Anais I Workshop Internet e Eleições 2014

Page 1

- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

2


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

APRESENTAÇÃO

O workshop “Internet e Eleições 2014”, realizado nos dias 9 e 10 de abril de 2015, na Universidade Federal do Paraná – Campus Reitoria, é a primeira edição do evento de apresentação de trabalhos da linha de pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública, do Programa de Pós-graduação em Ciência Política (PPGCP) da UFPR. O tema “Internet e Eleições 2014” abriga os projetos de pesquisa em andamento por parte dos alunos e professores da graduação e do programa de pós-graduação. Já a data do workshop foi escolhida pela proximidade com outro evento promovido pelo PPGCP, a palestra “Deliberação e Internet”, ministrada pelo Prof. Dr. Ricardo Fabrino Mendonça (UFMG) no dia 10 de abril. Nesta primeira edição, foram apresentados estudos de três grupos de pesquisa vinculados ao programa: CPOP, GEIST e NEPRI. São trabalhos de doutorandos, mestres e mestrandos do PPGCP, além de alunos da graduação de Ciências Sociais e de outros programas de pós-graduação da UFPR, como o da Comunicação (PPGCOM). Esperamos que os Workshops anuais contribuam para a troca de conhecimento entre os alunos, da graduação e da pós, e que o debate e a exposição dos trabalhos desenvolvidos nos grupos enriqueçam as pesquisas e contribuam para o desenvolvimento destas e de outras novas.

Boa leitura!

3


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Anais do I Workshop da Linha Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública: Internet e Eleições 2014. Curitiba, 9 e 10 de abril de 2015. 162 páginas. ISSN: 2359-6481. https://issuu.com/workshop-ccpnmop

4


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

SUMÁRIO A COBERTURA ELEITORAL POR MEIO DO FACEBOOK: Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo nas eleições presidenciais de 2014 Bruno Fernando da Silva e Anne Caroline Pellizzaro.............................................................7

WEBLEITORES, ELEITORES E COMENTADORES: Uma análise do debate público no Facebook d’O Estadão durante a campanha presidencial de 2014 Fernanda Cavassana, Isabele Mitozo e Michele Massuchin.................................................25

#FALANDO_SOZINHO: Uma análise do comportamento outlier nas postagens sobre a campanha presidencial das páginas de mídias tradicionais no Facebook Jaqueline Buckstegge, Ricardo Dantas, Bruno Nichols e Sérgio Tramujas.............................36

FACEBOOK E AS ELEIÇÕES DE 2014: Um estudo sobre os posts e os comentários nos jornais regionais brasileiros sobre os principais candidatos à presidência Regiane Lima e Romer Santos.............................................................................................46

CAMPANHAS ONLINE E REDES SOCIAIS: O uso do Facebook pelos Senadores eleitos em 2014 Isabele Mitozo e Miriane Rodrigues....................................................................................58

PARTIDOS E REDES SOCIAIS: Análise da ação dos partidos brasileiros no Facebook Leonardo Rocha..................................................................................................................74

PARTIDOS POLÍTICOS E INTERNET: Os websites partidários e o eleitorado jovem paranaense nas eleições de 2014 Fabrícia Vieira.....................................................................................................................86

PADRÕES DE LONGA DURAÇÃO DE E-CAMPANHA NO BRASIL: Uma análise empiricamente orientada (1998-2014) Marcio Carlomagno e Sérgio Braga....................................................................................101

A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NA GOVERNANÇA DA INTERNET: Do direito à privacidade ao direito à participação Thaíse Kemer............................................................ ......................................................129

O USO E A IMPORTÂNCIA DE APLICATIVOS PARA DISPOSITIVOS MÓVEIS NAS ELEIÇÕES DE 2014 NO BRASIL Nilton Cesar M. Kleina....................................................................................................140 5


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

6


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

A COBERTURA ELEITORAL POR MEIO DO FACEBOOK: Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo nas eleições presidenciais de 20141 Bruno Fernando da Silva2 Anne Caroline Pellizzaro3

RESUMO O trabalho insere-se entre os estudos de comunicação política dedicados a análise da cobertura eleitoral pelos portais jornalísticos. O objetivo é comparar a maneira com que os portais Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo noticiaram a disputa presidencial de 2014 através de suas páginas oficiais na rede social Facebook durante o período eleitoral. A hipótese é que estes veículos possuem diferentes linhas editoriais, que tornam distintos os espaços destinados aos diferentes temas jornalísticos. Em relação as valências destinadas aos candidatos, espera-se que haja similaridade na cobertura, visto que os jornais declaram-se imparciais, não assumindo posição política. Os resultados apontam para uma cobertura eleitoral intensa da Folha de S. Paulo, ao contrário de Estadão e O Globo. Já quando trata-se do formato da cobertura dos candidatos, Folha e Estadão realizaram uma cobertura equitativa, com O Globo fornecendo tratamento diferenciado a um dos candidatos.

Palavras-chave: Comunicação Política; Cobertura Eleitoral; Eleição Presidencial; Facebook. Introdução

Os meios de comunicação constituem uma ferramenta muito importante na sociedade atual, capaz de promover um intenso debate no espaço público, propiciando as trocas de informações para o alcance de todos, suprimindo as barreiras geográficas, culturais e linguísticas. Os estudos a respeito dos meios de comunicação de massa sempre foram objetos de discussão, pois, buscava-se compreender o que os meios representavam e quais eram os efeitos que a mídia poderia produzir nas pessoas. Nesta pesquisa, inserida nos estudos de comunicação política, pretende-se analisar a cobertura eleitoral pelos portais jornalísticos O Estado de São Paulo (Estadão), Folha de S. Paulo e O Globo em suas páginas do Facebook, durante as eleições 1

Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Núcleo de pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública, da Universidade Federal do Paraná (CPOP-UFPR). 2 Mestrando em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná. Bacharel em Ciência Política pelo Centro Universitário Uninter (2013). Contato: b.fernando91@gmail.com 3 Mestranda em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná. Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná (2013) e em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2012). Contato: annepellizzaro@hotmail.com 7


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

presidenciais de 2014, em relação aos candidatos Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves. O período de coleta de dados compreende-se apenas ao período eleitoral, de 01/07/2014 a 31/10/2014 (cinco dias após a realização do segundo turno). O objetivo deste trabalho consiste em comparar a maneira com a qual estes jornais noticiaram a disputa eleitoral através de suas páginas na rede social Facebook, tanto em termos de espaço à cobertura quanto no formato adotado para noticiar os candidatos. A hipótese é que os jornais, por possuírem diferentes linhas editoriais, fornecem diferentes espaços destinados aos variados temas jornalísticos. No que tange o formato da cobertura atribuída aos candidatos, espera-se que haja similaridade na cobertura, uma vez que os veículos de comunicação no Brasil assumem a postura de imparciais (CERVI et al, 2011). O trabalho divide-se em três partes. Na primeira, reservada a uma discussão teórica, são abordadas algumas teorias gerais da mídia, passando pelo estudo dos novos meios de comunicação e alguns resultados de pesquisa empírica que servem como parâmetro para os dados que serão expostos. A segunda parte será dedicada à análise dos dados, onde serão verificados: a) quais os temas gerais que foram veiculados nos portais; b) os temas de campanha mais adotados; c) a quantidade de citações aos candidatos nas páginas dos portais no Facebook; e, por último, d) a valência atribuída aos presidenciáveis pelos portais. A terceira parte destina-se as conclusões que esta pesquisa permite aferir.

1. Discussão conceitual

Os meios de comunicação são tanto o principal canal de acesso dos cidadãos às informações de que precisa para agir na esfera política quanto o principal instrumento dos líderes políticos para a divulgação de suas mensagens, projetos, temas para a agenda pública, em suma, para a batalha política crucial, a construção de vontades coletivas (ou, dito de outra maneira, a luta pela hegemonia) (MIGUEL, 2000). Ocupa uma posição central na arena política das sociedades contemporâneas (MIGUEL, 2000). Além disto, representa um espaço onde a realidade política pode ser ampliada e que, por consequência, impacta a democracia (CERVI, 2006). No que tange as eleições, sabe-se que há uma expressiva variação das intenções de voto dos candidatos durante o período eleitoral, as causas desta variação estão ligados a fatores externos, como, por exemplo, às campanhas produzidas pelos 8


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

candidatos, a cobertura que a imprensa faz das campanhas, os eventos, os acontecimentos (políticos, econômicos ou sociais), todas essas causas apontadas se fundam na forma em que os eleitores utilizam as informações políticas para tomarem suas decisões e definirem o voto (MUNDIM, 2010). Os meios de comunicação na cobertura eleitoral possuem duas opções, a primeira consistente em assumir uma ideologia política e a segunda se autoproclamar como um veículo de comunicação imparcial. A mídia brasileira tende a optar pelo segundo caminho, ou seja, declaram-se imparciais na produção da notícia (AZEVEDO, 2001; CERVI et al, 2011). Na cobertura eleitoral é necessário, portanto, que haja um cuidado para que o meio midiático ofereça para o leitor informações completas e neutras, inclusive, devendo-se atentar aos candidatos à reeleição, que tendem a ocupar mais as notícias, justamente por fazerem parte da atual gestão (CERVI et al, 2009). A mídia possui um papel relevante no debate eleitoral, atua nos momentos que antecedem, durante e subsequentes à campanha, propiciando muitas das vezes uma prestação de contas. É neste ponto que entram os jornais, porque como uma importante mídia tradicional, são capazes de agendar temas e enquadra-los de modo a dar maior ênfase a determinados assuntos relacionados à política. Em relação aos formatos impresso e online é importante fazer uma distinção, no primeiro, prepondera à atividade de seleção de fatos durante o processo de produção da notícia, no segundo, a noticiabilidade valoriza a resposta mais rápida dada aos fatos (BORGES, 2008). A internet integra as novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC), constituindo-se como uma importante fonte de transmissão de informação. Oferece um recurso capaz de atingir cada vez mais uma participação virtual ativa, bem como fortalecer o processo democrático (MAIA, 2001; GOMES, 2005; PEIXOTO e RIBEIRO, 2009; FREIRE e SALES, 2010). Atua como uma mídia no sentido restrito do termo, isto é, um suporte tecnológico para a comunicação, capaz de mobilizar os recursos da escrita, imagem e som, em razão do caráter multimídia (MAIGRET, 2010). Por este motivo a demanda por informações na internet é motivada pela praticidade, rapidez e comodidade de acesso tendo em vista que a linguagem digital permite que ela seja guardada, armazenada, recuperada, processada e transmitida, dinamizando o seu fluxo e alterando os modos de disseminar o conhecimento (BARBALHO, 2004). As relações sociais não estão mais limitadas à esfera local onde acontecem, elas são invariavelmente influenciadas pela cultura e expressão de indivíduos que estão em múltiplos lugares, uma vez que a rede permite a conexão imediata entre pessoas de 9


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

dessemelhantes nacionalidades, sendo o tempo e distância entraves superados (LEMOS, 2010). Desta forma, as mídias, tais como jornais impressos, revistas, televisão, rádios, migram no todo ou em parte seu conteúdo na internet, objetivando uma circulação maior da notícia. Assim, os veículos de comunicação planejam estratégias para atrair leitores para a plataforma web. Uma dessas estratégias consiste em postar links para as principais notícias em redes sociais como o Facebook e o Twitter. As mídias sociais potencializam o efeito de circulação das notícias, pois possibilitam o compartilhamento destas matérias pelos usuários em seus perfis pessoais (ZAGO e BASTOS, 2013). Desta forma, sintetizando a contextualização a respeito das novas mídias, temos que estas acrescentam para o debate eleitoral. Inclusive, é possível ver a utilização das novas mídias nas eleições atuais, sejam através dos portais informativos em plataforma web para a circulação de informações, sejam através de redes sociais (sites pessoais dos candidatos, Facebook, Twitter, Instragram, dentre outros) (MASSUCHIN e CERVI, 2012). Os meios de comunicação representam, portanto, uma ferramenta capaz de transmitir informações aos leitores, e para que esta relação seja democrática é necessário que aquilo que é repassado, seja feito de forma objetiva e imparcial, principalmente quando relacionado a cobertura eleitoral. Tecidas essas breves considerações a respeito da teoria dos meios de comunicação, bem como das novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC), passamos a uma revisão dos estudos empíricos que, assim como esta pesquisa, analisam a cobertura eleitoral. A relação jornal impresso e cobertura eleitoral era analisada frequentemente pelos estudiosos da área da comunicação política. Posteriormente, com o avanço da internet, os jornais impressos perderam um pouco da força, dando lugar ao estudo dos portais e das redes sociais. Porém, muitas conclusões a respeito da análise dos jornais impressos e da cobertura eleitoral podem servir como base para os conteúdos web. Neste ponto, destacamos alguns resultados de pesquisas para traçar um comparativo com os dados que serão apresentados neste trabalho. Cervi, Souza e Barretta (2011) analisaram como o jornal Folha de S. Paulo cobriu as eleições presidenciais em 2006 e 2010. Concluíram que no ano de 2006 o jornal FSP dispôs de um tratamento diferenciado em relação aos candidatos Lula e Alckmin, porque ainda que tenha oferecido uma cobertura semelhante aos candidatos presidenciais, o ritmo de crescimento nas aparições no Jornal foi maior para Lula do que para Alckmin. No entanto o candidato do PSDB teve um crescimento maior das matérias com valência 10


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

positiva. Já no ano de 2010, o tratamento dispensado aos candidatos presidenciais Dilma e Serra foi semelhante, não apresentando diferenças significativas quanto ao número de citações e valência positiva, porém a valência negativa mereceu destaque, porque enquanto Serra teve um crescimento no número de matérias com valência negativa no período pré-eleitoral e primeiro turno, com queda no segundo, a candidata Dilma teve um crescimento tanto no primeiro, quanto no segundo turno. Assim, os autores concluíram que a imparcialidade se deu apenas no volume da cobertura, porque através dos dados estatísticos foi possível observar um tratamento diferenciado entre os candidatos à presidência do PT e PSDB nas eleições de 2006 e 2010. Saisi (2011) analisou o papel da imprensa através dos jornais Folha S. Paulo e O Estado de S. Paulo na campanha presidencial de 2010. A autora concluiu que os jornais deram espaço apenas aos candidatos que ocupavam os primeiros lugares das pesquisas. E apesar de não se posicionar claramente a favor de determinado candidato, os veículos impressos criaram mitos políticos para relacionar aos candidatos presidenciáveis, por exemplo, “Dilma a mãe da política”. Estas pesquisas ilustram apenas uma parcela dos estudos de comunicação política, havendo ainda várias outras vertentes, principalmente em relação à ferramenta das redes sociais (PENTEADO, 2012; FERREIRA e VELOSO, 2014; RAMALDES, 2012; MARTINS e DA SILVA, 2015; LUNES, 2012), como será o objeto de estudo deste trabalho. Destaca-se que as mídias sociais são utilizadas tanto pelos candidatos à disputa, quanto pelos portais de informação. Em ambas as formas se objetiva uma maior aproximação com o usuário, e mais uma circulação ampla das notícias relacionadas à disputa eleitoral. Na seção seguinte é apresentada a análise dos dados empíricos no que tange à cobertura eleitoral feita pelos portais jornalísticos Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo durante as eleições presidenciais de 2014, através de suas páginas na rede social Facebook.

2. A cobertura eleitoral em números

A análise dos dados da cobertura eleitoral está dividida em dois momentos: no primeiro são apresentados os números gerais quanto aos temas predominantes nas postagens dos portais e o tipo de cobertura dada à campanha; já no segundo, o foco é na maneira com que os candidatos foram tratados, tanto em termos de espaço destinado 11


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

quanto em valência. Vale lembrar que o presente trabalho analisa apenas o conteúdo presente nas postagens das páginas do Facebook dos portais e não no conteúdo das matérias jornalísticas ao qual a postagem levava. Portanto, trata-se do material escrito para apresentar a notícia aos usuários da rede social. O método empregado para a pesquisa foi a análise de conteúdo a partir de estatísticas descritivas. Para indicar relação entre as variáveis, adotou-se o teste do Quiquadrado, indicado para observar se a distribuição dos casos dentro das categorias deuse de maneira independente (ou seja, uma variável não exerceu influência sobre a outra) ou dependente (no caso de uma variável estar relacionada à outra). Nos casos em que o Qui-quadrado apontou dependência estatística entre as variáveis foram realizados mais dois testes adicionais. O primeiro deles é o Cramer’s V, indicado para apontar a força da relação entre as variáveis. Já o segundo teste indica os pares de categorias que estão estatisticamente associadas e que, portanto, fazem com que as variáveis relacionem-se. A este teste dá-se o nome de Resíduos Padronizados. A primeira variável utilizada no trabalho foi denominada “tema geral’. Com ela é possível observar os assuntos que estiveram mais presentes nas publicações dos três veículos selecionados para a pesquisa e também o espaço que a campanha presidencial recebeu. Tendo em vista a relevância deste tema, espera-se que os portais tenham promovido o agendamento desta discussão no debate público. Para a codificação das postagens foram adotadas treze possibilidades temáticas, são elas: campanha eleitoral, político-institucional, economia, saúde, educação, violência e segurança, infraestrutura urbana, meio ambiente, carentes e minorias, variedades e cultura, internacional, esportes e ético-moral. Ressalta-se que nesta codificação todas as publicações que mencionavam um dos três principais candidatos à presidência (a saber, Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campo / Marina Silva) foram consideradas como campanha eleitoral. Já as postagens que tratavam de eleições regionais ou que não citavam nenhum dos principais candidatos foram classificadas como político-institucional. A tabela 1 sumariza as principais informações a respeito da aparição dos temas gerais nas postagens da Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo. TABELA 1 - Temas gerais por página de portal Temas

Variedades

Folha de S. Paulo

Estadão

O Globo

Total

N

1.596

1.411

1.336

4.343

%

29,3%

28,9%

37,6%

31,3%

Rp

-2,60

-2,97

6,70 12


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Político institucional

Campanha eleitoral

Esportes

Internacional

Economia

Saúde

Violência

Ético-moral

Infraestrutura urbana

Meio-ambiente

Educação

Carentes e minorias

Total

N

634

593

419

1.646

%

11,6%

12,1%

11,8%

11,9%

Rp

-0,46

0,59

-0,13

N

882

431

154

1.467

%

16,2%

8,8%

4,3%

10,6%

Rp

12,78

-3,73

-11,44

N

538

565

301

1.404

%

9,9%

11,6%

8,5%

10,1%

Rp

-0,54

3,21

-3,09

N

503

312

486

1.301

%

9,2%

6,4%

13,7%

9,4%

Rp

-0,32

-6,80

8,37

N

289

539

155

983

%

5,3%

11,0%

4,4%

7,1%

Rp

-4,92

10,40

-6,10

N

154

271

210

635

%

2,8%

5,6%

5,9%

4,6%

Rp

-6,02

3,19

3,71

N

233

176

133

542

%

4,3%

3,6%

3,7%

3,9%

Rp

1,40

-1,06

-0,50

N

166

139

120

425

%

3,0%

2,8%

3,4%

3,1%

Rp

-0,05

-0,85

1,07

N

192

165

42

399

%

3,5%

3,4%

1,2%

2,9%

Rp

2,84

2,09

-5,96

N

125

143

80

348

%

2,3%

2,9%

2,2%

2,5%

Rp

-0,98

1,87

-0,97

N

79

78

70

227

%

1,5%

1,6%

2,0%

1,6%

Rp

-1,06

-0,20

1,55

N

55

59

51

165

%

1,0%

1,2%

1,4%

1,2%

Rp

-1,21

0,13

1,34

N

5.446

4.882

3.557

13.885

%

100%

100%

100%

100%

Qui-quadrado: 800,947 (sig. 0,000) Cramer's V: 0,170 (sig. 0,000) Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP).

13


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Na tabela 1 é possível observar que o tema variedades e cultura predominou nas postagens para os três portais. Ao todo, foram 4.343 postagens, que representam 31% do total publicado. O veículo que mais abordou esta temática foi O Globo, com 37,6% das suas entradas, seguido por Folha de S. Paulo, com 29,3% e Estadão, com 28,9%. Em variedades e cultura são encontradas notícias sobre celebridades, cinema, previsão do tempo, humor, dentre outros. Em seguida aparece político institucional como o segundo tema mais noticiado, com 11,9% do total da soma dos portais. A campanha eleitoral aparece como terceiro tema mais abordado, entretanto, isto deve ser ponderado para cada veículo de maneira diferente, já que o tema ganhou notoriedade específica entre eles. Na página da Folha de S. Paulo no Facebook, por exemplo, à campanha presidencial aparece como o segundo tema mais noticiado, com 16,2% das postagens. No Estadão, por sua vez, ela é o quinto objeto mais tratado, com 8,8%, atrás de variedades e cultura, político-institucional, esportes e economia. Já no Globo, apenas 4,3% das publicações referiam-se ao tema campanha eleitoral, atrás de temas como variedades e cultura, internacional, político-institucional, esportes, saúde e economia. Ou seja, a terceira colocação ocupada pela campanha eleitoral está muito ligada ao elevado número de entradas feitas pela Folha de S. Paulo e do Estadão. O teste do Qui-quadrado, com sig. 0,000 (abaixo do limite crítico de 0,050 a um intervalo de confiança de 95%), indica que há dependência entre as variáveis e que portanto a distribuição dos casos não é aleatória. Já o coeficiente do Cramer’s V de 0,170 pode ser interpretado como uma relação de 17% entre as variáveis portal e tema geral, ou seja, uma baixa relação entre as variáveis. Em relação aos resíduos padronizados, apresentados na tabela de maneira abreviada como “Rp”, estes devem ser entendidos como um valor padronizado (ou seja, transformados para uma mesma dimensão) que indica se um par de categorias têm mais ou menos casos do que o esperado em uma distribuição independente. Este valor só apresenta valor estatístico se seu coeficiente estiver acima de ±1,96. Em outras palavras, os resíduos que superam esta marca são considerados os casos sobre representados (se acima de 1,96) ou sub-representados (se acima de -1,96) na tabela. Os três maiores resíduos de cada portal foram realçados para facilitar a sua visualização. O maior valor, de 12,78, aparece para a Folha de S. Paulo e o tema campanha eleitoral. Isto indica que há uma grande concentração de casos neste par de categorias e que este tema está representado acima do que seria esperado tendo em vista a forma com que estão distribuídos os casos. Na sequência aparece o resíduo de -11,44 para O Globo, na 14


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

mesma temática do anterior, comprovando que o espaço destinado à campanha foi significativamente baixo nas postagens deste portal. Já o terceiro maior resíduo é do Estadão, com o tema economia e um valor de 10,40, sugerindo alta publicação nesta temática. Entretanto, em relação à cobertura eleitoral, o resíduo do Estadão é negativo e estatisticamente significativo (-3,73). Neste sentido, a aparição da campanha eleitoral nas postagens do Estadão teve uma presença baixa. Ademais, pode-se concluir que mesmo com o alto volume de postagens para variedades e cultura, o único portal que apresenta um resíduo positivo e significativo para este tema é O Globo, que tem mais casos do que era esperado. Este fato, somado a alta presença de postagens sobre questões internacionais, sugere que a escolha editorial do portal dentro do Facebook não foi de privilegiar o debate público quanto às eleições presidenciais, mas sim de abordar temas menos substantivos. O Estadão, mesmo com elevado percentual de entradas destinadas à cobertura eleitoral, também optou por destacar outros temas que não campanha, como economia e esportes. Por fim, a Folha de S. Paulo foi o veículo que mais privilegiou a campanha eleitoral entre os três portais, sendo decisiva para que o tema fosse o terceiro mais citado no total. Em seguida, analisa-se a forma com que a campanha eleitoral foi abordada dentro das postagens dos três portais. Com esta variável pretende-se indicar se cobertura eleitoral, quando ocorre, é em verdade de temas realmente decisivos para fomentar o debate público ou questões superficiais4. Esta variável somente é codificada quando a anterior, tema geral, foi classificada como campanha eleitoral e ela apresenta oito possibilidades válidas. São elas: i) evento de campanha, quando a postagem apenas informa a agenda do candidato ou por ele esteve; ii) imagem política do candidato, ao exibir o lado do candidato enquanto homem público; iii) imagem pessoal do candidato, ao mostrar questões privadas do candidato; iv) imagem administrativa do candidato, nos casos em que o competidor é apresentado pelas suas realizações enquanto gestor; v) imagem do governo em disputa, quando são apresentadas na postagem questões referentes ao governo federal; vi) imagem da campanha e eleitores, para notas sobre os eleitores ou prazos relacionados a campanha em geral; vii) resultados pesquisa, ao tratar de pesquisas eleitorais; por fim, viii) justiça eleitoral, em enunciados destinados a divulgação de processos e decisões da justiça eleitoral.

4

Considerou-se para esta pesquisa temas relevantes: imagem política do candidato, imagem administrativa do candidato, imagem do governo em disputa e justiça eleitoral. Os demais, por sua vez, foram considerados temas de menor importância para a qualidade do debate público. 15


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

A tabela 2 sumariza as estatísticas descritivas quanto aos temas de campanha tratados nas postagens e os respectivos veículos que a abordaram. TABELA 2 - Temas de campanha por páginas dos jornais Tema de campanha

Imagem política dos candidatos

Imagem da campanha e eleitores

Agenda de campanha

Folha de S. Paulo Estadão O Globo

Total

N

229

183

40

452 37,2%

%

31,5%

50,3%

32,3%

Rp

-2,53

4,10

-0,90

N

133

54

15

202

%

18,3%

14,8%

12,1%

16,6%

Rp

1,10

-0,83

-1,23

N

122

32

22

176

%

16,8%

8,8%

17,7%

14,5%

Rp

1,62

-2,85

0,96

N

88

26

23

137

%

12,1%

7,1%

18,5%

11,3%

Rp

0,66

-2,34

2,42

N

50

29

11

90

Imagem administrativa dos candidatos %

6,9%

8,0%

8,9%

7,4%

Rp

-0,53

0,40

0,60

N

63

15

7

85

%

8,7%

4,1%

5,6%

7,0%

Rp

1,70

-2,07

-0,57

N

27

22

2

51

%

3,7%

6,0%

1,6%

4,2%

Rp

-0,64

1,72

-1,40

N

16

3

4

23

%

2,2%

,8%

3,2%

1,9%

Rp

0,60

-1,48

1,08

N

728

364

124

1.216

%

100%

100%

100%

100%

Resultados de pesquisas

Imagem pessoal dos candidatos

Imagem do governo em disputa

Justiça eleitoral

Total Qui-quadrado: 68,219 (sig. 0,000)

Cramer's V: 0,167 (sig. 0,000) Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP).

De saída é possível constatar que o tema mais noticiado pelas páginas dos portais no Facebook foi imagem política dos candidatos, com 37,2% dos 1.216 posts sobre campanha eleitoral, seguido de imagem da campanha e eleitores (16,6%), agenda de campanha (14,5%) e resultados de pesquisas (11,3%). Considerando a classificação dos assuntos proposta para este trabalho, pode-se afirmar que a cobertura nas postagens dos portais foi majoritariamente composta de temas incipientes, que não contribuem para a qualidade do debate público. 16


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

O teste do Qui-quadrado apontou novamente para a existência de dependência entre as variáveis, ou seja, a distribuição dos casos entre as categorias não se deu de forma aleatória, mas sim por meio da influência de uma variável sobre a outra. Já o Cramer’s V aponta para uma relação de 16,7% entre variáveis (muito próximo a de 17% constatada para tema geral e portal, na tabela 1). Mais uma vez o coeficiente indicou uma baixa relação entre as variáveis. Em relação aos resíduos padronizados, verifica-se o maior valor (4,10) para o portal Estadão e o tema imagem política dos candidatos, ou seja, analisando o conjunto de casos a maior sobre representação está neste par de categorias. Tendo em vista que este é um tema relevante para o debate e que o Estadão destinou mais da metade de suas postagens a ele (50,3% do total), é possível afirmar que a página deste portal no Facebook contribuiu para o debate público, agendando temas relevantes. Ao todo, 63,2% das postagens do Estadão foram tematizadas em relação aos temas considerados importantes para o debate. Corroborando mais ainda com esta afirmação estão os resíduos negativos e estatisticamente significativos de agenda de pesquisa (-2,85) e resultados de pesquisas (-2,34). Eles apontam para uma quantia menor de casos do que a esperada caso a distribuição dos casos fosse independente. A Folha de S. Paulo, por sua vez, apresentou apenas um resíduo significativo. O valor de -2,53 em imagem política do candidato mostra que este portal esteve subrepresentado nesta categoria. A soma dos quatros temas considerados de menor relevância para o debate atingiu 55,9% das postagens, indicando que a cobertura da Folha de S. Paulo, apesar de intensa se comparada aos demais veículos, foi predominantemente constituída de temas que agregam menor qualidade ao debate público. Neste mesmo sentido aparece O Globo, apresentando 53,3% das postagens a temas de menor profundidade. Os resíduos padronizados apontam para uma concentração de casos no tema resultados de pesquisas (também considerado tema de menor importância para o debate público). Destas duas primeiras variáveis analisadas é possível concluir que a Folha de S. Paulo foi o portal que mais destinou postagens ao tema campanha eleitoral. Contudo, a opção do veículo não foi privilegiar temas de maior relevância, destinando espaços semelhantes para questões superficiais e profundas do debate eleitoral. Já o Estadão, mesmo apresentando menos informações sobre a corrida presidencial, quando o fez foi sobretudo por meio de notícias relevantes para o debate. Por fim, O Globo deu mínimo atenção para a campanha e privilegiou temas mais rasos, pouco contribuindo para o debate público na rede social Facebook. 17


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Encerradas as análises quanto a tematização dos portais, passa-se para a segunda parte do estudo, em que o foco é a forma com que os veículos noticiaram os candidatos em termos de espaço dado e às valências destinadas a eles. A tabela 3 contém a quantidade de citações que cada um dos três principais candidatos recebeu nas postagens dos portais no Facebook. Cabe lembrar que o estudo leva em conta tanto o primeiro quanto o segundo turno da eleição presidencial e que o período compreendido da coleta de dados foi de 01/07/2014 a 31/10/2014 (quinto dia após a realização do segundo turno das eleições). TABELA 3 – Quantidade de citações aos candidatos nas páginas do Facebook Folha de S. Paulo Estadão O Globo Total Candidato N % N % N % N % Dilma Rousseff

458

40,0%

237

40,1%

87

43,1%

782

40,3%

Eduardo / Marina

363

31,7%

199

33,7%

52

25,7%

614

31,7%

Aécio Neves

325

28,4%

155

26,2%

63

31,2%

543

28,0%

Total

1146

100%

591

100%

202

100%

1939

100%

Qui-quadrado: 4,860 (< 11,070) Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP)

A primeira informação que atrai atenção na tabela 3 é quanto ao número de citações do candidato Aécio Neves. Este, mesmo tendo disputado o segundo turno contra a candidata Dilma Rousseff, foi menos citado que Marina Silva (esta, derrotada logo no primeiro turno das eleições. Enquanto Aécio recebeu 543 menções nas postagens dos três portais (28% do total), Marina teve 614 citações (31,7%). A candidata Dilma, por sua vez, como já era possível esperar, foi a concorrente mais lembrada. Acredita-se que este fato seja explicado em razão do acumulo do cargo de Presidente da República e candidata à reeleição. Portanto, era a figura de maior visibilidade, sendo mencionada tanto enquanto ocupante do cargo máximo do Estado brasileiro quanto competidora na eleição. No que concerne à cobertura que cada veículo deu aos candidatos, apenas O Globo apresenta números distintos, fornecendo maior espaço a Aécio Neves (31,2% das citações) do que a Marina Silva (25,7%). Já a cobertura de Folha de S. Paulo e Estadão foram muito semelhantes, já que Dilma tem praticamente o mesmo percentual de citações, Aécio recebeu 28,4% do espaço no primeiro e 26,2% no segundo e Marina tem 31,7% das menções na Folha de S. Paulo e 33,7% no Estadão. A similaridade dos portais na quantidade de citações aos candidatos é comprovada pelo teste Qui-quadrado, que 18


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

apresentou coeficiente de 4,860 (muito abaixo do limite crítico de 11,070 para um intervalo de confiança de 95%). Ou seja, não é possível afirmar que existem diferenças estatisticamente significativas na distribuição dos casos. Em outras palavras ainda, uma variável não está produzindo efeito sobre a outra, já que a mudança em uma categoria de dada variável não produz alteração sobre a outra. Diante disso é possível afirmar que os portais citaram de forma semelhante em suas postagens os candidatos de oposição ao governo, muito embora apenas um deles tenha disputado os dois turnos da eleição. Já a candidata à reeleição teve maior número de menções, o que sugere-se como resultado de seu duplo-papel desempenhado durante o período eleitoral. Em seguida serão apresentados os números em relação à valência recebida pelos três candidatos. TABELA 4 - Valências de Dilma na Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo Valência

Positiva

Negativa

Neutra

Equilibrada

Total

Folha de S. Paulo

Estadão

O Globo

Total

N

92

33

17

142

%

20,1%

13,9%

19,5%

18,2%

Rp

0,97

-1,53

0,30

N

124

56

23

203

%

27,1%

23,6%

26,4%

26,0%

Rp

0,47

-0,70

0,09

N

230

132

47

409

%

50,2%

55,7%

54,0%

52,3%

Rp

-0,62

0,72

0,22

N

12

16

0

28

%

2,6%

6,8%

0,0%

3,6%

Rp

-1,09

2,58

-1,76

N

458

237

87

782

%

100%

100%

100%

100%

Qui-quadrado: 15,993 (sig. 0,14) Cramer's V: 0,101 (sig. 0,14) Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP).

A tabela 4 sumariza a distribuição das valências destinadas à Dilma nas postagens dos três portais. Como é possível visualizar, a maior concentração de casos está em valências neutras, que em nenhum dos casos aparece com menos da metade das valências Ou seja, em relação as postagens dos portais, a cobertura para a candidata Dilma foi em sua maior parte neutra. O teste do Qui-quadrado mostra que a distribuição 19


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

dos casos não aleatória e que há dependência entre as variáveis, mas o Cramer’s V aponta para uma baixíssima relação entre elas (10,1%). Os resíduos padronizados, por sua vez, apontam para uma concentração de casos acima do esperado apenas em relação à valência neutra e o portal Estadão. Ao olhar apenas para os percentuais, vê-se uma pequena tendência dos portais em citar mais negativamente do que positivamente a candidata Dilma. Tanto Folha de S. Paulo quanto O Globo apresentam 7% a mais de menções negativas do que positivas, enquanto que no Estadão este valor sobe para 10%. Entretanto, conforme antecipado, não há uma forte relação entre estas duas variáveis e os resíduos padronizados não apontam para uma concentração de casos estatisticamente significativa associada a uma valência positiva ou negativa e um portal. TABELA 5 - Valências para Aécio na Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo Valência Positiva Negativa Neutra Equilibrada Total

Folha de S. Paulo

Estadão

O Globo

Total

N

77

25

15

117

%

23,7%

16,1%

23,8%

21,5%

N

88

33

10

131

%

27,1%

21,3%

15,9%

24,1%

N

149

89

36

274

%

45,8%

57,4%

57,1%

50,5%

N

11

8

2

21

%

3,4%

5,2%

3,2%

3,9%

N

325

155

63

543

%

100%

100%

100%

100%

Qui-quadrado: 10,785 (sig. 0,095) Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP).

Na tabela 5 encontram-se as distribuições de valências para o candidato Aécio Neves. O que se vê novamente é uma cobertura majoritariamente neutra e com poucos casos de valência equilibrada. O teste do Qui-quadrado indica um coeficiente de 10,785, abaixo do limite crítico, que impede a afirmação de que os casos estão se distribuindo de maneira dependente entre as categorias, ou seja, não há relação estatisticamente significativa entre as variáveis. Nestes casos, não há indicação estatística de realização de testes como o Cramer’s V e os resíduos padronizados, já que a relação entre as variáveis é baixa.

20


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

A principal novidade entre as menções dedicadas a Aécio dizem respeito a cobertura feita pelo portal O Globo. Neste veículo, apesar do domínio de citações neutras, a valência positiva supera a negativa em praticamente 8%, enquanto que na Folha de S. Paulo as negativas são superiores as positivas em pouco mais de 3% e em pouco mais de 5% no Estadão. Este novo elemento mantém O Globo como uma página que destoou das demais na cobertura eleitoral de 2014, isto porque, além de ter dado maior espaço para Aécio do que os outros dois portais analisados, este veículo inverte a lógica até então apresentada de predomínio de citações negativas aos candidatos.

TABELA 6 - Valências para Eduardo/Marina nas postagens do Facebook Valência Positiva Negativa Neutra Equilibrada Total

Folha de S. Paulo

Estadão

O Globo

Total

N

56

32

7

95

%

15,5%

16,1%

13,5%

15,5%

N

87

41

10

138

%

24,0%

20,6%

19,2%

22,5%

N

213

120

35

368

%

58,8%

60,3%

67,3%

60,0%

N

6

6

0

12

%

1,7%

3,0%

0,0%

2,0%

N

362

199

52

613

%

100%

100%

100%

100%

Qui-quadrado: 3,994 (sig. 0,678) Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP).

Por fim, a tabela 6 apresenta as valências de Eduardo Campos/Marina Silva durante a cobertura eleitoral no Facebook. Como já havia sido constatado para os dois primeiros candidatos, as menções destes três portais foram em sua maioria neutra, seguida de negativa, positiva e equilibrada. Para Marina Silva observa-se o mesmo quadro do apresentado para Dilma Rouseff: todos os portais citaram mais a candidata de maneira negativa do que positiva (diferentemente do que foi visto em relação a Aécio Neves). Em relação ao teste do Qui-quadrado, mais uma vez o coeficiente apontou para ausência de dependência entre as variáveis, tornando inútil a realização do Cramer’s V e dos resíduos padronizados. No que tange às valências dedicadas pelos portais, por meio do Facebook, aos candidatos, notou-se que a atuação da Folha de S. Paulo e Estadão foi muito semelhante: 21


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

ambos destacaram mais negativa do que positivamente os candidatos quando estes foram mencionados. Já O Globo tratou de maneira semelhante Dilma e Marina, mas dedicou mais valências positivas do que negativas a Aécio. Infelizmente não foi possível aprofundar as análises por meio dos métodos estatísticos adotados para a pesquisa, já que o teste Qui-quadrado não apontou dependência entre as variáveis nos casos das valências de Aécio e Marina.

Notas conclusivas Através deste trabalho tentou-se realizar alguns apontamentos quanto à forma com que as páginas de Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo no Facebook cobriram as eleições presidenciais de 2014. Uma primeira conclusão informa que os dois últimos portais não deram grande destaque em suas publicações à campanha eleitoral, noticiando-a de maneira lateral. A cobertura do O Globo, entretanto, apresentou um percentual ainda menor de postagens, privilegiando temas como variedades e cultura e internacional. A Folha de S. Paulo, por sua vez, deu destaque positivo e estatisticamente significativo à corrida presidencial, sendo o portal que mais contribuiu com o debate eleitoral em termos gerais. Os temas de campanha foram utilizados como um segundo critério para medir o quanto as postagens dos portais contribuíram para o debate público. Nesta variável foi possível constatar que o Estadão foi o único a privilegiar os temas aqui classificados como contendo maior quantidade de informações para o debate público. A Folha de S. Paulo, mesmo sendo o veículo que mais agendou a campanha eleitoral, dedicou menor espaço para temas de maior relevância. Já O Globo distribui de maneira quase que igualitária a quantidade de entradas para temas relevantes e de menor importância, mas foi ainda estes que predominaram. Em relação à quantidade de citações e valências, o comportamento dos três veículos foi muito semelhante. O único portal a apresentar comportamento distinto foi O Globo ao ter citado mais vezes Aécio Neves do que Marina Silva e a destinar mais valências positivas do que negativas a Aécio. Um fato que chamou atenção foi a quantidade elevada de citações que Marina recebeu nos três portais, que somados superaram as citações a Aécio (candidato este que este esteve presente no segundo turno eleitoral, ao contrário de Marina. De maneira geral é possível afirmar que Folha de S. Paulo e Estadão tiveram um comportamento semelhante na cobertura eleitora através do Facebook, com a diferença 22


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

de que o tema assumiu maior preponderância no primeiro do que no segundo, mas que a maior quantidade de entradas relevantes esteve no segundo. Pelas informações das quais este trabalho dispõe pode-se afirmar que a cobertura destes dois portais foi imparcial, de maneira geral, já que a mesma política crítica foi adotada para os três candidatos. Já O Globo contribui de maneira menos efetiva ao debate, dedicando pouco espaço à corrida presidencial, noticiando temas menos relevantes em relação a campanha e dedicando espaço e valência diferenciada somente ao candidato Aécio Neves.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, Fernando. Imprensa, cobertura eleitoral e objetividade: a eleição de 2000 na capital paulista. Opinião Pública, 7(2), 182–201, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010462762001000200003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 30 de março de 2015. BARBALHO, C. R. S. Portais eletrônicos: estudo comparativo da oferta em Comunicação. XVI ENDOCOM – Encontro de Informação em Ciências da Comunicação, 1–15, 2004. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/errata/barbalho.pdf. Acesso em: 30 de março de 2015. BORGES, J. Webjornalismo Político e a Cobertura On-Line dos 100 Primeiros Dias de Governo Lula. Intexto, 2(19), 1–17, 2008. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/index.php/intexto/article/viewArticle/8052. Acesso em: 30 de março de 2015. CERVI, E. U., HEDLER, A. P., e WADA, C. A presença da “Política” nos jornais durante período eleitoral Uma perspectiva da cobertura jornalística paranaense nas eleições 2008. XII Seminário de Inverno de Estudos em Comunicação, pp. 1–12. Ponta Grossa/PR, 2009. CERVI, E. U. Opinião Pública e Política no Brasil: O que o brasileiro pensa sobre política e porque isso interessa à democracia. Tese de Doutorado do IUPRJ. Rio de Janeiro, 2006. FERREIRA, K. L.; VELOSO, M. S. F. O Facebook como espaço público virtualizado nas eleições. Revista de Estudos da Comunicação, v. 15, n. 36, 2014. SALES, T. S.; FREIRE, G. M. C. de A. O papel das novas tecnologias na construção da sustentabilidade participativa. Anais da IV Conferência ACORN-REDECOM, Brasília, D.F., May 14-15th, 2010. GOMES, W. A democracia digital e o problema da participação civil na decisão política. Fronteiras-estudos midiáticos, v. 7, n. 3, p. 214-222, 2005. LEMOS, A. Caderno de Viagem. Comunicação, Lugares e Tecnologias. Porto Alegre, Editora Plus, ISBN 978-85-62069-33-8, 2010. e-book. LUNES, I. L. D. O caminho para o Planalto passa pelos blogs: enquadramento e internet nas eleições de 2010. Dissertação (Mestrado em Comunicação). Universidade de Brasília, Brasília, 2012.

23


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

MAIA, R. Democracia e a internet como esfera pública virtual: aproximando as condições do discurso e da deliberação. Universidade de Brasília, 2001. MAIGRET, É. Sociologia da comunicação e das mídias. São Paulo: Editora Senac, 2010. MARTINS, G.; DA SILVA, J. I. Eleições na rede: fases e perspectivas da comunicação política. Contemporânea, v. 2, n. 24, 2015. MIGUEL, L. F. Um ponto cego nas teorias da democracia: os meios de comunicação. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais. BIB, Rio de Janeiro, n.49, 2000. MUNDIM, P. S. Um modelo para medir os efeitos da cobertura da imprensa no voto: teste nas eleições de 2002 e 2006. Opinião Pública, 16(2), 394–425, 2010. PEIXOTO, T.; RIBEIRO, H. Estudos de boas práticas: democracia eletrônica no Brasil e no mundo. Belo Horizonte: Assembleia Legislativa de Minas Gerais, 2009. PENTEADO, C. Facebook e campanha eleitoral digital. Debate (Belo Horizonte), v. 4, p. 41-53, 2012. RAMALDES, M. D. Estratégias e desafios discursivos da propaganda eleitoral no deslocamento para o ciberespaço: a campanha para a prefeitura de Vitória no Facebook. Culturas Midiáticas, v. 5, n. 2, 2012. SAISI, K. A imprensa na campanha presidencial no Brasil em 2010: análise da cobertura da Folha e de O Estado de S. Paulo. 35º Encontro Anual da Anpocs. Caxambu (MG), 2011. ZAGO, Gabriela da Silva; BASTOS, Marco Toledo. Visibilidade de notícias no twitter e no facebook. Brazilian Journalism Research, v. 9, n. 1-2013, p. 116, 2013.

24


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

WEBLEITORES, ELEITORES E COMENTADORES: Uma análise do debate público no Facebook d’O Estadão durante a campanha presidencial de 20145 Fernanda Cavassana de Carvalho6 Isabele Batista Mitozo7 Michele Goulart Massuchin8 RESUMO Devido à adesão dos veículos de comunicação às redes sociais, o debate público passa a ter nova arena para seu desenvolvimento. O presente trabalho tem por objetivo analisar como os comentadores da página d’O Estadão no Facebook se comportaram como comentadores de posts que faziam menção direta a, pelo menos, um dos três principais presidenciáveis em 2014, também mencionando tais candidatos, durante o primeiro turno. Procura-se, especificamente, verificar 1) que posturas esses webleitores mais tomaram durante a discussão (se monológica ou recíproca em relação a outros comentadores) e 2) se eles persuadiram, progrediram ou radicalizaram no decorrer do debate. Para tanto, a metodologia adotada foi a análise de conteúdo quantitativa, tendo-se utilizado testes estatísticos para verificar as relações tanto entre a página observada e o perfil de seu comentador em relação às categorias das variáveis estudadas, assim como a relação entre cada categoria e a citação dos candidatos no comentário. Como resultado, pode-se observar que o Estadão, além de possuir um comentador mais propício ao debate, agrega mais eleitores dispostos a persuadir, mas, com maior tendência à radicalização, quando mencionam Dilma Rousseff, e ao progresso, quando citam Eduardo Campos ou Marina Silva.

Palavras-chave: Debate público; Eleições Presidenciais 2014; O Estado de S. Paulo; Facebook

Introdução Os estudos acerca das relações entre internet e debate público têm se voltado para um novo campo a princípio mais aberto e, portanto, propício a discussões: as redes sociais digitais. Se observarmos, por exemplo, a quantidade de trabalhos que têm sido apresentados nos últimos congressos e publicados em periódicos da área de internet e política, é notável o quanto as investigações acerca, especialmente, de Facebook e Twitter estão crescendo e tornando-se tendência. Este trabalho, por sua vez, endossa essa subárea e procura estudar a relação específica entre o debate que o jornalismo suscita, atualmente, entre seus webleitores, a partir do momento em que adentra as redes sociais, em que é permitido a atores sociais 5

Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Núcleo de pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública, da Universidade Federal do Paraná (CPOP-UFPR). 6 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, PPGCOM-UFPR. fercavassana@hotmail.com 7 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, PPGCP-UFPR. ibmitozo@gmail.com 8 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR. mimassuchin@gmail.com 25


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

comentarem o que é postado pelas páginas dos veículos de comunicação. De forma mais específica, o objetivo do artigo é apresentar uma investigação acerca de como se comportou o comentarista-eleitor dos posts difundidos pela página d’O Estadão no Facebook tendo como metodologia a análise de conteúdo quantitativa, que terá como foco a análise das variáveis 1) postura do comentador (se responde ou não a outros comentadores), conforme classificação de Dahlberg (2002) e 2) reflexividade, seguindo o que teoriza e aplica Jensen (2003), em seu estudo. Tais variáveis serão, ainda, cruzadas com a citação de cada candidato, a fim de indicar quando o diálogo se desenvolve de forma mais ampla em relação à citação de um candidato, assim como o tipo de reflexividade que mais se expressa nessa mesma relação. O período em estudo comporta 13 semanas que compõem o primeiro turno das eleições presidenciais (julho-setembro/20149) e tem como unidade de análise os comentários que mencionavam diretamente ao menos um dos três principais presidenciáveis, feitos a posts que, igualmente, citavam um deles. Assim, trabalhou-se com 63.730 comentários. Os resultados apresentam que O Estadão, além de ser um veículo que gera debate entre os comentadores de seus posts no Facebook, também agrega distintos posicionamentos políticos dos eleitores enquanto comentadores.

1. Jornalismo e debate nas redes sociais online

O jornalismo pode ser considerado um elemento imprescindível ao jogo político, interferindo na forma como a política se desenvolve (MONT’ALVERNE; MARQUES, 2013) e no debate público, sendo até chamado por alguns de novo “quarto poder”, como uma espécie de “poder moderador” (ALBUQUERQUE, 2000). Sua forma de alcançar o leitor, porém, foi durante muito tempo unilateral: os veículos de comunicação de massa assumiam o papel de emissores, enquanto ao público restava a função de receptor da mensagem. Esta visão do poder dos veículos de mídia passa a ser superada quando consideramos características próprias da comunicação via web, como a descentralização da produção de conteúdo, a multidirecionalidade e a interatividade. É fato que a internet possibilitou grandes mudanças na comunicação em comparação com as mídias de 9

São considerados os comentários feitos aos posts, sobre a disputa presidencial, de 1 de julho a 29 de setembro de 2014. O dia 30 de setembro faz parte da semana 14, última semana do primeiro turno, não incluída nesta análise, porque o banco de outubro encontra-se em fase de finalização. 26


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

massa, como a televisão e o rádio, mas, assim como o público está presente na internet, os veículos tradicionais também estão. Na rede, exploram as ferramentas possíveis para compartilhar seu produto – a notícia – muitas vezes com o conteúdo modificado pela interação de seu leitor, ativo, principalmente, nas redes sociais. Assim, a presença dos veículos jornalísticos na web, e em suas diversas plataformas como o Facebook, acaba propiciando uma nova configuração da forma a partir da qual a audiência recebe e interage com o que é publicado. E esse é um fator importante quando se pretende estudar debate público, já que, agora, o leitor não é mero receptor a discutir com parentes ou vizinhos acerca do que o jornal pautou: ele pode questionar diretamente a notícia, bem como debater com outros webleitores online. A interatividade do webleitor com o jornal traz novas possibilidades para pesquisas que desejam compreender a influência do conteúdo jornalístico no debate público. Em redes sociais digitais, por exemplo, os comentários nos posts dos veículos podem se tornar objetos que revelem, ao menos em parte, como se dá a recepção da notícia compartilhada. Na perspectiva de Braga (2006), há um sistema de interações sociais sobre a mídia, caracterizado por uma circulação diferida e difusa, que se dá após o consumo da informação midiatizada. As pessoas passam a comentar e debater o que viram na mídia e, a partir disso, “as proposições circulam evidentemente trabalhadas, tensionadas, manipuladas, reinseridas nos contextos mais diversos” (BRAGA, 2006, p.28). Portanto, a partir de Braga (2006), os comentários dos webleitores em posts de jornais nas redes sociais devem ser considerados como um dispositivo deste sistema de interação social. Os dispositivos são formas socialmente geradas e tornadas culturalmente disponíveis, “lugares materiais ou imateriais nos quais se inscrevem (necessariamente) os textos” (MOUILLAUD apud BRAGA, 2006, p.40). O autor ainda ressalta que a ocorrência dessas interações diretamente na mídia em que o conteúdo é veiculado é importante, porque, deste modo, as interações podem ter efeitos sociais e culturais mais abrangentes. Atualmente, a internet é a mídia mais escolhida para a ocorrência destes dispositivos e as redes sociais potencializam tais ocorrências. Se, por um lado, a possibilidade de interação entre jornal e webleitor existe, há também a interação entre leitores, em que eles podem desenvolver uma conversação (DAHLGREN, 2005) e, inclusive, tornarem-se politicamente ativos. Embora algumas estratégias tenham apenas sido transportadas dos media tradicionais aos media digitais (MARQUES et al., 2013), como a capacidade de enquadrar notícias, esses webleitores 27


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

têm se tornado agentes cada vez mais importantes para a dinâmica da comunicação via web, uma vez que podem escolher o veículo de comunicação que vão ler, pois os jornais romperam com a barreira da distância estando em ambiente online e, portanto, concorrem pela audiência entre si. Do mesmo modo, os leitores podem decidir conversar mais com outros internautas que com as notícias, como apresentou o trabalho de Cervi (2013). Os sites de redes sociais, mais especificamente, tomaram tanto o primeiro plano das campanhas eleitorais quanto o da circulação de notícias jornalísticas. Isso porque, além da maior potencialidade de circulação de conteúdo em relação aos websites e portais, as redes agregam mais seguidores, pois são gratuitas ao usuário (o que não é o caso de todos os portais jornalísticos, como a Folha de S. Paulo) e são consideradas, pelo próprio público, um importante canal para se informar (BRASIL, 2014)10.

2. O Estadão no Facebook: análise dos comentários em posts do primeiro turno da campanha presidencial de 2014 Tendo como base a breve discussão teórica realizada na seção anterior, este paper se concentra em compreender como os webleitores d’O Estadão agem na condição de comentadores dos posts desse jornal em sua página oficial no Facebook. A escolha da referida página como aquela a ser tomada para observação deu-se, primeiramente,

pela

constatação

em

trabalho

anterior

(MITOZO;

MASSUCHIN;

CARVALHO, 2015) do quanto O Estado de S.Paulo se destacou em relação aos outros quality papers nacionais, Folha de S. Paulo e O Globo (MONT’ALVERNE; MARQUES, 2013), quanto ao notado maior nível de reciprocidade que seus comentadores apresentaram. Em segundo lugar, é interessante observar como O Estadão, sendo um jornal que possui tradição em deixar explícito seu posicionamento político, assim como de destacar o fato de separar opinião de informação, agrega mais reciprocidade entre os comentadores. Por outro lado, vale ressaltar que esse jornal possui o portal online mais democrático, por ter sido o primeiro dentre aqueles três maiores jornais nacionais a abrir a possibilidade de se comentar, nele, suas notícias (CERVI, 2013).

10

A Pesquisa Brasileira de Mídia (BRASIL, 2014) aponta o Facebook como o site/rede social mais acessado pelos brasileiros em dias de semana e nos finais de semana, bem como o site/blog/rede social mais acessado pelo público para se informar. 28


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

O jornal O Estado de S. Paulo, durante o primeiro turno11 das eleições de 2014, publicou em seu perfil no Facebook 3.747 posts, dos quais consideramos 276 como pertencentes ao tema “Campanha Eleitoral”, por citarem um dos três principais candidatos à Presidência da República12. A partir disso, a análise a seguir traz algumas características do debate público nestes posts, pela investigação de 63.730 comentários, que totalizam as citações dos principais candidatos pelo próprio público no ato de comentar.

2.1. A postura do comentador Primeiramente, observou-se a postura que o comentador d’O Estadão adota. A postura é um dos fatores que Dahlberg (2002) aponta como importante categoria de análise indicativa de predisposição ao debate. Assim, o autor estuda a reciprocidade de comentários. Classificamos, ainda, como fez Sampaio et al. (2010), a ausência dessa resposta como postura monológica. O Gráfico 1, abaixo, mostra a frequência de comentários monológicos e recíprocos encontrados entre os webleitores da página d’O Estadão no Facebook.

GRÁFICO 1 – Postura dos comentadores nos posts d’O Estadão FONTE: As autoras, com os dados do Núcleo CPOP-UFPR

11

Considerando as 13 semanas aqui analisadas. Até agosto consideramos os nomes de Aécio Neves, Dilma Rousseff e Eduardo Campos. Em agosto e setembro, passamos a considerar o nome de Marina Silva. 29 12


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Como se pode ver, há uma predominância de comentários em que os webleitores conversam sozinhos, o que representa 74% do total. De qualquer forma, se olharmos para a proporção apresentada entre esses e aqueles em que houve reciprocidade, 26% do total, há uma diferença significativamente menor entre as duas categorias em relação aos outros grandes jornais de circulação nacional, conforme apresentado em estudo anterior (MITOZO; MASSUCHIN; CARVALHO, 2015)13. Assim, mesmo que O Estadão se apresente como veículo de posição política conservadora explícita, ele agrega comentadores mais dispostos a responder, de alguma forma, outros internautas. Em relação à pluralidade de citação dos candidatos pelos comentadores dos posts desse jornal, era esperado que Dilma Rousseff fosse a mais citada, tanto por ser a candidata à reeleição como por ocupar concomitantemente ao período eleitoral a Presidência da República em um momento de escândalos políticos, um dos maiores temas a pautar o jornalismo. O que surpreende é o fato de que houve equilíbrio entre as citações da incumbente e de Eduardo Campos/Marina Silva.

GRÁFICO 2 – Total de citações dos candidatos em comentários d’O Estadão FONTE: As autoras, com os dados do Núcleo CPOP-UFPR.

14

É certo que a tragédia que vitimou Campos causou alta na produção de comentários, mas não de forma a causar a vantagem das citações dele e de Marina sobre

13

A Folha de S. Paulo teve 82,4% dos comentários monológicos e 17,6% recíprocos. Os dados são ainda mais negativos para O Globo: 91,6% de comentários monológicos e somente 8,4% recíprocos. 14 É importante ressaltar que a soma desses valores ultrapassa o total de comentários em estudo (63.730), pois há comentários que citam mais de um candidato, o que se deve considerar em todas as análises que seguirão neste paper. 30


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

aquelas de Aécio Neves, que agregou pouco mais que a metade de menções da mais citada. Chegamos aqui à constatação de que Aécio Neves foi o menos citado nos comentários sobre campanha n’O Estadão, aparecendo em apenas 26,7% dos 63.730 comentários analisados. Quando se observa a expressão da reciprocidade em relação à citação dos candidatos, pode-se constatar que os internautas estiveram mais dispostos a conversar sozinhos, não importando que candidato estivessem mencionando. Os Gráficos 3, 4 e 5, abaixo, mostram a correlação que existe entre a postura adotada pelos comentaristas e as citações dos candidatos.

GRÁF.3– Postura X Dilma GRÁF.4 – Postura X Aecio FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR

GRÁF.5 Postura X Edu/Marina

É interessante observar que, proporcionalmente, os comentadores mais propícios ao debate foram aqueles que mencionavam Dilma Rousseff, seguidos, novamente, de Eduardo Campos/Marina Silva. Vale informar que o maior ou o menor número de menções não teve influência sobre a proporção de comentários que apresentaram postura recíproca, embora tenha havido a coincidência em relação à ordem dos presidenciáveis. Por outro lado, a análise não se resume a essa observação e alguns dados adiante mostrarão que, mesmo respondendo a outros comentários, o webleitor não necessariamente apresenta-se como um debatedor no sentido que Jensen (2003), à luz dos conceitos habermasianos, identifica, justamente por não expressar de forma mais ampla o que se desejaria em um debate aberto e respeitoso.

31


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

2.2. A reflexividade nos comentários Assim, passa-se ao estudo de uma variável que complementa aquela anterior por proporcionar, mesmo que de forma mais restrita, uma visão qualitativa à análise quanti aqui desenvolvida: o tipo de reflexividade apresentada nos comentários. Como dito anteriormente, essa variável ajuda a investigar como essa maior reciprocidade foi expressa entre os comentadores d’O Estadão: tentou-se mais 1) persuadir; 2) progredir, apresentando informações complementares ao debate; ou 3) radicalizar, comportando-se de forma desrespeitosa durante a discussão. Tab.1 - Tipo de reflexividade do comentador n’O Estado de S. Paulo Frequência Porcentual 16427 25,8 10224 16,0 4619 7,2 Total 31270 49,1 Ausente 32460 50,9 Total 63730 100,0 FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR

ESP Válido

Persuasão Radicalização Progresso

Porc. Válida 52,5 32,7 14,8 100,0

Como exposto na Tabela 1 acima, a categoria “persuasão” foi aquela mais utilizada pelos comentadores, representando 52,5% das ocorrências. Em seguida, a radicalização apareceu em 32,7% dos casos, superando “progresso”, que representou apenas 14,8% do total. É importante lembrar que muitos comentários não apresentaram qualquer reflexividade e, portanto, decidiu-se trabalhar apenas com a percentagem válida.

GRÁFICO 6 – Tipo de reflexividade dos comentadores FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR 32


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Conforme foi feito com a postura do comentador, analisa-se, também, o tipo de reflexividade que os comentadores apresentaram ao mencionar cada candidato. Tendo atentado anteriormente sobre a ausência de relação entre ser recíproco e apresentar-se mais polido no debate, observando a tabela a seguir, pode-se ter uma percepção mais nítida desse fenômeno. Os resíduos padronizados permitem a constatação de que o comentarista que citou Dilma Rousseff, se, por um lado, esteve mais propenso a ler e dar continuidade à discussão, por outro, apresentou-se como aquele que mais radicalizou o debate. A incumbente é a única cujo resíduo é alto positivo (22,5), destoando dos outros candidatos,

que

apresentam

baixos

negativos,

principalmente

de

Eduardo

Campos/Marina Silva (-17,8). Tab. 2 - Tipo de reflexividade em comentários que citam candidato Cita candidato no comentário Dilma Aécio Edu/Marina Total Reflexividade Radicalização N 6845 2329 3081 12255 Rp 22,5 -8,8 -17,8 Progresso N 2200 1142 2470 5812 Rp -5,5 -5,05 10,2 Persuasão N 7356 5318 7779 20453 Rp -14,4 9,5 8,3 Total 16401 8789 13330 38520 FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR

Os comentadores que mais estiveram abertos ao progresso, preocupando-se, pois, em inserir novas informações e, assim, reforçar a argumentação, foram aqueles que citaram Eduardo Campos/Marina Silva (10,2). Perceba-se que os outros candidatos tiveram resíduos padronizados negativos bem próximos, o que caracteriza aqueles que os mencionaram com um perfil, em relação a essa categoria, bem similar.

GRÁF.7 – Reflexividade X Dilma GRÁF.8 – Reflexividade X Aécio FONTE: As autoras, com os dados do Núcleo CPOP-UFPR.

GRÁF.9–Reflexividade X Edu/Mar 33


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Por fim, os comentadores que mencionam Dilma Rousseff são também os únicos que estão menos dispostos a persuadir ou serem persuadidos, pois os resíduos para essa categoria ficaram com baixo negativo (-14,4), em contraste com os altos positivos de Aécio Neves (9,5) e Eduardo Campos/Marina (8,3). Isso implica dizer que os comentadores que fizeram menção a Aécio foram aqueles mais dispostos a persuadir outros debatedores. Os gráficos acima (GRAFs. 7, 8 e 9) ilustram bem as diferenças e semelhanças que os números da Tabela 2 já apontaram.

Considerações finais Apesar de, entre os comentários analisados, o debate nos posts d’O Estado de S. Paulo apresentar quase três vezes mais comentários monológicos do que recíprocos, esses comentaristas tendem a apresentar mais reciprocidade, especialmente na comparação direta com o debate realizado nos comentários na Folha e n’O Globo no mesmo período (MITOZO; MASSUCHIN; CARVALHO, 2015). Porém, só esse dado não é suficiente para se afirmar que o diálogo flui entre os comentadores na página do veículo e que há um debate construtivo entre os participantes. Esta análise preliminar identificou algumas características do webleitor que comenta no Facebook d’O Estadão. Pode-se verificar que a grande maioria tende a tentar convencer, persuadir, o outro e apenas 7% progridem no debate. Há ainda um número alto de comentadores que tendem à radicalização, interrompendo o diálogo e se fechando às ideias de outros comentadores, muitas vezes, agredindo-as. Em relação à citação de candidatos nos comentários, observa-se que há muito mais radicalização quando Dilma Rousseff é citada e mais progresso quando há referência a Eduardo Campos ou Marina Silva. Esse trabalho também apontou que estes nomes pautaram bem mais o debate entre os comentadores, eleitores, do que o nome de Aécio Neves, presente em menos de 27% dos comentários. A análise apresentada neste trabalho leva à conclusão de que ainda há muitas investigações a serem realizadas, a fim de traçar-se um perfil de comentador, mesmo na página de um único veículo jornalístico dentro do Facebook. Mesmo que se possa perceber como um comentador se comporta quando cita determinado candidato, não se pode depreender totalmente esse comportamento, pois isso exigiria nova modelagem do banco de dados, para identificar que comentários citaram apenas um dos candidatos e em que temáticas tal perfil poderia ser observado. 34


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Nada impede que trabalhos futuros venham a tomar isso como ponto de partida para nova análise, uma vez que é interessante perceber como o leitor-eleitor se põe no debate, quando suas opiniões e crenças serão postos à prova por outros debatedores.

Referências ALBUQUERQUE, A. Um outro “quarto poder”: imprensa e compromisso político no Brasil. In: Contracampo, n.4, pp. 23-57, 2000. BRAGA, J. L. A sociedade enfrenta sua mídia. São Paulo: Paulus, 2006. BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Comunicação Social. Pesquisa brasileira de mídia 2014: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. – Brasília: Secom, 2014. Disponível em: http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-equalitativas-de-contratos-atuais/livro-pesquisa-brasileira-de-midia_internet-pdf/view. Acesso em: Janeiro de 2015. CERVI, E. U. Como os webleitores do “Portal Estadão” comentaram a eleição de Dilma Rousseff em 2010: uma discussão sobre os participantes do debate público em campanhas eleitorais nos novos meios de comunicação. In: Explanans, vol.2, n.1, pp. 75-99, Jan-Jun/2013. DAHLBERG, L. Net-Public Sphere Research: Beyond the 'First Phase'. In: Euricom Colloquium: Electronic Networks and Democracy. Nijmegen: The Netherlands, 2002. DAHLGREN, P. Internet, public spheres and political communication: Dispersion and deliberation. In: Political Communication, vol. 22, n. 2, pp. 147-162, 2005. JENSEN, J. L. Public Spheres on the Internet: Anarchic or Government-Sponsored – A Comparison. In: Scandinavian Political Studies, v. 26, n. 4, 2003. MITOZO, I.B.; MASSUCHIN, M.; CARVALHO, F.C. Características do debate político-eleitoral no Facebook: Os comentários do público em posts jornalísticos nas eleições presidenciais de 2014. Anais do VI Compolítica, Rio de Janeiro, 2015. MONT’ALVERNE, C.; MARQUES, F.J. Jornalismo político e imagem pública: Dilma Rousseff nos editoriais do jornal O Estado de S. Paulo. In: Contracampo, Vol. 28, n. 3, pp. 92-115, 2013. SAMPAIO, R.C.; MAIA, R.C.; MARQUES, F.P.J.A. Participação e deliberação na internet: Um estudo de caso do Orçamento Participativo Digital de Belo Horizonte. In: Opinião Pública, Campinas, vol. 16, n. 2, pp.446-477, Nov/2010.

35


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

#FALANDO_SOZINHO: Uma análise do comportamento outlier nas postagens sobre a campanha presidencial das páginas de mídias tradicionais no Facebook15 Jaqueline Kleine Buckstegge16 Ricardo Dantas Gonçalves17 Bruno Washington Nichols18 Sérgio Roberto Serafim Tramujas19 RESUMO Entender os espaços criados pelas redes digitais como novas arenas para o debate público implica em compreender quem são os atores presentes na interação. O presente trabalho buscar analisar como internautas altamente participativos reagem à campanha presidencial de 2014 a partir do agendamento feitos por alguns medias tradicionais selecionados em níveis nacional e regional. Foram analisados 82.281 comentadores das páginas do Facebook de onze jornais durante os meses de julho, agosto e setembro de 2014 e destacados 456 outliers. A hipótese testada e verificada foi de que tais comentadores não detém nenhum tipo de estratégia discursiva e apenas induzem uma impressão de “clima geral” do debate, majoritariamente em favor de algum dos candidatos.

Palavras-chave: debate online; Facebook; eleições presidenciais; comportamento político.

1. Introdução A análise do debate público em relação à esfera política, em especial em períodos de campanha eleitoral quando a temática ganha maior visibilidade nas diversas dimensões informacionais, torna-se cada vez mais multifacetada conforme criam-se ferramentas para o acompanhamento da opinião eleitoral on e off-line. A distribuição de conteúdo também se complexifica e não é mais possível isolar os media tradicionais da construção na web. 15

Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP), da Universidade Federal do Paraná. 16 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná. Bolsista CAPES e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (PPGCP-UFPR), jaqueline.buckstegge@gmail.com 17 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná. Bolsista CAPES e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (PPGCP-UFPR), ricardo.dantas.contatos@gmail.com 18 Graduando do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná. Bolsista Fundação Araucária e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (PPGCP-UFPR), bru.nichols@gmail.com 19 Graduando do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (PPGCP-UFPR), sstramujas@gmail.com.

36


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Ainda existe resistência, no entanto, para considerar a produção na internet como parte real do debate público off-line. Como destaca Marques (2006), no entanto, não é possível descartar a produção de opinião feita na web pela simples justificativa de “irracionalidade” presente nos discursos. O autor afirma que Se são diversas as ressalvas à internet enquanto esfera pública, por outro lado não se pode negar que muitos debates só se concretizam por causa do advento desta modalidade de comunicação. (...) o debate racional entre cidadãos comuns, por exemplo, se não acontece na internet, também não parece acontecer rigorosamente fora dela. Em outros termos, deve-se considerar que, funcionando mal ou bem, pelo menos o ambiente digital abre a oportunidade para a exposição de opiniões e formação de arenas conversacionais, instâncias antes pouco prováveis ou mais difíceis de se realizarem (MARQUES, 2006, p. 183)

Opinião pública, dentro do debate contemporâneo, deve ser entendida como a soma de conjuntos de indivíduos que não se conhecem entre si, mas levam em consideração a possibilidade de que a opinião ou a ação do outro, sobre temas públicos, seja próxima à sua. (CERVI, 2013, p.80). Tal afirmação pode encontrar matriz nas causalidades sóciopsicológicas apresentadas por Noelle-Neuman (2003) que explica a formação, alteração e continuidade da opinião pública, bem como seus efeitos e funções a partir de três premissas: i) a sociedade ameaça com isolamento e exclusão os indivíduos que se desviam do consenso; ii) os indivíduos, por sua vez, têm medo, em grande parte subconsciente e provavelmente com causa genética, de serem isolados; iii) este medo do isolamento faz com que as pessoas tentem constantemente mensurar quais opiniões e comportamentos – o clima de opinião – são aprovados ou desaprovados pelo seu meio social. Nesse sentido, os indivíduos que percebem sua opinião como sendo a da maioria as expõem com confiança. E, na contramão, os que se percebem em minoria expressam-se com cautela ou se colocam em silêncio, desse modo, reforçando a opinião como fraca até que, em última instância, ela desapareça ou sobre apenas a um “núcleo duro” de indivíduos que se agarrem a tal opinião. Na lógica de Noelle-Neuman a opinião pública tem muito poder advindo da própria natureza social do homem – i.e o medo do isolamento. E assim, a característica forte do fenômeno é a de controle social, que tem como fim garantir um nível suficiente de consenso social sobre os valores e objetivos comuns à sociedade criando um laço entre o indivíduo e a sociedade. De outra maneira, 37


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

para que a coesão do sistema seja mantida, a sociedade ameaça com o isolamento aqueles que violam o consenso social que a mantém viva. (NOELLE-NEUMAN, 2003) Temos, portanto, que o debate público se coloca como momento em que os participantes do público “medem” suas opiniões frente às dos demais. Ou seja, o espaço de debate é um ambiente de interação usado para expor, medir proximidade e reformular posições (CERVI, 2013). A opinião pública, segundo Cervi (2013), é um fenômeno de caráter transitório depende de comportamentos próprios e dos outros, de sentimentos e percepções. Nesse sentido, mudanças nos elementos do debate, tais como a divulgação de novas informações sobre o tema, tem poder de alterar a opinião pública (CERVI, 2013, p.80). Esse ponto da discussão sobre a opinião pública é especialmente relevante para este estudo, que busca nas divulgações digitais de resultados de pesquisas eleitorais analisar o comportamento dos debatedores, aqui entendidos como comentadores das páginas oficiais dos media tradicionais.

2. Materiais e Métodos

Para a análise do comportamento dos comentadores das páginas de mídias tradicionais no Facebook, foram coletados postagens e comentários de três jornais nacionais (Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo) e oito regionais (A Tarde/BA, Correio Brasiliense/DF, Correio do Estado/MS, Diário do Pará/PA, Gazeta do Povo/PR, O Estado de Minas/MG, O Povo/CE, Zero Hora/RS). Foi utilizado pela coleta o software gratuito de indexação automática Netvizz, que extrai bancos de dados a partir de páginas do Facebook em períodos pré-determinados pelo coletador. O Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP/UFPR) realizou coletas semanais, de 07 de Julho a 09 de Novembro de 2014, resultando em dois bancos de dados principais. O primeiro, das postagens, totalizou 34.618 entradas de posts das páginas prédefinidas. O segundo, que utiliza os comentários como unidade de análise, soma mais de onze milhões de textos comentados dentro das respectivas postagens. Como forma de especificar a pesquisa, foi selecionado o tema “campanha eleitoral” dentre as postagens, considerando apenas a eleição presidencial, e a partir deste corte, 38


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

foram definidos como objeto apenas os comentários que mencionam explicitamente alguma das três campanhas. Isso reduziu a coleta inicial a 2.595 postagens. Para compreender a produção dos debatedores no espaço online objeto da pesquisa, os comentários foram analisados a partir de duas dimensões: (i) forma do comentário

(ex.:

elogio

ou

crítica)

e

(ii)

reflexividade

(progresso,

persuasão,

radicalização). O terceiro nível de análise, criado posteriormente para este trabalho, é o dos comentadores20 – os “donos dos comentários” – que citam um dos três candidatos principais em seus textos. Somam-se, nessa categoria, 81.825 debatedores com frequência de comentários que variam entre 1 vez e 847 vezes. Com uma produção muito mais intensa, foi criada uma categoria de comentadores classificada como “outliers”, que engloba indivíduos que postaram de 52 a 847 comentários. Como recorte temporal para análise de comentários e comentadores, o trabalho delimitou o intervalo do primeiro como entre os meses de julho e setembro. A partir destas três bases (postagens, comentadores e comentários), os dados foram analisados através de software estatístico, buscando testes que se adequassem às variáveis categóricas e contínuas encontradas.

3. Análise dos dados

Uma vez considerado como base de análise as postagens sobre a campanha presidencial de 2014 e seus respectivos comentários, dentro do intervalo do primeiro turno, foi possível resumir o banco de dados a 25.318 publicações, com 82.281 comentadores e 262.017 comentários que citam pelo menos uma das três candidaturas. A análise de dados a seguir descreve a categoria outlier em comparação ao restante dos comentadores, apresentando principalmente seu comportamento em relação à variável reflexividade e suas categorias persuasão, progresso e radicalização. Para um panorama geral do agendamento produzido em relação à campanha presidencial, o Gráfico 1 apresenta a distribuição de postagens classificadas como “campanha eleitoral”.

20

Definimos como “comentador” o perfil pessoal de Facebook, coletado como variável “dono do comentário”. 39


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

GRÁFICO 1 – Número de postagens do subtema “campanha eleitoral por semana FONTE - Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR).

O pico de visibilidade da campanha presidencial presente na semana 21 7 pode ser explicado pelo acidente aéreo que resultou no falecimento do presidenciável Eduardo Campos. E a semana 10 indica o início dos debates eleitorais. 3.1. Dos comentadores Para análise da primeira dimensão proposta por este trabalho, a dos comentadores, a variável binária “outlier” foi utilizada como grupo controle para descrever as características gerais do banco. Tab. 1 – Comparação entre Outliers e outros Comentadores

Outlier Não Média

Comentários 2,64

Sim

Mínimo

Desvio padrão

Comentários Total

Média

Comentadores

81825

51,00 1,00

4,50

215615

101,76

456

847,00 52,00 78,01

46402

Comentadores

Máximo

Máximo

Mínimo

Desvio padrão

Comentários Total

Dilma

1,34

81825

49,00 0,00

2,70

109288

51,34

456

584,00

0,00

55,48

23410

Aécio

,65

81825

45,00 0,00

1,95

53123

30,90

456

382,00

0,00

39,19

14089

Marina

,97

81825

49,00 0,00

2,34

79726

41,02

456

730,00

0,00

50,29

18704

Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR). 21

A divisão das semanas para a pesquisa se deu da seguinte forma: (1) 01 a 07 de Julho, (2) 08 a 14 de Julho, (3) 15 a

21 de Julho, (4) 22 a 28 de Julho, (5) 29 de Julho a 04 de Agosto, (6) 05 a 11 de Agosto, (7) 12 a 18 de Agosto, (8) 10 a 25 de Agosto, (9) 26 de Agosto a 01º de Setembro, (10) 02 a 08 de Setembro, (11) 09 a 15 de Setembro, (12) 16 a 22 de Setembro, (13) 23 a 29 de Setembro, e (14) 30 de Setembro 40


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Como é possível observar pela Tabela 1, existe uma tendência mais dispersa dentre os comentadores considerados outliers no que diz respeito à produção no debate, possuindo uma média de 101,76 comentários por comentador, no entanto um desviopadrão de 78,01 comentários. Mesmo representando apenas 0,55% dos comentadores de postagens da campanha eleitoral, eles são responsáveis por 17,71% das entradas que fazem menção a algum candidato. Em relação a tais citações, observa-se o esperado. A presidente Dilma Rousseff recebe o maior número de citações, em grande parte devido ao exercício do mandato, seguida de Marina Silva e Aécio Neves. É interessante ressaltar que, após o falecimento do candidato Eduardo Campos e a substituição da campanha do PSB por Marina Silva, esta se manteve em segundo lugar em todas as pesquisas de intenção eleitoral, obtendo grande visibilidade na mídia. O quadro apenas se reverteu na quinta-feira prévia ao dia da eleição, quando Aécio Neves assumiu segundo lugar e garantiu seu lugar no segundo turno. Uma das principais característica dentre os outliers, no entanto, também na relação entre postagem e comentários, pode ser verificada pela variável “sobrevivência” que indica a diferença entre o dia que a postagem foi publicada pela página e o dia em que o comentário foi feito. Tab. 2 – Tempo (dias) entre Postagem e Comentário Outlier Não

Sim

Média

0,34

0,25

Máximo

7,00

1,17

Mínimo

0,00

0,00

Desvio padrão 0,58 81825 Contagem

0,20 456

Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR)

Como é possível observar na Tabela 2, enquanto comentadores em geral podem levar até uma semana para comentar a mesma postagem, o número máximo encontrado no estrato dos outliers não chega a dois dias. 41


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Para compreender como tal proporção de comentários de outliers se comportou ao longo do primeiro turno da eleição, o Gráfico 1 apresenta a média de comentários por semana. Fica evidente um pico na média de comentários pelos outliers na semana que vai de 12 a 18 de Agosto (semana 7), nas semanas que vão 26 de Agosto a 08 de Setembro (semanas 9 e 10) e, posteriormente, na semana de 16 a 22 de Setembro (semana 12). Uma das hipóteses explicativas para o ocorrido é a coincidência com os três primeiros debates presidenciais, que ocorreram, respectivamente, em 26 de Agosto, 1º e 16 de Setembro. Tornou-se uma tendência durante os dias de debate presidenciais que os comentadores utilizassem o espaço das postagens, mesmo que estas não tratassem do tema, para posicionar-se em relação à performance dos candidatos. Para a semana 7, assim como nas postagens, o aumento na média é atribuído ao falecimento de Eduardo Campos.

GRÁFICO 2 – Média de comentários de comentadores outliers por semana FONTE - Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR).

3.2 Dos comentários

Tal concentração na média de comentários nas semanas dos debates eleitorais destaca um primeiro aspecto dos comentadores de maior intensidade, mas ainda não 42


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

elabora sobre a forma dos comentários. Para isso, a distribuição de médias controladas temporalmente foi aprofundada, agora ponderando a variável reflexividade. O gráfico 3 controla os comentários pela reflexividade de seus textos. Assim como já observado nas frequências agregadas, fica claro que os picos foram gerados pelos comentários da categoria “Outro”. No entanto, cabe uma ressalva: considera-se essa categoria válida, dado que a partir da observação dos dados, essa categoria, predominantemente, representa os comentadores que “falam sozinhos”, só buscam expor suas próprias opiniões, sem apontar participação no debate que não buscam persuadir, agregar com novas informações e nem radicalizar.

GRÁFICO 3 – Média de comentários de comentadores outliers por semana controlados por Reflexividade FONTE - Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR).

Os comentários incluídos na categoria “Outros” demonstram o padrão de maior disparidade. O maior pico, na nona semana, indica que a média de comentários por 43


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

comentadores outliers ultrapassou os 60 sempre apresentando auge nas semanas dos debates. Estabelecido que os comentadores outliers tendem a apenas expor sua opinião, sem reciprocidade, cabe compreender o formato de suas exposições, mais especificamente, se elogiam ou criticam os candidatos. A Tabela 3 apresenta a distribuição de comentários de comentadores outliers controlando a sua reflexividade e forma.

Tab. 3 – Relação entre Reflexividade e Forma para os Outliers

Reflexividade do Comentário Persuasão

Forma do Comentário

Elogio ao

n

22

Outros

Crítica ao

Outro

26070

4690

3012

61020

17,0

-46,2

-110,7

78,5

n

693

431

98

307

RP

16,2

23,5

-11,1

-15,3

n

26218

12433

34178

43243

-14,8

12,2

84,3

-48,0

Candidato RP Elogio

Progresso Radicalização

Candidato RP Crítica

n

5848

5270

7242

6948

Outros

RP

-5,3

57,6

36,3

-45,2

n

58829

22824

44530

111518

Total

Total

94792

1529

116072

25308 237701

(V de Cramer = 0,232, Qui-quadrado = 38.496,49) Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR)

É possível perceber que existe uma maior concentração de “elogio ao autor” na categoria “outros” de reflexividade, o que reforça que o posicionamento expositivo dos comentadores outliers tende a ser positivo.

22

As categorias critica ou elogio “outros” são resultado do agrupamento de: autor, governo, internauta e portal. Aqui

utilizados como controle, uma vez que seu n é muito reduzido. 44


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

4. Comentários Finais A partir do objetivo de analisar o comportamento outlier no debate online de mídias tradicionais nas eleições presidenciais de 2014, foi possível constatar que, primeiramente, existiram quatro momentos em que a participação deste estrato mostrou-se mais intensa: o falecimento do candidato Eduardo Campos e os três primeiros debates eleitorais presidenciais. A categoria desviante apresentou altos níveis de produção no debate, no entanto, como hipótese do trabalho, foi possível verificar que tal participação não implicou na construção da arena de discussão, mas sim na exposição de seus posicionamentos. Com característica de participar do debate quase que imediatamente após a publicação das postagens, os outliers não buscaram recursos argumentativos, nos formatos de persuasão, progresso ou radicalização. Ainda, tiveram como forma predominante de seus comentários o elogio a um dos candidatos citados.

Referências CERVI, E. U. Como os webleitores do “Portal Estadão” comentaram a eleição de Dilma Rousseff em 2010: uma discussão sobre os participantes do debate público em campanhas eleitorais nos novos meios de comunicação. Explanans, v. 2, n. 1, p. 75–99, 2013. MARQUES, F. P. J. A. Debates políticos na internet: a perspectiva da conversação civil. Opinião Pública, v. 12, n. 1, p. 164–187, 2006. NOELLE-NEUMAN, Elisabeth. La espiral del silencio: opinion publica, nuestra piel social. Barcelona: Ed. Paidós, 2003

45


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

FACEBOOK E AS ELEIÇÕES DE 2014: Um estudo sobre os posts e os comentários nos jornais regionais brasileiros sobre os principais candidatos à presidência23 Regiane Soares Lima 24 Romer Mottinha Santos 25

RESUMO Tendo em vista a importância da internet e das redes sociais digitais nas eleições 2014 no Brasil, o presente trabalho trata sobre a cobertura eleitoral (postagens) e a interação dos internautas por meio de comentários, em relação aos principais candidatos à presidência: Dilma Rousseff (PT); Aécio Neves (PSDB); Eduardo Campos & Marina Silva (PSB), na timeline do Facebook de jornais regionais do Brasil. O trabalho apresenta parte dos resultados obtidos pela pesquisa de acompanhamento da cobertura jornalística na rede social digital Facebook, no período eleitoral de 2014 no Brasil, obtidos através do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP) da UFPR. Os objetivos são: identificar o volume de informações disponibilizado pelos jornais e verificar quem são os destinatários dos comentários quando ao menos um candidato à presidência é citado e qual a forma predominante do comentário, que pode ser de elogio, com explícita menção positiva ou crítica com explícita menção negativa. Os dados apresentados sobre a interação dos internautas via comentários são relativos ao primeiro turno da eleição 2014, que foram coletados do dia 01 de julho até 29 de setembro. A metodologia utilizada é quantitativa e de análise de conteúdo, que permite identificar a categoria dos destinatários dos comentários, bem como a forma de comentário atribuído.

Palavras-chave: Comunicação Política, Cobertura eleitoral, Eleição 2014, Candidatos à presidência, Opinião Pública.

1. Introdução A mídia com o processo de redemocratização iniciado em 1980 passou a ocupar um papel político na sociedade. O público utiliza os recursos disponibilizados pela mídia para fazer interpretações e construir significados dentro das sociedades contemporâneas, e é através de uma agenda, onde são selecionadas as notícias relevantes para a pauta midiática, que os meios de comunicação de massa ocupam uma centralidade e importância na construção de debates no espaço público. Nos últimos anos a web 2.0 possibilitou uma nova reconfiguração nos meios de comunicação online. A segunda geração da internet lança pressupostos de interatividade, a distinção entre informação e opinião está cada vez mais difícil visto que os cidadãos têm 23

Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo núcleo de pesquisa CPOP, da Universidade Federal do Paraná. 24 Graduanda em Ciências Sociais, Universidade Federal do Paraná - UFPR, r.soalima@gmail.com 25 Mestre em Ciência Política, Universidade Federal do Paraná - UFPR, romermotitinha@gmail.com 46


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

a possibilidade de colaborar, construir e participar dos conteúdos produzidos nos meios de comunicações. Dentro deste novo cenário, o jornalismo se adequou para abranger esse movimento onde os consumidores de informações passam a contribuir na produção da notícia. O chamado jornalismo participativo não é um movimento que nasceu com a web, visto que o público consumidor sempre buscou contribuir com as pautas vias cartas, ligações e e-mail. Segundo Aroso (2013) a web contribuiu para “novos contornos com a Internet e com a facilidade de acesso às ferramentas de produção, publicação, cooperação e partilha de informação”. Neste sentido as redes sociais digitais têm ocupado um espaço de ferramenta do jornalismo, o qual tem que se adaptar à rápida evolução e influência da web. Para Catarina Rodrigues (2010), as redes sociais digitais se tornaram um tipo de ferramenta que auxilia a atividade jornalística: O número de utilizadores de redes como o Twitter e o Facebook permite equacionar questões fundamentais no jornalismo como o relacionamento com as fontes, a ampliação, valorização e distribuição de conteúdos, a fidelização dos leitores e a velocidade informativa (RODRIGUES, 2010, p. 1).

No Brasil, segundo dados da Pesquisa Brasileira de Mídia de 2014, a internet é o meio de comunicação que mais cresce entre os brasileiros. A pesquisa anual é divulgada pela Secretária de Comunicação Social da Presidência da República que traz os hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. Na pesquisa foi aferido que “pelo menos um quarto da população (26%) faz uso do meio nos dias da semana com uma intensidade diária de 3h39 de 2ª a 6ª feira e de 3h43 no final de semana” (BRASIL, 2014). O acesso à internet é mais comum entre os jovens, moradores de grandes centros urbanos e os estratos de maior renda e escolaridade. A rede social digital Facebook na pesquisa é o site mais acessado pelos entrevistados durante a semana e nos finais de semana para se informar. Observar e estudar como os jornais se comportam nas redes sociais digitais é fundamental para entender a lógica jornalística na web e a lógica de participação dos internautas. O Facebook é a maior das redes sociais digitais na Internet. Nascida em 2004, esta rede social digital é hoje em dia o segundo site mais visitado na Internet, apenas atrás do Google. Já cedo as instituições científicas e as universidades perceberam a importância de uma rede social desta magnitude para a amplificação das suas mensagens (SANCHEZ; GRANADO; ANTUNES, 2014, p. 10). O uso do Facebook tornou-se comum e cotidiano entre determinados segmentos da população, mesmo que sua cobertura ainda 47


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

seja limitada, não se pode negar que podem exercer uma influência bastante importante entre os usuários (MORENO; MENDIZÁBAL, 2013, p. 399-400). Os dados da cobertura eleitoral foram coletados no período eleitoral de 2014, entre os meses de julho e outubro, por meio do aplicativo netvizz do Facebook dos seguintes jornais: A Tarde (BA), Correio Brasiliense (DF), Correio do Estado (MS), Diário do Pará (PA), Estado de Minas (MG), Gazeta do Povo (PR), Jornal da Manhã (PR), O Povo (CE) e Zero Hora (RS) e os dados da interação dos internautas através dos comentários são do primeiro turno da eleição 2014, coletados do dia 01 de julho até 29 de setembro. A metodologia utilizada é quantitativa e de análise de conteúdo, que permite identificar a categoria dos destinatários dos comentários, bem como a forma de comentário atribuído. A problematização consiste na formulação das seguintes perguntas: Qual o destinatário predominante nos comentários postados pelos internautas no período eleitoral em 2014 nos posts dos jornais? Qual a forma de comentário que os internautas priorizaram nos comentários? A hipótese desta pesquisa é que os internautas postaram seus comentários em maior parte destinado aos candidatos à presidência priorizando a explícita menção negativa/crítica aos mesmos.

2. O papel da mídia Os meios de comunicação de massa selecionam quais são as noticias relevante para a pauta midiática, há então uma espécie de seleção dos fatos. A isto, dá-se o nome de agendamento. Éric Maigret (2010) explica que:

Uma agenda é uma hierarquia de prioridades, uma lista de problemas em jogo classificados por importância crescente, e que se pode apreender, por exemplo, enumerando em dado momento os assuntos tratados na imprensa e a quantidade de tempo no ar e/ou de linhas que eles geram, ou, para os cidadãos, efetuando sondagens de opinião e entrevistas (MAIGRET, 2010, p. 311).

A centralidade da mídia na vida humana, seja como fonte de entretenimento, informação ou instrumento de trabalho, é uma das características mais marcantes do século XX (LIMA, 1996). No Brasil com o inicio do processo de redemocratização em 1985, a mídia se tornou um ator importante que atua conjuntamente com os atores políticos. Os meios de comunicação de massa exercem um papel fundamental na democracia brasileira. Cervi (2006) explica que: 48


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

A mídia é o espaço onde uma versão da realidade, que pode ser a realidade política, passa a ser ampliada. Isso tem um impacto significativo para a democracia, pois na mídia alguns temas são "iluminados", enquanto outros, não abordados, perdem espaço na arena pública. A informação e sensibilização dos homens, que geram as possibilidades de mudança nas preferências, dependem do grau de proximidade das mensagens com a realidade dos receptores mais interessados nos temas – os líderes de opinião. Quanto mais distantes ou estranhos forem os conteúdos, menor a capacidade de modelar a consciência dos indivíduos que entram em contato com as mensagens, seja direta ou indiretamente, no segundo estágio da comunicação (CERVI, 2006, p. 49).

Nessa linha de pensamento os meios de comunicação massa dentro das sociedades democráticas exercem o papel central de divulgar informações, ideias, noções, através de temas, que possam situar os públicos do mundo real, porém a mídia segue uma lógica própria de interesses e muitas vezes essa lógica pode impactar a construção de um espaço público. Segundo Castro (2006): Assim, as possibilidades de constituição de espaços públicos – múltiplos, plurais, democráticos – que possam articular dimensões argumentativas e deliberativas ao campo da operação política dependem enormemente das condições de visibilidade acerca das questões, dos sujeitos e de suas ações que são proporcionadas pelo sistema de mídia. (CASTRO, 2006, p.140).

Em seu artigo: “Dilemas para a Construção do Espaço Público Brasileiro: Controvérsias Midiáticas”, Maria Céres P. S. Castro, apresenta considerações do posicionamento da mídia para a constituição de um espaço público. Para a autora: “Vale dizer que os modos operatórios da mídia, presentes no processo de construção democrática, são relevantes para a compreensão dos dilemas atuais da constituição do espaço público” (CASTRO, 2006). A autora ainda acrescenta que a mídia vem exercendo um papel de fiscalizador, as críticas voltadas para a operação do Estado que mantém uma cultura patrimonialista e clientelista, são temas frequentes nos discursos dos media. A visibilidade desses discursos e a sua propagação, para a autora: “... acaba se estendendo aos organismos que, no interior da sociedade, podem constituir uma esfera pública em que os interesses plurais constitutivos de uma sociedade democrática se tornam visíveis, interagem, disputam legitimidade e adesão e possibilitam a constituição de normas e regras públicas.” (CASTRO, 2006, p. 143)

A ação política acaba sendo constantemente criticada e desqualificada pela mídia. A superficialidade em tratar assuntos relativos à cultura pública, a política e os serviços prestados pelo Estado gera no interior da sociedade um sentimento de insatisfação e “o 49


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

sensacionalismo e o escândalo tornam-se meios de captura da atenção do receptor e mostram-se eficazes como procedimento de consagração na esfera midiática” (CASTRO, 2006). A crítica feita pela mídia deve ser levada em consideração, pois são fundamentais as informações que são repassadas para o público de ordem política ou não. O que se espera é uma imparcialidade, pois essa crítica constante acaba por idealizar o setor privado, a sua capacidade de realização e dinamismo. Ainda segundo Castro: “... a crítica aos equívocos da ação política, a critica à ação do Estado corrobora uma visão privatista do mundo, e ambas, lamentavelmente, diminuem as chances de que elementos essenciais de constituição de uma cultura pública e de expressão de uma cidadania emancipada se fortaleçam” (CASTRO, 2006, p. 144).

As críticas da mídia ao Estado devem ser analisadas pelo público. Não é objetivo deste trabalho criticar simplesmente os meios de comunicação e deixar de lado a importância dos mesmos para a construção de questões e significados para o debate. Entender a lógica jornalística de produção se faz necessária para compreender a discussão que posteriormente acontecerá no debate público.

3. Análise dos dados Este trabalho está dividido em duas partes, primeiramente será feita uma análise dos posts publicados por todos os veículos nos meses que correspondem a cobertura eleitoral para entender a lógica de produção jornalística na rede social digital e posteriormente, será feita uma discussão sobre a interação dos internautas via comentários que é o obejeto central deste trabalho. Ao todo, foram analisadas nesta pesquisa 19.824 postagens publicadas na página do Facebook de todos os veículos no período de 01 de julho ao dia 31 de outubro de 2014. As frequências apresentadas são dos conteúdos compartilhados na página da rede social digital. É importante ressaltar que nem todo conteúdo produzido pelo jornal é compartilhado com os internautas via Facebook, há uma seleção de notícias para ocupar este espaço virtual. Essas notícias ganham visibilidade por estarem divulgadas no site web do jornal e em forma de post no Facebook. Foram selecionados pelo menos um jornal regional de cada região geográfica do Brasil, sendo três da região sul, um da região sudeste, dois da região nordeste, dois da centro-oeste e um do norte do país. Busca-se na pesquisa observar a produção 50


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

jornalística compartilhada na rede social digital, comparando os veículos e regiões entre si. A tabela 1 expõe a produção na rede em número de postagem durante a campanha eleitoral. Ao observamos a tabela, podemos constatar que cada veículo compartilha um número variável de conteúdo no período. Enquanto o jornal Zero Hora (RS) publicou 4189 (21,1%) do total de postagens, o Jornal da Manhã (PR) representa apenas 2,4% dos posts com 467 noticias compartilhadas. Publicar menos ou mais conteúdo em redes sociais não é a problemática desse trabalho, cada jornal possui uma estrutura de organização e uma linha editorial independente, como também opta em publicar noticias mais locais ou regionais, não alcançando um grande número de seguidores além dessa limitação. Tab. 1 – Frequências das Postagens Jornal

Frequência

Porcentagem

A TARDE

1319

6.7 %

CORREIO BRASILIENSE

2207

11.1 %

CORREIO DO ESTADO

1383

7.0 %

DIÁRIO DO PARÁ

2778

14.0 %

GAZETA DO POVO

2891

14.6 %

JORNAL DA MANHÃ

467

2.4 %

O ESTADO DE MINAS

1899

9.6 %

O POVO

2691

13.6 %

ZERO HORA

4189

21.1 %

19824

100%

Total

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)

Há uma aproximação entre os jornais Correio Brasiliense (DF), Diário do Pará (PA), Gazeta do Povo (PR) e O Povo (CE), nos seus números totais de posts, esses jornais representam 53.3% do banco de dados, com médias de postagem no período de 13,3%. Os jornais A Tarde (BA), Correio do Estado (MS) e O Estado de Minas (MG), juntos representam 23,3% do banco, com médias de postagens de 7,7%. Considerando os jornais e a média de posts no período, podemos classificá-los em jornais com alto, médio e baixo volume de publicações na rede social digital Facebook. Para comparar qual foi a distribuição dos posts de cada jornal entre os meses do período analisado, a Tabela 2, através do cruzamento de informações, mostra o número 51


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

de postagens por mês de cada jornal no período. O interessante dessa tabela é mostrar que o compartilhamento de notícias varia pouco, em todos os jornais, porém há alguns casos que devem ser destacados.

Tab. 2 – Frequência das Postagens por mês Mês Julho

agosto

Total

setembro

outubro

N

250

244

248

577

1319

%

19,0%

18,5%

18,8%

43,7%

100,0%

N

577

560

454

616

2207

%

26,1%

25,4%

20,6%

27,9%

100,0%

N

519

323

261

280

1383

%

37,5%

23,4%

18,9%

20,2%

100,0%

N

979

759

616

424

2778

%

35,2%

27,3%

22,2%

15,3%

100,0%

N

710

646

719

816

2891

%

24,6%

22,3%

24,9%

28,2%

100,0%

N

125

132

79

131

467

%

26,8%

28,3%

16,9%

28,1%

100,0%

N

539

440

368

552

1899

%

28,4%

23,2%

19,4%

29,1%

100,0%

N

979

731

395

586

2691

%

36,4%

27,2%

14,7%

21,8%

100,0%

N

879

930

947

1433

4189

%

21,0%

22,2%

22,6%

34,2%

100,0%

N

5557

4765

4087

5415

19824

%

28,0%

24,0%

20,6%

27,3%

100,0%

A TARDE

CORREIO BRASILIENSE

CORREIO DO ESTADO

DIÁRIO DO PARÁ

GAZETA DO POVO

JORNAL DA MANHÃ

O ESTADO DE MINAS

O POVO

ZERO HORA

Total

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)

Alguns jornais apresentaram padrões semelhantes de cobertura jornalística, no decorrer do mês com poucas variações do percentual de publicações, o jornal Gazeta do Povo (PR) e Correio Brasiliense (DF) não variou muito no período, concluindo que a linha editorial segue uma estrutura com mínimos e máximos posts por mês. Em contrapartida, o jornal A Tarde (BA) mantém nos primeiros três meses uma média de 247 posts, e no mês 52


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

de outubro as notícias na rede digital dobram, já O Correio do Estado (MS) e Diário do Pará (PA) reduziram a quantidade de posts publicados na rede mês a mês. Para mostrar de maneira mais clara, o comportamento dos jornais no período, o Gráfico 1 abaixo traz informações quanto ao número de postagens nos meses de cada jornal. Utiliza-se o gráfico nesse caso para fique mais visível o comportamento de cada jornal. Gráfico 1 – Número de Postagens nos meses

FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)

Primeiramente deve-se ressaltar que a linha pontilhada que divide o gráfico verticalmente é a média, que será nosso ponto de referência para analisar cada caso. Os jornais se concentram próximo à linha. Os jornais Correio do Estado e Jornal da Manhã ficaram bem abaixo da média de publicações, no caso do Jornal da Manha os compartilhamentos de noticias na rede digital não ultrapassaram 200 posts nos meses. As linhas que liga os meses dos jornais Diário do Pará e O Povo são as mais espaçadas, significando uma variação constante nos meses. O Estado de Minas, Correio Brasiliense e A Tarde com algumas similaridades não compartilharam mais que 700 posts na rede digital. O jornal Zero Hora junto com a Gazeta do Povo são os únicos que ficaram acima da média de posts em todo o período, enquanto o Zero Hora apresenta julho, agosto e setembro com número de posts mais próximos, outubro se distancia com o maior número 53


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

de posts com mais de 1.400 publicações no mês. Já a Gazeta do Povo apresentou um número de publicações concentradas entre 600 e 800 posts publicados, mostrando um determinado padrão na sua cobertura jornalística. Com relação aos comentários dos internautas sobre as postagens dos jornais relacionados podemos verificar que não há uma correspondência proporcional do número de posts com o número de comentários. Como os comentários coletados foram apenas dos que citavam pelo menos um dos principais candidatos à presidência em 2014, consideramos natural que a cobertura de um jornal não seja proporcional ao número dos comentários, visto que cada jornal segue um padrão de cobertura próprio. Os jornais que apresentaram o maior número de posts no Facebook no período, conforme a Tabela 1, foram pela ordem: I) Zero Hora (4189, 21,1%); II) Gazeta do Povo (2891, 14,6%); III) Diário do Pará (2778, 14,0%); IV) O Povo (2691, 13,6%); e V) Correio Brasiliense (2207, 11,1%). Todavia, os comentários dos internautas apresentaram um volume distinto do número de posts na timeline do Facebook, conforme a Tabela 3, pois o número de comentários do jornal O Povo somou mais da metade de todos os outros no período eleitoral, com 7136 registros (54%). Ou seja, a timeline do jornal O Povo foi a que apresentou maior atividade de comentários por parte dos internautas com relação aos jornais regionais relacionados nesta pesquisa. Tab.3 – Número de comentários por jornal Frequência ATARDE

Porcentagem

Porcentagem

válida

acumulativa

343

2,6

2,6

2,6

2201

16,7

16,7

19,3

CORREIODOESTADO

540

4,1

4,1

23,4

DIARIODOPARA

302

2,3

2,3

25,7

GAZETADOPOVO

997

7,6

7,6

33,3

JORNALDAMANHA

3

,0

,0

33,3

OESTADODEMINAS

13

,1

,1

33,4

OPOVO

7136

54,1

54,1

87,5

ZEROHORA

1644

12,5

12,5

100,0

CORREIOBRASILIENSE

Válido

Porcentual

Total 13179 100,0 100,0 FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)

Com relação aos destinatários dos comentários foram 6081 (46,1%) destinados aos candidatos e 5383 (40,8%) sem destinatário específico, conforme a Tabela 4. Estes dados indicam que os usuários demonstraram interesse específico para o destinatário de 54


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

seus comentários na timeline dos jornais regionais, com pouco interesse em destinar os comentários à campanha (0,4%), ao portal (ao jornal) (1,0%), ao autor do post (1,8%), ao governo (1,8%). Tab. 4 - Destinatário do comentário Destinatário Frequência ao autor

Porcentual

237

1,8%

ao candidato

6081

46,1%

à campanha

48

0,4%

ao governo

235

1,8%

aos internautas

412

3,1%

ao portal

133

1,0%

ao tema

650

4,9%

5383

40,8%

sem destinatário

Total 13179 100,0% FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)

Ao observarmos, na Tabela 5, os formatos dos comentários dos internautas na timeline dos jornais regionais em que verificamos ao menos uma citação de um dos principais candidatos à presidência em 2014, o predomínio foi de crítica ao candidato com 5975 (45,3%) dos comentários e logo em seguida elogio ao candidato, com 4876 (37%). Esses dados demonstram que os internautas priorizam o debate sobre os candidatos, deixando em segundo plano elogios ou críticas ao governo, ao autor, aos internautas, ou ao portal no período eleitoral.

Tab.5 - Formato do comentário Frequência elogio ao autor

Porcentagem

Porcentagem

válida

acumulativa

31

,2

,2

,2

4876

37,0

37,0

37,2

22

,2

,2

37,4

elogio aos internautas

9

,1

,1

37,5

elogio ao portal

5

,0

,0

37,5

crítica ao autor

543

4,1

4,1

41,6

5975

45,3

45,3

87,0

crítica ao governo

245

1,9

1,9

88,8

crítica aos internautas

313

2,4

2,4

91,2

crítica ao portal

149

1,1

1,1

92,3

1011

7,7

7,7

100,0

elogio ao candidato elogio ao governo

Válido

Porcentual

crítica ao candidato

Formato indefinido

Total 13179 100,0 100,0 FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR) 55


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Ao final deste trabalho relacionamos alguns achados com relação aos posts e comentários coletados da timeline do Facebook dos jornais regionais do Brasil no período eleitoral de 2014. Primeiro que o número de posts varia em volume de um jornal para o outro, mas há um número aproximado de postagens entre os jornais, com exceção apenas do Jornal da Manhã com poucos posts e comentários. Segundo, os jornais tiveram postagens que variaram mês a mês no período eleitoral, mas não necessariamente tiveram mais postagens em outubro. Terceiro, o número de comentários foi de grande diferença observado de um jornal para o outro, o que sugere uma pesquisa minuciosa para verificar este comportamento. E em quarto verificamos que os destinatários dos comentários predominaram entre os candidatos ou sem candidato específico, tendo como formatos em sua maior parte ou de elogio ou crítica ao candidato. O que demonstra que os internautas optam por comentar preferencialmente sobre os candidatos em posts dos jornais regionais, que citam ao menos um dos candidatos.

4. Considerações Finais As publicações no Facebook podem proporcionar uma nova forma de análise sobre cobertura eleitoral dos jornais nos estudos de Comunicação e de Ciência Política. Este trabalho utilizou um recorte de uma coleta de pesquisa para este teste. A problematização desta pesquisa consistiu na formulação das seguintes perguntas: Qual o destinatário predominante nos comentários postados pelos internautas no período eleitoral em 2014 nos posts dos jornais regionais? Qual a forma de comentário que os internautas priorizaram em seus comentários? Os resultados demonstram que podemos corroborar a hipótese desta pesquisa de que os internautas postaram seus comentários em maior parte destinado aos candidatos à presidência priorizando a explícita menção negativa/crítica aos mesmos. Todavia é importante mencionar que o número de comentários que priorizou a explícita menção positiva/elogio aos candidatos foi de grande volume também. Isso demonstra que os internautas não tem a preocupação e o interesse exclusivo em apenas criticar os candidatos na rede social digital Facebook, pois grande parte compartilha comentários positivos, o que proporciona um equilíbrio entre negativo e positivo no debate online.

56


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Referências AROSO, Inês Mendes Moreira . As redes sociais como ferramentas de jornalismo participativo nos meios de comunicação regionais: um estudo de caso. Universidade da Beira Interior, 2013. Disponível em: <http://bocc.ubi.pt/pag/aroso-ines-2013-redes-sociaisferramenta-jornalismo.pdf > BAUER, M. Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In: BAUER, M. & GASKEL, George. Pesquisa Qualitativa Com Texto, Imagem e Som. Editora Vozes: Petrópolis – RJ, 2003. CASTRO, Maria Ceres. Dilemas para a constituição do espaço público brasileiro: controvérsias midiáticas In: Mídia, Esfera Pública e Identidades Coletivas. UFMG, 2006. CERVI, Emerson Urizzi. Opinião Pública e Política no Brasil: O que o brasileiro pensa sobre política e porque isso interessa à democracia. Tese de Doutorado em Ciência Política do IUPERJ. Rio de Janeiro, 2006 LIMA, V. Os mídia e o cenário de representação da política, Lua nova, São Paulo, 16 dez. 1996. MAIGRET, Éric. Sociologia da comunicação e das mídias. São Paulo: Editora Senac, 2010. MORENO, Alejandro; MENDIZÁBAL, Karla Yuritzi. O uso da redes sociais e o comportamento político no México. In: TELLES, Helcimara; MORENO, Alejandro (Org.). Comportamento eleitoral e comunicação política na América Latina: o eleitor latino-americano. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. RODRIGUES Catarina. Novas fronteiras do jornalismo: comunicação individual na era global. Universidade da Beira Interior, Portugal, 2008 SANCHEZ, Ana; GRANADO, António; ANTUNES, Joana Lobo. Redes Sociais para Cientistas. Lisboa: Nova Escola Doutoral – Reitoria da Universidade NOVA de Lisboa, 2014.

57


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

CAMPANHAS ONLINE E REDES SOCIAIS: O uso do Facebook pelos Senadores eleitos em 201426 Isabele Batista Mitozo27 Miriane Pires Rodrigues28

RESUMO O surgimento das plataformas online trouxe inovações ao estilo de comunicação desenvolvido entre representantes e representados. Refletindo acerca dessa nova ferramenta política, este trabalho visa a analisar como se deu a utilização dos sites de redes sociais, mais especificamente o Facebook, pelos candidatos eleitos ao Senado Federal, em 2014, a fim de perceber como se deu a inserção das campanhas nas mídias digitais, no contexto da Web 2.0, desde o provimento de informações ao conteúdo em que, de fato, se investiu. Como resultado, percebe-se que as campanhas estão muito mais interessadas em publicar agenda e compreender a participação dos eleitores na campanha como chamada a fazer “selfies” com os candidatos ou mudar o avatar de seu perfil que, de fato, investir em transparência, tendo em vista que todos esses concorrentes já ocuparam cargos eletivos.

Palavras-Chave: Campanhas online, Facebook, Senadores.

Introdução O advento das redes sociais como ferramentas de comunicação trouxe grandes avanços à comunicação política. Assim, era esperado que o marketing político passasse a utilizar esses novos canais para alcançar os eleitores, como se pode ver de maneira mais clara desde a campanha de Barack Obama à Presidência norte-americana, em 2008, que, por tão inserida no meio digital, foi mesmo caracterizada como campanha “pós-web” por Gomes et al. (2013). Tendo em vista a apropriação de estratégias desse modelo pelas campanhas brasileiras, pretende-se desenvolver um trabalho cujo objetivo é analisar os perfis que os candidatos eleitos ao Senado Federal, em 2014, tiveram na rede Facebook a fim de perceber como se caracterizou a inserção das campanhas nas mídias digitais em nível de Web 2.0. A escolha se deu pela concentração de maior conteúdo nessa rede social que nos sites de campanha e as observações realizadas consistiram em saber 1) como as campanhas gerenciaram três dimensões apontadas pela literatura como aquelas que

26

Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Instituições, Comportamento Politico e Novas Tecnologias – GEIST, da Universidade Federal do Paraná. 27 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, PPGCP-UFPR. ibmitozo@gmail.com 28 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, PPGCP-UFPR. miriane.p.rodrigues@gmail.com 58


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

foram alteradas com a campanha em ambiente online: provimento de informações, oferta de mecanismos de participação, e promoção da transparência (MARQUES et al., 2013). O corpus empírico a ser analisado, portanto, é constituído pelos posts difundidos através da página oficial no Facebook dos 27 candidatos eleitos ao Senado, coletados a partir do aplicativo Netvizz. Essa escolha deveu-se ao fato de as pesquisas se concentrarem mais nas eleições para os cargos do Poder Executivo, deixando de lado as mudanças que podem ser percebidas, atualmente, em uma campanha online a um cargo legislativo como o Senado, cuja escolha é também majoritária, e a especialização, constatada por observação prévia, de muitas das campanhas daqueles que se elegeram para essa Casa. Assim, o trabalho se estruturará em três seções: 1) Discussão teórica acerca das campanhas online, especialmente daquelas já realizadas no contexto da Web 2.0; 2) análise da utilização do Facebook nas eleições brasileiras de 2014, pelos candidatos eleitos ao Senado Federal; e, por fim, 3) considerações finais acerca do fenômeno estudado.

1. Campanhas eleitorais em ambiente online: da Web 1.0 à interatividade na era da ‘Política 2.0’

A utilização de plataformas de comunicação online pelo campo da política tem se tornado cada vez mais comum. Especificamente, as campanhas são os períodos em que, atualmente, se pode observar de forma mais ampla a apropriação dessas “novas” ferramentas. Isso se deve ao fato de que plataformas online oferecem “uma gama de estilos de comunicação, que podem desenvolver laços mais fortes entre legisladores e seu eleitorado”, por exemplo (LILLEKER; KOC-MICHALSKA, 2013, p. 191 – tradução própria)29. A entrada das campanhas em ambiente online se iniciou em meados dos anos 1990, pelo investimento em websites, através dos quais as campanhas divulgavam materiais e agenda dos candidatos, com leves traços de chamada à participação, caracterizada pela disponibilização, entre os candidatos mais ousados (MARQUES; SAMPAIO, 2013), de endereços eletrônicos, os e-mails, através dos quais os cidadãos poderiam estabelecer contato com a equipe de campanha. A utilização real dos e-mails, no entanto, servia mais à atividade de “mala-direta”, i.e., a veiculação de e-mails para 29

[...] a range of conversational-style communication, that can develop stronger ties between the legislator and his or her constituents. 59


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

grupos de cidadãos. Nesse caso, além da precariedade de letramento digital e de investimento nessa modalidade de campanha, pela obscuridade de seu potencial efeito sobre a votação, aqueles candidatos ou representantes que ofereciam esse tipo de canal não pretendiam usar o e-mail como ferramenta de interatividade, gerando, em vez de empatia, nova insatisfação ao eleitorado. A corrida presidencial norte-americana disputada por Bill Clinton e George Bush, em 1992, pode ser considerada a pioneira na utilização de websites, embora, ainda, muito limitada a limites de velocidade de internet e resumida à atividade panfletária (AGGIO, 2013), constituindo-se, desse modo, como mera transposição das estratégias offline para o ambiente online, sem inovações. No contexto brasileiro, somente em 2002 e 2006 os websites passaram a ser utilizados para fins de campanha, e neles se podiam encontrar desde os jingles às propostas dos candidatos, como ferramenta complementar ao Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), para veicular, inclusive, o que não poderia aparecer na televisão, já que não havia muita fiscalização no ciberespaço àquela época (MARQUES; SAMPAIO, 2010). Assim, as campanhas não pareciam “se preocupar em explorar os mecanismos de interação e colaboração que o meio [digital] permite” (PENTEADO, 2012, p. 44). É certo que alguns fatores, tais quais exclusão digital, receio à falta de controle da repercussão do conteúdo e ausência de especialização no trato com as plataformas online, contribuíram para o atraso da implantação de estratégias desse tipo, no Brasil e em outros países, onde esse tipo de tecnologia ainda engatinhava em sua implantação. A campanha de Barack Obama, desde as primárias, à Presidência dos Estados Unidos foi, sem dúvidas, um grande marco para novas modalidades de campanha online: a inserção dos sites de redes sociais (SNS, conforme nomenclatura original: social network sites). A contratação de um dos fundadores da rede Facebook, Chris Hughes, traria grandes inovações ao modo de comunicação estabelecido entre candidato e eleitores. A ideia, então, era aproximar Obama do eleitorado norte-americano da maneira mais ampla possível. Os investimentos não foram escassos e o candidato, além de ter sua própria rede social (My.BO), conseguiu se inserir em outros grupos bem específicos, como o BlackPlanet (grupo de negros), AsianAve (para descendentes de asiáticos) e MiGente (destinado a latinos) (GOMES et al., 2009). A possibilidade de compartilhamento de conteúdo, portanto, passa a dar às campanhas a função de proporcionar a mobilização do eleitorado, o que se tornou tema 60


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

central das pesquisas relacionadas a essa área na última década (AGGIO, 2013). Houve quem não acreditasse, contudo, que os SNS poderiam vir a substituir os websites nas campanhas, por atenderem a diferentes propósitos (GULATI, 2007 apud AGGIO, 2013).

Eles servem a diferentes propósitos, como fornecer a possibilidade de cidadãos, distantes geograficamente, se identificarem e formarem comunidades de interesse que podem planejar ou inserirem-se em atividades presenciais tradicionais. Não obstante isto, os media sociais possibilitam que as campanhas circulem informações, conteúdos, notícias, respostas, pronunciamentos e debates através de simples publicações de links associados a sites de armazenamento gratuito de arquivos audiovisuais como o Youtube (AGGIO, 2013, p. 116).

Observando-se as campanhas atuais, contudo, pode-se constatar que há uma adoção decrescente dos websites, pois a utilização de redes sociais parece ter ampliado tanto o acesso quanto a circulação de conteúdo. O Facebook, o youtube e o twitter têm servido como objeto de pesquisa para a explicação de alguns fenômenos relacionados à comunicação política através da internet, atualmente (PENTEADO, 2012; VEERGER; HERMAN, 2011; MARQUES et al., 2014; BACCHINI et al., 2013). É certo que grande parte dos trabalhos se concentra em observar a relação entre representação e novos media e pensa a possibilidade de se estabelecer um tipo de representação direta (COLEMAN, 2005), i. e., um contato mais próximo e contínuo entre mandatários e mandantes, a fim de fortalecer a confiança da esfera civil na esfera política, legitimando as atividades e a própria constituição do centro de decisão. Pensando além da adoção das plataformas digitais como instrumento de marketing político e observando o conteúdo em que se investe em uma campanha online, pode-se constatar que ocorreram mudanças significativas acerca do conteúdo que se espera ver nas redes dos candidatos. Marques e Sampaio (2010) já afirmavam que o advento das campanhas na web trazem novos padrões de comunicação política tendo em vista os custos que essa abertura digital da campanha aos eleitores, em relação às exigências cada vez maiores que são demandadas dos candidatos, e o apelo quanto à real eficiência do uso da internet. Assim, os autores afirmam que os principais quesitos cobrados nessas campanhas são 1) provimento de informação política, uma vez que ela é o fator estimulante aos outros domínios a serem observados; 2) motivação à participação, já que esse é o grande fator novo que a internet pode trazer às campanhas: a interação com a audiência; e 3) a 61


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

transparência, a partir da qual os cidadãos podem “saber os limites de influência que suas contribuições têm” (MARQUES; SAMPAIO, 2010, p.216). É interessante perceber, como também foi apontado por esses autores, que tais exigências vêm daquelas direcionadas aos representantes, já eleitos. Pensando no caso cujo estudo é apresentado neste paper, faz sentido que tais demandas estejam presentes, uma vez que todos os candidatos ao Senado Federal já ocuparam cargos eletivos. Dessa forma, podem-se agregar às análises do conteúdo apresentado pelas campanhas online categorias como Homestyle Information e Impression Management, respectivamente, informações ligadas às ações realizadas pelo candidato enquanto representante (como incumbente ou exercendo outro cargo) e gerenciamento de imagem pessoal, quando o candidato expõe dados pessoais, como passar a impressão de ser um bom pai (LILLEKER; KOC-MICHALSKA, 2013). Partindo das reflexões acima expostas, a seção seguinte procura observar mais de perto o caso brasileiro e como as eleições no país se apropriaram das ferramentas digitais para desenvolverem melhor esse elo prévio entre cidadãos e representantes, assim como o conteúdo e as ações que proporcionam através desse meio, visto que a Web 2.0, ou seja, a era de interação humana mediada pelas tecnologias digitais (STROMER-GALLEY, 2000), estabelece novas diretrizes comunicacionais, tendo adentrado todas as esferas da política, mesmo que ainda haja um receio de contato, por parte das elites políticas, com a esfera civil.

2. O uso do Facebook nas eleições brasileiras: uma análise da campanha dos 27 eleitos ao Senado Federal

Como se pode perceber, há alguns anos a internet tem servido de espaço para o desenvolvimento de campanhas políticas. As últimas eleições brasileiras mostraram que, embora ainda haja ampla lacuna na utilização desse meio, a chamada Web 2.0 pode servir de importante plataforma tanto para a divulgação de conteúdo de campanha quanto para o debate público, sendo este o ponto que caracteriza a diferença fundamental entre os media digitais e os tradicionais. No Brasil, as potencialidades das plataformas online só começaram a ser exploradas após 2009, quando a lei eleitoral nacional passou a incluir em seus artigos e, assim, permitir essa modalidade de campanha (MARQUES et al., 2013). Essa nova utilização, mesmo que pós-campanha de Obama à Presidência dos EUA, em 2008, inicia62


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

se de forma precária e muito cautelosa, o que suscita várias questões, tais como: 1) que impacto eleitoral esses novos media poderiam causar; 2) se uma paridade de campanha poderia ser instaurada, já que a disparidade de tempo no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) poderia ser sanada pela propagação de conteúdo online; 3) quão mobilizado o eleitorado poderia ser; 4) que interações poderiam ser suscitadas a partir do desbravamento das redes sociais online; dentre outras (AGGIO, 2013). Observando os trabalhos produzidos acerca da utilização de plataformas digitais pelas campanhas eleitorais, percebe-se que eles têm se concentrado em estudar o desenvolvimento das e-campanhas para cargos do Poder Executivo, especialmente à Presidência da República, ou mesmo a estudar a utilização desse ambiente pelos representantes (STROMER-GALLEY, 2000; MARQUES et al., 2010; GOMES et al., 2009; IASULAITIS, 2013; CERVI; MASSUCHIN, 2013; BACCHINI et al., 2012; BECHER, 2013). O único trabalho encontrado com estudo de candidatos ao Senado, ainda assim, aliado às candidaturas aos governos estaduais, é aquele de Braga et al. (2013), que analisa as campanhas online nas eleições de 2010. Desse modo, tem-se apontado que, gradativamente, as campanhas vão oferecendo mais acesso aos cidadãos, em um movimento que parece ter caminhado da teoria de Norris (2001) de “pregar para os convertidos” àquela de Gibson et al. (2003), de “pregar através dos convertidos”. Essa passagem pode se confirmar ao se observar o modo como as campanhas ocorriam na época em que os websites eram a grande ferramenta digital e as novas possibilidades alcançadas pelo uso de sites de redes sociais (SNS), em que as ações dos usuários complementam e ampliam aquelas das próprias páginas oficiais de campanha. Nesse caso, a participação da audiência chega mesmo a ser “essencial no processo de produção de conteúdo interativo e compartilhado” (PENTEADO, 2012, p. 42). O caso do Facebook é ainda mais específico, pois essa rede proporciona três ações aos usuários: compartilhar, curtir e comentar. Isso tudo além da nova atividade que ao cidadão foi permitida: postar seu próprio conteúdo, inclusive, na página de seu candidato. Mesmo que algumas assessorias de postulantes aos cargos eletivos, por outro lado, bloqueiem a postagem de usuários na página oficial, como uma espécie de gerenciamento de conteúdos, a fim de não prejudicar o desenrolar planejado para a campanha, os internautas ainda desenvolvem estratégias para driblar esse controle, como a criação de perfis falsos, os chamados fakes, ou a utilização de imagens de posts oficiais para a criação de “memes”. 63


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Por essa razão, além do fato de o Facebook ser, atualmente, a rede social online mais utilizada pelos brasileiros, conforme dados da Pesquisa brasileira de mídia (BRASIL, 2014), esta pesquisa decidiu observar o desenvolvimento de campanhas através dessa SNS. Mais especificamente, propõe analisar como as páginas dos candidatos eleitos ao Senado Federal em 2014 (Gladson Cameli – AC, Collor – AL, Omar Aziz – AM, Davi Alcolumbre – AP, Otto Alencar – BA, Tasso Jereissati – CE, Reguffe – DF, Rose de Freitas – ES, Ronaldo Caiado – GO, Roberto Rocha – MA, Antônio Anastasia – MG, Simone Tebet – MS, Wellington Fagundes – MT, Paulo Rocha – PA, José Maranhão – PB, Fernando Bezerra – PE, Elmano Férrer – PI, Álvaro Dias – PR, Romário – RJ, Fátima Bezerra – RN, Acir Gurgacz – RO, Telmário Mota – RR, Lasier Martins – RS, Dário Berger – SC, Maria do Carmo – SE, Serra – SP e Kátia Abreu – TO) se comportaram em relação ao volume de conteúdo postado e em que tipo mais se investiu. Assim, as categorias de análise serão 1) provimento de informação política, 2) motivação à participação, 3) transparência (MARQUES; SAMPAIO, 2010), 4) Homestyle information e 5) Impression management (LILLEKER; KOC-MICHALSKA, 2013). Embora as assessorias de campanha já reconheçam a importância dessa ferramenta, ou, ao menos, a necessidade de competir por atenção com os outros, a peerpressure (MARQUES; SAMPAIO, 2010; VICENTE-MERINO, 2007), nem todos os candidatos investiram na modalidade “página” no Facebook: Omar Aziz possuía apenas um perfil pessoal: José Maranhão, apenas um perfil que o classifica como “negócios”: e Paulo Rocha não utilizou essa rede social online em sua campanha. Assim a distribuição de postagens das páginas dos 24 candidatos que investiram na plataforma em estudo, i.e., apenas posts provenientes da equipe de campanha, ocorreu de forma quase homogênea, havendo poucas disparidades entre candidatos, mesmo que expressivas, como se pode observar na Tabela 1, abaixo. Tabela 1: Total de posts (04/07 a 06/10/2014) Frequência

Percentual

287

3,3

1183

9,5

ANTONIO ANASTASIA

237

1,9

COLLOR

527

4,2

DÁRIO BERGER

395

3,2

DAVI ALCOLUMBRE

295

2,3

ELMANO FÉRRER

480

3,8

FÁTIMA BEZERRA

1426

11,4

ACIR GURGACZ ÁLVARO DIAS

64


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

FERNANDO BEZERRA COELHO

567

4,5

GLADSON CAMELI

466

3,7

KÁTIA ABREU

322

2,5

LASIER MARTINS

591

4,7

MARIA DO CARMO

164

1,3

OTTO ALENCAR

574

4,6

6

0,

ROBERTO ROCHA

308

2,5

ROMÁRIO FARIA

519

17

RONALDO CAIADO

466

3,8

ROSE DE FREITAS

439

3,4

SERRA

152

1,2

SIMONE TEBET

369

3,0

TASSO JEREISSATI

590

4,7

REGUFFE

TELMÁRIO MOTA WELLINGTON FAGUNDES TOTAL

17

0,1

423

3,4

10803

100.0

FONTE: As autoras

A partir dessa tabela, pode-se perceber que as campanhas que mais investiram em postagens foram, respectivamente, aquelas de Fátima Bezerra (1426) e Álvaro Dias (1183). Lasier Martins (591) vem logo em seguida, mas não se distancia como aqueles da média de posts dos outros candidatos. Por outro lado, de forma bastante díspar, Reguffe e Telmário Mota não tiveram expressividade em sua campanha pelo Facebook: além de postarem pouco, esse conteúdo não se concentrou em um período de campanha, como, p.ex., na reta final, o que poderia ter ajudado a atrair seguidores.

2.1. O conteúdo das postagens

A primeira categoria a ser analisada é a informação político-eleitoral que os candidatos dispuseram em suas respectivas páginas. Como se pode observar no quadro abaixo (QUADRO.1), os candidatos tiveram perfis diferentes de publicação de conteúdos.

Quadro 1 – Tipo de conteúdo compartilhado pelas páginas dos candidatos SENADOR

TOTAL INFO PART TRANP HOMESTYLE

ACIR

Count

219

16

22

54

IM 9

287

65


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

ÁLVARO DIAS

ANASTASIA

COLLOR

DÁRIO

DAVI ACOLUMBRE

ELMANO

FATIMA BEZERRA

FERNANDO BEZERRA

GLADSON CAMELI

KÁTIA ABREU

LASIER

MARIA DO CARMO

OTTO ALENCAR

REGUFFE

Std. Residual

4,2

,4

14,7

8,1

-8,4

Count

254

5

9

45

200

Std. Residual

-7,3

-5,1

2,1

-,1

-,8

Count

119

1

0

9

104

Std. Residual

2,9

-2,5

-1,0

-,4

8,0

Count

293

49

6

45

38

Std. Residual

1,8

5,3

1,7

2,7

-8,6

Count

249

63

16

50

14

Std. Residual

1,5

9,6

8,4

4,8

-9,7

Count

190

3

0

12

178

Std. Residual

1,6

-3,1

-1,4

-1,7

9,4

Count

382

42

2

35

10

Std. Residual

5,8

3,4

-,7

,5

-11,4

Count

392

12

1

85

335

-14,9

-7,1

-2,7

-,9

-4,7

Count

406

6

0

53

340

Std. Residual

4,5

-4,3

-1,9

2,6

12,8

Count

130

3

0

5

125

Std. Residual

-5,8

-3,7

-1,6

-4,0

1,0

Count

205

57

0

26

4

Std. Residual

1,5

10,0

-1,5

1,1

-9,5

Count

384

50

0

0

17

Std. Residual

2,4

3,6

-2,0

-6,2

-12,1

Count

153

0

2

29

124

Std. Residual

6,1

-2,9

,9

5,6

10,5

Count

476

5

0

30

444

Std. Residual

11,8

-4,0

-1,8

-,3

24,4

Count

5

2

0

1

3

Std. Residual

,8

3,1

-,2

1,0

,9

166

18

0

6

167

-,8

,6

-1,4

-3,2

7,6

Count

277

32

4

46

122

Std. Residual

-1,2

1,1

,3

2,1

-2,8

Count

288

36

0

14

28

Std. Residual

Count ROBERTO ROCHA

ROMÁRIO RONALDO CAIADO

Std. Residual

698

159

458

394

295

495

1426

567

376

322

591

164

486

6

308

519

466

66


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

ROSE DE FREITAS

SERRA

Std. Residual

1,2

2,5

-1,7

-3,0

-9,5

Count

273

1

0

37

224

Std. Residual

1,3

-4,5

-1,7

1,5

7,9

Count

96

33

0

7

9

Std. Residual

,9

9,1

-1,0

-,9

-5,5

144

9

0

20

122

-,2

-1,1

-1,3

,8

5,1

Count

115

29

1

5

0

Std. Residual

-4,9

3,3

-,7

-3,4

-9,8

6

0

0

0

5

Std. Residual

-1,3

-1,0

-,3

-1,1

-,2

Count

301

17

0

16

295

Std. Residual

3,7

-1,0

-1,7

-2,2

14,7

Count SIMONE TEBET

TASSO

Std. Residual

Count TELMÁRIO MOTA

WELLINGTON FAGUNDES

Total

439

152

255

314

18

423

9618

FONTE: As autoras.

As categorias em que todos apresentam um perfil similar são “provimento de informação” e “transparência”, com investimentos inversamente proporcionais, no total. Na categoria “provimento de informação”, houve alta concentração de posts, havendo resíduos padronizados negativos (fora do padrão de distribuição) apenas para Álvaro Dias, Fátima Bezerra, Gladson Cameli e Tasso Jereissati. Quem mais se destacou com resíduo alto positivo foi Otto Alencar (11,8). O candidato à reeleição Álvaro Dias, por exemplo, durante o período eleitoral postou muitas informações políticas acerca de seu posicionamento contrário ao Governo Federal, bem como deu ênfase à temática da corrupção no Executivo nacional e em empresas públicas. O político deu muita ênfase à sua opinião em relação às políticas governamentais, e um pouco menos a suas atitudes enquanto Senador da República. De maneira geral, as páginas postavam muitas informações sobre sua trajetória política, sua agenda de campanha, sobre suas crenças e bandeiras individuais e menos sobre suas propostas e seus projetos. Em relação à categoria “motivação à participação”, o desempenho das campanhas dos senadores em estudo podem ser destacados como bastante positivos apenas em três casos, que apresentaram resíduos padronizados destoantes dos outros da tabela: Kátia Abreu (10,0), Dário Berger (9,6) e José Serra (9,1). 67


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

O resultado é alarmante quando se observa a categoria “transparência”: com exceção apenas de Acir Gurgacz (com 22 posts) e Dário Berger (com 16 posts), essa categoria esteve ausente das campanhas. Os resíduos padronizados nesse quesito são significativos e positivos apenas para os dois candidatos já mencionados (14,7 e 8,4, respectivamente) e para Álvaro Dias (2,1), sendo que este beira a margem de distribuição normal. Em relação ao quesito “homestyle”, em que o candidato apresenta feitos de quando ocupava cargo público, destaque expressado pelo cálculo dos resíduos, apenas para as campanhas de Acir Gurgacz (8,1), Dário Berger (4,8) e Maria do Carmo (5,6). Nessa temática, apenas Lasier Martins não investiu. A última das categorias, muito ligada aos estudos sobre personalização da política, momento em que a candidatura se volta para a construção da imagem do candidato como cidadão comum, apresentou investimento de todas as campanhas, com exceção de Tasso Jereissati, cuja página não publicou nada a respeito da vida do senador. Por outro lado, houve apenas dois destaques: Otto Alencar (Rp. 24,4) e Wellington Fagundes (Rp. 14,7). A maior evolução do manejo da plataforma por parte das assessorias de campanha online foi a percepção de que postagens com imagens são propícias a circularem mais. De um modo geral, 71,5% das postagens usaram imagem. A Tabela 2 mostra como cada candidato usou desse recurso, em relação ao total de posts em sua página.

Tabela 2: Proporção de imagens compartilhadas em relação ao total de posts Frequência

Percentual

ACIR GURGACZ

223

78

ÁLVARO DIAS

674

57

ANTONIO ANASTASIA

159

67

COLLOR

446

84,6

DÁRIO BERGER

307

78

DAVI ALCOLUMBRE

207

70

ELMANO FÉRRER

336

70

FÁTIMA BEZERRA

1243

87

FERNANDO BEZERRA COELHO

472

83,2

GLADSON CAMELI

376

81

68


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

KÁTIA ABREU

250

77

LASIER MARTINS

451

76

MARIA DO CARMO

134

82

OTTO ALENCAR

486

84.6

2

33,3

227

73,7

1200

57

RONALDO CAIADO

333

71,4

ROSE DE FREITAS

330

75

97

63,8

SIMONE TEBET

255

69

TASSO JEREISSATI

292

49,5

5

29,4

367

86,7

8872

71,5

REGUFFE ROBERTO ROCHA ROMÁRIO FARIA

SERRA

TELMÁRIO MOTA WELLINGTON FAGUNDES TOTAL

FONTE: As autoras.

Como se pode observar, Wellington Fagundes, Collor e Fernando Bezerra praticamente basearam sua campanha na comunicação imagética, apresentando os maiores índices de uso dessa estratégia (mais de 80%). Reguffe e Telmário Mota, que já tinham apresentado poucas postagens, também não apresentaram uma campanha bem treinada em relação ao que foi compartilhado, pois apresentaram os menores índices de uso de imagens (33,3% e 29,4%, respectivamente). Conforme observado, a utilização do Facebook nas campanhas dos senadores foi intensa. As campanhas, mesmo que ainda em processo de aprendizagem em relação às estratégias que funcionam para entrar em contato com o eleitor, progrediram e investiram em estratégias, no Facebook, que possibilitavam a maior visibilidade possível do candidato. As propostas (i.e., o provimento de informação política), contudo, ficaram em segundo plano, tendo havido um maior investimento em postagens com imagem estampada, o que é uma estratégia garantida de maior probabilidade de angariar curtidas e comentários. Na campanha de Gladson Cameli, senador eleito pelo Acre, por exemplo, houve grande concentração de postagens que faziam referência a datas comemorativas e desejos de “bom dia” aos seguidores. Na mesma proporção, houve um incentivo da 69


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

campanha para que as pessoas enviassem fotos e mensagens de apoio ao candidato, o que, cuidadosamente, recebia respostas da equipe de Gladson. Outras campanhas, como a de Lasier Martins, investiram em fazer fotos dos eventos offline, disponibilizar o álbum na timeline e chamar os seguidores a se encontrarem e copiarem as fotos em que apareciam. Essa estratégia, considerada de participação, é, entretanto, bastante limitada à compreensão de participação como simples apoio presencial ao candidato. Em um contexto de Web 2.0, i.e., a era da interação, esse pensamento ainda soa muito retrógrado a uma campanha que se diga inserida nas redes sociais. Outra possibilidade pouco explorada pelas campanhas, apesar de ser uma atividade em alta no Facebook30, foi a criação de “eventos”, atividade à parte da timeline, para aos quais se podem fazer convites a seguidores e esses a seus amigos, como forma de divulgação da agenda do candidato. Na timeline da página eram divulgadas as carreatas, os encontros, as convenções de partido em que o candidato estaria e havia uma convocação dos apoiadores, mas faltou às equipes um pouco mais de letramento digital em relação ao manejo da plataforma. A própria oferta de uma página em rede social já se caracteriza como uma oferta de mecanismo de participação. O problema se encontra na restrição da visibilidade dessa participação, pois, quando se verifica que dos 24 candidatos analisados 14 (i.e. 58% deles) tinham sua página bloqueada para postagens dos internautas, percebe-se que o receio que Stromer-Galley (2000) apontava no início do século, em relação à interação, ainda é concreto. A maior deficiência das campanhas, por sua vez, é a falta de investimento tanto em informação estritamente política, incluindo atividades prévias e futuras dos candidatos, como representantes, e, principalmente, na transparência que poderia ser veiculada através desses perfis. Isso, além de driblar o filtro jornalístico e os enquadramentos dados por essa esfera acerca de possíveis atividades ocultas dos candidatos, fortaleceria a confiança dos eleitores nas candidaturas. Porém, ainda há uma grande resistência das campanhas nesse quesito. Assim, percebemos que os assessores de campanha acabam dando mais ênfase a postagens com informações imagéticas e menos atenção ao debate, que pode se caracterizar pelo conjunto de informação política, de campanha ou não, motivação à

30

Observe-se a onda de eventos fake criados nessa rede em meados do segundo semestre de 2014. 70


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

participação e, especialmente no caso de candidatos que já exerceram cargos eletivos, transparência.

3. Considerações finais

A partir da análise realizada aqui, pode-se constatar que as campanhas tomaram novas formas a partir do advento dos media digitais, em especial os sites de redes sociais. Essa mudança, contudo, ainda não parece ter alcançado um patamar adequado a fim de que se explorem possibilidades maiores, em relação ao desenvolvimento de novas estratégias, que elas proporcionam. O próprio fato de a equipe de muitos candidatos bloquearem a página da campanha às postagens dos seguidores já demonstra que, espelhando-se no que acontecia ainda na primeira década do século XXI, as elites políticas ainda estão fechadas ao diálogo e à possibilidade de deliberação acerca do que os cidadãos desejam e aquilo que é possível realizar, dentro das possibilidades do mandato e das atribuições de um senador, como no caso estudado. A transparência foi o recurso menos utilizado nas campanhas no Facebook e a participação foi pouco explorada pelos senadores. Houve poucas iniciativas dos candidatos em buscar a opinião dos eleitores e poucas chamadas a participação. Apenas alguns senadores, como Collor, Dário Berger, Lasier Martins, Roberto Rocha e Katia Abreu, exploraram um pouco mais a ferramenta de participação, quando pediam a opinião dos eleitores sobre possíveis temas para debater no rádio e/ou tv com os adversários, ou com o lançamento de campanhas, como foi o caso da senadora Katia Abreu que chamava a população para “abraçar o Tocantins” postando sobre o amor que tinham por aquele estado. Outros meios de motivação à participação foram convites para o compartilhamento e divulgação de matérias, sair em caminhadas e carreatas, postar fotos com o candidato, dentre outros. Mas não houve casos em que o político levantasse a opinião dos eleitores sobre temas polêmicos, por exemplo, o que poderia ajudá-lo a elaborar suas propostas e projetos. Desse modo, um fator importante a ser notado é se, em campanhas online, “candidatos e eleitores estão interagindo genuinamente entre si em processos de deliberação ou se a maioria das pessoas, na verdade, apenas têm acesso aos artefatos que contêm apenas aquilo que os candidatos desejam que os cidadãos vejam, leiam ou

71


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

acreditem” (STROMER-GALLEY, 2000, p. 119 – Tradução própria)31. Participação, nesse caso, parece estar sendo entendida, ainda, como chamada a caminhadas, postagem de fotos de apoio e, portanto, está longe de alcançar uma construção colaborativa de projetos. É difícil precisar o quanto a campanha online, neste caso, através do Facebook, reverteu-se em votos para esses candidatos (o que foge do escopo deste trabalho), sobretudo porque há fatores externos bastante influentes, como o financiamento de campanha. No entanto, “embora haja um vivo debate sobre o quanto as e-campanhas replicam características das campanhas off-line ou contribuem para uma mudança fundamental no discurso democrático” (VEERGER et al., 2011), é visível que a web se tornou uma ferramenta importante para a maior inserção dos cidadãos nos processos políticos, como se pôde observar melhor no último pleito brasileiro.

Referências AGGIO, Camilo. Internet, eleições e participação: Questões-chave acerca da participação e do ativismo nos estudos em Campanha Online. In: MAIA, R.; GOMES, W.; MARQUES, F.P.J.A. (Orgs.). Internet e Participação Política no Brasil. Porto Alegre: Sulina, 2011. BACCHINI, N.; AVANZI, C.; PENTEADO, C.; MARTINHO, S. Curtiu? O uso do Facebook nas eleições municipais de São Paulo em 2012. In: Anais do V Congresso da Compolítica, CuritibaPR, 2013. BECHER, A.R. Elites políticas e tecnologias digitais: uso da internet e das redes sociais pelos vereadores da Legislatura 2008-2012. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Paraná, 2013. BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Comunicação Social. Pesquisa brasileira de mídia 2015: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. – Brasília: Secom, 2014. Disponível em: <http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-equalitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf/view>. Acesso em: Janeiro de 2015. CERVI, E.U.; MASSUCHIN, M. Redes sociais em campanhas políticas: como candidatos a Governador do Paraná utilizaram o Twitter em 2010? In: MARQUES, F.P.J.; SAMPAIO, R.C.; AGGIO, C. (Orgs.). Do clique à urna: internet, redes sociais e eleições no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2013. COLEMAN, S. New mediation and direct representation: reconceptualizing representation in the digital age. IN: New media & society, vol.7, n.2, 2005, pp. 177-198. GIBSON, R.K.; MARGOLIS, M.; RESNICK, D.; WARD, S.J. Election campaigning on the WWW in the USA and UK: a comparative analysis. In: Party Politics, vol. 9, n. 1, 2003, pp. 47-75.

31

[...] candidates and people are genuinely interacting with each other in a process of deliberation, or if the most people can get is the artifacts of what candidates want citizens to see, read or believe. 72


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

GOMES, W.; FERNANDES, B.; REIS, L.; SILVA, T. Politics 2.0: a campanha online de Barack Obama em 2008. In: MARQUES, F.P.J.; SAMPAIO, R.C.; AGGIO, C. Do clique à urna: internet, redes sociais e eleições no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2013. IASULAITIS, S. As possibilidades da ciberdemocracia: as modalidades de participação política em websites eleitorais. In: MARQUES, F.P.J.; SAMPAIO, R.C.; AGGIO, C. (Orgs.). Do clique à urna: internet, redes sociais e eleições no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2013. LILLEKER, D.; KOC-MICHALSKA, K. Online political communication strategies. In: Journal of Information Technology & Politics, 10:2, 2013, pp. 190-207. MARQUES, F.P.J.; SAMPAIO, R.C.; AGGIO, C. (Orgs.). Do clique à urna: internet, redes sociais e eleições no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2013. MARQUES, F.P.J.; AQUINO, J.; MIOLA, E. Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso do Twitter na Câmara dos Deputados. In: Opinião Pública, Vol 20, n.2, Campinas, 2014, pp. 178-203. PENTEADO, C. L. Facebook e campanha eleitoral digital. In: Em Debate, vol. 4, n. 4, Belo Horizonte, 2012, pp. 41-53. STROMER-GALLEY, J. Online interaction and why candidates avoid it. In: Journal of Communication, outono de 2000, pp. 111-132. VERGEER, M.; HERMANS, L.; SAMS, S. Online social networks and micro-blogging in political campaigning: The exploration of a new campaign tool and a new campaign style. In: Party Politics, Vol. 19, n.3, 2011, pp. 477-501. VICENTE-MERINO, M.R. Websites of Parliamentarians across Europe. In: The Journal of Legislative Studies, 13:3, 2007, pp. 441-457.

73


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

PARTIDOS E REDES SOCIAIS: Análise da ação dos partidos brasileiros no Facebook32 Leonardo Caetano da Rocha33 RESUMO O trabalho aborda as relações entre partidos políticos e internet no Brasil, mais especificamente como tais instuições atuam junto ao Facebook, em períodos não eleitorais. A relevância da pesquisa, encontra-se na necessidade dos partidos agirem de forma efetiva dentro das novas mídias, pelo grande impacto que as mesmas possuem no âmbito social, especialmente nas relações políticas, voltando nosso olhar para como se instiga a prática democrática para além dos períodos eleitorais. A literatura concernente a área e os estudos de caso referentes a atuação partidária na rede, nos demonstram as principais preocupações dos teóricos sobre os impactos da web no campo político, bem como as tendências de ações das instituições partidárias, sendo assim, temos como hipóteses: I – os partidos tendem a atuar na internet no sentido da difusão da informação; II – não há padrões de ação diferentes quando contrastados partidos de tamanho e ideologia diferentes; III – existe um considerável grau de personalismo nas ferramentas. A metodologia tem base em Gibson & Ward (2000), submetendo as ferramentas partidárias a análise a partir de um conjunto de variáveis que conformam quatro dimensões de análise. Os resultados apontam para uma subutilização dos potenciais interativo e mobilizador da internet, um uso mais efetivo pelos partidos de esquerda e a um grau não acentuado de o personalismo.

Palavras-chave: Partidos políticos, Internet, Redes Sociais, Facebook.

1. Introdução O presente artigo provém de um dos capítulos da dissertação de mestrado do autor, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná no ano de 2014. Nosso objeto de análise é a relação entre política e internet. Mais especificamente buscamos compreender a atuação dos partidos políticos junto as novas TICs no contexto brasileiro, em especial as redes sociais, focalizando os períodos não eleitorais. Dentre nossos objetivos, buscamos demonstrar qual o sentido da ação das instituições partidárias nas redes sociais, ou seja, se as mesmas têm aproveitado os potenciais interativos e mobilizadores das mesmas ou apenas têm atuado no sentido da difusão da informação, reproduzindo a lógica das mídias tradicionais. Além disso, temos como pretensão observar se existem padrões de uso entre os partidos brasileiros, levando em conta diferenças relativas ao tamanho e ao posicionamento no espectro político. Por fim, iremos mensurar o grau de personalismo nas ferramentas em referência,

32

Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo grupo de pesquisa Instituições, comportamento político e novas tecnologias, da Universidade Federal do Paraná. 33 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná – rocha_lc@yahoo.com.br. 74


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

explicitando se os conteúdos veiculados nas mesmas possuem foco nas instituições em si ou em seus líderes. A relevância deste estudo encontra-se, em primeiro lugar, no contexto de falta de legitimidade por que passam os partidos políticos de uma perspectiva global (Dalton & Wattenberg, 2000), fato que se acentua quando tratamos da realidade brasileira, como demonstrado no forte caráter antipatidário exposto nas manifestações de Junho de 2013 no Brasil. Isto posto, os indivíduos, sobretudo os mais jovens, têm encontrado na web um meio para atuação política desvinculada das instituições tradicionais, em especial através das redes sociais, tendo em vista o potencial que as mesmas possuem em propiciar um ambiente de debate e mobilização política. Tais fatos ficam explícitos quando olhamos exemplos de importantes movimentos políticos contemporâneos que tiveram sua origem nas redes, tais como a Primavera Árabe e o Occupy Wall Street. Com efeito, após a presente introdução, faremos um breve balanço da literatura e explicitaremos as hipóteses e a metodologia empregada. Numa terceira seção apresentaremos os dados e a análise para então concluirmos. 2. Revisão teórica, hipóteses e metodologia A internet, assim como os demais meios de comunicação quando se desenvolveram, provocou modificações significativas no processo comunicativo, e, por consequência, nas relações sociais como um todo. O campo político não está alheio a este processo, uma vez que, como mencionado, a web tornou-se espaço fértil para ações de caráter político. Neste contexto, os indivíduos que se propuseram a analisar os possíveis impactos da introdução das novas mídias nas relações políticas, produziram perspectivas diferentes quanto ao processo descrito (NORRIS, 2000). A vertente dos ciberotimistas, acreditava que a internet poderia revolucionar o campo político, produzindo uma radicalização da prática democrática ao aproximar os cidadãos dos espaços de poder e de seus representantes, criando mecanismos de deliberação e acirrando as disputas entre as instituições partidárias (LILLEKER et al, 2010, DUDGE, 1996, NEGROPONTE, 1995 apud BRAGA et al, 2009). Por outro lado, os ciberpessimistas entendiam que as novas mídias apenas se adequariam a lógica política vigente, reproduzindo em seu meio as relações já existentes nesta esfera, como por

75


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

exemplo, com a mais eficiente utilização por parte das instituições políticas com maiores condições estruturais (SCHWEITZER, 2005, SMALL, 2008, VACCARI, 2008). Entre os dois polos, encontram-se os cibermoderados, entendendo que a web pode causar modificações significativas nas relações políticas, contudo, sem produzir modificações estruturais. Nas relações interpartidárias, as instituições ditas menores poderiam lançar mãos de recursos com o intuito de equilibrar as disputas, mas haveria uma tendência a um uso mais efetivo pelas grandes instituições (EINSENBERG, 2003, ROCHA & NICOLÁS, 2013). Os estudos de caso centrados na ação dos partidos no meio digital, observam a existência de certos avanços mas que pouco modificam as relações políticas estabelecidas. Em suma, os partidos tendem a utilizar a internet como forma de divulgação de informações em detrimento a um viés mais interativo e mobilizador, havendo forte moderação das ferramentas utilizadas e conteúdos veiculados, as disputas entre os partidos sofrem pouca influência, posto que mesmo que os partidos menores tenham espaço não dispensado à eles nas mídias tradicionais, os partidos maiores utilizam os recursos da web de forma mais eficiente em geral (BLANCHARD, 2006, GIBSON & WARD, 2000, SILVA, 2012, VACCARI, 2008). No Brasil a realidade não é diferente, pois ainda que observamos um crescimento na utilização das novas mídias, elas se mostram pouca interativas e intensamente controladas pelas direções. Contudo, não se observa grandes diferenças na ação digital quando comparamos partidos grandes e pequenos, ou de tendências ideológicas distintas (MARQUES, 2005, BRAGA et al, 2009). Isto posto, as hipóteses que servem como base para este trabalho são: a) Os partidos políticos brasileiros utilizam as redes sociais como meio de difusão de informações, em detrimento a perspectivas interativas e mobilizadoras; b) Não existem significativas diferenças no uso entre partidos de tamanho e posição no espectro ideológico diferentes; c) Existe um grau relevante de personalismo nas páginas partidárias nas redes sociais. Para verificarmos a validade das hipóteses, utilizaremos como base o modelo criado por Gibson & Ward (2000) e desenvolvido posteriormente por outros autores (SILVA, 2012, VACCARI, 2008). Dessa forma, nossa metodologia é composta por quatro dimensões de análise, Difusão da informação, Interação, Mobilização e

Sofisticação,

cada uma destas contempla uma série de variáveis a partir das quais se atribui um valor em acordo com a existência e a qualidade do emprego dos recursos na ferramenta 76


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

analisada. Podemos então, extrair índices de uso, tanto geral, quanto para cada dimensão de análise, bem como para um item específico, como no caso do personalismo. Nosso universo de análise contém as fan pages oficiais das direções nacionais dos 32 partidos políticos brasileiros com registro no Tribunal Superior Eleitoral. Destes 32 não foram encontradas as páginas de PTB e PCdoB, ressaltando que outros três partidos, PTC, PRP e PPL, estavam com suas páginas fora do ar34. Tal fato indica que, apesar de ser uma ferramenta intensamente disseminada dentre os cidadãos brasileiros, cinco partidos, ou seja, mais de 15% da totalidade de instituições partidárias no Brasil, sequer possuem tal ferramenta. Dessa forma, retiramos estas cinco agremiações para o cálculo dos índices uma vez que as mesmas receberam a qualificação “0” em todas as variáveis35, fato que abaixaria todos os índices e poderia enviesar o entendimento sobre o uso das redes sociais pelos partidos.

3. Partidos e Facebook no contexto não eleitoral Após a análise das páginas obtivemos os seguintes índices gerais e para cada dimensão de análise:

Tab. 1 Índices de uso do Facebook pelos partidos políticos brasileiros36 Ferramenta Difusão da informação Interação Mobilização Sofisticação Índice geral Facebook

3,3

1,9

0,8

5,2

2,8

Fonte: Autor

Observamos índices baixos presentes nas dimensões e, por consequência, um índice geral igualmente baixo, alcançando apenas a marca de 2,8. Isto posto, podemos inferir que, de uma perspectiva geral, a utilização da ferramenta em referência pelos partidos brasileiros ainda é consideravelmente precária. Voltando nosso olhar para as dimensões de análise, ficam claros os baixos índices e a sobreposição da dimensão Difusão da informação em relação a Interação e Mobilização, estando praticamente dois pontos acima da primeira e três da segunda. 34

Ressalta-se que a presente análise ocorreu no primeiro semestre de 2014. Apenas na variável Grupos todos os partidos receberão a qualificação “10” uma vez que os grupos independem da existência de uma fan page. 36 Os valores pouco mudariam caso fossem inclusos os índices dos partidos sem página ou que estão com as mesmas fora do ar, a maior variação seria em Sofisticação que cairia 0,6. Os valores com os 32 partidos seriam: Difusão da informação 2,9; Interação 1,7; Mobilização 0,7; Sofisticação 4,4; Índice geral 2,4. 77 35


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Leva-se em conta que o índice de Difusão da informação é de apenas 3,3, entretanto Interação alcança o patamar extremamente baixo de 1,9, e Mobilização alcança uma marca praticamente nula, inferior a 1,0. Portanto, aqui também verificamos que apesar de índices baixos no sentido da difusão da informação, esta forma de ação sobrepõe-se sobre os vieses interativos e mobilizadores, ou seja, os partidos mesmo que de forma deficiente utilizam o Facebook como meio para difundir informação subutilizando demais potenciais da ferramenta. Confirma-se, assim a primeira hipótese. Com relação à dimensão Sofisticação, esta atinge um índice muito próximo da média. Como as páginas são as mesmas para todos os partidos, fica claro que os recursos possíveis de serem utilizados para incrementar, sobretudo seus posts, ainda não são empregados de maneira ostensiva pelas organizações partidárias no Brasil.

Gráf. 1: Índices de uso do Facebook pelos partidos políticos brasileiros

Fonte: Autor

Isolando as variáveis de maior e menor destaque dentre as dimensões, temos respectivamente: Difusão da informação - Cores e símbolos 8,1 e Agenda 0; Interação Grupo

10

e

Videoconferência

0;

Mobilização

-

Manifestações

1,6

e

Contribuição/Produtos/Divulgação de materiais 0; Sofisticação - Tamanho dos textos 8,5 e Quantidade de áudios 0,1. 78


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Isto posto, passamos a buscar as relações entre os índices encontrados e diferenças entre as insituições partidárias, tendo como base tamanho e ideologia 37, Tab. 2: Correlações entre tamanho e os índices de uso das fan pages partidárias Correlations

TAMANHO Pearson Correlation

Índice Índice Índice Índice Índice TAMANHO Difusão Interação Mobilização Sofisticação Geral 1 -,340 -,177 ,161 ,274 -,083

Sig. (2tailed) N

27

,082

,378

,423

,167

,680

27

27

27

27

27

Fonte: Autor Conforme o teste, nenhum índice possui um nível de significância mínimo em relação a tamanho. O índice de difusão é o que mais se aproxima de uma relação significante, apresentando um índice médio de correlação negativo, ou seja, em favor dos partidos maiores.

Tab. 3: Correlações entre ideologia e os índices de uso das fan pages partidárias Correlations ESPECTRO Índice Índice Índice Índice Índice IDEOLÓGICO Difusão Interação Mobilização Sofisticação Geral ESPECTRO Pearson 1 IDEOLÓGICO Correlation Sig. (2tailed) N

27

,191

,035

,672**

,282

,534**

,339

,861

,000

,154

,004

27

27

27

27

27

Fonte: Autor

Neste ponto encontramos uma correlação bastante relevante. A relação entre o índice geral de uso do Facebook com a posição ideológica dos partidos aponta um grau interessante de significância. Ao mesmo tempo aponta um índice de correlação positivo de 0,534, isso implica em uma correlação média mas quase chegando a uma correlação alta. Quanto mais a esquerda melhor a utilização da rede social pelo partido, ou seja, os 37

O posicionamento destes partidos se deu pela representatividade na Câmara Federal quanto ao tamanho, e de acordo com Becher & Braga (2013), quanto a ideologia. Para um maior detalhamento ver Rocha (2014). 79


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

partidos de esquerda tendem a utilizar melhor o Facebook quando comparados aos de centro e direita, e os de centro tendem a utilizar de forma mais eficaz em relação aos de direita. No quadro também fica explicita uma correlação ainda mais significativa e forte quando isolado apenas o índice de mobilização. O índice de correlação atinge um nível considerado alto, superior a 0,60, e também positivo. Dessa forma, podemos afirmar que há uma alta tendência dos partidos de esquerda utilizarem mais o Facebook como forma de mobilização em relação aos partidos de centro e direita, ao passo que os de centro também tendem a utilizar a ferramenta no sentido da mobilização mais do que os de direita. As duas correlações de destaque estão representadas nos gráficos subsequentes.

Gráf. 2: Correlação entre o índice geral de uso e ideologia nas fan pages dos partidos políticos brasileiros

Fonte: Autor

80


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Gráf. 3: Correlação entre o índice de mobilização e ideologia nas fan pages dos partidos brasileiros

Fonte: Autor Com efeito, podemos confirmar apenas parcialmente a segunda hipótese, uma vez que, quando focalizamos tamanho, não observamos padrões distintos de uso para partidos maiores e menores, entretanto, no quesito ideologia fica explícito um padrão mais eficiente de uso por parte dos partidos de esquerda. Por fim, no que concerne ao grau de personalização 38 nas fan pages partidárias, obtivemos os seguintes índices. Tab. 4: Índices de personalização nas fan pages dos partidos brasileiros Índice geral da variável “Referências aos líderes” 6,2

Índice geral da variável “Links para páginas de líderes” 1,8

Índice geral de personalização 4,0

Fonte: Autor

38

Para mensurar o grau de personalização foi elaborado um índice específico, a partir de duas variáveis específicas presentes na dimensão de análise Difusão da informação. Para um maior detalhamento ver Rocha (2014). 81


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Os dados evidenciam um grau de personalização pouco inferior a média, alcançando 4,0. Neste ponto fica claro certo contraste, posto que a variável Referências aos líderes alcança um valor mais de 4,0 superior a variável Links para páginas de líderes, a qual promove uma queda no índice geral. Portanto, mais uma vez não podemos confirmar incisivamente a terceira hipótese, posto que com um índice inferior a média não podemos dizer que as páginas dos partidos no Facebook têm um caráter quase exclusivamente personalista. Entretanto, não podemos deixar de pontuar a intensidade de referências aos líderes nas páginas, sendo que 12 dos 27 partidos tiveram mais de 20 referências em seus últimos 30 posts. Neste prisma, o viés personalista existe e possui força, mas não se configura como a principal função dos partidos brasileiros junto às redes sociais. Para concluirmos, fazemos uma breve análise particular dos índices alcançados pelos partidos. Nesse sentido, destacaremos as instituições que obtiveram os melhores e piores resultados. Gráf. 4: Índices das dimensões de análise das fan pages de cada partido brasileiro Índice de difusão da informação

6

6

5

5

5,8

3,7

4,4

4,4 1,1

2,7 1,1

6

6

6

6

6

6

5

6

5,6

4

4,3

5

5,8

6

5

4

0,6 1,8 0 0,6 0,6 0,6 2,2 1,1 0 1,1 1,2 1,1 1,2 1,2 1,6 1,6 2,2 1,2 1,2 1,6 1,6

4,6 4,6

5

3,4

2,8 2,8 1,2

0 0

1,6

2,2

2,8 2,5 2,8 2,5 3,1

2,2 1,8

1,1 2,2 1,1 2,2

4

0,6

0,6

5,3

4,3

4

3 5

0

4,4

3,4

Índice Sofisticação

5

0 2,5

3,1

Índice Interação

5 6

0,6

Índice Mobilização

4

1,1 1,8

3,7

4 5 0 1,6

5 0 1,6

3,1 1,8

3

0 0 1,1 1,6 1,2 1,2

Fonte: Autor

Entre os três partidos de maior destaque no Facebook aparecem dois ideologicamente considerados de esquerda e um de centro. Com índices muito próximos, PSTU e PSOL lideram no índice geral. O primeiro que é um pequeno partido de esquerda 82


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

com presença em alguns meios no campo sindical e estudantil, parece aproveitar a internet como espaço para difundir suas ideias e mobilizar a militância já que não desfruta de espaços nas mídias tradicionais. Para o segundo pode-se dizer o mesmo, sobretudo com relação a mobilização, contudo, é um partido que vem crescendo nos últimos anos, tendo representação no congresso nacional, dirigindo cidades, inclusive uma capital 39, e obtendo votações relevantes nos pleitos presidenciais. Por fim aparece o PT, partido que detém o governo federal há mais de uma década e que deu origem aos dois partidos anteriormente citados. Com origem na esquerda e aproximação ao centro nos últimos tempos, apesar de aparecer entre os três melhores, possui um índice muito abaixo se considerado seu tamanho e relevância no âmbito político nacional. O partido se destaca pelo seu índice de Interação juntamente com PSDB e PEN, já na primeira dimensão de análise destaca-se o PSD ao passo que em Sofisticação, além de PSTU e PSOL, temos diversos partidos de médio porte40 dividindo a melhor qualificação. O conjunto dos partidos de menor destaque abarca três instituições consideradas de direita, duas de médio e uma de pequeno porte. Ressaltamos aqui que a distância entre o partido de maior e menor destaque é de apenas 2,4, demonstrando que não há uma grande diferença no uso entre os partidos. Os dois melhores partidos entre os de menor destaque são PROS e PP. O primeiro é uma nova agremiação fundada em 2013 sob forte influência de indivíduos ligados a igrejas neopentecostais, mas que já nasceu influente com 20 Deputados Federais. O segundo corresponde a uma sigla que se modificou

ao

longo

do

tempo,

mas possui

tradição

na

direita

brasileira,

e

coincidentemente, forma junto com o PROS um bloco parlamentar na Câmara dos Deputados, configurando a terceira maior bancada da casa.

4. Conclusão Buscamos no presente trabalho descrever o estágio de utilização de uma das principais ferramentas do âmbito digital, a rede social Facebook, por parte das instituições partidárias brasileiras. Destacamos o período não eleitoral pela menor preocupação da literatura com o mesmo, e por entendermos ser importante compreender a ação comunicativa virtual dos partidos para além das eleições.

39 40

Macapá (AP), Prefeito Clécio Luis. PSB, PPS, PV, PSDC, PCO, PRB, PR, PEN e SDD. 83


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Com efeito, destacamos com base na literatura, os principais pontos analisados nos estudos concernentes a relação partidos e internet, construindo as hipóteses que nortearam a pesquisa. Por intermédio da metodologia apresentada, observamos que o principal sentido do uso da web pelos partidos brasileiros é relativo à difusão da informação, subutilizando os elementos diferencias da internet, vale dizer interação e mobilização, comprovando nossa primeira hipótese. No que diz respeito as eventuais diferenças no uso, ficou explicito que não existem grandes distinções quando contrastados instituições de tamanhos diferentes. Todavia, no tocando a ideologia, os partidos de esquerda apresentaram índices de uso mais efetivos quando comparados aos de centro e direita, o que fica ainda mais acentuado quando destacamos o quesito mobilização. Portanto, comprovamos apenas parcialmente a segunda hipótese. Quanto a personalização, foram encontrados índices relevantes, mas não a ponto de inferirmos que este seja o foco principal da ação nas ferramentas analisadas. De uma forma geral podemos dizer que o uso das novas mídias pelos partidos brasileiros no período não eleitoral ainda é bastante precário, ou seja, a efetividade de uso não está a altura da importância que as redes sociais tem apresentado no processo comunicativo contemporâneo, bem como nos processos de discussão e mobilização política. Além disso, as instituições tendem a atuar neste meio com a lógica proveniente das mídias tradicionais, com efeito, utilizam tal espaço como um meio de difusão da informação em detrimento ao potencial interativo e mobilizador do mesmo. Fica explícito com isso, a dificuldade das direções partidárias em abrir espaços dialógicos com os cidadãos, buscando um diálogo mais efetivo e a construção de pautas em conjunto com os segmentos da sociedade.

Referências bibliográficas

BECHER. A. R, BRAGA, S. S. O uso das mídias sociais é um bom preditor do sucesso eleitoral dos candidatos? Uma análise das campanhas on-line dos vereadores das capitais das regiões sul, sudeste, e nordeste do Brasil no pleito de outubro de 2012. In: V Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (Compolitica), 2013, Curitiba. Anais do V Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (Compolitica). Curitiba: 2013. BLANCHARD, G. O uso da internet a serviço da comunicação do partido. Líbero. São Paulo, n.18, p. 9-19, 2006.

84


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

BRAGA, S. S., FRANÇA, A. S. T., NICOLAS, M. A. Os partidos políticos brasileiros e a internet: Uma avaliação dos websites dos partidos políticos do Brasil. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, v. 17, p. 183-208, 2009. DALTON, R. & WATTENBERG, M. Parties without partisans: Political change in advanced industrial democracies. Oxford: Oxford University, 2000. EINSENBERG, J. Internet, democracia e república. Dados, Rio de Janeiro, v. 46, n. 3, p.491-511, 2003. GIBSON, R., WARD. S. Proposed methodology for studying the function and effectiveness of party and candidate web sites. Social Science Computer Review, London, v. 18 n. 3, p. 301-319, 2000. LILLEKER, D. G., PACK, M., JACKSON, N. Political parties and web 2.0: The Liberal Democrat perspective. Politics: 2010 v. 30,n.2, p. 105-112, 2010. MARQUES, F. P. J. A. Sobre a comunicação político-partidária na Internet: um estudo dos informativos digitais do PT e do PSDB, Revista Galáxia, São Paulo, n.10, p. 129-146, dez 2005. NORRIS, P. Virtual Circle. Cambridge: Cambridge University Press, 2000. ROCHA, L. C., NICOLAS, M. A. Juventudes partidárias e internet: Repertórios de ação política nos websites das juventudes partidárias do Paraná. In: V Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação Política (Compolitica)., 2013, Curitiba. Anais do V Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação Política (Compolitica), Curitiba: 2013. ROCHA, L. C. Os partidos na rede: ação política virtual das instituições partidárias brasileiras. 2014. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Universidade Federal do Paraná, 2014. SCHWEITZER, E. J. Election campaigning online: German party websites in the 2002 national elections. European Journal Communication, v. 20, n. 3, p. 327-351, 2005. SILVA, C. A comunicação partidária online: Os websites num contexto não eleitoral. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Universidade de Aveiro, 2012. SMALL, T. A. Equal access, Unequal success major and minor canadian parties on the net. Party Politics. London, v. 14, n. 1, p. 51-70, 2008. VACCARI, C. Research note: Italian parties websites in the 2006 elections. European Journal Communication, v. 23, n. 1, p. 9-77, 2008.

85


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

PARTIDOS POLÍTICOS E INTERNET: Os websites partidários e o eleitorado jovem paranaense nas eleições de 201441 Fabrícia Almeida Vieira42

RESUMO No campo político a internet é um instrumento que proporciona a interação entre eleitores e partidos políticos a partir dos recursos de diálogo disponíveis nas páginas dos websites. De acordo com a Secretaria Nacional da Juventude (2013) a internet é o segundo meio de comunicação mais utilizado como fonte de informação e comunicação pela juventude. O objetivo desta pesquisa é entender como os partidos do PT, PMDB e PSDB utilizam os websites para interagir e mobilizar os jovens eleitores paranaenses no período eleitoral das eleições de 2014. Para isso foi selecionado o período de 01 a 30 de setembro para realizar-se o acompanhamento do uso dos websites partidários pelos respectivos partidos. O método utilizado para a coleta de dados baseia-se em dois tipos de análise: a análise formal e a funcional dos portais. As evidências coletadas mostram que os websites partidários são subutilizados como instrumento de mobilização e interação com a juventude. Tal resultado pode ter como explicação o fato de tais estratégias estarem mais presentes nas redes sociais pessoais dos candidatos – facebook, twitter e websites pessoais - em detrimento aos websites partidários.

Palavras-chave: Websites; Partidos Políticos; Internet; Eleições.

1. Política, eleições e internet O objetivo desta pesquisa é entender como os partidos do PT, PMDB e PSDB utilizam os websites para interagir e mobilizar os jovens eleitores paranaenses no período eleitoral das eleições de 2014. O interesse nesta pesquisa decorre do fato de que nos últimos anos no Brasil, e exclusivamente no estado do Paraná, houve um avanço de pesquisas na área da Ciência Política e da Comunicação Social que buscam identificar a adaptação dos partidos políticos junto à internet (DORNELLES, 2005; IASUALAITIS, 2007; ROCHA & NICOLÁS, 2012; CARVALHO, 2013). Entre as principais preocupações que norteiam as pesquisas realizadas estão: i) saber como os partidos políticos se utilizam dos recursos de interação e de comunicação que a internet oferece; ii) identificar o público alvo que os partidos políticos procuram atingir; iii) comparar o uso da internet pelos diferentes partidos políticos. Há um consenso entre uma parte considerável destas pesquisas de que os partidos políticos ainda não se adaptaram totalmente a utilização da internet, aproveitando 41

Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Instituições, comportamento político e novas tecnologias (GEIST), da Universidade Federal do Paraná. 42 Mestranda de Ciência Política na Universidade Federal do Paraná, fa.almeida2010@gmail.com. 86


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

pouco os recursos que essa tecnologia disponibiliza. Em comum os estudos tem mostrado que os websites partidários são mais utilizados para a comunicação intrapartidária – militantes e membros do partido – e para a autopromoção do candidato/político (GIBSON ET AL, 2003; DORNELLES, 2005; BLANCHARD, 2006; IASULAITIS, 2007; NICOLÁS, 2009, ROCHA & NICOLÁS, 2012; FILHA & RIEGER, 2013). A principal tecnologia fruto das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) é a internet. Segundo Eisemberg (2003, p. 491) a internet pode ser entendida como uma “rede mundial de computadores” formando uma sociedade de rede. Ou seja, a internet é um meio de comunicação que permite acesso de várias pessoas de qualquer lugar do mundo. Permite a aproximação das pessoas diminuindo a “distância efetiva entre as pessoas, aproximando-as e dando a impressão de vivermos em uma enorme aldeia composta por todos os internautas” (EISEMBERG, 2003, p. 497). No âmbito político a possibilidade de interação que a internet proporciona pode fortalecer o processo democrático participativo, incluindo a participação via online do eleitor nos assuntos políticos. Segundo Stromer-Galleu, autora utilizada por Aggio, a falta de meios de aproximação e de debate entre eleitores e candidatos pode ser corrigida através da utilização da internet (STROMER-GALLEU, 2000, apud AGGIO, 2010, p. 8084). Entretanto, Aggio expõem que as iniciativas para estabelecer aproximação, diálogo, discussão entre eleitores e representantes são poucas (AGGIO, 2010, p. 86). Assim, os websites partidários, objeto de estudo desta pesquisa, são considerados como espaços de interação, informação e mobilização e os partidos políticos podem usar essa ferramenta como um instrumento para diferentes fins. Usá-lo para informar e educar o eleitor acerca da conduta eleitoral, mobilizar e recrutar eleitores, circular informações negativas a respeito dos adversários ou reunir todos estes artifícios em um único ambiente (STEFFEN, 2006, p. 5). Neste contexto é que se insere a proposta desta pesquisa. A eleição é um momento de interação entre eleitores e partidos num regime político democrático. Os candidatos e partidos têm o período da campanha eleitoral para dialogar com os eleitores e mostrar suas propostas, para convencer o eleitorado de que vale a pena atribuir o voto a eles. Dornelles assegura que está tecnologia é capaz de melhorar a imagem partidária e pode promover a captação dos jovens (2005, p. 18 e 19).

87


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

2. Metodologia

Procura-se aqui nesta pesquisa responder a seguinte pergunta: de que forma os partidos do PT, PMDB e PSDB utilizam os websites partidários para manter interação e, consequentemente, mobilizar os eleitores jovens paranaenses em um período eleitoral? A pesquisa tem por objetivo verificar, de maneira comparativa, se os partidos políticos utilizam os websites partidários como ferramenta de campanha. Visando identificar, de forma mais específica: i) se os recursos de participação nas páginas dos websites (como, por exemplo, chats, fóruns, e-mail) estão ativos; ii) identificar se a juventude é prioridade na construção das páginas dos websites partidários; iii) identificar qual partido, dentre os analisados, buscou disponibilizar informações sobre a importância do voto; iv) identificar quais são as estratégias de aproximação que os websites partidários estabelecem com o segmento jovem; v) verificar se as páginas da juventude partidária interagem mais com os jovens se comparada as páginas dos partidos políticos. A análise dos websites partidários foi realizada durante o período eleitoral selecionado – 01/09 a 30/09 - com relação à disputa pelo o cargo de Governo do Paraná43. Os partidos que foram selecionados são: PT, PSDB e PMDB. Isso porque, conforme Braga; França e Nicolás (2009, p. 195), são partidos institucionalizados e com grande representatividade parlamentar no Paraná. Além disso, em âmbito estadual a candidata do PT (Gleisi Hoffmann) contou com o apoio do governo federal; entre 2010 e 2014 o Governo do Paraná foi ocupado pelo PSDB (Beto Richa) e este buscou a reeleição; e anteriormente quem o ocupava o cargo era o PMDB (Roberto Requião). A juventude foi selecionada já que, como sugere a Secretaria Nacional da Juventude (2013, p. 7), são necessários mais estudos voltados à compreensão da participação dos jovens na política. Dados da pesquisa realizada pela Secretaria Nacional da Juventude (SNJ) revelam que entre os jovens brasileiros de 15 a 29 anos a internet é o segundo meio de comunicação mais utilizado para a busca de informações e se para se comunicar (56%), ficando atrás apenas da televisão (83%). O método que será utilizado para a coleta dos dados se baseia em Iasulaitis (2007) a partir de duas categorias de análise: a análise formal e a análise funcional44. A análise formal, de acordo com Iasulaitis (2007, p. 15), baseia-se nos seguintes índices: 43

A metodologia foi aplicada aos websites partidários paranaenses do PT, PSDB e PMDB e, simultaneamente, nas páginas da Juventude dos mesmos partidos. 44 A análise formal irá identificar qual é a acessibilidade do website, a qualidade do design, facilidade na navegação e a atualização das páginas. A análise funcional irá identificar qual o grau de participação, 88


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Acessibilidade – elementos que permitem a maior disponibilidade dos conteúdos do website como, por exemplo, opções de download;

Navegação – elementos que facilitam a busca;

Atualização – nível de inserção de notícias e novos conteúdos;

Design – analisada com relação aos quadros, opções multimídia e ícones animados. A análise funcional baseia-se nos seguintes índices:

Informação – apresentação de informações sobre os candidatos, coligação,

procedimentos de urna eletrônica, proposta de governo, notícias e eventos políticos; 

Mobilização – opções que permitem aos internautas apoiarem e serem voluntários

dos partidos políticos; 

Integração – estrutura que permite coordenar a comunicação interna dos partidos,

como por exemplo, a presença de intranet; 

Participação – elementos que geram interesse político no internauta;

Interação – itens que permitem a interação entre os usuários da web com os

candidatos e coordenadores da campanha, como, por exemplo, a presença de sala de bate-papo; e-mail; fóruns (AGGIO, 2010, p. 130). Cada variável será compilado como presente (1) ou ausente (0), sendo dividida a quantidade de itens encontrados em cada website pelo número total de itens de cada índice. O resultado dessa divisão é o quociente de índice (entre 0 e 1, do qual 0 significa que não foi identificado nenhum dos elementos nos websites; e 1 significa que todos os elementos foram identificados nos mesmos) para cada categoria (IASULAITIS, 2007, p. 16). Quando o website apresentar índice entre 1 e 0,70 pode-se dizer que o índice é satisfatório; quando ficar entre 0,69 e 0,40 o índice é regular; e quando ficar entre 0,39 a 0 o índice é insatisfatório45.

interação, integração, mobilização e informação que o website apresentou no período da coleta. As variáveis sofreram algumas alterações. Originalmente, a análise funcional integrava o item interação (salas de bate-papo, e-mail, entre outros) no item de participação, sendo analisados em um único índice. Para melhor exposição e análise dos dados, optou-se em separar – participação e interação. Portanto, o item interação foi incluído na categoria funcional, baseado na metodologia exposta por Aggio (2010, p. 130). 45 Classificação estipulada pela autora para facilitar o entendimento dos índices. 89


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

3. Análise dos websites partidários

3.1. Análise formal

A análise formal permite verificar o quanto às informações são acessíveis ao internauta, se as opções de busca funcionam bem e se as informações são atualizadas diariamente. E, através do design do website é possível identificar o público alvo do partido político. Observe o gráfico a seguir:

Fonte: A autora.

A acessibilidade de um website está relacionada com a disponibilidade e o acesso a notícias e artigos, comentar, imprimir e baixar artigos e compartilhar informações em redes sociais. O website partidário do PSDB apresentou o maior índice com 0,50, o PT com 0,33 e o PMDB não pontuou neste item. De modo geral, os dados coletados mostram que o índice de acessibilidade é de regular para ruim. A navegabilidade compreende funções para facilitar a navegação do internauta. Todos os websites partidários apresentaram o mesmo índice de 0,17, com apenas o campo de busca em funcionamento, como é possível observar no Gráfico 1. No quesito navegabilidade os websites foram classificados como insatisfatórios devido o índice. O website partidário do PSDB foi o que mostrou maior periodicidade na atualização das notícias, com média de 4 atualizações ao dia. O PT apresentou média de 1 notícia 90


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

por dia e o PMDB com média de 0,5 notícias por dia - menos de uma notícia por dia. Isso significa que o PSDB, durante o período selecionado, apresentou maior preocupação em informar os webleitores se comparado aos demais websites. O website do PT informou pouco e quando se aproximou do dia da votação (a partir do dia 24/09) nenhuma informação passou a ser divulgada em seu website. O PMDB não utilizou seu respectivo website para informar o internauta/eleitor, já que divulgou poucas notícias. Quanto ao conteúdo das informações o PSDB focou na divulgação das ações/agenda do candidato e nos resultados de pesquisa de opinião – resultados estes favoráveis ao candidato Beto Richa -, informações sobre os debates televisivos e sabatinas. O website do PT, divulgou as ações/agenda da candidata Gleisi Hoffmann nas cidades do Paraná e informações negativas relacionadas ao PSDB e ao Governador e candidato Beto Richa. As informações no site do PMDB compreendem assuntos mais gerais da campanha, como propostas do candidato Roberto Requião. O item de estética/design agrega fatores de multimídia, demostrando como a página está preparada para despertar o interesse dos visitantes. Além disso, os itens da característica design contribuem para a navegação e acessibilidade do website. Como mostra o Gráfico 1, o website do PT e do PSDB apresentaram o índice de 0,38 e o PMDB apresentou o índice de 0,08. Todos com índices insatisfatórios. Dentre os websites partidários analisados não houve utilização de recursos gráficos, ícones animados, notícias com sentido de humor ou ironia, estes recursos podem atrair o segmento jovem. No website do PT foi identificado o ring tone da campanha de Gleisi Hoffmann, ou seja, músicas da campanha que podem ser utilizadas como toque no celular. Mas, não foi identificada a utilização de imagens para o compartilhamento nas redes sociais - facebook e twitter - ou protetor de tela, por exemplo. Portanto, a juventude não foi o público alvo na construção das páginas dos websites partidários.

3.2.

Análise funcional

A partir da análise funcional se procurou saber qual o grau de participação, interação, informação, mobilização e integração que os websites partidários analisados apresentaram durante o período eleitoral. Observe o gráfico 3:

91


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Fonte: A autora.

Com relação ao item de participação o website com maior índice foi o PT com 0,29, o website do PSDB e do PMDB ficou com índice de 0,14. Em geral, o item de participação é insatisfatório. O diferencial do website do PT foi o item cadastramento para recebimento de boletim da campanha. O diferencial do website do PMDB foi o recurso de comentar notícias, mas vale lembrar que o comentário primeiro passa por uma avaliação, depois de 24h o comentário poderia ou não ser divulgado, dependendo da avaliação. Quanto a variável interação o website partidário do PSDB foi o que apresentou o maior índice, com 0,50, o website do PT ficou com índice de 0,30 e do PMDB com 0,10. O website do PSDB foi o único que disponibilizou sala de bate-papo “Conversa com os Brasileiros”, porém está opção esteve mais direcionada a campanha presidencial. Ou seja, não foi usado como uma ferramenta exclusiva para o eleitor paranaense interagir com o partido. Todos os websites analisados apresentaram a opção de enviar e-mail (sugestão, críticas, dúvidas, demandas sociais). No primeiro dia da coleta (01/09/2014) foi enviado um e-mail46 para os websites e somente o PT e do PSDB responderam com uma mensagem automática no mesmo instante. O website partidário do PMDB não respondeu o e-mail. O website do PT e do PSDB disponibilizaram janelas para interação com às redes sociais. O PT se focou no facebook, assim, quando o partido divulgava alguma informação/notícia no facebook automaticamente divulgava em seu website. O mesmo procedimento ocorreu no website do PSDB, mas este focou na janela do twitter.

46

O conteúdo do e-mail direcionado ao website dos partidos políticos foi indagando sobre a juventude partidária (sede, como ingressar, ações). 92


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

No quesito informação os websites partidários do PSDB e do PT apresentaram índices regulares, com 0,50 e 0,44 respectivamente, e o website do PMDB aparece com índice de 0,13 (insatisfatório). O website do PSDB foi o único que apresentou notícias e fotos do candidato ao governo Beto Richa e a candidata à vice-governadora Cida Borghetti. No website do PT a candidata ao governo Gleisi Hoffmann aparece ao lado do ex-presidente Lula e da candidata à presidência Dilma Rousseff, mas o vice-governador Haroldo Ferreira não é mencionado. Sendo o único website com a divulgação da agenda da candidata. No website do PMDB não foram localizadas notícias ou informações referentes ao candidato Roberto Requião e a candidata à vice-governadora Rosane Ferreira. Nem mesmo fotos do candidato foram divulgadas. O PMDB não utilizou o website como fonte para informar os internautas/eleitores sobre o candidato ao Governo. O PSDB e o PT disponibilizaram o programa de governo e informações referente as realizações dos respectivos candidatos, como mostra a tabela 7 (em anexos). Com relação ao item de integração, como mostra o Gráfico 3, o website do PT e do PSDB ficaram com índice de 0,22 e o website do PMDB ficou em 0,11, índices estes classificados

como

insatisfatórios.

Em

todos

os

websites

analisados

foram

disponibilizados links de referência as redes sociais dos partidos políticos, demonstrando que as ferramentas de web 2.0 integram os websites partidários. O diferencial do website do PT foi disponibilizar um link para uma organização da educação: Fundação Perseu Abramo, fundada em 1996 pelo próprio Partido dos Trabalhadores. A Fundação possui o objetivo de desenvolver práticas de debates políticos e ideológicos, para a elaboração de pesquisas e estudos47. A diferença do website do PSDB foi a menção ao blog do candidato Beto Richa. No website do PMDB só foi localizada a referência às comunidades virtuais, direcionando o internauta/eleitor ao facebook e twitter do partido. De acordo com o Gráfico 3 os índices de mobilização foram regulares e ruim, respectivamente, o PT com 0,50, o PSDB com 0,57 e o PMDB 0,07. O website do PT é o único que divulgou o calendário de eventos da candidata Gleisi Hoffmann e que dispõem o download do ring tone de campanha. Este é um item capaz de mobilizar o internauta/jovem. O website do PSDB é o único que incentiva o internauta a acessar o blog do candidato Beto Richa, divulgando as atividades do partido/candidato nas cidades. Todos 47

Fundação Perseu Abramo. Disponível em: http://novo.fpabramo.org.br/. Acessado em: 01/09/2014. 93


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

os websites incentivam o internauta a participar das comunidades online, como facebook, twitter, youtube. O voluntariado online foi disponibilizado nos websites do PT e PSDB (Ver tabela 9 em anexos). Com relação às seções temáticas (juventude, mulheres, entre outros), dentro da variável de mobilização, o website do PT apresenta a seção da Juventude do PT (JPT) diretamente na primeira página, na parte superior da tela, com fácil localização. A página da Juventude do PSDB (JPSDB) se encontra na parte inferior do website, com mais dificuldade na localização, se comparado ao website do PT. O website do PMDB não apresenta seções temáticas, a página da Juventude do PMDB (JPMDB) é localizada em um link separado48. Todas as páginas da juventude apresentaram índices insatisfatórios para todas as variáveis (participação, interação, informação, integração e mobilização). Durante o período da coleta, a página da JPT foi encontrada totalmente desatualizada, a última notícia atualizada foi no dia 12 de março de 2014. A página possui um pequeno texto informativo referente a JPT e o endereço eletrônico do Secretário da Juventude. Não há a utilização de nenhum recurso interativo (sala de bate papo, charges, links para redes sociais, vídeos), que possa contribuir para despertar o interesse do segmento jovem. Desta forma, a fácil localização da página da Juventude não contribui para atrair o eleitor/internauta jovem devido à falta de atualização e manutenção da página. A página da JPSDB foi encontrada praticamente na mesma situação, com a última notícia atualizada em 22 de agosto de 2013. Não há informações quanto aos ideais da JPSDB, não há recursos interativos como (sala de bate papo, charges, links para redes sociais, vídeos). No quadrante direito da tela há links relacionados com as eleições presidenciais de 2014, como agenda do candidato, material de campanha para downloads, aplicativo para celular com dados das últimas notícias das eleições. Este último pode ser considerado um recurso para incentivar o segmento jovem a acompanhar as eleições. A página do JPMDB possui informações sobre o estatuto da juventude, Comissão Executiva Nacional e do Diretório Municipal, por esse motivo o índice de informação ficou em 0,13. Há incentivo para participação nas mídias sociais – twitter, facebook, youtube – da juventude, a página possui banners e galeria de fotos. Entretanto, a última notícia atualizada foi em 21 de outubro de 2013. A página disponibiliza a filiação à Juventude do PMDB, descrevendo o passo a passo do processo da filiação. Dentre as páginas da 48

Disponível em: http://www.jpmdb.org.br/. Acessado em: 01/09/2014. 94


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Juventude analisadas, a página da JPMDB é a que mais promoveu mobilização e interação com a juventude. Mas nenhuma das páginas é utilizada como um meio de proximidade entre o partido e os internautas/eleitores jovens. Para uma visualização mais ampla das condições encontradas nos websites partidários foi realizada uma classificação dos índices, de modo a demostrar se os itens encontrados foram satisfatórios, regulares ou insatisfatórios. Quando o website apresentar índice entre 1 e 0,70 pode-se dizer que o índice é satisfatório; quando ficar entre 0,69 e 0,40 o índice é regular; e quando ficar entre 0,39 a 0 o índice é insatisfatório. Observe a tabela a seguir: Tabela 1: Classificação dos websites: análise formal PARTIDO

CLASSIFICAÇÃO

PT

Satisfatório Regular

Análise formal dos websites partidários Acessibilidade Navegação Atualização Estética/design X

Insatisfatório

X

Satisfatório Regular

PSDB

X

X X

X

Insatisfatório

X

X

Satisfatório Regular

PMDB

X

Insatisfatório

X

X

X

Fonte: A autora.

Os dados demonstram que na análise formal todos os websites analisados apresentaram índices insatisfatórios para a categoria acessibilidade, navegação e estética/design, somente na categoria atualização em que o website do PT e do PMDB ficaram com a classificação regular e o PSDB foi satisfatório. Isso quer dizer que a circulação de informação foi prioridade em detrimento dos recursos de multimídia e que facilitam a navegação na página. A tabela 2 demonstra a classificação da análise funcional dos websites partidários. Tabela 2: Classificação dos websites: análise funcional PARTIDO

CLASSIFICAÇÃO

PT

Satisfatório Regular Insatisfatório

PSDB PMDB

Análise funcional dos websites partidários Participação Interação Informação Mobilização Integração X X

Satisfatório Regular Insatisfatório Satisfatório Regular

X X

X

X

X X

X X

95


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Insatisfatório

X

X

X

X

X

Fonte: A autora.

De acordo com os dados acima, o website do PT apresentou classificação insatisfatória para as categorias: participação, interação e integração. As categorias de informação e mobilização ficam com a classificação regular. Assim, é possível perceber que o website do PT não aproveitou os recursos de interação e participação, sendo estes fatores que possibilitam o estabelecimento da aproximação e diálogo entre partido e jovem/internauta. No website do PSDB as categorias de participação e integração foram classificadas como insatisfatórias. No quesito interação, informação e mobilização a classificação foi regular. Demonstrando que o website do PSDB esteve mais preocupado em disponibilizar recursos de interatividade, como sala de bate-papo, por exemplo. O website do PMDB apresentou todas as categorias classificadas como insatisfatórias, demonstrando que o website partidário não foi utilizado para promover aproximação com o jovem/internauta.

4. Considerações finais A atual democracia representativa reascende a pertinência da existência de um fluxo contínuo e plural de informações necessárias para o processo deliberativo de decisões políticas, como o que ocorre durante uma eleição (MANIN, 1995; HABERMAS, 2006). É neste contexto democrático deliberativo que se insere a importância da internet e de seus recursos – websites, twitter, facebook, blogs – em atuarem como fórum que subsidiam o internauta/eleitor com informações permitindo a interação e a participação dele no desenrolar do processo eleitoral. O objetivo central da presente pesquisa foi identificar como os websites partidários são utilizados pelos partidos políticos para interagir e mobilizar o segmento jovem, no contexto das eleições de 2014, para o cargo do Governo do Paraná. De acordo com a análise formal e funcional que procedemos nesta pesquisa é possível afirmar que os websites partidários são subutilizados no sentido de mobilização e interação do setor jovem. De acordo com o Gráfico 3 os recursos de interação nas páginas dos websites (como, por exemplo, chats, fóruns, e-mail) estavam ativos. Os websites investigados apresentaram opção de envio de e-mail, sendo que somente o PT e o PSDB responderam 96


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

com uma mensagem automática. O website do PSDB foi o único que apresentou sala de bate-papo em funcionamento. Com poucos recursos de interação em funcionamento, não é possível afirmar que os websites partidários investigados foram utilizados pelos partidos para estabelecer interação com os eleitores. Manin (1995) afirma que em uma democracia do público os meios de comunicação são uma arena aberta e global que possibilitam uma democracia deliberativa, ou seja, funcionam como um canal de debates. Porém, os websites dos partidos analisados não são utilizados com esse fim, ou seja, com o objetivo de ser um ambiente de interação com o eleitor. Outro objetivo proposto foi entender se os jovens são público alvo na construção dos websites partidários. Os websites partidários não aproveitaram os recursos de interação e multimídia, que podem ser utilizados para atrair a juventude. Nenhum website analisado, no período da coleta, se preocupou em disponibilizar informações referente ao voto. Este assunto é de extrema importância e interesse para os jovens, como afirma Dornelles (2005, p.16). A presente pesquisa também se propôs identificar quais são as estratégias de aproximação que os websites partidários estabelecem com o segmento jovem. É possível afirmar a partir dos dados coletados que os websites partidários não adotam estratégias de aproximação com os jovens. Os índices de design ficaram muito baixos, PT (0,38); PSDB (0,38) e PMDB (0,08), como mostrou o Gráfico 1. E as páginas da juventude estiveram desatualizadas. Manin também afirma que a imagem dos candidatos é um dos fatores que podem determinar as escolhas dos eleitores. Os websites partidários podem aumentar a visibilidade dos candidatos, porém nas páginas da juventude nenhuma informação sobre os candidatos foi divulgada. O último objetivo da pesquisa foi identificar se nas páginas da juventude partidária há maior mobilização jovem se comparada as páginas dos websites partidários. Os dados apresentados permitem concluir que nem mesmo a juventude partidária esteve preocupada em interagir com o eleitorado jovem ao manter suas páginas totalmente desatualizadas e sem qualquer recurso interativo e participativo, com todos os recursos insatisfatórios. Portanto, os websites partidários não buscaram mobilizar e interagir com o setor jovem. Mas fica o questionamento: se 83% dos jovens entendem que a política é importante e 56% dos jovens utilizam a internet para se informar (SNJ, 2013), porque os partidos políticos não utilizam seus respectivos websites com o intuito de interagir com esse segmento da sociedade? 97


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Uma possível explicação para esse resultado pode ser extraída da pesquisa de Stromer-Galley (2000), citada por Aggio (STROMER-GALLEY, 2000 apud AGGIO, 2010, p. 86-88). Stromer-Galley percebeu a ausência da funcionalidade de participação e interação em sua pesquisa sobre os websites partidários americanos nas eleições de 1996 e 1998. Assim, ao realizar uma entrevista com os coordenadores de campanha, compreendeu que essas funcionalidades não são utilizadas estrategicamente. Isso porque não há um número significativo de pessoas para responder todos os e-mails e as salas de bate papo tornam-se um veículo de “perda de controle”, devido à alta exposição do candidato e possíveis mensagens negativas que podem repercutir em outros meios de comunicação (STROMER-GALLEY, 2000, apud AGGIO, 2010, p. 86 a 88). Outra possível explicação para essa pergunta é a personalização do uso das ferramentas da internet. O sistema eleitoral majoritário tende a favorecer a personalização, no sentido de que as estratégias adotadas durante a campanha eleitoral são individualistas, isto é, a imagem do candidato é mais ressaltada do que a imagem partidária (QUADROS, 2012, p. 2-4). Desta forma, as redes sociais – facebook e twitter e sites pessoais podem ter sido mais utilizadas em detrimento aos websites partidários. Este argumento é reforçado por Vieira, Cardoso & Ton (2014), que demonstraram a aderência à internet pelos candidatos a Deputado Estadual do Paraná - mais especificamente no facebook, twitter e website pessoal. Os dados coletados pelos pesquisadores mostraram que de um universo de 848 candidatos, 51% possuíam algum tipo de página na internet e 49% não possuíam nenhum link. Cerca de 49% dos candidatos possuem facebook, enquanto 10% dos candidatos apresentaram páginas do twitter e 11% de websites pessoais (VIEIRA; CARDOSO; TON, 2014, p. 6). Esses dados sugerem que talvez a subutilização dos websites partidários como instrumento de interação e mobilização em períodos eleitorais, como identificado nesta pesquisa, tenha como explicação o fato de tais estratégias estarem mais presentes nas redes sociais dos candidatos.

Referências AGGIO, Camilo de Oliveira. Campanhas políticas online: a discussão do estado da arte seguido de estudo de caso sobre os websites dos candidatos à prefeitura de Salvador em 2008. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Cultura Contemporâneas) – Programa de Pósgraduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas, Universidade Federal da Bahia, Bahia, 2010. 98


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

BLANCHARD, Gersende. O uso da internet a serviço da comunicação do partido. Líbero n. 18, p. 9. São Paulo, 2006. BRAGA, Sérgio S.; FRANÇA, Andressa S. Terra; NICOLÁS, Alejandra Maria. Os partidos políticos brasileiros e a internet: uma avaliação dos websites dos partidos políticos do Brasil. Revista de Sociologia e Política, v. 17, n. 34, p. 183 – 208. Curitiba, 2009. CARVALHO, Cassio Stanczyk. Senadores Virtuais? Um estudo comparado sobre o perfil e uso das redes digitais pelos senadores sul-americanos e dos EUA. 2013. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2013. DORNELLES, Souvenir Maria Graczyk. O significado da internet junto ao público jovem no trabalho de comunicação dirigida de partidos políticos: Uma análise sob o enfoque das Relações Públicas. In: INTERCOM. Anais da INTERCOM, PUCRS, Porto Alegre, jun. 2005. EISEMBERG, José. Internet, Democracia e República. Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 46, nº 3, 2003, p. 491 a 511. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/dados/v46n3/a03v46n3.pdf>. FILHA, Elza Aparecida de Oliveira; RIEGER, Thomas Mayer. Eleições 2012: o processo eleitoral em Curitiba e sua relação com a mídia social. Rev. Estud. Comun., Curitiba, v. 14, n. 34, p. 309 – 328, 2013. GIBSON, Rachel K.; MARGOLIS; RESNICK, Michael; WARD, Stephen J. Election campaigning on the www in the USA and UK: A Comparative Analysis. Party Politics. 2003, p. 47-75. IASULAITIS, Sylvia. A internet pode revigorar as eleições? Um estudo das campanhas virtuais presidenciais no pleito de 2006. In: XXXI Encontro Anual da ANPOCS – Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais, 2007, Caxambu – MG. XXXI Encontro Anual da ANPOCS Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais, 2007. HABERMAS, J. Political communication in media society: does democracy still enjoy an epistemic dimension? The impact of normative theory on empirical research. Communication Theory, v. 16, p. 411-426, 2006. Disponível em: <http://onlinelibrary. wiley.com/doi/10.1111/j.14682885.2006.00280.x/pdf>. Acesso em: 28 jul. 2013. MANIN, B. As metamorfoses do governo representativo. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, ano 10, n. 29, p. 5-34, out. 1995. NICOLÁS, Maria Alejandra. Internet e política: graus de representação política e uso da internet pelas elites parlamentares da América do Sul. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009. NORRIS, P. Preaching to the converted? Pluralism, participation and party websites. Party Politics, v.9 n.1 p. 21-45, 2003. PMDB PR. Disponível em: pmdbpr.org.br. Acessado em: 01/09/2014. PSDB PR. Disponível em: www.psdb-pr.org.br. Acessado em: 01/09/2014. PT PR. Disponível em: www.pt-pr.org.br. Acessado em: 01/09/2014. PMDB JUVENTUDE PR. Disponível em: http://www.jpmdb.org.br/. Acessado em: 01/09/2014. QUADROS, Doacir G. Partido político e propaganda política: A imagem partidária em ação no horário gratuito (HGPE) nas eleições de 2000, 2004 e 2008 para prefeito de Curitiba. 2012. Tese (Doutorado em Sociologia) - Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012. 99


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

ROCHA, Leonardo; NICOLÁS, Maria A. Juventudes Partidárias e internet: Repertórios de ação políticas nos Websites das juventudes partidárias do Paraná. In: Anais do V Congresso da Compolítica, 2012. Secretária Nacional da Juventude. Pesquisa Nacional sobre o perfil e opinião dos jovens brasileiros 2013. Disponível em: <http://www.juventude.gov.br/noticias/arquivos/pesquisa_juventude>. Acessado em: 02/10/2013. SETFFEN, César. Campanhas eleitorais na Internet: Construindo um (novo) problema de pesquisa. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/steffen-cesar-campanhas-eleitoraisInternet.pdf>. VIEIRA, Fabrícia Almeida; CARDOSO, Henrique Matheus C.; TON, Luís Augusto. Política e internet: o uso das TIC’s pelos candidatos a Deputado Estadual no Paraná em 2014. ENFOC 2014 – XI Encontro de Iniciação Científica, IX Fórum Científico e I Seminário PIBID, Curitiba, 2014.

100


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

PADRÕES DE LONGA DURAÇÃO DE E-CAMPANHA NO BRASIL: Uma análise empiricamente orientada (1998-2014)49 Márcio Cunha Carlomagno50 Sérgio Braga51 RESUMO As últimas campanhas eleitorais brasileiras se caracterizaram pelo uso e incorporação maciça da internet e das mídias sociais como ferramenta de propaganda pelos candidatos. Nesse sentido, as eleições de 2014 consolidaram esta tendência, com virtualmente todos os candidatos aos cargos majoritários e a grande maioria dos candidatos a cargos proporcionais utilizando a internet e algum tipo de mídia social (especialmente Facebook e, em seguida, o Twitter) como ferramenta de comunicação e interação com os cidadãos de uma maneira geral. A questão a ser colocada, portanto, não é se os candidatos estão usando as tecnologias digitais como ferramenta de campanha, mas como eles a estão utilizando e quais os padrões e efeitos de uso de tais ferramentas de e-campanha na organização dos pleitos eleitorais. Nossa intenção nesse paper é contribuir para o debate sobre o tema apresentando dados sistemáticos sobre o uso das mídias sociais e da internet pelos candidatos nas últimas campanhas eleitorais brasileiras (especialmente a partir de 2006, quando estes dados passaram a ser compilados de maneira mais precisa), e analisando os padrões de uso das tecnologias digitais ao longo do tempo pelas diferentes categorias de candidatos.

Palavras-chave: Internet e política, e-campanhas, análise longitudinal, eleições brasileiras.

1. Introdução As últimas campanhas eleitorais brasileiras se caracterizaram pelo uso e incorporação maciça da internet e das mídias sociais como ferramenta de propaganda pelos candidatos. Nesse sentido, as eleições de 2014 consolidaram esta tendência, com virtualmente todos os candidatos aos cargos majoritários e a grande maioria dos candidatos a cargos proporcionais utilizando a internet e algum tipo de mídia social (especialmente Facebook e, em seguida, o Twitter) como ferramenta de comunicação e interação com os cidadãos de uma maneira geral. A questão a ser colocada, portanto, não é se os candidatos estão usando as tecnologias digitais como ferramenta de campanha, mas como eles a estão utilizando e quais os padrões e efeitos de uso de tais ferramentas de e-campanha na organização dos pleitos eleitorais. Nossa intenção nesse paper é contribuir para o debate sobre o tema apresentando dados sistemáticos sobre o

49

Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014”. Este artigo apresenta resultados de pesquisa desenvolvida no âmbito do GEIST/Grupo de Pesquisa em Instituições, Comportamento Política e Tecnologias Digitais da UFPR, coordenada pelo prof. Sérgio Braga, e intitulada: Elites políticas e tecnologias digitais: uma análise longitudinal do uso da internet nas eleições para as prefeituras e para as Câmaras Municipais das capitais dos estados nos pleitos e 1998 a 2018. 50 Mestre em Ciência Política (UFPR), mccarlomagno@gmail.com 51 Doutor em Desenvolvimento Econômico, DECIPOL/UFPR, sssbraga@gmail.com 101


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

uso das mídias sociais e da internet pelos candidatos nas últimas campanhas eleitorais brasileiras (especialmente a partir de 2006, quando estes dados passaram a ser compilados de maneira mais precisa), e analisando os padrões de uso das tecnologias digitais ao longo do tempo pelas diferentes categorias de candidatos. Procuraremos em nossa comunicação fornecer evidências que nos permitam demonstrar as seguintes proposições básicas: a) consolidou-se no Brasil nos dois últimos pleitos um padrão "pósweb" de campanhas eleitorais, com uso intensivo de mídias sociais articuladas às plataformas-base de e-campanha dos candidatos (os websites); b) Facebook e Twitter, por seu baixo custo e fácil acesso, se tornaram as ferramentas digitais preferidas dos candidatos desde o pleito de 2012, ultrapassando os websites como ferramenta de ecampanhas; c) houve uma atenuação progressiva do "digital divide" ao longo dos sucessivos pleitos, com as desigualdades entre os diferentes subgrupos de candidatos se atenuando ao longo do tempo, havendo portanto uma tendência à "equalização"; d) embora as mídias sociais não possam em geral ser consideradas como "preditoras" dos resultados eleitorais, especialmente nas eleições proporcionais, em nível majoritário a relação entre o uso das mídias sociais e votação é mais intensa na medida em que há correlação significativa entre presença online dos diferentes candidatos e resultados eleitorais, o que implica afirmar que a intensidade do uso das mídias sociais já pode ser considerada um antecipador de certos comportamentos off-line; e) aumento da intensidade da interação online nas plataformas virtuais, especialmente o Facebook, que passou a ser a plataforma preferida pelos candidatos para interagir com os eleitores, embora os padrões observadores de interação online por intermédio dessa plataforma entre os diferentes subgrupos de candidatos seja bastante distinto. Este artigo é, portanto, uma tentativa inicial de sistematização empírica de dados longitudinais sobre as e-campanhas brasileiras, e também da maneira pela qual a literatura existente sobre o tema apreendeu a evolução do emprego das tecnologias digitais nas e-campanhas brasileiras. Vamos apresentar dados sobre algumas dimensões do uso da internet pelos candidatos a fim de verificar algumas tendências nos últimos anos, e apontar algumas inovações feitas, especialmente na última campanha eleitoral. Utilizaremos os seguintes indicadores: a) uso de websites de campanha e de algum tipo de midia social pelos candidatos às eleições majoritárias; b) frequência de uso das mídias sociais mais utilizadas, tais como Facebook, Twitter e Canal do Youtube; c) Nível geral de interatividade observada nas principais mídias sociais; d) desigualdades existentes no uso das tecnologias digitais por candidatos localizados em diferentes regiões do país e em 102


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

diferentes tipos de partidos, agregados; e) evolução dos gastos em internet nas campanhas eleitorais a partir de 2002; f) relação entre intensidade de uso das mídias sociais e padrões de votação nas últimas eleições brasileiras. Sublinhe-se que concentraremos nosso estudo nas eleições para cargos majoritários (governadores e senadores), pelos seguintes motivos: (i) estas eleições fornecem um “n” intermediário entre as eleições presidenciais (com reduzido número de candidatos) e as eleições proporcionais para deputados federais e estaduais (com número acentuado de candidatos, que dificulta a coleta sobre o uso das tecnologias digitais); (ii) elas nos possibilitam “nacionalizar” a análise, permitindo um estudo comparativo mais abrangente do uso da internet pelos candidatos em diferentes contextos socioeconômicos; (iii) ainda são escassos estudos abrangentes e agregados sobre as e-campanhas nesses níveis administrativos. Além disso, procuraremos sistematizar alguns dados existentes em literatura secundária sobre as eleições brasileiras a partir de 1998, quando a internet passou a ser utilizada de forma mais sistemática como ferramenta de campanha no Brasil. Como método para a sistematização da literatura utilizaremos a tipologia de campanhas eleitorais sugerida por Wilson Gomes em seus trabalhos, agregando por nossa conta alguns estágios intermediários às três principais etapas sugeridas pelo autor. Como se sabe para Gomes podemos subdividir a campanha nas etapas pré-web, protoweb web e pós-web, cujas características podem ser assim sistematizadas:

QUADRO 1 CARACTERÍSTICAS Pré-web

Ausência de uso de websites. Os candidatos usam outras ferramentas de comunicação com o eleito, tais como e-mail e newsletter

Protoweb

Sites estáticos e com pouca interação. O uso do e-mail já começa a se difundir, de maneira tímida, de modo que as campanhas eleitorais ainda tinham natureza claramente offline.

Web

As principais (ou únicas) plataformas virtuais dos candidatos são os websites. As atividades partem de sites vinculados a bancos de dados empregados para arquivo e acesso a 103


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

discursos, panfletos e outros materiais de campanha. Esse material de campanha tende a reproduzir o conteúdo offline. Observam-se algumas experiências de interação e participação através dos websites. Pós-Web

Surge depois da criação das redes sociais e de seu uso maciço por alguns candidatos e políticos. O website do político deixa de ser o elemento central ou único da estratégia de comunicação dos candidatos e passa a ser um centro difusor e de oferta de credibilidade a informações difundidas por outras mídias. Os candidato interagem com os cidadãos nas mídias sociais e não no website.

Fonte: Gomes et al. (2009)

Além disso, para estruturar nossa análise dos mecanismos de interação nas ecampanhas procuraremos aplicar uma versão ligeiramente modificada do modelo de interatividade formulado por FERBER et. AL. (2008) no estudo dos mecanismos de interação entre elites políticas e cidadãos ordinários propiciados pelas novas tecnologias, especialmente a internet. De acordo com estes autores, a introdução das ferramentas da Web 2.0 como blogs, chats, comunidades virtuais e redes sociais no contexto legislativo ensejaram o estudo de novas formas de comunicação, diferentes das sugeridas pelas aplicações da Web 1.0 que se apóiam em um monólogo top-down de transferência de informações. Além dos modelos de comunicação de duas vias, Ferber et al (2007) propõem “a three-way model of communication”, mais apropriado para encorajar a deliberação pública. O autor utilizou o modelo quadripartido de ciber-interatividade de McMillan (2002) e construiu “a six-part model of Cyber-Interactivity”, baseando em seis níveis de interação: (i) monólogo; (ii) diálogo responsivo; (iii) feedback; (iv) resposta controlada; (v) discussão mútua; (vi) debate público/deliberação. Combinando os indicadores utilizados por estes autores, nossa hipótese básica é a de que as e-campanhas no Brasil evoluíram de um grau pré-web com baixo grau de interatividade em 1998 (monólogo), para um grau pós-web com alto grau de interatividade (debate público), embora experiências mais avançadas de deliberação online e de debate sobre políticas públicas nas eleições brasileiras ainda sejam uma exceção no atual contexto das e-campanhas brasileiras. 104


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

2. Tecnologias digitais e campanhas eleitorais no Brasil: um breve histórico. Embora no caso das campanhas eleitorais norte-americanas já existam desde 1996 (CORRADO, 1996) estudos sobre o uso da internet, no caso do Brasil, podemos afirmar que apenas com a campanha eleitoral de 1998 teve início o uso da internet. De nosso conhecimento, os estudos mais sistemáticos sobre esta fase inicial das ecampanhas no Brasil são os de Rodrigo Garcia Fernandez (Fernandez, 2005, 2005a) onde o autor busca aplicar uma versão ligeiramente modificada do modelo de análise de conteúdo de proposto por Ward & Gibson (2001) para examinar 50 websites de campanhas eleitorais na Internet para cargos executivos nas eleições de 1998, 2000 e 2002. As conclusões de Fernandez são as mesmas de outros estudos produzidos à época (e. g. BIMBER & DAVIS, 2003), ou seja, a pouca presença de ferramentas de participação e interatividade mais sofisticas no Web e a predominância de mecanismos "top down" de comunicação política virtual entre os candidatos e os eleitores. Além do mais o autor aponta, como característica específica do caso brasileiro, uma maior "personificação" (ou personalização) das mensagens políticas divulgadas através dos websites. Após o pleito de presidencial de 1998, tivemos as eleições de outubro de 2000 para prefeitos, onde a internet teve pouco impacto e provocou poucos estudos (cf. CARNEIRO, 2002). Os estudos pioneiros sobre internet neste período, além do de Rodrigo Garcia Fernandes já citado, concentraram-se em mapear o papel que meios alternativos às mídias tradicionais tinham no agendamento das grandes questões relacionadas à mídia. A este respeito, destacam-se os estudos de Alessandra Aldé e Juliano Borges (2004) sobre o papel da internet e dos websites dos candidatos no agendamento de notícias nas mídias tradicionais, e a dissertação de mestrado de César Steffen sobre os websites dos candidatos à presidência nas eleições de outubro de 2002. Segundo o autor, "Notamos, assim, que os espaços da campanha eleitoral de 2002 via Internet são exatamente isso, espaços de campanha eleitoral, e não promovem - ou buscam promover - uma relação mais direta com o eleitor, mas apenas e tão somente construir mais um espaço de enunciação de discursos e propostas pelos candidatos". (p. 18). Ainda segundo o autor, "A maior novidade deste processo reside, em nossa opinião, na possibilidade de montagem do discurso pelo eleitor a partir da seleção das ofertas de interação e na permanência dos discursos e informações num mesmo espaço sem as limitações temporais impostas pela legislação eleitoral" (p. 19). 105


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Após o pleito de 2002 passaram a surgir estudos mais sistemáticos sobre o uso da internet nas eleições no Brasil e, pela primeira vez, se fornecem dados sistemáticos e agregados sobre o uso das diferentes tecnologias digitais pelos candidatos as eleições brasileiras. Paradigmático dessa fase são os estudos de Francisco Brandão Júnior (BRANDAO JUNIOR, 2005, 2008, 2009) onde são fornecidas as primeiras informações agregadas sistemáticas sobre o uso da internet pelos candidatos no Brasil e o de Adriane Figueirola Martins (MARTINS, 2006) sobre as estratégias persuasivas de José Fogaça e Raul Point no segundo turno da do pleito, em outubro de 2004. A principal conclusão a que chega a autora é que a campanha na Web agrega algo em relação ao conteúdo transmitido via HPEG e desempenha papel relevante no processo eleitoral. Segundo a autora, "apesar da Internet ser acessada somente por uma pequena parcela da população, e não apresentar um espetáculo de imagens e sons tal qual a televisão, pôdese evidenciar nesta pesquisa que os sites realmente apresentavam características persuasivas capazes de seduzir os internautas. Tal afirmação tem validade uma vez que a principal estratégia persuasiva utilizada pelos websites de Fogaça e Pont era a informação textual, a qual possibilita a busca de informações sobre os candidatos pelo eleitor" (p. 113). Após de 2006, além de ferramentas tais como emails e websites, outras tecnologias entram na agenda de estudos sobre e-campanha: os Blogs e o Orkut, que dá origem aos artigos pioneiros de (PENTEADO et. Al., 2006), Vera Chaia (2007) e Barros Filho, Coutinho e Safatle (2007) sobre esta rede social (COUTINHO, 2007). Segundo estes autores embora no Brasil os nível de inclusão digital ainda sejam reduzidos em comparação com outros países, "a internet é um canal de comunicação (...) que apresenta importantes possibilidades em termos de mobilização e engajamento dos eleitores mais envolvidos com a política, notadamente os mais jovens. A utilização crescente da rede, para além dos sítios de organizações midiáticas e políticas tradicionais, indica um processo (ainda incipiente no Brasil) de formação de novos espaços complementares à esfera pública tradicional. Embora ainda restrito aos mais jovens e escolarizados, esse fenômeno ocorre independente da vontade dos meios de comunicação tradicionais e dos partidos políticos, e não depende de sua aprovação para acontecer. Entretanto, apesar da diversidade de fontes de informação oferecidas pela Rede, as comunidades tendem a conectar-se apenas com sítios e comunidades de opiniões similares e a reprimir manifestações dissonantes, o que pode gerar uma menor

106


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

pluralidade de opiniões entre os eleitores que usam apenas os sítios de comunidades e blogs como fonte de informação sobre a campanha" (op. Cit.). As eleições municipais de 2008 também deram origem a vários estudos que mostravam o uso intensivo da internet por determinados candidatos e a emergência das primeiras experiências participativas de importância no espaço virtual, inclusive com acentuado uso de algumas mídias sociais por alguns candidatos, apesar da ambiguidade ou proibição da legislação eleitoral (BRAGA et. al, 2008). Entretanto, apesar de algumas inovações introduzidas no pleito de 2008, é somente no pleito de 2010 que as tecnologias digitais apresentam maior grau de difusão entre os candidatos, por dois motivos básicos: a) em primeiro lugar, pela queda das restrições dos tribunais eleitorais ao amplo uso da internet pelos candidatos; b) em segundo lugar, e estreitamente relacionado ao primeiro fator, pelo bem-sucedido exemplo da campanha presidencial de Barack Obama no pleito de novembro de 2008, que provocou uma euforia no campo do marketing político eleitoral e também entre os analistas políticos pelo mundo afora. Como afirma um estudioso da matéria, "de acordo com a legislação nacional, até 2009 só eram permitidas manifestações por candidatos e por sua equipe em websites oficiais de campanhas. Mesmo redes sociais com considerável penetração no país nas eleições de 2008, como o Orkut, não puderam ser utilizadas naquela ocasião. Essa regra limitou de maneira excessiva as possibilidades de inovações nas campanhas, o que ajuda a explicar o baixo número de estudos sobre o tema até 2008. [...] Todas estas modificações evidenciaram a singularidade das eleições de 2010, nas quais foram realizadas campanhas online significativamente maiores e mais inovadoras" (MARQUES, 2011: p. 18). Entretanto, como pudemos ver, mesmo antes do pleito de 2010, de fato um divisor de águas na histórica das e-campanhas eleitorais brasileira, já existiam vários estudos sobre o tema, inclusive mostrando que os candidatos inventavam formas criativa de driblar a legislação eleitoral, as utilizando intensamente. A partir de 2010, seja em virtude da maior liberalidade da legislação, seja em virtude das inovações no campo das e-campanhas, foi cada vez mais intenso o uso das tecnologias digitais nas eleições brasileiras. Este movimento está sintetizado no quadro anexo a este artigo, destacando os principais momentos dessa expansão em direção ao um estágio pós-web, níveis mais acentuados de interação on-line. Feito esse breve resumo do estado da arte sobre e-campanha no Brasil, podemos agora nos concentrar na apresentação de dados empíricos sobre a evolução objetiva do emprego das tecnologias digitais nas eleições brasileiras nos últimos anos. 107


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

3. Tendências do uso da internet nas campanhas eleitorais no Brasil

Como dissemos anteriormente, este artigo é uma primeira tentativa de sistematização empírica de dados longitudinais sobre as e-campanhas brasileiras. Ele busca sistematizar alguns dados sobre campanhas eleitorais no Brasil, tanto de fontes secundárias como de fontes primárias, a partir das pesquisas que efetuamos deste 2008 sobre o uso da internet pelos candidatos, especialmente nas eleições majoritárias brasileiras com vistas a mapear de maneira abrangente as principais inovações trazidas pelo emprego das tecnologias digitais nas eleições brasileiras. Vamos apresentar dados sobre algumas dimensões do uso da internet pelos candidatos a fim de verificar algumas tendências nos últimos anos, e apontar algumas inovações feitas na campanha mais recente de outubro de 2014. Utilizaremos os indicadores mencionados acima, sendo o primeiro dele a frequência simples de uso de websites e mídias sociais pelos candidatos a cargos majoritários ao longo do tempo.

GRAFICO 01: USO DE WEBSITES DE CAMPANHA E DE ALGUM TIPO DE MIDIA SOCIAIS PELOS CANDIDATOS ÀS ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS

FONTE: Elaboração própria. 108


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Pelo gráfico, podemos observar que desde 2002, quando começaram a ser efetuadas mensurações mais sistemáticas do uso de websites e mídias sociais pelos candidatos (Brandão Júnior, 2008), houve uma grande expansão no uso de tais ferramentas nas eleições majoritárias, embora tal expansão não tenha sido linear. No caso das últimas eleições, nota-se inclusive um decréscimo no uso de websites em virtude da fácil disponibilidade e acesso de mídias sociais para os candidatos, mesmo de partidos com menos recursos políticos e regiões com o eleitorado menos incluído digitalmente. Com efeito, se verificarmos as causas desse grande decréscimo no uso de websites pelos candidatos aos governos estaduais e ao senado nas últimas eleições, podemos verificar que eles se devem principalmente ao excesso de candidatos de pequenos partidos com menos recursos políticos e a candidatos menos competitivos nestas últimas eleições. [TABLE] Outro indicador agregado da difusão do uso das midias sociais nas eleições brasileiras é a frequência com que as mídias sociais mais difundidas tais como Facebook, Twitter e canal do Youtube foram utilizadas pelos diferentes candidatos. Estes dados estão resumidos nos gráficos seguintes. GRÁFICO 2: FREQUÊNCIA DE USO DAS MÍDIAS SOCIAIS MAIS UTILIZADAS, TAIS COMO FACEBOOK, TWITTER E CANAL DO YOUTUBE (n=1515)

FONTE: Elaboração própria. 109


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Como observado, as mídias sociais começaram a ser utilizadas com mais frequência somente a partir de 2010, quando a legislação eleitoral brasileira permitiu o uso de mídias pelos candidatos. Desde então nota-se uma acentuada progressão no uso das principais midias sociais, destacando-se o Facebook, com a grande maioria dos candidatos possuindo fanpages nessa rede desde as eleições para prefeito de 2012. Nota-se também uma acentuada preferência pelo Facebook entre os candidatos, ao contrário da expectativa gerada por muitos de que o twitter iria ser a midia preferida em virtude de sua facilidade em promover a comunicação de "um para muitos". Isso pode ser um indicador também de que os candidatos estão preferindo interagir com os apoiadores mais próximos das candidaturas, configurando um padrão de "pregar através dos convertidos", ao invés de preferir uma estratégia de comunicação eleitoral em grande escala interagindo com os eleitores como um todo. Por fim, verifica-se um forte declínio do uso de Websites e Twitter nas últimas eleições, fato que pode ser atribuído, no caso dos websites, à proliferação de candidatos de pequenas legendas sem recursos políticos e com baixo grau de competitividade eleitoral, enquanto que em relação ao Twiter, como afirmamos acima, podemos lançar a hipótese de que temos a preferência de um padrão de "pregar através dos convertidos" pelos candidatos e o apego a um padrão mais “enunciativo” e “top down” de comunicação política. Outro aspecto a ser analisado é a existência ou não de um "digital divide" no uso das tecnologias digitais mais relevantes (Websites e Facebook) pelos candidatos e seu comportamento ao longo do tempo. Isso nos permite também abordar uma questão mais substantiva: estaria havendo uma tendência à "normalização" (repetição dos padrões existentes no mundo offline) ou uma "equalização" (maior igualdade de oportunidades) nos padrões de competição política digital entre os candidatos ao longo do tempo? Não se trata de uma questão fácil de ser respondida, e ela tem de ser respondida em vários níveis correspondentes aos vários significados do termo "digital divide" (material, societal e cognitivo). Neste texto, abordaremos apenas um deles, que são os níveis material e societal. Para abordá-lo, criamos um indicador que consiste na diferença entre as regiões com o maior percentual de candidatos usuários de algum tipo de ferramenta digital (Websites e Facebook) e as regiões com menor percentual de usuários. Apenas a título de exemplificação, seguem os dados para a última eleição, para os governos estaduais e senadores, na medida em que não faz sentido calcular o indicador para a eleição presidencial, dado que trata-se de uma circunscrição única.

110


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

TABELA 01: INDICES DE INCLUSÃO DIGITAL NAS ÚLTIMAS NOVE ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS BRASILEIRAS (2008-2014).

Esta tabela é apenas para ilustrar a forma como construímos o indicador. O mais importante para os fins da análise diacrônica empreendida neste artigo é o comportamento do índice ao longo do tempo, que pode ser sumarizado no gráfico abaixo: GRÁFICO 3: DESIGUALDADES EXISTENTES NO USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS POR CANDIDATOS LOCALIZADOS EM DIFERENTES REGIÕES DO PAÍS.

Fonte: Elaboração própria. 111


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Como verificamos pelo gráfico acima, há um acentuado decréscimo na fratura digital entre as diferentes regiões do país ao longo do tempo, com as diferenças variando de um pico de 54,6% nas eleições para as prefeituras de 2008 até um mínimo de 18,6 nas eleições para os governos estaduais em 2014. O mínimo de diferença ocorreu no pleito para as prefeituras das capitais de outubro de 2012, quando a desigualdade de uso das tecnologias digitais ficou em apenas 15,0%, embora no caso das cidades do interior as diferenças fossem significativamente maiores. Por fim, resta um último indicador que é o nível de interatividade observada nas eleições. Para tanto, procuramos mensurar o grau em que os candidatos interagem como os eleitores na última semana eleitoral tal como evidenciado pelo indice de presença no Facebook (amigos + seguidores + falaram), número de seguidores no twitter e de visualizações em vídeos no youtube. GRAFICO 4: NÍVEL GERAL DE INTERATIVIDADE OBSERVADA NAS PRINCIPAIS MÍDIAS SOCIAIS.

Fonte: elaboração própria Estes dados dão uma evidência adicional da transição do Twitter para o Facebook como a principal mídia social de campanha eleitoral nas últimas eleições. Com efeito, o pico de interações no twitter comparativamente às outras mídias ocorreu no pleito para a presidência da República de 2010, onde os candidatos que usaram twitter tiveram uma 112


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

média de cerca de 370.000 seguidores, com uma movimentação no Facebook inclusive inferior àquela verificada em canais de Youtube. Nas eleições para prefeito de 2010, o Twitter continou a provocar uma impacto relativo maior que o Facebook, embora o número de usuários não tenha mais sido o maior. Por fim, o Facebook ultrapassa o twitter no pleito de 2014, sendo a midia social mais utilizada tanto em termos do percentual de candidatos que utilizaram esta mídia quanto do número médio de seguidores que cada um tem online. Outra forma de avaliar a importância que as campanhas eleitorais têm dado às ferramentas digitais enquanto recurso de comunicação para atingir o eleitorado é verificar os gastos de campanha. Se a ferramenta realmente importa para aqueles que planejam como chegar ao eleitor e conquistar o seu voto, a lógica é que exista um investimento na área, a despeito deste ser um meio relativamente mais barato em comparação com demais mídias. Os dados que apresentaremos a seguir sobre esta questão são fruto de um trabalho de compilação de 17 diferentes bancos de dados fornecidos pelo TSE, que abarcam sete eleições52 brasileiras ao longo de 12 anos, de 2002 a 2014. Vamos começar analisando os valores globais a cada ano, a fim de demonstrar a crescente importância que a área ganhou ao decorrer do tempo. GRAFICO 5: GASTOS DE CAMPANHA EM INTERNET NAS ÚLTIMAS ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS E PROPORCIONAIS (2002 A 2014)

Fonte: elaboração própria, a partir dos dados do TSE 52

Agregamos, aqui, os gastos lançados em qualquer uma das três modalidades possíveis: “pelo candidato” “pelo comitê” e “pelo partido”. Para a análise em tela esta distinção é desnecessária. 113


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Percebe-se que os investimentos em internet pelas campanhas durante o período eleitoral acompanha o crescimento da área no Brasil, demonstrado pelos dados a respeito de sua utilização. Até 2008, este investimento era relativamente baixo e a campanha de 2010 é o ponto de virada, onde ocorre o maior salto quantitativo. Interessante notar que este crescimento ocorreu também para as campanhas municipais (crescimento de mais de 3 vezes de 2012 em relação a 2008), embora naturalmente as campanhas locais tenham menos recursos do que as campanhas nacionais. Os dados sobre 2014 são ainda interessantes por registrar uma marca impressionante: na soma de todos os candidatos foram gastos quase R$ 50 milhões de reais (R$ 49.344.709,37, para ser preciso) apenas com os itens relacionados a “internet”. Se lembrarmos daquele argumento que esta é uma mídia substancialmente mais barata do que suas alternativas, este número é impressionante – embora seja apenas 1% do total de R$ 5 bilhões de reais gastos na campanha eleitoral daquele ano. A seguir, vamos demonstrar, por meio dos dados separados por cargo, que, embora a maior parte destes recursos venha das campanhas presidenciais, a utilização se dá em todas as frentes. GRAFICO 6: GASTOS DE CAMPANHA EM INTERNET POR CARGOS

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do TSE 114


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Naturalmente, as campanhas majoritárias (presidente, governador e prefeito) utilizam mais as ferramentas de internet, mas os valores para deputados estaduais e federais não ficam a dever. Curiosamente, os candidatos a senador gastam menos com internet do que os a deputado federal, indicando algum tipo muito peculiar de campanha eleitoral para este cargo. Ainda é importante pontuar sobre este gráfico o altíssimo investimento realizado pelos candidatos a prefeito em 2012, que supera em valor absoluto o de governadores em 2014. Isto é uma importante evidência de que a internet como ferramenta de campanha é utilizada também na esfera local e municipal. O gráfico a seguir versa sobre a divisão regional dos gastos com estas ferramentas e pode nos dizer muitas coisas sobre a tese da diminuição do digital divide regional.

GRAFICO 7: GASTOS DE CAMPANHA EM INTERNET POR REGIÃO

Fonte: elaboração própria, a partir dos dados do TSE

Estes dados corroboram outros apresentados neste artigo, com o mesmo movimento. Como se percebe na evolução histórica, até 2008 apenas sudeste e sul se destacavam na área. Em 2010, o nordeste já apresenta o mesmo nível de investimento em internet do que o sul, embora norte e centro-oeste ainda estejam atrás. O grande salto 115


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

acontece em 2014. O nordeste apresenta quase o triplo de investimento em internet do que o sul, ao passo que norte e centro-oeste investem no mesmo patamar. É bem verdade que o sudeste continua sendo a região que mais gasta com a área, mas é preciso relativizar que os custos das campanhas em alguns estados desta região são superiores aos demais estados, refletindo o alto custo de vida (e de campanha) de estados como São Paulo ou Rio de Janeiro. De qualquer forma, esta é outra clara evidência da diminuição drástica do digital divide brasileiro, ao menos no que toca ao uso da internet pelas campanhas eleitorais. Se no passado algum tipo de senso comum poderia acreditar que estados e regiões que estas ferramentas não importariam nem eram utilizadas em estados com menor desenvolvimento econômico, os dados de 2014 estão aí para desfazer esta crença. Em estudos anteriores (BRAGA, 2013), analisando as eleições municipais de capitais brasileiras de 2012, as mídias sociais tiveram baixa correlação com a votação final, não sendo boas preditoras dos resultados eleitorais dos candidatos. Nós questionamos, aqui: será que o mesmo se repete quando tratamos de eleições a nível estadual ou, neste caso, a relação é mais intensa? A seguir, apresentamos os resultados a partir dos quais podemos afirmar que, nas eleições para governador e senador, ao contrário do nível municipal, existe uma correlação positiva de nível moderado. Testamos como variável dependente um índice de presença no Facebook, construído a partir dos likes na fanpage e do campo “pessoas falando sobre isso”, disponibilizado pelo próprio Facebook. Na primeira tabela, testamos a correlação tanto com a votação final total quanto com a votação percentual obtida. Embora a votação tenha sido a mais significativa, nos testes seguintes utilizamos a votação percentual por ser o método mais correto de estabelecer um parâmetro comparativo entre os candidatos, além de podermos dialogar com a literatura que já utiliza esta variável. TABELA 2: CORRELAÇÃO ENTRE INDICE DE PRESENÇA NO FACEBOOK E VOTAÇÃO. Correlações Cargo

Índice de

Votação final

Votação

presença FB Correlação de Pearson GOVERNADOR

percentual 1

Sig. (2 extremidades) N

165

,567

**

,361

**

,000

,000

165

165

116


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Correlação de Pearson SENADOR

1

,484

Sig. (2 extremidades) N

167

**

,375

**

,000

,000

167

167

**. A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades).

Fonte: elaboração própria, a partir dos dados do TSE

TABELA 3: COEFICIENTES DE REGRESSÃO ENTRE ÍNDICE DE PRESENÇA NO FACEBOOK E VOTAÇÃO Cargo

Coeficientes não

Coeficientes

padronizados

padronizados

B (Constante) GOVERNADOR

Votação (percentual) (Constante)

SENADOR

Votação (percentual)

Erro padrão

10443,327

8777,459

1665,909

337,453

-12479,076

12820,884

2580,195

496,596

t

Sig.

Beta

,361

,375

1,190

,236

4,937

,000

-,973

,332

5,196

,000

Fonte: elaboração própria, a partir dos dados do TSE

GRAFICO 8- DIAGRAMAS DE DISPERSÃO: VOTAÇÃO DOS CANDIDATOS x RESULTADO ELEITORAL.

117


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Fonte: elaboração própria, a partir dos dados do TSE

Como podemos perceber por meio do r2 nos gráficos (em .130 para governadores e .141 para senadores) existe uma correlação fraca entre os dois fenômenos. Embora não seja um valor alto, comparativamente, é maior do que a literatura prévia havia encontrado. Acreditamos que dois fatores são importantes para explicar estes níveis acima do apontado anteriormente. Primeiro, a validade do campo “pessoas falando sobre isso” – introduzido pela plataforma Facebook em meados de 2013 –, que contribuiu para que as correlações fossem mais altas do que se considerados apenas os seguidores. Isto implica em afirmar que ter visibilidade na plataforma é mais importante do que apenas o número total de seguidores e um melhor preditor. Segundo, por as eleições majoritárias de nível estadual atraírem mais atenção midiática (somado a um possível efeito da polarização ideológica ocorrida em 2014 no nível presidencial), as pessoas potencialmente tendem mais a apoiar publicamente (seguir no Facebook) candidatos a cargos de maior visibilidade (governador, senador) do que aqueles de nível municipal. Por fim, podemos abordar um ponto final. Alguém poderia argumentar que a simples conexão (ter seguidores) não implicaria em necessária conexão e interação entre as fanpages e usuários de mídias sociais. Por isso, coletamos por meio de softwares 118


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

específicos todas as interações realizadas durante o primeiro turno das eleições de 2014, nas fanpages de 140 candidatos a governador presentes no Facebook. O gráfico a seguir mostra os resultados divididos por mês e região. GRÁFICO 9: SOMA DAS INTERAÇÕES REALIZADAS NO FACEBOOK DE 140 CANDIDATOS A GOVERNADOR DURANTE A CAMPANHA ELEITORAL DE 2014

Fonte: elaboração própria

Duas conclusões podemos tirar disto. Primeiro, as pessoas passam a dar mais atenção aos políticos na reta final de campanha, em setembro. Segundo, esta é outra prova contundente daquilo que estamos argumentando neste texto: a redução do digital divide brasileiro. Embora o sudeste tenha índices elevados desde julho, nos últimos dias de campanha o nordeste tantas interações quanto – e muito superior às demais regiões, como o sul. Baseado nisto e nos dados sobre gastos de campanha, o nordeste parece apresentar uma tendência para ocupar, junto com o sudeste, o posto das regiões com maior utilização destas ferramentas.

4. Conclusões

Vimos neste artigo alguns dados empíricos sobre o uso da internet nas campanhas eleitorais no Brasil. O primeiro ponto a ser observado é o de que, não obstante o ceticismo inicialmente observado por alguns analistas no tocando à utilização das tecnologias digitais nas eleições, estas tornaram-se uma plataforma de campanha 119


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

amplamente difundida entre os candidatos, com praticamente todos os candidatos com alguma presença online. Nesse sentido, Twitter e Facebook foram um divisor de águas na história dos padrões de interação online entre candidatos e cidadãos: ao reduzir os custos operacionais e técnicos de possuir uma plataforma online, tornando possível a qualquer cidadão

leigo

ter um

perfil e

interagir online,

tais ferramentas praticamente

universalizaram o uso das tecnologias digitais como ferramenta de campanha e de interação online entre cidadão e elites políticos. Entretanto, como é evidente, nem todos optam por estar online e, para os que estão online, observamos diferentes padrões empíricos de interação. A nosso ver, o fenômeno chave a ser explicado é porque houve o decréscimo de websites, twitter e youtube, enquanto o Facebook se manteve constante. Os dados permitem levantar algumas hipóteses, mencionadas acima. A nosso ver, além da difusão das mídias no mundo off-line, há uma razão mais substantiva para seu uso desigual: os estrategistas de campanha preferem se "comunicar através dos convertidos" do que uma "comunicação direta com o eleitor". Por isso não usam ou usam pouco o twitter, exceto em alguns países onde o uso do twitter ainda é maior (e mais intenso) do que o do Facebook. Seja como for, os resultados agregados líquidos de nossa pesquisa, sintetizados no Anexo a este paper, aprontam para uma evolução de um padrão mediano “protoweb com baixo grau de interatividade e mecanismos top down de e-campanha”, no pleito de outubro de 1998, para a difusão de um “estágio pós-web de e-campanha com alto grau de interatividade”, conforme procuraremos demonstrar com outros estudos que se seguirão a este paper.

120


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

ANEXO: PERIODIZAÇÃO SOBRE ELEIÇÕES E INTERNET NO BRASIL COM INDICAÇOES BIBLIOGRÁFICAS DE ESTUDOS EXEMPLARES.

ANO ELEIÇÕES

CARACTERÍSTICAS

PRINCIPAIS INOVAÇÕES E

GERAIS DO PLEITO

EVENTOS ASSOCIADOS À INTERNET

2014: Eleições para

- Ascensão dos pequenos

- Facebook torna-se a

presidente, governos

partidos de direita e

principal ferramenta de

estaduais, 1 senador,

fragmentação do sistema

campanha e de organização

deputados federais e

partidário. Derrota do PT e

do debate público na internet;

estaduais

dos partidos de esquerda nas

- Websites se tornam menos

eleições proporcionais.

frequentes, menos interativos e mais pobres, sendo produtores de conteúdos a serem difundidos em mídias sociais; - Amplos debates no twitter sobre temas de campanha

2012: eleições para prefeitos

- Vitória da situação e de

- Padrão web avançado e

e vereadores

partidos aliados à base

pós-web primitivo, com uso

governista nas eleições.

de mídias sociais com baixo

Todos os prefeitos se

grau de interatividade e baixo

reelegem, exceto Luciano

potencial mobilizador;

Ducci (PSB) em Curitiba. 2010: Eleições para

- Dilma Rousseff (PT) eleita

-

presidente, governos

presidente derrotando José

restrições legais ao uso das

estaduais, 2 senadores,

Serra(PSDB)

mídias sociais no Brasil, com

deputados federais e

-

estaduais

situação.

Momento

favorável Maioria

governadores é reeleita.

à dos

Primeira

várias

eleição

sem

experiências

inovadoras. -

Marina

Silva

utiliza

intensamente a internet nos pleitos

eleitorias

obtendo

18% dos votos válidos - Uso de twitter por José Serra e demais candidatos; O twitter é a ferramenta de interação preferida do twitter. - Padrão "web" avançado, 121


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

com

websites

sofisticados

e

Experiências

mais

interativos. "pós-web"

iniciais. - Iniciativas de controle civil online (Sampaio, 2012) 2008: eleições para prefeitos

- Experiência de Barack

- Padrão web mais avançado

e vereadores

Obama nos EUA. Início de

(4/5)

um padrão "pós-web",

- No Brasil, destacam-se as

altamente mobilizador e

experiências de Gilberto

interativo de uso das mídias

Kassab (PFL) e Fernando

sociais

Gabeira (PV) no uso da

- PT sofre algumas derrotas

internet (Braga, 2010).

importantes em eleições

- Uso da internet em escala

muncipais, tais como São

subnacional caracteriza-se

Paulo.

por padrões tradicionais, veiculando práticas de natureza clientelista (Braga, 2013) - Primeiras experiências de participação digital on-line e de "falas cidadãs"

2006: eleições para

- Lula é reeleito na onda do

- Padrão Web intermediário

presidente, governos

crescimento econômico e o

(2). Algumas midiais sociais

estaduais, 1 senador,

PT recupera-se do escândalo

como o Orkut passam a ser

deputados federais e

do mensalão, elegendo a

utilizadas,

estaduais

maior bancada na Câmara

processos de discussão e

dos Deputados.

deliberação

mas

sem

muito

aprofundados. 2004: eleições para prefeitos

- Esquerda ganha as eleições

- Padrão Web primitivo. -

e vereadores

para prefeito em cidades

Estratégias persuasivas de

importantes, como São

Raul Pont e José Fogaça

Paulo, embora sofra o

(Martins, 2006).

desgaste do "escandalo do mensalão". 2002: eleições para

- Lula (PT) é eleito presidente

- Padrão Web primitivo (1) .

presidente, governos

da República derrotando

Destaque para o site de Lula

estaduais, 2 senador,

José Serra (PSDB).

e do Instituto Cidadania.

deputados federais e

Ascensão de governos

Apesar do site primitivo, teve

estaduais

estaduais de centro-esquerda

1.3 milhões de acessos 122


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

- Estágio web de campanha

únicos e 13 milhões de

eleitoral. A maioria dos

acessos durante a

candidatos à presidência usa

campanha.

websites de campanha, embora com poucas ferramentas de interatividade. 2000: eleições para prefeitos

-

Marta

e vereadores

prefeita

Suplicy de

derrotando

elege-se

- Padrão web primitivo de e-

São

Paulo

campanhas. Websites pouco

Paulo

Maluf.

informativos e interativos,

Ascensão dos partidos de

personalização da

esquerda

comunicação política e fluxos

nos

pleitos

municipais, crise do modelo

de comunicação "top down"

de

(Carneiro, 2006) [cf.]

desenvolvimento

"neoliberal" e da bancada governista do governo FHC 1998: eleições para

- FHC (PSDB) é reeleito

- Estágio proto-Web:

presidente, governos

presidente da República no

primeiras experiências de uso

estaduais, 1 senador,

Brasil. Vários

da internet nas eleições no

deputados federais e

Brasil, com sites estáticos e

estaduais

sem mecanismo de interatividade (Steffen, 2002). - Resolução n.º 20.106 do TSE começa a regulamentar o uso da internet nas campanhas eleitorais, estabelecendo várias restrições a seu uso. Propaganda pode ser feita apenas nos websites e não em outras redes.

1996: eleições para prefeitos

- Sem registro do uso da

- Estágio pré-web de

e vereadores

internet nas campanhas

campanha.

eleitorais brasileiras. 1994: eleições para

- primeiras experiências de

- Estágio pré-web de

presidente, governos

uso da internet nos EUA

campanha.

estaduais, 1 senador,

- FHC (PSDB)é eleito

Predomínio das mídias

deputados federais e

presidente no Brasil. Sem

tradicionais.

estaduais

registro do uso de internet nas campanhas eleitorais 123


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

brasileiras. 1989: eleições para

- Collor (PRN) é eleitor

- Amplo predomínio das

presidente, governos

presidente.

mídias tradicionais na

estaduais, 1 senador,

campanha eleitoral.

deputados federais e estaduais ANO ELEIÇÕES

CARACTERÍSTICAS

PRINCIPAIS INOVAÇÕES E

GERAIS DO PLEITO

EVENTOS ASSOCIADOS À INTERNET

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGGIO, C. (2010). Campanhas online: o percurso de formação das questões, problemas e configurações a partir da literatura produzida entre 1992 e 2009. Opinião Pública, 16(2), 426-445. AGGIO, Camilo . Dos websites aos media sociais: apontamentos sobre os recursos e práticas de publicidade das campanhas eleitorais nos ambientes digitais. In: Wilson Gomes e Lucas Reis. (Org.). Publicidade Digital - Formatos e tendências da nova fronteira publicitária. 1ed.Salvador: P&A, 2011, v. 1, p. 19-43. AGGIO, Camilo . Internet, Eleições e Participação: Questões-chave acerca da participação e do ativismo nos estudos em campanhas online. In: Rousiley Celi Moreira Maia, Wilson Gomes e Fracisco Paulo Jamil Almeida Marques. (Org.). Internet e Participação no Brasil. 1ed.Porto Alegre: Meridional/Sulina, 2011, v. 1, p. 175-193. AGGIO, Camilo ; MARQUES, F.P.J.A ; SAMPAIO, R.C . Campanhas Online, Participação Política e Esfera Pública: O Caso do Plano de Governo Colaborativo nas Eleições Brasileiras de 2010. In: João Carlos Correia; Rousiley C. Maia. (Org.). Public Sphere Reconsidered: Theories and Practices. 1ed.Covilhã: Livros Labcom, 2011, v. 1, p. 3-21 AGGIO, Camilo ; REIS, Lucas . Campanha Eleitoral no Facebook: usos, configurações e o papel atribuído a este site por três candidatos eleitos nas eleições municipais de 2012. In: Alessandra Aldé; Francisco Paulo Jamil Marques. (Org.). Internet e Poder Local. 1ed.Salvador: Edufba, 2015, v. 1, p. 49-78. AGGIO, Camilo ; REIS, Lucas . Campanha eleitoral no Facebook: usos, configurações e o papel atribuído a esse site por três candidatos eleitos nas eleições municipais de 2012. Revista Compolitica, v. 3, p. 155-188, 2013. AGGIO, Camilo. (2014). Campanhas Políticas e Sites para Redes Sociais: Um estudo sobre o uso do Twitter na eleição presidencial brasileira de 2010, Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporânea (Conceito CAPES 5). Universidade Federal da Bahia, UFBA, Brasil ALDÉ, A. (2011). Cidadãos na Rede: tipos de internautas e sua relação com a informação política online. Contemporanea (UFBA. Online), v. 9, p. 370-389, 2011. ALDÉ, A. ; BORGES, Juliano . Internet, the press and Brazilian elections: agenda-setting on real time. Journal of Systemics, Cybernetics and Informatics, Orlando (EUA), v. 4, n.7, p. 61-66, 2006. ALDÉ, A. ; BORGES, Juliano. (2004). Internet, imprensa e as eleições de 2002: pautando notícias em tempo real. Logos (Rio de Janeiro), Rio de Janeiro, v. 21, 2004. 124


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

ALDÉ, A. ; CHAGAS, Viktor ; ESCOBAR, Juliana. (2007). A febre dos blogs de política. Revista FAMECOS (Impresso), v. 33, p. 34, 2007. ALDÉ, A.(2013). Campanhas eleitorais caem na rede. PMKT: Revista Brasileira de Pesquisas de Marketing, Opinião e Mídia, v. 2013, p. 40-41, 2013. ALDÉ, A; BORGES, J. (2004). Internet, imprensa e as eleições de 2002: pautando notícias em tempo real. Revista Logos, 21, 107-133. Azerite, R. (2014). Primeiros passos para campanhas políticas em redes sociais. Ebook: Skup Ideas. BARROS FILHO, C.; COUTINHO, M.; SAFATLE, V. (2007). Os usos das novas mídias na campanha presidencial de 2006. In LIMA, V. (org.). A mídia nas eleições de 2006. São Paulo, Brazil: Editora da Fundação Perseu Abramo. BEAUDOIN, C. E. (2008). The internet's impact on international knowledge. New Media and Society, 10(3), 455-474. BIMBER, B.; DAVIS, R. (2003). Campaigning on-line: the internet in U. S. elections. Oxford, England: Oxford University Press. BLANCO, V. S. (2011) (org). Cibercampaña. Cauces y diques para la participación. Madrid, Spain: Editorial Complutense. BORGES, Juliano. (2009). Webjornalismo político e a cobertura online das eleições presidenciais de 2002. Matrizes (Online), v. 2, p. 207-225, 2009. BRAGA, S. (2007). O papel das TICs na institucionalização das democracias: um estudo sobre a informatização dos órgãos legislativos na América do Sul com destaque para o Brasil. Brasília, Brazil: Plenarium/CEDI. BRAGA, S. (2010). Podemos ter um(a) nov@ Obama? Perspectivas do uso da web no próximo pleito eleitoral brasileiro. Em Debate, 2, 10-18. BRAGA, S.; FRANÇA, A. S. T.; NICOLAS, M. A. (2009). Mecanismos de participação política e falas cidadãs nos websites dos candidatos a prefeito nas eleições de outubro 2008 nas regiões sul e sudeste do Brasil. In Proceedings of III Congresso da Associação de Pesquisadores em Comunicação e Política. São Paulo, Brazil. BRAGA, S.; NICOLAS, M. A.; FRANÇA, A. S. T. (2011). Uso da internet e oportunidades de participação política virtual nas eleições municipais de outubro de 2008 no Brasil. Revista Debates (UFRGS), 5, 117-144. BRANDÃO JR., F. A. F. (2008). Palanques virtuais: a campanha presidencial pela internet nas eleições de 2006. 224 f. Dissertação (mestrado em Ciência Política) - Instituto de Ciência Política, UnB/Universidade de Brasília. BRANDÃO, F.; BATISTA, C. M. (2007). Palanques virtuais: o uso de sites, e-mails e comunidades eletrônicas nas eleições de 2006. In Proceedings of 6º Encontro da ABCP, Unicamp, Campinas, Brazil. CAC. CONSELL DE L'AUDIOVISUAL DE CATALUNYA. (2009). Quarderns del CAC. Internet y la comunicación electoral, 33, 1-157. CARNEIRO, Leandro Oliveira. A eleição através do mouse: uma abordagem sobre o uso da Internet nas eleições municipais de Salvador em 2000. In: RUBIM, Antonio Albino Canelas (org.). Mídia e eleições 2000 em Salvador. Salvador, Edições Facom, 2002. 125


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

CERVI, E. U.; MASSUCHIN, M. G. (2011). O uso do twitter nas eleições de 2010: o microblog nas campanhas dos principais candidatos ao governo do Paraná. Contemporanea (UFBA), 9, 174-189. CHADWIK, A.; HOWARD, P. (2008). A handbook of internet and politics. London, England: Routledge. CHAIA, Vera. As novas formas de participação política e as comunidades on line: um estudo do Orkut. 3 o Congresso Latino-Americano de Ciência Política – ALACIP, UNICAMP, setembro de 2006. CHAIA, V. (2007). Internet e eleições: as comunidades políticas no orkut nas eleições de 2006. Logos Comunicação e Universidade, 27, 1-14. COHEN, J. (1996). Procedure and substance in deliberative democracy. In BENHABIB, S. Democracy and difference: contesting the boundaries of political (pp. 95-119). Princeton, United States: Princeton University Press. CORNFIELD, M. (2004). Politics moves online: campaigning and the internet. Washington, United States: Century Foundation Press. CORREIA, J. C.; MAIA, R. C. (Eds.) (2011). Public sphere reconsidered: theories and practices. Covilhã, Portugal: LabCom Books. COUTINHO, M.; SAFATLE, V. (2009). A internet e as eleições municipais em 2008: o uso dos sítios eletrônicos de comunidades na eleição paulistana. Revista de Sociologia e Política, 17(34), 115-128. COUTINHO, M.; SAFATLE, V. A internet e as eleições municipais em 2008: o uso dos sítios eletrônicos de comunidades na eleição paulistana. In: Revista de Sociologia e Politica, vol.17, n.34, pp. 115-128. 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010444782009000300009&script=sci_arttext. Acesso em: 04 fev. 2011. FERBER, P.; FOLTZ, F; PUGLIESE, R. (2007). Cyberdemocracy and online politics: a new model of interactivity. Bulletin of Science, Technology & Society, 27(5), 391-400. FERNANDEZ, R. G. (2005). Campanhas eleitorais na internet. 136f. Dissertação (Mestrado em GOMES, W. et al. (2009). “Politics 2.0”: a campanha online de Barack Obama em 2008. Revista de Sociologia e Política, 17(34), 29-45. GOMES, W.; AGGIO, C. (2009). Campanhas online: o percurso de formação das questões, problemas e configurações a partir da literatura produzida entre 1992 e 2009. In Proceedings of I Seminário Nacional Sociologia e Política UFPR, Curitiba, Brazil. HABERMAS, J. (1992). Further reflections on the public sphere. In CALHOUN, C. Habermas and the public sphere (pp. 421-461). Boston, United States. IASULAITIS, S. (2007). Internet e propaganda política no Brasil: limites e possibilidades. Estudos de Sociologia, 12 (23), 153-172. IASULAITIS, Sylvia .(2013). Modalidades de participação política em websites eleitorais: uma análise de fóruns de discussão com uma proposta metodológica.. In: MARQUES, F.J; AGGIO, C.; SAMPAIO, R.. (Org.). Do clique à urna: Internet, Redes Sociais e Eleições no Brasil. 1ed.Salvador: EDUFBA - Editora da Universidade Federal da Bahia, 2013, v. , p. 1-30. IASULAITIS, Sylvia ; NEBOT, Carmen Pineda. (2013). Websites electorales como instrumentos para el cibermarketing, el voto informado o la participación ciudadana?. Más Poder Local, v. 18, p. 34-45, 2013. 126


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

IASULAITIS, Sylvia. (2007). As agendas de notícias dos websites eleitorais e as estratégias persuasivas empregadas pelos candidatos do PT e do PSDB à presidência. In: Queiroz, A; Manhanelli, C e Barel, M.S.. (Org.). Marketing político: dos comícios à Internet. São Paulo: Cátedra UNESCO de Comunicação para o Desenvolvimento Regional; ABCOP, 2007. IASULAITIS, Sylvia. (2012). MODALIDADES DE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA EM WEBSITES ELEITORAIS: UMA ANÁLISE DE FÓRUNS DE DISCUSSÃO COM UMA PROPOSTA METODOLÓGICA. Revista Debates (UFRGS), v. 6, p. 173-200, 2012. IRELAND, E.; NASH, P. T. Winning campaigns on-line: strategies for candidates and causes. Unites States: Science Writers, 2001. LILLEKER, D.; JACKSON, N. (2009). Interacting and representing: can Web 2.0 enhance the roles of an MP?. In ECPR Joint Sessions, Lisbon, Portugal. MAIA, R. C. M. (2008). A democracia e a internet como esfera pública virtual: aproximação às condições da deliberação. In GOMES, W.; MAIA, R. C. M. (orgs.) Comunicação e democracia: problemas e perspectivas (pp. 277-292). São Paulo, Brazil: Paulus. MARQUES, F. J. P.; SILVA, F. W. O. ; MATOS, N. R. (2011). Estratégias de comunicação política online: uma análise do perfil de José Serra no twitter. In Proceedings of 35º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), Caxambu, Brazil. MARQUES, F.P.J.A ; SAMPAIO, R.C ; AGGIO, Camilo . Do clique à urna: Internet, redes sociais e eleições no Brasil. 1. ed. EDUFBA, 2013. MCMILLAN, S. J. (2002). A four-part model of cyber-interactivity. New Media & Society, 4(2), 271291. NORRIS, P. (2001). Digital divide: civic engagement, information poverty, and the internet worldwide. Cambridge, England: Cambridge University Press. PARKING, M. (2007). Congressional campaigns in cyberspace and the effect of presentation technology on website wisitors. In Annual meeting of the Midwest Political Science Association, Chicago, United States. PENTEADO, C. L. C. ; SANTOS, M. B. P. ; ARAUJO, R. P. A. . Metodologia de pesquisa de blogs de política: análise das eleições presidenciais de 2006 e do movimento "cansei". Revista de Sociologia e Política (UFPR. Impresso), v. 17, p. 159-181, 2009. PENTEADO, C. L. C. ; SANTOS, M. B. P. ; SEGURADO, Rosemary ; ARAUJO, R. P. A. ; MARTINHO, S. G. . O uso da internet nas eleições municipais de São Paulo de 2008. Em Debate (Belo Horizonte), v. 5, p. 30-36, 2010. PENTEADO, C. L. C. . Facebook e a campanha eleitoral digital. Em Debate (Belo Horizonte), v. 4, p. 41-53, 2012. PENTEADO, C. L. C. ; SANTOS, M. B. P. ; SEGURADO, Rosemary ; ARAUJO, R. P. A. ; MARTINHO, S. G. . O uso da internet nas eleições municipais de São Paulo de 2008. Em Debate (Belo Horizonte), v. 5, p. 30-36, 2010. PENTEADO, C. L. C. ; GOYA, D. H. ; FRANÇA, F. O. . O debate político no twitter nas eleições presidenciais de 2014 no Brasil. Em Debate (Belo Horizonte), v. 6, p. 47-54, 2014. PUOPOLO, S. T. (2007). The web and U.S. senatorial campaigns 2000. American Behavioral Scientist, 44, 2030-2045. 127


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

RÖMMELE, A. (2003). Political parties, party comunnication and new information and comunication technologies. Party Politics, 9 (1), 7-20. ROTHBERG, D. (2011). A sociedade em rede e suas razões para o voto: impactos da internet sobre a dimensão sociopolítica In Proceedings of the IV Congresso Latino Americano de Opinião Pública da WAPOR. Belo Horizonte, Brazil. SANTOS, M. B. P.; PENTEADO, C. L. C.; ARAUJO, R. P. A. (2009). Metodologia de pesquisa de blogs de política: análise das eleições presidenciais de 2006 e do movimento ‘cansei’. Revista de Sociologia e Política, 17 (34), 159-181. Silva, F. C. G. (2012). A Propaganda Eleitoral pela Internet. Série Aperfeiçoamento de Magistrados 7tCurso: “1º Seminário de Direito Eleitoral: Temas Relevantes para as Eleições de 2012”. STEFFEN, César. Espaços digitais e visibilidade política: algumas considerações sobre a Internet na campanha presidencial brasileira de 2002. Disponível: http://bocc.ubi.pt/index.php3. Acessado em 2003. TEIXEIRA, T. (2010). Web 2.0, políticos e cidadãos: riscos e oportunidades para a democracia. In Proceedings of 7º Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política. Recife, Brazil. TRIPPI, J. (2004). The revolution will not be televised: democracy, the internet, and the overthrow of everything. New York, United States: Regan Books. TSE. TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Resolução nº 22.718. Brasília, Brazil. WRIGHT, S.; J. STREET (2007). Democracy, deliberation and design: the case of online discussion forums. New Media & Society, 9(5), 849-869. YOUNG, I. M. (1996). Communication and the other: beyond deliberative democracy. In BENHABIB, S. Democracy and difference: contesting the boundaries of political (pp. 120-135). Princeton, United States: Princeton University Press.

128


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NA GOVERNANÇA DA INTERNET: Do direito à privacidade ao direito à participação Thaíse Kemer53

RESUMO O objetivo do trabalho é analisar os princípios defendidos pela política externa brasileira relativamente ao direito à privacidade na era digital e à democratização da da Internet. Essas temáticas ganharam novo destaque em junho de 2013, quando foram noticiadas revelações de espionagem realizadas pelos Estados Unidos em correspondências de diversos chefes de Estado, entre os quais a Presidenta Dilma Rousseff, bem como em empresas do Brasil. Para alcançar essas metas, o artigo será dividido em três seções, que versão sobre: (1) a evolução do conceito de governança da Internet; (2) a Governança da Internet na Política Externa Brasileira e; (3) o direito à privacidade. Na conclusão, argumenta-se que a diplomacia brasileira tratou o caso da espionagem de forma produtiva, buscando tanto defender o direito à privacidade quanto propondo formas mais democráticas e inclusivas para a participação dos cidadãos e dos países na governança da Internet.

Palavras-chave: Política Externa Brasileira; Privacidade; Governança da Internet.

Introdução Num mundo crescentemente globalizado, a Internet, ao interconectar diferentes culturas, desafia uma ordem mundial baseada exclusivamente na soberania estatal e nas fronteiras geográficas, e cria novas arenas de atuação internacional para o Brasil (LUCERO, 2011, p. 11). Uma das ilustrações mais recentes desse fenômeno pode ser encontrada nas denúncias de espionagem noticiadas pela imprensa internacional em junho de 2013, segundo as quais os Estados Unidos violaram correspondências de diversos Chefes de Estado, entre os quais a Missão Permanente do Brasil junto às Nações Unidas e a Presidenta do Brasil Dilma Rousseff (PLANALTO, 2013). Nesse contexto, considerando-se que o tema da governança da Internet motivou um crescente esforço político internacional do Brasil, o ponto de partida para a discussão é discussão sobre a evolução do conceito de governança da Internet, bem como da relevância desse conceito para a Política Externa Brasileira. Em seguida, será analisado o direito à privacidade e sua relação com a política externa brasileira e com a democratização da governança da Internet. 53

Thaíse Kemer é mestranda em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais (NEPRI/UFPR). Email: thaise.kemer@gmail.com. 129


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

1. A evolução do conceito de governança da Internet A compreensão do conceito de governança da Internet na contemporaneidade pode ser enriquecida mediante uma breve digressão ao contexto que assistiu ao nascimento dessa tecnologia. De acordo com Kurbalija (2005), a Internet começou como uma iniciativa governamental quando, no final da década de 1960, os Estados Unidos criaram a Rede da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada do Departamento de Defesa (DARPANet), cujo objetivo era a concepção de uma forma de comunicação capaz de resistir a possíveis ataques nucleares (KURBALIJA, 2005, p.10-15). Nesse sentido, o caráter intrinsecamente descentralizado da rede era compatível com o cenário internacional da Guerra Fria, uma vez que seria uma forma de evitar a perda de dados que poderia advir de eventuais ataques a pontos do sistema. Apesar de ter sido gestada na esfera governamental, a Internet teve um caminho diverso de outras tecnologias, pois prescindiu, em seus primórdios, de um planejamento governamental centralizado (KURBALIJA, 2005, p.10). Nas palavras de Kleinwächter (2007): Enquanto inovações tecnológicas mais antigas, como o telégrafo ou a transmissão por rádio, em princípios do século XX foram imediatamente objeto de regulação governamental na forma de leis de telecomunicações e de transmissão, não houve atividades governamentais comparáveis quando da emergência da Internet. A regulamentação necessária era principalmente de natureza técnica e feita por técnicos, provedores e usuários da Internet (KLEINWÄCHTER, 2007, p. 41).

Nesse contexto, e de forma aparentemente paradoxal, a expressão que se consolidou para a Internet, tecnologia gestada com grande impulso do governo americano, não foi o termo “Governo”, mas, sim, “Governança”, introduzido na década de 1980 e utilizado para designar, principalmente, a gestão técnica dos recursos centrais para o funcionamento da Internet, como nomes de domínio, endereços IP, o sistema do servidor raiz e protocolos de Internet (KURBALIJA, 2005, p.10). A partir daí, o uso da Internet progressivamente se ampliou para outros usuários, ao ponto de haver a fundação, em 1986, da Força-Tarefa da Engenharia da Internet (IETF), uma comunidade de designers de rede, operadores, vendedores e pesquisadores preocupados com a evolução da arquitetura e da operação da Internet (IETF, 2014). Na esteira desse processo, oobservaramm-se as primeiras iniciativas com vistas à centralização do processo de planejamento para a Internet. Nesse sentido, em 1993, a Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos (NSF) terceirizou o desenvolvimento 130


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

do Sistema de Nomes de Domínio (DNS) para a Network Solutions Inc. (NSI), empresa de consultoria de tecnologia fundada em 1979 no Estado da Virgínia, nos Estados Unidos. Com isso, a Network Solutions tornou-se a primeira e única registradora de nomes de domínio até 1999, quando a indústria de nomes de domínio foi aberta à competição (NETWORKSOLUTIONS, 2015). Conforme Kurbalija (2005, p.10; 2007, p. 197 - 198), essa iniciativa dos Estados Unidos desencadeou uma verdadeira “Guerra dos DNS”, uma vez que entidades internacionais, como a Internet Society54, buscaram, por anos, que a gestão do DNS retornasse ao domínio público. Na esteira desse processo, é criada, em 1998, a ICANN (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers) uma organização sem fins lucrativos que coordena as funções da IANA (Internet Assigned Numbers Authority), as quais se relacionam a serviços técnicos críticos para o funcionamento da Internet, como é o caso do Sistema de Nomes de Domínio (DNS) (ICANN, 2012). Segundo Kurbalija (2007), com a criação da ICANN, a Internet Society logrou um maior controle público da gestão do DNS; no entanto, segundo o autor, os interesses dos Estados nacionais e da comunidade da Internet permaneceram os pontos fracos da governança da ICANN 55 (KURBALIJA, 2007, p. 198). Do seio desse debate emerge, portanto, um crescente interesse por parte dos governos sobre a temática da Governança da Internet. Nesse sentido, do ponto de vista das relações internacionais, é relevante destacar a analisar de Marques e Pinheiro (2013), as quais enfatizam que a informação pode ser utilizada como um recurso de poder por determinados países, os quais podem deter: “… o controle das tecnologias de informação e comunicação e da própria informação, como forma de exercício de poder” (MARQUES E PINHEIRO, 2013, p. 117). Corroborando essa argumentação, ABDENUR (2014) recorda que, não obstante a ICANN ser uma organização sem fins lucrativos, argumentase que sua localização nos Estados Unidos - e, portanto, sua submissão ao direito

54

A Internet Society é uma associação sem fins lucrativos, criada em 1992, com atuação internacional, que tem por objetivo promover liderança no desenvolvimento dos padrões Internet, bem como fomentar iniciativas educacionais e políticas públicas ligadas à rede mundial entre computadores (ISOC, 2015). 55 De acordo com a revista The Economist (2014), em março de 2014, o Departamento de Comércio Americano, ao qual a ICANN está submetida, afirmou que pretendia acabar com seu papel na gestão do DNS até, preferencialmente, setembro de 2015. No entanto, conforme aponta a publicação, para a autora do livro “The Global War for Internet Governance”, Laura DeNardis, da Universidade Americana de Washington, a gestão dos nomes e números, ainda que seja uma parte crítica da governança da Internet, constitui apenas um de seus aspectos, a qual deve considerar também tanto a míriade de organizações que trabalham no tema quanto o enfrentamento de desafios crescentes à liberdade de expressão e aos direitos de propriedade intelectual (ECONOMIST, 2014). 131


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

norteamericano - pode possibilitar a esse país uma vantagem competitiva no que concerne à Internet. Essa discussão propiciou o terreno fértil para que o tema fosse incluído no contexto das conferências realizadas no seio das Nações Nações Unidas. Nesse sentido, em 2003 é realizada a Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, a qual é realizada em duas fases, a saber: (i) em Genebra, na Suíça, de 10 a 12 de dezembro de 2003, com o objetivo de desenvolver as fundações de uma Sociedade da Informação para todos; (ii) em Tunis, na Tunísia, de 16 a 18 de novembro de 2005, com o propósito de por em prática o Plano de Ação de Genebra, bem como outros acordos e mecanismos de financiamento na área de governança da Internet (WSIS, 2005a). De acordo com Lucero (2011, p. 76 - 80), a Agenda de Tunis, documento emanado por ocasião da segunda fase, deu publicidade ao conceito de governança da Internet que pauta as atividades internacionais contemporâneas nessa temática: Governança da Internet é o desenvolvimento e aplicação por governos, setor privado e sociedade civil, em seus respectivos papéis, de princípios comuns, normas, regras, processos decisórios e programas que moldam a evolução e o uso da Internet (WSIS, 2005).

Nota-se, portanto, que dos seus primórdios aos dias atuais, o conceito de governança da Internet ampliou-se para abranger uma multiplicidade crescente de atores. De acordo com a União Internacional de Telecomunicações, em 2012, 41,3% da população mundial estava conectada à Rede Mundial de Computadores, número que, conforme a instituição, só tende a crescer (ITU, 2013, p. 8). De fato, Oppermann (2012, p. 12) destaca que, na atualidade: (i) serviços de todos os tipos estão disponíveis na Internet, a qual pode ser acessada por um número cada vez mais significativo de equipamentos; (ii) cada vez mais serviços públicos passam ser fornecidos pelos Estados aos cidadãos por meio da Internet. Esse contexto torna a segurança uma questão central tanto ao nível individual quanto ao nível coletivo (OPPERMANN, 2012, p. 12), de forma que a participação dos Estados nas discussões sobre a Internet constitui característica inescapável das relações internacionais no século XXI. 2. A Governança da Internet na Política Externa Brasileira A preocupação com a democratização da governança da Internet reflete os anseios do governo brasileiro participar de forma proativa e propositiva do processo mais amplo descrito na seção anterior, no qual a Internet pode ser concebida não apenas como 132


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

instrumento central para o aprimoramento científico e tecnológico das sociedades modernas, mas também como oportunidade para a construção de uma ordem internacional inclusiva, em que todos os países tenham iguais oportunidades de acesso. Nesse sentido, a busca pela democratização da Internet pode ser compreendida a partir de uma perspectiva mais ampla da Política Externa Brasileira, a qual buscou, tradicionalmente, participar da elaboração das normas internacionais. A esse respeito, Cervo (2008, p. 27) descreve a valorização do multilateralismo normativo - que corresponde à construção de uma ordem internacional baseada em regras transparentes e emanadas de negociações multilaterais - como um dos padrões de conduta que compõem o acumulado histórico da diplomacia brasileira. A reação aos episódios de espionagem de 2013 evidencia um claro exemplo da busca, pela diplomacia brasileira, desse multilateralismo normativo, o qual é materializado por um novo ímpeto do protagonismo internacional do Brasil na governança da Internet (MRE, 2013a). Em discurso na 68º Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro de 2013, a Presidenta Dilma Rousseff enfatizou que as interceptações de comunicações nacionais constituíam, além de grave de violação dos direitos humanos e das liberdades civis, matéria que afeta a totalidade da comunidade internacional, na medida em que diz respeito a todos os cidadãos do mundo (PLANALTO, 2013). Nesse sentido, a Presidenta defendeu, na ocasião, o estabelecimento de mecanismos multilaterais para a rede mundial capazes de garantir princípios como: 1. Da liberdade de expressão, privacidade do indivíduo e respeito aos direitos humanos. 2. Da Governança democrática, multilateral e aberta, exercida com transparência, estimulando a criação coletiva e a participação da sociedade, dos governos e do setor privado. 3. Da universalidade que assegura o desenvolvimento social e humano e a construção de sociedades inclusivas e não discriminatórias. 4. Da diversidade cultural, sem imposição de crenças, costumes e valores. 5. Da neutralidade da rede, ao respeitar apenas critérios técnicos e éticos, tornando inadmissíveis restrições por motivos políticos, comerciais, religiosos ou de qualquer outra natureza. (PLANALTO, 2013).

À época do discurso, tais princípios não constituíam novidade para a legislação brasileira, uma vez que foram objeto de resolução de 2009 do Conselho Gestor da Internet no Brasil (CGI), intitulada “Princípios para a Governança e uso da Internet no Brasil (CGI.br/RES/2009/003/P)56. No entanto, o cenário internacional propiciou o 56

O CGI foi criado por meio do Decreto nº 4.829, de 3 de setembro de 2003, com vistas, entre outros, a: (1) estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no Brasil; (2) elaborar diretrizes para a execução do registro de Nomes de Domínio e a alocação de Endereço IP (Internet 133


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

lançamento de nova luz ao tema, de forma que tais princípios motivaram a atitude protagônica da política externa brasileira relativamente à governança da Internet. Nesse contexto, após o discurso na Assembleia Geral, Brasil e Alemanha, cuja Primeira-ministra, Angela Merkel, também havia sido alvo espionagem digital, elaboraram uma Proposta de Resolução para a Assembleia Geral das Nações Unidas, a qual foi aprovada em novembro de 2014, com o título “O Direito à Privacidade na Era Digital” (ONU, 2014). Segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, essa resolução: (...) demonstrou o reconhecimento, pela comunidade internacional, de princípios universais defendidos pelo Brasil, como a proteção do direito à privacidade e à liberdade de expressão, especialmente contra ações extraterritoriais de Estados em matéria de coleta de dados, monitoramento e interceptação de comunicações (MRE, 2013b).

Na esteira desse processo, o Brasil sediou, em 23 de abril de 2014, a conferência NETMundial – Encontro Multissetorial Global Sobre o Futuro da Governança da Internet. O encontro, que foi organizado em uma parceria entre o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e a 1Net57, teve como foco a elaboração de princípios de governança internacional da Internet e a proposta de um roteiro para sua evolução futura (NETMUNDIAL, 2014). É interessante sublinhar ainda que os acontecimentos internacionais tiveram grande impacto também no plano do Direito Interno Brasileiro. Nesse sentido, após as denúncias de espionagem, a Presidenta Dilma Rousseff solicitou a tramitação da proposta do Marco Civil da Internet em regime de urgência constitucional, a qual estava há dois anos na Câmara dos Deputados (SENADO FEDERAL, 2013). Com isso, o Marco Civil foi aprovado por meio da Lei no. 12.965, de 23 de abril de 2014 - mesmo dia em que teve início a NETMundial -, estabelecendo os princípios, as garantias, os direitos e os deveres para o uso da Internet no Brasil (PLANALTO, 2014). Desse contexto, é válido afirmar que as ações nacionais e internacionais do Brasil se coadunaram em torno do propósito de concretizar os princípios mencionados pela Presidenta Dilma Rousseff no contexto do discurso da Assembleia Geral das Nações Unidas de 2013.

Protocol) e; (3) promover estudos que permitam a manutenção do nível de qualidade técnica e inovação no uso da Internet (CGI, 2014). 57 A 1Net é um fórum que reúne entidades internacionais dos vários setores envolvidos com a governança da Internet. Para maiores informações: http://1net.org/ 134


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

3. O Direito à privacidade O avanço das tecnologias da Internet, com impactos em todas as searas da vida particular e da vida pública, impõe novos desafios ao Direito Internacional (DI) contemporâneo. Se, por um lado, o DI enfrenta uma escassez de normas no que se refere à espionagem eletrônica (ABDENUR, 2014; SENADO FEDERAL, 2014, p. 28), por outro, as denúncias de violação de correspondências oficiais do Brasil e de outros países em 2013 revelam a violação a um direito já internacionalmente consagrado: o direito à privacidade. De fato, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 dispõe, em seu artigo 12: Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a proteção da lei.

Na esteira da declaração de 1948, o Pacto Internacional sobre os Direitos e Civis e Políticos (PIDCP), preconiza em seu artigo 17: 1. Ninguém poderá ser objetivo de ingerências arbitrárias ou ilegais em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais às suas honra e reputação. 2. Toda pessoa terá direito à proteção da lei contra essas ingerências ou ofensas. (PLANALTO, 1992)

Após a PIDCP, no que se refere ao âmbito regional, a Convenção Americana de Direitos Humanos, também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica (1969), ratificada pelo Brasil em 1992, afirmou, em seu artigo 11: 1. 2.

3.

Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, na de sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas (PLANALTOb, 1992).

Ainda que abundem as normativas internacionais relativas ao direito à privacidade, é importante sublinhar que a eficácia de normas depende da atuação discricionária dos Estados nesse sentido. Para ilustrar esse argumento, e considerando as denúncias de espionagem norteamericanas em 2013, observe-se a interação dos Estados Unidos com algumas das normas de Direitos Humanos existentes no Direito Internacional contemporâneo: (1) PIDCP: se, por um lado, o PIDCP possui como mecanismo de 135


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

monitoramento o Comitê de Direitos Humanos58, ao qual os Estados Unidos estão submetidos, por outro, um de seus Protocolos Adicionais, que permite receber reclamações de indivíduos, não foi ratificado pelo Estado norteamericano (SENADO FEDERAL, 2014, p. 28); (2) Pacto de San José da Costa Rica: os Estados Unidos apenas assinaram o Pacto de San José da Costa Rica de 1969, sem, contudo, ratificá-lo até os dias atuais (CIDH, 2015). Esses exemplos ilustram o fato de que a defesa do direito à privacidade, na esfera internacional, depende, em grande medida, da vontade dos Estados em assegurá-lo. Essa tarefa não é simples, sobretudo porque, em tempos de terrorismo, o direito à privacidade é, por vezes, visto como um direito que deve ser balanceado com o direito dos Estados de garantir sua defesa e segurança. Para ilustrar esse argumento, é importante recordar que, após as denúncias de espionagem de 2013, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, discursou, por ocasião da 68º Assembleia Geral das Nações Unidas, de 2013: E, da mesma forma que nós revisamos a forma pela qual nós implementamos nossas extraordinárias capacidades militares de forma a atingir nossos ideais, nós começamos a revisar a forma pela qual coletamos inteligência, de forma que possamos balancear adequadamente as legítimas preocupações de segurança dos nossos cidadãos e aliados com as preocupações com a privacidade que são compartilhadas por todas as pessoas59.

No entanto, as ações do Brasil em matéria de Política Externa permitem afirmar que o direito à privacidade e o direito à segurança nacional devem não apenas ser balanceados, mas respeitados em sua integralidade. A esse respeito, note-se, em primeiro lugar, que o Brasil compromete-se com a assunção e o respeito das normas às quais se vincula, adotando, tradicionalmente, uma postura legalista, no sentido de buscar o respeito aos acordos internacionais e ao direito internacional público (CERVO, 2008). Com base nessa premissa, e considerando-se que o Brasil (1) ratificou as principais convenções internacionais em matéria de direitos humanos da atualidade; (2) tem acordo de Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal com os Estados Unidos, por meio do qual Partes se obrigam a prestar assistência mútua em matéria de investigação, 58

De acordo com o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos, o Comitê de Direitos Humanos é um órgão composto por experts independentes que monitoram a implementação do Pacto de Direitos Civis e Políticos. Todos os Estados-Partes são obrigados a submeter relatórios periódicos ao comitê a respeito da forma como esses direitos estão sendo implementados (OHCHR, 2015). 59 Tradução livre da autora. Trecho original em inglês: “And just as we reviewed how we deploy our extraordinary military capabilities in a way that lives up to our ideals, we’ve begun to review the way that we gather intelligence, so that we properly balance the legitimate security concerns of our citizens and allies with the privacy concerns that all people share” (WHITE HOUSE, 2013). 136


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

inquérito, ação penal, prevenção de crimes e processos relacionados a delitos de natureza criminal (SENADO FEDERAL, 2014, p. 44; PLANALTO, 2001), conclui-se que as ações do Brasil no plano internacional buscam a convivência os direitos à privacidade e à segurança nacional. A busca ativa pela democratização da governança da Internet é a forma encontrada pelo Brasil de mostrar que tais direitos são de fato, compatíveis e harmônicos. De fato, conforme destaca Abdenur (2014), o Brasil busca situar essa discussão em diversas instâncias da concertação político-diplomática nos quais atua, seja no plano regional, com a coordenação de iniciativas no âmbito da UNASUL 60, seja no plano multilateral, com iniciativas como a organização da Conferência NETmundial e a proposta de resolução aprovada no âmbito das Nações Unidas. Dessa forma, o direito à privacidade e a democratização da governança da Internet encontram-se estreitamente vinculados para a Política Externa Brasileira contemporânea. 4. Considerações Finais Partindo do caso de espionagem envolvendo os Estados Unidos, a diplomacia brasileira buscou fazer valer um direito não apenas dos cidadãos do país, mas um direito de toda a humanidade. Nesse sentido, conforme destacou o ex-Chanceler Luiz Alberto Figueiredo Machado, a defesa do direito à privacidade - essencial para a preservação da liberdade de expressão e opinião e para a democracia - insere-se em um contexto mais amplo da promoção dos direitos humanos e, portanto, deve ser prioritária nas ações dos Estados (MRE, 2013c). Esse argumento é parte fundamental para compreender a importância da atuação do Brasil pela construção de um novo modelo de governança da Internet, que seja democrático, multilateral e inclusivo. Dessa forma, num contexto em que a Internet ganha cada vez mais relevância em diferentes áreas da vida contemporânea, a diplomacia brasileira tratou o caso da espionagem de forma produtiva, buscando tanto defender o direito à privacidade quanto propondo formas mais democráticas e inclusivas para a participação dos cidadãos e dos países na governança da Internet.

60

Após reunião em Lima, no Peru, no dia 9 de Agosto de 2013, Ministros das Comunicações e

representantes de 11 países-membros da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) fizeram uma declaração conjunta por meio da qual rejeitaram qualquer ato de intercepção de comunicações sem a autorização das autoridades competentes (MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES, 2012). 137


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Referências

ABDENUR, Adriana. Encontro: Discutindo a governança da internet. CEBRI, (http://cebri.org/m/portal/podcasts-e-videos/podcasts/discutindo-a-governanca-dainternet;jsessionid=EF63A6348EDBB39E752AD7CE1685E4C6). [22 de Janeiro de 2015]

2014.

BRASIL (2014) Marco civil da internet brasileira é aprovado pelo Senado Federal (http://www.brasil.gov.br/governo/2014/04/marco-civil-da-internet-brasileira-e-aprovado-pelosenado-federal-2), [18 de Novembro de 2014]. CERVO, Amado. Inserção Internacional. Formação dos Conceitos Brasileiros. Saraiva, 2008 CGI (2014) (http://www.cgi.br/sobre/) [15 de Janeiro de 2015]. CGI.br/RES/2009/003/P. Princípios para a (http://www.cgi.br/resolucoes/documento/2009/003)

governança

da

Internet

no

Brasil.

CIDH, (2015). (http://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/d.Convencao_Americana_Ratif..htm) [15 de Janeiro de 2015] ECONOMIST (2014). (http://www.economist.com/news/international/21599385-america-promisesrelease-its-grip-internets-phone-bookand-opens-up-debate) [15 de Janeiro de 2015] ICANN (2012) https://www.icann.org/resources/pages/welcome-2012-02-25-en. [22 de Janeiro de 2015] IETF (2014) (https://www.ietf.org/about/) [15 de Janeiro de 2015]. ISOC (2015) (https://www.isoc.org.br/post/escritorio-brasileiro/7) [15 de Janeiro de 2015]. ITU (2013) Measuring the Information Society. http://www.itu.int/en/ITUD/Statistics/Documents/publications/mis2013/MIS2013_without_Annex_4.pdf [22 de Janeiro de 2015] KLEINWÄCHTER, Wolfgang (2007) Governing the Internet Organization for Security and Cooperation in Europe (http://www.osce.org/fom/26169?download=true) [22 de Janeiro de 2015] LUCERO, Everton. Governança da Internet: aspectos da formação de um regime global e oportunidades para a ação diplomática. Brasília. Fundação Alexandre de Gusmão, 2011. 236p. MARQUES, Lilian Emanueli e Pinheiro, Marta Macedo Kerr. A cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação:foco nas políticas de informação. Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.23, n.1, p. 117131, jan./abr. 2013 (http://www.ies.ufpb.br/ojs/index.php/ies/article/view/15450/9536) [15 de Janeiro de 2015] MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES (2012). Comunicações da Unasul rejeitam interceptação ilegal de dados. http://www.comunicacoes.gov.br/conteudos-digitais-criativos-noticias/27750-emdocumento-ministros-das-comunicacoes-da-unasul-repudiam-interceptacao-ilegal-de-dados [15 de Janeiro de 2015] MRE MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES (2013a) As denúncias de espionagem e a atuação do Itamaraty (http://diplomaciapublica.itamaraty.gov.br/13-brasil-estados-unidos/29-asdenuncias-de-espionagem-e-a-atuacao-do-itamaraty), [18 de Novembro de 2014]. MRE MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES (2013b) Nota nº 434 O Direito à Privacidade na Era Digital (http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/o-direito-aprivacidade-na-era-digital), [18 de Novembro de 2014]. 138


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

MRE MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES http://diplomaciapublica.itamaraty.gov.br/onu/47-o-direito-a-privacidade-na-era-digital Janeiro de 2015].

,

(2013c) [15 de

NETMUNDIAL (2014). (http://netmundial.br/pt/about/) [15 de Janeiro de 2015]. NETWORKSOLUTIONS (2015) (http://about-networksolutions.com/corporate-history.php) [15 de Janeiro de 2015]. OHCHR (2015). Human Rights http://www.ohchr.org/EN/HRBodies/CCPR/Pages/CCPRIntro.aspx

Committee.

ONU (2014). A/C.3/69/L.26/Rev.1. The General Assembly. The right to privacy in the digital age (http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N14/640/40/PDF/N1464040.pdf?OpenElement) [15 de Janeiro de 2015]. OPPERMANN, Daniel. Governança multisetorial e o processo de governança da internet: um estudo de caso sobre crime cibernético e filtragem na internet entre 1990 e 2010. Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. 2012. PLANALTO (1992). Pacto dos Direitos Civis e Políticos. (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm) [15 de Janeiro de 2015] PLANALTO (2013) (http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-o-planalto/discursos/discursos-dapresidenta/discurso-da-presidenta-da-republica-dilma-rousseff-na-abertura-do-debate-geral-da68a-assembleia-geral-das-nacoes-unidas-nova-iorque-eua). [15 de Janeiro de 2015]. PLANALTO (2014) (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm) [15 de Janeiro de 2015]. PLANALTO, 2001. Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/D3810.htm) [15 de Janeiro de 2015] PLANALTOb, (2014) (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm) [22 de Janeiro de 2015] ROUSSEFF, Dilma. Discurso da Presidenta da República durante cerimônia de abertura do Encontro Global Multissetorial sobre o Futuro da Governança da Internet - NET Mundial - São Paulo/SP - 23 Abril 2014. (http://www.defesanet.com.br/cyberwar/noticia/15102/NET-MUNDIAL--Discurso-Dilma-Rousseff/) [22 de Janeiro de 2015] SENADO FEDERAL (2013) Marco civil da internet ganha urgência constitucional (http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/COMUNICACAO/451694-MARCO-CIVIL-DAINTERNET-GANHA-URGENCIA-CONSTITUCIONAL-NA-TRAMITACAO.html), [18 de Novembro de 2014]. SENADO FEDERAL (2014) CPI da Espionagem (http://www.senado.leg.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=148016&tp=1) [22 de Janeiro de 2015] WHITE HOUSE (2013). Remarks by President Obama in Address to the United Nations General Assembly. (http://www.whitehouse.gov/the-press-office/2013/09/24/remarks-president-obamaaddress-united-nations-general-assembly) [15 de Janeiro de 2015] WSIS (2005) (http://www.itu.int/wsis/docs/geneva/official/poa.html) [15 de Janeiro de 2015]. WSIS (2005a) (http://www.itu.int/wsis/basic/about.html) [15 de Janeiro de 2015].

139


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

O USO E A IMPORTÂNCIA DE APLICATIVOS PARA DISPOSITIVOS MÓVEIS NAS ELEIÇÕES DE 2014 NO BRASIL

Nilton Cesar Monastier Kleina61

Resumo: As eleições realizadas em 2014 no Brasil foram marcadas pelo uso de redes sociais pelos candidatos a todos os cargos em disputa, confirmando que a internet se transformou definitivamente em uma ferramenta eleitoral no país. Junto com a aplicação dessa plataforma, que resulta em uma convergência de mídias, novas perspectivas podem surgir na política nacional – ou ao menos um novo mercado na divulgação de propostas e chamados ao voto. O presente artigo dedica-se a catalogar e analisar os aplicativos para tablets e smartphones Android desenvolvidos e disponibilizados por candidatos a Deputado Federal, Senador e presidente da República. O objetivo é definir se esse tipo de plataforma já é utilizado no pleito em questão, qual o conteúdo normalmente veiculado e se há um bom recebimento por parte da população em relação a essas ferramentas.

Palavras-chave: Eleições; Campanha Política; Internet; Dispositivos Móveis; Android.

Introdução

Desde o sucesso do exaustivamente estudado caso de sucesso Barack Obama em 2008, que revolucionou o uso da internet e das mídias sociais na campanha eleitoral dos Estados Unidos e do mundo (GOMES, FERNANDES, REIS, SILVA, 2009; LOCK, BALDISSERA, 2010) com uma proposta inovadora de convergência de conteúdo e atuação em rede, os olhos da academia e dos marqueteiros responsáveis por alavancar a popularidade e a imagem de candidatos voltaram-se a essa nova forma de divulgação. O que aconteceu foi a adaptação de uma ferramenta antes vista como uma ferramenta de relacionamentos

à

comunicação

política,

e

emerge

dessa

constatação

um

questionamento sobre a aplicabilidade ou não de tal resultado em outras plataformas tecnológicas, épocas e nações. Isso porque os estudos sobre marketing político e campanhas na internet adentram somente no campo das redes sociais – especialmente Facebook, Twitter, Instagram e YouTube – e dos sites de campanha, que são as plataformas mais utilizadas e com números concretos e consideráveis vindos de pesquisas anteriores, deixando de fora uma possibilidade que já é considerada pela área da tecnologia como uma cultura

61

Jornalista, mestrando no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná (PPGCOM/UFPR), na linha de pesquisa em Comunicação, Política e Atores Coletivos. nckleina@gmail.com 140


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

própria (GOGGIN, 2011): os aplicativos direcionados a dispositivos móveis, sejam eles tablets ou smartphones. O objetivo do presente artigo é catalogar e analisar os aplicativos para o sistema operacional Android utilizados como ferramenta de campanha nas eleições de 2014 no Brasil para cargos executivos e legislativos. De posse dos dados, pretende-se refletir sobre a efetividade dessas ferramentas de busca por votos, além de possibilidades de uso de tais produtos e serviços em futuros pleitos nacionais. O processo de criação e idealização do presente trabalho ocorreu durante discussões acerca do marketing eleitoral na internet, em um misto de curiosidade e vislumbre de possibilidade sobre o uso de aplicativos nas eleições de 2014, logo após o final do primeiro turno. Ao levar a questão para a sala de aula, obteve-se somente uma resposta positiva, mas ainda abstrata, no sentido de “há um certo candidato utilizando, talvez até outros, mas poucos detalhes a respeito”. Tal comentário, que confirmava a existência de um objeto de pesquisa e da falta de interesse (porém não da relevância) gerado pelo tema, serviu como pontapé inicial para o desenvolvimento da pesquisa. Na seção metodológica, que consiste em uma tabela comparativa, são levados em conta dados como análise de conteúdo, número de downloads (ou seja, popularidade e possibilidade de sucesso) e, já em um campo qualitativo, a avaliação da interface estrutural e do conteúdo veiculado pelos aplicativos. As demais seções que antecedem à análise em si, dedicadas a um breve histórico sobre a campanha digital online no Brasil e ao mercado atual do sistema operacional móvel Android no país, servem não só como reforços teóricos e metodológicos, mas também como justificativa para a realização do presente trabalho.

1. Internet e dispositivos móveis em campanhas eleitorais

Ainda não há o desenvolvimento de uma vasta teoria do uso político e eleitoral de aplicativos para dispositivos móveis. Apesar de certos artigos e capítulos já analisarem casos isolados e ainda não tão relevantes desde 2009 (WALTON, DONNER, 2011), a literatura analisada a seguir coincide com o trabalho positivo do novo marketing político e eleitoral desenvolvido para a era digital, além do uso da internet em campanhas eleitorais. Assume-se, portanto, que os conceitos aplicados às páginas na internet dos candidatos em campanha transportem-se ao menos parcialmente aos dispositivos móveis – assim

141


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

como aconteceu durante a transição das estratégias de meios tradicionais, como rádio e televisão. A ideia aqui não é recapitular historicamente as campanhas que utilizaram a internet como meio de divulgação e agregação, mas sim focar nos aplicativos e notar de que modo a rede de computadores contribuiu na área eleitoral. Casos de sucesso a serem estudados e comparados não faltam, como o já citado trabalho de Barack Obama envolvendo sites e redes sociais, garantindo visibilidade ao então senador (LOCK, BALDISSERA, 2010), e o pioneirismo de Jesse Ventura com os bulletin boards (AGGIO, 2011), hoje equivalentes às páginas do Facebook. Nota-se, portanto, que junto à popularização da internet para uso acadêmico, lazer e comunicação, cresceu também o interesse político no veículo. Gradativamente, campanhas “passam a incorporar pouco a pouco os dispositivos da Web em suas estratégias de comunicação, ampliando o escopo de ação da equipe de marketing político” (PENTEADO, 2012, p. 42). Penteado (2012) alega que o marketing político tradicional altera-se para se adaptar, utilizando as novas ferramentas e o espaço virtual sob novas perspectivas durante as eleições. De um modo geral, a internet garante vantagens aos partidos, “facilitando canais informais de feedback (similares a enquetes mais sistemáticas e grupos de foco), mobilizando fontes como serviços voluntários e doações financeiras, promovendo discussão interna e debates sobre propostas políticas” (NORRIS, 2003, p. 26). Ações que antes exigiriam maior disposição e tempo livre por parte dos eleitores tornam-se acessíveis, a poucos cliques e segundos de distância. A internet “possibilita uma informação contínua, ininterrupta e de fontes variadas que podem ser acessadas de qualquer local e a qualquer hora” (LOCK, BALDISSERA, 2010, p.13). Outro ponto positivo do uso dessas ferramentas é a facilidade no acesso: os aplicativos de candidatos não costumam ser pesados, mesmo que carregados de conteúdo escritos, e são bem visualizados tanto em smartphones quanto tablets, ou seja, qualquer tamanho de tela. Norris (2003) acredita que a função primária dos sites de campanha vão ao encontro dos objetivos dos demais veículos de comunicação eleitoral — ou seja, “mirando informar, persuadir e mobilizar apoio, seja a partir de discursos de liderança, panfletos eleitorais, textos à imprensa, comerciais pagos de TV, transmissões gratuitas do partido ou sites partidários” (p. 27). Vale ressaltar que a política norte-americana diferencia-se bastante da brasileira em seu sistema, por conta de ações como votação facultativa, doações de campanha, configuração do horário eleitoral e sistema de primárias. Ainda 142


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

assim, as formas de publicidade desenvolvidas nos Estados Unidos estão cada vez mais presentes nas campanhas eleitorais brasileiras. É o que Albuquerque (1998) chama de “americanização da política”. Essa discussão alega que o marketing político brasileiro absorve diversos elementos das eleições norte-americanas, importando técnicas e linguagens. Junto com características próprias, os partidos transformam o processo eleitoral e as ações de comunicação. Aggio (2011) define e analisa dois tópicos que o pesquisador considera questões chave no estudo de campanhas eleitorais em rede: a interatividade e o ativismo. 1) Interatividade: a possibilidade de construção de ambientes digitais que possibilitem a interação entre eleitores e, eventualmente, entre estes e os candidatos. 2) Ativismo: recursos que possibilitem novas formas ou maneiras já conhecidas, porém otimizadas, de ativismo dentro das campanhas. (p. 179). No caso dos aplicativos, mesmo antes de realizar a análise dos exemplos das eleições brasileiras de 2014, é possível afirmar que ambos os pontos estão presentes no uso de tais ferramentas – independentemente da efetividade. A interatividade se faz presente na possibilidade de envio de críticas, sugestões e mensagens para o próprio candidato, função que pode ser adicionada aos softwares móveis no Android. Essa prática pode não render uma resposta direta, mas a existência de um serviço já indica ao menos essa possibilidade. A seção de comentários na loja virtual Google Play, plataforma em que é possível comprar e baixar apps, é outro exemplo de ambiente que proporciona interação entre eleitores. Ainda assim, como bem afirma Strommer-Galley (2000), ainda não há uma predileção por interações diretas entre candidatos e eleitores, por motivos como possibilidade de perder o controle da comunicação, não poder realizar discursos ambíguos de campanha e elas oprimem a campanha em si, caso a equipe não saiba lidar corretamente com todos os meios digitais. Ainda assim, o tipo de interação “humano-humano” é fundamental para a deliberação pública, que serve para identificar problemas, criar políticas e determinar como implementar soluções (STROMMER-GALLEY, 2000). Penteado (2012) acredita que a interatividade “imprime uma lógica comunicativa diferenciada, colocando desafios para o marketing político, que precisa aprender a se apropriar desse novo espaço e dos novos dispositivos comunicacionais que produzem formas de interação mais participativa” (p. 4142). 143


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Já o ativismo é identificado quando os aplicativos fornecem plataformas de disseminação de mensagens durante a campanha, seja na forma de compartilhamento de postagens ou do apoio em redes sociais ou a partir de mensagens prontas enviadas via mensagem de texto ou serviços de bate-papo. Os aplicativos encontram-se também no escopo do que é chamado pós-web (GOMES, FERNANDES, REIS, SILVA, 2009). Esta é a terceira fase das campanhas que utilizam a internet — após a proto-web, que ainda descobria o email e só servia como mecanismo de correspondência, e a web, já com sites de campanha e bancos de dados (que agregam inclusive doações). Nessa campanha pós-web, "os conteúdos em páginas web já não são o centro das operações de persuasão e mobilização. Nesse novo padrão, as páginas são principalmente centros distribuidores de tráfego que remetem para sítios de compartilhamento de vídeo ou de fotos, para sítios de relacionamento e para sítios de compartilhamento de atualização online, dentre outras ferramentas on-line, e o modus operandi da campanha é cooperativo, ao par com o espírito da internet 2.0 no que se refere a convocar e pressupor a participação dos internautas na produção dos conteúdos e nos procedimentos de difusão viral de informações e de mobilização" (GOMES, FERNANDES, REIS, SILVA, 2009).

No trabalho citado, que conceitua rapidamente as três fases e analisa o caso de Barack Obama nas eleições presidenciais de 2008, os aplicativos não são citados – tais produtos ainda não eram tão populares as próprias plataformas mobile ainda não apresentavam números tão expressivos. Ainda assim, de acordo com a descrição acima, eles se encaixam perfeitamente na situação do pós-web. Apesar de serem dignos de tantos elogios, não é correto pensar que os aplicativos promoverão uma revolução imediata no modo de fazer campanha: Goggin (2011) nota o potencial cultural dos gadgets, sem deixar de acentuar a falta de estudos relativos ao tema ao ressaltar que na área “há falta de trabalho desenvolvido e compreensão sábia, parte por conta do reino historicamente especializado da tecnologia da telecomunicação e das políticas de mídia, das quais os dispositivos móveis derivam” (p. 155). O caso analisado por Donner e Walton (2011) pode ser considerado um dos pioneiros no setor. Objeto de estudo da dupla, a campanha da África do Sul nas eleições de 2009 reserva algumas semelhanças adicionais com o Brasil. Em diferentes proporções, o país africano também convive com desigualdade social ao mesmo tempo em que é um polo de tecnologia e startups (pequenas empresas). Naquele período, as comunicações por dispositivos móveis ainda engatinhavam em uso e eram restritas a uma pequena parcela da população com maior poder aquisitivo — e sites móveis de 144


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

campanha, aplicativos mensageiros e redes sociais dominavam a comunicação eleitoral. Programas relativos aos próprios candidatos, entretanto, sequer foram citados na pesquisa. Tal comparação ajuda a indicar que a tendência de “americanização”, ao menos para o lado da internet móvel, parece caminhar a passos largos para acontecer em vários cantos do mundo. Em uma pesquisa feita em 2012 sobre as eleições do mesmo ano nos Estados Unidos, Duggan e Smith notam que aplicativos de celular não se mostraram efetivos ao conectar candidatos, partidos e grupos de eleitores. De acordo com o levantamento feito pela dupla, 45% dos norte-americanos com direito a voto usam apps, mas só 8% “usam programas relacionados a um candidato, partido ou grupo de interesse para conseguir informações sobre a campanha durante a temporada eleitoral” (p. 2). Mas, se a popularidade de aplicativos ainda é relativamente baixa, a pesquisa nota que há uma alta taxa de uso de celulares para verificação ou postagem de comentários em redes sociais (45% e 18%, respectivamente), checagem sobre a veracidade de informações sobre candidatos (35%) e busca por notícias e informações atualizadas do pleito (27%). De uma forma ideal, esses aplicativos não devem ser usados somente como uma reprodução em telas menores de um conteúdo já existente, apostando em originalidade e conteúdos direcionados ao mobile. Ou seja, servir “não apenas como uma adaptação da propaganda da TV e dos jornais, mas potencializar ao máximo suas capacidades comunicacionais, tornando-a uma ferramenta de engajamento, colaboração e participação política” (LOCK, BALDISSERA, 2010, p. 9). Ainda na campanha norte-americana entre Barack Obama (candidato à reeleição) e Mitt Romney (representante da oposição selecionado pelos republicanos), o uso de aplicativos foi bastante notável. O curioso é notar como as estratégias adotadas foram diferentes, apesar de ambos reconhecerem a importância e a possibilidade de uso dessas plataformas. De acordo com a análise de Petronzio (2012), o maior investimento surpreendentemente foi feito pelo candidato republicano: além de gastos com publicidade posicionada nas plataformas Android e iOS, foram lançados os aplicativos Mitt, Mitt's VP, Romney-Ryan e Mitt Events. Essa prática de lançar mais de um app por candidato, preferindo segmentar as funções em vez de lançar somente um software agregador, foi pouco adotada no Brasil, como mostrará a pesquisa a seguir. Obama apostou nos aplicativos Dashboard (uma forma de procurar formas de ativismo) e Obama for America (informações sobre o candidato e possibilidades de interação). Apesar da menor quantidade, foi o que mais arrecadou com aplicativos móveis – e saiu vitorioso na eleição. 145


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Paralela aos aplicativos dos dois candidatos, a plataforma Mobile Politics, também lançada para dispositivos móveis, serviu como ponte principal naquele ano entre candidatos e eleitores. O serviço também recolheu dados importantes, como o fato de que 80 milhões de pessoas nos Estados Unidos acessariam informações políticas críticas na tomada de decisão de voto via smartphones (PETRONZIO, 2012). No Brasil, a utilização de aplicativos mobile foi usada de forma pouco chamativa ou até inexistente nas eleições de 2010, já que não há registros dessa atividade — os próprios dispositivos necessários para reproduzi-los, como tablets e smartphones, ainda eram pouco populares e de preço nada acessível. Já o uso da internet em si também começou tardiamente, mas já mostra sinais de progresso. Impulsionados pelo efeito Obama, Ao quantificar e qualificar o uso de mídias sociais, sites e outras plataformas online de interação entre candidatos e eleitores no pleito nacional de 2010, Braga (2011) notou que, "embora utilizadas num estágio ainda embrionário (...), as ferramentas disponibilizadas pelas novas tecnologias aos candidatos indicam potencialidades e tendências futuras que muito provavelmente devem se concretizar nos próximos pleitos eleitorais" (p. 72). A existência cada vez maior de candidatos com contas ativas em sites como Twitter e Facebook, além dos aplicativos a serem analisados neste trabalho, são evidências favoráveis à evolução citada.

2. Android, um mercado em ascensão O sistema operacional móvel da Google, batizado de Android, foi escolhido como única fonte de análise do presente trabalho por uma série de motivos a serem desenvolvidos nesta seção, como o fato de ser a plataforma mais vendida no Brasil (e no mundo, apesar de não dominar o ranking de todos os países) e por conta da facilidade no desenvolvimento e postagem de programas na loja oficial. Foram preteridos o iOS, da Apple, e o Windows Phone, da Microsoft. A preferência é comprovada em pesquisas de institutos como o IDC Brasil. Tomando como base os relatórios mais recentes62, o mercado de tablets e smartphones com sistema operacional Android já está consolidado no Brasil e no mundo, com as vendas em uma constante ascensão. No país, em agosto de 2014, 92% dos smartphones vendidos eram Android. Os 8% restantes são divididos entre o Windows Phone, que em 62

Números completos disponíveis em: http://www.idcbrasil.com.br/releases/news.aspx?id=1730)

146


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

fevereiro estava na segunda colocação, o iOS, que costuma crescer no último trimestre, com o lançamento de uma nova geração de iPhones, e os feature phones, que são celulares que até possuem acesso à internet, mas funções bem menos limitadas e um sistema operacional rudimentar. Ainda de acordo com dados do IDC Brasil63, no segundo período de abril e junho de 2014, foram vendidos 13,3 milhões de smartphones, um aumento de 22% em relação ao mesmo período do ano passado. Mais de 90% dos aparelhos funciona a partir do sistema operacional citado. A venda de phablets, que são dispositivos intermediários entre os tablets e os celulares (por polegadas), também está em alta: até 5 milhões de unidades devem ser vendidas em 2014. Os tablets foram os únicos aparelhos que sofreram uma redução nas vendas trimestrais, caindo 12% do primeiro para o segundo, mas com ascensão semestral de 21% em relação a 2013. Tal relato tem explicação: a Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, impulsionou a venda de aparelhos como televisores e celulares — e agora, passado o torneio, os números devem retornar à normalidade de crescimento Outro argumento incentivador ao uso de aplicativos na campanha está no período diário dedicado ao uso dos dispositivos móveis, que passou a ser mais intenso: ele não é mais somente um aparelho para efetuar ou receber ligações ou enviar mensagens em SMS. Com os aplicativos e a possibilidade de acessar email e sites da internet, torna-se uma verdadeira central de trabalho, comunicação e entretenimento. O desenvolvimento dos hardwares, isto é, a melhoria na potência de processadores e quantidade de memória RAM, entre outros componentes, permite ainda mais espaço, poder e flexibilidade para o desenvolvimento de softwares (GOGGIN, 2011, p. 150. Tradução nossa). Tal uso da internet em celulares é um grande potencial a ser explorado, especialmente entre a população mais jovem. Os dados discutidos a seguir foram retirados do relatório Juventude Conectada64, da Fundação Telefônica Vivo em parceria com o IBOPE, o Instituo Paulo Montenegro e o Núcleo das Novas Tecnologias da Comunicação Aplicadas à Educação Escola do Futuro-USP. Ela entrevistou 1.440 jovens de 16 a 24 anos a partir de um questionário sobre hábitos de uso da rede. A pesquisa foi realizada de setembro a outubro de 2013. O telefone celular é o equipamento preferencial de acesso à internet. A conexão é intensamente utilizada por jovens de todas as classes

63

A pesquisa completa pode ser acessada em: http://br.idclatin.com/releases/news.aspx?id=1713 A pesquisa completa pode ser acessada em: http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Sete-emcada-dez-jovens-acessam-internet-pelo-celular.aspx 64

147


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

socioeconômicas (42% dos brasileiros). Ainda de acordo com a mesma pesquisa, lazer e atividades de comunicação são as ações cotidianas preferenciais dos jovens na internet. Ainda assim, 40% dos entrevistados faz pesquisas sobre informações em geral diariamente ou em quase todos os diase 36%. A política também é um interesse constante — ou ao menos reconhecido — pela faixa pesquisada. Na pesquisa, 64% dos jovens responderam que concordam totalmente ou parcialmente com o item “Procuro aprender sobre causas sociais, ambientais e políticas pela internet”. Vale ressaltar ainda uma das vantagens dos tablets e smartphones em relação à internet de computadores de mesa ou laptops, a portabilidade: com uma conexão WiFi ou um plano de dados de operadoras (2G, 3G ou 4G), é possível acessar a loja digital da Google Play e efetuar o download de novos aplicativos — sendo que vários podem ser acessados sem precisar de uma rede. Essa é a máxima do que Goggin (2011) chama de “computação ubíqua”, que significa uma ligação constante e onipresente com redes eletrônicas. Mas, se por um lado, tal possibilidade resulta em “profundas ramificações socioculturais” (p. 149), ainda há muito trabalho a ser feito: o mesmo autor acredita que a infraestrutura de mídias móveis ainda é “bagunçada, parcial e contingente” (IDEM, p. 149). Goggin (2011) acredita que a computação ubíqua não trará tantas funções e informações novas. O trabalho da conexão ininterrupta é fazer com que as tarefas sejam executadas de forma fácil e rápida, exigindo menor esforço por parte dos usuários – o que já é uma grande diferença. A comparação é com o computador pessoal, que trouxe uma série de maneiras renovadas de realizar tarefas como escrever textos e entreter-se com jogos, porém sob uma nova dinâmica. Porém, o mercado de dispositivos móveis não é formado somente por pontos positivos – caso contrário absolutamente todos os candidatos seriam donos de um aplicativo na Google Play e todos seriam bem-sucedidos, o que não é o caso, como será confirmado a seguir. Além do já citado alcance ainda limitado da população, alguns obstáculos no desenvolvimento podem impedir a produção desses programas ou convencer partidos e candidatos a não adotarem tal prática na campanha. É claro que, assim como no caso dos sites de campanha (NORRIS, 2003), é possível que voluntários realizem sem custos o desenvolvimento do aplicativo, embora seja necessário um conhecimento bastante específico da plataforma para que o resultado seja de qualidade e a manutenção, se possível, aconteça de modo constante. Essa,

148


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

entretanto, pode ser uma alternativa viável para partidos de menor poder aquisitivo ou que não recebam altas quantias privadas de financiamento de campanha. Enquanto a popularização dos aplicativos de candidatos parece não ocorrer, ao menos os dispositivos móveis marcam presença na campanha eleitoral. O mensageiro WhatsApp, que permite a troca de mensagens de texto ou multimídia sem custos (exceto o plano de internet móvel ou WiFi) foi bastante utilizado para campanha, incluindo a prática de spam, disseminação de correntes e chamados ao voto. Além disso, ferramentas para tablets e smartphones de cunho eleitoral atingiram sucesso relativo na loja virtual. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançou o aplicativo Apuração Eleições 2014 65 para que brasileiros acompanhassem a divulgação dos resultados durante os dois turnos do pleito. O aplicativo teve entre 1 milhão e 5 milhões de downloads na Google Play. Mas o valor pode ser considerado baixo, se comparados aos serviços de maior sucesso na plataforma. Essencialmente voltado ao público brasileiro, o aplicativo de rádio e reprodução de áudios Palco MP3 possui entre 10 milhoes e 50 milhões de downloads. Já o WhatsApp, que é o mensageiro mais utilizado da plataforma Android, contabiliza de 500 milhões a 1 bilhão de downloads.

3. Os aplicativos de candidatos nas Eleições 2014 Esta seção metodológica consiste em uma tabela quantitativa com dados relativos aos aplicativos lançados pelos candidatos às eleições brasileiras de 2014 na plataforma Android. Com o objetivo de limitar o escopo da pesquisa, optou-se por catalogar somente os produtos individuais e oficiais de candidatos, excluindo softwares móveis de partidos e eventuais produtos de eleitores sem relação com a campanha. Para a produção da tabela, foi realizada uma coleta de dados pelo site da Google Play, a loja oficial de aplicativos para Android, em pesquisa realizada pelo autor. A pesquisa foi efetuada sob o termo “deputado federal”, sendo que toda a rolagem da tela foi efetuada com o objetivo de utilizar todos os elementos filtrados pela busca. Tal método é efetivo não só para o caso de aplicativos com o cargo no nome, como “Deputado Federal Hugo Leal”, mas também quando as duas palavras aparecem somente na descrição do produto. No caso dos presidenciáveis e candidatos ao Senado, devido ao

65

Disponível para download em https://play.google.com/store/apps/details?id=br.jus.trese.divulga&hl=pt_BR 149


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

menor número de envolvidos, a pesquisa deu-se nominalmente, ou seja, ao procurar pelo nome de cada candidato. A partir dos primeiros resultados obtidos, obteve-se um acervo já considerável de exemplos – e, na seção relativa aos desenvolvedores (com outros trabalhos realizados por eles) e nos aplicativos sugeridos (naturalmente ligados às eleições), foi possível encontrar ainda mais resultados. Em uma análise prévia, verificou-se uma série de semelhanças entre os aplicativos feitos pelos mesmos desenvolvedores. Por conta da alta quantidade de programas coletados, decidiu-se por uma tabela limitada: um exemplo de cada desenvolvedor foi selecionado já que os produtos criados pelo mesmo profissional diferem muito pouco entre si, tornando a análise individual algo redundante. Quando a programação é feita por uma mesma empresa, eles variam somente em dois aspectos: a) a identidade visual, que envolve o nome, as cores (normalmente relacionados ao partido) e a foto do candidato; b) o conteúdo, com as devidas propostas, a biografia, os envios multimídia e as possibilidades de contato – no caso de exceções, elas serão contabilizadas e posteriormente desenvolvidas. A título de curiosidade e documentação, é possível consultar a lista completa da pesquisa com todos os aplicativos obtidos na seção de Anexos deste trabalho. Os parâmetros dispostos na tabela envolvem as seguintes informações: o nome do candidato, o partido político, o cargo desejado, o estado da candidatura, o número de downloads na Google Play, a contagem de avaliações e comentários na loja, o espaço que o aplicativo ocupa na memória do dispositivo, o conteúdo disponibilizado nos ícones clicáveis e o contato em outras plataformas digitais. Ao todo, foram coletados 64 aplicativos de Android. A divisão dos aplicativos por cargos é a seguinte: 48 sobre deputados federais, 10 sobre senadores e 6 relativos a candidatos à presidência. Nota-se, portanto, que a quantidade de deputados federais com aplicativos é maior – algo esperado, por conta do maior número de candidatos totais. Já os postulantes à presidência da República praticamente ignoraram tal plataforma, enquanto o número de senadores com aplicativos na Google Play também é baixo, porém em maior proporção. As categorias foram selecionadas com base em uma análise prévia das páginas de aplicativos, de acordo com a relevância dos conteúdos a serem analisados. Dados de identificação básicos (nome do aplicativo, desenvolvedor, partido e Estado do candidato) foram escolhidos para catalogar cada ferramenta. As categorias quantidade de downloads e interações – avaliações e comentários na página da Google Play – foram selecionadas 150


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

para notar a recepção do público ao serviço e o sucesso do produto. Por fim, uma descrição das seções e os contatos disponíveis no aplicativo é necessária para uma análise mais elaborada dos conteúdos presentes. Para a catalogação, cada aplicativo foi instalado em um smartphone e devidamente consultado. Partidos de maior verba e maior representatividade na câmara são os que mais estão presentes no mercado de dispositivos móveis, ao menos nos cargos pesquisados. Já aqueles de posicionamento característico de esquerda (PSTU, PCB, entre outros), direita (PROS) e de baixa ou nenhuma participação legislativa (PRTB, PSDC e demais) estão ausentes desse segmento ou com participação mínima – o que indica a transposição dos mesmos valores da política tradicional para a política online, sem a tão desejada igualdade e paridade de participantes na rede. Há o reconhecimento de que a coleta não representa a totalidade dos aplicativos existentes no Brasil relativos aos candidatos às Eleições 2014, já que nem todos os programas podem ser encontrados pelo método de busca realizado. Ainda assim, os métodos de pesquisa são capazes de filtrar os apps por popularidade – ou seja, aqueles que não foram atingidos pela coleta são praticamente irrelevantes no cenário estudado. No caso dos candidatos à presidência da República, foi detectada uma baixa presença dos políticos. Curiosamente, os dois candidatos que possuem participação entre os aplicativos para Android, Aécio Neves e Marina Silva, cunharam a campanha baseando-se em pretextos de mudança e renovação – o tucano para vencer a candidata à reeleição, Dilma Rousseff, e Marina sob ideais do que ela conceitua como “nova política”. Tab. 1 – Os aplicativos para Android dos candidatos à presidência do Brasil em 2014 Candidato

Partido / Avaliações / Downloads Tamanho Desenvolvedor Estado Comentários

Conteúdo

Contato

Aécio Neves

PSDB

500 a 1.000

35 / 10

4 MB

Traki Mobile

Home, Agenda, Facebook, Notícias, Instagram, Participe Google+, Twitter, YouTube

Aécio Neves

PSDB

100 a 500

21 / 5

14 MB

Rcf Inovações LTDA

Perfil, Fotos, Facebook, Eventos, Twitter, Localização, Instagram TV Aécio Neves, Plano de Governo

151


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Aécio 45 Realidade Aumentada

PSDB

100 a 500

11 / 6

20 MB

Ohmar Tacla

Realidade Aumentada

Nenhum

Marina Silva 40

PSB

1.000 a 5.000

134 / 55

0,67 MB

Blu Sky Aplicativos

Sobre Marina, Conheça o Beto, Plano de Governo, Deixe seu Recado, Agenda, Canal de vídeos, Sites e Links, Apoio 40, Desenvolvedor, Compartilhe Início, Acervo, Baixados, Opções

Twitter, Facebook,

Presidente

Prog. De Governo Marina Silva

PSB

100 a 500

11 / 4

1,9 MB

VirtualPape

Clique 40

PSB

1.000 a 5.000

201 / 68

6,9 MB

R8 Tecnologia

YouTube, site oficial, e-mail, telefone

Nenhum

Fotos, Galeria Facebook, 40 Instagram, Twitter, WhatsApp

Fonte: Google Play e produção do autor

Em ambos os casos, não foram encontrados somente um aplicativo oficial, mas sim uma série de ferramentas com funções diferentes. Tanto Aécio quanto Marina Silva possuem serviços em separado para compartilhamento de fotos, lazer ou consulta ao programa de governo. Essa estratégia, embora ocupe mais espaço no aparelho, é interessante por fazer com que uma verdadeira rede de softwares seja desenvolvida em torno do candidato. Os candidatos ao Senado estão em um meio termo. A quantidade de candidatos com aplicativos é baixa (somente 5,4% do total) e, desta vez, é identificado o padrão visual e estrutural nos serviços oferecidos – ou seja, propostas, biografia do candidato, conteúdo multimídia e possibilidades de contato.

152


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Tab. 2 - Os aplicativos para Android dos candidatos ao Senado no Brasil em 2014 Candidato

Partido/ Avaliações/ Downloads Tamanho Desenvolvedor Estado Comentários

Conteúdo

Contato

E o Bernal? PP/MS (Alcides Bernal) Espalhe PT/PB 133 (Lucélio Cartaxo)

100 a 500

9/5

7,4 MB

Geleia.Mob Apps

Alcides Bernal, Bernal e VC

Nenhum

10 a 50

5/0

0,96 MB

Midia Sync

Nenhum (apagado após as eleições)

Nenhum (apagado após as eleições)

Fátima131 PT/RN (Fátima Bezerra)

100 a 500

26 / 7

4 MB

Ideia Software

#Compartilhe

Nenhum

Magela 133 (Geraldo Magela)

PT/DF

50 a 100

5/3

21 MB

Pepper Interativa

Magela, Bandeiras, Notícias, TV Magela 133, Agenda, Colabore, Materiais de campanha, Ouça o jingle

Facebook, Twittr, Flickr, Instagram, YouTube, site

Marcelo Serafim

PSB/AM

1a5

1/1

10 MB

Márcio Heli & Diogo Said

Perfil, Fotos, Você no mandato, Gabinete, Links importantes, Vídeos

Facebook, Twitter, telefone

Neucimar 22 (Neucimar Fraga)

PV/ES

50 a 100

2/1

3,5 MB

SAMUS

Início, Perfil, Multimídia, Participe

Twitter, Facebook

Romário

PSB/RJ

1.000 a 5.000

112/46

4 MB

Traki Mobile

Home, Agenda, Notícias, Participe

Twitter, Facebook, Instagram, Flick, YouTube

Ronaldo DEM/GO Caiado

10 a 50

10 / 8

10 MB

Twopix Tecnologia Home, Notícias, Projetos Facebook, Twitter, Flickr, Instagram, YouTube, telefone, email, site

16 / 10

9,6 MB

MobilizeBrasil.com

Senador PTB/DF 100 a 500 Gim (Gim Argello)

Sobre, Nossos Desafios, Perguntas, Lista de Mensagens

Twitter, Facebook, Flickr, YouTube, site, email

153


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Todos Pelo PSB/MA 100 a 500 Maranhão (Roberto Rocha)

17 /7

3,7 MB

Rede6

Todos pelo Maranhão, Facebook, Perfil dos Candidatos, YouTube, Plano de Governo, Envie Twitter, sua Contribuição, Instagram, Candidatos da WhatsApp Coligação, Localização de COmitês, Participe da Campanha, Fotos e Vídeos, Notícias, A Coligação, Sobre App

Fonte: Google Play e produção do autor

Por fim, no caso de quem disputa vagas a Deputado Federal, a quantidade de aplicativos identificados é maior – mas a proporção cai consideravelmente, dado ao alto número de candidatos, com apenas 0,67% dos candidatos presentes na Google Play. Tab. 3 - Os aplicativos para Android dos candidatos a Deputado Federal no Brasil em 2014 Partido / Avaliações/ Candidato Downloads Tamanho Desenvolvedor Conteúdo Contato Estado Comentários Ademir Camilo

PROS / MG

50 a 100

1/0

4 MB

Traki Mobile

Home, Agenda, Notícias, Participe

Facebook, YouTube, site

Afonso 1200

PDT / RS

10 a 50

7/2

1,9 MB

BBM – Broadcast Mobile Media

O Cidadão Afonso, Propostas para Mudar, #webcidadao, #eugostodepolitic a, Artigos de Opinião, Enquetes, Preferência, Podcasts, Favoritos

Nenhum

Alex Matos Federal 4043

PSB / SP

10 a 50

0/0

1,2 MB

Streaming Profissional

Jingle

Facebook, Site, Twitter

André de PSD / SP Paula 5555

10 a 50

1/1

4,6 MB

Up to Date Eventos

Perfil, Trajetória, Propostas, Agenda, Deixe seu Recado, Tirar Fotos, Fotos, Compartilhadas

Site, Facebook, Instagram, YouTube

Facebook, Twitter, YouTube, WhatsApp, Email Facebook, Twitter, YouTube, Instagram e Flickr

App da Cris/Cristin a Félix

PT / PR

100 a 500

22 / 13

13 MB

Dreams&Innova A Cris, Propostas, ti on Ltda. Música, Fotos

Arthur Maia

SD / BA

10 a 50

3/1

10 MB

Mobigap Mobile

Home, Ações, Notícias, Perfil, Jingle e Fotos

154


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Artur Bruno

PT / CE

5 a 10

0/0

9 MB

MobilizeBrasil.c om

Home, Nossos Desafios, Redes (Fotos e Vídeos), Sobre/Notícias, Cadastro

Twitter, Facebook, Portal

Aureo 7733

SD / RJ

5 a 10

0/0

14 MB

Miguel de Souza Carino

Início, Agenda, Projetos, Propostas, Notícias, Vídeos, Congressos

Facebook, Instagram, Twitter, Fale com o Áureo

Dep. Dr. Michel

PP / DF

50 a 100

07/mar

5,7 MB

Gabriel Seabra

Leis, Vídeos, Fotos, Compartilhe, 11.190, Notícias, Agenda

Dep. Hugo Motta

PMDB/P B

100 a 500

20/jun

11 MB

EASYWEB

Início, Notícias, Proposições, Fotos, Sonoras

Deputada Luciana

PC do B/PE

100 a 500

08/mai

9,2 MB

MobilizeBrasil.c om

Twitter, Facebook, YouTube Telefone, Email, Endereço Facebook, Twitter, Site, Email, Instagram, Entre em Contato Twitter, Facebook, Youtube, blog e site mobile

Deputada Jaqueline

PMN/DF

1a5

0/0

9,4 MB

SC 21 Media

Deputado Antonio Elisandro

PSB / RS

50 a 100

05/mar

4,6 MB

Disk Cidadão

Biografia, Agenda, Notícias, Projetos, Vídeos

Skype, Facebook, Twitter

Deputado Arolde de Oliveira

PSD /

100 a 500

02/jan

4,7 MB

VELASCO TI

Perfil, Redes (Fotos, Vídeos), Notícias, Indique

Twitter, Facebook, site e blog

Deputado Arthur Maia

SD / BA

10 a 50

0/0

2,3 MB

Mobigap Mobile

Home, Notícias, Ações, Contato

Deputado Federal Hugo Leal

PROS/R J

50 a 100

03/fev

5,2 MB

Imperion Apps

Deputado Jonathan de Jesus

PRB / RR

10 a 50

0/0

3,1 MB

Traki Mobile

Deputado Luiz Martins

PDT / RJ

10 a 50

4/0

5,6 MB

Fattoria Web

Home, Nossos desafios, Pergunta e resposta, Contato, Cadastro Notícias, Eventos, Email, Twitter, Sobre, Rede J, Facebook, Checkin, Locais, Site, Telefone, Postar, Wall Endereço

Twitter, Facebook, YouTube, Telefone, Email, Endereço Biografia, Endereço, Atuação, Notícias, Email, Saiu na mídia, Telefone, Site, Twitter, Facebook Notícias, Ações, Twitter, Home Facebook, Youtube, Site, Email, Telefone, Endereço Últimas Notícias, Twitter, Perfil, Defesa do Facebook, Consumidor, YouTube, Galeria de Fotos, Formulário Vídeos

155


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Deputado Marcon

PT / RS

10 a 50

02/jan

2,9 MB

Dionilso Marcon

Apresentação, Propostas, Links recomendados, Receba nosso newsletter e SMS

YouTube,Twitt er, Facebook, site

Deputado Popó

PRB/BA

5 a 10

0/0

4 MB

Traki Mobile

Home, Agenda, Notícias, Participe

Deputado Renzo Braz

PP/MG

10 a 50

0/0

5,3 MB

INSTAPPS

Nenhum

Instagram, Flickr, Facebook, Twitter, YouTube Nenhum

Dr. João Deputado Federal 2200

PR / RJ

10 a 50

01/jan

12 MB

Rubensjr.com.b r

Dr. João, Agenda, Fale Comigo!

Blog, Facebook, Instagram, YouTube

eder mauro PSD / PA 5500

10 a 50

02/jan

8,2 MB

TV Multimídia

Biografia, Propostas, Jingle, TV 5500

Facebook, YouTube, Flickr

FELIPE CARRERA S FEDERAL 4004

PSB / PE

10 a 50

1/0

4,5 MB

Up to Date Eventos

Sobre Felipe, Propostas, Agenda, Deixe seu recado, Tirar Fotos, Fotos Compartilhadas

Facebook, Instagram, Twitter, Flickr

Flávia Morais 1212

PDT /MG

5 a 10

0/0

13 MB

Art Rio Eventos E Publicidade

Minha História, Fotos, Eventos, Nosso jingle, Sua Sugestão, Fotos

Facebook, Twitter, Instagram, YouTube

Gláuber Braga

PSB / RJ

10 a 50

0/0

2,1 MB

Designtec Comunicação

Biografia, Projetos, Notícias, Opine, Contato, Projetos, Notícias, Opine, Contato

Facebook, Twitter, Youtube, Instagram, Email, Telefone, Endereço

Jerônimo 1313

PP/RS

10 a 50

0/0

14 MB

Vinicius Zanus

Quem é Jerônimo?, Trajetória Pública, Agronegócio, Combate a Corrupção, CINDRA, Esporte e Educação, Questão indígena, Transporte, Notícias, Jingle, CD: De pai para filho, Fala, Jerônimo!

Facebook, Twitter, Instagram, Site, Email, Telefone, Endereço

João Daniel - 1311

PT / SE

50 a 100

08/mai

5,4 MB

Junior Moura

MST, Perfil, Calendário, Notícias 1311

Facebook

Joyce Matias 4099

PSB / DF

10 a 50

0/0

2,2 MB

SRJ

Propostas, Rede, História

Site, Facebook, Youtube, Instagram, Twitter,

156


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Julio Lopes RJ

PP / RJ

50 a 100

0/0

4,5 MB

ExpressApps

Conheça, Mensagens, Notícias, Fotografe, Contato, Galeria, Trens Metrô, Barca

Facebook, Twitter, Youtube e Instagram

Marco Antonio Cabral

PMDB/R J

100 a 500

19/out

7,1 MB

Editorall Digital Studio

Perfil, Propostas, Agenda, Notícias, Fale Comigo, Colabore, Cola, Compartilhe

Nenhum

MARIO MOREIRA

PSDB/P A

50 a 100

03/jan

1,5 MB

TV Multimídia

Biografia, Propostas, Fotos, Carta ao Produtor

Facebook, YouTube, site

Mendes Thame

PSDB/S P

50 a 100

0/0

5,8 MB

Usina de Apps

Biografia, Pesquisa, Eventos, Localização, Mensagens

Facebook, Twitter, Youtube

Paulo Pimenta

PT / RS

100 a 500

13/jul

9,6 MB

MobilizeBrasil.c om

Sobre, Nossos Desafios, Pergunta, Lista de Mensagens, Perfil

Nenhum

Puty

PT / PA

50 a 100

0/0

9 MB

MobilizeBrasil.c om

Home, Nossos desafios, Redes (Fotos e Vídeos), Sobre/Notícias, Cadastro

Facebook, Twitter, site e blog

Renato Rabelo

PC do B/BA

10 a 50

03/jan

6,1 MB

MobilizeBrasil.c om

Roney Nemer 1515 Federal

PMDB/D F

10 a 50

04/mar

14 MB

Cyberh Marketing Digital

Serginho Cardoso 2025

PSC / SP

10 a 50

3/0

3,1 MB

José Carlos Siqueira

Home, Nossos Twitter, desafios, Contato, Facebook, site Redes (Fotos e Vídeos), Sobre/Notícias, Cadastro Perfil, Fotos Facebook, Twitter, Site, Email, Telefone, Endereço Realizar é a Facebook, diferença, Indique Twitter, um amigo, Google+, Frases, Enquete, LinkedIn,Pinter Fale Conosco, est, site, Vídeos telefone, endereço

SIMPLÍCIO ARAÚJO 7777

SD/MA

50 a 100

03/fev

2,6 MB

ALC AGÊNCIA DIGITAL

Conheça, Notícias, Jingles, Agenda, Informativos, Cadastre-se

Facebook, Twitter, Instagram, Flickr, Telefone

Tonho dos Couros 4469

PRP / ES

50 a 100

04/jan

4,9 MB

EASTY MEDIA

Perfil, Agenda, Multimídia, Participe, Notícias

Facebook, YouTube, Twitter

157


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

Vote 4388 Nelson Bugalho

PV / SP

1a5

0/0

3,3 MB

WIN by NET

Agenda, Compartilhe, Colabore, Vote 4438, Contato

Facebook, site

Walter Ihoshi

PSD / SP

10 a 50

3/0

4,9 MB

InoveSis

Nenhum

Weverton 1212

DF / MA

100 a 500

18/mai

12 MB

Igor Leonardo Salomão de Sousa

Walter Ihoshi, Jingle, Bandeiras defendidas por Walter Ihoshi Biografia, Notícias, Áudios, Contato

#Sou1515

PMDB/ RN

100 a 500

22/ago

5,5 MB

IdeiaSoftware

Agenda, Realizações de Fafá, Personalize sua foto

Twitter, Facebook, Instagram Facebook, Instagram, Twitter

Fonte: Google Play e produção do autor

Os desenvolvedores Traki Mobile e MobilizaBrasil.com foram identificados como os mais presentes. Esse aspecto é esperado, já que os profissionais que se especializam na produção de aplicativos para políticos montam um modelo pronto e oferecem o serviço a candidatos. Por outro lado, a encomenda em massa pode “engessar” o formato das ferramentas, fazendo com que muitos deles sejam parecidos demais em estrutura, sem apostar em originalidade ou pontos para convencimento do eleitor, variando somente no conteúdo. Nota-se ainda que contratar os serviços de um desenvolvedor que não possua trabalhos parecidos na área passar a impressão de um serviço amador ou até inacabado, como é o caso de Marcelo Serafim – a página do aplicativo na Google Play não oferece informações sobre o conteúdo, mas o serviço em si conta com os mesmos tipos de conteúdo e contato que a maioria das demais ferramentas. Como resultado, uma quantidade bastante reduzida de downloads foi realizada em período eleitoral.

4. Conclusão Ao analisar os dados coletados para o presente artigo, nota-se que o uso de aplicativos para dispositivos móveis nas Eleições 2014 no Brasil é um mercado possível e que pode render bons frutos, mas ainda mal utilizado ou pouco aproveitável. O exemplo encaixa-se na teoria de “americanização da política” descrito por Albuquerque (1998). Até mesmo os mais populares em downloads e avaliações na Google Play possuem uma taxa de downloads pouco relevante (especialmente se comparados ao número total previsto de votos necessários para vencer uma eleição). Além disso, esses materiais não são exclusivos ou muito otimizados para o mobile, sendo meras 158


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

reproduções dos sites. Levando em conta que o próprio uso de sites de campanha e de candidaturas podem ter recebido críticas no início do uso justamente por conta da falta de originalidade da produção de conteúdo, que já era encontrado em mídias tradicionais, é possível esperar que, se adotados, esses programas de dispositivos móveis adquiram uma identidade própria com o passar das campanhas e tornem-se um destaque da campanha eleitoral nas chamadas novas mídias. O mercado do Android já é muito popular no Brasil e tende a ser ainda maior, o que prova que ele não deve ser ignorado. Os conteúdos dominantes são os mesmos dos sites de campanha e das redes sociais, que são formas mais tradicionais de campanhas eleitorais online: a biografia do candidato, uma lista de propostas, projetos e realizações (caso o político já ocupe ou tenha ocupado algum cargo), informações de contato, possibilidades de adesão à campanha ou compartilhamento de mensagens e postagem de fotos, áudios e vídeos da campanha. Como todos eles estão disponíveis naturalmente na internet, na forma dos perfis desses candidatos ou na versão mobile das páginas de campanhas, é questionável se os atuais conteúdos são realmente relevantes para o eleitor, seja ele indeciso ou com o voto já definido no candidato em questão. As próprias formas de contato são as mesmas, apostando somente nas redes sociais mais populares do momento, como Twitter, Facebook, YouTube e Instagram. Para efeitos de comparação, Obama utilizou 16 mídias sociais e criou uma plataforma própria de interações entre eleitores (GOMES, FERNANDES, REIS, SILVA, 2009). Portanto, fica a dúvida sobre que tipo de conteúdo criar para ser veiculado diretamente nos aplicativos. Vários deles já apresentam menos textos que o comum, aspectos visuais de qualidade e foco em multimídia, mas isso parece não ser o suficiente para atrair o público. Os jogos e passatempos mostram-se bastante populares na Google Play, e a criação de uma atividade lúdica e de lazer junto com o setor informativo da ferramenta pode ser a solução para prender usuários de todas as idades, sejam eles eleitores ou filhos e netos de eleitores. É questionável, entretanto, se esse tipo de conteúdo seria levado em conta pelos candidatos, já que pode encarecer o serviço de desenvolvimento e exigir maior preocupação e cuidado com a ferramenta móvel. Por fim, a publicização do aplicativo deve ser massiva, tanto em meios online, como nas redes sociais do candidato, a meios tradicionais massivos, como no Horário Gratuito Público Eleitoral (HGPE). Ou seja, por mais que a internet queira ser designada como uma “nova mídia” livre de correntes e interesses dos meios de comunicação de massa, ela pode não

159


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

funcionar separadamente e necessitar de uma divulgação mais ampla para garantir visibilidade. Nota-se ainda, a partir de uma análise superficial dos comentários (que envolvem somente elogios e palavras de apoio), que as pessoas que fazem o download desses aplicativos já têm alguma intenção política em relação ao candidato, como a garantia do voto, ou certo grau de aproximação com o candidato e com o partido. Dessa forma, tratase de um conteúdo com um horizonte muito limitado de transmissão de mensagens e aproximação dos eleitores, capturando e convencendo somente quem já estava parcial ou totalmente decidido em relação às eleições – é o que Pippa Norris (2003) fala sobre “pregar aos convertidos”. Dificilmente, eleitores indecisos buscariam nos aplicativos os dados sobre biografia, propostas e realizações de vários candidatos para efeitos comparativos, já que veículos tradicionais (o Horário Gratuito Político Eleitoral no rádio ou na televisão, os sites de campanha ou do candidato e as redes sociais) têm notável preferência. Ainda assim, a autora argumenta que os efeitos não são somente negativos, já que essas plataformas podem ser usadas para que uma base eleitoral definida discuta estratégias e dê continuidade às mobilizações e ações de comunicação. Não é possível definir se isso acontece nos aplicativos para Android dessas eleições, mas a possibilidade da autora não deve ser descartada. Ainda assim, não há como concluir se a prática dos aplicativos será popularizada nas próximas eleições (regionais, de 2016, ou nacionais, de 2018), se a quantidade de downloads aumentará ou se tais ferramentas terão uma importância vital no convencimento do eleitorado. Porém, a popularização dos sistemas Android e a já existência desse serviço no período eleitoral de 2014 já indica que eles ao menos estarão presentes, em menor ou menor quantidade e relevância.

Referências AGGIO, Camilo. Internet, Eleições e Participação: Questões-chave acerca da participação e do ativismo nos estudos em campanhas online. In: MAIA, Rousiley C. M.; GOMES, Wilson; MARQUES, Francisco Paulo Jamil Almeida (Org.). Internet e Participação Política no Brasil. Porto Alegre: Editora Sulina, 2011, p. 175-193. ALBUQUERQUE, A. “Spots Políticos: Americanização da Propaganda Política Brasileira?”, In: Textos de Cultura e Comunicação (39). Salvador, dezembro de 1998, pp. 113-31. BRAGA, Sérgio. O uso da Internet nas campanhas eleitorais: o balanço do debate e algumas evidências sobre o Brasil. In: REVISTA USP, São Paulo, n.90, p. 58-73, junho/agosto 2011. GOGGIN, Gerard. Ubiquitous apps: politics of openness in global mobile cultures. In: Digital Creativity, 22:3, 2011, p. 148-159

160


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

GOMES, WILSON; FERNANDES, Breno; REIS, Lucas; SILVA, Tarcizio. "Politics 2.0": A campanha on-line de Barack Obama em 2008. In: Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 17, n. 34, p. 29-43, out. 2009 LOCK, Matheus, BALDISSERA, Rudimar. Comunicação política on-line: estratégias de administração da visibilidade no ambiente da Web 2.0. In: IV Congresso Brasileiro Científico de Comunocação Organizacional e de Relações Públicas (Abrapcorp). 20 a 22 de maio, Porto Alegre-RS, 2010 NORRIS, Pippa. Preaching to the Converted?: Pluralism, Participation and Party Websites. In: Party Politics vol. 9, nº 1, 2003, p. 21-45. PENTEADO, Claudio Luis de Camargo. Facebook e campanha eleitoral digital. In: Revista Debate, Belo Horizonte, v.4, n.4, jul. 2012, p.41-53. _______________________________. Marketing político na era digital: perspectivas e possibilidades In: Revista USP, São Paulo, nº 90, p. 6-23, junho/agosto 2011. PETRONZIO, Matt. The Rise of Mobile in Election 2012. Disponível em: <http://mashable.com/2012/10/02/mobile-election-2012>. Acesso em 29 de outubro de 2014. STROMMER-GALLEY, Jeniffer. On line interaction and why candidates avoid it. In: Journal of Communication 50 (4), 2000, p. 111-132. WALTON, Marion, DONNER, Jonathan. Mobile-mediated Publics in South Africa's 2009 Election. In: Mobile Communication: Dimensions of Social Policy / James E. Katz (org.). New Jersey: Transaction Publisher, 2011.

Outras referências GOOGLE.COM. Google Play. 2014. Disponível em: <https://play.google.com/store>. Acesso em 3 de dezembro de 2014. SMITH, Aaron, DUGGAN, Maeve. The State of the 2012 Election - Mobile Politics. Disponível em: <http://pewinternet.org/Reports/2012/Election-2012-Mobile.aspx>. Acesso em 29 de outubro de 2014.

161


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

162


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

163


- Internet e Eleições 2014 I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

164


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.