Dentro da Escola – SL 85

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Pelo direito de criançar! “A lição transmitida por Iqbal Masih e que muitas vezes negligenciamos é que as crianças não são criaturas inconscientes, a serem exploradas ou tratadas como objetos passivos. Iqbal nos lembra de que nas crianças vive um forte senso de justiça, a ser respeitado e valorizado”. Assim diz o prefácio da obra “A história de Iqbal”, de Francesco D’adamo, lida pelo 7º ano no primeiro trimestre de 2018. A triste e impressionante trajetória do menino paquistanês, vendido por 26 dólares à “máfia dos tapetes”, obrigado a trabalhar em uma tecelagem de tapetes do amanhecer ao anoitecer, em condições desumanas, provocou profunda reflexão – e incômodo – acerca dos milhões de “pequenos escravos” que padecem em países de todo o mundo. Após a leitura da obra, as inquietações deram origem à escrita de uma carta ao autor do livro e às atividades que se seguiram ao longo do ano. Nas aulas de Língua Portuguesa, as turmas refletiram sobre o fato de que os autores usam a língua com liberdade, servindo-se das palavras e da sonoridade delas, já que têm por finalidade despertar uma emoção estética no leitor. Seria possível criançar a infância? Pode parecer banal a tal frase, mas as palavras têm cadências, elas podem, dependendo do ritmo, trazer ideias que se complementam. Em um de seus famosos contos de memórias, Sylvia Orthof diz: “esbarro em vários lugares onde criancei a minha infância”. Iqbal, Fátima e Maria não puderam criançar, viram esse direito ser brutalmente tirado de suas vidas. Assim, as atividades desenvolvidas e aqui descritas manifestam o desejo de que nenhuma criança, algum dia, deixe de criançar essa fase tão especial e que lhes é direito .

2018

A história de Iqbal Francesco D’adamo Editora Martins Fontes O garoto Iqbal é obrigado a abandonar sua família e trabalhar para a máfia de tapetes no Paquistão. Na “oficina” do inescrupuloso Hussain Khan, ele conhece Fátima e outras crianças que são cruelmente exploradas. Após um longo período de insegurança, Iqbal e Fátima se tornam amigos e ela ajuda o garoto em seus planos que, frequentemente, são interrompidos por Karim, o “segurança” do local. A história conta também com Maria, personagem que mudará o rumo da trama. Até a liberdade, muita coisa vai acontecer. E depois? Será que ser livre tem um preço? Quais serão as consequências? Laura e Marjorie.


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Ei, Francesco! Inglês e Língua Portuguesa

O

ano estava só começando, mas o primeiro livro paradidático lido pelo 7º ano provocara agitação, incômodo, dúvidas, espanto e… empatia, certamente. A leitura de “A história de Iqbal” foi concluída, mas importantes reflexões surgiam: “a personagem Fátima é real ou fictícia? A maneira como ela é apresentada aos leitores faz com que haja um envolvimento nosso com ela e, assim, ficamos pensativos sobre a sua existência: será que ela realmente existiu? Será que as outras crianças que viviam na oficina de Hussain também existiram?”. A carta foi escrita coletivamente pelo 7º ano, nas aulas de Língua Portuguesa, ao longo do 1º semestre. Durante a leitura em sala, debateu-se sobre a responsabilidade que temos como consumidores. Com cada vez mais divulgação de casos de exploração humana e animal, os alunos concluíram que podemos encolher consumir produtos livres de crueldade. Por conseguinte, entenderam que no Brasil, infelizmente, também há casos de exploração de trabalhadores, tan-

to adultos quanto crianças. Não são raros os casos de homens e mulheres mantidos em condições precárias. Ou seja, a questão abordada em “A história de Iqbal” continua atual e parece ultrapassar fronteiras. O problema não é exclus i v o d e r e g i õ es ma i s “esquecidas” como o Paquistão. A carta, traduzida para o Inglês, nas aulas dessa disciplina, foi enviada em março de 2018 e contou com uma ajudinha da tecnologia no encurtamento das distâncias. Através da editora da obra, a carta foi enviada ao e-mail de Francesco D’adamo que, de maneira solícita, presenteou alunos, alunas e as professoras Natália Bonin e Elisete Vianna com uma gentil e esclarecedora carta-resposta. Assim, além de praticar a sua escrita e utilizá-la como ferramenta essencial para o entendimento do mundo em que vivemos, os alunos puderam sanar as suas dúvidas sobre o livro lido e experienciar um precioso contato com aquele que lhes deu a chance de conhecer um incrível “herói do nosso tempo”.

“Na sua carta, vocês corretamente apontaram que no Brasil, assim como em dezenas de outros países, há casos de abuso e ausência de direitos aos trabalhadores e existe a praga do trabalho infantil. Mas, também, na Europa e na Itália, onde os direitos dos trabalhadores são consolidados, onde há leis, sindicatos e tribunais e onde há riqueza e bem-estar, também aqui, a ganância e a falta de escrúpulos estão tornando as condições de vida dos trabalhadores mais difíceis. […] Temos responsabilidade no nosso consumo? É claro que sim! Especialmente nos países em que se consome muito, muitas vezes inutilmente e nocivamente. Quanto abuso, quanta violência, quantos “Iqbal” atrás de uma camiseta da moda que possuímos e que não nos faria falta? (Até atrás da camiseta do nosso time do coração, com o número do nosso jogador preferido...) Para mim, Iqbal é um herói do nosso tempo, uma daquelas figuras a qual devemos olhar com afeto e reconhecimento.


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Uma “pitada” de Matemática Empinar pipa é, certamente, um importante elo entre as gerações brasileiras. É pesaroso pensar que, no entanto, tal prática esteja caindo em esquecimento. Em “A história de Iqbal”, a pipa aparece como metáfora da liberdade: “Sabe o que é uma pipa, Maria? Já brincou de soltá -la? É bonita, sabe? Você corre e a pipa vai subindo cada vez mais alto no céu: às vezes chega até a tocar as nuvens, saltando e desviando com o vento. Mas se soltar demais a linha, a pipa se perde e não volta nunca mais. Na hora, vê-la subir cada vez mais alto, até ser engolida pelo céu, não foi ruim. Pensei: “Onde será que vai parar? Queria ir com ela”. A presença marcante da pipa na obra literária, além de fazer refletir sobre as brincadeiras de infância ao

longo do tempo, ocasionará um interessante trabalho sobre alguns conceitos de Geometria, como cálculo de perímetro e área no 3º trimestre. Quem disse que Língua Portuguesa e Matemática não combinam?! :)

Oficina de Pipas No dia 18 de setembro, os alunos do CPDB, Jonatan Costa e Jonattan de Oliveira, estiveram na sala de Arte com as turmas do 7º ano para a realização de uma Oficina de Pipas. No encontro, os participantes receberam os materiais e as instruções necessárias para a elaboração das pipas. Foi um agradável momento de troca de experiências e muito aprendizado. O 7º ano agradece a geneosa participação dos colegas do CPDB na atividade, que foi conduzida pela professora Rosana Guimarães Brito.


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Da prosa aos quadrinhos Arte, Inglês, Língua Portuguesa

No primeiro trimestre de 2018, o sétimo ano conheceu as particularidades das Histórias em Quadrinhos. Conhecida como a nona Arte, os alunos conheceram um pouco de sua história e dos elementos indispensáveis à composição do gênero. Tendo como temática a “Infância”, suscitada pela leitura de “A história de Iqbal”, iniciou-se, então, a produção da “Redação 3” do 2º trimestre. Nas aulas de Língua Portuguesa, formaram-se duplas ou trios de trabalho para dar início à elaboração das (muitas!) etapas que viriam: leitura atenta e integral do livro paradidático; reflexão sobre a situação da infância a partir da leitura de manchetes e posterior produção de manchetes au-

torais; projetos de ilustração, de balões de fala e de legendas em A4; revisão e reelaboração; início do projeto em A3; uso de caneta específica para finalizar o traçado; versão em inglês com a técnica de “assemblage”. Ufa! As turmas perceberam que a produção de um texto não-verbal, com estrutura em quadros é tão (ou mais!) trabalhosa quanto a escrita de um texto verbal em parágrafos (prosa). Além disso, a atividade é exemplo de que o projeto de texto —com todas as suas etapas de planejamento— é essencial para o bom resultado de qualquer Arte, seja verbal ou não. Escrever é inspiração e… transpiração!

Fala, quadrinista! “A escolha do tema foi uma das partes mais difíceis, pois a infância é um tema muito amplo, com muitas possibilidades de abordagem. Já o desenho, para nós, foi a parte mais fácil e prazerosa, principalmente depois que decidimos o projeto da tirinha. Em nossa história, a criança consegue ser o que quiser, apenas utilizando a imaginação. Preferíamos que as ilustrações fossem coloridas, mas a turma optou pelos trabalhos em preto e branco, um padrão para todos”. Eloah e Enzo.

Enzo finalizando a tirinha: muita calma nesta hora...

IQBAL: The Little Carpet Boy - worldschildrensprize.org/downloads comicstrip/Iqbal_strip_eng.pdf


Eu também já fui criança

5 Todas as crianças da Terra Sidónio Muralha

Quem sou eu? A equipe do Ensino Fundamental andou revisitando a sua infância...

Um capacete de guerra tem um ar carrancudo. Muito mais bela é uma flor. Uma flor tem tudo para falar de paz e de amor. Mas se virarmos o capacete de guerra ele será um vaso, e é bem capaz de ter uma flor num pouco de terra e falar de amor e paz. A paz é uma pomba que voa. É um casal de namorados. São pardais de Lisboa que fazem ninhos nos telhados. E é o riacho de mansinho que saltita nas pedras morenas e toda a calma do caminho com árvores altas e serenas. A paz é o livro que ensina. É uma vela em alto mar e é o cabelo da menina que o vento conseguiu soltar.

“Eu estudava piano e brincava na rua” “Eu era peralta! Gostava de brincar com meus primos na chácara do meu avô. À tarde, tinha sorvete e assistia ao Castelo RáTim-Bum”

E é o trabalho, o pão, a mesa, a seara de trigo, ou de milho, e perto da lâmpada acesa a mãe que embala o seu filho. A paz é quando um canhão muito feio e de poucas falas, sente bater um coração e dispara cravos, em vez de balas. E é o abraço que dás no dia que tu partires, e as gotas de chuva da paz no balanço do arco-íris. A paz é a família inteira na alegria do lar, bem juntinho da lareira quando o inverno chegar.

“Pescaria, futebol, amendoim, rapadura, filosofar, natureza, louva-deus, joaninha e vagalume!”

A paz é onda redonda que da praia tem saudades e muito mais do que a onda a paz é a vida sem grades. A paz são aquelas abelhas que nos dão favos de mel e todas as papoulas vermelhas que eu desenho no papel. Ventoinha, ventarola, moinho que faz farinha, meninos que vão à escola, a paz é tua e é minha. É luar de lua cheia tocando as casas e a rua, são conchas, búzios na areia, a paz é minha e é tua.

“Eu lia muitos e muitos gibis da Turma da Mônica... De ponta-cabeça! (Os gibis, não eu!). Ah, não podia ver um cachorro abandonado que queria levar pra casa...”

“Eu

gostava de jogar futebol e andar de bicicleta; fazia coleção de Quadrinhos e soltava pipa”

É o povo todo unido no mundo, de norte a sul, e é um balão colorido subindo no céu azul. A paz é o oposto da guerra, é o sol, são as madrugadas, e todas as crianças da terra. de mãos dadas, de mãos dadas.


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Eu também já fui criança Quem sou eu?

“Eu adorava carnaval! Na foto, estava fantasiada de ‘Jeannie e Gênio’. Também gostava muiiito de brincar de boneca com minhas irmãs”

“Eu

brincava na rua de pega-pega, esconde-esconde; gostava de ir ao clube e viajar com os meus pais”

“Eu brincava de Susie, de casinha e de amarelinha”

“Eu gostava de pintar, desenhar e brincar com argila. Minha mãe sempre gastava muito com lápis de cor”

“Eu gostava muito de brincar na rua , de queimada, polícia e ladrão, burquinha... Era bem ‘moleca’”

“Eu adorava brincar de caracol, pique-pega, mamãe da rua e amarelinha”

“Quando eu era criança e morava num sítio, eu adorava quando o Sr. Joaquim, nosso vizinho, vinha trazer amoras fresquinhas, colhidas especialmente para mim. Ele sabia que eu gostava muiiiito de amoras. É a fruta que me remete à infância. Eu também gostava muito de passar pela propriedade dele no caminho para a escola, porque a Dona Olívia, sua esposa, tinha muitos gatinhos. À noite, eu gostava de assistir à televisão no colo da minha avó. Uau, que viagem...”

“Eu era bem fofinho, fofucho; gostava de brincadeiras ao ar livre”


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