Uma vida chinesa

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P. ÔTIÉ

A propriedade Rutu Modan Kaputt Curzio Malaparte (adaptação e arte Guazzelli)

U M T EST EM U N HO Ú N IC O EM 3 VO LU M ES

1. O tempo do pai

Parafusos Ellen Forney

Tradução Andréa Stahel M. da Silva

Li Kunwu

Vejo a terra prometida Arthur Flowers

É um dos raros artistas chineses de sua geração a ter se dedicado exclusivamente aos quadrinhos e a viver deles. Em trinta anos de atividade, mais de trinta obras suas foram editadas na China, e ele foi publicado nas revistas de HQ chinesas mais emblemáticas. Começou como especialista em HQ de propaganda, passando em seguida a estudar as minorias culturais chinesas, tão abundantes em sua província, Yunnan.

Pagando por sexo Chester Brown Quadrinhos – história moderna de uma arte global Alexander Danner e Dan Mazur Logicomix Apostolos Doxiadis e Christos H. Papadimitriou

Uma vida chinesa retrata uma incrível jornada na história moderna, desde a criação da República Popular da China, em 1949, até os dias de hoje. O artista chinês Li Kunwu testemunhou esse período extraordinário em primeira mão e aqui apresenta, em estreita colaboração com o roteirista Philippe Ôtié, suas experiências e as de sua família e vizinhos, amigos e rivais, colegas e compatriotas.

A arte de quadrinizar Ivan Brunetti

Uma narrativa emocionante sobre o Estado e o indivíduo, ao mesmo tempo épica e familiar, cômica e trágica.

Quadrinhos e arte sequencial Will Eisner

PRÊMIO DE EXCELÊNCIA DO JAPAN MEDIA ARTS FESTIVAL, EM 2014

Os ignorantes Etienne Davodeau A arte – conversas imaginárias com minha mãe Juanjo Sáez Hoje é o último dia do resto da sua vida Ulli Lust Snowden Ted Rall

P. Ôtié

1. O tempo do pai

Como desenhar quadrinhos no estilo Marvel John Buscema e Stan Lee

LI KUNWU

LI KUNWU P. ÔTIÉ

OUTROS TÍTULOS DO NOSSO CATÁLOGO

A HISTÓR IA DA C HIN A DE M AO TSÉ-T U N G AT É O S DIA S DE HO J E

P. Ôtié viveu no Extremo Oriente durante mais de dez anos, e esta é sua primeira obra de história em quadrinhos.


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Esta obra foi publicada originalmente em francês com o título UNE VIE CHINOISE 1 por Kana em 2009. Copyright © 2009, Kana (DARGAUD-LOMBARD s.a.), de P. Ôtié e Li Kunwu http://www.kana.fr/

Embaixada da França no Brasil

“ Cet ouvrage, publié dans le cadre du Programme d’Aide à la Publication 2015 Carlos Drummond de Andrade, a bénéficié du soutien de l’Ambassade de France au Brésil .” “ Este livro, publicado no âmbito do Programa de Apoio à Publicação 2015 Carlos Drummond de Andrade, contou com o apoio da Embaixada da França no Brasil.” Copyright © 2015, EDITORA WMF MARTINS FONTES LTDA., São Paulo, para a presente edição. Todos os direitos reservados. Este livro não pode ser reproduzido, no todo ou em parte, armazenado em sistemas eletrônicos recuperáveis nem transmitido por nenhuma forma ou meio eletrônico, mecânico ou outros, sem a prévia autorização por escrito do editor. 1ª. edição 2015 Tradução Andréa Stahel M. da Silva Acompanhamento editorial Maria Fernanda Alvares Revisões gráficas Ana Maria Alvares Marisa Rosa Teixeira Edição de arte Katia Harumi Terasaka Produção gráfica Geraldo Alves Composição e letreiramento Lilian Mitsunaga

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)     Kunwu, Li     Uma vida chinesa : I. O tempo do pai / Li Kunwu, P. Ôtié ; tradução Andréa Stahel M. da Silva. – São Paulo : Editora WMF Martins Fontes, 2015.   Título original: Une vie chinoise 1   ISBN 978-85-7827-983-7    1. Histórias em quadrinhos 2. Literatura juvenil I. Ôtié, P. II. Título. 15-08120

CDD-741.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Histórias em quadrinhos 741.5

Todos os direitos desta edição reservados à Editora WMF Martins Fontes Ltda. Rua Prof. Laerte Ramos de Carvalho, 133 01325-030 São Paulo SP Brasil Tel. (11) 3293.8150 Fax (11) 3101-1042 e-mail: info@wmfmartinsfontes.com.br http://www.wmfmartinsfontes.com.br

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li kunwU p. ôtié

1. O tempo do pai

Tradução

Andréa Stahel M. da Silva

SÃO PAULO 2015

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Desejo agradecer calorosamente a todos os meus parentes próximos, assim como a meus amigos dos meios artístico e literário, na China e na França, em particular a meu parceiro roteirista P. Ôtié. Agradeço-lhes por terem me desvendado os arcanos do espírito ocidental e me levado a revelar todas as lembranças e sentimentos que meu inconsciente havia encerrado tão profundamente dentro de mim.

li kunwu

Zhen, mamãe, Lélé e Ninou, Lutin Lubrique, zch, Julien, Vivien, Gilles, Constance, Isabelle, Bertrand, Jean-Charles, Nicolas: obrigado a vocês que dedicaram tempo a reler, esmiuçar e criticar estas páginas, o que nos permitiu avançar. Lao Li, nunca lhe agradecerei o suficiente por ter me aceitado a seu lado nessa aventura que eu aguardava desde minha infância.

p. ôtié

Queremos, enfim, agradecer especialmente a Lu Ming e Daisy: esta obra não teria surgido sem vocês. Ela é dedicada a vocês.

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& p.

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Prefácio de Pierre Haski

A

longa história da

China é calculada em dinastias, algumas das quais duraram vários séculos. A história recente é considerada em gerações, em um ritmo que tende a acelerar. O mesmo acontece com os dirigentes políticos desde Mao Tsé-tung, o “Grande Timoneiro”, que chegou ao poder em 1949, marcando a primeira geração da “dinastia” comunista. Deng Xiaoping, principal dirigente a partir de 1977 e iniciador das reformas econômicas, é considerado o representante da segunda geração, e o atual número um chinês, Hu Jintao, encarna a “quarta geração”. Isso também acontece, por exemplo, com os cineastas chineses, que estão, por sua

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vez, na sexta e até mesmo, segundo alguns, na sétima geração. Cada uma representa um período político e um gênero cinematográfico distintos, do cinema mudo aos filmes underground, passando pelo realismo socialista... Na sociedade chinesa contemporânea, a época do nascimento condiciona a educação, a trajetória e, em ampla medida, o olhar sobre o mundo. Para um homem nascido no início dos anos 1950, como o herói desta epopeia extraordinária, a vida evolui como um livro de história, confundindo-se com a epopeia maoísta que dominou a vida da China até a morte de seu chefe supremo em 1976 e com as grandes transformações dos últimos trinta anos.

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Essa geração viveu tudo, os grandes arroubos idealistas e as catástrofes, as felicidades coletivas e as desilusões individuais, o entusiasmo e o desespero. E conheceu as transformações da era pós-maoísta, quando Deng Xiaoping, virando simbolicamente a página do voluntarismo ideológico, proclamou: “Pouco importa se o gato é preto ou branco, desde que ele pegue os ratos”, slogan fundador de uma abordagem pragmática do desenvolvimento econômico.

ocorreu em pelo menos um quarto de século. Os chineses nascidos nos anos 1970, 1980 e 1990 são, assim, claramente identificáveis na sociedade atual e às vezes parecem ter crescido em países diferentes.

Conforme se tenha crescido antes ou depois de 1976, a experiência de vida não será, evidentemente, igual. E a velocidade das transformações da sociedade chinesa foi tal que as gerações se sucederam em um ritmo desenfreado, em apenas uma década, quando em outros lugares isso

Essa geração dos “filhos de Mao” inscreve-se também em uma longa história, a da busca da modernidade chinesa, que constitui o pano de fundo de tudo o que se produz no país. Fazia um século e meio que a China vivia enfraquecida, em xeque, frequentemente humilhada,

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A geração de nosso herói é a que hoje comanda a China, moldada pelo peso da história e por um grande desejo de não reproduzir os erros do passado. Ela tem sede de êxito, de reconhecimento e desejo de deixar uma herança positiva às gerações seguintes.

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perdida na competição internacional em relação ao Ocidente, mas também em relação ao grande rival asiático, o Japão, que não perdera a reviravolta da industrialização no fim do século XIX. Dizia-se, então, que a China era “o homem doente da Ásia”. Um século e meio, ou seja, o choque do encontro entre o Império do Meio, que se achava invencível, e uma Europa conquistadora e forte, que infligiu à China dos Qing embates que provocaram a destruição de um sistema político milenar. As famosas “Guerras do Ópio”, que levaram à perda de Hong Kong para os ingleses em 1842, ou o saque do Palácio de Verão pelos Exércitos francês e britânico em 1860, ou ainda a guerra

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japonesa da primeira metade do século XX, continuam sendo traumas históricos com os quais os chineses cresceram, que a historiografia oficial nunca apagou e que o sentimento nacional nunca superou. A vitória de Mao Tsé-tung em 1949, depois de uma longa guerra civil, decerto colocou fim a uma era de instabilidade e divisões e permitiu à China se refazer. Mas o preço pago pela população foi alto. Como conta o herói desta história, houve catástrofes como o Grande Salto Adiante, que provocou milhões de mortes devidas à fome, e a Grande Revolução Cultural Proletária, que ameaçou mergulhar o país no caos, à mercê das lutas pelo poder entre clãs rivais em Pequim.

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Para a geração que acreditou nisso de modo irracional, que considerou Mao um semideus, que desfilou declamando o Livro vermelho e lançando-se ao ataque contra as “velharias” que, no entanto, constituíam o cerne de sua cultura, a desilusão foi grande. Todos os chineses de certa idade lembram, como “Xiao Li”, o que estavam fazendo no dia da morte de Mao e o sentimento de fim de mundo que experimentaram. Com certeza o fim de um mundo, mas também, sem saber, o começo de outro.

A grande habilidade de Deng Xiaoping, chamado de “Pequeno Timoneiro” por sua baixa estatura, várias vezes expurgado e sempre remido, que sofreu pessoalmente e em sua família (o filho mais velho, Deng Pufang, foi jogado pela janela da universidade pela Guarda Vermelha durante a Revolução Cultural e ficou paralítico), foi liberar a imensa reserva de energia chinesa.

Eles conheceram os excessos da ideologia, a arbitrariedade e os abusos, como, nesta história, os suportados pelo pai do herói, que era, contudo, um quadro comunista dedicado; conheceram o exílio no campo, as privações e os testes de resistência. E, para aqueles

Três décadas de “reforma e abertura”, segundo a denominação oficial, transformaram, transfiguraram a China para além do que era concebível, mesmo por aqueles que, a exemplo de Napoleão, esperavam que “ela acordasse”. As cidades chinesas,

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que sobreviveram, o fim do maoísmo doutrinário marcou o início da desforra, contra eles mesmos e contra a história.

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