Doutor Proktor - O Grande Roubo do Tesouro

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Doutor Proktor O grande roubo do tesouro Ilustrações de Per Dybvig Tradução de George Schlesinger



Índice 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16.

O não tão perfeito roubo de ouro 7 A Guarda Secreta assume o caso 15 O grande recrutamento 28 Bumbão toma uma decisão 42 Nossos amigos ficam sabendo tudo sobre a missão. Bem, nem TUDO… 48 A arte de fazer as malas para viajar… para Londres, por exemplo 62 O Museu de Cera de Madame Tourette e o Rei do Pop 73 O Leão, o Hamster, e… olhe, o nome é comprido, então simplesmente leia o capítulo, ok? 82 O ínfimo e ridículo roubo 100 A verdade sobre a Monopolinésia 114 Um depósito muito louco 125 O Serviço Ainda Mais Secreto de Sua Alteza Real 134 Um plano que não podia dar errado de jeito nenhum 142 O roubo do ouro 148 A grande escapada 157 Uma vaca, uma miragem e a grande dúvida 166


17.

A Batalha das Juntas Sangrentas. Ops, desculpe: a GRANDE Batalha das Juntas Sangrentas 178 18. Este capítulo específico não tem título. Espero que você sobreviva 192 19. Doutor Proktor fica louco (ou melhor: fica mais louco do que já é) 198 20. A grande final 207 21. Um breve interlúdio 218 22. De volta à final do Campeonato Inglês 220 23. Prorrogação (Diga-me, não acaba nunca?) 228 24. Gelatina. O que mais? 236


Capítulo 1.

O não tão perfeito roubo de ouro

É noite em oslo, e chove sobre a cidade silenciosa e adormecida. Será que ela está mesmo adormecida? Um pingo de chuva atinge o enorme relógio na torre da Prefeitura Municipal e se agarra por um instante à extremidade do ponteiro de minutos, antes de se soltar e cair vinte andares, com um plinc suave sobre o asfalto, e começar a se juntar com os outros pingos que correm nas marcas de pneus. Se seguíssemos esse pingo pelo caminho que ele vai percorrer até um bueiro, nesta noite, em Oslo, ouviríamos um leve som cortando o silêncio. Esse leve som ficaria um pouco mais alto quando o pingo caísse pelo buraco da tampa do bueiro, mergulhando no sistema de esgoto, onde a escuridão é ainda mais densa. E com o pingo de chuva começaríamos a navegar sobre as águas sujas e fétidas do esgoto, através de canos – alguns pequenos e estreitos, outros tão grandes que dá para ficar de pé dentro deles – que percorrem esse ou aquele caminho, bem abaixo


do nível do chão, nesta cidade um tanto insignificante, grande, pequena cidade, que é a capital da Noruega. E à medida que esse sistema interno de tubulação nos carregasse mais e mais fundo nas entranhas de Oslo, o som ficaria cada vez mais alto. Não é um som agradável. Na verdade, parece o som de um consultório de dentista. Como o som da broca forçando caminho pelo esmalte do dente, pelas gengivas, pelas sensíveis terminações nervosas. Às vezes, o ruído é baixo, outras vezes soa como um guincho agudo, dependendo do que a ponta da broca, rodopiante e sólida como um diamante, escava para penetrar. Mas, seja lá o que for, pelo menos não é o som de uma anaconda sibilando, com sua língua de quase um metro e o estalar de quase meia tonelada de músculos contraídos se retesando; nem o baque ensurdecedor das mandíbulas, do tamanho de uma boia de nadar inflável, fechando-se ruidosamente sobre sua vítima. Só menciono isso por causa do boato de que uma cobra como essa vive aqui embaixo. E porque um par de olhos reptilianos, amarelos e brilhantes, estão visíveis no esgoto ali no escuro, à esquerda. Então, se você já está arrependido de ter vindo, esta é a sua chance de dar o fora. Feche o livro sem fazer barulho e saia do quarto na ponta dos pés, ou se enfie debaixo das cobertas. Esqueça que algum dia ouviu falar do sistema de esgotos de Oslo, daquele som de broca de dentista, ou daquela

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cobra que devora ratos-d’água, crianças de tamanho médio e, de vez em quando, pequenos adultos, se não forem peludos demais nem tiverem barba. Então tchau, e viva bem. E feche a porta quando sair. Pronto. Agora somos só nós. Vamos continuar por este rio imundo rumo ao sombrio coração da cidade. A esta altura, o barulho já cresceu tanto que se transformou num rugido. Vemos uma luz, mas percebemos que não é nem o paraíso, nem o inferno do dentista, mas algo totalmente diferente. Na nossa frente há uma máquina que faz um ruído forte e tem uma roda. Um braço de aço sai de dentro dela e desaparece num enorme buraco que foi perfurado no alto do cano de esgoto. – Já estamos quase lá, rapazes! – diz o maior dos três homens parados em volta da máquina, e que estão iluminando o buraco com suas lanternas. Estão vestidos com botas pretas de couro iguais, calças jeans com as barras levantadas, suspensórios e camisetas brancas. O maior também usa um chapéu-coco. Ele acaba de tirar o chapéu para enxugar o suor, e podemos ver que os três têm a cabeça raspada e uma letra tatuada na testa, acima das espessas sobrancelhas, que de tão juntas parecem uma só. Ouve-se um leve estalo, e de repente a furadeira começa a gritar como um pirralho mimado.

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– Estamos dentro – rosna o homem tatuado com um B, apertando um botão de comando. O ruído da furadeira vai morrendo aos poucos. A ponta dele fica visível, e é uma visão e tanto: ela brilha à luz das lanternas, como se fosse o maior diamante do mundo. Bem, isso provavelmente porque é o maior diamante do mundo, que acabou de ser roubado de uma mina de diamantes na África do Sul.


O sujeito que tem um C tatuado na testa encosta uma escada inclinada que leva até o buraco, no alto, e sobe os degraus com pressa. Os outros dois o observam, ansiosos. Durante cinco segundos, não acontece absolutamente nada. – Charlie? – chama o sujeito de chapéu-coco. Nada acontece por mais três segundos.


Então Charlie aparece de novo. Esforça-se para carregar algo que parece um tijolo, só que é dourado e, obviamente, muito mais pesado. Na lateral aparecem gravadas as palavras: BANCO DA NORUEGA e, um pouco abaixo, em letras menores: BARRA DE OURO NúMERO 101. – Ajude-me, Bobbie – pede Charlie, e o homem tatuado com um B corre e pega a barra de ouro. – E o resto? – pergunta o sujeito de chapéu-coco, soprando o pó que cobre a barra. Ele tem um A tatuado na testa, mas está um pouco difícil de ver a letra nesse momento, porque uma ruga enorme a deixa toda dobrada. – Isso é tudo, Alfie. – O quê? Os três homens conversam em inglês, e tenho certeza de que quem sabe um pouco de geografia está se perguntando por que falam nesse idioma. Afinal, estamos nos esgotos de Oslo, a capital da Noruega, e não é norueguês que as pessoas falam no país? Infelizmente para aqueles que não entendem norueguês, essa é a língua falada pela maioria dos personagens neste livro. Vamos apenas fingir que tomamos uma das pílulas multilíngues do doutor Proktor. Mas, neste caso específico, isso nem sequer será necessário. Por algum motivo, todos já estão falando na nossa língua. – Esta era a única barra que havia lá dentro, Alfie. O resto do cofre-forte do banco está completamente vazio – diz Charlie.

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– Quer dizer que é só isso? Toda a reserva de ouro do maldito banco central da Noruega? – vocifera Bobbie, o sujeito de tamanho médio. Ele deixa cair a barra de ouro, provocando um baque seco, dentro do compartimento de bagagem da máquina. – Acalme-se, Bobbie – pede Alfie. – Esta aqui parece boa. Ouro puro, maciço, a barra inteira. É melhor irmos pra casa, rapazes. – Shh! Vocês ouviram isso? – Charlie pergunta. – Isso o quê? – Esse sibilo. – Não se ouvem sibilos nos esgotos, Charlie! Guinchos de ratos e coaxar de sapos, talvez, mas você precisa entrar numa floresta para ouvir sibilos – resmunga Alfie. – Olhe! – Charlie diz com afobação. – Olhar o quê? – Alfie pergunta. – Vocês não viram? Uns olhos amarelos! Eles piscaram e sumiram. – Caudas de rato vermelhas e patas de sapo verdes, talvez, mas olhos amarelos, você precisa entrar numa flores… – diz Alfie. Ele é interrompido por uma pancada ensurdecedora e fala: – Hum… Talvez estejamos na floresta, rapazes, porque isto aí soou, incontestavelmente, como mandíbulas de cobra se fechando, se é que querem saber. E eu acho melhor que queiram saber, e já! – Tudo bem, Alfie – Charlie suspira. – Eram mandíbulas de cobra?

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– Eram. E a mamãe queria que levássemos algo bacana de Oslo. Que tal uma jiboia? – Oooooba! – Bobbie solta um grito, puxando um pesado fuzil F16 de metal do compartimento de bagagem. Ok, tudo bem, não é bem um F16, é uma M16. Ele carrega a arma e começa a disparar. A rajada da metralhadora ilumina o esgoto, enquanto as balas assobiam e ricocheteiam no cano. Os outros dois apontam as lanternas para o ponto onde Charlie viu os olhos amarelos. Mas não veem nada, só um rato tremendo sobre as patas traseiras, pressionando as costas contra a parede. – Ratos! – sussurra Bobbie. – Já pegamos o que viemos pegar. Embrulhe, e vamos embora – diz Alfie, pondo o chapéu. E enquanto seguimos a gota de água mais adiante, no cano de esgoto, rumo à estação de tratamento e ao fiorde Oslo, ouvimos Alfie, Bobbie e Charlie embrulhando seu equipamento para guardá-lo na máquina e dando a partida. Mas a última coisa que ouvimos é…? Adivinharam. Uma cobra sssssssibilando.

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