Revista Nosso Capital

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Crescimento reduzido nos próximos anos

Mercado imobiliário aquecido

Empreender é um bom negócio

ABRIR O PRÓPRIO NEGÓCIO: É PRECISO COLOCAR NA BALANÇA


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EDITORIAL

A economia de Chapecó e, consequentemente, da região oeste catarinense, demonstra hoje um potencial de desenvolvimento muito grande. Alguns setores estão ganhando força e ampliando sua atuação para diversas outras cidades e regiões brasileiras. O que até então se sobressaiu foi a agroindústria, que possui raízes históricas e já está consolidada na região e que continua a gerar um grande movimento econômico para os municípios. Atualmente, contudo, outros setores ganham destaque em inovação e mostram sua cara para o país, como, por exemplo, a área de serviços. Podemos citar a expansão dos novos empreendedores na cidade de Chapecó, que cada vez mais ampliam e formalizam seus negócios. O povo considerado na capital catarinense e em outros estados como “interiorano” tem sede de inovação, busca mercado, empreende e, acima de tudo, torna a economia local uma das maiores de Santa Catarina. Pensando na importância de informações como essas, a primeira edição da Revista Nosso Capital pretende apresentar aos leitores a economia chapecoense de uma forma diferenciada. Falar de um sistema econômico não é apenas explicar números e dados, mas sim, mostrar, de uma forma simples e direta, quais as informações e potencialidades existentes em uma localidade. Nesta edição, discutimos assuntos de diferentes áreas e mostramos que é possível falar de economia em qualquer setor da sociedade, afinal, ela está em nosso dia a dia. O projeto traz pautas sobre saúde, investimento e negócios, sobre o que fazer com o seu dinheiro, faz um retrato do empreendedorismo em Chapecó, dentre outras questões. Durante o processo de elaboração da revista, um elemento principal nos deu norte: o leitor. Foi isso que nos fez buscar uma informação de qualidade, e, principalmente, de fácil entendimento, que pudesse de fato interessar os chapecoenses. Esperamos que todos tenham uma boa leitura e possam tirar o maior proveito dos assuntos trazidos pela revista econômica Nosso Capital.

NOSSO EXPEDIENTE Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó Reitor: Odilon Luiz Poli Vice-reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão: Maria Aparecida Lucca Caovilla Vice-reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Claudio Alcides Jacoski Vice-reitor de Administração: Antonio Zanin Coordenadora do Curso de Jornalismo: Mariangela Alves Torrescassana Professora Orientadora: Lírian Sifuentes Projeto Editorial: Adriane Rech e Leillís Borges Projeto Gráfico: Danilo Balen Diagramação: Danilo Balen Textos: Adriane Rech, Leillís Borges Fotos: Adriane Rech, Andressa do Nascimento e Leillís Borges Infográficos: Ana Carolina Orlandin

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SUMÁRIO

OPINIÃO, 8 E 29

ENTREVISTA, 10 SAÚDE, 16 Já fez uma pesquisa sobre o custo de um produto orgânico? A diferença pode estar no preço

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SUMÁRIO 5

EMPREENDER, 20

INVESTIMENTOS, 24 Deseja investir? As franquias podem ser um bom caminho para abrir um negócio. Empreendedores: destaque pelo aumento nos novos negócios nos últimos anos. Conheça o cenário que Chapecó vive hoje

AGRONEGÓCIO, 30 Soja em alta no Brasil

SEU DINHEIRO, 32 As vantagens e desvantagens da previdência

Mercado imobiliário em Chapecó.a todo vapor

CONSUMO, 34 A insatisfação de artesões de Chapecó

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CURTAS

PREJUÍZOS PARA SANTA CATARINA Um relatório do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa) avaliou que os prejuízos com a estiagem que atingiu a região Sul chegaram a R$ 777 milhões para a agricultura de Santa Catarina. As mais afetadas foram a safra de milho, com perdas de 48%, soja, com queda de 24,8%, além da produção de leite, que sofreu um impacto negativo de 7,4% Fonte: Agência Brasil

COOPERATIVISMO É ALTERNATIVA EM SC A Organização das Cooperativas Brasileiras divulgou em abril o relatório “Indicadores do Sistema OCB”, que traça um panorama das cooperativas no país. Santa Catarina é destacada como o terceiro estado da União em número de cooperados, somando 1 milhão e 200 mil pessoas que participam e buscam no sistema uma alternativa de negócio. Está atrás apenas de São Paulo (3,4 milhões) e do Rio Grande do Sul (1,9 milhão). Fonte: Ocesc

E-COMMERCE: BRASILEIROS ESTÃO NO RANKING Uma pesquisa realizada pela WordlPay com 15 países revelou que os consumidores brasileiros gastam em média 27% de sua renda em compras pela web. A média global é de 23%, sendo que o maior índice se deu na Índia, onde a população gasta 33% da renda com o e-commerce. Na sequência, aparecem a China, com 31%, Reino Unido, com 25%, e Estados Unidos, com 23%. O estudo ainda revela que, no Brasil, 8% dos entrevistados disseram que já gastaram até mais da metade da renda disponível com compras online. A crise não foi motivo de queda: 39% afirmaram que realizam compras pelo e-commerce. Já o crescimento líquido desse mercado foi de 20%. Fonte: E-commerce News


CURTAS 7

NOVELA DO CÓDIGO FLORESTAL TERMINA COM APROVAÇÃO A Câmara dos Deputados aprovou, no dia 25 de abril, o parecer do deputado Paulo Piau (MG) para o novo Código Florestal – PL 1876/99. O texto exclui alguns pontos que vieram do Senado, mas manteve a necessidade de recomposição de no mínimo 15 metros de mata nas chamadas Áreas de Preservação Permanente (APPs) em torno de rios com até 10 metros de largura. A votação se encerrou com 274 votos a favor e 184 contra. Foram mantidas as atividades agropecuárias iniciadas até 22 de julho de 2008 em APPs, mas as demais regras de replantio da vegetação foram excluídas. Além disso, as faixas de proteção variam de 30 a 500 metros em torno dos rios, lagos e nascentes (conforme seu tamanho) e encostas de morros. O novo código determina a suspensão imediata, nas reservas legais, de atividades em áreas desmatadas irregularmente após 22 de julho de 2008. Os percentuais de reserva legal continuam os mesmos da lei atual - 80% em florestas da Amazônia, 35% em cerrado da Amazônia e 20% nos demais casos. O texto segue para sanção da presidente Dilma. Fonte: Agência Câmara

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R$ 77 BILHÕES PARA A AGRICULTURA Entre julho de 2011 e março de 2012, os produtores rurais brasileiros receberam um total de R$ 77,7 bilhões para custeio, investimento e comercialização. Os dados divulgados no final de abril pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) demonstram grande soma para a agricultura empresarial (R$ 67,8 bilhões) e um valor menor de contratações na agricultura familiar (R$ 9,8 bilhões). O Programa ABC, que utiliza boas práticas ambientais e sustentáveis somou R$ 611,2 milhões no período em operações de crédito. No Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp), foram contratados R$ 1,5 bilhão e os investimentos através do Programa de Modernização da Agricultura e Conservação de Recursos Naturais (Moderagro) somaram R$ 340,4 millhões, enquanto no Programa de Incentivo à Irrigação e à Armazenagem (Moderinfra) foram mais de R$ 176,2 milhões. Fonte: (Mapa)


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OPINIÃO

Planejamento Financeiro

Com a crise econômica que apresenta os Estados Unidos e, principalmente, a Europa, o governo brasileiro, através do Banco Central, sobretudo o COPOM – Conselho de Política Monetária – reduziu a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,75%. A taxa Selic passou a ser de 9% ao ano, a menor nos últimos dois anos. Esse corte da taxa de juros foi o sexto em 2012, isso faz com que haja uma diminuição dos custos do financiamento, dos crediários e aumente o dinheiro em circulação na economia. No entanto, isso tem possibilitado as famílias a aumentar o consumo de forma exacerbada, sem controle, levando ao endividamento. A maioria dos brasileiros não sabe quanto paga de juros e mantém planos de compra sem se preocupar com o orçamento. Quando se fala em orçamento não se trata de falar em poupança, mas quanto se ganha e quanto se gasta. Pesquisa da Ipsos Marplan, divulgada pela Revista Exame, revelou que 87% das classes D e E não sabem quanto pagam de juros. Esse percentual é de 71% na classe C e 48%, na A e B. Esses dados mostram que o brasileiro está se endividando cada vez mais e que, sobretudo as classes baixas, não conseguem comprar à vista. Dessa forma, com a redução da taxa de juros, as famílias tendem a aumentar seus gastos, e, se não for feito um planejamento no orçamento, aumentam ainda mais suas dívidas. De acordo com o Frederico Santos Damasceno, Economista, professor do Curso de Ciências Econômicas da Unochapecó

Dieese, a família média brasileira gasta cerca de 24% de sua renda com habitação e mais 6% com serviços públicos (água, luz e telefone), isso representa um terço da renda familiar. Logo, com diminuição dos juros, os brasileiros têm que evitar o gasto desnecessário para não comprometer sua renda com as despesas básicas, essenciais. É importante destacar que a elaboração de um orçamento consiste em anotar as receitas e seus gastos. Os gastos serão fixos, ou seja, todo mês você tem que pagar aquele valor fixo, podendo ser citado como exemplo o aluguel. Já as despesas variáveis, como o próprio nome diz, vão variar, sofrer alterações mensais, podendo ser citadas despesas com médicos, dentistas, entre outros. Devem-se anotar as despesas que irão ter com lazer, roupas, bem como deixar uma reserva para eventuais necessidades. Logo, merece ser destacado que administrar o orçamento pessoal ou familiar exige uma mudança de postura. Ainda mais em uma sociedade consumista, onde as pessoas são instigadas a consumir indiscriminadamente, sem levar em conta a necessidade da aquisição do produto ou serviço, e, o mais importante, o peso no orçamento. Certamente, é importante evitar ter como referência o valor das parcelas, mas analisar a diferença entre o valor à vista e o valor total parcelado. Por isso, a necessidade de educar as famílias para consumir conscientemente,

visando a ter um padrão de vida satisfatório, mas sem levá-las ao endividamento. Erros comuns: • esperar momentos de crise para tomar a iniciativa de fazer um planejamento de orçamento; • não estabelecer metas financeiras; • tomar decisões sem saber de todos seus efeitos; • confundir planejamento financeiro com investimentos; • pensar que planejamento financeiro é só para quem tem muito dinheiro, ou para quando ficamos velhos; Algumas dicas: • comprar eletrodomésticos que consumam menos energia, para isso a necessidade de verificar o selo Procel, uma espécie de certificação para as indústrias que produzem equipamentos elétricos que cumprem todas as normas de funcionamento e economizam energia; • verificar quanto se gasta de luz. Um exemplo: se a pessoa utilizar a secadora de roupa três vezes por semana, por uma hora, representa um consumo de 42 Kw/h equivalente a R$ 16,35. • comprar à vista e evitar os parcelamentos. Nos EUA, quem compra um carro financiado paga, em média, 6% ao ano de juros. No Brasil, os juros são de 30%, ou seja, quase um terço do preço do veiculo é pago em juros. ■


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10 ENTREVISTA

Chapecó: cidade terá crescimento reduzido nos próximos anos Chapecó vive um momento muito importante de expansão e desenvolvimento econômico. Grande parte desse crescimento se refere ao contingente populacional que aqui vive. No senso de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município totalizou 183 mil habitantes, um número que fez com que muitos novos investidores voltassem o seu olhar para a região. Para tratar do assunto e apresentar um pouco das perspectivas de Chapecó, conversamos com Rogis Juarez Bernardy, geógrafo e doutor em Engenharia Civil na área de planejamento urbano e regional geógrafo, professor da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). Segundo o especialista, uma das tendências para os próximos anos é a redução desse crescimento frenético para um equilíbrio populacional, um ciclo vivido por outras regiões e cidades do país. O que se configura agora é um forte aumento da população das regiões litorâneas de Santa Catarina. NC: Alguns historiadores dizem que Bertaso projetou Chapecó para que tivesse 200 mil habitantes em 100 anos. Qual a sua visão sobre essa teoria? Rogis: Acho que é muito importante pensar no contexto da formação urbana, diante do que passava a região, qual era o contexto econômico no início do século XX. Temos a questão da formação das cidades e, imediatamente, nos vem em mente que Chapecó teve um processo de planejamento, em função de sua configuração de ruas. Na época, não existiam tecnologias que possibilitassem imaginar, por exemplo, um crescimento urbano

e nem existia a menor condição, mesmo nos grandes centros, de saber se a cidade de Chapecó teria em torno de 200 mil habitantes. Isso era impossível na época. O que houve foi um desenho urbano, que aconteceu no final da década de 20, aproximando o desenho da cidade, principalmente as ruas, em padrões urbanos europeus, que fugiam àquela difusão de modelos urbanos brasileiros que tínhamos até então. Não é comum você ver no Brasil cidades que tenham traçados urbanos como Chapecó, que são mais retilíneas, mais padronizadas. Então, lá no início do século XX, já existia essa perspectiva de traçado, mas as próprias casas que estavam localizadas no entorno da igreja não guardavam uma relação que permitiam observar, por exemplo, um distanciamento entre elas, um espaço destinado a ruas. Uma questão muito simples é imaginar que não existiam automóveis na época. Na minha concepção, é um erro atrelar o desenvolvimento urbano que Chapecó tem hoje a uma perspectiva de uma visualização de que a cidade teria esse contexto na atualidade, mesmo porque isso não era previsto nem na década de 50. Mas, nesse período, já existia a essência da formação daquilo que nós conhecemos hoje, que é esse traçado das ruas. Hoje, por exemplo, nós observamos uma cidade em franco crescimento e expansão, resultado de um modelo urbano muito recente, de 20 anos. Imagina para a época, existiam muito mais dúvidas se isso se constituía como uma cidade do que propriamente se ela pudesse ser mais tarde planejada.

“existe um favorecimento do relevo em

Chapecó para que pudessem projetar ruas que se constituíssem de forma continua e retilínea” Então o crescimento acompanhou esse mesmo desenho nos demais bairros de Chapecó? O que nós podemos registrar é uma influência muito importante da igreja, porque nós temos como padrão de guia a Avenida Getúlio Vargas, que parte ao lado dela, em sentido norte. Então, ela sempre vai influenciar no sentido longitudinal retilíneo, que você tem uma perspectiva de desenvolvimento contínuo. E aqui um fator muito importante: existe um favorecimento do relevo, em Chapecó, para que isso acontecesse, para que pudessem projetar ruas que se constituíssem de forma contínua e retilínea. Esse reto vai acontecendo aos poucos, ele não se dá em projeção de vias e muito menos aconteceu no início do século XX. As quadras vão se desenvolvendo, as casas vão se localizando a partir do centro de forma muito lenta. E, a partir da metade do século XX, é visível esse mantenimento do espaço que é destinado às vias. Depois, em sentido norte, isso também ocorre, embora atrás da igreja tenhamos uma urbanização bem mais recente, há um mantenimento desse traçado das ruas, mas em determinado momento isso já não é mais possível. Por exemplo, o bairro São Cristóvão já está formado em diagonal a Getúlio Vargas e a Fernando Machado, onde você tem uma urbanização mais orgânica. O relevo não permite que se mantenha a continuidade das vias. >


ENTREVISTA 11

Hoje Chapecó é a maior cidade do oeste catarinense. Como você avalia esse crescimento tão intenso? O oeste catarinense é uma divisão que contempla 118 municípios, que é uma regionalização do IBGE. Chapecó nem sempre teve essa condição, de pólo, de centro regional. Outro município exerceu essa função antes, que foi Joaçaba, pela dinâmica econômica vinculada à produção de cereais e atividades urbanas e à sua localização, mais próxima de corredores de deslocamento de produção para mercados consumidores. Num segundo momento, outro núcleo importante era São Miguel do Oeste, que perdurou até mais ou menos os anos 40 e 50. Num terceiro momento, nós temos a ascensão da cidade de Chapecó. Isso acontece a partir dos anos 60 e nitidamente está vinculado a um deslocamento das atividades agroindustriais para o nosso entorno. E se dá de forma visível uma transferência de capital da parte central do estado de Santa Catarina para nossa região e que determinam um novo núcleo de desenvolvimento das atividades agroindustriais, aliado à formação de grupos locais que investem na cadeia produtiva. Temos também condições interessantes de infraestrutura, mesmo que em certa parte precária. Chapecó está no corredor da BR 282 e num corredor de passagem que liga o Rio Grande do Sul ao Paraná. Então tudo isso faz com que haja essa mudança no padrão econômico da região oeste catarinense, deslocando a matriz produtiva pra cá. Isso se expressa no desenvolvimento urbano da cadeia de atividades que se desenvolve em função desse modelo econômico, resultando

em canalização populacional da região através da demanda de trabalho. Então, outras áreas agora se beneficiam desse crescimento? O desenvolvimento econômico não acontece de forma isolada num município. Por exemplo, você tem a ascensão de outros centros econômicos em função dessa centralização da matriz produtiva agroindustrial. Existem cidades se aproveitando dessa divisão da agroindústria na região, como a própria cidade de Xanxerê, que está se desenvolvendo, e Xaxim, que é uma cidade que vem crescendo bastante. Tem basicamente um desenvolvimento integral na região, embora ele seja muito mais expressivo aqui. O município de Chapecó tem uma centralidade econômica regional. Há também centralidades secundárias, como Concórdia e Caçador. Depois, terceiros níveis de desenvolvimento, como as cidades de Pinhalzinho, Xanxerê, Maravilha e Joaçaba. Posteriormente, nós temos os municípios menores que dão sustentação a esse desenvolvimento e que participam canalizando renda para cá, seja em impostos ou investindo em setores específicos.

“A urbanização vertical tem um limite também” Hoje vemos que Chapecó está expandindo para em território, mas também está crescendo em tamanho de prédios residenciais e comerciais. A cidade vai ter ainda para onde crescer? Chapecó sempre vai ter pra onde crescer, porque com as novas tecnologias não existe restrição

de espaços para moradia. Aqui temos três questões importantes. A primeira questão é a do espalhamento urbano, chamado de horizontalização da cidade. Isso, em termos econômicos urbanos, é um grande prejuízo, porque a cidade, quanto mais espalhada, mais cara, pois o custo de manutenção se eleva. É uma cidade com muitos vazios urbanos e que continua se espalhando. Esse é um modelo que nós chamamos, no Urbanismo, de predatório. Qual é a sua consequência principal? Ele vai aumentando o custo fixo da cidade. Por isso esse modelo de urbanização tem que ser revisto de forma urgente. Agora nós estamos vendo um contraponto, que é a chamada verticalização urbana: a formação de prédios, que é muito recente. A priorização da moradia de apartamento, em relação a de casas, possui cerca de 10 anos. Sempre que existe um adensamento de prédios em uma mesma região também é prejudicial. Aí está a importância dos gestores municipais aplicarem a legislação que indica que os moradores não tenham a perda da qualidade de vida em função desse adensamento urbano, como sombra, ventilação e frio. A urbanização vertical tem um limite também. É nítido que existe essa mudança no padrão: o centro e entorno se verticalizou e essa é uma tendência que está sendo difundida para os bairros, que estão localizados um pouco mais distantes da área central. E um terceiro fator é a questão das salas comerciais, dos prédios e edificações comerciais verticais, que são um fenômeno relativamente novo em Chapecó. Até então você tinha poucos prédios com essa característica. São padrões que a cidade de Chape-

có, por ser média, vai guardando, por um lado, com característica de pequena cidade, por outro, ela tem características de grande cidade. E o meio rural, como fica? Hoje em torno de 92% da população é urbana e a tendência é ampliar, por dois motivos: há um forte crescimento urbano e há uma pequena retração da população rural. Então, Chapecó pode se aproximar dos 100% de população urbana, embora isso não venha a acontecer integralmente. Observamos que os fluxos populacionais do rural para o urbano diminuíram. Hoje você tem a economia rural sendo desenvolvida basicamente por adultos e idosos. Isso, para mim, é um dos principais problemas da região para o futuro. Vai existir dificuldade de produção em função desse modelo. Então, qual é a tendência? Concentrar essas terras, sendo vendidas para investidores urbanos que tendem a desenvolver atividades como plantio de eucalipto ou produção pecuária, não dando continuidade à matriz produtiva diversificada. Como a maior cidade do oeste, Chapecó tem um custo de vida comparado a grandes ou pequenas cidades? Possui um custo de vida de uma cidade em franca expansão, que é dinâmica. Portanto, no meu ponto de vista, é um custo de vida um pouco acima do normal para o padrão de uma cidade como Chapecó. Mas, isso reflete a dinâmica econômica dela. Significa que os salários estão melhores, existem atividades econômicas mais especializadas, >


12 ENTREVISTA

FOTO: ADRIANE RECH

o desenvolvimento de infraestruturas que refletem aqui, como a construção da Foz de Chapecó, a instalação da Universidade Federal. No meu ponto de vista, é um custo de vida compatível como uma cidade em franca expansão. O custo de vida tende a se elevar nos próximos anos? Na verdade, há ciclos. O que existe na região hoje é um boom econômico que, em parte, é freado em função, por exemplo, de problemas com estiagem, mas, no geral, nos últimos anos, existe sim uma condição econômica muito favorável e que alguns alertas já são postos. Vemos na televisão, por exemplo, aumento dos níveis de endividamento. Então, isso é um ciclo e me parece que a região tende a voltar a uma normalidade num período vindouro, só que não se sabe dizer quando, em função também dessa injeção de recursos financeiros vinda de bancos oficiais ou não, para a nossa cidade. O mercado imobiliário é um exemplo, o financiamento de veículos é outro.

“A cidade tende a não crescer como agora. O maior crescimento quantitativo de Chapecó já aconteceu” Quais são as perspectivas de crescimento de Chapecó? Uma primeira questão é que a cidade tende a não crescer no mesmo padrão que ela vem crescendo agora. O maior crescimento quantitativo da cidade de Chapecó já aconteceu. Há uma tendência de crescer menos. Isso não significa que seja ruim. Hoje toda essa dinamicidade se reflete

no nosso salário, no padrão de renda, no tipo de trabalho. Em termos numéricos, a região demonstra que está havendo uma sinalização do ciclo migratório. Obviamente a cidade vai crescer menos, porque há uma diminuição da canalização de população na região. Se você fizer uma análise dos dados da nossa região, muitos pequenos municípios diminuíram de tamanho. Dessa população, parte veio pra cá. Agora, se considerarmos que somos quase 200 mil habitantes, o número de nascimentos/dia é bastante importante em função do tamanho populacional, mas também tende a diminuir de forma mais gradativa. Há uma tendência, daqui a uns 30 ou 40 anos, de estabilizar a população, pois esse crescimento está muito mais em função do vegetativo, ou seja, dos nascimentos aqui, do que propriamente da canalização da vinda de pessoas de forma mais ampliada de uma região que se esvaziou muito nos últimos anos.Falar que, por volta de 2030, Chapecó terá 400 mil habitantes, é uma ilusão, porque a cidade tende a se estabilizar na faixa dos 220 ou 230 mil habitantes. Imagina-se isso daqui uns 20 anos. Porque nós estamos fora do eixo econômico e de produção das grandes cidades. Se analisarmos o eixo Florianópolis e São José, por exemplo, a tendência é que, no futuro, ele abrigue 40% da população do estado de Santa Catarina, porque aí tem toda uma vitalidade urbana. Temos lastros ainda de crescimento, mas em percentuais menores e que levarão à estabilização, que é uma característica do estado. A população ainda migrará em busca de ensino e qualificação?

O objetivo de migração ainda persiste, mas não de forma tão intensa. É a chamada migração especializada, que acontece do meio rural para o urbano e do urbano para o urbano. Ela pode acontecer do interior de Quilombo para Chapecó ou pode acontecer da cidade de Coronel Freitas para Chapecó. Essa migração especializada acontece principalmente em busca de novas oportunidades de trabalho e continuidade do ensino. São os dois motivos principais. Poderíamos, por exemplo, no futuro, ter a migração pela busca da proximidade parental de idosos. Isso é interessante, só que, em termos de intensidade, é menor, mas tende a acontecer. O que se vê hoje é que essa migração de jovens está numa fase de enfraquecimento, pela própria diminuição brusca desse contingente populacional no meio rural. Basicamente, é oportunidade: trabalho, renda, melhor padrão de vida. E todos esses itens passam pela questão da ascensão do ensino, que tem um papel fundamental no ensino de graduação e os níveis posteriores, que hoje não são oferecidos de forma sistemática e diversificada, nos pequenos municípios, a não ser na educação não presencial. Há uma grande composição de jovens que, daqui a alguns anos, serão adultos e, daqui a mais tempo, serão idosos. Professor Rogis, o senhor citou antes que alguns setores da economia ainda estão em ascensão em Chapecó. Em consequência da redução do crescimento, esse setores acompanharão essa tendência? Se você imaginar que ele produz para a região, sim. Mas a economia de Chapecó é regional e

extraregional. É uma tendência que as atividades econômicas se especializem cada vez mais e se adéquem a um novo padrão de clientes. Em nível de Brasil, é um cliente em estabilização numérica, mas em ganho de especialização, em capacidade de consumo. Isso se salienta, principalmente, quando o jovem tem uma passagem por uma qualificação profissional através do ensino. Tanto a graduação, quanto níveis posteriores, ou seja, quanto mais ele evolui e se especializa, maior é a sua requisição ao trabalho.

“O ideal é que houvesse mais equilíbrio, ou seja, que os municípios pequenos não fossem tão deprimidos economicamente” Com essa redução, outras cidades do oeste poderão crescer? Não existem perspectivas de cidades que venham a ultrapassar Chapecó, porque o crescimento populacional delas e os níveis de renda são menores, mas nós temos cidades que possuem vitalidade. Por exemplo, Concórdia, Caçador, Xaxim e Pinhalzinho são cidades interessantes, que não têm tendência de crescimento, mas o emprego e a renda são presentes. Em termos de amplitude, não, mas podemos observar a formação de centros regionais secundários, que são muito importantes para a região. O ideal é que houvesse mais equilíbrio, ou seja, que os municípios pequenos não fossem tão deprimidos economicamente, e que existisse uma certa igualdade entre as cidades menores e maiores. ■


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14 EDUCAÇÃO

Qualificação: o melhor caminho para conseguir um emprego Em um cenário tão competitivo, não bastam mais os anos de experiência.

segundo vai deixar ele pronto para o mercado de trabalho, ensinar as técnicas somente e não toda a preparação que tem por trás disso”, afirma.

Apesar das muitas vagas de emprego disponíveis no país todo, não é fácil entrar no mercado de trabalho. Isso porque as empresas, cada vez mais, estão exigindo, além de boa vontade e experiência, qualificação. Existem ainda aquelas que dispensam funcionários por falta de preparação e encontram outros, muitas vezes, com menos experiência, mas que possuem vários cursos. Em Chapecó, o cenário não é muito diferente. Os jovens, principalmente, estão invadindo os cursos profissionalizantes e as universidades em busca de preparação. Existem na cidade hoje diversas opções de cursos em diferentes instituições. A maior parcela dos estudantes é composta por jovens de classe média, a faixa etária de quem procura essas instituições varia de 10 a 60 anos. São pessoas que buscam algum tipo de qualificação específica. Uma modalidade que está se popularizando aos poucos na cidade é o ensino médio integrado. O coordenador do curso do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), Alencar Migliavacca, acredita que existe uma diferença importante entre o ensino médio integrado e o curso técnico. “O primeiro prepara o aluno para o mundo do trabalho, ensina ele a lidar com pessoas, egos e com tudo o que envolve esse mundo, além de dar subsídios em alguma área especifica. O

“A demanda atual de Chapecó e região está concentrada nos setores secundário e terciário, mas também existe mercado para a tecnologia” No IFSC, o estudante que opta pelo ensino médio integrado vai cursar três anos de escola e mais um de Computação. A instituição encaminha o estudante para vagas de emprego e de estágio após a conclusão. O encaminhamento também acontece nos demais cursos do Instituto. A demanda atual de Chapecó e região está concentrada nos setores secundário e terciário, mas também existe mercado para a tecnologia. Alencar comenta que o IFSC decidiu implantar o bacharelado de Ciências da Computação, curso no qual ele é professor, devido à deficiência de profissionais nessa área. Em centros como Senac, Senai e Microlins, os cursos mais procurados são da área de gestão, negócios e tecnologia. Para facilitar o encaminhamento dos alunos ao mercado de trabalho, a Microlins possui uma agência que realiza todo o processo de integração. Os alunos acima de 16 anos e com melhor desempenho e frequência são indicados para empresas parceiras. Após a indicação, eles passam por um ciclo

de oito palestras, ministradas pelos professores da escola. “Nesses encontros eles aprendem sobre liderança, como lidar com pessoas e como se portar no ambiente de trabalho”, afirma a auxiliar administrativa Ingridi Bagatini, que conseguiu o emprego na Microlins após ter estudado em um dos cursos. Ela conta que, apesar da escola estar instalada em Chapecó há 10 anos, a agência funciona efetivamente há apenas duas semanas. “Encaminhávamos os alunos para vagas antes, empresas ligavam pedindo, mas sem seguir os critérios da agência”, comenta. Desde o início das atividades, oito estudantes já foram indicados.

“Para quem não tem condições de arcar com os custos das mensalidades, centros de ensino oferecem cursos quase gratuitos” A maioria das escolas oferece apoio, informalmente, aos recém-empregados, tirando dúvidas e os ajudando com questões rotineiras. Apesar dos resultados positivos, que dependem em grande parte dos alunos, é importante ressaltar que muitas instituições cobram mensalidades altas. Para quem não tem condições de arcar com os custos das mensalidades, centros de ensino como Centro de Educação Profissional de Chapecó (CEDUP) oferecem cursos quase gratuitos, sendo necessário apenas um pagamento simbólico no início de cada semestre, como taxa de matrícula. ■


EDUCAÇÃO 15

O social que vem do lixo FOTO: ADRIANE RECH

Como uma forma sustentável pode tornar-se referência de oportunidade Pode parecer simplesmente lixo, mas é também oportunidade. É com essa visão que, há 16 anos, o Verde Vida - Programa Oficina Educativa atua em Chapecó. Criada em 1994, a organização não-governamental, que tem como missão levar a adolescentes uma formação cidadã, busca através da reciclagem angariar fundos para o seu funcionamento. Localizado no bairro Bom Pastor, o Verde Vida desenvolve oficinas sócioeducativas, que não só mostram para os jovens um mundo diferente, como dão oportunidades a eles no mercado de trabalho. A iniciativa surgiu do Padre Cleto João Stulp e do Comitê de Combate à Fome, criado pelo sociólogo Herbet de Souza. Segundo o economista e atual diretor-coordenador do Verde Vida, Odair Balen, no período em que a ideia surgiu, o país estava com um grande número de desempregados e um alto índice de miséria, o que favoreceu para que o governo investisse em projetos sociais que pudessem dar condições melhores de vida para a população. Diversas empresas e instituições de Chapecó viram na iniciativa uma maneira de ter uma ci-

dade melhor, e apoiaram a causa. A comercialização do material reciclado no Brasil vinha ganhando força em diversas outras entidades com a mesma causa. No começo, parte do trabalho era realizado por funcionários e outra parte pelos adolescentes, que faziam a separação do material.

Reconhecimento da iniciativa O Verde Vida passou por inúmeras dificuldades até se consolidar como auto-sustentável. No ano de 1997, as atas registram até propostas para fechar a instituição. Segundo Balen, sempre existiram pessoas que acreditaram na ideia e que se empenharam em manter a sua essência viva: “toda iniciativa social precisa de pessoas que acreditem e que consigam mobilizar outras pessoas”, conta. Em 2001, o Verde Vida foi reconhecido pelo Instituto Cempre - Compromisso Empresarial para a Reciclagem como o melhor Programa de Coleta Seletiva - Categoria Comunidade do Brasil. A partir desse período, recebeu diversos outros prêmios pela sua forte atuação no âmbito social e ambiental. Atualmente é reconhecido como de utilidade pública municipal, estadual e nacional. Hoje a instituição possui 92 pessoas contratadas, caminhões para fazer a coleta, além do trabalho dos catadores, que buscam na venda do material uma fonte de renda. Aos adolescentes estão disponíveis oficinas educativas, algumas voltadas ao mercado de

trabalho, como a de manicure. Recebem também duas refeições diárias e contam com o apoio de psicólogos e assistentes sociais. Uma das grandes vitórias é a inserção no mercado de trabalho de diversos adolescentes que passaram pelo programa. Cleonice Fortes, auxiliar administrativa da Diretoria de Extensão da Unochapecó, sabe bem o que isso representa, pois fez parte do programa. “O Verde Vida surgiu como um ensino, uma experiência e, acima de tudo, como ponto de partida para a vida profissional”. As oficinas praticadas, o convívio com outros estudantes da mesma esfera social, também são pontos fundamentais para o desenvolvimento dos jovens. “Foi realmente uma grande conquista”, conta a jovem, que hoje está no segundo período de Administração.

Reciclagem que oportuniza pessoas No passado, o Verde Vida possuía uma forma diferente de trabalhar em prol da comunidade. As crianças, além de receberem refeições diárias e participarem dos projetos educativos, ganhavam também bolsa mensal de R$ 60. Com o tempo, começou-se a perceber que era necessário mudar. “Fomos bastante assistencialistas. Num determinado momento percebemos que não basta dar assistência quando a pessoa não se ajudava”, conta Balen. Para dar manter-se, a organização precisa vender 240 toneladas de material reciclado por mês. Assim como outros

produtos, o lixo também tem seu período de safra, sendo no final do ano a maior coleta. Cerca de 70% do que o Verde Vida recebe é comprado. Porém, existem muitas instituições que são parceiras há anos, e compactuam com a doação do material. Já os catadores recebem uma quantia por cada quilo do que coletam, obedecendo a tabela de preços. Quanto mais separado o material vier, mais ele ganha. Cerca de 60 toneladas de lixo acabam indo para o aterro sanitário por não possuírem condições de serem recicladas. No próximo ano, segundo a estimativa da Prefeitura Municipal, uma quantia maior de lixo da cidade deve ir para a instituição. Da mesma maneira que a instituição oportuniza para as pessoas da comunidade uma qualidade de vida melhor, diversas outras são beneficiadas com o projeto. Para Cleonice, que está hoje no mercado de trabalho, o Verde Vida é uma instituição que pode ser considerada um exemplo para todas as demais, tendo em vista que abrange as questões ambientais e sociais. A instituição tem que proporcionar o melhor para estes jovens e adolescentes, possibilitando uma condição social e econômica de maior qualidade. Dessa forma, percebe-se que é possível trabalhar com o que é socialmente justo, ligado ao economicamente viável e ao que é ecologicamente correto, que geram um ciclo sustentável na sociedade através da aceitação destes jovens no mercado de trabalho. ■


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Consumo de orgânicos: a diferença pode estar no preço Um produto que traz diversos benefícios à saúde, mas que se tornar mais caro

Ir ao supermercado e encontrar uma prateleira repleta de vegetais orgânicos não é uma cena muito comum em Chapecó. Atualmente a Feira Municipal é o maior fornecedor desses produtos, que têm como função aumentar a qualidade de vida da população. São alimentos produzidos pensando não somente no bem-estar humano, mas também na preservação e equilíbrio da natureza, principalmente na valorização da terra. O orgânico é definido como tudo o que é cultivado ou criado, no caso de animais, sem a adição de agrotóxicos ou composições de origem sintética. Em Chapecó, o cultivo de vegetais orgânicos já existe há 12 anos, quando a Secretaria de Agricultura iniciou um trabalho pioneiro de implantação dessa atividade. Hoje todos os produtores devem ser certificados pela Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense (Apaco) e recertificados a cada ano, para manter a padronização dos alimentos. Muitos produtos buscam na atividade uma alternativa de renda e de qualidade de vida. Para o agricultor Neri Vaccari, da Linha Rodeio Bonito, interior do

município, “no orgânico é preciso ser persistente, não pensar na parte econômica, mas sim no seu próprio bem-estar”. Por fatores como esses muitos agricultores acabam desistindo de mudar o padrão de produção de alimentos na propriedade. Diferentemente do sistema convencional, no orgânico, a planta em fase inicial recebe apenas água. No decorrer de seu crescimento, diversos nutrientes são adicionados de forma equilibrada através da adubação, favorecendo a produção de proteína, um componente orgânico importante ao desenvolvimento, como explica o engenheiro agrônomo da Secretaria de Agricultura de Chapecó, Samuel Vasques. No cultivo convencional, a adubação é realizada toda de uma única vez quando a planta é ainda pequena, não recebendo alimento suficiente no período de maturidade, formando muito mais açúcares do que proteína. O atrativo para fungos e pragas é o açucar, transformando a aplicação de agrotóxicos e reguladores como a única solução de controle. “É como se fizéssemos um trato, em que você vai num restaurante e come à vontade, depois vai ficar 45 dias sem se alimentar. É assim que o sistema convencional trabalha. Uma planta atacada está em desequilíbrio”, diz Vasques.

Investimento na saúde Segundo o médico pediatra e homeopata, Demerval Antonio da Rocha, o consumo de orgânicos é uma equação que vale a pena, pois o custo fisiológico do organismo é menor quando ingerimos alimentos que não pos-

suem agrotóxicos. “Geralmente o organismo despende o dobro de energia para se livrar de produtos químicos. Os orgânicos são como um plano de saúde”, explica. Esses alimentos possuem papel preventivo, principalmente para a terceira idade, pois nesse período da vida há um acúmulo de resíduos que o organismo desgastado não consegue eliminar. Além disso, nas crianças o sistema metabólico ainda está imaturo, o que torna o consumo de produtos convencionais num processo que pode ter efeito no decorrer dos anos. A família da aposentada Catia Sasse só consome vegetais orgânicos. Ela explica que é possível identificar quando um produto é cultivado de maneira convencional através do gosto. A opção se deu pelo benefício à saúde, além do produto possuir uma durabilidade três vezes maior do que os demais quando conservado na geladeira. Não importa o valor, Catia só leva para casa se for orgânico: “se pensar o que eu gasto em remédios, vale a pena investir”, diz ela. Esse pensamento está lado a lado com a escolha de alguns agricultores. Para Vaccari, produzir alimentos com maior qualidade é uma missão: “colocamos produtos na mesa do consumidor com a certeza de que não estamos envenenando as pessoas”. Demerval explica que existem estudos que relacionam aos alimentos convencionais a causa de alguns tipos de câncer que atacam os tecidos sanguíneos, como a leucemia, além de doenças degenerativas do sistema nervoso, puberdade precoce e diabetes tipo 1. Ele também cita um tipo de anemia que deriva >


SAÚDE 17

O consumo de orgânicos é um investimento com benefícios futuros. Alimentos como estes possuem papel preventivo, principalmente para crianças e idosos.

da ingestão de produtos tóxicos que, acumulados, dificultam a absorção de oxigênio pela hemoglobina. “As pessoas precisam entender o custo benefício dos alimentos orgânicos. Geralmente elas tendem a se inclinar pelo barato, mas precisam pensar que é um valor superior de vida”, ressalta Demerval. Porém, segundo a nutricionista Roberta Taglietti, no Brasil, ainda não foi comprovado que os alimentos cultivados nesse novo sistema, em termos nutricionais, são melhores que o tradicional. “Não existem estudos que mostrem realmente que o orgânico é mais nutritivo”, diz. Roberta explica que essa área de estudo ainda é muito nova e que uma das maiores dificuldades das pesquisas já elaboradas no país é a procedência do produto, que de fato não tenha contaminação de produtos químicos.

Preço diferente nos canais de venda Há 10 anos na atividade, o agricultor Olindemar Antonio Luzzi deixou a produção de suínos e aves para se dedicar ao hortifrutigranjeiro. No início, plantava para subsistência e tinha uma baixa demanda de venda. Hoje comercializa na Feira Municipal e em uma das redes de supermercados de Chapecó. Conforme explica Luzzi, os orgânicos são produtos focados na saúde da população, mas nem sempre são aceitos da maneira esperada. “Estamos colocando uma opção no mercado, aí vai muito do consumidor em adquirir”. Para ele, ainda falta incentivo na produção quanto à disponibilidade de informação para a população, para fazer um trabalho com

seriedade e diferencial no mercado. “Adquirindo um orgânico eu sei que vou gastar menos em médico e farmácia, por isso, estamos vendendo saúde”, completa. Segundo uma pesquisa de preços com sete alimentos orgânicos, realizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) em quatro capitais brasileiras, no ano de 2010, existe uma grande diferença nos canais de venda, podendo chegar a 463% de aumento em um mesmo produto. Situação similar foi verificada através de uma pesquisa no sítio eletrônico da Instituição, em fevereiro de 2012, em que 74% dos internautas responderam que consumiriam orgânicos se fossem mais baratos e outros 20%, se existissem mais feiras especializadas. O que acontece é que os supermercados acrescem sua margem de lucro ao preço pelo qual o produtor fornece o orgânico ao estabelecimento.

Em Chapecó, a realidade não é diferente. O produtor Luzzi conta que o supermercado ao qual fornece orgânicos atualmente, o procurou para fechar um contrato e que hoje entrega cerca de 200 unidades por semana. Na prateleira, esses mesmos produtos estão sendo vendidos ao preço de R$ 2,99 o tempero verde, R$ 3,99 a alface americana, sendo que o produto mais barato foi a alface lisa a R$ 1,80. Apesar disso, existe uma procura dos mercados para que os orgânicos adentrem esses locais de venda. Lenoir Cardozo, da Linha Rodeio Bonito, feirante municipal, diz que já acertou para entregar verduras em um supermercado a partir de junho. Ele e a esposa Idione estão bastante animados e esperam uma boa aceitação do produto, “pois é uma oportunidade do consumidor de ter um alimento diferenciado >


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Orgânicos são todos os alimentos cultivados sem agrotóxicos e fertilizantes químicos, produzidos sempre com a preocupação de não prejudicar o meio ambiente, o agricultor e o consumidor final. Este modelo de produção consegue se sustentar sem destruir os recursos naturais. e de qualidade”, destaca ela. Apesar do acréscimo que os orgânicos possuem em canais de venda específicos, os convencionais mostram uma grande diferença de preço ao compararmos com a feira. Consultamos os preços dos produtos convencionais em duas redes de supermercados. No primeiro deles, a alface americana estava à venda com o valor de R$ 3,87, a alface crespa, de R$ 1,90, e o tempero verde, a R$ 2,99. Já no segundo, os preços desses três produtos estavam todos a R$ 2,29. Os quatro produtores de orgânicos que estão presentes na feira municipal, comercializam as folhosas e tempero verde ao valor de R$ 1,50 a unidade. Vaccari ex-

Os canais de vendas de produtos orgânicos apresentam uma diferença significativa de preço. Nos supermercados, o mesmo produto chega a estar com valor 158% superior do encontrado na feira. FOTOS: ANDRESSA DO NASCIMENTO

plica que o preço varia conforme o investimento realizado na safra e que muitas vezes os fatores climáticos são os maiores determinantes para o aumento, tanto para os convencionais quanto para os orgânicos. O engenheiro agrônomo Samuel Vasques lembra que o fundamental da produção de orgânicos é proporcionar sustentabilidade ao agricultor, cobrir o custo e dar uma margem de lucro para que ele possa ter capital de giro. Tudo é produzido de forma ecológica, sem muitos gastos e investimentos. “Com uma pequena área de terra hoje, na parte de hortaliças, consegue girar muito mais dinheiro do que no convencional”,

explica. Em uma produção inicial de quatro lotes, são gastos R$ 0,02 por muda, cerca de R$ 100 de tratamento, que é preparado na propriedade, e mão-de-obra. Na estimativa de Vasques, o mesmo processo no convencional possui um custo de cerca de R$ 500,00. A maior dificuldade na produção de orgânicos é o início do ciclo, pois é necessário aprender como tratar algumas doenças e saber que, diferentemente do tradicional, plantas danificadas podem crescer ao lado de uma planta sadia. Em 2010, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), através do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em

Alimentos (PARA), identificou que 28% das frutas e vegetais analisados possuíam excesso de agrotóxicos ou venenos com uso inadequado. Segundo o Idec, além de preservar o meio ambiente através do uso correto dos recursos naturais, a produção de orgânico protege os trabalhadores rurais contra a exposição de produtos tóxicos e valoriza o pequeno agricultor. Por isso, seja na feira ou no supermercado, os produtos orgânicos acrescem à saúde da população, ao meio ambiente e aos produtores. Mesmo que em termos de nutrientes não estejam comprovadas mudanças, o consumo em longo prazo pode fazer diferença.■


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Empreendedorismo que corre nas veias

Chapecó revela-se como um cenário em grande expansão nas micro, pequenas e médias empresas Valmir de Siqueira trabalhou durante oito anos com carteira assinada em uma empresa. Ele e a esposa Marli, que na época também trabalhava fora, se revezavam no cuidado com as crianças em casa, para poderem guardar um dinheiro para, no futuro, investirem em algum negócio. Há um ano e meio, eles realizaram o sonho e abriram uma padaria no bairro Efapi, em Chapecó. O caso de Valmir é um dos muitos que torna o Brasil um país com uma característica empreendedora muito presente. Atualmente, o número efetivo de pessoas que decidem abrir seu próprio negócio já chega a dois milhões. Porém, saber administrar com cautela os primeiros anos e encarar a entrada no mercado são dificuldades na vida desses empreendedores. Mesmo assim, muitos são os trabalhadores com carteira assinada que saem de seus empregos para realizar o sonho de colocar em prática uma grande ideia. Segundo o relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2010, a Taxa brasileira de Empreendedorismo em Estágio Inicial é de 17,5%, uma das maiores médias desde que a pesquisa começou no país. Se considerarmos os 120 milhões

de pessoas adultas, esse percentual equivale a 21,1 milhões de brasileiros à frente de atividades empreendedoras. Essa taxa inclui pessoas entre a faixa etária de 18 e 64 anos, envolvidas em atividades do gênero na condição de negócios nascentes ou à frente de novos negócios, ou seja, com menos de 42 meses de existência. No G20 – grupo de países emergentes – o Brasil é o que possui o maior percentual, seguido pela China e Argentina. No grupo do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), também nos destacamos com a primeira colocação. Em 2002, a Taxa de Empreendedores Iniciais era de 13,5%, resultando em um aumento de 2% em oito anos. O estudo revela que essa crescente se deve ao grande número de empreendedores que nascem todos os dias através de oportunidades. Na maioria dos casos, a necessidade não foi o principal fator da criação do pequeno negócio, ficando com 5,4% contra 11,9% de empresas que nasceram através de uma oportunidade. De forma geral, os empreendedores no país se concentram entre a faixa etária de 25 a 34 anos, formando um grupo de 22,2% de brasileiros envolvidos com algum empreendimento em 2010.

SC: características empreendedoras Segundo relatório do Sebrae, que destaca os números efetivos de Santa Catarina, em 2008, o Estado comportava mais de 350 mil microempresas, 94% do total entre micro, pequenas, médias e grandes empreendimentos. Já os pequenos negócios ficaram na faixa dos 19 mil

(5,1%) e as médias empresas em duas mil unidades (0,5%). Juntos, esses empreendimentos geraram no ano 1,13 milhão de empregos, 75% a mais de vagas do que as grandes organizações A pesquisa Santa Catarina em Números, do Sebrae também foi realizada por regiões no Estado. O estudo apresenta que em Chapecó, no ano de 2008, existiam mais de 12 mil empresas dos diversos ramos. Segundo dados do Serasa do primeiro semestre de 2012, atualmente existem mais de 16 mil empresas na maior cidade do Oeste Catarinense. A maior fatia está nos pequenos empreendimentos, que somam 8.414 estabelecimentos, seguido por microempresas, com 6.552, e por microempreendedores individuais, que são no total 1.001. A padaria de Valmir de Siqueira é uma das muitas que se caracteriza como microempreendedor individual, ou seja, uma pessoa que trabalha por conta própria e que se legaliza como empresário. A atividade foi regularizada com a Lei Complementar nº 128, de 19/12/2008, que criou condições especiais para que o trabalhador conhecido como informal pudesse se tornar um Empreendedor Individual legalizado. Com isso, muitos saíram do “anonimato” e passaram a ter um registro de Pessoa Jurídica para o seu negócio, o que proporcionou que outras tantas pessoas conseguissem abrir a tão almejada empresa. “Nesta proposta tivemos condições de começar. Em outros casos, não. Teríamos que fazer um investimento mais alto. Por mais que seja individual, tem que ter conhecimento da atividade, trabalhar bastante e economizar”, explica Valmir. >


EMPREENDER 21

Investir é preciso O projeto da padaria de Valmir foi alcançado com recurso próprio, sem necessidade de financiamento. Primeiro ele alugou um local para fabricação e comercialização dos produtos, mas após alguns meses perceberam que o investimento realizado na locação do espaço era muito alto e então resolveram construir o próprio estabelecimento. “Ficamos um mês parado e só gastamos. Perdemos clientes, pois achavam que tínhamos desistido”, conta. Segundo Carolini Scheffer, consultora do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), unidade de Chapecó, o maior problema dos empreendedores hoje é a falta de planejamento. “Nós, brasileiros, em geral, não temos o hábito de planejar as coisas. A partir do momento que você abre um negócio, existem custos que você

não dimensionou”, diz. O Sebrae é um serviço que atua em todo o país dando auxílio para as pessoas que desejam abrir seu negócio ou mesmo para aqueles que já estão no mercado, mas necessitam de orientações. Conforme explica Carolini, a maior demanda por consultorias hoje, em Chapecó, está na área de finanças e marketing. Por mais que o brasileiro possua uma preocupação com seu empreendimento, ainda falta muita informação para que ele dê sequência na sua ideia de negócio. Uma grande dificuldade encontrada hoje por quem deseja investir em uma pequena empresa é a falta de recursos ou a incapacidade financeira para fazer um financiamento. Quando a pessoa procura uma instituição financeira para fazer um investimento, a análise da pessoa física nem sempre será o suficiente para conseguir o valor inicial desejado. Mesmo no caso de pesso-

as jurídicas, o mínimo solicitado é um ano de funcionamento da empresa, para saber se há capacidade de pagamento. Além disso, para o empreendimento ter sucesso, é preciso buscar um diferencial, inovação, novidades no mercado, conquistar clientes. “É preciso fazer alguma coisa diferente da tua concorrência, caso contrário você vai ser apenas mais um”, explica Carolini. Foi o que fizeram Rosecler Hoss e Rosane de Medeiros, duas amigas que resolveram abrir uma loja de colchões no centro de Chapecó, com espaços atrelados à arte. Elas são um caso em que a necessidade e a oportunidade de empreender formaram uma grande união. Rosecler é artista plástica e foi professora de Rosane, ocasião em que se aproximaram. No momento em que surgiu a ideia de montar o negócio, Rosane havia saído de seu emprego em uma loja de colchões.

Hoje elas possuem um estabelecimento bem localizado, onde os espaços entram em sincronia com a arte, um modelo diferente. “Como é uma loja fora do padrão de colchões, as pessoas sentem curiosidade de entrar e saber mais”, diz Rosecler. A maior dificuldade das sócias foi encontrar um ponto comercial. Rosane explica que uma “loja de colchão não tem aquele cliente que vem e olha. Geralmente, o que chega está interessado, por isso pode ser mais retirada. Mas, com as peças decorativas, tem que estar num local que tenha mais movimento”. Foi aí que procuraram a ajuda de um consultor para saber qual a melhor localização e passaram a avaliar o perfil de seus clientes. Rosane lembra que nesses casos, em que não é possível resolver sozinho, o melhor é procurar a ajuda de um profissional, para fazer do modo o mais correto possível. >


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Rosecler e Rosane são o exemplo do desafio em novos negócios. Juntas, resolveram abrir uma loja de colchões totalmente inovadora. No Brasil, 49,3% do total dos empreendedores, são mulheres. Rosane e Rosecler são exemplos de que as brasileiras estão crescendo nos negócios. Segundo o relatório GEM, a mulher brasileira é uma das que mais empreende no mundo. Somente em 2010, entre os empreendedores iniciais, 49,3% são mulheres, mantendo o equilíbrio entre gêneros no empreendedorismo nacional. Entre os 21,1 milhões de empreendedores brasileiros, 10,7 milhões pertencem ao sexo masculino e 10,4 milhões ao feminino. Para a consultora Caroline Scheffer, “as mulheres brasileiras são as que mais empreendem no mundo. Isso vem do próprio jeito brasileiro, da questão de que somos maioria no país e porque a mulher de hoje tem que se sustentar sozinha”. A empreendedo-

ra Rosane explica que a própria loja que possuem mostra isso: “todos que entram falam que a loja foi decorada por mulher. Nós temos mais sensibilidade que o homem.”

Empreendedorismo que corre nas veias Chapecó hoje é referência nacional em diversos setores, como agronegócio, metal-mecânica, moveleiro, serviços, além de um turismo de eventos muito fortalecido. Esses e outros aspectos da economia geram uma demanda ainda maior por produtos, o que naturalmente faz com que as empresas cresçam ou que outras nasçam no mercado.

Para o administrador e engenheiro agrônomo, Celso Zarpellon, a população da região já possui uma vontade grande de trabalhar, progredir e ser empreendedor. Porém, quando se decide abrir uma empresa, é preciso ter controle, boa gestão e um capital de giro para mantê-la. “Vontade de empreender existe, mas isso não é o suficiente. Para ajudar no desenvolvimento, o mais interessante é o plano de negócios, que oferece uma visão sistêmica”, explica Zarpellon. Ele ressalta que atualmente os empreendedores estão fracassando bem menos. Para Zarpellon, cerca de 70% dos novos negócios não vão à falência, porque observam as oportunidades do mercado. “Temos mais pessoas que

estão estudando para abrir o seu negócio”, diz Carolini. O Sebrae considera que o período instável do empreendedor se situa entre o primeiro e o segundo ano. Depois disso, é possível considerar que a empresa está estruturada. Para Valmir, a melhor forma de manter-se no mercado e buscar novos clientes é competir no preço: “Não adianta aumentar os valores dos produtos, pois não vão sair. Reduzimos os custos e cortamos gastos, o que aprendemos com o tempo, com a dificuldade, e hoje estamos conseguindo sobrar”, diz. Já Rosane e Rosecler sabem que a loja ainda precisa de um tempo grande para se estabilizar e ser conhecida, necessitando, principalmente, de novos investimentos. ■


EMPREENDER 23

A classificação das empresas se dá a partir do faturamento, ou seja, o empreendedor individual se encaixa em até R$ 60 mil por ano, microempreendedores em faturamento de até R$ 360 mil, e acima disso estão as empresas de pequeno porte, que se limitam ao valor de R$ 3,6 milhões de faturamento por ano.

FOTO: ADRIANE RECH

Valmir de Siqueira se encaixa nos empreendedores individuais. Em 2011, ele e a esposa Marli abriram uma padaria no Bairro Efapi.


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Franquias: um negócio “pronto”, mas que requer cuidados Um setor que se expande pelo Brasil. Só em Chapecó já são mais de 100 lojas

O mercado de franquias é um setor que vem ganhando força e destaque em Chapecó nos últimos anos. Em terra de empreendedor, essa modalidade comercial que envolve a distribuição de produtos ou serviços através de contrato, tornou-se um negócio lucrativo, um investimento seguro e uma ótima opção para o consumidor. No Brasil, o número de redes de franquias triplicou em 10 anos, com um crescimento de 338%, passando de 600 para um total de 2.031 em 2011. No último ano, a maior fatia de participação no mercado ficou com o setor de alimentação, com 23,7% das redes, seguido pelo segmento de esporte, beleza, saúde e lazer, com 18,3%, além de vestuário, 11% e educação e treinamento, também com 11%. Em número de lojas espalhadas pelo país, houve um crescimento de 182% em comparação com 2011, saltando de 51 mil unidades para mais de 93 mil. A área que mais obteve participação nessa classificação foi de negócios, serviços e outros varejos, com 25,3%, apesar de uma forte queda que vem ocorrendo desde 2001. Na sequência, podemos observar o setor de esporte, com 18,2% de unidades, seguido por alimentação (14,9%) e educação (13,8%). Segundo o consultor em gestão empresarial, Sergio Antonio Migliorini, somente em Chapecó

existem mais de 100 franquias em funcionamento e o setor encontra-se em franca expansão. Um dos principais fatores desse fenômeno é que o risco do investimento é bem menor em comparação com outros negócios. “Certamente, é o setor mais seguro e dinâmico da economia. Suas principais características são o ineditismo, a inovação e o profissionalismo”, explica Migliorini.

Avaliação do mercado No geral, as franqueadoras são muito rigorosas na avaliação de perfil do candidato ao investimento. Darcy Simoka, empresário, trabalhou durante quatro anos como distribuidor de chocolates. Há cinco, ele e a filha possuem uma franquia do ramo com duas lojas em Chapecó. Para consolidarem o contrato de serviços, Thays Simoka, sócia e administradora, passou por uma avaliação rigorosa, que vai desde a vida pessoal ao poder de investimento. Além disso, a empresa com que atuam exige um número mínimo de habitantes na cidade e, principalmente, uma avaliação do poder econômico da população para autorizar a abertura da loja da franquia. Quando pai e filha adquiriram o negócio, investiram cerca de R$ 96 mil para aquisição da loja completa. Hoje, uma unidade com o mesmo padrão está avaliada em torno de R$ 230 mil, preço que pagaram no segundo investimento. O maior problema enfrentado foi encontrar uma sala comercial para instalação da franquia. “Foram seis meses e o consultor veio várias vezes para cá. Nós encontramos um local

em Xanxerê, mas por causa de R$ 100 a mais no valor do aluguel não foi aprovado, ou seja, eles avaliam até quanto vale a locação”, diz Darcy. Essas exigências são em decorrência de que, no ramo de alimentação, a maioria dos consumidores compra pelo olhar. Como explica Thays, a maior parte da venda é por impulso, “vendemos pra quem passa na frente”, completa. Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), as franquias geraram, no último ano, mais de 837 mil empregos diretos e também um faturamento histórico de R$ 88,855 bilhões, principalmente nos segmentos de negócios e alimentação. Ainda assim, o setor de hotelaria e turismo é o que obteve o maior crescimento, fechando 2011 com 85% de crescimento com relação ao ano anterior. No ranking dos estados brasileiros com maior número de franqueados, São Paulo aparece na primeira colocação, com 35,6%, seguido pelo Rio de Janeiro, com 12,2%, valores que possuem relação com o fato de as sedes também estarem localizadas nessas mesmas regiões. Santa Catarina aparece em sétimo lugar, com 3,5% de unidades franqueadas. Apesar disso, a região Sul concentra 14,1% do total do mercado.

Empreendimento que exige boa administração Há 20 anos, Claci Maria Boeira está no ramo das franquias do setor de educação. Na época em que começou, foi convidada por uma colega para línguas que abrangia os municípios de >


INVESTIMENTOS 25

ser sócia de uma escola de Concórdia, Itá e São Miguel do Oeste, no estado catarinense. Formada em Letras - Português e Inglês, Claci aceitou o desafio. No ano de 2000, as sócias foram chamadas pela franqueadora para adquirir a unidade de Chapecó. Mais tarde, a sociedade foi desfeita e Claci investiu cerca de R$ 120 mil, valor que hoje seria ainda mais alto. “Uma escola de idiomas hoje, no valor real, com freguesia e matéria-prima, está em torno de R$ 400 mil”, diz ela. Atualmente ela possui sociedade com Cristiane Signori Rosset, formada em Administração. A escola de idiomas de Claci e Cristiane pertencia a outro proprietário que não resistiu ao mercado e teve que fechar. O que costuma acontecer é os franqueados não cumprirem com as normas, ou acabarem tendo prejuízos com o empreendimento. Nesses casos, a maioria das franqueadoras opta pelo fechamento ou compra da unidade, visando não denegrir a imagem da marca, deixando o espaço para outro candidato que se encaixe no perfil. “Para manter a loja, temos que seguir rigorosamente o regulamento e o contrato. A partir do momento que você não cumpre, perde a loja e o direito de usufruir da marca”, explica

Claci. Essa é também uma realidade da empresa na qual Thays trabalha: “temos a garantia de recompra pelo mesmo valor. Se você não vai bem no negócio, a empresa reserva o direito de não renovar o contrato”. Conforme explica o consultor Migliorini, a principal dificuldade dos franqueados é seguir os padrões definidos pelo franqueador. “As poucas falências desse setor normalmente ocorrem por falta de dedicação ou de preparo do franqueado e também pela má escolha do ponto comercial”, explica. Mas, a taxa de falência costuma ser bem abaixo do mercado de empreendimentos comuns. No ano de 2010 ela se concentrou em 0,04%. Enquanto as empresas no seu primeiro ano de existência possuem uma quebra de 26%, as franquias ficam em 3%. Em muitos casos, quando a pessoa adquire uma franquia que já existia, ela corre o risco de trabalhar por algum tempo no vermelho, até recuperar os clientes e ganhar espaço no mercado. Porém, uma marca consolidada e conhecida, favorece o empreendedor mais do que em outros negócios. “Por mais que a escola tenha ficado fechada por três anos, a marca não foi esquecida”, explica Claci.

Padronização das empresas A maior parte das lojas espalhadas pelo país possui preços tabelados. Nos setores de alimentação, principalmente, o custo é o mesmo para qualquer franqueado e a margem de lucro vai ter a mesma base de cálculo. Já as escolas de idiomas, segundo Claci, tiveram que adaptar seus valores conforme as necessidades da região. No passado, a maioria das pessoas que aprendeu outras línguas pertencia à classe A.Hoje existem cerca de 20 escolas em Chapecó que possuem seus alunos entre as classes A, B e C, sendo que a maior parcela está localizada nas últimas duas. “Quando entramos em Chapecó, adaptamos as mensalidades ao poder aquisitivo da população. É um preço acessível para pagar a faculdade e um curso de idiomas, por exemplo. O lucro é menor, mas você forma uma clientela mais satisfeita”, explica. Quando Thays e Darcy abriram a loja, a marca não possuía propaganda nacional em grande escala. Hoje ela é vista em mídias televisivas e eles, particularmente, não investem em comerciais locais por tornar-se muito caro.

Na opinião de Claci, hoje com uma marca sólida isso não seria necessário, mas as propagandas locais servem para lembrar as futuras gerações. Além disso, muitas franquias investem nas redes sociais, campanhas sociais e nas promoções, que chamam a atenção do consumidor e levam a uma maior fidelidade da marca. Porém, na opinião dos franqueados, confiar que as campanhas publicitárias farão com que sua loja seja aceita e tenha boas vendas não é o ideal. Além de uma boa administração, saber antes de tudo, avaliar o mercado onde está se inserindo, são dicas que valem muito para o empreendedor que está pensando em entrar no ramo.“Acho que quem vai abrir uma franquia tem que ter cuidado com o que vai escolher. Não são todas e em todos os lugares que vão dar certo. Chapecó é uma cidade pequena ainda”, reforça Thays. As dificuldades são como em uma empresa comum, desde os impostos à contratação dos funcionários. A diferença é que você não precisa pensar na estrutura da loja e nos produtos, eles saem prontos da fôrma. Darcy conclui: “a pessoa precisa ter visão e dom pra trabalhar”. ■

Segundo relatório da Associação Brasileira de Franchising (ABF), sobre as marcas, produtos e negócios formatados, as lojas estão segmentadas entre acessórios pessoais e calçados; informática e eletrônicos; alimentação; limpeza e conservação; educação e treinamento; móveis, decoração, presentes e imobiliárias; esporte, beleza, saúde e lazer; negócios, serviços e outros varejos; fotografias, gráficas e sinalização; veículos; hotelaria e turismo; vestuário.


26 INVESTIMENTOS

Aquecimento do mercado imobiliário em Chapecó é um reflexo nacional

Devido à flexibilidade de investimento promovida pela Comissão de Valores Imobiliários, o setor cresceu rapida e consideravelmente

Um dos setores que mais cresceu no Brasil nos últimos seis anos foi o imobiliário. O chamado boom habitacional aconteceu no país todo, mas com variações de uma região para outra. Algumas regiões têm imóveis mais valorizados por motivos específicos, como é o caso do Rio de Janeiro, pois a cidade é uma das sedes da Copa do Mundo de 2014 e receberá os Jogos Olímpicos em 2016. Grandes eventos trazem prosperidade econômica em diversos setores. Tamanho foi o crescimento dos últimos anos que até mesmo bancos estão ampliando vendas de seguros residências. Os beneficiados com essa valorização são muitos, desde imobiliárias e vendedores a comerciantes, construtoras e trabalhadores. Em Chapecó, uma cidade em pleno crescimento, não podia ser diferente. O corretor de imóveis, Fioravante de Oliveira, credita o crescimento do setor às muitas vagas de emprego que foram criadas na cidade nos últimos 15 anos e faz projeções para o mercado. “A boa valorização de casas, apartamentos e salas

comerciais deve continuar até o ano de 2014, devido à Copa”, afirma. O corretor ressalta que, apesar do grande evento esportivo acontecer no Rio de Janeiro, o calor do momento será o grande responsável pelas vendas no próximo ano e também em Chapecó. Outra variante que prova o quão promissor está e estará o setor imobiliário em Chapecó diz respeito ao crescimento da cidade. “Enquanto houver prédios sendo construídos e universidades instalando-se na cidade e região, haverá demanda”, enfatiza Fioravante. Na maior fatia das vendas dos últimos anos não constam chapecoenses, mas sim pessoas vindas de diversos lugares do Brasil. Até mesmo construtoras de outras regiões saturadas de edifícios estão procurando oportunidades em Chapecó, o que gera mais vagas de emprego e movimenta ainda mais a economia local.

Fatores de mercado

Por outro lado, a valorização individual de um imóvel depende de variáveis que pouco divergem de imobiliária para imobiliária, como asfaltamento e largura da rua na qual está o imóvel, distância do centro, estado de conservação, data da construção, metragem e topografia do terreno, cobertura da residência, quantidade de cômodos, se tem garagem ou não e quantas vagas. São muitas questões a considerar na hora de valorizar um imóvel e uma das mais importantes é a localização. Alguns bairros são mais procurados, conforme conta o assessor de vendas, Joelson Zardo. “Atualmente os bairros onde estão as casas e apartamentos mais valorizados são o Maria Goretti, Jardim Itália e São Cristóvão”, afirma. O corretor de imóveis, Fioravante acredita que o fator crucial para o bom valor de mercado nesses bairros diz respeito às restrições em construir nessas localidades estipulada no Plano Diretor de Chapecó. Além disso, aponta outras características que costumam valorizar regiões específicas da cidade. >


INVESTIMENTOS 27

“São bairros seguros, com uma população de boa renda e casas boas. Automaticamente, quando alguém decide vender a habitação, o corretor vai valorizar num bom preço”, ressalta. No caso de apartamentos, o que as construtoras estão fazendo é evitar vender todos os lotes de uma só vez. Quanto mais lenta for a venda, maior será a valorização de cada apartamento, sendo que o preço pode subir de R$10.000 a R$30.000 desde o início das vendas dos lotes. O que acontece é que quando a obra está na metade, a maioria dos lotes, se não todos, já foram vendidos e os que restam estão supervalorizados. Para o consumidor, é vantagem comprar assim que abrirem os primeiros lotes. A desvalorização dos imóveis após a compra, mesmo nessa

FOTOS: LEILLÍS BORGES

íngreme ascensão do setor, pode acontecer. Os motivos para tanto são vários: falta de segurança nas proximidades, instalação de um edifício próximo à residência, instalação de uma indústria que libera poluição, falta de árvores próximas, etc.

O que oconsumidor procura Os preços estão bons para a venda, mas existe o outro lado da moeda. Quem compra um apartamento, casa ou sala comercial hoje, pertence à classe A ou B. As condições de financiamento para as classes inferiores não estão tão favoráveis > quanto se pensava. Apesar da popularidade de programas habitacionais do governo, quem realmente quer com-

prar um imóvel hoje e não tem o valor no ato da compra, precisa economizar por muito tempo ou encontrar alternativas, como o aluguel. Segundo Fioravante, a demanda local é, principalmente, por residências, seja casa ou apartamento, com uma suíte ou duas, mais dois ou três dormitórios e com duas ou mais vagas na garagem. Os prédios que estão entre cinco e dez anos são menos valorizados, pois as construtoras estavam preocupadas somente em fazer apartamentos, sem levar em consideração a quantidade de vagas na garagem para cada morador ou diferenciais como academia ou piscina. Os edifícios atuais estão mais altos, maiores, mais modernos e oferecem diferenciais que provêm melhor qualidade de vida para os moradores.

Reginaldo Gervársio dos Santos é um dos muitos chapecoenses à procura da casa própria. Ele e a família preferem casa, e não apartamento, devido à comodidade caso decidam expandir a moradia. Há dois anos verificam ofertas de residências e tentam negociar. O grande problema é a localização. “Como trabalho numa gráfica bem distante do centro, minha esposa, próximo ao centro, e meus filhos estudam próximo ao centro, as melhores ofertas estão longe dessa localidade”, comenta. No momento, Reginaldo paga aluguel em uma residência bem valorizada no bairro Presidente Médici, cortada por três grandes vias de acesso. A negociação atual é por um lote de 100 mil reais no bairro Esplanada que já possui uma casa germinada. ■


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NOSSO CAPITAL


OPINIÃO 29

Investir ou poupar?

As pessoas por volta dos 50 anos, da nossa geração, devem lembrar. Criados por pais e avós que viveram nos períodos de carestia entre 1ª e 2ª Guerras Mundiais, tendo que economizar até um prego, incutiram nas famílias o hábito de poupar. Sobras de comida no prato, mesmo nas casas mais abastadas, era caso de advertência. Na mesma linha, também não era permitido escolher que alimento iria consumir na refeição. Era, podemos dizer, positiva essa atitude dos educadores mais antigos, pois tais pessoas não estavam acostumadas com a cultura do desperdício, quer na família, quer nas empresas. Vamos ao hoje: quantas casas poderiam ser construídas com os entulhos que “sobram” nas obras civis? Quantas pessoas poderiam ser alimentadas apenas com as sobras dos pratos? Mas esse já é um assunto para outra discussão. Hoje se pode comprar um carro rapidamente. Muitas vezes, sem ter que poupar nem mesmo o conhecido “sinal” para aquisição desse bem. E aí, mal ou bem, pagamos por essa “entrada”, tornando-nos até escravos de toda a questão que envolve esse automóvel. Pulando os gastos com combustível, pneus e licenciamentos, a facilidade de aquisição acaba inflando as ruas brasileiras com transporte individual (cultura das sobras). Imagine a cena: numa cidade grande como São Paulo, com milhões de pessoas saindo todo o dia para o

trabalho, passando muitas vezes três a quatro horas diárias dentro de um automóvel. Se cinco milhões de pessoas passarem duas horas por dia no deslocamento, são 10 milhões de horas desperdiçadas. Se as pessoas parassem para pensar, poderiam doar metade dessas horas para construir cidades menores, com transporte público coletivo e funcional. Mas esse também já é um assunto para outra discussão. No âmbito das três esferas governamentais, a cultura do poupar nunca pegou, até porque somos uma nação em desenvolvimento, com muito ainda para construir. Nesse contexto, o ditado de ir devagar e dar o passo conforme a perna não vale, pois, se faltar dinheiro, lança–se mão de novos tributos, e a conta é engolida à força por nós, contribuintes. E aumentam-se os dias trabalhados para pagar a parcela. As pessoas deveriam projetar os investimentos com base nas receitas e despesas futuras que advirão. Se as entradas cobrirem as saídas (do financiamento) dessa aquisição, o investimento pode ser feito. Se as futuras receitas não cobrirem esses custos, é bom ter cautela e aguardar para outra oportunidade. Nunca é demais lembrar que na projeção das receitas geralmente somos otimistas demais. Normalmente, tais ganhos não acontecem como nós sonhamos. Ao contrário, cutucam as despesas. Espinhosas, sempre mordem famintas,

Ari José Roman, engenheiro agrônomo, diretor administrativo da Sicoob/MaxiCrédito Julmir Cecon, especialista em Comunicação Social, MBA em Gestão, assessor de imprensa da Cooperalfa

as maiores de todas nossas projeções. Não é de hoje que o dinheiro tem valor diferente em tempos diferentes. Poupança e alavancagem externa serviram de receita de riqueza para muitas pessoas, Estados e empresas. Lógico que só cresceu quem realmente investiu na produção de bens e serviços, focando em retornos reais. No Brasil, nesses últimos 30 anos, o sistema de crédito cooperativo vem ganhando fôlego, e muitas pessoas e organizações dirigem com sensatez parte de suas transações para dentro do sistema, ou seja, em favor de si mesmas. Isso, além de fortalecer o segmento como um todo, também dá músculos à economia regional, pois as cooperativas de crédito captam e reinvestem nas comunidades, e, assim, geram desenvolvimento. Além de colaborar com o crescimento do “seu vizinho”, essa sinergia faz seus investimentos crescerem pelos resultados gerados entre associados e suas cooperativas. Ganhar um pouco de dinheiro a cada resultado, com muitas pessoas, é preferível que perder grandes somas sozinho. Pense nisso, principalmente em 2012, eleito pela ONU como o Ano Internacional das Cooperativas. O que entende-se seus associados e comunidades onde elas estão inseridas. Então, bons investimentos. Em você! ■


30 AGRONEGÓCIO

Prosperidade da soja deve refletir por um bom tempo ainda Mercado brasileiro está aquecido e superando o dos Estados Unidos 2011 foi um ano bastante próspero para o mercado da soja brasileira, pois a demanda constante fez os preços aumentarem por aqui e no exterior. Soma-se isso à experiência e à capacidade do produtor e temos um mercado aquecido para 2012 também. Dados do Balanço do Mercado da Soja mostram que as vendas internacionais somaram, em 2011, aproximadamente 33 milhões de toneladas a R$ 40,00 a saca. A receita das exportações do final de 2011 e início de 2012 fechou em 16,3 bilhões de dólares, um recorde histórico de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). No mês de abril é pago R$55,00 para o produtor. O aumento no valor da saca de soja deve-se à quebra de safra de Santa Catarina e Rio Grande

Em Chapecó Chapecó não é um dos principais celeiros produtor de soja, mas sim de milho, pois esse último serve de alimentação para o gado de leite. Luiz Henrique afirma que Santa Catarina é responsável por apenas 5% da produção nacional de soja. No que diz respeito à exportação, o mercado da China ainda é um dos principais alvos internacionais,

do Sul principalmente, o que consequentemente diminui a oferta e aumenta a demanda, portanto o preço sobe. De acordo com o assistente comercial da Cooperalfa, Luiz Henrique Kessler, “o que estamos vivenciando hoje na soja é um reflexo duma economia globalizada”, pois a demanda do mundo move esse mercado. Para o consumidor final, o resultado não é tão bom, pois se até ano passado pagava-se R$2,37 por um litro de óleo de soja, hoje paga-se R$3,70. Se sobe o preço em qualquer parte do mercado e em qualquer componente de qualquer produto, sobe também o preço final do mesmo. Tal situação acarreta um efeito dominó em outras culturas. Como por exemplo, o preço do farelo de soja para a avicultura e a suinocultura. É algo que também sobe, o que acaba por interferir no preço da carne de porco e de aves no futuro. Uma preocupação dos produtores e investidores é que o preço da soja caia com o término do plantio nos Estados Unidos, o maior produtor de soja do mundo. O plantio encerra no final de maio. Caso haja mais oferta,

mais soja plantada, os compradores devem esperar para que as sacas americanas sejam comercializadas, baixando a demanda da soja brasileira e, consequentemente, o preço. Porém, existe o fator que o sojicultor brasileiro está querendo plantar mais para o ano que vem com o intuito de acumular mais recursos, sabe-se então que o valor de mercado dos produtos vai baixar. A situação está favorável para os sojicultores até certo ponto: em momentos de alta demanda ou de necessidade é que ele tira do estoque as sacas de soja e as comercializa. Toda a perda que os produtores tiveram com o fenômeno la niña, que provocou a estiagem e consequente quebra da safra, não deve acarretar em dívida, pois o preço pago a eles cobre todos os prejuízos e ainda sobra. Segundo Luiz, era estimado que Santa Catarina produzisse 1,4 milhão de toneladas de soja, porém houve um déficit de 300 mil toneladas devido aos fenômenos climáticos. Cerca de 40% da safra do Oeste e Extremo Oeste tornou-se não aproveitável.

devido à contagem populacional e à alta demanda. Apesar do grande volume de exportação (22 milhões de toneladas, respondendo por 67% do resultado total de sacas vendidas internacionalmente) do país todo, 85% do nosso mercado é interno e não externo. Luiz Kessler acredita que o Brasil poderia estar com o mercado de exportação ainda mais aquecido, caso desistisse de exportar commodities e decidisse

vender produtos manufaturados. “Nós damos serviços para os outros, em vez de dar para nós aqui”, afirma. Se o país seguisse o conselho de Luiz, muitos empregos seriam gerados de forma direta e indireta com a fabricação de mais óleo de soja, farinhas, cosméticos, etc, para o consumo externo. “Nós somos importadores. Preferimos comprar geladeira da China, tênis e roupa em vez de fabricar isso aqui”, ressalta. ■


EMPREGO 31

Como está o cenário do emprego em Chapecó? FOTO: LEILLÍS BORGES

A maior cidade do Oeste cresce e, com ela, também as oportunidades Atualmente a maioria das vagas está concentrada no comércio, nas indústrias e na construção civil, sendo que nesta última, sobram vagas e falta pessoal para trabalhar. É o que afirma a técnica em edificação, Samantha Morales Maciel. Ela diz ainda que o grande problema do setor é a rotatividade. “Os empregados começam num lugar e migram para outro, repetem isso e não conseguem parar na mesma obra”, enfatiza. Tamanha movimentação deve-se ao trabalho pesado com que os funcionários se deparam nas obras. Algumas empresas oferecem alguns benefícios extras, como cesta básica e bonificação extra para quem não falta nenhum dia no mês. Hoje em dia a média salarial para a função de ser-

Como fica quem acabou de se formar na faculdade? Chapecó está tornando-se uma cidade de jovens, com tantas universidades instalando-se por aqui e na região. São quatro, cinco ou até seis anos ou mais de estudos, sacrifícios e muita força de vontade. A maioria dos recém-formados se preocupa com o pós faculdade. Muitos acabam nem trabalhando na área devido à dificuldade de encontrar emprego.

vente de pedreiro em Chapecó é de R$ 800,00 e de pedreiro é de R$ 1.200 a 1.500, ambos para 44 horas semanais, segundo a coordenadora da CDL Empregos, Aline Borges Schoeninger. Nos últimos seis anos, devido ao crescimento acelerado da construção civil, algumas empresas de outras cidades, como Balneário Camboriú, decidiram investir por aqui. Na maioria dos casos, trazem os funcionários do lugar de origem e, mesmo assim, ainda sobram vagas no setor. “O mesmo acontece quando uma construtora daqui faz um empreendimento fora. Levamos nossos empregados junto, pois já os conhecemos e evitamos perder tempo tentando selecionar novos trabalhadores”, afirma Samantha. A técnica em edificação ressalta que para trabalhar na área existe apenas um requisito: vontade. No comércio, a realidade é um pouco diferente, mas também faltam trabalhadores. Segundo Aline Borges Schoeninger, existe uma média de 300 vagas no comércio de Chapecó esperando para serem preenchidas. Apesar do grande número, não

é qualquer um que pode ocupar esses espaços. “O mercado exige postura, saber lidar com pessoas, qualificação e vontade de trabalhar. Muitas empresas estão deixando o fator experiência de lado e buscando pessoas com objetivos e metas e que tenham algum curso”, afirma Aline. Lugares como a Fundação de Ação Social de Chapecó e o Centro de Educação Profissional de Chapecó estão entre os principais a oferecerem qualificação para a população. Esses serviços são, normalmente, gratuitos, mas, em alguns casos, o participante deve pagar uma semestralidade, um valor simbólico. Para diminuir a rotatividade de empregados no comércio, a CDL Empregos e outras agências procuram estudar o perfil de cada candidato. Somente é indicado quem tiver perfil para determinada vaga. “É melhor para a empresa e também para o candidato, pois acaba casando os perfis”, ressalta Aline. O salário médio para o comércio hoje fica entre R$ 650,00 e R$ 700,00 para 44 horas semanais.

No caso de Marcos Paulo Mocellin, que está na reta final da graduação em Direito, o motivo para não atuar na área é simples: baixa remuneração dos estágios, pois ainda não pode atuar como advogado sem ter o diploma. “O valor que pagam no estágio é muito inferior ao do meu atual emprego”, afirma o estudante que trabalha no negócio da família. Ele também ressalta que é difícil ser aprovado nas vagas de estágio, pois são muitos alunos disputando poucas vagas. A dificuldade de Marcos é

a mesma de muitos outros estudantes não só do curso de direito, mas dos mais variados cursos. Anualmente muitos profissionais são lançados ao mercado e, em muitos casos, sem experiência alguma. Um caminho promissor é participar de estágios durante a graduação. “As empresas buscam experiência profissional nos recém-formados e o estágio é a melhor opção para que eles possam executar o que aprenderam em sala de aula”, afirma Taís Balardin, coordenadora do Programa de Estágios da Unochapecó. ■


32 SEU DINHEIRO

Vantagens e desvantagens das previdências privada e social Alguns pontos devem ser considerados na hora de optar por uma ou outra Previdência é uma das primeiras palavras que muitos pensam quando imaginam um futuro seguro financeiramente. É uma opção de investimento para o tempo da velhice ou para qualquer eventualidade que impeça o trabalhador de exercer as funções regulares. A dúvida que paira na cabeça de muitos brasileiros é: investir na previdência social ou na privada? Primeiramente é necessário entender quais as peculiaridades de cada uma. A previdência social é administrada pelo governo federal. Todos os trabalhadores do país que possuem carteira assinada estão automaticamente inscritos. No caso da previdência privada ou complementar, o processo todo se dá através de seguradoras, bancos ou instituições financeiras. O intuito também é acumular recursos para que o trabalhador possa garantir a renda mensal no futuro. Existem a previdência privada aberta e a fechada. Na primeira, um dos principais benefícios é a liquidez, ou seja, a capacidade de transformar um ativo (bens ou investimentos) em dinheiro mais rápido, e os depósitos podem ser sacados periodicamente. A modalidade fechada é destinada aos profissionais ligados a empresas, sindicatos ou entidades de classe. O trabalhador paga um valor mensal do salário e a empresa o restante. Assim como

o empregado pode pagar o valor total. Algumas empresas pagam por tudo, como é o caso da Petrobrás, Banco do Brasil, etc. Cada uma das previdências tem vantagens e desvantagens. E cada um dos planos também. No caso da previdência social, caso a pessoa fique doente, ela tem direito a receber o benefício por incapacidade ou invalidez. Na previdência complementar, o segurado recebe o benefício quando atingir determinado período, como final de carreira, ou se sacar o dinheiro, ou, ainda, se quando fez o plano optou por pagar pelo plano de invalidez também. A opção de sacar todo o benefício não existe na previdência social.

Plano que garante aposentadoria Quem opta por ficar somente na previdência convencional deve pensar duas vezes. O valor pago pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) está diminuindo com o passar do tempo. Esse é o motivo pelo qual a gerente de negócios e investidora Cassiele Regina Crestani e o marido optaram simultaneamente por um plano privado. “Fizemos uma previdência privada para ter uma garantia de aposentadoria futura, pois somos pessoas jovens e, quando estivermos na idade de encerrar as atividades profissionais, não temos certeza se ainda existirá o serviço do INSS, já que há muito roubo pela parte dos governantes”, afirma. Outro fator que pesa na hora de decidir é que a previdência social está com um rombo que já atinge R$ 8,161 bilhões, 21,8% a mais do que no mesmo período de 2011. Esse rombo se deve

ao déficit de pagantes, por exemplo, pessoas que recebem pensão por morte não contribuem com o INSS, simplesmente recebem um valor de compensação pela perda até atingir 21 anos de idade. A desvantagem dos planos complementares é o valor da contribuição mensal, pois é mais caro que os oferecidos pela previdência social e o risco de investimento é maior. Segundo o professor de economia, Guilherme de Oliveira, “o investidor deve pensar se essa seguradora ainda vai estar no mercado ao tempo que decidir parar de trabalhar”. Uma dica é entrar no site da Secretaria de Previdência Privada Complementar (Susepe) e verificar se existe algum processo contra a instituição na qual se pretende investir. Pagar por uma previdência complementar tem suas vantagens, como maior taxa de retorno, o que possibilita uma renda de razoável à boa no fim das atividades profissionais. A situação atual é um reflexo do mercado que cresceu 18,8% em 2010, segundo a Federação Nacional de Previdência Privada (Fenaprevi). A arrecadação ficou em R$ 46 bilhões em novos depósitos, sem contar os já cadastrados. É importante que o segurado escolha um plano privado que vá de acordo com suas necessidades. Deve pensar se inclui ou não um dependente, se precisará do dinheiro investido a curto ou longo prazo, se a taxas (de administração e de fundos) não são exageradamente altas, pois as seguradoras cobram comissão de venda, conhecida como taxa de carregamento. Atualmente a única modalidade de investimento isenta de custos é a caderneta de poupança. ■


SEU DINHEIRO 33

Uma opção é conferir nos sites de instituições financeiras os valores e os planos disponíveis. “O que se aconselha para a população é fazer as duas coisas, não sair da social, mas investir na Previdência privada ao mesmo tempo”, afirma Guilherme.

FOTOS: LEILLÍS BORGES

Pontos a considerar na hora de escolher um plano Apesar da variedade de planos disponíveis na previdência privada, existem algumas regras comuns: 1. Somente invista na previdência privada se almeja resultados a longo prazo.

2. Pesquise sobre a instituição que pretende contratar, opte por aquelas que estão mais tempo no mercado. 3. Atenha-se ao plano original, pois assim você evita perdas por escolher um novo plano e errado. 4. Lembre-se que aposentadoria é uma opção de investimento e não a única. Se você quiser uma vida confortável, é interessante pensar em outros

investimentos além da aposentadoria. 5. Faça as contas e pense que sua renda ao final do período produtivo seja de pelo menos 70% a 80% da renda atual. 6. Pesquise pelos planos com as menores taxas de administração e de carregamento possíveis. 7. Não aceite taxa de administração do patrimônio superior a 2,5%. Mesmo abaixo disso, olhe a rentabilidade do plano.

Os segurados sociais podem receber benefícios nas seguintes situações: idade avançada (aposentadoria por idade), doença (aposentadoria por invalidez, auxílio-doença e auxílio-acidente), reclusão (auxílio-reclusão), falecimento (pensão por morte), maternidade (salário-maternidade), tempo de serviço (aposentadoria por tempo de contribuição). Não adianta pagar taxas baixas se o plano rende pouco. 8. Evite sacar o dinheiro antes do prazo estipulado para sua aposentadoria. 9. Quanto mais cedo você contratar o plano, mais cedo poderá se aposentar. 10. Se você tem filhos, saiba que pode investir em uma previdência para eles também. As possibilidades são muitas: pagar faculdade, carro, apartamento, etc.


34 CONSUMO

Artesãos chapecoenses insatisfeitos com Feira Mãos da Terra FOTO: ADRIANE RECH

O período de realização e não valorização do local foram as principais reclamações.

Em abril, a população de Chapecó e região, viajou no Brasil e no mundo através da 2ª Feira Internacional de Cultura e Artesanato – Mãos da Terra. Na exposição, realizada no Pavilhão 4 da Efapi, entre os dias 20 e 29, os visitantes conheceram e adquiriram produtos de diversos países, como Indonésia, Paquistão, Equador, China e Japão, além de artigos feitos em outros estados brasileiros, como Tocantins, Bahia e Minas Gerais. Além disso, para valorizar o que é feito localmente, a feira também apresentou ao público visitante a 2ª Mostra do Artesanato Chapecoense. Cerca de 200 artesãos estiveram presentes com produtos confeccionados com os mais variados materiais, principalmente do aproveitamento de resíduos recicláveis, como papel, madeira, borracha, além do artesanato indígena. Mas, mesmo com o espaço destinado ao artesanato local, possível por meio de uma parceria realizada entre a empresa organizadora e a Prefeitura Municipal, os feirantes chapecoenses, de forma geral, não estavam satisfeitos com o resultado do evento. Na opinião da artesã Gelci Wink, o período de realização foi o principal fator para as baixas vendas, pois na segunda quinzena do mês, a população não está com muito dinheiro no bolso para gastar. Em comparação à edição anterior, um público reduzido visitou a exposição, principalmente durante a semana.

A artesã Suelen Pilatti lembra que o shopping, inaugurado em outubro de 2011, também foi um fator de influência para a baixa venda nesta edição da Feira. “Não surtiu muito efeito para o artesanato chapecoense. Ano passado vendemos alguma coisa, nessa foi muito menor em função da época do mês”. Ela lembra que várias pessoas entraram no estande e, quando viram que se tratava de artesanato local, disseram que olhariam em outra ocasião. Para Gelci Wink, a população ainda não consegue observar com outros olhos a cultura presente no município: “as pessoas acham que a peça não custou nada, não veem como um trabalho diferente. O que fazemos é artesanal, é único”, completa. Essa também foi uma reclamação dos expositores de produtos internacionais. Cleber Ramos, que tinha em seu estande artigos da Ilha de Bali, na Indonésia, disse que a data e a chuva atrapalharam bastante. Segundo ele, outro ponto importante que influencia nas vendas é grande parte da população não conhecer a cultura do país oriental e, mesmo que goste do produto, acaba não comprando. “Não é como nas capitais, em que as pessoas sabem o que compram”, enfatiza. Ramos também revende para lojistas de todo o Brasil. Ele explica que no Nordeste, por exemplo, existem estabelecimentos que só vendem e sobrevivem com artigos importados.

Consumidores optam pelo importado Para os expositores internacionais o custo por peça é muito elevado. São pagos cerca de R$

30 mil em impostos por contêiner importado, o que faz com que a maioria dos preços aumentem em até 15 vezes. Mesmo assim, alguns produtos fizeram sucesso por serem baratos, cabendo no bolso do consumidor. Diana Olkoski visitou a Feira e levou para casa um lenço indiano. Ela justifica que, “primeiro por ser mais em conta e segundo que por ser de outro país, o ser de fora chama mais a atenção. Nos espaços de Chapecó eu quase nem parei, porque sabemos que tem aqui”. Diana não foi exceção. O atrativo foram as peças “diferentes”, que geralmente não são encontradas no comércio local, ou são mais caras, como comenta a consumidora Ivanir Dalcin, “tudo é interessante e chamativo”. Segundo a Gerente de Relações comunitárias da Fundação de Ação Social de Chapecó (FASC) e representante dos artesões, Leila Di Domenico, a Feira Mãos da Terra é uma oportunidade de apresentar o trabalho e realizar pedidos para os próximos períodos. “Alguns artesões terminaram as encomendas da Efapi no mês passado”, pois os consumidores conheceram os produtos na exposição. Ela explica que, em Chapecó, entre ativos e inativos, a fundação possui cadastrados cerca de 700 artesões e que muitos deles sobrevivem somente com a venda dos produtos. Leila enfatiza também que “a região é muito rica em matéria-prima”, facilitando a produção. Atualmente os artesões de Chapecó realizam feiras todos os sábados no Calçadão, localizado no centro da cidade. Porém, quando chove a programação é cancelada. Uma das atuais reivindicações é um espaço fixo para exposição dos produtos. ■


CONSUMO 35

Mercado aquecido na Páscoa FOTO: ADRIANE RECH

A Páscoa é o período do ano no qual crianças e adultos deliciam-se com ovos de chocolate que, no início da temporada, lotam os corredores de supermercados. Na semana seguinte à Páscoa, muitos consumidores aguardam as promoções de “compre um e leve dois” ou os descontos especiais que garantem a venda dos que sobraram. Mas, este ano foi diferente: quem esperou para adquirir ovos de chocolate depois da data festiva, não levou muita coisa para casa. Mesmo com aumento de cerca de 8% nos preços, os três principais supermercados de Chapecó registraram crescimento de 20% nas vendas dos ovos de chocolate em relação ao ano passado. Um dos fatores que explica essa variação é que, em 2010, a Páscoa foi comemorada no final do mês, período em que

a população já quitou a maioria das contas e não possui um orçamento flexível para gastos extras. Já neste ano, a data foi comemorada no dia 8 de abril, quinzena que geralmente se encaixam os dias de pagamentos salariais. O gerente de loja, Ederson Fiorese, explica que desta vez os consumidores se anteciparam e que, se for preciso, preferem apertar o orçamento do mês para garantirem a compra dos ovos. Os preços do artigo foram muito variados. Para quem optasse por um chocolate com maior qualidade e gramatura, os valores chegaram a R$ 93,90 (700 gramas) e os mais vendidos ficaram entre R$ 18,00 e R$ 30,00. Mas, grande parte dos supermercados de Chapecó no sábado que antecedeu o domingo de Páscoa, já não possuía muitos ovos em estoque. Cleonice Barbieri, gerente

de um mercado que atende, na maioria, a classe média, explica que muitas empresas optaram por realizar promoções no último dia de venda, para diminuir o produto na loja. “Fizemos uma ação de 20% de desconto na compra de alguns ovos”, diz Cleonice. Segundo ela, foram comercializadas em grande quantidade caixas de bombom e barras de chocolate e que a maior fatia de vendas se deu à vista. Outro atrativo que fez com que no dia seguinte não houvesse a promoção nos supermercados e que chamou a atenção principalmente das crianças, é o brinquedo comercializado junto com o ovo. Muitas marcas trouxeram bonecos, canecas e carrinhos que fizeram brilhos os olhos dos pequenos, além de brindes que os consumidores levavam conforme as unidades adquiridas. Confor-

me o vendedor Junior André do Carmo, um brinde de urso de pelúcia, por exemplo, custa para a empresa cerca de R$ 30,00, quase o valor de um dos ovos. Ele destaca também que essas ações visam “antecipar a venda e não desprestigiar a marca no mercado”, pois em muitos casos o cliente aguarda a promoção a ser lançada pela empresa, mas que nem sempre é realizada. Além disso, algumas distribuidoras optaram por retirar do mercado os produtos que sobraram. Mesmo assim, quem esqueceu de presentear os familiares e amigos com ovos de Páscoa foi às lojas na segunda-feira para fazer uma compra de última hora. Mas, poucos foram os estabelecimento e opções que o consumidor encontrou. ■



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