CADEIA PRODUTIVA DO LEITE
Identifica莽茫o No. 1 - Chapec贸, 30 de novembro de 2011. Juliano Vit贸ria Domingues e Danilo Balen.
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CADEIA PRODUTIVA DO LEITE
Apresentação
A Cooplequil em parceria com a ITCP/Unochapecó, Epagri e o Projeto Mais que Leite apresentam esta cartilha com base nas sistematizações das doze reuniões com os cooperados, realizadas nas comunidades do município de Quilombo, no mês de setembro de 2011. Mostram também, algumas reflexões feitas nas reuniões sobre o leite, como a produção, exportação, consumo, modelo produtivo e a questão chave, a decisão dos cooperados. O objetivo da cartilha é sistematizar as informações e reflexões ocorridas em todas as reuniões, principalmente sobre o tema da cadeia produtiva do leite e das respostas dos agricultores das decisões de suas propriedades.
Introdução
A Cooplequil abrange hoje 280 associados e coleta um total de 500 mil litros de leite por mês. Ela se preocupa com a qualidade de produção e com os pequenos produtores de leite, isto é, não se preocupa apenas com o lucro, mas com a qualidade de vida e o bem-viver de seus cooperados.
A ITCP é um projeto de extensão da Unochapecó que trabalha com organizações, grupos, cooperativas e associações, na perspectiva da Economia Solidária, tendo como papel principal ajudar na gestão destes grupos. Para isso, ela acredita num ponto chave que é a troca de informações, neste caso, entre Cooperativa e associado.
As Reuniões
Houve no mês de agosto um replanejamento da gestão da cooperativa com o objetivo de conhecer os problemas que afetavam as ações da diretoria. Assim, os dirigentes com auxílio da equipe da ITCP levantaram quatro questões problematizadoras: a comunicação, a participação, a assistência técnica e a infraestrutura. A comunicação e a participação se mostraram os pontos mais importantes, em vista do momento, para que a cooperativa pudesse resolver. Por isso, determinaram-se estas reuniões para levar e buscar informações com os associados e para discutir um papel importante na cooperativa, a partir da discussão da cadeia produtiva >
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do leite e da tomada de decisão dos agricultores associados, qual é o rumo de nosso modelo produtivo? Para que os cooperados entendam minimamente as questões relacionadas sobre a cadeia produtiva do leite, foram abordados alguns pontos principais que caracterizam o leite e como ele se movimenta nesta dinâmica de mercado, bem como o modelo de produção proposto pelas empresas e grandes cooperativas em contraponto ao modelo alternativo de produção.
Programação
- Cadeia Produtiva (pág 3) - A produção (pág 4) - Exportação (pág 5) - Consumo (pág 5) - Mudança Geográfica do Leite (pág 6) - Modelo de Produção (pág 6) - “O que os associados da Cooplequil querem do leite na sua propriedade?” (pág 7)
Cadeia Produtiva
A cadeia produtiva do leite se divide em quatro eixos principais, a
produção, a transformação, a distribuição e o consumo. A produção é o ponto inicial, onde agem todos os processos de manejos, desde o solo, o cuidado com as forrageiras, sanidade animal, até os processos de ordenha e de armazenagem do leite. Passa-se a ser transformação, quando há uma modificação do leite, ou seja, é retirado o excesso de gordura, embalado, entre outros. A distribuição é feita quando existe uma movimentação do leite para outros locais, por exemplo, o leite pode atravessar estados para o consumo. E, por último, o consumo, que nada mais é do que adquirir o produto e tomar o leite ou comer o queijo, por exemplo. Há alguns anos atrás, esta cadeia produtiva era avançada de modo mais rápido, quer dizer, a etapa de produção até o consumo era num tempo menor. O agricultor criava suas vacas e consumia o próprio leite, ou então vendia dentro da própria comunidade ou cidade, mas ainda era reduzida a cadeia produtiva. E quem determinava a produção e o consumo era o produtor. >
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Hoje ela está um pouco diferenciada, os eixos principais são os mesmos, mas mudou o tempo de duração do leite em cada um dos eixos. Os agricultores ainda criam e ordenhas suas vacas, mas o modelo teve mudança, e a quantidade de agricultores que vendem este leite aumentaram. Assim, a etapa de transformação mudou de “dono”, agora quem tem ela na mão, geralmente, são as empresas, que efetuam as embalagens e outros processamentos. Ainda, a distribuição aos mercados também ficou para estas empresas que vendem este leite. Por último, o consumo é feito pelas mesmas pessoas, mas agora pela compra nos mercados, aumentando também o número de consumidores. Quer dizer, os principais eixos ainda existem, mas se diferenciam de antigamente. Com isso o poder de voz muda, sai da mão dos agricultores e passa para os consumidores, que ditam pelo poder de compra, ou seja, de consumo, e os agricultores, que são muitos, ficam apenas com a etapa da produção. Como mostra
a figura abaixo:
A produção
Você sabe a quantia de leite que é produzido no mundo por ano? No mundo são produzidas 711,9 bilhões de litros de leite em um ano (FAO) – uma quantidade bem considerável. E se pensarmos a nível nacional. O Brasil quanto produz de leite? Os dados nos mostram que em nosso país, no ano de 2010, tivemos uma produção de 29 bilhões de litros de leite segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Segundo a pesquisa de Produção Pecuária Municipal do IBGE, no ano de 2008, Santa Catarina teve uma produção de 2,1 bilhões de litros de leite, e o Oeste Catarinense é responsável por 72,42 % deste total.
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Exportação
Mas se pensarmos, então, no total que é exportado, será que os países trocam muito leite entre si? Na verdade não, é apenas exportado no mundo um valor de 7% do total dos litros produzidos. E a nossa exportação? Apenas 1,3% do nosso leite é para exportação – quantia bem abaixo da mundial. Agora, sabemos alguns números mundiais e nacionais da produção de leite, mas o que significam estes dados? Significam que o leite é um alimento humano, que, comparado com a soja, tem uma influência muito maior para as comunidades do que para o mercado externo. Além disso, geram para países desenvolvidos, como EUA, França e Inglaterra e buscam gerar para países em desenvolvimento, como Brasil e Países Africanos a autossuficiência do leite. E, ainda, por ser um alimento humano possui baixo custo, tanto pela sua limitação na produção quanto para não gerar fome. A argentina, por exemplo, pos-
sui uma variação da produção de leite de acordo com o crescimento populacional. O que chamamos de crescimento vegetativo. Ainda, os castelhanos possuem um consumo de leite de 165 per capita, isto é, uma pessoa consome 450 ml de leite por dia.
Consumo
Sabe-se que a diversidade social do país é grande, ou seja, existem muitas regiões e, cada região, diferentes tipos culturais, por esta razão, existem diferentes tipos de costumes, valores e crenças. Para o consumo de leite não é diferente, portanto em nosso país o consumo é diferente. Então, questiona-se, quais regiões consomem mais leite? A região nordeste consome uma quantidade grande de leite de caprinos e ovinos e a região norte, o suco. As regiões que mais consomem leite são a sudeste e sul. Pela grande diversidade do país, a economia também toma uma direção, dependendo de fatores, para cada região. Assim, Minas Gerais e São Paulo são os estados que mais produzem leite no Brasil. >
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Com produção concentrada, e altos padrões.
Mudança Geográfica do Leite Nos últimos 20 anos, houve
no Oeste Catarinense uma grande elevação da produção de leite. A partir daí, a produção começa a proporcionar renda a muitos agricultores. E nesse exato momento, nas regiões produtoras (MG e SP) o leite vai perdendo espaço, fazendo essa mudança para nossa região, chamado a mudança geográfica do leite. O leite se torna um produto importante na região por dois fatores principais, o baixo custo e pela mão de obra familiar. Diferente de SP e MG que tem mão de obra contratada e alta custo tecnológico. O baixo custo é por causa da produção a base de pasto, o que diminui o gasto comparado a utilização de ração. A mão de obra familiar ajuda na diminuição dos gastos, também comparado com o modelo concentrado. Com a mudança geográfica do leite, as grandes empresas começam também um direcionamento para a meia lua do leite. A
meia lua do leite é formada pelo noroeste do Paraná, oeste de Santa Catarina e noroeste do Rio Grande do Sul. Esta mudança resulta numa influência dos modelos de produção para o mesmo tipo de produção feita na região Sudeste.
Modelo de Produção Com a
mudança geográfica do leite somado ao incentivo feito pelas grandes empresas e, ainda, pelas características produtivas da região, torna-se necessário discutir qual é o modelo produtivo que a meia lua do leite, ou que a Cooplequil, tem que seguir ou ter como objetivo. Já que o modelo de produção resulta num modelo de desenvolvimento, isto é, dependendo do tipo de trabalho realizado nas propriedades, será determinado o fortalecimento de diferentes pessoas. Existem, hoje, dois modelos utilizados, o convencional e o alternativo, ou concentrado e diversificado. Estes modelos se contrapõem e se desenvolvem de modos diferentes nas comunidades, afetando a vida de todos os habitantes da região. Por isso, é necessário ter a noção da escolha >
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e do efeito que isso trará. Estão especificados abaixo os dois modelos no quadro: Produção e transformação desconcentrada/diversificada
Produção e transformação concentrada/especializada
Genética média;
Genética alta produtividade;
À base de pasto;
Alimento concentrado;
Instalações simples;
Instal./equipamentos caros;
Mão de obra familiar;
Mão de obra contratada;
Baixos custos Sanitários;
Altos custos sanitários;
Manejo simples;
Manejo sofisticado;
Pouca mecanização;
Mecaniz. (terra/manejo);
8-15 L/vaca; 15-30 L/ha;
20-30 L/vaca;
6-20 vacas/produtor;
Mais 30 vacas/produtor;
Leite: 20-50% da renda.
Leite: + 70% da renda.
O quadro mostra os dois modelos principais de produção de leite, o primeiro realizado no Oeste Catarinense e, na coluna da direita, o modelo do Sudeste do País. Analisando as características de cada modelo se pode concluir que os gastos são muito maiores no modelo concentrado aumentando também o trabalho e, ainda, já que alguns produtores não terão o poder de investimento,
serão retirados do campo, por não se encaixar neste modelo tecnológico. Fica a questão: os agricultores irão optar por um modelo concentrado com alta tecnologia e dependências, assim como os suínos e aves, ou irão optar pelo modelo alternativo com visão da agricultura familiar, de baixo custo e manejos simples, sem excluir os agricultores do campo?
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“O que os associados da Cooplequil querem do leite na sua propriedade?” Responder essa per-
gunta se torna necessário para que a cooperativa consiga tomar algumas decisões que vão ajudar o seu cooperado, por isso é necessário compreender o que cada associado quer da propriedade, pois são o conjunto das pessoas que formam a cooperativa e delas devem sair as decisões. Assim, nas reuniões feitas nas comunidades se obteve uma média de participação de 11,42 associados por reunião e um total de 137 associados. Destes 69,34% eram homens, 22,63% mulheres, 5,11% jovens e 2,92% crianças. A próxima tabela mostra os dados das respostas da decisão sobre o leite na propriedade:
Tabela 1. Dados sobre as respostas das reuniões sobre a tomada de decisão do leite na propriedade.
Produção
(%)
Respostas
Aumentar
52
42
Manter
35
28
Diminuir
2
2
Sem resposta
11
9
Das 42 respostas de aumento da produção, dez delas tem como foco a melhoria das pastagens, sendo a base do solo ou fertilidade e cuidados o principal problema levantado. Do total que decidiu manter, seis não tem como atividade principal na propriedade o leite, podendo ter um trabalho não agrícola fora ou mesmo dentro da propriedade. Com base na amostra levantada com 21 propriedades, obteve-se uma média da área de 18 hectares. Para tanto, no fim das reuniões ficou claro para os agricultores associados e para os dirigentes que o modelo de produção escolhido para a Cooperativa de Produtores de Leite de Quilombo é o modelo desconcentrado/diversificado ou alternativo.