Certo dia no Tabernáculo
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Tem certeza que eu tenho que entrar ali?
- Tenho. - Pelo que eu saiba, você é o profeta. - E pelo que eu sei você é o sacerdote. - Dá um tempo, Moisés! Quem é que passou 80 dias falando face a face com Deus? Eu? Lembra do dia em que o santuário foi consagrado? - Lembro. - Diz pra mim se você conseguiu entrar nele. A roupa de Moisés reflete o brilho das pedras preciosas peitoral do juízo da roupa de Arão. O sol do entardecer dá a elas um aspecto de incandescência. Moisés sorri. - Não. Não tinha condição. A unção não permitiu que eu sequer suportasse estar de pé. - E você espera que eu entre ali, Moisés? - Espero, Arão. - E se eu morrer Moisés? - Arão, se Deus quisesse que você morresse, não tinha te consagrado Sumosacerdote. - Moisés. Estou com medo. - Eu sei, Arão.
A coluna de fogo começava resplandecer sobre o teto do tabernáculo. O vento norte fazia o linho trançado dos muros estalar como trovões. Era o primeiro ano. A primeira vez que Arão entraria sozinho no lugar santíssimo. - Lá dentro é muito escuro - Eu sei Arão. - E se eu tiver esquecido de confessar algum pecado? - O Senhor é misericordioso. Coragem. Moisés tenta conter o riso. Arão se dirige para a bacia de bronze, para lavar suas mãos. - Mas, e se eu esqueci, Moisés? Moisés firma o cajado nas mãos e se afasta da porta do santuário. Um dos filhos de Arão lhe entrega a bandeja de prata com o sangue do cordeiro. Arão empalidece. Moisés suspira. Enquanto se afasta dá para escutar os joelhos de Arão batendo. Suas roupas ainda tem o cheiro do azeite que ele havia derramado abundantemente sobre Arão a um ano atrás. Moisés levanta o cifre do carneiro que vez por outra levava consigo, onde guardava o azeite e o balança para que Arão veja. Arão grita: - Grande consolo. Roupas ungidas queimam mais rápido, sabia? Moisés não se vira para retornar o comentário. Ele vai sobreviver. Ele vai sobreviver.