À Tabela - edição 100

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ORGÃO DA COMISSÃO DE TRABALHADORES DA CP

São apenas três algarismos, que escolhemos para título deste editorial, primeiro para prestarmos homenagem aos homens que derrubaram a corrupta monarquia dos Braganças, abrindo novos horizontes para o povo português. O segundo motivo da escolha deste título tão simples reside na circunstância deste ser o nosso boletim informativo nº 100 do “A TABELA”. Salvas as devidas proporções são dois factos que julgamos dignos de serem assinalados. No que se refere ao 5 de Outubro de 1910, importa salientar a importância histórica da Implantação da República, sem cairmos no erre, de alguns comentadores, ao julgarem os heróis da Rotunda pelos erros cometidos

Nº 100

pelos sucessivos governos que dominaram a Primeira República. Este erro, a nosso ver, corresponderia, hoje, atribuir aos capitães de Abril a responsabilidade dos desvios e traições de toda a espécie a que assistimos nos últimos 30 anos. Quanto ao nº 100 do “À TABELA” é com satisfação que registamos esta meta, atingida com muito esforço e sempre com a firme intenção de promover a unidade de todos os verdadeiros trabalhadores ferroviários na acção das suas lutas por melhores condições de vida e de trabalho. É neste rumo que vamos prosseguir, sempre atentos às criticas e aceitando todas as boas colaborações que nos chegarem.


PRIVATIZAÇÃO DA CP ALVO ESCONDIDO COM RABO DE FORA Torna-se cada vez mais claro que a privatização da CP foi minuciosamente planeada, desde o primeiro governo do Soares. Os ziguezagues que o processo tem sofrido só podem ser explicados pela forte resistência dos ferroviários. Tudo o que se tem dito em defesa da danosa gestão da CP nos últimos 30 anos não passa de puro simbolismo. A privatização foi sempre o objectivo primeiro de todos os governos do PS e do PSD. Como todos devemos lembrarnos todas as decisões de combate ao défice da empresas apontavam, invariavelmente, para a redução do mesmo, mas nunca tal se verificou. E isto é tanto assim que neste momento, não obstante terem sido suprimidos nove mil postos de trabalho no grupo CP, só a Refer tem hoje prejuízos superiores ao conjunto de todo o sector quando estava unido. Mas o embuste onde tentam esconder-se os defensores da entrega do caminho de ferro aos privados não se fica por aqui. Na realidade está hoje provado que o custo, por passageiro transportado, é hoje muito mais reduzido na CP que na Fertágus, empresa a que é permitido um tarifário duas vezes e meia mais caro que o da CP e à qual se poupa todas as despesas inerentes à utilização das infraestruturas. Bem podem os habituais defensores da chamada iniciativa privada berrar contra a ineficiência da gestão da CP, porque os ferroviários têm perfeita consciência de que os flagrantes erros cometidos na sua gestão se devem mais à obediência cega, às orientações superiores, do que à

eventual incompetência deste ou daquele administrador. Mas as coisas começam a ficar bem claras. Passada uma primeira fase em que a organização dos ferroviários foi considerada, até em documentos oficiais, como o grande obstáculo à política neo-liberal que os governos pretendiam seguir, fase em que a meta da divisão dos trabalhadores levou os CG’s ao ponto de tomarem a iniciativa de criar sindicatos, passou-se à divisão da estrutura administrativa da empresa, com a criação de várias subsidiárias e, em coma destas uma série de unidades de negócio, que apenas serviram para encaixar largas dezenas de “boys”, tanto do PS como do PSD. A fase da divisão dos trabalhadores passou à história. Perdemos algumas batalhas, mas, no essencial, soubemos manter um nível de unidade bastante razoável, como a greve de 24 de Novembro confirmou. Mas no que toca à divisão da CP, as coisas foram levadas longe de mais, pelo que começam, agora, a sentir-se na corda bamba muitos dos que entraram pela porta do cavalo. Tal como se previa a pulverização da CP, com a criação de dezenas de empresas e unidades de negócio, serviu apenas para destruir. Agora parece estar a chegar a hora de colar os cacos, para que aos privados seja entregue uma empresa com um mínimo de coerência económica. Os “boys”, que nos entraram pela porta dentro na fase anterior, podem começar a pôr as barbas de molho. Já cumpriram o seu papel. Tornaram-se inúteis, tal como as organizações artificiais de trabalhadores, vão ser abandonadas. Já começaram a sê-lo.

CT EXIGE INFORMAÇÃO SOBRE AUSTERIDADE A Comissão de Trabalhadores reuniu, no pretérito dia 23 de Novembro, com o presidente do conselho de administração, ao qual teve oportunidade de solicitar toda a informação disponível sobre as consequências, para a empresa, para utentes do caminho de ferro e para os ferroviários, das medidas de austeridade que o governo do PS, acolitado pelo PSD, decidiu impor ao País e, com particular dureza, aos trabalhadores, aos desempregados e aos reformados. Da informação que nos foi dada pelo presidente do conselho de administração ressalta a intenção de suprimir mais algumas linhas, onde, de acordo com os critérios economicistas do governo, quando a redução do número de passageiros o justifique. O CA está ainda a estudar as implicações que as medidas de austeridade do governo recomendam, incluindo o reequacionamento de todo o movimento da rede, partindo, desde já, do pressuposto de que alguns serviços não se justificam, com a agravante do CA admitir já que em algumas áreas há excedentes, como se os trabalhadores fossem mera mercadoria.

De tudo o que lhe foi comunicado a CT ficou com fortes preocupações quanto ao futuro próximo do nosso sistema de caminho de ferro, à defesa dos postos de trabalho e dos salários, que o governo nos quer roubar. Na reunião que teve com o CA a CT reafirmou que os trabalhadores não têm a mínima responsabilidade na crise que se abate sobre os mais fracos, pelo que rejeita firmemente o roubo dos salários, assim como a subida do IRS e do IVA. Foi ainda abordada a questão do encerramento do refeitório de Santa Apolónia e o risco do infantário do Barreiro vir a ter o mesmo fim, por falta de condições. O CA comprometeu-se a analisar o problemas do infantário, de forma a encontrar uma solução que não passe pelo seu encerramento. Quanto ao refeitório de Santa Apolónia a resposta da administração já foi menos assertiva, dizendo que o mesmo depende exclusivamente da Refer. O CA comprometeu-se, por outro lado, a encontrar, em colaboração com a Refer, uma solução para o problema da porta de Santa Apolónia que dá acesso aos restaurantes, aos correios e autocarros.

UM PROVOCADOR DENTRO DE CASA No pretérito dia 24, quando os trabalhadores se encontravam empenhados no cumprimento dos objectivos da greve geral, em Braço de Prata assistiu-se a uma série de provocações, que só não redundaram em conflitos muito graves devido ao elevado sentido de responsabilidade dos ferroviários que ali integravam o piquete de greve. E por mais estranho que possa parecer o autor das referidas provocações foi, pasme-se, um graduado da PSP, 2

agora a prestar serviço na Refer com responsável da segurança no posto de controlo O referido comissário da PSP, Rui Miguel Costa da Fonte de seu nome, tudo fez, para justificar a intervenção policial com as suas irresponsáveis manobras provocatórias. É caso para nos interrogarmos se o sr. Rui Fonte está a ser pago pela Refer para evitar zaragatas ou antes, como ele manifestamente, tentou, as provocar.


PRIVATIZAÇÃO A GRANDE AMEAÇA Numa entrevista dada ao Blog “Olhe que não”, na véspera da greve geral de 24 de Novembro, José Reizinho, coordenador da Comissão de Trabalhadores da CP, analisou a situação laboral que se vive na empresa e sublinhou que, neste momento, a ameaça que recai sobre os trabalhadores é o projecto, semi escondido da privatização da empresa. Depois de afirmar que o divisionismo já passou por tempos melhores, José Reizinho defendeu convictamente que o trabalho unitário é o caminho certo para a luta dos ferroviários contra a grande ameaça que os cerca, que é o projecto encapotado da privatização de todas as empresas do sector ferroviário.

Para José Reizinho a privatização teria como objectivo entregar a um grupo, por baixíssimo preço, toda a infraestrutura da rede nacional de caminho de ferro, sem que o estado, ao menos, recuperasse o investimento que fez. Para os trabalhadores seria a supressão dos seus principais direitos, como se viu, e vê, na Fertágus, mas para os utentes o cenário não seria menos dramático. Com o lucro fácil e rápido como único objectivo os bilhetes aumentariam brutalmente e as condições de transportes seriam reduzidas, tal como se verificou em Inglaterra.

AINDA A GREVE GERAL O esforço desesperado dos sectores mais retrógrados da nossa sociedade na tentativa de denegrir o êxito da greve geral de 24 de Novembro teve o mérito de realçar ainda o impacto desta histórica paralisação. Podemos mesmo afirmar que maior que o êxito da greve geral foi apenas a desfaçatez com que o governo do PS, acolitado por alguns, poucos, escribas perto do PSD, tentaram sem o conseguirem, denegrir aquela que foi a maior paralisação laboral de todos os tempos. Desta feita, com o sistema de transportes totalmente parado, os hospitais a cumprirem apenas os serviços mínimos, com o lixo amontoado em todo o País e milhares de escolas fechadas, aos detractores da luta dos trabalhadores contra a política anti-social, do governo do PS, acolitados pelo PSD, o máximo que puderam dizer é

que um milhão de contratados a prazo ou com recibos verdes, tiveram receio de já não terem trabalho no dia 25, dada a tremenda pressão exercida pelos patrões, que em muitos casos nem toleram a simples sindicalização. É neste clima de intimidação generalizada que devemos aliás, interpelar as posições dos chamados “furagreves”. Muitas vezes as suas posições de evidente oportunismo de ausência de camaradagem, podem resultar de um insuficiente esforço de esclarecimento de consciencialização. Há ainda os que são arregimentados para substituírem os trabalhadores em greve, também estes devem ser objecto de um esforço redobrado de consciencialização, porque, de acordo com a lei ninguém os pode obrigar a substituir trabalhadores em greve..

SEMPRE HOUVE LAMBE BOTAS Há gente que não aprende. Os senhores do dinheiro não respeitam nada nem ninguém, para além dos seus interesses imediatos, pelo que, aos que lhes lambem as botas, traindo os que estão próximos, pagam quase sempre com aquilo que, em puro vernáculo se designa por “um pontapé no rabo”. Vem esta nota a propósito duma informação que a responsável do Apoio da Gestão Norte e Sul, decidiu enviar aos trabalhadores, sobre a greve geral de 24 de Novembro último. Com esta informação a responsável mais não fez do que juntar-se ao coro dos que, julgando-se assim, imunes aos riscos que o grande capital e o governo fazem recair sobre os trabalhadores, resvalam para o lado mais retrógrado da sociedade portuguesa. As coisas são bastante claras. Para a direita o direito à greve deve ser respeitado, desde que não seja efectivamente exercido. Para esta gentalha o direito à greve, que todos hipocritamente dizem respeitar, é assim como que o latim ou o grego, línguas mortas, a que se dá muito valor, mas que ninguém fala. Bem pode, pois, a sr.ª. Célia Maria Farinha Brito Melo Carvalho estar descansada, que a sua arremetida pidesca contra os trabalhadores que perderam um dia de salário

para exercerem efectivamente um direito constitucional, não nos aquece nem arrefece. Só perdemos alguns minutos consigo porque a sua iniciativa se nos afigura de uma flagrante falta de lealdade com os ferroviários, para além de configurar uma manifesta infracção da lei. Sempre ouve lambe botas...

“À TABELA” Nº 100 DEZEMBRO DE 2010 Orgão da CT da CP Redacção - Secretariado da CT da CP Composição e Impressão - CT da CP Calçada do Duque, 20 Tel: 211023739 - 211023924 1249-109 LISBOA 3


sacrifícios iguais para todos é a maior de todas as tretas Esta dos sacrifícios iguais para todos, que o governo do PS e dos seus parceiros do PSD andam a querer impingir ao Zé Povinho, ia provocando uma guerra lá em casa, sim porque, a minha Teresa, que de trouxa não tem mesmo nada, não tolera que a queiram levar por parva. Vem esta conversa a propósito das juras e mais juras, do PS e do PSD, segundo as quais os sacrifícios que a crise está a fazer exigir aos portugueses têm sido equitativamente distribuídos por todos. Para a minha Teresa as coisas põem -se neste pé: -Trata-se, Zé, da maior treta ouvida nos últimos anos, podendo dizer-se mesmo que esta é a treta mãe de todas as tretas. Quando, tentando deitar água na fervura sugeri à minha Teresa que poderíamos, talvez, ver a situação por outro prisma, ou seja admitindo a relatividade das coisas, atirou-se a mim como uma gata assanhada... -Tu não vês Zé, que além de nos estarem a explorar ainda nos tomam por tolos? Tu não vês Zé, que eles

acham que é o mesmo roubar 50 cêntimos de uma pensão de 200 ou 180 euros, que descontarem 100 ou mesmo mil euros a um figurão, que, para vergonha do povo português os há para aí aos molhos, que se reformaram aos 50 anos, com a pensão por inteiro, de 15 ou 20 mil euros, que acumulam com chorudos vencimentos sacados pela calada da noite, a todo o género de empresas públicas, semi-públicas, municipais ou mesmo privadas, que engordaram à custa das maiores vigarices contra o Erário Público. -Mas… Teresa… -Qual mas, nem meio mas, homem. Tu não vês que esta gentalha, que se apoderou das rédeas do País vieram mais para se governar do que para governarem? -Sim, mas… -Lá estás tu com o mas… Abre os olhos mulher. Estamos a ser espezinhados e recusamos a ver a tragédia que temos à frente dos olhos. Para já um governo que tivesse a mínima preocupação de distribuir os sacrifícios por todos teria de começar por

pôr completamente a descoberto os beneficiários (que os há) do rombo que o Erário Público sofreu com a falcatrua do BPN. É aí que o governo deve ir buscar o dinheiro que está a esbulhar aos que menos podem. -Mas agora é difícil descobrir quem ganhou com a operação do BPN… -Eu não digo que não é difícil, mas todos sabemos que não é impossível, sobretudo se a PJ recebesse instruções precisas para tentar apurar quem foram os políticos que, beneficiando talvez de informação privilegiada, correram ao banco a tempo de escaparem à derrocada que acabou por nos soterrar a todos… -Mas o Sócrates diz que ao investir no BPN o governo o que quis foi evitar a falência total do nosso sistema bancário. -Olha Teresa, em teoria tudo pode ter motivado o governo, mas o que nós sabemos é que aos que levaram o banco à ruína ainda não lhes aconteceu nada. Continuam à solta e a gozar principescamente o produto do seu “trabalho honrado”… -Mas… -Aqui não pode haver mais espaços para mas. Porque o que tem de ficar bem claro é que a justa distribuição dos sacrifícios que o Sócrates hipocritamente proclama não passa de mais uma grosseira tentativa de enganar o povo, os trabalhadores, os desempregados, e os reformados. -Queres tu dizer, Teresa, que os nossos governantes, com tanta mentira e tanta conversa da treta não nos devem merecer a mínima confiança? - A conclusão não pode ser outra que não essa, Zé.

Zé Ferroviário

SÃO OS VOTOS DA COMISSÃO DE TRABALHADORES PARA TODOS OS QUE LUTAM NAS EMPRESAS DO GRUPO CP E SEUS FAMILIARES Nestes votos de felicidades estão abrangidas as aspirações de melhores condições de vide e de trabalho, o fim do roubo dos salários e o repúdio de qualquer plano de redução do número de efectivos.

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