficácia dessas plantas; aquilo que a gente já sabia, já conhecia. Existem milhares e milhares de trabalhos sendo publicados, constantemente em nível mundial. Todavia, muitos desses conhecimentos não são colocados em prática, não são utilizados, ficam mais na própria produção acadêmica. Infelizmente, uma quase que totalidade desses conhecimentos não chegam onde poderiam chegar”, lamenta o especialista. Dito Polular A saúde tem pressa quando alguma coisa no organismo não funciona bem. Há que se acelerar o processo da cura, mas a burocracia é lenta, embora cautela e canja de galinha não façam mal a ninguém. Em 18 de maio de 2009, o diretor adjunto da ANVIA

afirmou X“ que o boldo, carqueja, malva e noz-de-cola são alguns exemplos de plantas medicinais que terão regras de controle de qualidade atualizadas pela Farmacopéia Brasileira” afirmou também que a Agência publicou consulta pública com os requisitos para controle da qualidade de 22 plantas medicinais e respectivos derivados usados na fabricação de medicamentos no Brasil. Mas, Ademar, com seu ponto de vista, protesta “É indiscutível a ação terapêutica dessas ervas, e a quantidade de trabalho que existem sobre elas. E não se coloca numa rede pública, uma forma mais acessível à população, simplesmente porque não existe interesse político.” Dilma também diz: se você tem connhecimento dos benefícios das plantas pode-se usá-las in natura ou industrializada, mas quanto menos industrializada, melhor Se você tem uma planta no quintal, no seu jardim, bem cuidadinha, sem adubo químico, sem veneno, dando toda sua energia, todo seu carinho para com ela, você vai deixar de usá-la para usar aquela planta lá na prateleira do supermercado há não sei quanto tempo, como foi cultivada, tratada, embalada, como está sendo conservada? É lógico que a planta que você cuidou é mais rica, mais nutritiva e tem valor imensurável”. Enquanto os especialistas defendem, os órgãos públicos se resguardam. O SUS ( Sistema Único de Saúde) na Relacão Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (Renisus),traz uma lista de plantas com potencial para gerar produtos de interesse. O objetivo do Ministério da Saúde, com a divulgação da lista, é orientar estudos e pesquisas que possam subsidiar a elaboração da relação

de fitoterápicos disponíveis para uso da população. Atualmente, o SUS já oferece fitoterápicos derivados de espinheira santa, para gastrites e úlceras, e de guaco, para tosses e gripes. Hoje, se existem algumas leis que permitem ao SUS oferecer alguns tipos de fitoterápicos, foi uma luta muito grande para a gente conseguir chegar a este ponto, mas aí eu pergunto, qual município deste país tem fitoterápicos para distribuição gratuita do SUS?. Pode-se encontrar alguns poucos. Não existe interesse da classe médica, não há interesse político, é uma coisa muito complicada para romper tudo isso, revela Ademar. Se todos os órgãos públicos, pesquisadores, indústria farmacêutica profissionais de saúde se unissem no propósito de investigar e validar saberes populares, como o chá de camomila, por exemplo, que as avós e bisavós sempre prepararam, talvez os conhecimentos dos índios, negros, orientais e europeus pudessem ser cientificamente comprovados e a biodiversidade brasileira, já tão rica, teria ainda mais valor. E a saúde chegaria mais fácil e rápido às casas dos cidadãos de todas as classes sociais.

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Paciência, leveza nas mãos, pequenos detalhes e paixão pela música. Estas são algumas das características do “luthier”, o profissional que cria, constrói, conserta e reconstrói instrumentos musicais.

Texto e fotos: Flávio Coelho

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inda de origem francesa, luteria significa a arte da construção de instrumentos de cordas, ateliê ou loja de instrumentos. Uma profissão desconhecida para a maioria das pessoas, como muitas outras atividades que ao longo dos anos se transformaram. O jornalismo, por exemplo, tinha como material de trabalho a máquina de escrever e hoje conta com a rapidez do computador e da internet para se comunicar. O alfaiate criava peças de roupas sob encomenda, enquanto hoje as confecções industrializam em grande quantidade e em série. O sapateiro também, com sua eficiência, já é vencido pelas grandes empresas de sapatos localizadas no interior paulista. O luthier, no entanto, conseguiu preservar as suas origens e as velhas práticas. A paixão pela música faz desse profissional um especialista da criação e restauração dos instrumentos de cordas como violão, o violino, ou o baixo elétrico. Um dos idealizadores dessa profissão erudita viveu em Cremona, uma cidadezinha no norte da Itália. Antonio Stradivari, nascido em 1644, é mais conhecido pelo nome do instrumento que criou e tornou sinônimo de qualidade: o violino Stradivarius.

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No pequeno vilarejo, Stradivari, que ficou conhecido como Stradivarius, produziu vários modelos muitos consagrados e espalhou essa arte para o mundo todo. Até à data de sua morte em 1737, com 93 anos de idade, mais de mil violinos foram criados. Dizem que existem até hoje somente 600 deles. Um dos segredos de Stradivari era o verniz produzido no século XVIII, pigmentado com corantes. A durabilidade dos violinos estava na madeira da região. Por ser fria, as fibras são mais resistentes e sólidas. Da Itália, a luteria espalhou-se, pois instrumentos, músicos e apaixonados por música há em toda parte. Até mesmo aqui, no interior de São Paulo, alguns profissionais se dedicam a fabricar e consertar instrumentos eruditos e populares. É o caso de Alessandro Baggio.

Os profissionais Nascido em Londrina, Paraná, Baggio tem 35 anos e aos onze teve o primeiro contato com a música e a luteria. Uma tradição de família seguida desde a época de seu avô imigrante da Itália. A curiosidade e a vontade de desmontar instrumentos fez com que Baggio procurasse um curso profissionalizante. Estimulado pela música, conseguiu estudar no famoso Conservatório Musical de Tatuí, isso no ano de 2002. Cinco anos depois começava a se preocupar em montar sua própria oficina. “Eu entrei no curso com 26 anos, me formei com 31 anos e passei um ano preparando a oficina”. O que mais atrai Baggio na profissão é o prazer em ficar resolvendo problemas dos instrumentos. “O importante é conseguir interpretar o que

Anderson Oliveira - músico de Orquestra

A banda toca “Les Luthiers” Durante os anos 60, a Argentina desenvolveu um coral na Universidade de Buenos Aires, com o objetivo de satirizar e colocar no palco uma banda diferente, com um pouco de humor, que falasse através das letras , sobre os clichês da vida. Depois de vários festivais com a apresentação do coro, surgiu em 1964 a formação da Banda “Les Luthiers”, cujos integrantes se mantém até hoje. O nome da banda deve-se à criatividade de Marcos Mundstock, Carlos Núñez Cortés, Daniel Rabinovich e Masana, que constroem seus próprios instrumentos e os apresentam na hora do show. Imagine você assistir a uma ópera, cujo os músicos aparecem com instrumentos criados por si próprios! Pois bem, isso é o que “Les Luthiers” fazem. Um dos instrumentos criados e que ainda está em uso, depois de 40 anos, é o a “El Flaco”, feito com tubos de papelão, papel machê e rodas de uma carroça. “Les Luthiers” são uma banda diferente pela irreverência encantando com suas pitadas teatrais.

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o músico quer, pois cada músico tem uma forma de trabalho e você tem que ter todas”. Principal luthier de Ribeirão Preto, seu trabalho não começou aqui. Antes de montar seu ateliê na cidade, em 2009 Baggio já atuava na oficina do próprio Conservatório onde estudara. Aqui, instalou-se em um dos edifícios mais antigos, o Diederichsen, no centro. É o único luthier erudito em Ribeirão e o mais conhecido pelos músicos da Orquestra Sinfônica local. “Hoje atendo os músicos da Orquestra. Eu não tenho vínculo contratual com ninguém. Atendo todo o pessoal de cordas. Apareceu um probleminha no instrumento, o pessoal vem à minha oficina”. Um dos fatores que dificultava no trabalho era adquirir os materiais para conserto. “O material pra gente é muito específico, as madeiras têm que ser de determinadas regiões; a gente hoje compra pela internet, mas há pouco tempo tinha que mandar uma carta, um catálogo e pedir. Os violinos, por exemplo, de preferência têm que ser construídos com madeira européia de clima bem frio”. Outro luthier, especializado em instrumentos populares, Francisco Caparroz Duarte, não desmente a difícil realidade da profissão enfrentada por Alessandro Baggio. “Faço muitas viagens internacionais, porque o mercado nacional não oferece mais que 20%. Qualquer coisa mais do que 20% tem que ser fora do país. A bibliografia também é fora daqui. Tem uns 25 livros como consulta e todos em língua inglesa; alguns em alemão. Eu cuido de instrumentos populares. Se fosse pesquisar o erudito teria de ser italiano ou francês”, explica Duarte, especialista em violão, guitarra, baixo elétrico, cavaco, viola caipira, banjo, bandolim.

Alessandro Baggio - luthier erudito de Ribeirão Preto Seu colega da profissão, Rafael Guzzardi, também sabe disso e aconselha os novatos a estudar inglês. Guzzard entrou nesse ramo há dez anos e diz: “a maioria dos livros está na língua inglesa. É preferível você investir num curso de línguas do que não ter muita base num de luthiaria”. Para ele, os cursos são de conteúdos fracos e o correto seriam conteúdos estrangeiros. “Os cursos oferecidos hoje são muito básicos. Você não tem nem noção do que é uma ferramenta”. E aprender essas técnicas, executadas com sensibilidade e habilidade é o principal requisito para ser um bom luthier. Nem é preciso saber música, segundo Baggio, mas é um grande facilitador. “Não precisa saber tocar, mas se souber é melhor. Se conhecer música você consegue conversar melhor com o músico saber o que ele está precisando. O comum é migrar da música para a lutheria. No meu caso eu

sempre estava envolvido com música e depois gostei de trabalhar com madeira. O comércio é uma conseqüência. Quando os instrumentos chegam aqui na minha oficina, a maioria sofre com falta ou excesso de umidade. Não adianta ter pressa para o conserto. Eu peço paciência porque tem restauração de dois dias a seis meses”, diz Baggio. Anderson Oliveira, é músico da Orquestra Sinfônonica de Ribeirão Preto, São Carlos e da Filarmônica Gospel, e sabe bem como funciona a confiança na hora de entregar seu instrumento nas mãos de um luthier, com 31 anos de idade, tem um vasto conhecimento. Ele leva seus instrumentos para Baggio consertar e sabe, como todos os músicos que confiança no luthier é fundamental. “Nós músicos indicamos um bom luthier de boca a boca, o importante é conhecer o profissional e as qualidades do seu trabalho”, diz Oliveira.

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nça arte e vida Fotos: Divulgação, Mariana Nabor Texto: Mariana Nabor

“A dança? Não é movimento súbito gesto musical. É concentração, num momento da humana graça natural.” Carlos Drummond de Andrade A música começa e os movimentos dão forma ao corpo, os pés criam passos e formam uma coreografia sincronizada. As mãos delicadas e as pernas formam um belo arabesque. Enquanto a bailarina se move é impossível não admirá-la. A dança faz parte da história e da vida de muita gente. Profissionais ou não, além de ter significados diferentes para cada um, a dança traz benefícios para o corpo, alma e espírito. Horas de ensaio, dedicação, muito suor e talento levam bailarinos para além da paixão e transformam a arte em profissão. Outros, no entanto, dançam por puro prazer, independente da idade, dom ou anos de experiência. A diferença entre profissionais e quem dança por gosto não existe. Quando a música começa e o corpo vira ritmo não há quem faça um bailarino parar.

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O trabalho é bonito e é necessário perseverança. Quando conseguimos apresentar um bom trabalho tudo vale a pena e é muito realizador.

Marisol e Elydio durante apresentação

Desde a Roma Antiga se sabe que corpo são é sinônimo de mente sã. Por isso dançar é ainda mais benéfico, pois une a atividade física, a organização da mente e a sensibilidade da alma. Os benefícios físicos proporcionados pela dança vão desde o aumento da capacidade cardiorrespiratória, até à melhor percepção sensorial. Os dançarinos percebem bem o mundo, têm mais prazer por causa do estímulo das endorfinas, possuem músculos tonificados e postura correta. No aspecto psicológico, a dança aumenta a capacidade de sociabilidade, a sensação de pertencer a alguma coisa, de ser capaz de desenvolver uma atividade que requer coordenação motora, memória, ritmo, o sentimento de superação e o despertar do “criador” dentro do dançarino, além de estimular a criatividade e o poder de improvisação. Associando o físico com o psicológico há uma terceira categoria de efeitos benéficos. O tônus muscular tem um correlato psíquico e a dança traz uma capacidade maior do bailarino ser uma pessoa flexível frente às diversas circunstâncias, com facilidade de desenvolver ou suportar os diferentes ritmos que a vida impõe. Entre vários estilos, a dança mais procurada em academias é o ballet clássico. Porém, com a sociedade contemporânea outros ritmos ganham espaço. O sapateado, jazz, dança do ventre, flamenco, dança de salão, e até mesmo o ballet contemporâneo, entre outros, fazem com que essa arte se torne mais presente no dia-a-dia. O público feminino ainda é o campeão na procura da dança, porém o número de homens que se interessam está crescendo. Essa perspectiva começou a mudar nos anos 80, época das discotecas, graças ao desempenho do ator John Travolta no filme “Embalos do Sábado à Noite”. Mas em cada época há uma moda, um ritmo que faz com que a procura por determinado estilo seja maior. “Existe muito modismo, mas devo afirmar que o abecedário da dança é o ballet. Quando se aprende a dançar o clássico, qualquer ritmo fica fácil”, conta a bailarina e dona da academia de dança mais antiga da cidade de Ribeirão Preto, Garima Augusta.

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Profissão e

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edicação e talento levaram a famosa dupla de bailarinos Marisol Gallo e Elydio Antonelli se profissionalizarem e irem além do amor pela dança. Ambos treinam e moram em Ribeirão Preto. Incentivada pelos pais, Marisol conheceu a dança aos seis anos de idade, quando foi estudar ballet no Conservatório Carlos Gomes. Aos 12 anos também começou a fazer ginástica olímpica. Dois anos depois, em 1989, conheceu Elydio, que tinha 17 anos. Patinador e atleta, ele só começou a dançar ballet aos 19 anos, com a força da professora Maria Regina Cavalcante. “Ela viu que nosso biótipo era mais o menos igual, dois longilíneos e formou uma dupla, para dançarmos juntos”, conta Marisol. Todo reconhecimento e sucesso vieram graças a muito ensaio e disciplina. Os treinos diários são de uma hora e meia de alongamento e condicionamento físico, e depois ensaio


das coreografias, totalizando cinco horas. “O bailarino não pode se restringir somente a aulas de ballet. Tem que ser um atleta. Não somos apenas bailarinos, somos ginastas e atletas. Isso complementa nosso desempenho e qualidade nas coreografias”, reforça Elydio. A sincronia da dupla não ficou apenas nos palcos. Os bailarinos que se conheceram ainda quando eram adolescentes, se casaram. “Fui com 18 anos para fora do país e fiquei um ano. Eu já patinava e em paralelo eu treinava ginástica também. Fiz um teste e passei. Quando voltei retomamos com mais força a equipe e ensaiávamos mais. Aconteceu, era para ser”, disse Elydio.

Paixão

O sucesso veio também com o apoio mútuo. “É mais fácil porque ambos temos o mesmo objetivo. Por isso conseguimos ir mais longe. Isso permitiu participarmos de competições internacionais. Eu acho que fomos longe demais”, explica a bailarina. Ganharam prêmios e recebem convites para se apresentar na cidade e em várias partes do Brasil e do mundo. Para Elydio, a dança proporciona e acrescenta muita coisa em suas vidas. “Ela nos dá a condição de viajar, conhecer outros lugares e outras culturas. Já fomos cinco vezes à Suíça a convite do governo, juntamente com um grupo do Rio de Janeiro a que somos filiados”. Apesar do reconhecimento, a dupla talentosa ainda encontra algumas dificuldades no caminho.

Para eles, existem dançarinos talentosos no Brasil, mas o país ainda não é preparado para a dança. “Fora do país você é reconhecido. Parece que eles estendem um tapete quando você vai passar, como se fosse uma estrela. Te oferecem espaço para você mostrar sua arte. Não dá para comparar com o Brasil. Aqui às vezes parece que você brinca de dançar”. Apesar dos desafios e da profissão exigir esforço, sem o ingrediente paixão fica difícil continuar. “O trabalho é bonito, e é necessário perseverança. Quando conseguimos apresentar um bom trabalho tudo vale a pena e é muito realizador. Nenhum dinheiro compra você estar no palco e ser aplaudida”, conta Marisol. Segundo Elydio ser um bailarino é desafiador. “Não basta arder, tem que queimar”.

Puro prazer Enquanto algumas pessoas levam a dança como profissão, outros encontraram nela o prazer de praticar a arte. É o caso da técnica de laboratório Sandra Escauriava. Aos 47 anos, nunca antes tivera contato algum com a arte. Começou a dançar agora em agosto. Ela gostava de praticar exercícios físicos, mas em uma consulta médica, veio a ideia de dançar. “Eu sempre gostei de dançar, mas nunca procurei nenhuma academia. Fui a um médico e ele me disse que a

dança poderia substituir a atividade física, conta Sandra. A influência não veio somente da dica médica. Ela ganhou incentivo do esposo espanhol, e começou a dançar flamenco. A dança de origem espanhola chamou a atenção com os movimentos fortes e sensuais. “Uma amiga me chamou para assistir uma aula e meu marido foi junto. Ele me incentivou”, conta. E Sandra, que já tinha a vontade de dançar, começou. “Quando eu era criança queria ter dançado. Assisti à aula e me apaixonei. Não sou profissional, mas hoje danço por prazer, saúde e estou amando”, explica.

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Estilo de Vida

Dança e educação

G

arima é bailarina há mais de 40 anos e começou a dançar com cinco anos de idade, ouvindo “Pobres de Paris”, no rádio. De uma família que sempre incentivou a arte, era uma das quatro irmãs. Uma tocava piano, outra acordeão e a caçula também fez ballet. Nascida em São Paulo, veio para Ribeirão Preto quando tinha 10 anos e aqui continuou a dançar no conceituado e tradicional Conservatório Carlos Gomes. Sempre teve incentivo dos pais. “Meus pais me incentivavam, mas hoje vejo que o problema é a parte da educação. O brasileiro não foi moldado, na educação, a fazer uma arte. Minha mãe me moldou assim porque era filha de portugueses. Então, ela tinha outra vivência, por meus avós serem europeus. Ela estimulou a todos nós. Estudávamos no Estado [escola estadual], para minha mãe poder nos pagar um estudo à parte. Hoje, os pais acham que a escola pública está muito ruim, acabam pagando uma escola particular e não colocam a criança para fazer dança”, explica. Esse investimento deu resultado. Garima Augusta nunca desvinculou sua vida da dança, abriu sua academia em 1972 e formou gerações e gerações de bailarinos. Para ela, é preciso mais que talento. “Devo dizer que 80% são dedicação, os outros 20% podem ser o dom, o pé bonito, a mão linda, o físico apropriado, mas a grande maioria que tem tudo isso não tem perseverança. É necessário ser muito perseverante para ser bailarino. Muita aula e suor”, explica. Entre lembranças, Garima se emociona ao falar de bailarinos que ela formou e que hoje estão no mercado de trabalho. “Tenho uma aluna que está na Alemanha fazendo um curso. Sinto orgulho e emoção ao ver e saber disso. A dança precisa de incentivo e foram anos fazendo isso. Acho uma judiação a maioria das dançarinas parar quando estão na casa dos 20 anos, quando estão no auge da beleza. Eu dançava e continuo a dançar. Acho que não tem que parar.”

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A dança também influencia a educação, porque aumenta a capacidade de aprendizagem e criatividade das crianças. Para a bailarina e psicóloga Paula Vital, as escolas continuam formando crianças “amputadas” do seu próprio corpo, que estão cada vez mais racionais e são incapazes de sentir e suportar sentimentos no seu corpo. “Temos uma geração de pessoas deprimidas e angustiadas, porque quando tem qualquer sentimento no corpo, não tem corpo para sentir. A dança deveria ser matéria curricular no ensino tradicional”, explica. Paula criou o Dança Vida, projeto que já existe em Ribeirão Preto desde 1995, e em 18 anos atendeu 3 mil pessoas. Atualmente, 300 crianças têm aulas de dança em seis núcleos na cidade. “Criei o projeto com o conceito de dança como forma de educação. Trabalhamos técnicas, criatividade, potencial, relação humana e resgate de valores”, destaca. Hoje o projeto vai além da educação, também virou emprego e nove bailarinos que estavam no projeto, estão com carteira assinada. Dança Vida é um ciclo social completo.


Ribeirão e mercado Em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro ou Joinvile (cidade onde fica a conhecida e respeitada Escola do Teatro Bolshoi) os bailarinos sonham em dança e encontram alguma dificuldade. Já por aqui, no interior do Estado, a luta é ainda mais difícil. A bailarina, coreógrafa e dona de uma das academias mais famosas e conceituadas Karina: “Somos um polo de dança” da cidade, Luciana Junqueira começou a dançar aos seis Segundo a bailarina, somente anos, possui sua academia há 37 e, agora, recentemente, Ribeirão cohoje é ganhadora de vários troféus meçou a a se tornar conceito em em competições. Luciana dsiz que dança. “Quando você fala que é de para administrar é preciso comRibeirão as pessoas já te respeitam”, prometimento e renovação consconta. Fora o sucesso da academia tante. “Se eu estivesse apenas em Luciana também faz parte da RibeiRibeirão Preto eu estaria limitada. rão Preto Companhia de Dança, que É preciso evoluir. Quando eu era tem conceituados bailarinos e promais nova minhas férias eram em fissionais, como Patty Brown, ThiaSão Paulo, Rio de Janeiro, Europa go Junqueira, Luiz Oliveira, Adriana e Estados Unidos. A dedicação foi Camargo. Mas a referência poderia essencial. Aqui é uma cidade granser maior com apoio do governo mude, mas é no interior”, explica. nicipal. “Temos que ir abrindo ca-

Temos apoio de fora, mas da cidade não tenho. Muitos bailarinos bons desistiram por falta desse apoio Luciana Junqueira

minho e falta apoio da Secretária da Cultura. Temos apoio de fora, mas da cidade não tenho. Muitos bailarinos bons desistiram por falta desse apoio”, explica. Uma vez por ano acontece o Dança Ribeirão, um festival que apresenta várias modalidades de dança. Luciana diz que ainda é pouco. “Deveria ter mais companhias e grupos participando”. O bailarino profissional Elydio Antonelli concorda com Luciana e acredita que apesar de Ribeirão Preto estar progredindo, é necessário mais espaço. “O Dança Ribeirão é importante, mas não o suficiente, principalmente para profissionais. Falta incentivo á arte”, explica. Apesar desse pouco incentivo, a bailarina e professora de ballet contemporâneo, jazz e sapateado, Karina Rau considera Ribeirão Preto como referência. “Estamos crescendo e cada vez mais a cidade está criando nome e sendo reconhecida. Viramos um polo de dança”, explica. A dança como qualquer arte traz riqueza cultural para a cidade e benefício para as pessoas. Profissional ou não ela faz parte da história. Não importa onde se dança. No palco ou em uma sala de ensaio rodeada de espelhos, em casa, num salão, festa ou boate, a dança encanta em cada passo, cada movimento. É para todos. Alegria, saúde e prazer.

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Comportamento

Filhos sem fr Adoção tardia é um processo que, ainda incipiente, começa a ser praticado no Brasil por pessoas que buscam filhos, mas não esperam bebês. Texto: Leandro Martins – Fotos: Leandro Martins e Divulgação

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I

sabela Pereira (nome fictício) tinha oito anos quando seu

aldas

pai morreu, em 2007. As

coisas eram difíceis em casa. Sua mãe não tinha condições de cuidar dela e de sua irmã, que tinha nove anos na época. Após uma denúncia, as duas foram retiradas da mãe e levadas para o Centro de Atendimento a Criança e ao Adolescente Vitimizados (CACAVI), em Ribeirão Preto. Dois anos depois, mudaram de abrigo por causa da idade. Sem família, as meninas passaram oito anos morando em lares de acolhimento. Entretanto, nenhuma pessoa se interessou em adotá-las. Hoje, com 17 e 18 anos, residindo no Lar Nosso Clubinho, elas estudam, trabalham e têm sonhos. Mas cansaram de esperar, e não pensam mais em ter pais adotivos. “O projeto de antemão é terminar os estudos, fazer uma faculdade e seguir a vida depois que sairmos daqui”, diz Isabela.

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Comportamento

A

história de Isabela e sua irmã é apenas um caso, entre vários, de meninos e meninas que residem em lares de acolhimento para menores. A esperança de uma família nova está no coração de muitos, mas poucos são os escolhidos, ainda mais quando passam dos três anos de idade. Quem chega na adolescência acaba aceitando o fato de que não será mais adotado, e os planos para a vida “pós abrigo” começam a surgir. “Eles acabam desistindo pela morosidade e cansam de esperar”, explica a assistente social do Lar Nosso Clubinho, Kelara Costa. “Mesmo assim, alguns continuam esperançosos”, diz. Apesar de ainda manter contato com a mãe biológica, Isabela não pensa em voltar a morar com ela, e muito menos ser adotada. Ela já se acostumou com a vida que tem e pretende alugar um imóvel para morar junto com a irmã quando completar 18 anos, idade máxima para quem reside em abrigos. “O tempo passou e nós nos acostumamos com a vida aqui no Nosso Clubinho”, explica. “Acho impossível alguém querer nos adotar agora. As pessoas preferem mais crianças pequenas e bebês”, diz. Mesmo sem conhecer dados específicos que comprovem a sua opinião, a adolescente não está errada. De acordo com estatísticas cedidas pela Vara da Infância e da Juventude, Ribeirão Preto possui cinco casas de acolhimento para menores que são encontrados nas ruas ou retirados de suas famílias. Nestes abrigos reside um total de 58 crianças e adolescentes, sendo que 49 possuem idades acima de 11 anos. Entretanto, dos 103 cadastros de pessoas interessadas em adotar, a maioria (86,41%), pre-

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O projeto de antemão é terminar os estudos, fazer uma faculdade e seguir a vida depois que sairmos daqui Isabela Pereira

fere crianças com um a dois anos de idade. Em segundo lugar fica a preferência por bebês de zero a um ano de idade, com 84,47%, e em terceiro lugar, crianças de dois a três anos de idade, com 70,87%. Não há interesse por adoção de crianças com idades superiores a 11 anos. Um dos motivos pela preferência de bebês em vez de crianças mais velhas para a adoção está no argumento da dissertação de mestrado da psicóloga e professora da Unaerp, Lilian Guimarães, que depois de ser apresentada em 2006, foi publicada em livro: “[...] a concepção de adoção de crianças e adolescentes na nossa cultura é marcada por uma forte influência dos estudos psicológicos do século XX, que nos deixaram a convicção de que os indivíduos têm traços de personalidade e que esses traços derivam das primeiras experiências de vida, prin-

Eles acabam desistindo pela morosidade e cansam de esperar Kelara Costa


As pessoas acreditam que é mais fácil educar uma criancinha pequenininha, do que uma criança mais velha Lilian Guimarães

cipalmente das relações estabelecidas entre mãe e filho, determinando todas as relações posteriores da pessoa”. Este pensamento, na opinião da assistente social e presidente da ONG Crescendo em Família, Ana Maria Caviola, faz com que as crianças maiores sejam deixadas de lado, gerando um número grande de meninos e meninas mais velhos nos lares de acolhimento: “o que tem pra ser adotado nos abrigos são crianças maiores, grupos de irmãos e crianças de outra etnia”, esclarece. A professora Lilian pesquisou o processo de adoção sob a perspectiva das crianças adotadas que haviam sido tiradas de seus lares de origem e passado por um abrigo. O principal obstáculo da

adoção tardia está nos medos e preconceitos dos interessados em adotar. “Existem muitos preconceitos. As pessoas acabam dizendo que é mais fácil educar uma criancinha pequenininha, como um bebê, que você cria do seu jeito, do que uma criança mais velha com outros hábitos que não fazem parte da família adotante”, explica a professora. Mas os “adotivos temporões”, como são conhecidos, estão sendo aceitos aos poucos, embora ainda hoje sejam uma raridade. E os argumentos apresentados por outros psicólogos e assistentes sociais sobre essa não aceitação têm muito a ver com o que foi descrito na tese da professora: “algumas pessoas pensam que a criança

mais velha já possui uma personalidade formada, o que não é verdade”, explica a assistente social Ana Maria. Embora quase unânime, esse argumento, de acordo com Lilian, é falso e ainda aumenta o desinteresse por um filho que já passou da idade das fraldas. “A criança não possui uma personalidade pronta com sete anos de idade”, argumenta. “Ela está se desenvolvendo como todos nós que nos desenvolvemos nas relações que vamos estabelecendo ao longo da nossa vida”, explica. Segundo ela, uma criança que já possui sete anos tem hábitos e costumes próprios porque já viveu em outro lugar. Esses hábitos podem ser diferentes da família que está adotando, mas não impede a criança de aprender e se adaptar a essa família. “Ou que essa família se ajuste ao jeitinho da criança”, conclui. De acordo com a psicanalista e membro da Escola Brasileira de Psicanálise, Silvia Sato, quando a adoção é realizada tardiamente, há de se levar em consideração que a criança tem um histórico que não pode ser apagado. O medo de quem adota, como explica, em alguns casos é o de esse histórico não ser muito feliz, como quando, por exemplo, o abandono ou rejeição dos pais biológicos acontece de uma forma dolorosa. “Tudo isso marca a subjetividade da criança e também influencia na forma como ela vai poder receber essa família nova”, explica. A psicanalista acrescenta que às vezes a criança é tão marcada por esse abandono e por essa rejeição que a posição dela dentro da nova família é de questionar o amor, o desejo e o lugar que os pais adotivos dizem que ela vai ter. Isso não é incomum. Apesar de haver este contratempo

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Comportamento

Os filhos e seus pais em algumas relações, consideradas como exceção, entre os pais adotivos e a criança adotada, a psicanalista afirma que isso não é irreversível. Para ela, o ser humano é capaz de modificações construídas por meio de relações. Cada criança é um caso que deve ser analisado à parte, sem preconceitos. “O que vai determinar se essa criança vai se adaptar ou não a uma nova família é a relação que eles terão no dia-a-dia”, informa. Sílvia também pondera que estes obstáculos não devem ser motivo para não adotar crianças mais velhas, já que muitos filhos biológicos também apresentam as mesmas características, de questionar o amor e o desejo dos pais quando crescem.

O que tem pra ser adotado nos abrigos são crianças maiores, grupos de irmãos e crianças de outra etnia. Ana Maria Caviola

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Outro apontamento da psicanalista é que a adoção tardia também pode ser difícil para os pais. Sílvia alerta que todos têm uma história de vida que não pode ser ignorada. Essa história, segundo ela, determina a forma como o casal se relaciona com o filho. “Mesmo que o adotado seja muito afetivo e aceite a adoção, existem pais que podem ter uma questão que vai contra isso, de como acolher uma criança nova que não foi gerada de uma relação biológica”, elucida. Foi o que aconteceu com Axel Otoni, quando foi adotado aos sete anos de idade, em 2001. Antes, ele morava no lar de acolhimento Casa Caio, com mais cinco irmãos. Eles foram deixados pela mãe no local, pois ela não tinha condições financeiras de criá-los depois que seu ex-marido morreu. Axel tinha apenas três anos e não se lembra de muita coisa. Apenas de alguns passeios que teve com a mãe, mesmo depois de ser deixado na Casa. “Ela voltava lá pra me buscar e me levava para passear ou para ficar em casa”, conta. “Mas um dia ela foi embora e não voltou mais”, lembra. Quatro anos depois, Axel foi chamado no Fórum, pois um casal da cidade de Franca (SP) se interessou em adotá-lo. Eles foram apresentados e no início deu tudo certo. Mas os problemas de relacionamento começaram a surgir. “No começo foi legal, mas eu era travesso e meu pai adotivo me

Ela (mãe) voltava lá para me buscar e me levava para passear ou para ficar em casa. Axel Otoni

O que vai determinar se essa criança vai se adaptar ou não a uma nova família é a relação que eles terão no dia-a-dia. Sílvia Sato


Sem preconceito batia com a cinta”, relata o menino. “Minha mãe falava para ele não me bater, mas mesmo assim ele me batia. Então um dia ela disse que se fosse para continuar daquela forma, era melhor me devolver”, revela. Depois de voltar para a Casa Caio, Axel não perdeu as esperanças de ser adotado novamente. Mas ninguém se interessou por seu perfil, até que ele completou 18 anos e saiu da instituição para morar sozinho. Hoje, trabalha como auxiliar administrativo em um escritório de advocacia e mora em uma pensão. Como faz pouco tempo que deixou a Casa, ainda recebe apoio psicológico da instituição, até que tenha todas as condições necessárias de seguir em frente.

Quando chegamos lá, informaram que a criança disponível tinha um irmão e depois que conhecemos não conseguimos adotar só um. Walter Santoro Junior

Mas quem supera todas as barreiras emocionais e se despe dos preconceitos para adotar um filho, não se arrepende. O casal homoafetivo Anderson Cardoso e Walter Santoro Junior decidiu adotar uma criança mais velha. Em 2007, eles entraram com um pedido de adoção no Fórum de Ribeirão Preto. O perfil desejado era o de uma criança que tivesse idade entre quatro e seis anos, do sexo masculino e sem irmãos. A escolha tinha um motivo: “Trabalhávamos muito e não tínhamos condições de cuidar de um bebê”, narra Anderson. Depois de quatro anos de espera, eles receberam o convite para conhecer uma criança em um abrigo de Boituva (SP). Quando chegaram ao local, foram apresentados ao menino que tinha sete anos, e também ao seu irmão de onze, que residia na mesma instituição. “Quando chegamos lá, informaram que a criança disponível tinha um irmão e depois que os conhecemos não conseguimos adotar só um”, diz Walter. A surpresa se completou quando souberam que os dois meninos possuíam ainda mais um irmão de 10 anos, que havia sido adotado e devolvido. Ele também entrou para a família.

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Comportamento

Como acontece a adoção Adotar uma criança pode não ser uma tarefa fácil. Tudo depende do preparo psicológico e social dos adotantes e do perfil de criança desejada. Por isso, de acordo com Valéria Mattar, psicóloga da Vara da Infância e da Juventude de Ribeirão, o primeiro passo para quem quer adotar é fazer a inscrição no curso de preparo a adoção do Fórum da cidade. O curso é obrigatório, previsto na Lei Nº 12.010, de 3 de agosto de 2009. “O curso tem a duração de três tardes e pode ser feito de acordo com os horários disponíveis no Fórum”, diz. “É neste procedimento que a pessoa saberá o que de fato é a adoção e se realmente quer adotar”. Depois deste processo, os interessados passam pela fase de habilitação para a adoção, onde será feito um estudo da vida social de cada pessoa pelas psicólogas do órgão. “Com o certificado do curso preparatório e depois do estudo psicossocial, o juiz decide se a pessoa pode ou não adotar”, informa a psicóloga Valéria. Se solicitação for aprovada pelo juiz, será feita uma avaliação

do perfil dos interessados e do perfil da criança desejada por eles. “A partir deste momento a pessoa passa por um processo de espera, até que surja a oportunidade para receber uma criança, de acordo com o perfil que foi estipulado”, explica o juiz da Vara da Infância e da Juventude, Paulo Gentile. O curso preparatório é exigido por Lei justamente para evitar o que é mais temido pelas psicólogas e assistentes sociais dos lares de acolhimento para menores: a devolução da criança. “O curso é importante para conscientizar as pessoas que querem adotar”, explica a assistente social do Lar Nosso Clubinho, Kelara Costa. Entretanto, ela diz que este é apenas um dos procedimentos a serem tomados. “Depois que surgir o perfil desejado, a pessoa interessada em adotar e a criança precisam passar pelo estágio de convivência”, explica. O estágio de convivência é o período de conhecimento e afinidade entre o adotante e o adotado. São traçados programas como buscar e levar a criança na escola, ajudar nos deveres de casa, levar a crian-

ça para passeios com amigos e familiares, etc. “Quanto maior for o estágio de convivência, maior será a probabilidade da adoção dar certo”, diz Kelara. A assistente social, que já presenciou uma devolução no Lar Nosso Clubinho, alerta para que os interessados estejam certos do que querem, já que um filho nem sempre é aquele projetado em suas mentes. “A pessoa precisa estar ciente de que a criança vai testar a paciência e o amor que este pai ou mãe estão dispostos a colocar na relação. Isso não é uma coisa que acontece de um dia para o outro, é algo que deve ser construído com o tempo”. Apesar de importante, o Juiz da Vara da Infância e da Juventude de Ribeirão, Paulo Gentile lembra que o estágio de convivência só será obrigatório em alguns casos. “Este estágio não é obrigatório, e pode ser dispensado para crianças recém-nascidas, porque a adaptação é mais fácil e natural. O estágio de convivência vai ser mais importante para a adoção de crianças maiores, onde poderá haver uma rejeição por uma das partes”, explica.

ONG ajuda quem quer adotar Quem tem vontade de adotar e ainda está indeciso pode buscar ajuda na ONG de apoio e incentivo à adoção Crescendo em Família. Lá, psicólogas e assistentes sociais ministram palestras e cursos gratuitos para sanar todas as dúvidas e mitos que rodeiam a adoção. “Nosso objetivo é atuar nas pontas da efetivação de uma adoção, preparando os casais e trabalhando com todas as dúvidas e questões po-

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lêmicas que possam acontecer nesse processo”, explica a assistente social e presidente da organização, Ana Maria Caviola. São três programas oferecidos que esclarecem todos os mitos sobre adoção. Se a pessoa não quiser adotar, ainda pode participar do programa de apadrinhamento. Neste programa os interessados podem se tornar padrinhos de crianças que residem em lares

de acolhimento de menores, visando oferecer a convivência familiar e comunitária da criança. A ONG também dá suporte pósadoção, trabalhando com crianças adotadas e pais. “Depois da efetivação da adoção ainda damos apoio a pais e mães que por algum motivo apresentam problemas em lidar com seus filhos adotivos”, explica a assistente social. Informações: (16) 3635-0165.


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Comportamento

L’Italia è qui! Ribeirão Preto é um dos locais brasileiros que mais recebeu imigrantes italianos. Segundo estimativas, entre 1875 e 1925, um milhão e meio de pessoas que deixaram a “Velha Bota”, em busca “del nuovo mondo”, desembarcaram no Brasil. Destes, uma grande parte veio para Ribeirão. Assim, a grande colônia de “oriundi” aqui enraizou seus costumes e tradições, além de terem participado ativamente do desenvolvimento econômico da cidade. Passados quase 150 anos do início da imigração italiana, Ribeirão ostenta até hoje locais como entidades, escolas e restaurantes, que são verdadeiras casas italianas fincadas em território brasileiro.

Texto e Fotos: Rogério Moroti

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N

o dia 21 de fevereiro de 1874, desembarcavam no Brasil os primeiros imigrantes italianos em busca “del nuovo mondo”. A Itália, assim como toda a Europa, passava por momentos difíceis. A falta de alimentos, o frio cortante dos longos invernos, além da pouca perspectiva de futuro, obrigaram milhares de italianos a deixarem a “Velha Bota” em busca de um futuro mais digno. Até 1925, um dos principais destinos de calabreses, napolitanos, venetos, toscanos, emilianos, sicilianos foi o Brasil, que abriu suas portas para quase um milhão e meio de “oriundi”. A demanda pela mão de obra estrangeira em terras tupiniquins se dava pelo recente fim da escravidão. Conhecida em todo mundo como um grande pólo de produção cafeeira, a região de Ribeirão Preto foi uma das que mais recebeu imigrantes italianos, que aqui desembarcaram com promessas de um novo Eldorado e por aqui fixaram raízes ao longo das décadas. Segundo dados do Arquivo Público de Ribeirão, calcula-se que, no ano de 1902, dos 52.929 habitantes que a cidade ostentava, 27.765 eram oriundos da Itália, ou seja, mais da metada da população local. Para se ter ideia, a segunda maior colônia na época era a portuguesa, com 2.635 imigrantes. Após 1925 e principalmente depois do “crack” de 29 – que acabou com a riqueza regional do café -, a grande imigração da Itália diminuiu, mas não terminou. Outro grande fluxo migratório da Itália para cá se deu logo depois do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, que deixou praticamente toda a Europa devastada. Mesmo passados quase 150 anos do início da imigração italiana para a re-

gião, Ribeirão mantém parte da cultura, dos costumes, da culinária, das famílias tradicionais e outras heranças trazidas por aqueles que tinham a esperança de “fare l’America”. A culinária, talvez, seja um dos costumes italianos que mais fincaram raízes e permanecem vivos até os dias atuais. Quem nunca comeu uma “bella lasagna”, um bom prato de “spaguetti al sugo”, uma pizza marguerita, ou mesmo embutidos como salame, mortadela, presunto, além de queijos “mozzarella” e gorgonzola? “Tenho certeza que nesta semana você já deve ter comido pelo menos duas vezes pratos italianos, como macarrão e pizza, e não se deu conta. Isso porque essa cultura já está totalmente integrada ao nosso cotidiano”, garante Antônio Sartore, diretor da Sociedade Dante Alighieri e filho de italiano, vindo da província de “Padova” (Pádua), ao norte da Itália. “A missão da Dante Alighieri é relembrar a todo o momento que muitos dos pratos que você come, ou outras coisas da nossa cultura, são de origem italiana”, explica Sartore. Além das pizzarias, que se encontram a cada esquina, Ribeirão possui restaurantes e cantinas originalmente italianas. Um deles em especial te leva praticamente a uma viagem à Itália, através da decoração, do am-

biente, mas principalmente com o contato direto do proprietário, imigrante que depois que desembarcou por aqui, só voltou ao país de origem para passeios. Tudo como na Itália Fundado em 1959, a Bella Sicília é a cantina italiana por excelência em Ribeirão Preto. Combatente na Segunda Guerra Mundial, Francesco Cammilleri deixou a pequena “comune” de Licata, na região da Sicília, e desembarcou no Brasil no dia 7 de setembro de 1954, aos 30 anos de idade. Depois de trabalhar por cinco anos em São Paulo, onde ajudou nos primeiros passos de restaurantes famosos, como o Fasano, veio Para Ribeirão Preto e abriu a Bella Sicília. “Aqui fazemos tudo como na Itália, com produtos importados. As massas frescas, os doces, são todos produzidos artesanalmente

Francesco Camilleri: no Brasil desde 7 de setembro de 1954

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Comportamento

mantendo as tradições italianas”, conta Francesco, que mesmo aos 88 anos, faz questão de estar sempre em seu restaurante a receber os clientes. Em meio a fotos, bandeiras, camisas de futebol da seleção italiana e do Palmeiras, na Bella Sicilia você pode degustar pratos tipicamente sicilianos, como “Caponata di Melanzane” (salada de berinjelas), “Cannoli Siciliani” (canudo frito recheado com pasta de ricota doce e frutas cristalizadas), ou mesmo um bom “Arancine” (se assemelha a coxinha, mas feito com massa de arroz e recheado com ervilha, queijo e carne). Outro “ristorante” tipicamente italiano na cidade é “La Cucina di Tullio Santini”. Nascido em Cremona, ao norte da Itália, Tullio Santini chegou ao Brasil em 1956, morou no Rio de Janeiro, trabalhou em outras atividades, até abrir seu próprio restaurante nos anos 90. Seu local pode ser considerado um pedaçinho da Itália em Ribeirão Preto. Além de servir a verdadeira comida ita-

liana, o restaurante também é um excelente local para se conhecer um pouco da cultura e da história da Itália. Se a comida por si só é um excelente difusor da cultura italiana, algumas entidades em Ribeirão Preto trabalham para manter viva a cultura do país Mediterrâneo. Fundada em 1910, a “Società Dante Alighieri” é a mais antiga entidade de congregação italiana em funcionamento na cidade. No início do século XX, Ribeirão Preto sediava várias sociedades italianas, como a “Società Operaria di Mutuo Soccorso Unione Italiana”, “Dopo Lavoro”, “Società Um-

berto I” e “Società Principe Amadeo”, que promoviam acesso ao lazer, ao divertimento, às comemorações cívicas, à cultura, além de organizarem festas, saraus, bailes, encontros e palestras, para que os imigrantes se encontrassem e assimilassem a nova pátria. “A Dante segue até hoje contribuindo para difundir e defender a cultura e a comunidade italiana”, explica o presidente da entidade Mario Perrota. “Realizamos festas para comemorar datas como a Festa da República Italiana, em 2 de junho, e a festa de final de ano. A entidade também está à frente da organização da “Fest’Italia”, que comemorou neste ano sua 7ª edição, com muito sucesso”, conta o imigrante, nascido perto de Nápoles, na região de Campânia, mas há mais de 40 anos em Ribeirão. A sede da Dante Alighieri é na Rua São Sebastião, no centro da cidade, onde possui salas de reunião, biblioteca, além de disponibilizar cursos de língua italiana e também de dança. A entidade possui também um clube de campo para confraternizações e festas. Perrota explica, no entanto, que o estatuto da “Società” precisou ser mudado. “Até alguns anos atrás, somente pessoas nascidas na Itália poderiam ser sócias. Porém, com o passar do tempo ficou cada vez mais difícil e tivemos que abrir também para os descendentes.” Mario Perotta, presidente da Società Dante Alighieri

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‘Casa’ italiana

Com o grande número de descendentes de italianos em toda cidade e região, Ribeirão Preto abriga um Vice Consulado Honorário da Itália. Localizado em uma bela casa, no Alto da Boa Vista, o local disponibiliza aos “oriundi” ajuda na renovação e tradução de documentos, orientação e encaminhamento na obtenção da cidadania italiana, cursos de idiomas e convênios com faculdades da Itália, cursos de gastronomia, promoção de viagens para a Velha Bota, além de disponibilizar livros, filmes e outras riquezas da cultura italiana. “Aqui é uma casa para os imigrantes. Temos as salas para o curso de italiano, são quase 150 alunos. Também temos uma cozinha preparada onde realizamos o curso “Cucinando in Italiano”, uma forma de ensinar a gastronomia italiana juntamente com o idioma”, explica Sergio Colagrossi, diretor da Cultura Italiana, escola que funciona juntamente com o Vice Consulado. Colagrossi é italiano de nascimento. Natural da região da Campânia, onde está Nápoles, Caserta e Salerno, por exemplo, o professor de italiano está no Brasil desde os anos 90. Atualmente, o Vice-Cônsul Honorário da Itália em Ribeirão Preto é o engenheiro e empresário Vincenzo Antonio Spedicato, italiano de Lecce. O Vice Consulado Italiano em Ribeirão Preto está localizado na Rua Itacolomi, 484 - fone: (16) 3623-6768.

Nascido na Itália, Colagrossi se apaixou pelo Brasil

‘Parlando’ português com sotaque italiano Além dos costumes e culinária, a grande presença italiana em nosso território também fez com que o idioma português ganhasse novas expressões e contribuições diretamente ligadas ao italiano. As influências linguísticas estão presentes desde a culinária, passando pela música, expressões, ciência e artes. Segundo Pacheco Júnior, autor de “Gramática Histórica da Língua Portuguesa”, cerca de 300 palavras italianas foram incorporadas ao português falado atualmente. Algumas delas foram adaptadas, aportuguesadas, como lasanha (lasagna), espaguete (spaguet-

ti), muçarela (mozzarella), nhoque (gnocchi), sem falar do tradicional “ciao”, transformado em tchau, ou outras que mantiveram a mesma grafia italiana, como cantina, caricatura, fiasco, aquarela, bandolin, concerto, maestro, piano, mortadela, etc. O italiano também influenciou nas expressões linguísticas. Segundo a professora Maria Helena Petti, do Instituto de Línguas da Unaerp, “o fato de algumas pessoas usarem, ou terem usado, alguns verbos no pretérito perfeito de forma equivocada, como em “nóis fumo” e “nóis vortemo”, pode ser devido à influência da conjugação do “passa-

to remoto” em italiano, “noi fummo” e “noi tornammo”. Em nossa região, os italianos também influenciaram em duas expressões muito utilizadas. A conhecida “terra roxa” de Ribeirão Preto foi criada após a vinda dos italianos e começaram a chamar a terra de “rossa”, vermelho em italiano. Além disso, introduziram a palavra “lavoura” ao nosso dicionário, para designar as plantações. Quando os italianos iam ao trabalho, na maioria dos casos campos de café, diziam que estavam indo ao “lavoro”, que significa trabalho em italiano.

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Cultura

O Cultivo da Boa Música Texto e Fotos: Bruna Zanuto

Luzes acessas no teatro. O público chega. Aos poucos cada um vai tomando o seu lugar, não só na plateia, mas no palco também. Em meio aos cumprimentos, encontros entre amigos, músico a músico vai se posicionando para afinar seus instrumentos. As notas se misturam buscando a perfeição em cada som. Toca o terceiro sinal. As luzes da plateia diminuem, ao mesmo tempo em que o palco fica claro. O spalla se posiciona para afinar a orquestra e logo em seguida volta para a primeira fileira dos violinos. Maestro entra. Público aplaude. É exatamento isso o que acontece há 74 anos. A Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto começa a tocar. Aproveite este espetáculo!

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Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto apresenta o 4° concerto, no ano de 1939 comemora os 156 da cidade

O

dia 23 de maio de 1938, marcou o surgimento da associação que é responsável por uma das orquestras mais antigas do Brasil, a Associação Musical de Ribeirão Preto, mantenedora da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, também conhecida pela sigla OSRP. Já uma senhora, a Sinfônica de Ribeirão é considerada a segunda orquestra mais antiga do país em atividade ininterrupta, perdendo só para a Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Mas, segundo a responsável pelo Arquivo Histórico da OSRP, a musicista Gisele Haddad, existem fortes indícios de que na realidade, a Orquestra de Ribeirão seja a mais antiga em atividades ininterruptas. Isso porque a orquestra carioca existe desde 1909, mas pode ter interrompido suas atividades em algum período. “É necessário um estudo minucioso sobre a história de todas as orquestras brasileiras do início do século XX para se averiguar esse assunto”. Gisele explica que muitas delas querem o título de mais antiga e se apresentam como tal, mesmo sem comprovação por meio de documentos. “Posso citar a Orquestra de Recife, de 1930, e de Porto Alegre, do ano de 1950”. O documento que comprovaria ser a sinfônica da “Califórnia Brasileira” a mais antiga do país é um programa de concerto, pertencente ao arquivo pessoal de Luiz Baldo, do segundo festival da Sociedade Cultural Artística de Ribeirão Preto,

realizado em 1929, que mantinha a conhecida Orchestra Synphonica de Ribeirão Preto, e que também seria a mesma orquestra que inaugurou o Theatro Pedro II, na década de 30. “Isso quer dizer que a orquestra é mais antiga que a associação que a mantém. A associação tem 74 anos, mas a orquestra tem 83”, explica. Seja a mais antiga ou não, quem começou esta história foi Max Bartsch (veja box na página XX). Violinista alemão e tocador de cítara, ele foi o principal fundador da OSRP e o primeiro presidente da Orquestra. Junto com ele, vários amantes da música erudita, estrangeiros ou não, batalharam para a manutenção e existência da orquestra. Sem sede própria, os ensaios eram realizados na casa do próprio Max e de alguns integrantes da instituição. Passados alguns anos, os encontros aconteciam no subsolo do Pedro II, no período da noite. Isso porque todos os músicos trabalhavam durante o dia. Embora exaustos e atrasados devido aos seus ofícios, não havia motivo para desânimo. Instituição sem fins lucrativos, a Orquestra de Ribeirão existiu e persistiu com a ajuda de sócios e patrocinadores, sendo que no início a maioria dos associados eram os próprios músicos. Nos primeiros anos, os instrumentistas não eram assalariados, tocavam pelo amor à música, e para se manter exerciam suas profissões que garantiam a renda da família. A Orquestra viveu a sua pior crise durante a Segunda Guerra Mundial. No ano de 1945, quase fechou as portas por falta de dinheiro para sua manutenção. Naquela época, não havia leis de incentivo à cultura, como a atual Lei Rouanet, criada em 23 de dezembro de 1991, que hoje mantém grande parte da receita da Sinfônica.

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Cultura

Novo lar Durante muitos anos os ensaios da Orquestra foram nômades. Sem sede própria, os encontros aconteciam na casa dos músicos e diretores, ou no subsolo do Pedro II. Depois de muito esforço, a Sociedade Musical conquistou uma sede, que era apenas uma sala, instalada no prédio Diederichsen. Mas a alegria durou pouco. Não havia recursos suficientes para o pagamento do aluguel. Novamente sem um local fixo para ensaios, a OSRP lançou o “Livro de Ouro dos Sócios Beneméritos”. Este livro consistia na assinatura de sócios e a quantia doada por eles, sendo a primeira a da Sinhá Junqueira, com a doação de 20 mil cruzeiros. Essa foi uma das razões para que a Sinhá tenha sido intitulada Sócia Benémerita da Sinfônica de Ribeirão. Mas o amor pela instituição não parou por aí. Em 1950, ela doou um valioso terreno de 1.320 metros quadrados, localizado na Avenida Francisco Junqueira, para ser construída uma sede. No entando, não foi erguida a sede nesse terreno, mas o valor adquirido com sua venda, possibilitou a compra de um imóvel localizado na Rua São Sebastião 1.002 que desde 1958 é a sede da Orquestra. Este espaço trouxe muita alegria para a associação, mas também traz histórias inusitadas. O prédio em que abriga a orquestra é considerado, por alguns, como mal-assombrado e guarda lendas como, por exemplo, a luz vermelha no forro que nunca se apaga. José Maria Lopes trabalha na Sinfônica há 32 anos e atua como trombonista há 26. Ele conta que já presenciou cenas inexplicáveis dentro do prédio. “Por várias vezes, eu ficava aqui sozinho até tarde estudando e presenciei por-

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ta se abrindo sozinha, sem vento e sem ninguém. E também tem uma luz no teto que não desaparece”. A tão temida luz no teto aparece por uma fresta entre as placas de madeira no forro. A cobertura já passou por reformas e ninguém nunca conseguiu encontrar essa luz, que não se apaga desde a construção deste prédio. Zé, que é considerado “história viva” da Orquestra de 1980 até hoje, lembra também de fatos engraçados. “Teve um concerto no Teatro Municipal de Ribeirão, onde os praticáveis estavam muito velhos, e no momento em que o maestro deu a entrada para os trombones, os três trombonistas caíram junto com os praticáveis”, explica ele gargalhando ao lembrar da história. São muitas lendas e lembranças em meio às quais, a Orquestra começou a se profissionalizar na década de 90, quando todos os colaboradores passaram a receber salário, ter carteira assinada e carga horária a ser cumprida. Consequentemente, deu-se o desenvolvimento técnico com a vinda de grandes maestros. A Sinfônica teve vários maestros-titulares renomados como: Ignázio Stábile, Enrico Ziffer, Spartaco Rossi, Hércules Gumerato, José Viegas Neto, Lutero Rodrigues, Marcos Pupo Nogueira, Jorge Salim, Roberto Minczuk, Norton Morozowicz, Matheus Araújo, Marcos Arakaki e Cláudio Cruz. Além de ter sido regida por maestros convidados e consagrados como João Carlos Martins, Eleazar de Carvalho, Isaac Karabtchevsky, Filipe Lee, Gunter Neuhold e Ricardo Kanji.

Som do estrange A situação política e financeira na antiga União Soviética foi uma das responsáveis pela vinda de russos, búlgaros e ucranianos para a OSRP na década de 90, que acabou agregando qualidade e profissionalismo. O clarinetista ucraniano Bogdan Dragan, 40 anos, começou os estudos da clarineta aos 10. Ele ficou sabendo da audição da orquestra ribeirão-pretana por intermédio de um amigo. Montou um vídeo e foi convidado a mudar-se para

Nós três sempre estivemos juntos: eu, o Bogdan e a clarineta

o Brasil em 1998, na época em que o regente era Roberto Minczuk. Casado e pai de uma menina, Sofia Dragan, ele resolveu fugir da crise que imperava na Ucrânia, e veio para o país do samba. “Minha rotina nos primeiros dias se resumia em tomar banho frio a cada 10 minutos e estudar o português”, conta o clarinetista. Já sua esposa, Snizhana Drahan, veio para o Brasil um ano depois. Professora e regente de coro, ela diz que gostava de canto desde muito cedo. Nascida em família de músicos,


eiro Sni, como é conhecida pelos amigos, já regeu importantes corais da Ucrânia e em 2008 criou a Escola de Canto Coral da OSRP, e ensaia três coros: lírico, de câmara e juvenil. Ela conta que para não perderem as raízes, as filhas Sofia (nascida na Ucrânia) e Caterina (nascida no Brasil), têm aulas de ucraniano e russo toda semana, mas o idioma russo prevalece no ambiente familiar. Na época, o casal não pensou nas dificuldades e veio com duas malas. Andavam de bicicleta e achavam a vida uma maravilha. “Hoje, eu não sei se eu faria tudo isso novamente. Mudar para um país que não conhecíamos, com criança pequena e sem segurança no empredo. É meio loucura”, explica a regente entre sorrisos e olhar de espanto. Bebê no colo, panelas, passeios de bicicleta e muitas cartas para a Ucrânia, foram assim os primeiros dias de Snizhana no novo país. E ela brinca com o marido: “Nós três sempre estivemos juntos: eu, o Bogdan e a clarineta”.

Minha rotina nos primeiros dias se resumia em tomar banho frio a cada 10 minutos e estudar o português

Sinfônica de Ribeirão e o Theatro Pedro II comemora os 156 da cidade

Principal palco Tanto o Theatro Pedro II quanto a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto são considerados patrimônios histórico-culturais da cidade. Ambos lutaram e ainda lutam muito pela sua sobrevivência. Inaugurado no dia 8 de outubro de 1930, com apresentação da Orchestra Synphonica de Ribeirão Preto, o Theatro é considerado o principal palco da OSRP. O concerto de inauguração do Pedro II foi regido pelo maestro Ignacio Stabile, que apresentou a obra Il Guarany, de Carlos Gomes. Logo após as festividades, foi acordado que a Sinfônica de Ribeirão apresentaria seis concertos de gala anualmente, estreitando ainda mais os laços entre as duas instituições. O Theatro foi durante muitos anos um dos espaços que os músicos da Sinfônica utilizavam para ensaiar. Isto aconteceu até o ano de 1980, quando pegou fogo e ficou 16 anos abandonado sob ruínas. No ano de 1996, o Pedro II finalmente foi reinaugurado, depois de anos de recuperação e restauração, e mais uma vez a Orquestra esteve presente em uma data importante no seu palco preferido. Ali, foi a vez de Roberto Minczuk reger a mesma obra de Carlos Gomes que havia sido apresentada no concerto de 1930. Houve também a apresentação da 9ª Sinfonia de Beethoven, sob a batuta de Isaac Karabtchevsky. Anualmente, a Sinfônica apresenta um concerto de comemoração da reinauguração e do aniversário do Pedro II, além de apresentar mensalmente as séries Concertos Internacionais e Juventude Tem Concerto, arrancando longos aplausos do público e lotando as galerias.

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Cultura

Tocando em família M

úsico mais antigo da “casa”, devido aos seus 32 anos de OSRP, Walter Ferreira, 56 anos, é o “patrimônio” da Orquestra. Ele já estudou outros instrumentos, até chegar no que viria a ser o seu sustento nas últimas três décadas, o contrabaixo. “Escolhi o contrabaixo pela beleza do som, pois tem um som grave”, conta Waltinho. Antes de entrar na Sinfônica, ele já havia tocado muito

em bandas de música popular. Mas o seu gosto pela música orquestral falou mais alto. Natural de Barretos-SP, mudou-se a Ribeirão em 1975 e cinco anos depois já fazia parte do naipe de contrabaixo da instituição. Ele lembra que havia muitas brincadeiras entre os músicos, como por exemplo, soltar a cravelha dos instrumentos de corda para desafiná-los nos ensaios. “As vítimas eram escolhidas discretamente. Quando chegou a minha vez, todos riram do som que o contrabaixo desafinado provocou”. Concordando com o trombonista Zé Maria, ele ressalta a importância da profissionalização que a Orquestra conquistou a partir de 1990 e comenta a chegada dos estrangeiros. “A música é universal. A partitura é a mesma em qualquer canto do mundo”. Ele também se recorda de uma das crises que enfrentou nas três décadas de trabalho na instituição. “Acredito que a pior que vivenciei foi no ano de 92, quando teve a troca de moeda nacional. Tivémos que começar do zero”.

Seu filho, Vinícius Ferreira, 26 anos, resolveu seguir seus os passos, e desde 2005 toca contrabaixo ao lado de seu maior mestre. “Comecei a estudar contrabaixo em 2000 e meu pai foi o meu primeiro professor”. Desde criança, Vinícius acompanha o pai no trabalho, mas o encontro com a música não foi amor à primeira vista. “Eu tinha 14 anos quando comecei a me interessar pela música. Foi quando a Orquestra fez uma montagem da Carmina Burana, de Carl Orff, e precisava de crianças para integrar o coro”. Mesmo tendo feito musicalização em outros instrumentos, Vinícius não fugiu às raízes. Waltinho resume como é trabalhar ao lado do filho: “é como se estivesse em família, é o que muita gente quer”.

Max Bartsch Nascido em Nuremberg, na Alemanha, em 9 de abril de 1888, Max Bartsch se mudou com sua família para o Brasil em 1910. No início, a família morou em uma fazenda em Jardinópolis-SP e em 1914 veio para Ribeirão Preto. Era jardineiro como seu pai, e no ano de 1920 foi contratado pela prefeitura da cidade, para cuidar do Horto Municipal. Hoje em dia, ninguém imagina que foi ele quem plantou as palmeiras das praças das Bandeiras e XV de Novembro. Depois de um tempo, Max foi convidado para trabalhar na Cervejaria Antarctica, onde ficou durante 12 anos e conquistou o cargo de gerente. Mesmo sua família mudando-se para Taubaté-SP, ele permaneceu em Ribeirão, e se casou em 1922. A música sempre fez parte da vida de Max Bartsch. Desde jovem, ele estudava música na Alemanha. Chegou a tocar violão, violino, mas preferia a cítara. Em 1928, criou o Quinteto Max. Nos anos 30, também participou do Jazz Band Cassino Antartica. Em 1938, fundou

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Arquivo histórico Ao longo dos seus 74 anos, a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto foi colecionando histórias e documentos importantes sobre a trajetória da música na cidade. O ex-maestro da OSRP, Marcos Pupo, que também era professor, orientou Gisele Haddad em seu projeto de pesquisa sobre a história da música em Ribeirão e informou que na sede da Sinfônica poderia haver bastante material para o seu trabalho de mestrado. Como a diretoria da época permitiu o livre acesso de Gisele à instituição ela teve uma ideia para retribuir a ajuda. “Pensei que tinha que fazer algo que retribuísse o meu acesso e a coleta de dados neste acervo e por isso eu deixava tudo mais organizado do que encontrava. Aí, em 2008, fui contratada como arquivista assistente”. Quando a musicista entrou, muitas partituras e documentos estavam armazenados em salas úmidas e empoeiradas. “Os funcionários mal sabiam do que se tratava o material”, explica Gisele. O Arquivo Histórico foi assim denominado por Myrian

a Sociedade Musical de Ribeirão Preto, mantenedora da OSRP, da qual se tornou o primeiro presidente. No ano de 1970, faleceu em Ribeirão Preto, mas deixou um legado de música de qualidade, assim como ele defendia e fazia questão que estivesse impressa nos primeiros programas de concertos “O cultivo da boa música educa o povo”.

Os funcionários mal sabiam do que se tratava o material

Strambi, oboísta da Orquestra, falecida em 1989, logo após publicar o livro “50 anos de Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto”, para comemoração do jubileu de ouro da Associação Musical, no ano de 1988. “Para escrever o livro, ela organizou partes dos programas de concertos e outros documentos antigos”. A responsável pelo Arquivo diz que há projeto para digitalização de todo o arquivo musical e histórico, além de ser aberto ao público. “A principal dificuldade é um espaço onde o material possa ser centralizado e armazenado de maneira correta”, explica Gisele. Não há um cômodo na sede que possa integrar as atividades de higienização, manutenção e armazenamento. “Enquanto isto, fazemos o possível para atender estudantes e pesquisadores”. O arquivo concentra muitos documentos importantes (atas, fotos, DVDs, CDs, placas de homenagem, manuscritos de composições e instrumentos), como um programa de concerto em que a OSRP se apresentou em um banquete na cidade de São Paulo, em 27 de abril de 1940, oferecido ao Presidente da República Getúlio Vargas, em comemoração do segundo aniversário do governo estadual de Adhemar de Barros. “Este programa têm a assinatura do próprio Getúlio e do Adhemar”, ressalta Gisele.

Filho da orquestra “Assisto os concertos da Orquestra de Ribeirão desde a minha infância. Meu tio-avô Augusto Seabra teve uma longa história nesta orquestra. Foi violista, violinista e spalla por muitos anos. Portanto, decidi ser músico por volta dos 15 anos, inspirado não só pela família, mas também pelo Juventude Tem Concerto. E não tenho medo de afirmar que sou filho daqueles maravilhosos domingos de manhã”. Quem conta esta história é Lucas Galon, ex-violista da OSRP, atual coordenador pedagógico e professor dos projetos socioeducativos da Sinfônica. Lucas cresceu em família de músicos. Como várias crianças que se tornaram músicos da própria Orquestra que assistiam, ele acompanhava o Juventude Tem Concerto, série mensal da Sinfônica de Ribeirão que consiste em concertos gratuitos para crianças e jovens, e acontecem nas manhãs de domingo, desde 1996. Quando questionado se gosta mais da parte artística-cultural ou educacional da música, Lucas filosofa: “pode parecer uma resposta meio em ‘cima do muro’, mas acredito que as duas estão tão relacionadas que as confundo”. Como o sonho de Max Bartsch, o cultivo da boa música educou, educa e educará o povo, além de transformar um grande sonho em uma belíssima melodia.

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Cultura

a magia da arte volta

Foto : Arquivo Pessoal / Alberto Zeiger

Inaugurado há 43 anos, o Arena já foi palco de grandes musicais e inesquecíveis espetáculos teatrais. Hoje, o espaço luta para sobreviver e permanecer como exemplo do eixo artístico e cultural da cidade.

a cultura de Ribeir Texto e Fotos: Luara Gallacho

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rão Preto agradece 2012 – VIDA URBANA

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Cultura

O

lugar é magico. Quase escondido em seis mil metros quadrados de mata no alto do Morro do São Bento, o Teatro de Arena Jaime Zeiger é sempre uma surpresa de tirar o fôlego para quem chega lá – mesmo que já tenha chegado centenas de vezes. Encravado em um terreno rebaixado e coberto por dezenas de árvores, o teatro foi planejado como as antigas arenas gregas, onde a arte de representar teve início, e é uma das poucas casas de espetáculo nesse formato existentes no Brasil Chega-se, então, pela parte mais alta. Lá de cima é possível divisar o teatro todo, como se fosse parte da natureza daquele lugar. Construído em semicírculo, é formado por quinze degraus descendentes que levam até um espelho d’água, circundando o palco e garantindo a belíssima reverberação acústica que já encantou milhares de fãs em shows de rock, de MPB, peças de teatro, comícios políticos e festivais musicais. Na verdade, ao longo de seus 43 anos de existência, o local cumpriu a

vocação de ser uma verdadeira arena de acontecimentos, espaço de encontro de várias gerações de cidadãos que durante esse tempo ali vêm se reunindo para festejar, protestar ou simplesmente se encantar. Inaugurado em 28 de junho de 1969, o Teatro de Arena surge na cidade num período de pouca diversão e muito medo. Enquanto o país passava pela ditadura militar, que durou de 1964 a 1985, nascia um espaço para jovens lutarem contra os valores impostos e a favor da liberdade. Segundo informações do historiador e documentarista de Ribeirão Preto, Arthur Barros, as grandes manifestações estudantis passaram por ali depois do golpe militar de 64. “Os jovens iam ao Arena não só pelos shows, mas para trocar ideias sobre os rumos do país, como as Diretas Já. Ali se encontrava toda a moçada que na época tinha pensamento de vanguarda”, conta Barros. A secretária Municipal de Cultura, Adriana Silva, lembra que esse início da trajetória do Arena o caracterizava como palco de resistência cultural.

A platéia vista do palco: integração entre artistas e público

LEGENDA

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“Principalmente devido aos tempos difíceis de muita repressão e censura”, acrescenta. A obra tão importante no quesito histórico e arquitetônico da cidade foi um projeto do arquiteto e jornalista Jaime Zeiger, que precisou estudar bastante para escolher o local ideal para sua construção. No documentário “Teatro de Arena, os sonhos nunca envelhecem”, produzido pelo Museu da Imagem e do Som (MIS) de Ribeirão Preto e dirigido por Arthur em 2009, o filho de Jaime, Alberto Zeiger, explica que o pai viajava muito por causa do trabalho e tinha um conhecimento profundo de teatro e de acústica. “Além disso, ele não queria que o espaço fosse divorciado da vegetação. Queria manter o máximo de árvores e de verde”, conta Zeiger. Não é à toa que o Teatro de Arena foi construído em uma área com aproximadamente seis mil metros quadrados de mata no Morro do São Bento, parte de uma área de proteção ambiental. Ou seja, é proibido qualquer tipo de atividade que atrapalhe os mananciais de


Autor do espetáculo

Foto: Arquivo Pessoal/Alberto Zeiger

água, a fauna ou a flora do ambiente. As imagens do documentário contam a história do Teatro de Arena, que com seus quase 2.100 lugares ocupados, foi inaugurado ao som da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto com a peça de William Shakespeare – O discurso de Marco Antônio no funeral de Júlio de César, que teve a participação do ator Mario Marcio Puntel. Em setembro do mesmo ano (69), recebeu o Festival Estudantil de Música Popular (Femp), onde a canção vencedora foi “Viola e Morena”, de Rui Baiano e Zé Geraldo, da faculdade de direito Laudo de Camargo. Lotando todos os lugares, com direito a torcida organizada, aplausos e vaias, a primeira versão do Festival foi um sucesso e a abertura para inúmeros festivais que viriam em seguida. Os eventos que aconteciam no Arena revelaram grandes intérpretes da música brasileira. Entre eles, a jornalista Rosana Zaidan. “A música entrou na minha vida perto da década de 70, quando eu conheci Ser-

O jornalista e arquiteto Jaime Zeiger, idealizador e responsável pela construção do Teatro de Arena, nasceu na Polônia, no dia 17 de janeiro de 1919 e mudou-se para Ribeirão Preto em 1956. Além de produzir artigos para a mídia local, atuou como engenheiro civil, arquiteto e professor. Intelectual atuante na cidade, trabalhou na Prefeitura Municipal durante as gestões de Costábile Romano, Antônio Duarte Nogueira e Welson Gasparini. Depois de frequentar cursos de arquitetura e urbanismo na Universidade de São Paulo (USP), Zeiger idealizou a construção do Teatro de Arena como um espaço não apenas de eventos culturais, mas de encontro dos cidadãos. Como viajava muito e era um humanista, inspirou-se em obras teatrais da Grécia antiga, que valorizavam a arte como espaço de integração, além dos aspectos técnicos como acústica que grantia uma boa sonoridade ao público. Após receber o título de cidadão ribeirãopretano pela Câmara Municipal, o jornalista faleceu em 18 de fevereiro de 1982.

gio Mello, que me dava aula de violão”, revela no documentário. Rosana conta que foi descoberta durante uma dessas aulas, onde o professor surpreendeu-se com seu timbre e sua afinação e a comparou com Elis Regina.

De MPB à Ópera Em 1987, o Teatro de Arena voltou à ativa após receber uma restauração no ano anterior e, mais uma vez, o espaço tornou-se o ‘queridinho’ entre os artistas. A cantora Bia Mestri

Jornal com a música vencedora Viola e Morena (Foto: Arquivo Público e Histórico)

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Cultura

nér conta que a sensação que se tem quando se está no palco ou mesmo na plateia é de liberdade. “O Arena me parece mais expansivo, propõe espetáculos que tenham uma liberdade maior, principalmente porque o público se acomoda de um jeito diferente do que em um teatro fechado”, afirma. Característica também pensada por Jaime Zeiger, que trouxe a inspiração dos antigos teatros da Grécia. A cantora ainda relata que para ela e para outros músicos o local está aliado a grandes movimentos artísticos, guiando o eixo cultural do município. “O próprio espaço é uma delícia. É um dos mais brilhantes componentes culturais da cidade”. Palco de artistas como Elis Regina, Almir Satter e representações de musicais famosos como Hair, o Teatro de Arena encanta com suas peculiaridades. A diretora da Cia. Minaz, Gisele Ganade, responsável pelo espetáculo Hair, encenado em abril de 2010, conta que viu de perto Vinícius de Moraes, Rita Lee e o grupo Tarancon no palco do Arena. Mas revela uma curiosidade: foi nesse mesmo palco que ela cantou em público, na década de 70. “Mais tarde realizamos a ópera ‘A Flauta Mágica’ e o ‘Minaz Arena Rock’. Sempre com o teatro lotado, o que dá uma sensação maravilhosa de realização, não só pela quantidade de gente, mas pelo visual bonito das pessoas tão próximas. É um teatro muito vivo!”, acrescenta a Gisele. O músico Gabriel Locher participou do espetáculo “Minaz Arena Rock” junto com Gisele. “Já me apresentei muitas vezes no Arena, gosto muito do espaço. Fizemos uma apresentação do musical que tinha um público aproximado de 2 mil pessoas. Foi incrível!”, conta. Não é só de música, no entanto, que vive o Teatro. O local já foi e é

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Toquinho e Vinícius já se apresentaram no palco do Arena em 70 (Foto: Arquivo Pessoal/Elcio Bueno)

palco de diversas e importantes peças teatrais, não apenas de grupos locais, mas de todo o Brasil. “A acústica é ótima, pois é um teatro feito pra isso. É um espaço que instiga a imaginação e a criação de movimentos e cenários”, acrescenta a diretora da Cia. Minaz. O professor, ator e diretor de teatro José Maurício Cagno concorda: “Nesse Teatro, desde muito cedo, eu acompanhei os festivais estudantis, depois música e teatro de primeira qualidade, como o Grupo Oficina com o Zé Celso Martinez Correa fazendo “As Bacantes”. Zé Maurício recorda também que no Arena representou papéis inesquecíveis, como em uma bela montagem de “Prometeu”. “O Arena fez parte da nossa formação, como espectadores e artistas”, resume. Abandono e restauro Comum entre todos os artistas é a opinião de que o espaço está mal cuidado, praticamente abandonado. Locher, por exemplo, reclama dos camarins e banheiros; a diretora do coral Gisele aponta a necessidade de manutenção constante. “Além da restau-

ração, deveria existir uma equipe de funcionários para tomar conta do espaço para que ele não seja sucateado novamente”, relatam. Segundo a opinião geral, existem locais em estado ruim, falta acesso adequado para deficientes físicos, a iluminação é precária e o serviço do bar não Musical Hair encenado em 2010 pela Cia Minaz


consegue atender o público em grandes espetáculos. Sem contar o estado de abandono das arquibancadas, do palco, do piso e da própria vegetação do local. Ou seja, o cenário é desolador. A revitalização, no entanto, sempre foi assunto das comunidades de Ribeirão Preto. Em 2010, o Movimento Pró Arena foi criado por artistas e produtores locais com o intuito de defender o resgate, a ocupação do local e até mesmo o contínuo uso do palco. A importância da reforma e reutilização do Arena era mostrada ao público com a realização de ações multiculturais gratuitas no próprio espaço deteriorado. Porém, uma tênue luz no fim do túnel, parece estar começando a brilhar sobre o Arena. No dia 17 de maio de 2012, a Secretaria da Cultura de Ribeirão Preto anunciou uma surpresa: começou o processo de revitalização do Teatro. Segundo a Secretaria da Cultura, o valor da obra é de R$ 1.026.481,55 e o engenheiro responsável, Cristovam Griffo.

O objetivo, segundo o projeto aprovado pela Prefeitura, é, além de recuperar o local, construir rampas de acesso para os portadores de deficiências, novos banheiros e camarins e restaurar o paisagismo, a iluminação e o espaço da bilheteria. Outras mudan-

nar fora negado em primeira instância. A liminar tinha sido requerida pelo Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema), que teria identificado nas obras riscos ao parque criado em 1995 e considerado área de proteção integral.

Teatro de Arena passa por revitalização em 2012

de Ribeirão Preto (Foto: Divulgação Cia. Minaz)

ças vão ocorrer no palco circular onde deve ser construída uma proteção, além de um acréscimo na altura da cabine de som. A obra estava prevista para ficar pronta no dia 16 de novembro de 2012, mas atrasou. O motivo é uma liminar expedida pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que proíbe obras de revitalização no Morro de São Bento, onde fica o Teatro de Arena. O texto prevê a paralisação das intervenções no local, em virtude da falta de um conselho gestor responsável pela área. A decisão foi protocolada após um agravo de instrumento do Ministério Público, cujo pedido inicial de limi-

A ausência de um Conselho Gestor do processo de revitalização do Morro do São Bento foi descoberta por inquérito do Ministério Público e justificada pela Prefeitura, segundo o MP, pela existência de várias legislações que garantem a proteção ao parque. A Prefeitura Municipal, no entanto, recorre da decisão e a promessa é de que músicos, artistas, maestros e atores voltem a se apresentar já em 2013 no espaço que foi tão importante para a história da cidade. “O que falta para Ribeirão é alguém que valorize e dê as honras artísticas que o Teatro de Arena necessita”, diz no documentário o ator e diretor José Maurício.

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VIDA URBANA – 2012


Atrás das cortinas Texto Lucas Moreira – Fotos: Lucas Moreira e Divulgação

Inaugurado há 82 anos, o Theatro Pedro II, terceiro maior teatro de ópera do País em capacidade de público, tem nos bastidores dezenas de profissionais que antes e durante os espetáculos deixam a casa em ordem e garantem o show 2012 – VIDA URBANA

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Cultura

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lateia cheia, Sala dos Espelhos iluminada, cortinas abertas, público de gala, som testado, expectativa de lotação: 1.580 pessoas. Esse ritual acontece praticamente todos os finais de semana no Theatro Pedro II. O público vai se acomodando, os artistas fazem seus últimos preparativos, músicos afinam seus instrumentos e o espetáculo finalmente começa. Atrás das cortinas, anônimos que se empenharam para deixar a casa em ordem e garantir o sucesso suspiram aliviados. O espetáculo deve transcorrer com tranquilidade. Os trabalhadores do Pedro II cuidaram de cada detalhe. Cada um em sua função, movendo uma peça fundamental – porque o show tem que continuar. Inaugurado em 1930, o Theatro Pedro II é um dos cartões postais de Ribeirão Preto. Localizado no Quarteirão Paulista, no centro da cidade, em frente à histórica Praça XV, recebeu nos últimos quatro anos aproximadamente 600 mil pessoas, que foram até ao local para visitarem o prédio em estilo eclético ou assistirem apresentações musicais, grupos de dança, peças teatrais, comédias e shows entre outros eventos. Josué de Lima Peixoto começou a frequentar o Theatro em 1964, quando era estafeta dos correios e entregava documentos no local. Desde 2009, ele é presidente da Fundação Dom Pedro II e trabalha em conjunto com a equipe da administração, cuidando minuciosamente para que a programação do Theatro atenda todos os perfis e faixas etárias. “Nos preocupamos em selecionar eventos e distribuí-los na agenda para que crianças, jovens, adultos e idosos de todas as classes sociais tenham acesso a eventos culturais”, explica Peixoto. Para a manutenção dos 5.800m² do Pedro II, distribuídos por três sub-

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“Nos preocupamos em selecionar eventos e distribuí-los na agenda para que crianças, jovens, adultos e idosos de todas as classes sociais tenham acesso a eventos culturais” (Josué de Lima Peixoto)

solos e cinco pavimentos, o Theatro conta com vinte colaboradores. Entre esses, oito são responsáveis pela limpeza, deixando recepção, plateia, palco, frisas, balcões, galerias, camarotes, camarins, cafés e banheiros brilhando antes e depois de cada apresentação. “No mês de janeiro de cada ano, profissionais realizam uma operação especial que limpa e troca todas as luzes do lustre de cristal ‘Gota D’água’, que pesa 1.400 quilos e tem 2,70 metros de altura por 2,1 metros de largura”, conta o presidente. Fora isso há os funcionários administrativos, cênicos, de iluminação e som. Um destes funcionários que entra em cena todos os dias é Luiza Odete Iote. Moradora da periferia de Ribeirão Preto, vai até à Praça XV de ônibus. Chegando no teatro, verifica e afina seus instrumentos: vassoura, rodo, pano, água e produtos de limpeza. “Deixamos o Theatro impecável para o público. Para isso, seguimos um cronograma e nos organizamos para limparmos cada canto do Pedro II, desde as madeira de lei e os mármores, até os estofados, carpetes e vidros”, orgulha-se Odete. Nos intervalos da jornada de trabalho, a auxiliar de limpeza tem o privilégio de acompanhar a preparação e também as apresentações nacionais e internacionais. “É emoDivulgação


cionante e muito gratificante assistir a grandes espetáculos na casa. Tenho orgulho de saber que colaborei para a realização de cada um”, emociona-se. Considerado um dos melhores teatros do país em perfeição acústica, o Pedro II conta com um potente equipamento de som, composto por amplificadores, equalizadores, monitores e caixas de som. Quem conhece detalhadamente esse equipamento é Ricardo Moreira. Desde criança ele passava em frente ao Theatro e sempre admirou a beleza arquitetônica do local. Técnico de som do Pedro II há 16 anos, Ricardo é um dos responsáveis para que o som da música e a magia das palavras estejam em sintonia e emocionem os espectadores. “Os dias e horários de trabalho variam dependendo de cada evento, o que faz com que eu não caia na rotina”, explica. “Gosto muito do que faço, pois tenho a oportunidade de conhecer muita gente e trabalhar com pessoas diferentes a cada dia”, garante Moreira, que diz conhecer profissionais de todo o país e até do mundo.

Com 27 metros de largura, 17 metros de profundidade e 10,5 metros de boca de cena, o palco do Theatro já recebeu grandes atrações como a Orquestra de Sopros da Alemanha, o dançarino Mikhail Baryshnikov, o músico americano Ray Conniff, o Circo da China, entre outras atrações internacionais. Para colaborar com a montagem e desmontagem de grandes orquestras, há no fosso do palco um elevador sobre uma plataforma de 12,50 metros de comprimento por 3,20 metros de altura, que funciona por sistema hidráulico e pode erguer até 30 mil quilos. Desde a reinauguração do Theatro em 1996, que foi reconstruído após um incêndio tê-lo destruído parcialmente em 1980, quem cuida da mecânica cênica é João Ribeiro Garcia. “Eu auxilio e dou suporte às equipes para que a produção de todos os eventos seja realizada com sucesso. Meu dia a dia é uma caixinha de surpresas, onde aprendo mais a cada dia”, revela Garcia, lembrando-se de espetáculos que exigem mudanças de cenário e

efeitos de palco, caso de grandes óperas nacionais ou grupos internacionais de dança como Deborah Colker, Momix e Pilóbilos. A iluminação do Pedro II também foi planejada para garantir perfeito conforto visual aos espectadores. Além dos iluminadores próprios de cada companhia que se apresenta no teatro, dois funcionários do Pedro II estão sempre a postos para operar as luminárias e garantir que os 248 refletores do palco funcionem corretamente. Além de três transformadores de 300 kw, um transformador de 32 kw e geradores com capacidade para iluminar uma cidade de até cinco mil habitantes, instalados na cabine elétrica do Theatro. Josué, Luiza, Ricardo, João e mais uma dezena de profissionais conti-nuam a trabalhar diariamente por trás das cortinas para que ao cruzar o saguão do Pedro II, escritores, atores, cantores, músicos, bailarinos e toda a população vivam a magia deste patrimônio histórico e cultural da cidade de Ribeirão Preto.

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