Coleção Lua Nova Volume 1

Page 1

Lua Nova Coleção Associação Lua Nova Volume 1

Encontrar o brilho Daqueles que parecem não brilhar


Lua Nova Coleção Associação Lua Nova Volume 1

Encontrar o brilho Daqueles que parecem não brilhar



Associação Lua Nova


Presidenta da República Dilma Vana Rousseff Vice-Presidente da República Michel Miguel Elias Temer Lulia Ministro da Justiça e Presidente do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas José Eduardo Martins Cardozo Secretário Nacional de Políticas sobre Drogas Vitore André Zílio Maximiniano Revisão de Conteúdo Equipe Técnica – Senad Diretoria de Articulação e Coordenação de Políticas sobre Drogas Coordenação Geral de Políticas de Prevenção, Tratamento e Reinserção Social


O conteúdo intelectual dos textos é de responsabilidade dos organizadores e representantes da Associação de Formação e Reeducação Lua Nova e não expressa, necessariamente, a posição da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Venda Proibida. Todos os direitos desta edição reservados à SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS (SENAD). Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida ou gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Secretaria Nacional sobre Drogas. Direitos exclusivos para esta edição: Secretaria Nacional sobre Drogas – Senad Esplanada dos Ministérios Ministério da Justiça Bloco T, Edifício Sede. 2° Andar, Sala 208 Brasília – DF, CEP 70.064-900

Associação Lua Nova COORDENAÇÃO GERAL Raquel Barros PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Maysa Mazzon Mariana Jabur Gustavo Dordetto Letícia Firmino Yame Vieira EDIÇÃO GERAL E REDAÇÃO Cinthia Azir Iza Justino Silvina Mojana REVISÃO Lívia Gusmão PROJETO E EDITORAÇÃO GRÁFICA Silvina Mojana Melina Gutierrez IMAGENS Silvina Mojana Antonello Veneri AGRADECIMENTO ESPECIAL Paulina Duarte, que acreditou na força da Lua Nova IISBN: 978-85-69408-01-7


PREFÁCIO A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) é o órgão do Governo Federal responsável pela articulação de políticas públicas de prevenção, tratamento e reinserção social de usuários e dependentes de drogas. Essa missão exige um esforço conjunto, no qual todos os agentes governamentais ou não governamentais podem - e muito - contribuir. No Brasil, muitas iniciativas para prevenção, tratamento e integração social de usuários e dependentes de drogas merecem destaque, e a Senad vem buscando identificar boas práticas, investir no estudo e registro para sistematizálas e possibilitar que sejam referência em outras localidades. Esforços advindos de diferentes setores da sociedade estão envolvidos na atenção ao uso abusivo de drogas, empregando pesquisas, recursos e operações, visando eliminar as situações de vulnerabilidade causadas por elas. São escassas as iniciativas voltadas para as pessoas que fazem uso, ou na relação que desenvolvem no processo de vinculação com as drogas. Nesse diapasão, os agentes de transformação ganham cada vez mais espaço para uma melhor abordagem junto ao usuário, apresentando caminhos possíveis que nascem do encontro com ele, promovendo diálogos pouco abordados e explorados. Nos espaços voltados para cuidado e atenção ao usuário de drogas, o olhar e as práticas sobre este clamam por transformações - desde

mudanças nas metodologias e ferramentas de intervenção junto ao indivíduo e sua comunidade, como a mudança no próprio objeto da intervenção. Desse modo, o foco, antes apenas no usuário, passa a abranger a comunidade na qual ele vive e estabelece diversas relações, buscando oferecer as mais variadas e ricas oportunidades de interações, ampliando sua rede. A Experiência da Lua Nova, sistematizada nestes quatro volumes e em sua segunda edição, nos convida a mergulhar nesse olhar e, sobretudo, nos instiga e prepara para disseminar essa visão em espaços que desejam assim fazê-lo. Afinal, desenvolver a metodologia da Lua Nova não implica ter um prédio ou uma estrutura para acolher jovens mulheres usuárias de drogas, e seus filhos, e sim estabelecer relações de parceria e troca com essas jovens, focando em suas potencialidades e brilhos. A leitura da sistematização das experiências da Lua Nova nos empresta as “lentes da inclusão” para que possamos desenvolver e praticar novos olhares baseados no estabelecimento de relações nas redes, nas trocas de potenciais e saberes e na participação como principal instrumento de intervenção. O livro é dinâmico, complexo, recheado de possibilidades a serem empregadas em contextos de vida de pessoas em sofrimento social, que vivenciam questões como pobreza, injustiça social, prostituição ou abuso sexual -

embora tais temas não ocupem o centro do trabalho na Lua Nova. As pessoas são o foco principal; as vulnerabilidades assumem o pano de fundo da história. Portanto, profissionais em busca de estratégias mais inovadoras e metodologias mais sensíveis para estes contextos encontrarão inspiração nestes livros. Equipes de trabalho de diferentes políticas públicas que buscam caminhos para garantir a participação e a adesão dos usuários nos serviços para eles voltados também encontrarão possibilidades nestes livros. Pessoas que já estiveram em situação de risco, usaram drogas e vivenciaram ou vivenciam situações de sofrimento social também podem mergulhar no livro e encontrar motivação para buscar seu brilho - que, às vezes, parece apagado, mas que está apenas adormecido, necessitando de oportunidades. Gestores públicos à frente de estratégias e planos integrados voltados para atenção ao usuário de drogas encontrarão, nestes livros, propostas interessantes e caminhos instigantes. Organizações não Governamentais, Associações comunitárias, enfim, diferentes atores que buscam usar as “lentes da inclusão” encontrarão diálogos possíveis nestes livros. Boa leitura! Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas


SUMÁRIO Partindo das histórias das meninas............................................................................................9 O que pensamos: teoria da relação inclusão.......................................................................15 Como olhar as famílias....................................................................................................................20 Entre pedras e flores: como nasceu e cresceu a Lua Nova.......................................24 Acolhimento...........................................................................................................................................35 Autonomia..............................................................................................................................................40 Bibliografia...............................................................................................................................................72


Encontrar o brilho Daqueles que parecem nรฃo brilhar

Lua Nova Dando forรงas para quem tem vontade www.luanova.org.br


Partindo das HISTÓRIAS DAS MENINAS Este livro conta histórias reais com personagens de carne e osso, num cenário áspero como a dureza de suas vidas e que, junto com a Lua Nova, descobrem o brilho de seus corações.

Edna Santos Lima, um dos exemplos mais marcantes que a Lua Nova tem de determinação, força de vontade - e, por que não, mudança de vida -, conta com um sorriso tímido suas histórias da adolescência. Com uma vida marcada por fatos alegres e tristes, conheceu a mãe aos 12 anos de idade, que a entregou ao conselho tutelar. Durante algum tempo após esse fato, viveu em abrigos e, na rua, engravidou aos 16 anos. Nessa mesma época, Edna conheceu a Lua Nova. Sempre acostumada com a movimentação de São Paulo, não gostava muito da ideia de viver em uma cidade do interior. Apesar disso, veio para a Associação. Durante sua temporada, repleta de fugas, idas e vindas, nasceu seu filho Gabriel que, por complicações de saúde, veio a falecer. Tempos depois, engravidou novamente, dessa vez de uma menina: Gabriele. Edna foi uma das primeiras jovens a trabalhar nos projetos da Lua Nova, tendo inicio na padaria Lua Crescente, além de participar de outros programas. Edna mostrou que, apesar das dificuldades, poderia superá-las e mostrar a todos o quão forte é. Ela recorda com carinho o Natal de 2004: PH - Antonello Veneri

Vamos considerar “meninas” todas as adolescentes e mulheres que fazem parte da Lua Nova. “Menina” é a expressão carinhosa de chamar as protagonistas dessa história.

1


Partindo das

A força da maternidade

HISTÓRIAS DAS MENINAS

Cabelo s cacheados, rosto de menina, olhar vivo, sorriso aberto. Esther Souza de Brito, 25 anos, é franzina e mal tem um metro e meio de altura. Sua aparência infantil não condiz com sua história de vida. Quando começa a falar, é um furacão: despeja sua história tão rápido que os fatos se atropelam. É como se tivesse pressa para contar toda a infelicidade pela qual passou dos 9 aos 17 anos para, então, poder voltar a olhar para a frente – para um tempo chamado futuro, em que faz planos para ela e para os filhos Thainá, Ísis e Victor Huggo, de 1, 2 e 5 anos respectivamente. Nesse novo tempo, a garota brinca, dá risada e traça estratégias para viajar, dar consultorias e buscar parceiros para a ONG que lhe proporcionou reconstruir sua vida e onde hoje trabalha: a Associação Lua Nova. Esther começou um longo histórico de fugas de casa aos 9 anos de idade. Morava com sua tia, que considerava como mãe, na zona sul de São Paulo. Sempre que brigavam, Esther terminava na favela mais próxima. “Entrava e saía da favela direto”, descreve. Nas ruas, fez de tudo um pouco: vendeu pó (cocaína), crack, lançaperfume, usou um pouco de droga, trabalhou de ambulante; mas nunca abandonou a escola. “Sempre dava um jeito de aparecer na escola, assistir às aulas e ir passando de ano”, relata. A situação ficou mais delicada na adolescência, quando o irmão - que, na verdade, era primo teria tentado forçá-la a fazer sexo com ele. Esther “ganhou” as ruas de vez. Aos 15 anos, voltou temporariamente para a casa da mãe biológica, em Francisco Morato (uma das regiões mais pobres e violentas da Grande São Paulo), e engravidou. “Meus irmãos mais velhos me espancavam, era um inferno”,

“... pedimos para a educadora Cláudia passar com a gente e fizemos a ceia com um dinheiro que ganhamos. Ganhamos presentes também, foi muito legal. No dia seguinte, também comemoramos!” Edna, aos 28 anos de idade, conhece todas as etapas da Lua Nova. Atualmente, trabalha como educadora social na casa de Acolhimento da Organização, conhece as meninas e trabalha com elas de um modo diferenciado: ao mesmo tempo em que é severa, sabe cativá-las, tendo o carinho de todos. Com um jeito convicto de expor suas opiniões, fala o que pensa ser o melhor a ser dito em cada momento, sem medo de opiniões e respostas controversas - uma mulher de personalidade forte e, com certeza, um exemplo de força e determinação. “A Lua Nova é tudo na minha vida. Hoje eu conheço os dois lados da vida - o lado bom e o lado ruim -, sei o que é trabalhar, pagar aluguel e uma conta, mas também conheço o lado do tráfico. A Lua Nova me ensinou que eu posso ter uma vida diferente, cuidar da minha filha, viver dignamente, reintegrada na sociedade.” “É preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã!” Legião Urbana

resume. Saiu da escola no 9° ano e teve o bebê, aos 16, na casa da mãe. Depois que Victor nasceu, Esther se viu em um ambiente hostil, marcado pela violência. Dois irmãos estavam presos, outro estava sendo processado e o quarto vivia em regime de liberdade assistida. “Sou a única dos filhos que nunca foi presa”. Esther não tinha emprego, estudo ou casa, mas não queria abrir mão de criar o filho. “Se eu tinha algum direito nessa vida era o de ser mãe do Victor”. Foi a maternidade que transformou uma menina rebelde em uma jovem mulher disposta a arregaçar as mangas e lutar por um mundo melhor. “Por favor, escreve aí o nome dele com dois gês”, pede ela. “É Victor Huggo”, soletra.


Mãe e filho Esther foi parar em um abrigo com Victor, na zona sul da capital paulista. A diretora informou sobre a única instituição do Estado de São Paulo que acolhe mãe e filho juntos, a Associação Lua Nova. Assim, aos 16 anos, Esther veio pela primeira vez para a Associação, de onde fugiu duas vezes. “Fugia porque não sabia ficar. Tentava fazer todas as coisas ao mesmo tempo, me angustiava e não persistia”. De volta às ruas de São Paulo, faturava, em média, R$ 10,00 por dia contando piadas em ônibus, tomava banho a R$ 1,00 no centro da cidade e dormia agarrada a Victor Huggo embaixo dos viadutos. “Uma noite acordei com um homem bem vestido embaixo do viaduto onde a gente dormia. Ele estava bem perto do Victor. Se eu não tivesse acordado, ele teria levado meu bebê. Entrei em pânico e passei a ter medo de dormir. Fiquei exausta e muito magra. Nosso estado de saúde piorava a cada dia”, conta. Esther acabou indo para o hospital com a criança, onde foi descoberta pela polícia e pelo Conselho Tutelar. Quase perdeu a guarda do filho. “Foi meu momento de maior pânico”, recorda. Nesse período, totalmente descontrolada, esmurrou uma conselheira tutelar que estaria planejando a adoção de Victor à sua revelia. Não era o primeiro episódio em que tentava

PH - Antonello Veneri

defender o direito de ser mãe a tapas. Apareceu na audiência judicial chorando e pedindo ajuda ao juiz para não perder a guarda do filho. “O juiz me disse: 'se você ficar uma semana sem bater em ninguém, tento convencer a direção da Lua Nova a aceitar você'.” Os dois voltaram para o abrigo do projeto, em Araçoiaba da Serra, a poucos quilômetros de Sorocaba. Esther ficou no abrigo por pouco tempo.

Acabou fugindo, mas dessa vez entre aspas, digamos assim. Permaneceu em Araçoiaba, onde passou a vender produtos de panificação iguais aos que aprendeu a produzir na padaria-escola da Lua Nova. “Virei concorrente. Queria ter dinheiro para alugar minha própria casa”, diz, sorrindo. Essa “fuga consentida” durou três anos e meio. Hoje, Esther trabalha diretamente com Raquel Barros, a fundadora da Lua Nova, e atua como consultora em outros projetos de juventude.


Vínculo “A maternidade é o vínculo mais forte que as meninas têm. Isso tem que ser preservado”, explica Raquel, que as incentiva e, em alguns casos, é tutora delas na Justiça. A Lua Nova acolhe adolescentes grávidas e as ajuda a construir um projeto de vida. Esse futuro inclui a descoberta de talentos e o aprendizado de ofícios que proporcionem às meninas renda para sustentar a nova família. Assim, a Lua Nova criou diversos projetos para as meninas descobrirem qual a sua aptidão e, consequentemente, ter sua própria renda. Abaixo, seguem alguns projetos: - buffet-escola - fabricação de pão, biscoito, massas e bolos; - fábrica de bonecas - confecção de diversas bonecas (loiras, morenas, ruivas), que já são um dos símbolos do projeto; - empreiteira-escola - é a mais inovadora de todas as atividades, exercida apenas por mulheres. A empreiteira já construiu as primeiras casas do Condomínio Social. “A gente, que sempre viveu nas ruas, hoje constrói casas. Não é incrível?”, pergunta de forma afirmativa Ana Lúcia Veiga, 28 anos, mãe de dois filhos de 7 e 9 anos. Ela é mestre de obras formada pela empreiteira-escola Lua Nova e certificada pelo Senai. Ana, a “Negão”, e outras companheiras, estão construindo mais doze unidades que serão vendidas às novas proprietárias a preços simbólicos, que podem chegar a R$ 5 mil, divididos em dez, quinze anos.

Reunindo famílias Na Lua Nova não há histórias fáceis. T., de 16 anos, engravidou aos 12 anos de um tio de 60 anos. O pai de T., ao saber que o irmão tinha abusado da filha, morreu. O agressor está solto e ameaça de morte a menina que está na Associação. Raquel é objetiva. “Se formos ficar incentivando que elas são coitadinhas, ninguém evolui. Elas têm apoio psicológico e muita ajuda. Tudo para superar e andar com as próprias pernas”. O tempo recomendado de permanência na Associação Lua Nova é de nove meses – uma gestação. Depois disso, as jovens acabam alugando casa em Sorocaba ou Araçoiaba da Serra. “A Lua Nova é uma referência quase familiar”, diz Raquel, que costuma atender, entre a Associação e as outras atividades, uma média de 150 meninas e filhos no mês. Regina, 30 anos, conseguiu vaga na Lua Nova quando lutava pela guarda dos filhos que estavam em um abrigo. Agora construiu a própria casa (com sala e quatro dormitórios), e reuniu as crianças. Está aprendendo a ler e a escrever e tem uma profissão: ajudante de pedreiro. “O projeto se chama Lua Nova porque esta é uma fase em que o brilho e a luz da lua estão presentes, mas ninguém vê. É assim com as meninas e mulheres que atendemos aqui. Elas têm uma força espetacular. Só falta descobrir. Estamos aqui para ajudá-las”, resume Raquel. (BARROS, 2010, p. 144-147)


“O drama da cadeia e favela. Túmulo, sangue, sirenes, choros e velas”

Negro Drama, Racionais MC's As histórias relatadas falam de jovens mães. Meninas, mulheres, profissionais. Todas com um aspecto importante em comum: vivem ou viveram alguma situação de sofrimento social. Estar em situação de sofrimento social não significa apenas usar drogas, ter sofrido violência sexual, ou estar em situação de rua. Viver em sofrimento social é se perceber numa configuração da ordem social que restringe sua capacidade e liberdade de escolha. O sofrimento social denuncia a desigualdade e a exclusão do mundo no qual vivemos e atinge milhares de pessoas que estão às margens da sociedade, sem o direito de negociar a própria existência. O sofrimento social é composto por pobreza, racismo, diferenças de gênero e exclusão social, impactando todos os âmbitos da vida da pessoa. São estas as mulheres acolhidas na Associação Lua Nova. Por que destacar o contexto do sofrimento social? Porque certamente torna estas mulheres especiais, já que (sobre) vivem na exclusão, à margem das estatísticas, nas subnotificações, à margem das oportunidades, da parceria e da relação. Relacionam-se somente com um mundo desigual, que lhes nega todos os seus diretos. São mulheres sem o título de cidadãs

conferido pela cédula de identidade. Sem matrícula na escola e no posto de saúde. Muitas escondem seus corpos marcados pela violência física, sexual, moral, de abandono e exclusão. E sendo mulheres, o cenário de desigualdade aumenta, assim como as especificidades desta condição, num país que celebra mais de duas décadas de Constituição e não conseguiu oferecer à mulher o direito à cidadania plena. Sociedade/ coletivo/ exclusão/ preconceitos/ falta de oportunidades/ marginalidade/ miséria/ dor/ temor/

“quais das palavras abaixo fazem ou fizeram parte da sua realidade

faça um circulo nas que você reconhece

favela abrigo arma drogas tráfico pai mãe oportunidade mudança criatividade felicidade tristeza defeitos habilidades roubo polícia trabalho gravidez homossexualismo amizade prostituição traficantes juiz abuso sexual fome preconceito solidão morar na rua carinho amor namorar fugir casar prisão viajar felicidade”. AAA


No final do jogo, se você assinalou palavras como drogas, tráfico, etc, deve saber do que se trata o sofrimento social. Se não assinalou, pode imaginar como é viver esta realidade? E diante de tamanha gravidade, o que podemos fazer? Nós não vamos mudar esse contexto de sofrimento social. Mas vamos intervir. Eis que nasce Lua Nova. Para estimular todos a mudar as lentes de nossos óculos e enxergar os brilhos destas mulheres, sendo um espaço de relação e de exercício de direitos - mas os direitos das jovens, de acordo com as necessidades delas (BARROS; LISBOA, 2013, p. 127-141). E hoje, mais de 11 estados brasileiros usam esta mesma lente da inclusão e acolhem meninas em todos Brasil. Este livro pretende contar histórias do uso das lentes da inclusão através da confiança e da relação.


O QUE PENSAMOS: Teoria da relação inclusão PARA COMPREENDER O CENÁRIO Há décadas, buscamos soluções efetivas e definitivas para eliminar o uso de drogas nas sociedades. Estas buscas por respostas têm nos conduzido, cada vez mais, a valorizar conhecimentos especializados. No entanto, quanto mais nos especializamos, mais nos distanciamos das pessoas precisam de apoio para superar o problema. Na realidade, estamos nos tornando especialistas de nossas próprias teorias e acabamos falando para nós mesmos, ignorando a complexidade sistêmica da qual fazemos parte (MORIN, 2000). “Criamos serviços e os transformamos em templos e fortalezas ao mesmo tempo. Um templo para venerarmos e acreditarmos que é ali que estão as soluções, e uma fortaleza porque, com a ameaça de outros serviços, estamos sempre buscando razões para

mostrarmos que nosso serviço é o mais belo, mais importante e mais efetivo entre todos. Nesta dinâmica impedem-se as relações, as trocas e que soluções eficazes aconteçam” (BARROS; LISBOA, 2013, p. 127-141). É importante novos olhares que se baseiam no estabelecimento de relações, nas redes, nas trocas de potenciais e saberes e na participação como principal instrumento de intervenção. Neste sentido, pensamos que o desafio é integrar, relacionar e articular estes vários templos e fortalezas construídas nas visões de eficácia isolada, de modo que deixe de existir o certo e errado, e que o mais importante seja a relação entre os diversos serviços e comunidade, efetivando um “estar juntos para um fazer articulado”.

FALANDO DO USO DE DROGAS E RELAÇÕES Sabemos que a droga em si, somente como substância, não prejudica ninguém. As alterações causadas pelas drogas no corpo dependem das características da pessoa que as usa, do tipo de droga utilizada, da quantidade, frequência, expectativas e circunstâncias em que é consumida. O que pode vir a ser problema é a relação que o indivíduo estabelece com a droga, então falar de uso de drogas é falar de relação.


Se considerarmos que a questão da relação que o indivíduo estabelece com as drogas é inerente à sua condição humana, devemos dialogar com o conceito de relação, refletindo acerca de alguns de seus diversos usos em diferentes campos (BARROS; JABUR, 2011). As relações humanas têm sido estudadas em vários âmbitos, demonstrando sua força e impacto na vida das pessoas. Dentre as muitas relações humanas possíveis, a relação mãe-bebê destaca-se como a primeira mais marcante na vida de um ser humano. O vínculo materno, amplamente investigado por estudiosos de diferentes linhas teóricas, encontrou no psiquiatra John Bowlby, entre as décadas de cinquenta e sessenta, a teoria que procurou explicar como ocorre – e quais as implicações para a vida adulta – do vínculo afetivo entre o bebê e seu provedor (BARROS; JABUR, 2011). Desenvolve-se, então, a teoria do comportamento de apego, definida como: “Qualquer forma de comportamento que resulta em uma pessoa alcançar e manter proximidade com algum outro indivíduo, considerado mais apto para lidar com o mundo”(BOWLBY, 1989, p.38). Tal comportamento promove a segurança e o conforto, favorecendo as possibilidades do

ser em formação explorar o resto do mundo. A relação mãe e filho, portanto, torna-se uma relação fundamental no sentido de promover uma vida saudável e de qualidade para a família, mesmo que a função materna seja desempenhada por diferentes atores (uma avó, um tio, um irmão mais velho). A partir desta contextualização sobre a extensão e complexidade do tema relações, percebe-se que, dependendo do indivíduo (sua história, expectativas e contextos etc), a relação com a droga se estabelecerá de uma maneira que poderá ser diferente para cada ser em questão. Pensar no uso de droga é pensar em todas as situações da vida da pessoa e as diferentes relações estabelecidas em diversos níveis de complexidade e, desta maneira, a forma como se estabelece a relação com a droga, sua característica, sua intensidade, enfim. Ao reconhecer que o uso de drogas é uma relação, sabemos que esta se estabelece através da conexão de vários fatores que, juntos, poderão determinar o padrão (relação) de uso de droga e o nível de envolvimento pessoal e de coletivos.


Mas por que o empenho em facilitar relações? Esse olhar que foca na relação, favorecendo trocas entre beneficiário final e equipe de trabalho, rompe com uma linearidade encontrada nos processos tradicionais de tratamento e inclusão do usuário, baseados em modelos médicos de ajuda, centrados na ajuda de “cima para baixo”.

DURANTE

ANTES

ANTES GRAVIDEZ SELEÇãO

Depois

Quanto mais a pessoa tem relação com a droga, menos tem com suas redes sociais operativas, de recursos - escola, família, trabalho, amigos -, e o contrário também se faz verdadeiro. Quanto maior a relação da pessoa com suas redes sociais, menos espaço existe para a relação com a droga. Neste sentido, entendemos que, para se atuar no tema drogas, é preciso oferecer relações positivas e fortalecê-las. O foco deve estar nas relações de pessoas com pessoas e não nas de pessoas com as drogas. A nossa concepção de desvinculação do uso de droga (Gráfico 1) baseia-se nas possíveis articulações e relações que os usuários podem estabelecer com os principais atores que circundam as suas vidas, diversificando, ampliando e fortalecendo suas redes. Este conceito prevê que processos de inclusão social podem se dar através da ampliação da rede subjetiva das pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social e da diversificação das relações na esfera do trabalho, da saúde e da educação.

- se prostituía - se drogava - mora na Sé - tinha filho em um abrigo

- intoxicada - insegura - medo - amiga indica o Lua Nova

- triagem - centro escuta

ADAPTAÇãO - coletivo X individual - horários - abstinência - rotinas - higiene

- identidade - espelho - respeito ao outro - não tem o que fazer no final de semana

SAÍDA - condomínio Lua Nova - família - casa própria

CHEGADA

CONHECER

- medo - alívio - regras

- seu quarto - área coletiva - colegas - atividades - educadora

IntegraÇãO - filho/a - Lua Nova - colegas

- comunidade do entorno - sociedade

menor - deve ter autorização judicial para poder sair do Lua Nova


A importância de atuar em rede Não somos capazes de fazer tudo – não seria possível, nem sadio. É necessário trabalhar articulados com outros serviços: creches, conselhos, hospitais, pastorais, promotorias. Todas as ações da Lua Nova estão articuladas em rede e seus objetivos são complementares. Para trabalhar com as jovens, é necessário movimentar uma rede de atendimento a essa população, como um sistema aberto entre os diversos serviços e grupos existentes, não só da área da saúde, mas também de outras áreas como educação, cultura, lazer, esportes, segurança, religião. Os serviços isolados, sem a participação dessas outras áreas, ainda que específicos para atendimento ao uso e dependência de drogas, não têm mostrado resultados efetivos. É a interação de vários serviços e pessoas - o que costumamos chamar de articulação em rede - que possibilitará um melhor processo de transformação.


Como olhar as famílias Muitas das jovens que chegam à Lua Nova são vítimas de violência, abuso sexual, tráfico de drogas e pobreza extrema. Acreditamos que se durante toda essa trajetória a família não pode estar perto, devemos desenvolver nossos programas de maneira independente. As jovens são preparadas para a autonomia e, na medida em que vão assumindo seu espaço na sociedade, decidem se querem ou não retomar a família de origem.

SER FAMÍLIA

A família é a primeira rede subjetiva que possuímos e, portanto, a primeira possibilidade de prevenir vulnerabilidades através de redes. O mesmo vale para as famílias adolescentes, que são a maioria a participar da Lua Nova. Para refletir sobre a família adolescente, em primeiro lugar, seria importante entender o que é uma família. Pense na sua família, na de seus amigos, na de seus colegas de trabalho e em outras famílias que você já ouviu falar. Após sua reflexão, irá perceber que família não é só aquela formada por pai, mãe e filhos. Existem famílias de pais separados, crianças sendo cuidadas por avós, tios, irmãos, padrastos e madrastas. A diversidade é enorme. A estrutura familiar não é a mais importante, mas sim, as relações, os vínculos afetivos - sadios ou não. Reconhecer a função de cada pessoa na família e as ações que promovem para que o grupo permaneça junto é fundamental. Algumas famílias estão unidas pelo fator econômico, outras pelo afeto, ou por denúncias e demais motivos peculiares. O vínculo saudável entre os membros familiares favorece o fator de proteção, inclusive a relação com o uso de drogas. Mas, há famílias que enfrentam problemas para desenvolver seus vínculos afetivos, lidar com seus conflitos e desempenhar seus papeis, passando a ser um fator de risco para todos que a compõem. Então, como são as famílias adolescentes? As jovens que estão na Lua Nova acabam por se tornar uma famíia e, mais que isso, chefes de família.

A gravidez indesejada, na maioria dos casos, faz com que as meninas construam sua família. Seus irmãos, pais, mães e demais parentes estão afastados e distantes. Distantes porque nunca se conheceram - por estarem próximos fisicamente, mas não emocionalmente; porque nunca existiram como referência; porque deixaram de acreditar que eram capazes de se constituir enquanto família. Deixando para trás sua antiga história de vida, as adolescentes trilham caminhos distintos, tortuosos e difíceis, que levam a um novo processo de construção de si mesmas através da criação de novas relações que esquentam, que aquecem, deixam marcas e que, muitas vezes, geram filhos. Antes de seus rebentos, as adolescentes buscaram formar novas famílias - com outros adolescentes, amigos da rua, educadores de projetos sociais, famílias vizinhas, todos identificando-se pelo sofrimento e pela dor, “dor de coração”. E a cura para essa dor de coração é ter boas relações. Na Lua Nova, são formadas famílias jovens que, exatamente pela ausência ou presença danosa de suas famílias, foram obrigadas a se reorganizarem e restabelecerem seus laços, concebendo uma nova vida, inicialmente não desejada, possibilitando a construção de uma nova história familiar.


SER FAMÍLIA São famílias que iniciaram com a dor e passaram a descobrir a possibilidade de ser amado, de poder sentir, de poder pensar em futuro, de saber que há realmente alguém para caminhar ao lado. Sabemos que existem inúmeras outras famílias adolescentes, talvez com histórias distintas. Mas, estas são as que conhecemos e valorizamos. Para ilustrar as histórias das meninas da Lua Nova, apresentaremos relatos contados por elas. “... Dos oito anos até os dezoito anos morei no orfanato... queria ter a minha casa e minha família. Conheci um homem... Foi uma ilusão perfeita na minha vida... Casei com ele... Depois que engravidei, o açúcar do casamento... amargou totalmente... Começou muita briga... Houve vezes em que tentei me matar... Sempre alguém me salvava... No fundo do meu coração, busquei força em meu filho querido...” “... Estava traumatizada por um estupro que sofri com nove anos, por um dos meus tios... Sofri demais com meu pai... Fugi de casa e comecei a usar drogas, ficar com mulheres e fui morar na rua... Me mandaram para um abrigo... Fugi. Minha querida mãe me embebedou, me drogou e pôs um cara, pra quem ela devia, para ter relação comigo sem eu sentir nada. Descobri que estava grávida. Agora estou aqui com minha filha nos braços, lutando para amar ela e morrendo de ódio do pai dela e da minha mãe. Sou feliz com minha filha...” “... Quando minha filha nasceu foi a minha maior alegria... Meu filho Cláudio morreu quando eu estava de três meses. Perdi por causa de droga. Sofro muito porque não vejo ele presente. Esta

menina é minha filha. Sem ela eu não vivo. Pois a minha maior alegria é ela. Eu amo minha filha Clara. Esta criança é a minha filha, a razão de meu viver...” “...]Fazia ‘aviãozinho’ na favela para comer e alimentar meus irmãos, passei a traficante. Logo depois eu fui presa... Me prostituí durante sete anos, fui espancada, humilhada, eu tinha de sustentar uma mãe e mais três crianças. Depois me tornei usuária de crack, perdi minha personalidade e o caráter. Ao passar do tempo, eu não dava amor para os meus três filhos... Me denunciaram para o Conselho e eles invadiram a minha casa e

levaram o meu bebê e minha filha...” “... Ser mãe é tudo, é dar o máximo de si. A felicidade de ser mãe é tudo. Por mais que estejamos enfrentando o maior problemão, ou seja, o maior gigante de sua vida, tudo muda...” “... Fui para um abrigo, me sentia sozinha... só tinha dever e que trabalhar e não tinha carinho... minha gravidez foi triste, eu estava mamada de cerveja e aí ele falava que a filha não era dele... Quando ganhei minha filha, tive várias dificuldades pois não tinha como pensar em ser mãe. Só que passei a saber cuidar dela, quando comecei a pegar carinho...”

PH Antonello Veneri


Reconhecer-se como uma família é muito difícil para estas jovens. Durante anos e através das leis como o ECA 2 , por exemplo, sempre dissemos que todos têm direito à convivência familiar e comunitária. Muitos dos projetos sociais, ainda hoje, buscam estas supostas famílias, mães, pais, tios, que podem ser considerados famílias somente pelo DNA. Sabemos que o DNA sozinho não favorece estabelecimento de vínculo, afeto e segurança. É preciso existir uma relação e um reconhecimento além dos genes. Em todos os casos apresentados, é possível observar que há uma grande dificuldade em entender, aceitar e administrar a ideia de que sua família “DNA” não existe e nunca existiu. Reconhecer- se como família, aliás como chefes de família, exige um processo imenso de desconstrução e reconstrução dos padrões exigidos pela sociedade. Muito além disso, suportar a dor de que seus pais e mães, por inúmeras limitações, não assumiram os papeis geralmente impostos a eles. Pior ainda, ao invés de protetores, tornaram-se agressores. Este é um processo dolorido. A tendência, muitas vezes, é a de tentar eliminar a sua história. O filho, neste caso, passa a ser o elemento de realidade que ajuda estas jovens a perceberem que são chefes de uma família que se constitui em função da sua história, a qual não pode ser anulada. Ser mãe e ter um filho que depende delas é o que as faz, quase que magicamente, não abandonar a vida e, pelo contrário, batalhar em busca de felicidade, de entendimento do que pode ser uma relação. Partem da clareza da relação que não querem repetir, ou seja, a mesma relação destrutiva que tiveram com sua família anterior. De maneira confusa, porém com 2 Estatuto da Criança e do Adolescente

PH Antonello Veneri

uma força determinante, essas novas mães buscam redesenhar um novo futuro. Sofrem por não conhecerem referências positivas de afetividade e tentam, através dos cuidados maternos - muitas vezes, concretos no primeiro momento: alimentar, dar banho, fazer dormir serem aquela que, mesmo muito jovem, será a família de seus filhos. Ser mãe, neste momento, é fundamental, pois localiza, auxilia, coloca um padrão, uma forma de se comportar e de se relacionar. Não é fácil, apesar de ser muito emocionante e importante, perceber-se família, reconhecer ausências e imaginar que seus sonhos de

restabelecer um equilíbrio perdido, ou nunca existido, não serão mais realizados. De agora em diante, são elas e seus filhos que terão que se colocar no mundo. Na Lua Nova, as jovens passam a cumprir suas funções sociais, fazem compras (muitas vezes comprando guloseimas que nunca tiveram), trabalham, cumprem horários, levam seus filhos para as creches e escolas, estudam, aprendem e ensinam, tudo ao mesmo tempo. Buscam não perder sua adolescência - ser mãe jovem e saber se divertir, namorar e amamentar. Buscam mudar seus hábitos, suas referências, transformar o ódio em amor. (BARROS, 2010)


Os relatos a seguir ilustram essa situação: “... Eu mudei porque tive vontade para poder cuidar muito bem da minha filha. Foi muito difícil mudar e hoje sou uma boa mãe. Eu não estava acostumada com coisas boas como carinho, higiene, e aos poucos, com a ajuda da Lua Nova, fui me acostumando. Quero viver com minha filha na minha casa. Eu não quero que minha filha tenha a vida que eu tive, ela merece uma vida muito melhor. Eu gosto de ser mãe...” “... para mim, hoje, ser mãe é dar carinho e amor, dar refeição na hora certa, isso é importante para a criança. Brincar, corrigir na hora que fazer coisa errada e olhar olho pra olho. Mudei muito com meu filho. Meu filho era uma criança muito revoltada e hoje ele me obedece muito, eu e ele brincamos muito. Ele não faz coisa errada, é uma criança muito carinhosa...” Autores como Alberto Eiguer (1985) apontam três organizadores para a construção familiar. Um deles é a escolha do objeto; outro, as vivências do “eu familiar” e sentimentos de pertença; e, por último, o romance familiar, vivido na primeira infância, representando uma imagem idealizada dos pais. Notamos que nossas famílias adolescentes também estão organizadas, geralmente, em função destas três perspectivas. Percebemos que as jovens passam por um processo longo de adequação ao que se pede para que sejam, ao que são e ao que conseguem ser. Assim, elas buscam formas de consolidar a família. Estas formas, muitas vezes, são temporárias, mas necessárias; frequentemente, são experiências, ou são o modo que realmente encontram de serem felizes. Quando as meninas chegam à Lua Nova, elas descobrem que histórias semelhantes à sua acontecem com outras pessoas e, por isso,

normalmente ocorre a aproximação entre elas. Um exemplo muito comum é o de que, no momento em que se percebem famílias, elas buscam outra parecida com quem compartilhar a dor e a alegria da nova construção. Muitas delas passam a se namorar, se gostar, a estar juntas, a fazer companhia afetiva e sexualmente. Entendem que a figura masculina não é a mais adequada para este novo processo de suas vidas. Buscam em outra mulher, isto é, outra adolescente, a parceria para esta nova fase. Lésbicas? Homossexuais? Parceiras? Para a Lua Nova, são reconhecidas como parceiras. Minuchin define família como “um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza a interação dos membros da mesma, considerando-a, igualmente, como um sistema, que opera através de padrões transacionais...” (MINUCHIN, 1990). É comum as jovens dizerem algo do tipo: “...]enquanto eu trabalho ela fica com meus filhos, eu ajudo ela com os filhos dela quando ela precisa sair. Muitos olham com desdém e preconceito.”

Nós aprendemos a respeitar. Outro dia, conversando com duas delas que vivem juntas há mais de dois anos com seus filhos, elas contavam que se gostam, mas que a sexualidade para elas não é o mais importante. O medo as uniu - medo de morar sozinha, de alguém agredi-las, de não conseguir dar conta de tudo, medo de ladrão. Outra forma funcional de se assumir como família é aquela em que a jovem busca uma irmã,

ou irmão, alguém da família que durante anos não manteve mais contato. Com a ideia de “ajudar”, aquele irmão ou irmã é trazido para a sua casa e passa a refazer ou resgatar os elementos de sua antiga família, que, como ela, ficaram espalhados e esperando por alguma mudança. Uma saída ainda é quando alugam casas nos fundos de senhoras mais velhas, quase avós. É muito comum que, em qualquer modo, estas senhoras passem a ajudá-las, a apoiá-las, e, deste modo, são adultos de referência que procuram, de algum modo, substituir sua mãe e seu pai. Digo sempre que os elementos novos desta família, composta por mãe e filho(s) em um primeiro momento, se agregam por uma questão funcional, por uma necessidade que vai além da afetiva. Aos poucos, a relação vai se tornando afetiva. Cabe aqui ressaltar que toda a afetividade destas famílias é aflorada por esta mágica relação que advém da maternidade. Elas reaprendem ou, em alguns casos, aprendem a amar com seus filhos. Assim percebemos que elas tentam se organizar de acordo com o padrão de família vigente, apesar de apresentarem ritmos, valores, desejos, angústias e coragens diferentes. Ser família adolescente é inverter, reverter a ordem vigente, mas, ao mesmo tempo, isso se dá para que elas consigam, a seu modo e com a sua força, reencontrar uma ordem interna.


(Como nascemos) Entre pedras e flores: Como nasceu e cresceu a Lua Nova Uma aposta no afeto

Lua Nova nasceu da vontade e do sonho de poder “dar à luz” a mães que, até então, eram marginalizadas e filhos que estavam fadados ao mesmo fim. Eu imaginei que seria fantástico dar a possibilidade a estas jovens de serem mães e a estas crianças de serem filhos.

noites sem dormir, com muito medo, pois eu estava mexendo com vidas. Precisei imaginar um método possível e que estivesse ao alcance de todos - e, principalmente, ao meu alcance. As pessoas precisavam confiar e acreditar que aquilo daria certo. E eu não tinha certezas.

Começamos com muita coragem, vontade e determinação, mas percebemos que o nosso sonho somente seria realizado após uma cuidadosa gestação e um acompanhamento constante de todas as fases pelas quais nosso bebê passaria antes de nascer. Um sonho muito bonito, mas muito delicado e complexo. Afinal, nossa proposta metodológica não se propõe normatizar a vida da jovem em risco social, mas sim de possibilitar a ela estabelecer comparações, hierarquizar riscos e, então, ter a liberdade de fazer suas opções. O respeito pelas escolhas e desejos impõe-se como valor fundamental.

Tudo era novo e eu não sabia muito bem onde ia chegar. Sabia, porém, que uma das melhores soluções para o sofrimento é o acolhimento nas suas variadas formas. Apostei no afeto. O primeiro ano foi difícil e parecia que entrava água no barco por todos os lados. Mas, a vontade de que ele não afundasse era tanta que surgiram ideias mirabolantes para superar as dificuldades.

Depois de um ano e meio de projeto, participei do aniversário da filha de uma das residentes – fruto de um estupro que a mãe sofreu aos 11 anos. E vi aquela mãe - que, quando chegou, “odiava” a sua menina - guardar dinheiro, comprar uma bicicleta, fazer salgadinhos, cantar parabéns e chorar, chorar O método foi trazido de uma experiência em que muito. Todos nós choramos. Ali percebi que o colaborei na Casa Aurora, em Villa Renata, na Itália. caminho era aquele. Ainda havia muito por ajustar e Mas, desde o início, percebi que seria muito difícil acrescentar, mas com certeza o caminho era aquele. replicá-lo, pois as condições de vida das mães brasileiras são extremamente diferentes. Apesar Raquel Barros, psicóloga, fundadora e de milhões de dúvidas, continuei a proposta. Passei diretora da Associação Lua Nova


Missão Resgatar e desenvolver a autoestima, a cidadania, o espaço social e a autossustentabilidade de jovens mães vulneráveis, facilitando sua inserção como multiplicadoras de um processo de transformação de comunidades em risco.

Visão Transformar-se em um centro de referência em inserção social e desenvolvimento local pelos métodos terapêuticos utilizados.

Linha do tempo: Um desenho no tempo Apesar dos desafios, dos temores e dos preconceitos que enfrentamos, a história da Lua Nova também é pontuada por pequenas e grandes conquistas, que há mais de 13 anos animam nossa jornada.

2000

2004

* Fundação da Associação Lua Nova e inauguração da Comunidade Lua Nova

* Início do projeto Empreiteira Escola * Início dos Núcleos de Geração de Renda nas Comunidades

* Criação da Creche Comunitária * Apedrejamento

* Lua Nova recebe o prêmio “Mérito pela Valorização à Vida”, concedido pelo SENAD/GSI/Presidência da República

2001

* Reconhecimento da UNESCO – Redução da vulnerabilidade de jovens através da geração de renda e educação não formal

* Criação da República Lua Crescente no centro de Sorocaba, SP

* Publicação do livro “Pela Lente do Amor”

* Criação da Oficina Criando Arte na Comunidade Lua Nova * Lua Nova é Finalista do Prêmio Empreendedor Social Ashoka/McKinsey com o Plano de Negócios da Empreiteira Escola

* Exportação mensal de bonecas do Criando Arte para a Itália

2005 * Início do projeto Panificadora Lua Crescente * Início do projeto Constelação de Agentes Preventivos * Lua Nova vence o prêmio OAB Direitos Humanos

2002 * Inauguração da Casa das Crianças

* Lua Nova vence o prêmio Empreendedor Social Ashoka/McKinsey * Lua Nova participa pela primeira vez da BrazilPromotion

* Início do projeto Buffet Escola

2006

* Lua Nova vence o Prêmio Criança 2002, da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente

* Lançamento da marca institucional Menina da Lua, no 1°ºSorocaba Moda com participação no desfile da atriz Vera Holtz

2003

* Lua Nova expõe na BrazilPromotion * Início do projeto Gerações – Atenção às gestantes de risco da comunidade

* Início da ação de rua, atenção nas comunidades.

* Início do projeto Força Jovem

* Início do projeto de Redução de Danos

* Lua Nova é premiada pela Associação Caminhando Juntos pelo Plano de Negócios da Panificadora Lua Crescente

* Finalista do Prêmio Brasil Foundation com o projeto de Formação de Agentes Multiplicadores

* Lua Nova ganha o concurso de financiamento e se torna parceira da Petrobras no projeto Empreiteira Escola * Vencedora do prêmio Mulher Empreendedora 2006 – SEBRAE/Secretaria Especial Política para Mulheres


2007 * Lua Nova vence o Prêmio Cláudia, na categoria Trabalho Social * Prêmio Mulher Empreendedora – SEBRAE * Considerada uma das 50 melhores iniciativas brasileiras para mudar o mundo em publicação da PUND (ONU) * Lua Nova recebe o prêmio ADVB * Lua Nova ganha o prêmio Orixalé 2007 – Grupo Cultural Afroreggae * Prêmio ADBV- Associação de Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil - Top Social 2007 – Empreiteira Escola

2008 * Finalista do Prêmio Generosidade da Editora Globo * Terceiro Lugar no prêmio Empreendedor Social – Folha de São Paulo e Fundação Schwab * Jovem da Lua Nova palestra no 3° Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, organizado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República * Homenagem da Rainha da Suécia para a ONG Lua Nova * Início da Disseminação da ONG no país pela Secretaria Direitos Humanos

2009 * Palestra no Fórum Social Mundial em Belém * Início da parceria com a grife para gestantes Maria Barriga, de São Paulo, com capacitação das jovens do Criando Arte para confecção de slings * Duas jovens da Lua Nova, Taís e Carol viajam ao Peru para contar sobre suas ações na Lua Nova e suas histórias de vida de sucesso * Início do atendimento de jovens em Liberdade Assistida da Fundação Casa no núcleo da Vila Barão, em Sorocaba

2010 * Prêmio Changemakers, da Ashoka, com o projeto Empreiteira Escola, sendo a única finalista da América do Sul * Início da disseminação da metodologia em 13 estados

2011 * Mudança de sede depois de 11 anos * Criação da Incubadora de Projetos e da Escola de Acolhida * Programa Entre Nós - Tratamento Comunitário

2012 * Início da disseminação do Programa Entre Nós em 13 estados * Prêmio Woman in the World

2013 2014

* Prêmio Excelência Mulher, da CIESP

* Abertura Acolhimento Noturno – População de Rua e Unidade de Acolhimento Provisório – Infanto Juvenil

2015

* Reconhecida como Boa Prática da Disseminar pela Secretaria Nacional Sobre Drogas, passando a ser política pública pelo Plano de Enfrentamento ao * Membro Honorário do WomenChangeMakers Brasil – Crack do governo Lula Womanity Foundation


Direitos e princĂ­pios Direito de dar e receber carinho Direito de brilhar Direitos da acolhida, os princĂ­pios bĂĄsicos da acolhida (olhar, escutar)


Quem somos Batismo A Associação Lua Nova atende a jovens mães e seus filhos em situação de vulnerabilidade social. Criada em 2000, a Lua Nova é uma iniciativa não-governamental sediada na cidade de Sorocaba, SP.

Parto Depois da temporada na Itália, com o apoio da Cooperativa Villa Renata, vivenciando tão de perto essas iniciativas, finalmente, era tempo de voltar ao Brasil e reeditar a experiência na nossa realidade social e cultural. O primeiro desafio era óbvio: aqui as condições eram muito diferentes das encontradas na Itália, e persistir nesse caminho exigiu e tem exigido a busca por novas soluções e estratégias. Entre os desafios que encontramos, podemos destacar a escassez de recursos comunitários de acesso público e gratuito, a fragilidade das estruturas familiares de apoio e maior dificuldade para conseguir recursos que financiassem nossos projetos.

Por que Lua Nova, se a Lua Nova é justamente a “não Lua”? Respondemos que é um engano: a Lua Nova está lá, apenas não se vê. O nome Lua Nova nasce da vontade de mostrar ao mundo as jovens, seus filhos e seus talentos que não são vistos. Ou pior, que as pessoas não querem ver.

Sobre meninas e pedras Logo no ano de sua fundação, a Lua Nova Residência sofreu um ataque. Algumas pessoas da comunidade local, escondidas atrás de árvores, atiraram pedras na residência. A polícia foi avisada, mas nada fez, nem mesmo desceu do carro para averiguar melhor a situação. As pedras foram lançadas durante a noite toda e foi necessário proteger as crianças no banheiro para que não se machucarem. No dia seguinte, a presidente convocou todas as meninas residentes e disse que a Lua Nova não parecia um lugar seguro para elas e seus filhos. Talvez fosse melhor que elas voltassem para as ruas, que pareciam ser mais seguras naquele momento. Juntas, as jovens disseram que queriam continuar na Lua Nova e que ajudariam a construir um espaço de proteção para elas e seus filhos. Ali, a parceria com as jovens mães se tornou real.


Quem SÃO elas? Nosso papel é – e continuará sendo – o de acreditar que as jovens atendidas em nossos espaços de acolhimento são pessoas que desenvolveram o talento de sobreviver a essas situações vulneráveis e, por isso, podem elaborar projetos de vida sólidos. Suportar a vulnerabilidade – especialmente a pobreza – é visto pela Lua Nova como um poder e não como uma fragilidade. O principal desafio ainda é a articulação entre os diversos serviços e equipamentos públicos para que esses projetos de vida sejam efetivados. É importante que as escolas, serviços de saúde, creches e outros compreendam a necessidade real de atenção a essa população e possam suprir sua demanda. Só assim as jovens farão, verdadeiramente, parte do ciclo produtivo do país a partir de seus negócios, grupos de trabalho e cooperativas.


O QUE FAZEMOS? A metodologia da Lua Nova enfatiza a quebra do isolamento e propõe o enfrentamento da realidade e do entorno social. O objetivo é mobilizar as jovens para que enfrentem a vida cotidiana de modo responsável, assumam as dificuldades e convivam com as contradições, sem fugir ou se submeter passivamente. O desafio de viabilizar este objetivo na nossa realidade social e cultural, na qual as condições de vida das jovens e o acesso a serviços são precários, tem exigido a busca criativa por novas soluções e estratégias. As metodologias são de valorização e empoderamento, desenvolvendo intervenções diferenciadas nas questões relacionadas ao uso de drogas, AIDS, exploração sexual, prostituição e gravidez na adolescência. As ações da organização contribuem para uma mudança de cultura, status social e desenvolvimento de potencialidades de jovens e mães em situação de risco social, através de proposta concreta de geração de renda e de inclusão social, fazendo com que estes passem de assistidas a formadoras e multiplicadoras de tecnologias que poderão aumentar sua renda mensal e sua autoestima, auxiliando na inserção laboral e contribuindo ao mesmo tempo para um diálogo, colocando-as na rede dos vários atores: instituições públicas e privadas, ONGs, universidades e cidadãos. Está dividida em três grandes eixos de trabalho: Acolhimento: Residência, Escuta Autonomia: Educação e geração de renda Inclusão: Redes e Tratamento Comunitário Esses eixos atuam de maneira integrada e seus conteúdos são trabalhados

através das seguintes frentes de ação: (I) gestão de casos e banco de dados, (II) formação, informação, elaboração de materiais e instrumentos e (III) disseminação das experiências.

Lua Nova em números Desde sua concepção, a Lua Nova já atendeu mais de 8 mil pessoas em suas atividades de tratamento comunitário, e já abrigou mais de 3.300 mil mães e filhos, além de geração de renda para mais de 456 jovens. Iniciada em Sorocaba, a atuação da Lua Nova hoje se expande para mais de 22 municípios em todo o Brasil, além de ter construído parcerias sólidas com mais de 166 organizações, entre elas entidades públicas, particulares, fundações, e ONGs. Hoje Lua Nova é Política Pública para o governo federal, representando boa prática no enfrentamento ao crack e junto aos Direitos Humanos nas ações de atenção contra o abuso e a exploração sexual, com sua metodologia disseminada no país.

Por que existimos A ausência de uma maternidade digna para jovens mães, muitas ex-moradoras de rua, estimulou o desenvolvimento da Lua Nova a fim de desmontar essa situação e criar modelos para influenciar políticas de inserção integral. É uma alternativa de atendimento que, cumprindo os preceitos legais da ECA, supera a visão de assistência pontual e fragmentada, pois atua com diversas parcerias através de um projeto de residência, gerando renda e criando formas de inserção social. Propomos desenvolver, através da maternidade, processos alternativos e autônomos na vida dessas jovens mães em situação de sofrimento social. Entendemos por sofrimento social o conjunto de dores e sensações provocadas por situações como a falta de estrutura familiar, a vivência nas ruas, a prostituição, o abuso sexual, a exploração, a gravidez precoce e o abandono. Essas meninas não trazem apenas uma, mas muitas dessas questões em seu histórico, experimentadas de maneira brutal e desumana. A droga existe na trajetória dessas mulheres como mais uma das inúmeras formas de sobrevivência e de proteção às inesperadas e desesperadas situações a que elas estão constantemente expostas. A garra e a coragem de vida das meninas, apesar das adversidades, chamou a atenção e motivou a Lua Nova a existir. Nosso principal objetivo é construir uma relação com essas jovens mães para que elas possam redescobrir seus valores morais e éticos e se reapropriar de sua cidadania. Ao longo dos anos, investimos na relação mãe-filho como base de um projeto de vida mais feliz para ambos. Para isso, desenvolvemos e experimentamos diferentes técnicas e práticas de inserção social das jovens, para desenvolver sua autonomia, ampliar suas redes e dar visibilidade aos seus potenciais.


Como fazemos

Caminho em parceria – Como a Lua Nova atua

Essência As jovens residentes e participantes das iniciativas da Lua Nova não são consideradas assistidas do projeto, mas parceiras essenciais para que o trabalho aconteça. O que queremos é auxiliar o processo de construção de ferramentas psíquicas, físicas e sociais que possam contribuir para sustentar suas escolhas. Acreditamos que, para um real processo de transformação, a troca é um mecanismo fundamental, onde cada um tem a dar e a receber, e é professor e aluno ao mesmo tempo. Dessa forma, as jovens são estimuladas a assumir sua responsabilidade no processo, bem como a contribuir com o desenvolvimento do outro e da comunidade em que vivem. Para isso, usamos como norte da nossa prática os seguintes princípios:

Focar a pessoa e não a vulnerabilidade – Questões como pobreza, injustiça social, prostituição ou abuso sexual não ocupam o centro do trabalho na Lua Nova. A pessoa é o foco principal. Dizemos sempre que as jovens que chegam à residência são pessoas que desenvolveram o talento de sobreviver a essas situações vulneráveis e, por isso, é possível que desenvolvam projetos de vida sólidos. Suportar a vulnerabilidade - sobretudo, a pobreza - não é uma fragilidade aos olhos da Lua Nova, mas, sim, um poder. Então, seus saberes e vivências são entendidos como talentos, que podem gerar ações multiplicadoras e preventivas.

Potencializar a maternidade – A maternidade, mesmo na adolescência, é um dom, uma potencialidade, uma capacidade que deve ser cultivada e valorizada. Ao resgatar o vínculo entre a mãe e o filho, buscamos, assim, mostrar a importância de “estar com”, “gostar de”, “contar com”, “respeitar”. Ao mostrar que esse vínculo não é só possível, mas fundamental para o desenvolvimento de ambos, conseguimos, então, empoderar essas jovens nas suas competências.


Trabalhar em conjunto As jovens fazem parte de uma cogestão participativa. São corresponsáveis pelo dia a dia da residência: lavam, passam, cozinham, arrumam a casa, cuidam de seus filhos e brincam com eles. Além disso, fazem parte da equipe que seleciona novas jovens e profissionais para o grupo, e ainda opinam sobre as regras da residência e a gestão financeira. Elas têm voz, e a voz delas é ouvida, sentida e respeitada.

Compartilhar soluções – Cabe às jovens participar da busca de soluções. É muito difícil resolver os problemas do cotidiano, pois cada uma chega com uma história e experiência de vida diferentes. Para trabalhar junto e encontrar soluções, criamos as assembleias semanais, quando problemas são convertidos em propostas de soluções, e a mais votada passa a vigorar. Esse processo dá à jovem poder, possibilidade de decisão e senso de pertencimento ao grupo.

PH Antonello Veneri


de

vid se n so volv a cia im l en

De

Au

rilh do

ão

ão Ge

raç

de

sb

o çã

liza

na

alt Ex

a

m xtre ae

rez

ob ia/P

nc Violê

F

alta

ço spa

e de

ial

soc

ção

a

Id

ific ent

dos

s nça

Cria

o

ent

am

Isol

s

ma

ble

pro

s ee

d

as od

ã

E

aç xalt

ciais

s so

a tigm

c

os

ren Ela da b pro oraç jet ão o d de e v um Ex ida do ecuç pro ão jet das od e e v tap Pre ida as inic pa Re raç iais ins ão erç pa ão ra so a s cia aíd l a

ito

pe

is

Fo

rm

ae s eg paço raç s ão soc ia Int

so Ac

es

ã Pro o ci Tr fis dad iag sio ã em na Ma Po lizaç pe litic ha am ã bil en as o ida to pú Pro des da s Re blic fis sio a s

s

to no Qu mía alid ad e

sociedade integrada

to

A grande inovação é atuar com a jovem mãe através de um ciclo completo, isto é, do acolhimento à autonomia, oferecendo oportunidades concretas de sobrevivência e dando voz a seu potencial e sua capacidade de ser e fazer. A seguir, as três hipóteses de atuação dentro da sociedade:

es

idad

abil

er vun

ma

Lei

de tivas i ão cuç s pun e l x E dida ocia os me ã s lu Exc

co flito

Con

b

sociedade Marginalizada

a

Continuar no âmbito de A – Trabalhar com essa hipótese significa NÃO contribuir para o Desenvolvimento Social, o que gera situações de violência, conflitos e exclusão cada vez maior, impossibilitando a interrupção do ciclo da pobreza. Propor soluções no âmbito de B – Nesta etapa, fortalece o emprego, reproduz diversas formas de sobrevivência, oferece educação e cultura, propicia o uso positivo do tempo livre, de informação e recreação diversa; permite manter um contato direto com os grupos sociais e retroalimenta seu estudo com o objetivo de alimentar as futuras propostas de trabalho. Dar continuidade, fortalecendo relações no âmbito de C - Permite apresentar às classes médias e altas da sociedade uma imagem positiva e “nova”, com os aspectos relevantes do desenvolvimento social, a fim de motivar sua aproximação e sua integração através de ações comuns em benefício da coletividade. A proposta da Lua Nova atua no âmbito B, ou seja, somos laboratório metodológico e incubadora de boas ideias e projetos de desenvolvimento de pessoas através do acolhimento, fortalecimento de emprego, geração de renda e reinserção social. Além disso, temos um papel importante na interlocução da sociedade com o poder público no fomento de políticas públicas favoráveis ao caminho para uma sociedade integrada (âmbito C).


Colocar limites, Construir vínculos Ao ficar na Lua Nova, a jovem é convidada a se tornar parceira do programa. É numa relação de troca e apoio mútuo com as outras residentes e com a equipe que a jovem constrói um novo projeto para sua vida com seu filho. De um lado, mãe e criança têm assegurado, na residência, seu direito à moradia, alimentação, assistência médica, psicológica e educacional. Mas, de outro, a jovem precisa assumir seus deveres: cuidar do filho, de si mesma, colaborar com o trabalho doméstico, trabalhar, participar das atividades terapêuticas e pedagógicas, respeitar as regras de convivência combinadas. O tempo médio de permanência das jovens é de oito a doze meses, quando começam a participar do projeto de inserção social. Durante a moradia na residência, buscamos trabalhar o fortalecimento de identidade, autoestima e autonomia, bem como valorizar as competências e o planejamento de futuro das jovens. A base do trabalho é incentivar que a mãe construa novas relações consigo mesma, com seu filho e as demais pessoas com quem convive. Tudo isto acontece de forma singular para cada uma, num ritmo próprio. Ela vai tecendo diferentes relações, que interagem entre si. São relações interdependentes e , muitas vezes, simultâneas, que podem ser organizadas da seguinte maneira:


ACOLHIMENTO Eu e a casa Eu e a equipe Eu e as outras Eu e eu mesma Eu e meu filho Eu e a comunidade Eu e o trabalho

A disseminação da experiência da Lua Nova nos mostra que as adolescentes demonstram, em sua maioria, desejo e capacidade de permanecer com seus filhos e de romper o círculo vicioso da vulnerabilidade. Por mais que os caminhos percorridos sejam difíceis e mesmo diante das adversidades. Em virtude da busca de aperfeiçoamento na atenção a esta população, e a fim de ampliar os resultados positivos e duradouros de nossas intervenções, trabalhamos uma proposta de acolhimento mais próxima de uma convivência familiar e comunitária. Com isso, deixamos para trás o modelo de abrigamento convencional, onde a jovem fica institucionalizada. A tabela a seguir compara os dois modelos:


Tabela 1: Tabela comparativa entre abrigamento convencional e metodologia Lua Nova Alojamento

Espaço de profissionalização / Escola de vida

Não permite protagonismo às jovens; Projeto idealizado e difícil de implantar.

Participação protagonista no projeto de vida.

Jovens assistidas; Autoestima baixa, dependência.

Jovens que assistam também.

Comportamento infantil.

Pessoas que assumam suas responsabilidades; Vocação e autonomia.

Parceria é difícil com um abrigo; Dinâmicas com base na hierarquia, não existe parceria.

Escola de vida e um processo de ensinamento mútuo.

Disseminação de um método de relações.

Disseminação de uma metodologia de aprendizagem.

Relação desigual equipe/ jovens.

Igualdade equipe/ jovem: Ensinamento: 50 % equipe / 50% jovens Aprendizagem: 50 % equipe / 50% jovens

Inserção social demorada e dependente.

Inserção social mais fácil: participação desde a entrada à profissionalização.

Dificuldade para entender o processo de reinserção social, desabrigamento drástico, falta de transição e de acompanhamento.

As jovens entendem o processo de reinserção social.

Dificuldade garantir um trabalho; Desenvolvimento-trabalho-convencionais, os jovens se adaptam à oferta.

Envolvimento da jovem num trabalho desde no início do processo.

Desabrigamento difícil.

Desenvolvimento / trabalho com as potencialidades e habilidades das jovens Profissionais de cada área com dificuldade de interagir com a equipe e focalizar a pessoa, e não o problema.

Desabrigamento pensado desde a entrada, acompanhamento, acolhimento das jovens já reinseridas e parceiros da rede social. Trabalho com as potencialidades e habilidades das jovens e da equipe.

Profissionais usam suas áreas para favorecer a autonomia das jovens no seu projeto de vida / ajuda “útil” Exemplos: Assistência social -> fala de rede Enfermeira -> faz curso de primeiros socorros/ medicação


A ideia fundamental é um ensinamento mútuo. Trabalhar junto significa criar uma relação de igualdade, ser parceira. Cada jovem e cada profissional de nossa equipe pode tanto aprender quanto ensinar.

EtcÉtera E como as fases da lua, as meninas chegam no início com apenas um filete de brilho, depois ficam meio iluminadas e meio obscuras até se encherem de luz e se

tornarem novas dia e noite, noite e dia. A Lua à luz do dia é assim: filhos brincando, mãe trabalhando. Raquel não imaginava a dimensão que a Lua Nova poderia chegar nestes 15 anos. E pensar que tudo isso começou com uma história que não é dela. Raquel: E eu queria ter filho e não conseguia. Aí, eu resolvi fazer uma parceria com essas meninas e, de alguma forma, trabalhar com elas porque, na verdade, elas tinham filhos e não podiam

criar. O mais legal é que 2 anos DEPOIS eu engravidei, então foi um presentão.


E quem já viu a maioria das fases se apaixona, acredita! Tia Cláudia está na ONG desde o início. Cláudia: Mexia e me apaixonava cada vez mais, muita força de poder ajudar, e o vínculo que elas têm com a gente é muito grande, porque você tem que se envolver no dia a dia delas para você realmente conseguir trabalhar. Raquel: A gente trabalha muito com o lema «dando força para quem tem vontade». Quer dizer, essas meninas têm muito poder e muita vontade de mudar, o que elas precisam é de uma oportunidade e de um momento em que elas entendam que podem mudar e que existe esse talento delas para transformação.

O passado destruiu, o presente está construindo. A caminhada é longa e a vida esta apenas começando. Para o futuro existem os sonhos. Tatiane Cristina: Meu sonho é ser uma padeira, uma coisa que eu já sou. Uma coisa que eu já sou porque todo mundo elogia, fala que eu sou muito boa na cozinha. Fazer uma casa e colocar minha mãe e meus filhos pra morar junto. Karina: Meu sonho é sair daqui bem, não usar mais, arrumar um serviço e poder cuidar dela como eu cuidava antes. Eu vou lutar até o fim, vou lutar com todas as forças pedindo a ajuda de Deus, mas não vou abandonar a minha filha como o pai dela fez.


AUTONOMIA – EDUCAÇÃO E GERAÇÃO DE RENDA Acredita-se que a prática criativa constitui um instrumento poderoso de aprendizado e transformação humana, de forma que a valoração referida não diz respeito somente a materiais, mas também a pessoas e ao ambiente que as abriga. Para isso, organizar e efetivar espaços de aprendizagem e produção guiam a conquista de autonomia, que, ao mesmo tempo, funciona como espaço de aprendizado não formal e de elaboração de projetos de vida, uma necessidade básica para estas jovens, como para outras na mesma situação social. Percebemos que o entendimento de geração de renda e as ações voltadas para população vulnerável, especificamente mulheres, são ainda incipientes e carecem de maior atenção. Principalmente, porque acreditamos que gerar renda, e assim possibilitar a estas jovens a inserção em espaços para tal, é um dos fatores protetores de maior eficácia, sobretudo aqueles em situação de exploração sexual e uso abusivo de drogas.


Metodologia aplicada na Incubadora, de acordo com o nível do grupo em formação

Lua Nova e a Incubação Social: caminhos paralelos que se cruzam A vida me ensinou a caminhar Saber cair depois se levantar O tempo não espera Não há espaço pra chorar Andei no escuro agora vou brilhar (Marginal Menestrel – MV Bill)

Durante o processo de disseminação de nossas “Boas Práticas”, além do acolhimento, o foco vem sendo as ações desenvolvidas, desenvolvida no intuito de contribuir para o trabalho e para a vida. As atividades desenvolvidas na Geração de Renda baseiam-se num processo de formação na ação, de aprender fazendo e fazer aprendendo. Trabalhamos na forma de negócios inclusivos, a partir de oficinas produtivas de geração de renda e do método “Desafio” de aprendizagem, que parte das vivências pessoais das jovens e do grupo, criando métodos e produtos no coletivo. O foco do processo está no ato de aprender e concretizar uma ação empreendedora por meio da construção de um conhecimento realizado pelo jovem vulnerável, que passa a ser visto como um autor de seu fazer e estar no mundo. Dessa forma, são cada vez mais intensos os processos de Incubação Social promovidos na Lua Nova. E o fio condutor que tece as relações entre as ações desenvolvidas pela Lua Nova e pela

Incubação Social - tem como ponto de partida ser um processo educativo pautado no reconhecimento de que os beneficiários têm um saber e um potencial que precisam ser legitimados. Esse reconhecimento gera pessoas multiplicadoras, não apenas sob o olhar do outro, mas a partir do olhar do beneficiário. Dentro desta perspectiva de incubação, desenvolvemos o seguinte programa na Incubadora:


Nível Básico

Metodologia Street Kids

GMM

Intermediário

Avançado

Desafio

Escalada Empreendedora

Descrição É um processo de aprendizado de negócios criado especificamente para jovens em risco e sem privilégio, com idade acima de 15 anos. Este curso aumenta sua compreensão de economia, e habilita-os a criar ou melhorar suas próprias atividades de geração de renda Geração Muda Mundo (GMM) é um projeto de incentivo e apoio ao potencial do jovem como agente de transformação, desenvolvido pela Ashoka Empreendedores Sociais em parceria com organizações reconhecidas que trabalham com juventude Promove a criação de negócios inclusivos para a geração de renda, fomentando iniciativas que sejam econômica e ambientalmente sustentáveis, social e culturalmente inclusivas. O Desafio está formado por 10 etapas (veja figura na página 43). Cada tarefa tem um prazo de uma semana para a sua realização. Todos os grupos, ao finalizarem as 10 etapas no tempo correspondente, terão conseguido criar um empreendimento com produtos ou serviços de qualidade. Cada ano, acontecerão até 3 ciclos do desafio para que todos os beneficiários possam participar de um deles.

Tem por objetivo colocar todos os integrantes dos grupos de geração de renda em contato com conceitos e informações sobre associativismo, empreendedorismo, gestão e organização. Existe a possibilidade de acesso a microcrédito, compras em grupo e acesso ao canal de vendas.



Modalidades de grupos produtivos

E ESSE OUTRO TRECHO? Se cair os dentes, siga-me Se perder o emprego, siga-me Tá passando fome, siga-me Se perder o medo, siga-me Tá com olho gordo, siga-me Tem amor à vida, siga-me (Uma Declaração de Guerra – MV Bill)

Os pilares da Incubação Social vão ao encontro dos conceitos de Freire (1996) relacionados à construção dialógica, respeito ao saber popular e desenvolvimento de novos conhecimentos a partir da prática. Os melhores resultados em Incubação Social, são advindos daqueles em que o processo de incubação desenvolveu-se nas próprias comunidades, já que lá as ações se tornam mais efetivas e suas possibilidades podem ser mais bem aproveitadas por seu entorno. E este processo vem sendo fomentado na Lua Nova. Porém, alguns desafios ainda despontam neste setor, como a dificuldade em mobilizar as pessoas a iniciar o processo de incubação e, sobretudo, dar continuidade aos processos. A questão da educação e a ressignificação da

mesma também se faz urgente, uma vez que incubar iniciativas de empreendimentos sociais é reconhecer o saber não-acadêmico como tão importante quanto, e, sobretudo, criar instrumentos que permitam a comunhão destes saberes - muitos dos participantes não possuem o domínio da leitura e escrita em suas formas convencionais. Portanto, a criação de metodologias como o “Desafio” e o “Programa Lua Nova de Qualificação Profissional” são bons exemplos, embora ainda necessitem de maior monitoramento de seus resultados. Outro desafio é amarrar estas iniciativas numa rede que a fortaleça, pois a incubação também depende de financiadores, fluxogramas de atendimentos e outros atores sociais e suas organizações. Além disso, o poder público também é chamado a entender seu papel nos processos de Incubação Social, haja vista o amplo alcance de suas ações e a estabilidade de seu acesso a financiadores.


AS 10 etapas do ciclo de desafio Por exemplo, montar um grupo na comunidade de gerações de renda: 1. Reconhecer brilhos e potenciais é importância de conceber o potencial em prol da mudança e, assim, fazer com que elas entendam que esse brilho pode colaborar com sua saúde financeira, gerando renda. 2. Conceito/glossário: negócio inclusivo, geração de renda, incubadora, etc e vai colocando mais coisas) 3. Poder acreditar que ela pode gerar recursos e melhorar qualidade de vida. Cuidados que tem que tomar (não deixar o filho em segundo plano, não pode perder a identidade, necessidades e desejos, ninguém admite que elas possam ganhar pra ter desejos e tem que trabalhar isso


CONDOMINIO SOCIAL O Projeto Empreiteira Escola se baseia na autoconstrução de casas e a geração de renda através da venda de tijolos ecológicos (solo-cimento). Em 2005, o plano de negócios do projeto foi vencedor do prêmio “Empreendedor Social – Ashoka & McKinsey”, atraindo maior visibilidade e possibilidade de captação de recursos para a construção das residências. Em 2008, foi inaugurado o Condomínio Social, batizado com o nome de Manayá pelas jovens, um espaço comunitário com doze casas construídas por jovens mães.


PH Antonello Veneri


Desde a inauguração, foram acolhidas 24 famílias (mãe e filhos). Todas as jovens passaram por formação nos espaços profissionalizantes da Lua Nova. Dessas, 12 jovens também foram formadas nas técnicas de construção de tijolos ecológicos e protagonizaram a construção das 16 casas do Condomínio Social Manayá e Condomínio Novo. Grande parte das jovens desenvolveram vínculos saudáveis com a comunidade e habilidades de autocuidado e autoestima, que possibilitaram a melhoria de qualidade de vida com relação ao uso de drogas e situações de violência. Investir na geração de renda, além da profissionalização e formação pessoal da jovem, nos viabilizou a empregabilidade e inserção no mercado de trabalho, criando oportunidades e soluções para produzir ganhos e executar o projeto de vida. Hoje, algumas jovens atuam em cenários i n st i t u c i o n a i s e c o m u n i tá r i o s c o m o formadoras – na elaboração e operacionalização de eventos e oficinas, dentro e fora da Lua Nova, tanto como equipe de apoio (organização física) como de facilitação (palestrantes, ministrantes de aulas, entre outros).

falar na minha vida, entendeu? Acho que isso já é um desafio. Uma mulher carregar uma lata de concreto, sei lá, é muito pesado, um desafio também. Uma mulher construindo casa, piorou! Desafio também! Eu acho que tudo o que a gente faz aqui no dia a dia é um desafio. Rita: Quando eu cheguei, tinha as duas primeiras casas e os tijolos que eles faziam. Eu ajudei a colocar telhado, assentar tijolo, fazer tijolo. Angélica: Aqui na construção civil, a gente vem aqui, vai sentir um monte de dor, essas coisas. Mas é o começo, depois para. A gente acostuma os poucos. Rute: Ajudar as meninas a construir a casa e, um dia, ter a minha, criar minha filha e ter um trabalho. Porque a gente sem serviço não é nada. Márcia: Ter uma casa, sair do aluguel porque eu não aguento mais pagar aluguel, é um dinheiro que para mim não tem volta. E, sei lá, eu espero que, em 2008, eu entre com o pé direito numa casa minha. Angélica: O futuro para mim é trabalhar bem, me capacitar bem para dar um futuro melhor pro meu filho.

Angélica: Meu interesse aqui, na empreiteira escola, é me formar mais, me capacitar mais, poder fazer uma casa para mim, mais um cômodo para o meu filho. Clara: Eu vim trabalhar porque eu mudei de Sorocaba para cá e fiquei desempregada. Daí eu via as meninas aqui e me interessei e vim ver, e procurei tentar entrar. Márcia: Uma mulher pedreira eu nunca ouvi

PH Antonello Veneri

Márcia: Eu acho que ninguém para mim é incapaz. Enquanto a gente tem perna e braço, a gente tem tudo, entendeu? E por mais que a gente ache que não, sempre tem uma pessoa disposta a te ajudar. Construa você, infeliz, porque se você não tem, passe a ter. Se você sonha, se você quer, vai atrás, entendeu? Não fique de braços cruzados porque, infelizmente, não cai do céu. Angélica: Tem que ser batalhadora, não pode abaixar a cabeça, porque o preconceito vai ter muito, e ela tem que ser mais firme e mais forte. Rita: Eu sinto orgulho de ver isso, porque eu nunca mexi com nada disso e agora eu estou aprendendo essa profissão. Angélica: Eu sinto uma alegria imensa, o orgulho de ver que uma mulher conseguiu construir uma casa. Márcia: Isso levanta a autoestima de qualquer um, ver que, dependendo da pessoa que te ensina, se tem vontade mesmo de te ensinar, você aprende. Porque não tem, bicho de sete cabeças. Eu acho que o esforço de cada uma ajudou todos a chegar onde estão, e eu também.


WENDREWS CREAS-AM Conquistar a amizade, o carinho e a confiança das pessoas para me sentir incluída. Isso requer tratar as pessoas com respeito. DALIANE BARBOSA DA CRUZ Casa Mamãe Margarida Em se tratando de inclusão, no sentido de me sentir acolhida em qualquer ambiente que seja, a receita que tenho é sempre o tratamento com respeito e dignidade ao outro, para que eu possa receber o mesmo deste. A relação se solidifica quando buscamos nos desprender dos nossos preconceitos para com os outros e até mesmo conosco. Se desvincular de preconceitos é pontochave para incluir. Quando penso em inclusão, penso em pluralidade, o que convencionalmente chamamos de «diferente de nós». Logo, eu sempre busco incluir o outro para, também, me sentir incluída em qualquer situação. Estar aberta a novas ideias, experiências, novos conhecimentos também é uma receita de inclusão. LIDIANE FERREIRA CANDIDO Casa Mamãe Margarida Jamais ver o outro como diferente ou incapacitado. A inclusão está dentro de nós e se externaliza em todas as ações, das menores às grandiosas. Portanto, minha receita é observar quem sou por dentro, o que penso e me dispor a sair desse ovo, quebrar preconceitos e viver junto aos outros, experimentar, trocar conhecimentos e fazer o melhor que puder por si e por todos. CLARISSA GRASIELLA DA SILVA CÂMARA Candidata à Coordenadora do Projeto no Distrito Federal

INVESTIR EM UMA MELHOR EDUCAÇÃO, FORTALECER JUNTO À COMUNIDADE A NECESSIDADE DO FORTALECIMENTO DOS VÍNCULOS FAMILIARES E SOCIAIS. DAR OPORTUNIDADE PARA OS JOVENS, NÃO SÓ COM EMPREGOS E/OU CURSOS PROFISSIONALIZANTES OU SUPERIORES, MAS PROMOVER A CONSCIÊNCIA DE SUA IMPORTÂNCIA COMO PARTE INTEGRANTE DA SOCIEDADE, E QUE, POR ISSO, PODE E DEVE TER VOZ.


ÁRIEN DENISE KINM CHAVES LEVINO DE OLIVEIRA PROJETO ACOLHER/CREAS-SEMAS Ouvir e respeitar a história e o tempo de transformação de cada indivíduo, oferecendo, ao longo do processo de atendimento, estímulos que auxiliem na motivação pessoal. LÉA MARA DO NASCIMENTO Reciclázaro Casa de Simeão Apresentar às comunidades que todos somos protagonistas dentro da sociedade existente.

Bom, em minha opinião, receita já vem pronta, descrita como se faz, e com as medidas corretas. Inclusão não tem receita, tem ação, vontade de fazer, executar, ir atrás e principalmente saber o que significa ser solidário ao outro, sem pensar no que vai receber de volta. Ajudar alguém, e ver que seu esforço valeu a pena, é a melhor recompensa que você pode ganhar. TÉRCIA FABRÍCIA RODRIGUES WENDLAND Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas - CAPS AD Trabalhos com artesanatos, voltados para recicláveis desde papel, pet, retalhos etc. MARCUS AURÉLIO FREITAS MARTINS Sítio Betesda (MISCOM

LUCIANO FRANÇA RAMOS Associação Brasileira Terra dos Homens Acho que a receita para incluir é envolver a população nos projetos, mostrando que eles são cidadãos de direito. É importante também incluir os jovens na mobilização, em oficinas e cursos para que eles tenham perspectivas de vida. THAMIRIS DA SILVA BRUNO ROCHA Associação Brasileira Terra dos Homens Ser sempre verdadeiro. VANDO DOS SANTOS PAULINO Associação Reciclázaro

PH Antonello Veneri


Receitas de Inclusão Durante o processo de disseminação, coletamos quais seriam as receitas de inclusão que as pessoas gostariam de dividir umas com as outras. O resultado: um fotolivro de receitas. RECEITAS DE INCLUSÃO Esforço e coragem. Comunicação e enfrentamento. Acolhimento, respeitando o outro na sua individualidade, na sua essência e na sua potencialidade. Pensar em cidadania, em defesa dos Direitos Humanos, em respeito às diferenças e em qualidade de vida. Pensar em quanto podemos ser mais úteis e justos. Aprender, ensinar e estar sempre aberto às trocas de experiências. Para caminhar em direção a uma melhor qualidade de vida, devemos nos apoiar no que temos de bom, de forma a nos impulsionar para relações construtivas e proveitosas. Conquistar a amizade, o carinho e a confiança das pessoas para me sentir incluída. Isso requer tratar as pessoas com respeito. A relação se solidifica quando buscamos nos desprender dos nossos preconceitos para com os outros e até mesmo conosco. Se desvincular de preconceitos é ponto-chave para incluir. Quando penso em inclusão, penso em pluralidade, o que convencionalmente chamamos de «diferente de nós». Logo, eu sempre busco incluir o outro para, também, me sentir incluída em qualquer situação. Estar aberta a novas ideias, experiências, novos conhecimentos também é uma receita de inclusão. A inclusão está dentro de nós e se

externaliza em todas as ações, das menores às grandiosas. Portanto, minha receita é observar quem sou por dentro, o que penso e me dispor a sair desse ovo, quebrar preconceitos e viver junto aos outros, experimentar, trocar conhecimentos e fazer o melhor que puder por si e por todos. Investir em uma melhor educação, fortalecer junto à comunidade a necessidade dos vínculos familiares e sociais. Dar oportunidade para os

jovens. Não só com empregos e/ou cursos profissionalizantes ou superiores, mas promover a consciência da sua importância como parte integrante da sociedade, e que, por isso, pode e deve ter voz. Ouvir e respeitar a história e o tempo de transformação de cada indivíduo, oferecendo, ao longo do processo de atendimento, estímulos que auxiliem na motivação pessoal. Acho que a receita para incluir é envolver a população nos projetos, mostrando que eles são cidadãos de direito. É importante, também ,incluir os jovens na mobilização, em oficinas e cursos para que eles tenham perspectivas de vida. Ser sempre verdadeiro. Receita já vem pronta, descrita como se faz, e com as medidas corretas. Inclusão não tem receita, tem ação, vontade de fazer, executar, ir atrás e, principalmente, saber o que significa ser solidário ao outro, sem pensar no que vai receber de volta.


TRATAMENTO COMUNITÁRIO

Ao longo dos anos, percebemos que o processo de inclusão social se dá a partir da integração de ações de educação, trabalho, assistência básica e terapia no dia a dia. Assim, da mesma forma que a residência tenta atuar nestas frentes e proporcionar uma vivência da jovem na sua complexidade, buscamos promover esta acolhida cotidiana nas comunidades de onde vêm estas jovens. Iniciamos o Tratamento Comunitário para criar um espaço de acolhida dentro da comunidade e reproduzir o mesmo processo de quando ela está dentro da residência. Desse modo, a comunidade deve ser um grande espaço de acolhida com seus atores e com a participação das pessoas vulneráveis, que apoiam na transformação daquele espaço. Nossa ótica revela que tudo o que transforma está no cotidiano. Então, precisamos facilitar para que nosso espaço do dia a dia seja transformador.

PH Antonello Veneri

As características para a escolha de uma comunidade que exerça o trabalho da Lua Nova são: (1) locais onde se encontram jovens mulheres em situação de vulnerabilidade, uso e tráfico de drogas, pobreza; (2) locais onde há identificação e estimulação de potencialidades e habilidades; (3) comunidades de onde vêm as jovens residentes da Lua Nova. Atualmente, a Lua Nova está nas comunidades: Jardim Nova Esperança, Habiteto, Ipiranga, Vitória Régia, Santo André, Vila Helena, Sabiá, João Romão, Brigadeiro Tobias, Cajuru e Aparecidinha. Uma vez identificada a comunidade a ser trabalhada, a metodologia usada para construção de uma proposta de atenção adota os seguintes passos:


1. Criar vínculo com as pessoas da comunidade e líderes de opinião formal e não-formal, trabalhar dentro do conceito de rede

2. Resgatar e conhecer a história da comunidade na qual trabalhamos, coletar dados da mesma, potencialidade e vulnerabilidade do local

3. Construir um projeto de ação comunitária com a comunidade e com as jovens, criando assim o empoderamento das mesmas

Em muitas comunidades, o projeto evolui para a criação de Centros de Escuta, um local cuja proposta é oferecer um serviço de baixa exigência - espaços abertos que permitem fácil entrada e saída dos beneficiários -, de acesso para a escuta imediata, a orientação e o acompanhamento. O objetivo é dar uma resposta imediata para as demandas e necessidades da população local, especialmente os membros do público-alvo, usando os recursos presentes nas comunidades, sem se tornar um centro de assistência social. O Centro de Escuta é a fase final de um processo de prevenção primária, ou seja, um dos pontos de chegada de um processo de prevenção em uma comunidade. Os núcleos têm uma gestão compartilhada entre a Lua Nova e a comunidade. As jovens formadas em Redução de Danos ajudam a administrar e descobrir novos talentos no bairro, além de atuarem como cuidadoras, apoiando outros jovens nos temas das drogas, sexualidade, violência e maternidade.

PH Antonello Veneri


DISSEMINACAO AVALIAÇÃO Disseminação – projeto ações integradas O Projeto Ações Integradas começou em setembro de 2010. O convite partiu da SENAD, propondo que a Lua Nova qualificasse o atendimento dos programas de atenção a jovens mães usuárias de drogas e outras vulnerabilidades. Esses programas foram desenvolvidos por organizações da sociedade civil e do poder público a partir das nossas aprendizagens. O Projeto de Implantação da Lua Nova acontece em um grupo 10 municípios de Estados diferentes.

DE IMPACTO

A Lua Nova acredita que seu desenvolvimento se dá pelas suas parcerias, e que o compartilhamento das melhores práticas trouxe e está trazendo melhores resultados e maiores impactos na atuação de todos os parceiros envolvidos. Além disso, o problema da inclusão social de grupos de risco e marginalizados está longe de ser resolvido em Sorocaba, no Brasil e no mundo. Quanto mais organizações atuarem neste sentido, mais próximos estaremos de encontrar políticas públicas viáveis para resgatar a autoestima destas pessoas que a sociedade tão comumente exclui.

Após de dez anos de existência, a Lua Nova passa atualmente por um processo de reestruturação da forma como são avaliados os projetos da organização, criando um sistema de monitoria que possa medir o real impacto das nossas intervenções, além de permitir um ciclo de aprendizado e melhoria contínuos. Além disso, acreditamos que em um futuro próximo as doações e os demais recursos financeiros destinados a fins sociais estarão mais e mais voltados a investimentos de impacto em ONGs, e para manter seu diferencial a Lua Nova necessita de uma ampla caixa de ferramentas que demonstre seu impacto e sucesso na busca de sua missão. Para identificar a transformação e o impacto da ação da Organização, há que se levar em conta a situação inicial da jovem, de acordo com os parâmetros do que se definir por situação de vulnerabilidade. Dessa forma, para as mesmas áreas de observação (educação, saúde, trabalho, família, moradia e vida social), podem se estabelecer como situação de vulnerabilidade:


Área de observação

Situação de vulnerabilidade Ser analfabeto funcional, independente do grau de instituição

Educação Saúde

Não ter o Ensino Fundamental ou não o ter completo Não conhecer qualquer ofício ou não ter descoberto seu potencial para o trabalho Padecer de moléstia grave, curável ou controlável com medicação, mas não fazer tratamento Não ter vínculo ou não utilizar a rede de atores ligados à saúde Fazer uso/abuso de drogas legais ou ilegais Desenvolver atividades que coloquem sua incolumidade física em risco (como prostituir-se por exemplo)

Trabalho

Estar sem trabalho, não estar inserido em nenhum programa assistencial, não possuir qualquer fonte de renda ou possuir fonte precária Desenvolver atividades ilegais como meio de subsistência Desconhecer a família de origem, ter perdido o vínculo com os familiares

Família

Ter sido desligado da família de origem em razão de violência, maus tratos, abuso sexual ou trabalho infantil Ter companheiro violento (concepção ampla), que incentive o uso de substâncias, que represente risco para os filhos Praticar maus tratos (concepção ampla) contra os filhos, ter perdido a guarda ou o poder familiar, ser negligente quanto à saúde e educação


Área de observação

Situação de vulnerabilidade Estar em situação de rua, habitar moradia precária, sem saneamento básico ou viver em espaços coletivos super-habitados

Moradia

Viver em moradia situada em zona de risco, área de desapropriação, em comunidade que favoreça o uso de drogas ou atividades Ilegais Viver em situação de exclusão, sem grupo de referência; não referir amigos, familiares ou vínculos afetivos positivos

Vida social

Não estar inserido em nenhum programa assistencial, de proteção à saúde, educativo, de operação de renda Não participar de grupos ou agremiações da comunidade onde está inserida (vínculos positivos)

Todas as jovens ingressam na Lua Nova em razão de um risco principal. Outros poderão ser identificados durante o período de permanência no programa. O objetivo final da Lua Nova é sempre que a jovem deixe o programa através da integração social, ou seja, que deixe a Organização podendo garantir seu sustento e de seu filho, através do exercício de um trabalho digno e lícito; que conte com uma moradia em plenas condições de habitabilidade e um mínimo de conforto; que ofereça ao seu filho uma relação saudável, visando ao seu pleno desenvolvimento; e que mantenha vínculos com atores sociais que funcionem como uma rede de proteção.


"Eu nunca tive uma família presente, passei por vários abrigos durante minha infância e adolescência. Quando minha filha nasceu, foi muito difícil. Eu não estava preparada para ser mãe e nem desejava isso naquele momento. Tinha 17 anos e muitas responsabilidades. Na Lua Nova, fui percebendo que ser mãe é muito especial, ver o sorriso na minha filha é tudo para mim. Eu hoje sou para ela o que nunca tive quando criança. Para o trabalho e a escola, eu não dava importância, mas depois de um tempo vi que é preciso ter uma profissão. Aqui também aprendi que nada na vida é fácil, mas temos potencial para conseguir alcançar nossos objetivos, basta segui-los com persistência, perceber nosso potencial e estar preparada para as oportunidades.” Alessandra

O impacto da intervenção na transformação da dificuldade principal pode ser direto ou indireto. A intervenção na área do trabalho, por exemplo, pode causar impacto positivo também na área da saúde. A intervenção no vínculo mãe-e-filho pode causar impacto positivo na relação da jovem com o grupo familiar de origem, já que uma mínima mudança pode desencadear todo um processo de transformação. Todavia, há que se verificar se a dificuldade principal - apontada como fator de desencadeamento para as demais dificuldades, ou como única situação de dificuldade - sofreu transformação ou não. Todo o processo é avaliado pela equipe em reuniões semanais, além de reuniões periódicas com as jovens, individualmente e em grupo, para verificação das metas traçadas no plano de intervenção. De maneira geral, serão considerados como casos de sucesso aqueles que apresentarem transformação em relação à dificuldade principal e, no mínimo, às áreas da família (em relação ao filho), do trabalho, da moradia e da vida social.


Desafios da gestão: A equipe Com perfis, trajetórias e formações variadas, os funcionários e colaboradores da Lua Nova compõem uma equipe diversa e, por isso, complementar, com quem a jovem estabelece relações diferenciadas e significativas. Área Administrativa Núcleos Comunitários CAPS AD Central de Vendas Residência Lua Nova Incubadora de Habilidades Voluntários

Antes de seu currículo, os profissionais devem apresentar suas propostas e ideias para o desenvolvimento da entidade. Ser transparente, honesto e acreditar que as jovens e seus filhos têm talentos são os principais critérios de seleção. A equipe é enxuta e está sempre em formação – seja em cursos externos ou na própria Lua Nova, em que se capacitam, fazem supervisão de casos, trocam informações e propostas com os demais. Quando a Lua Nova deseja contratar, também dá oportunidade a jovens que já foram residentes.


Desafios da gestão: Administração, captação de recursos e parceiros

Como nos mantemos Sustentamos nosso trabalho por meio de convênios com órgãos públicos, parcerias, financiamento de empresas privadas, trabalho voluntário e doações. Mas, nossa principal receita de sustentabilidade é um trabalho sério, transparente e participativo. Sem a parceria com as jovens seria quase impossível ter sobrevivido até hoje.

Importância da administração Arriscamos dizer que administrar uma organização social é muito mais difícil do que uma empresa. Comumente, precisamos trabalhar com recursos que ainda não chegaram, sempre lidando com imprevistos. Administramos recursos que não são nossos. A transparência e a clareza na prestação de contas são vitais para manter os apoiadores no longo prazo. Ter uma boa estrutura administrativa e contábil é, portanto, fundamental para a sobrevida de uma organização social.


Quanto custa Em 2014, o atendimento a uma mãe e um filho - incluindo alimentação, despesas com medicação, residência e transporte custa em média 1.200 reais por mês. Cabe lembrar que também utilizamos os recursos da comunidade, como postos de saúde e escola. O tempo de permanência é de, aproximadamente, um ano. Contudo, a jovem começa a gerar sua própria renda após um período de estadia.

Estrutura organizacional Administrativo Financeiro Recursos Humanos

Street Kids Consulado da Mulher Aliança Condomínio Porto Feliz

Coordenador (a) Técnico Executivo República, voluntários, crianças escola

Autonomia

Acolhimento

Tratamento Comunitário

Entre Nós Consultório de rua GMM

Gestão de casos Banco de dados Desafio Incubadora Abrigo Tratamento

Formação, Escola, Informação, Elaboração de Materiais e Instrumentos Disseminação

Relações Internacionais


A Lua Nova incentiva a contratação de profissionais que, normalmente, fazem parte de grupos de minoria, os educadores pares - por exemplo, mulheres, ex-usuários de drogas, moradores de rua -, com extensa experiência em campo, muitas vezes p a r e s d o s p r ó p r i o s beneficiários/atendidos. Acreditamos que essas pessoas têm grande capacidade de se relacionar e se comunicar de forma mais eficiente e

direta, além de, muitas vezes, terem sentido na própria pele a discriminação sofrida pela população-alvo. A organização procura, em toda a extensão de suas atividades, oferecer oportunidades àqueles que, comumente, têm suas oportunidades negadas e vivem à margem da sociedade. Portanto, evitamos quaisquer critérios de seleção que possam transmitir a mensagem de que um beneficiário não é adequado/bom o suficiente para ser atendido pela Lua Nova.


lua nova Mulher Fazedora de Mudança, uma alusão ao merecido prêmio Woman ChangeMakers: A vida me ensinou a caminhar, saber cair, depois se levantar, o tempo não espera, não há espaço pra chorar, andei no escuro agora vou brilhar (Marginal Menestrel – MV Bill)

É impossível separar o autor de sua obra, e esta máxima fica evidente na Associação Lua Nova, ONG que atua há mais de 10 anos com acolhimento de jovens mães e seus filhos. Através de metodologias de valorização e empoderamento, desenvolve centros de geração de renda para mulheres, através de intervenções diferenciadas nas questões relacionadas ao uso de drogas, AIDS, exploração sexual, prostituição e gravidez na adolescência. Raquel Barros, presidente-fundadora da Associação, impossibilitada de ter filhos, via na gravidez dessas jovens mães a grande matéria transformadora e, portanto, estabelecia parcerias com elas num processo de troca, onde cada um tem algo a dar e a receber, a aprender e a ensinar. Num aspecto você é professor, no outro é aluno. Num determinado momento você oferece e em outro você recebe, equilibrando as relações.

ENCONTRAR O BRILHO DAQUELES QUE PARECEM NãO BRILHAR Este equilíbrio é resultado de um exercício diário que a Lua Nova se compromete a realizar: encontrar o brilho daqueles que parecem não brilhar. Em outras palavras, possibilitar a estas jovens a mudança de status de desprovidas e vítimas para guerreiras de um mundo desigual, autoras de seu fazer e estar no mundo. As filhas de Raquel nasceram, cresceram e continuam lindas, assim como novos e ousados projetos foram acontecendo. Novos encontros. E a Lua Nova foi se consolidando como um laboratório de ideias, no qual testamos metodologias, ferramentas, criamos instrumentos, enfim, desenvolvemos nossas ações assumindo a dinâmica da realidade social. Se a realidade muda, nossa interlocução com ela deve mudar também!


Assumir esta perspectiva é bastante audacioso, mas a audácia é uma das características de Raquel, empreendedora social reconhecida pelos resultados alcançados junto às jovens mães. Hoje, a Lua Nova empreende novos sonhos a cada dia, propiciando espaços democráticos de desenvolvimento social. Porém, muitos destes sonhos não se transformariam em realidade, se não fosse a existência de uma rede, tecida ao longo dos anos, integrando beneficiários, comunidade e colaboradores. Rede esta que se amplia, estica e alcança outros estados e até países. Neste processo de ampliação e cultivo desta rede, as parcerias e brilhos se agregam, trocamos “boas práticas” e, assim, potencializamos os efeitos de nossas ações para um bem comum. E o fio condutor que tece as relações entre as ações desenvolvidas pela Lua Nova e sua rede têm, como ponto de partida, um processo educativo pautado no reconhecimento das jovens como potenciais multiplicadoras, não apenas sob o olhar do outro, mas a partir de seu próprio olhar. Espaços de educação não formal para experimentação de habilidades, centros de escuta e diferentes comunidades constituem o palco que acolhe nossas ações e nos convida a aprender, ensinar, co-construir e ressignificar .


Referências Bibliográficas BARROS, Raquel. Desafio guia do facilitador: um jeito divertido de gerar renda. Brasília: SENAD, 2012. _____________. Família adolescente: em constante busca de um lugar. In: BEDOIAN, G.; FENDER, J. (Org.). Mundo da Família - Conceitos e Manejos do Atendimento. São Paulo: Projeto Quixote Área Ensino e Pesquisa, 2010. p. 31-38. _____________. Força da Maternidade. In: UNESCO. Criança Esperança - 25 anos criando oportunidades. Brasília: UNESCO; Rio de Janeiro: TV Globo, 2010. p. 144-147. BARROS, Raquel; JABUR, Mariana. 2011. Lua Nova: Sistema baseado em relações. Manuscrito não publicado. BARROS, Raquel; LISBOA, Valéria Cristina Antunes. Vulnerabilidade, modelos de intervenção e busca de potencialidades. In: GARCIA, Marcos Roberto Vieira; FRANCO, Yoko Oshima (Org.). Usuários de drogas: da invisibilidade ao acolhimento. Sorocaba: Eduniso, 2013. p. 127-141. BILL, Mv. Uma Declaração de Guerra. Belo Horizonte, MG: Letras.mus.br, 2002. Disponível em: <http://letras.mus.br/mv-bill/97243>. Acesso em: 25 ago. 2012. BOWLBY, J. Uma base segura: Aplicações clínicas da teoria do apego. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. EIGUER, Alberto. Um divã para a família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia - Saberes necessários à prática educativa / Paulo Freire. São Paulo: Paz e Terra, 1996. MILANESE, Efrem. Tratamento Comunitário - Manual de Trabalho I Conceitos e Práticas. 2. ed. São Paulo: Instituto Empodera, 2012. MINUCHIN, Patricia; COLAPINTO; Jorge. MINUCHIN, Salvador. Trabalhando com famílias pobres. Porto Alegre: Artmed, 1999. MINUCHIN, Salvador. Famíias: Funcionamento e Tratamento. Porto Alegre: Artmed, 1990. MORIN, Edgar.Cap.III Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 2ed. Brasília: UNESCO; São Paulo: Cortez, 2000. p. 47-115. Narrativas das residentes da Lua Nova. Narrativas dos parceiros de projetos Municipais, Estaduais e Federais.



Lua Nova Dando forรงas para quem tem vontade www.luanova.org.br


Associação Lua Nova


Encontrar o brilho Daqueles que parecem nรฃo brilhar

Lua Nova Dando forรงas para quem tem vontade www.luanova.org.br


Partindo das HISTÓRIAS DAS MENINAS Este livro conta histórias reais com personagens de carne e osso, num cenário áspero como a dureza de suas vidas e que, junto com a Lua Nova, descobrem o brilho de seus corações.

Edna Santos Lima, um dos exemplos mais marcantes que a Lua Nova tem de determinação, força de vontade - e, por que não, mudança de vida -, conta com um sorriso tímido suas histórias da adolescência. Com uma vida marcada por fatos alegres e tristes, conheceu a mãe aos 12 anos de idade, que a entregou ao conselho tutelar. Durante algum tempo após esse fato, viveu em abrigos e, na rua, engravidou aos 16 anos. Nessa mesma época, Edna conheceu a Lua Nova. Sempre acostumada com a movimentação de São Paulo, não gostava muito da ideia de viver em uma cidade do interior. Apesar disso, veio para a Associação. Durante sua temporada, repleta de fugas, idas e vindas, nasceu seu filho Gabriel que, por complicações de saúde, veio a falecer. Tempos depois, engravidou novamente, dessa vez de uma menina: Gabriele. Edna foi uma das primeiras jovens a trabalhar nos projetos da Lua Nova, tendo inicio na padaria Lua Crescente, além de participar de outros programas. Edna mostrou que, apesar das dificuldades, poderia superá-las e mostrar a todos o quão forte é. Ela recorda com carinho o Natal de 2004: PH - Antonello Veneri

1 Vamos considerar “meninas” todas as adolescentes e mulheres que fazem parte da Lua Nova. “Menina” é a expressão carinhosa de chamar as protagonistas dessa história.


Partindo das

A força da maternidade

HISTÓRIAS DAS MENINAS

Cabelo s cacheados, rosto de menina, olhar vivo, sorriso aberto. Esther Souza de Brito, 25 anos, é franzina e mal tem um metro e meio de altura. Sua aparência infantil não condiz com sua história de vida. Quando começa a falar, é um furacão: despeja sua história tão rápido que os fatos se atropelam. É como se tivesse pressa para contar toda a infelicidade pela qual passou dos 9 aos 17 anos para, então, poder voltar a olhar para a frente – para um tempo chamado futuro, em que faz planos para ela e para os filhos Thainá, Ísis e Victor Huggo, de 1, 2 e 5 anos respectivamente. Nesse novo tempo, a garota brinca, dá risada e traça estratégias para viajar, dar consultorias e buscar parceiros para a ONG que lhe proporcionou reconstruir sua vida e onde hoje trabalha: a Associação Lua Nova. Esther começou um longo histórico de fugas de casa aos 9 anos de idade. Morava com sua tia, que considerava como mãe, na zona sul de São Paulo. Sempre que brigavam, Esther terminava na favela mais próxima. “Entrava e saía da favela direto”, descreve. Nas ruas, fez de tudo um pouco: vendeu pó (cocaína), crack, lançaperfume, usou um pouco de droga, trabalhou de ambulante; mas nunca abandonou a escola. “Sempre dava um jeito de aparecer na escola, assistir às aulas e ir passando de ano”, relata. A situação ficou mais delicada na adolescência, quando o irmão - que, na verdade, era primo teria tentado forçá-la a fazer sexo com ele. Esther “ganhou” as ruas de vez. Aos 15 anos, voltou temporariamente para a casa da mãe biológica, em Francisco Morato (uma das regiões mais pobres e violentas da Grande São Paulo), e engravidou. “Meus irmãos mais velhos me espancavam, era um inferno”,

“... pedimos para a educadora Cláudia passar com a gente e fizemos a ceia com um dinheiro que ganhamos. Ganhamos presentes também, foi muito legal. No dia seguinte, também comemoramos!” Edna, aos 28 anos de idade, conhece todas as etapas da Lua Nova. Atualmente, trabalha como educadora social na casa de Acolhimento da Organização, conhece as meninas e trabalha com elas de um modo diferenciado: ao mesmo tempo em que é severa, sabe cativá-las, tendo o carinho de todos. Com um jeito convicto de expor suas opiniões, fala o que pensa ser o melhor a ser dito em cada momento, sem medo de opiniões e respostas controversas - uma mulher de personalidade forte e, com certeza, um exemplo de força e determinação. “A Lua Nova é tudo na minha vida. Hoje eu conheço os dois lados da vida - o lado bom e o lado ruim -, sei o que é trabalhar, pagar aluguel e uma conta, mas também conheço o lado do tráfico. A Lua Nova me ensinou que eu posso ter uma vida diferente, cuidar da minha filha, viver dignamente, reintegrada na sociedade.” “É preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã!” Legião Urbana

resume. Saiu da escola no 9° ano e teve o bebê, aos 16, na casa da mãe. Depois que Victor nasceu, Esther se viu em um ambiente hostil, marcado pela violência. Dois irmãos estavam presos, outro estava sendo processado e o quarto vivia em regime de liberdade assistida. “Sou a única dos filhos que nunca foi presa”. Esther não tinha emprego, estudo ou casa, mas não queria abrir mão de criar o filho. “Se eu tinha algum direito nessa vida era o de ser mãe do Victor”. Foi a maternidade que transformou uma menina rebelde em uma jovem mulher disposta a arregaçar as mangas e lutar por um mundo melhor. “Por favor, escreve aí o nome dele com dois gês”, pede ela. “É Victor Huggo”, soletra.


Mãe e filho Esther foi parar em um abrigo com Victor, na zona sul da capital paulista. A diretora informou sobre a única instituição do Estado de São Paulo que acolhe mãe e filho juntos, a Associação Lua Nova. Assim, aos 16 anos, Esther veio pela primeira vez para a Associação, de onde fugiu duas vezes. “Fugia porque não sabia ficar. Tentava fazer todas as coisas ao mesmo tempo, me angustiava e não persistia”. De volta às ruas de São Paulo, faturava, em média, R$ 10,00 por dia contando piadas em ônibus, tomava banho a R$ 1,00 no centro da cidade e dormia agarrada a Victor Huggo embaixo dos viadutos. “Uma noite acordei com um homem bem vestido embaixo do viaduto onde a gente dormia. Ele estava bem perto do Victor. Se eu não tivesse acordado, ele teria levado meu bebê. Entrei em pânico e passei a ter medo de dormir. Fiquei exausta e muito magra. Nosso estado de saúde piorava a cada dia”, conta. Esther acabou indo para o hospital com a criança, onde foi descoberta pela polícia e pelo Conselho Tutelar. Quase perdeu a guarda do filho. “Foi meu momento de maior pânico”, recorda. Nesse período, totalmente descontrolada, esmurrou uma conselheira tutelar que estaria planejando a adoção de Victor à sua revelia. Não era o primeiro episódio em que tentava

PH - Antonello Veneri

defender o direito de ser mãe a tapas. Apareceu na audiência judicial chorando e pedindo ajuda ao juiz para não perder a guarda do filho. “O juiz me disse: 'se você ficar uma semana sem bater em ninguém, tento convencer a direção da Lua Nova a aceitar você'.” Os dois voltaram para o abrigo do projeto, em Araçoiaba da Serra, a poucos quilômetros de Sorocaba. Esther ficou no abrigo por pouco tempo.

Acabou fugindo, mas dessa vez entre aspas, digamos assim. Permaneceu em Araçoiaba, onde passou a vender produtos de panificação iguais aos que aprendeu a produzir na padaria-escola da Lua Nova. “Virei concorrente. Queria ter dinheiro para alugar minha própria casa”, diz, sorrindo. Essa “fuga consentida” durou três anos e meio. Hoje, Esther trabalha diretamente com Raquel Barros, a fundadora da Lua Nova, e atua como consultora em outros projetos de juventude.


Vínculo “A maternidade é o vínculo mais forte que as meninas têm. Isso tem que ser preservado”, explica Raquel, que as incentiva e, em alguns casos, é tutora delas na Justiça. A Lua Nova acolhe adolescentes grávidas e as ajuda a construir um projeto de vida. Esse futuro inclui a descoberta de talentos e o aprendizado de ofícios que proporcionem às meninas renda para sustentar a nova família. Assim, a Lua Nova criou diversos projetos para as meninas descobrirem qual a sua aptidão e, consequentemente, ter sua própria renda. Abaixo, seguem alguns projetos: - buffet-escola - fabricação de pão, biscoito, massas e bolos; - fábrica de bonecas - confecção de diversas bonecas (loiras, morenas, ruivas), que já são um dos símbolos do projeto; - empreiteira-escola - é a mais inovadora de todas as atividades, exercida apenas por mulheres. A empreiteira já construiu as primeiras casas do Condomínio Social. “A gente, que sempre viveu nas ruas, hoje constrói casas. Não é incrível?”, pergunta de forma afirmativa Ana Lúcia Veiga, 28 anos, mãe de dois filhos de 7 e 9 anos. Ela é mestre de obras formada pela empreiteira-escola Lua Nova e certificada pelo Senai. Ana, a “Negão”, e outras companheiras, estão construindo mais doze unidades que serão vendidas às novas proprietárias a preços simbólicos, que podem chegar a R$ 5 mil, divididos em dez, quinze anos.

Reunindo famílias Na Lua Nova não há histórias fáceis. T., de 16 anos, engravidou aos 12 anos de um tio de 60 anos. O pai de T., ao saber que o irmão tinha abusado da filha, morreu. O agressor está solto e ameaça de morte a menina que está na Associação. Raquel é objetiva. “Se formos ficar incentivando que elas são coitadinhas, ninguém evolui. Elas têm apoio psicológico e muita ajuda. Tudo para superar e andar com as próprias pernas”. O tempo recomendado de permanência na Associação Lua Nova é de nove meses – uma gestação. Depois disso, as jovens acabam alugando casa em Sorocaba ou Araçoiaba da Serra. “A Lua Nova é uma referência quase familiar”, diz Raquel, que costuma atender, entre a Associação e as outras atividades, uma média de 150 meninas e filhos no mês. Regina, 30 anos, conseguiu vaga na Lua Nova quando lutava pela guarda dos filhos que estavam em um abrigo. Agora construiu a própria casa (com sala e quatro dormitórios), e reuniu as crianças. Está aprendendo a ler e a escrever e tem uma profissão: ajudante de pedreiro. “O projeto se chama Lua Nova porque esta é uma fase em que o brilho e a luz da lua estão presentes, mas ninguém vê. É assim com as meninas e mulheres que atendemos aqui. Elas têm uma força espetacular. Só falta descobrir. Estamos aqui para ajudá-las”, resume Raquel. (BARROS, 2010, p. 144-147)


“O drama da cadeia e favela. Túmulo, sangue, sirenes, choros e velas”

Negro Drama, Racionais MC's As histórias relatadas falam de jovens mães. Meninas, mulheres, profissionais. Todas com um aspecto importante em comum: vivem ou viveram alguma situação de sofrimento social. Estar em situação de sofrimento social não significa apenas usar drogas, ter sofrido violência sexual, ou estar em situação de rua. Viver em sofrimento social é se perceber numa configuração da ordem social que restringe sua capacidade e liberdade de escolha. O sofrimento social denuncia a desigualdade e a exclusão do mundo no qual vivemos e atinge milhares de pessoas que estão às margens da sociedade, sem o direito de negociar a própria existência. O sofrimento social é composto por pobreza, racismo, diferenças de gênero e exclusão social, impactando todos os âmbitos da vida da pessoa. São estas as mulheres acolhidas na Associação Lua Nova. Por que destacar o contexto do sofrimento social? Porque certamente torna estas mulheres especiais, já que (sobre) vivem na exclusão, à margem das estatísticas, nas subnotificações, à margem das oportunidades, da parceria e da relação. Relacionam-se somente com um mundo desigual, que lhes nega todos os seus diretos. São mulheres sem o título de cidadãs

conferido pela cédula de identidade. Sem matrícula na escola e no posto de saúde. Muitas escondem seus corpos marcados pela violência física, sexual, moral, de abandono e exclusão. E sendo mulheres, o cenário de desigualdade aumenta, assim como as especificidades desta condição, num país que celebra mais de duas décadas de Constituição e não conseguiu oferecer à mulher o direito à cidadania plena. Sociedade/ coletivo/ exclusão/ preconceitos/ falta de oportunidades/ marginalidade/ miséria/ dor/ temor/

“quais das palavras abaixo fazem ou fizeram parte da sua realidade

faça um circulo nas que você reconhece

favela abrigo arma drogas tráfico pai mãe oportunidade mudança criatividade felicidade tristeza defeitos habilidades roubo polícia trabalho gravidez homossexualismo amizade prostituição traficantes juiz abuso sexual fome preconceito solidão morar na rua carinho amor namorar fugir casar prisão viajar felicidade”. AAA


No final do jogo, se você assinalou palavras como drogas, tráfico, etc, deve saber do que se trata o sofrimento social. Se não assinalou, pode imaginar como é viver esta realidade? E diante de tamanha gravidade, o que podemos fazer? Nós não vamos mudar esse contexto de sofrimento social. Mas vamos intervir. Eis que nasce Lua Nova. Para estimular todos a mudar as lentes de nossos óculos e enxergar os brilhos destas mulheres, sendo um espaço de relação e de exercício de direitos - mas os direitos das jovens, de acordo com as necessidades delas (BARROS; LISBOA, 2013, p. 127-141). E hoje, mais de 11 estados brasileiros usam esta mesma lente da inclusão e acolhem meninas em todos Brasil. Este livro pretende contar histórias do uso das lentes da inclusão através da confiança e da relação.


O QUE PENSAMOS: Teoria da relação inclusão PARA COMPREENDER O CENÁRIO Há décadas, buscamos soluções efetivas e definitivas para eliminar o uso de drogas nas sociedades. Estas buscas por respostas têm nos conduzido, cada vez mais, a valorizar conhecimentos especializados. No entanto, quanto mais nos especializamos, mais nos distanciamos das pessoas precisam de apoio para superar o problema. Na realidade, estamos nos tornando especialistas de nossas próprias teorias e acabamos falando para nós mesmos, ignorando a complexidade sistêmica da qual fazemos parte (MORIN, 2000). “Criamos serviços e os transformamos em templos e fortalezas ao mesmo tempo. Um templo para venerarmos e acreditarmos que é ali que estão as soluções, e uma fortaleza porque, com a ameaça de outros serviços, estamos sempre buscando razões para

mostrarmos que nosso serviço é o mais belo, mais importante e mais efetivo entre todos. Nesta dinâmica impedem-se as relações, as trocas e que soluções eficazes aconteçam” (BARROS; LISBOA, 2013, p. 127-141). É importante novos olhares que se baseiam no estabelecimento de relações, nas redes, nas trocas de potenciais e saberes e na participação como principal instrumento de intervenção. Neste sentido, pensamos que o desafio é integrar, relacionar e articular estes vários templos e fortalezas construídas nas visões de eficácia isolada, de modo que deixe de existir o certo e errado, e que o mais importante seja a relação entre os diversos serviços e comunidade, efetivando um “estar juntos para um fazer articulado”.

FALANDO DO USO DE DROGAS E RELAÇÕES Sabemos que a droga em si, somente como substância, não prejudica ninguém. As alterações causadas pelas drogas no corpo dependem das características da pessoa que as usa, do tipo de droga utilizada, da quantidade, frequência, expectativas e circunstâncias em que é consumida. O que pode vir a ser problema é a relação que o indivíduo estabelece com a droga, então falar de uso de drogas é falar de relação.


Se considerarmos que a questão da relação que o indivíduo estabelece com as drogas é inerente à sua condição humana, devemos dialogar com o conceito de relação, refletindo acerca de alguns de seus diversos usos em diferentes campos (BARROS; JABUR, 2011). As relações humanas têm sido estudadas em vários âmbitos, demonstrando sua força e impacto na vida das pessoas. Dentre as muitas relações humanas possíveis, a relação mãe-bebê destaca-se como a primeira mais marcante na vida de um ser humano. O vínculo materno, amplamente investigado por estudiosos de diferentes linhas teóricas, encontrou no psiquiatra John Bowlby, entre as décadas de cinquenta e sessenta, a teoria que procurou explicar como ocorre – e quais as implicações para a vida adulta – do vínculo afetivo entre o bebê e seu provedor (BARROS; JABUR, 2011). Desenvolve-se, então, a teoria do comportamento de apego, definida como: “Qualquer forma de comportamento que resulta em uma pessoa alcançar e manter proximidade com algum outro indivíduo, considerado mais apto para lidar com o mundo”(BOWLBY, 1989, p.38). Tal comportamento promove a segurança e o conforto, favorecendo as possibilidades do

ser em formação explorar o resto do mundo. A relação mãe e filho, portanto, torna-se uma relação fundamental no sentido de promover uma vida saudável e de qualidade para a família, mesmo que a função materna seja desempenhada por diferentes atores (uma avó, um tio, um irmão mais velho). A partir desta contextualização sobre a extensão e complexidade do tema relações, percebe-se que, dependendo do indivíduo (sua história, expectativas e contextos etc), a relação com a droga se estabelecerá de uma maneira que poderá ser diferente para cada ser em questão. Pensar no uso de droga é pensar em todas as situações da vida da pessoa e as diferentes relações estabelecidas em diversos níveis de complexidade e, desta maneira, a forma como se estabelece a relação com a droga, sua característica, sua intensidade, enfim. Ao reconhecer que o uso de drogas é uma relação, sabemos que esta se estabelece através da conexão de vários fatores que, juntos, poderão determinar o padrão (relação) de uso de droga e o nível de envolvimento pessoal e de coletivos.


Mas por que o empenho em facilitar relações? Esse olhar que foca na relação, favorecendo trocas entre beneficiário final e equipe de trabalho, rompe com uma linearidade encontrada nos processos tradicionais de tratamento e inclusão do usuário, baseados em modelos médicos de ajuda, centrados na ajuda de “cima para baixo”.

DURANTE

ANTES

ANTES GRAVIDEZ SELEÇãO

Depois

Quanto mais a pessoa tem relação com a droga, menos tem com suas redes sociais operativas, de recursos - escola, família, trabalho, amigos -, e o contrário também se faz verdadeiro. Quanto maior a relação da pessoa com suas redes sociais, menos espaço existe para a relação com a droga. Neste sentido, entendemos que, para se atuar no tema drogas, é preciso oferecer relações positivas e fortalecê-las. O foco deve estar nas relações de pessoas com pessoas e não nas de pessoas com as drogas. A nossa concepção de desvinculação do uso de droga (Gráfico 1) baseia-se nas possíveis articulações e relações que os usuários podem estabelecer com os principais atores que circundam as suas vidas, diversificando, ampliando e fortalecendo suas redes. Este conceito prevê que processos de inclusão social podem se dar através da ampliação da rede subjetiva das pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social e da diversificação das relações na esfera do trabalho, da saúde e da educação.

- se prostituía - se drogava - mora na Sé - tinha filho em um abrigo

- intoxicada - insegura - medo - amiga indica o Lua Nova

- triagem - centro escuta

ADAPTAÇãO - coletivo X individual - horários - abstinência - rotinas - higiene

- identidade - espelho - respeito ao outro - não tem o que fazer no final de semana

SAÍDA - condomínio Lua Nova - família - casa própria

CHEGADA

CONHECER

- medo - alívio - regras

- seu quarto - área coletiva - colegas - atividades - educadora

IntegraÇãO - filho/a - Lua Nova - colegas

- comunidade do entorno - sociedade

menor - deve ter autorização judicial para poder sair do Lua Nova


A importância de atuar em rede Não somos capazes de fazer tudo – não seria possível, nem sadio. É necessário trabalhar articulados com outros serviços: creches, conselhos, hospitais, pastorais, promotorias. Todas as ações da Lua Nova estão articuladas em rede e seus objetivos são complementares. Para trabalhar com as jovens, é necessário movimentar uma rede de atendimento a essa população, como um sistema aberto entre os diversos serviços e grupos existentes, não só da área da saúde, mas também de outras áreas como educação, cultura, lazer, esportes, segurança, religião. Os serviços isolados, sem a participação dessas outras áreas, ainda que específicos para atendimento ao uso e dependência de drogas, não têm mostrado resultados efetivos. É a interação de vários serviços e pessoas - o que costumamos chamar de articulação em rede - que possibilitará um melhor processo de transformação.


Como olhar as famílias Muitas das jovens que chegam à Lua Nova são vítimas de violência, abuso sexual, tráfico de drogas e pobreza extrema. Acreditamos que se durante toda essa trajetória a família não pode estar perto, devemos desenvolver nossos programas de maneira independente. As jovens são preparadas para a autonomia e, na medida em que vão assumindo seu espaço na sociedade, decidem se querem ou não retomar a família de origem.

SER FAMÍLIA

A família é a primeira rede subjetiva que possuímos e, portanto, a primeira possibilidade de prevenir vulnerabilidades através de redes. O mesmo vale para as famílias adolescentes, que são a maioria a participar da Lua Nova. Para refletir sobre a família adolescente, em primeiro lugar, seria importante entender o que é uma família. Pense na sua família, na de seus amigos, na de seus colegas de trabalho e em outras famílias que você já ouviu falar. Após sua reflexão, irá perceber que família não é só aquela formada por pai, mãe e filhos. Existem famílias de pais separados, crianças sendo cuidadas por avós, tios, irmãos, padrastos e madrastas. A diversidade é enorme. A estrutura familiar não é a mais importante, mas sim, as relações, os vínculos afetivos - sadios ou não. Reconhecer a função de cada pessoa na família e as ações que promovem para que o grupo permaneça junto é fundamental. Algumas famílias estão unidas pelo fator econômico, outras pelo afeto, ou por denúncias e demais motivos peculiares. O vínculo saudável entre os membros familiares favorece o fator de proteção, inclusive a relação com o uso de drogas. Mas, há famílias que enfrentam problemas para desenvolver seus vínculos afetivos, lidar com seus conflitos e desempenhar seus papeis, passando a ser um fator de risco para todos que a compõem. Então, como são as famílias adolescentes? As jovens que estão na Lua Nova acabam por se tornar uma famíia e, mais que isso, chefes de família.

A gravidez indesejada, na maioria dos casos, faz com que as meninas construam sua família. Seus irmãos, pais, mães e demais parentes estão afastados e distantes. Distantes porque nunca se conheceram - por estarem próximos fisicamente, mas não emocionalmente; porque nunca existiram como referência; porque deixaram de acreditar que eram capazes de se constituir enquanto família. Deixando para trás sua antiga história de vida, as adolescentes trilham caminhos distintos, tortuosos e difíceis, que levam a um novo processo de construção de si mesmas através da criação de novas relações que esquentam, que aquecem, deixam marcas e que, muitas vezes, geram filhos. Antes de seus rebentos, as adolescentes buscaram formar novas famílias - com outros adolescentes, amigos da rua, educadores de projetos sociais, famílias vizinhas, todos identificando-se pelo sofrimento e pela dor, “dor de coração”. E a cura para essa dor de coração é ter boas relações. Na Lua Nova, são formadas famílias jovens que, exatamente pela ausência ou presença danosa de suas famílias, foram obrigadas a se reorganizarem e restabelecerem seus laços, concebendo uma nova vida, inicialmente não desejada, possibilitando a construção de uma nova história familiar.


SER FAMÍLIA São famílias que iniciaram com a dor e passaram a descobrir a possibilidade de ser amado, de poder sentir, de poder pensar em futuro, de saber que há realmente alguém para caminhar ao lado. Sabemos que existem inúmeras outras famílias adolescentes, talvez com histórias distintas. Mas, estas são as que conhecemos e valorizamos. Para ilustrar as histórias das meninas da Lua Nova, apresentaremos relatos contados por elas. “... Dos oito anos até os dezoito anos morei no orfanato... queria ter a minha casa e minha família. Conheci um homem... Foi uma ilusão perfeita na minha vida... Casei com ele... Depois que engravidei, o açúcar do casamento... amargou totalmente... Começou muita briga... Houve vezes em que tentei me matar... Sempre alguém me salvava... No fundo do meu coração, busquei força em meu filho querido...” “... Estava traumatizada por um estupro que sofri com nove anos, por um dos meus tios... Sofri demais com meu pai... Fugi de casa e comecei a usar drogas, ficar com mulheres e fui morar na rua... Me mandaram para um abrigo... Fugi. Minha querida mãe me embebedou, me drogou e pôs um cara, pra quem ela devia, para ter relação comigo sem eu sentir nada. Descobri que estava grávida. Agora estou aqui com minha filha nos braços, lutando para amar ela e morrendo de ódio do pai dela e da minha mãe. Sou feliz com minha filha...” “... Quando minha filha nasceu foi a minha maior alegria... Meu filho Cláudio morreu quando eu estava de três meses. Perdi por causa de droga. Sofro muito porque não vejo ele presente. Esta

menina é minha filha. Sem ela eu não vivo. Pois a minha maior alegria é ela. Eu amo minha filha Clara. Esta criança é a minha filha, a razão de meu viver...” “...]Fazia ‘aviãozinho’ na favela para comer e alimentar meus irmãos, passei a traficante. Logo depois eu fui presa... Me prostituí durante sete anos, fui espancada, humilhada, eu tinha de sustentar uma mãe e mais três crianças. Depois me tornei usuária de crack, perdi minha personalidade e o caráter. Ao passar do tempo, eu não dava amor para os meus três filhos... Me denunciaram para o Conselho e eles invadiram a minha casa e

levaram o meu bebê e minha filha...” “... Ser mãe é tudo, é dar o máximo de si. A felicidade de ser mãe é tudo. Por mais que estejamos enfrentando o maior problemão, ou seja, o maior gigante de sua vida, tudo muda...” “... Fui para um abrigo, me sentia sozinha... só tinha dever e que trabalhar e não tinha carinho... minha gravidez foi triste, eu estava mamada de cerveja e aí ele falava que a filha não era dele... Quando ganhei minha filha, tive várias dificuldades pois não tinha como pensar em ser mãe. Só que passei a saber cuidar dela, quando comecei a pegar carinho...”

PH Antonello Veneri


Reconhecer-se como uma família é muito difícil para estas jovens. Durante anos e através das leis como o ECA 2 , por exemplo, sempre dissemos que todos têm direito à convivência familiar e comunitária. Muitos dos projetos sociais, ainda hoje, buscam estas supostas famílias, mães, pais, tios, que podem ser considerados famílias somente pelo DNA. Sabemos que o DNA sozinho não favorece estabelecimento de vínculo, afeto e segurança. É preciso existir uma relação e um reconhecimento além dos genes. Em todos os casos apresentados, é possível observar que há uma grande dificuldade em entender, aceitar e administrar a ideia de que sua família “DNA” não existe e nunca existiu. Reconhecer- se como família, aliás como chefes de família, exige um processo imenso de desconstrução e reconstrução dos padrões exigidos pela sociedade. Muito além disso, suportar a dor de que seus pais e mães, por inúmeras limitações, não assumiram os papeis geralmente impostos a eles. Pior ainda, ao invés de protetores, tornaram-se agressores. Este é um processo dolorido. A tendência, muitas vezes, é a de tentar eliminar a sua história. O filho, neste caso, passa a ser o elemento de realidade que ajuda estas jovens a perceberem que são chefes de uma família que se constitui em função da sua história, a qual não pode ser anulada. Ser mãe e ter um filho que depende delas é o que as faz, quase que magicamente, não abandonar a vida e, pelo contrário, batalhar em busca de felicidade, de entendimento do que pode ser uma relação. Partem da clareza da relação que não querem repetir, ou seja, a mesma relação destrutiva que tiveram com sua família anterior. De maneira confusa, porém com 2 Estatuto da Criança e do Adolescente

PH Antonello Veneri

uma força determinante, essas novas mães buscam redesenhar um novo futuro. Sofrem por não conhecerem referências positivas de afetividade e tentam, através dos cuidados maternos - muitas vezes, concretos no primeiro momento: alimentar, dar banho, fazer dormir serem aquela que, mesmo muito jovem, será a família de seus filhos. Ser mãe, neste momento, é fundamental, pois localiza, auxilia, coloca um padrão, uma forma de se comportar e de se relacionar. Não é fácil, apesar de ser muito emocionante e importante, perceber-se família, reconhecer ausências e imaginar que seus sonhos de

restabelecer um equilíbrio perdido, ou nunca existido, não serão mais realizados. De agora em diante, são elas e seus filhos que terão que se colocar no mundo. Na Lua Nova, as jovens passam a cumprir suas funções sociais, fazem compras (muitas vezes comprando guloseimas que nunca tiveram), trabalham, cumprem horários, levam seus filhos para as creches e escolas, estudam, aprendem e ensinam, tudo ao mesmo tempo. Buscam não perder sua adolescência - ser mãe jovem e saber se divertir, namorar e amamentar. Buscam mudar seus hábitos, suas referências, transformar o ódio em amor. (BARROS, 2010)


Os relatos a seguir ilustram essa situação: “... Eu mudei porque tive vontade para poder cuidar muito bem da minha filha. Foi muito difícil mudar e hoje sou uma boa mãe. Eu não estava acostumada com coisas boas como carinho, higiene, e aos poucos, com a ajuda da Lua Nova, fui me acostumando. Quero viver com minha filha na minha casa. Eu não quero que minha filha tenha a vida que eu tive, ela merece uma vida muito melhor. Eu gosto de ser mãe...” “... para mim, hoje, ser mãe é dar carinho e amor, dar refeição na hora certa, isso é importante para a criança. Brincar, corrigir na hora que fazer coisa errada e olhar olho pra olho. Mudei muito com meu filho. Meu filho era uma criança muito revoltada e hoje ele me obedece muito, eu e ele brincamos muito. Ele não faz coisa errada, é uma criança muito carinhosa...” Autores como Alberto Eiguer (1985) apontam três organizadores para a construção familiar. Um deles é a escolha do objeto; outro, as vivências do “eu familiar” e sentimentos de pertença; e, por último, o romance familiar, vivido na primeira infância, representando uma imagem idealizada dos pais. Notamos que nossas famílias adolescentes também estão organizadas, geralmente, em função destas três perspectivas. Percebemos que as jovens passam por um processo longo de adequação ao que se pede para que sejam, ao que são e ao que conseguem ser. Assim, elas buscam formas de consolidar a família. Estas formas, muitas vezes, são temporárias, mas necessárias; frequentemente, são experiências, ou são o modo que realmente encontram de serem felizes. Quando as meninas chegam à Lua Nova, elas descobrem que histórias semelhantes à sua acontecem com outras pessoas e, por isso,

normalmente ocorre a aproximação entre elas. Um exemplo muito comum é o de que, no momento em que se percebem famílias, elas buscam outra parecida com quem compartilhar a dor e a alegria da nova construção. Muitas delas passam a se namorar, se gostar, a estar juntas, a fazer companhia afetiva e sexualmente. Entendem que a figura masculina não é a mais adequada para este novo processo de suas vidas. Buscam em outra mulher, isto é, outra adolescente, a parceria para esta nova fase. Lésbicas? Homossexuais? Parceiras? Para a Lua Nova, são reconhecidas como parceiras. Minuchin define família como “um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza a interação dos membros da mesma, considerando-a, igualmente, como um sistema, que opera através de padrões transacionais...” (MINUCHIN, 1990). É comum as jovens dizerem algo do tipo: “...]enquanto eu trabalho ela fica com meus filhos, eu ajudo ela com os filhos dela quando ela precisa sair. Muitos olham com desdém e preconceito.”

Nós aprendemos a respeitar. Outro dia, conversando com duas delas que vivem juntas há mais de dois anos com seus filhos, elas contavam que se gostam, mas que a sexualidade para elas não é o mais importante. O medo as uniu - medo de morar sozinha, de alguém agredi-las, de não conseguir dar conta de tudo, medo de ladrão. Outra forma funcional de se assumir como família é aquela em que a jovem busca uma irmã,

ou irmão, alguém da família que durante anos não manteve mais contato. Com a ideia de “ajudar”, aquele irmão ou irmã é trazido para a sua casa e passa a refazer ou resgatar os elementos de sua antiga família, que, como ela, ficaram espalhados e esperando por alguma mudança. Uma saída ainda é quando alugam casas nos fundos de senhoras mais velhas, quase avós. É muito comum que, em qualquer modo, estas senhoras passem a ajudá-las, a apoiá-las, e, deste modo, são adultos de referência que procuram, de algum modo, substituir sua mãe e seu pai. Digo sempre que os elementos novos desta família, composta por mãe e filho(s) em um primeiro momento, se agregam por uma questão funcional, por uma necessidade que vai além da afetiva. Aos poucos, a relação vai se tornando afetiva. Cabe aqui ressaltar que toda a afetividade destas famílias é aflorada por esta mágica relação que advém da maternidade. Elas reaprendem ou, em alguns casos, aprendem a amar com seus filhos. Assim percebemos que elas tentam se organizar de acordo com o padrão de família vigente, apesar de apresentarem ritmos, valores, desejos, angústias e coragens diferentes. Ser família adolescente é inverter, reverter a ordem vigente, mas, ao mesmo tempo, isso se dá para que elas consigam, a seu modo e com a sua força, reencontrar uma ordem interna.


(Como nascemos) Entre pedras e flores: Como nasceu e cresceu a Lua Nova Uma aposta no afeto

Lua Nova nasceu da vontade e do sonho de poder “dar à luz” a mães que, até então, eram marginalizadas e filhos que estavam fadados ao mesmo fim. Eu imaginei que seria fantástico dar a possibilidade a estas jovens de serem mães e a estas crianças de serem filhos.

noites sem dormir, com muito medo, pois eu estava mexendo com vidas. Precisei imaginar um método possível e que estivesse ao alcance de todos - e, principalmente, ao meu alcance. As pessoas precisavam confiar e acreditar que aquilo daria certo. E eu não tinha certezas.

Começamos com muita coragem, vontade e determinação, mas percebemos que o nosso sonho somente seria realizado após uma cuidadosa gestação e um acompanhamento constante de todas as fases pelas quais nosso bebê passaria antes de nascer. Um sonho muito bonito, mas muito delicado e complexo. Afinal, nossa proposta metodológica não se propõe normatizar a vida da jovem em risco social, mas sim de possibilitar a ela estabelecer comparações, hierarquizar riscos e, então, ter a liberdade de fazer suas opções. O respeito pelas escolhas e desejos impõe-se como valor fundamental.

Tudo era novo e eu não sabia muito bem onde ia chegar. Sabia, porém, que uma das melhores soluções para o sofrimento é o acolhimento nas suas variadas formas. Apostei no afeto. O primeiro ano foi difícil e parecia que entrava água no barco por todos os lados. Mas, a vontade de que ele não afundasse era tanta que surgiram ideias mirabolantes para superar as dificuldades.

Depois de um ano e meio de projeto, participei do aniversário da filha de uma das residentes – fruto de um estupro que a mãe sofreu aos 11 anos. E vi aquela mãe - que, quando chegou, “odiava” a sua menina - guardar dinheiro, comprar uma bicicleta, fazer salgadinhos, cantar parabéns e chorar, chorar O método foi trazido de uma experiência em que muito. Todos nós choramos. Ali percebi que o colaborei na Casa Aurora, em Villa Renata, na Itália. caminho era aquele. Ainda havia muito por ajustar e Mas, desde o início, percebi que seria muito difícil acrescentar, mas com certeza o caminho era aquele. replicá-lo, pois as condições de vida das mães brasileiras são extremamente diferentes. Apesar Raquel Barros, psicóloga, fundadora e de milhões de dúvidas, continuei a proposta. Passei diretora da Associação Lua Nova


Missão Resgatar e desenvolver a autoestima, a cidadania, o espaço social e a autossustentabilidade de jovens mães vulneráveis, facilitando sua inserção como multiplicadoras de um processo de transformação de comunidades em risco.

Visão Transformar-se em um centro de referência em inserção social e desenvolvimento local pelos métodos terapêuticos utilizados.

Linha do tempo: Um desenho no tempo Apesar dos desafios, dos temores e dos preconceitos que enfrentamos, a história da Lua Nova também é pontuada por pequenas e grandes conquistas, que há mais de 13 anos animam nossa jornada.

2000

2004

* Fundação da Associação Lua Nova e inauguração da Comunidade Lua Nova

* Início do projeto Empreiteira Escola * Início dos Núcleos de Geração de Renda nas Comunidades

* Criação da Creche Comunitária * Apedrejamento

* Lua Nova recebe o prêmio “Mérito pela Valorização à Vida”, concedido pelo SENAD/GSI/Presidência da República

2001

* Reconhecimento da UNESCO – Redução da vulnerabilidade de jovens através da geração de renda e educação não formal

* Criação da República Lua Crescente no centro de Sorocaba, SP

* Publicação do livro “Pela Lente do Amor”

* Criação da Oficina Criando Arte na Comunidade Lua Nova * Lua Nova é Finalista do Prêmio Empreendedor Social Ashoka/McKinsey com o Plano de Negócios da Empreiteira Escola

* Exportação mensal de bonecas do Criando Arte para a Itália

2005 * Início do projeto Panificadora Lua Crescente * Início do projeto Constelação de Agentes Preventivos * Lua Nova vence o prêmio OAB Direitos Humanos

2002 * Inauguração da Casa das Crianças

* Lua Nova vence o prêmio Empreendedor Social Ashoka/McKinsey * Lua Nova participa pela primeira vez da BrazilPromotion

* Início do projeto Buffet Escola

2006

* Lua Nova vence o Prêmio Criança 2002, da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente

* Lançamento da marca institucional Menina da Lua, no 1°ºSorocaba Moda com participação no desfile da atriz Vera Holtz

2003

* Lua Nova expõe na BrazilPromotion * Início do projeto Gerações – Atenção às gestantes de risco da comunidade

* Início da ação de rua, atenção nas comunidades.

* Início do projeto Força Jovem

* Início do projeto de Redução de Danos

* Lua Nova é premiada pela Associação Caminhando Juntos pelo Plano de Negócios da Panificadora Lua Crescente

* Finalista do Prêmio Brasil Foundation com o projeto de Formação de Agentes Multiplicadores

* Lua Nova ganha o concurso de financiamento e se torna parceira da Petrobras no projeto Empreiteira Escola * Vencedora do prêmio Mulher Empreendedora 2006 – SEBRAE/Secretaria Especial Política para Mulheres


2007 * Lua Nova vence o Prêmio Cláudia, na categoria Trabalho Social * Prêmio Mulher Empreendedora – SEBRAE * Considerada uma das 50 melhores iniciativas brasileiras para mudar o mundo em publicação da PUND (ONU) * Lua Nova recebe o prêmio ADVB * Lua Nova ganha o prêmio Orixalé 2007 – Grupo Cultural Afroreggae * Prêmio ADBV- Associação de Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil - Top Social 2007 – Empreiteira Escola

2008 * Finalista do Prêmio Generosidade da Editora Globo * Terceiro Lugar no prêmio Empreendedor Social – Folha de São Paulo e Fundação Schwab * Jovem da Lua Nova palestra no 3° Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, organizado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República * Homenagem da Rainha da Suécia para a ONG Lua Nova * Início da Disseminação da ONG no país pela Secretaria Direitos Humanos

2009 * Palestra no Fórum Social Mundial em Belém * Início da parceria com a grife para gestantes Maria Barriga, de São Paulo, com capacitação das jovens do Criando Arte para confecção de slings * Duas jovens da Lua Nova, Taís e Carol viajam ao Peru para contar sobre suas ações na Lua Nova e suas histórias de vida de sucesso * Início do atendimento de jovens em Liberdade Assistida da Fundação Casa no núcleo da Vila Barão, em Sorocaba

2010 * Prêmio Changemakers, da Ashoka, com o projeto Empreiteira Escola, sendo a única finalista da América do Sul * Início da disseminação da metodologia em 13 estados

2011 * Mudança de sede depois de 11 anos * Criação da Incubadora de Projetos e da Escola de Acolhida * Programa Entre Nós - Tratamento Comunitário

2012 * Início da disseminação do Programa Entre Nós em 13 estados * Prêmio Woman in the World

2013 2014

* Prêmio Excelência Mulher, da CIESP

* Abertura Acolhimento Noturno – População de Rua e Unidade de Acolhimento Provisório – Infanto Juvenil

2015

* Reconhecida como Boa Prática da Disseminar pela Secretaria Nacional Sobre Drogas, passando a ser política pública pelo Plano de Enfrentamento ao * Membro Honorário do WomenChangeMakers Brasil – Crack do governo Lula Womanity Foundation


Direitos e princĂ­pios Direito de dar e receber carinho Direito de brilhar Direitos da acolhida, os princĂ­pios bĂĄsicos da acolhida (olhar, escutar)


Quem somos Batismo A Associação Lua Nova atende a jovens mães e seus filhos em situação de vulnerabilidade social. Criada em 2000, a Lua Nova é uma iniciativa não-governamental sediada na cidade de Sorocaba, SP.

Parto Depois da temporada na Itália, com o apoio da Cooperativa Villa Renata, vivenciando tão de perto essas iniciativas, finalmente, era tempo de voltar ao Brasil e reeditar a experiência na nossa realidade social e cultural. O primeiro desafio era óbvio: aqui as condições eram muito diferentes das encontradas na Itália, e persistir nesse caminho exigiu e tem exigido a busca por novas soluções e estratégias. Entre os desafios que encontramos, podemos destacar a escassez de recursos comunitários de acesso público e gratuito, a fragilidade das estruturas familiares de apoio e maior dificuldade para conseguir recursos que financiassem nossos projetos.

Por que Lua Nova, se a Lua Nova é justamente a “não Lua”? Respondemos que é um engano: a Lua Nova está lá, apenas não se vê. O nome Lua Nova nasce da vontade de mostrar ao mundo as jovens, seus filhos e seus talentos que não são vistos. Ou pior, que as pessoas não querem ver.

Sobre meninas e pedras

Logo no ano de sua fundação, a Lua Nova Residência sofreu um ataque. Algumas pessoas da comunidade local, escondidas atrás de árvores, atiraram pedras na residência. A polícia foi avisada, mas nada fez, nem mesmo desceu do carro para averiguar melhor a situação. As pedras foram lançadas durante a noite toda e foi necessário proteger as crianças no banheiro para que não se machucarem. No dia seguinte, a presidente convocou todas as meninas residentes e disse que a Lua Nova não parecia um lugar seguro para elas e seus filhos. Talvez fosse melhor que elas voltassem para as ruas, que pareciam ser mais seguras naquele momento. Juntas, as jovens disseram que queriam continuar na Lua Nova e que ajudariam a construir um espaço de proteção para elas e seus filhos. Ali, a parceria com as jovens mães se tornou real.


Quem SÃO elas? Nosso papel é – e continuará sendo – o de acreditar que as jovens atendidas em nossos espaços de acolhimento são pessoas que desenvolveram o talento de sobreviver a essas situações vulneráveis e, por isso, podem elaborar projetos de vida sólidos. Suportar a vulnerabilidade – especialmente a pobreza – é visto pela Lua Nova como um poder e não como uma fragilidade. O principal desafio ainda é a articulação entre os diversos serviços e equipamentos públicos para que esses projetos de vida sejam efetivados. É importante que as escolas, serviços de saúde, creches e outros compreendam a necessidade real de atenção a essa população e possam suprir sua demanda. Só assim as jovens farão, verdadeiramente, parte do ciclo produtivo do país a partir de seus negócios, grupos de trabalho e cooperativas.


O QUE FAZEMOS? A metodologia da Lua Nova enfatiza a quebra do isolamento e propõe o enfrentamento da realidade e do entorno social. O objetivo é mobilizar as jovens para que enfrentem a vida cotidiana de modo responsável, assumam as dificuldades e convivam com as contradições, sem fugir ou se submeter passivamente. O desafio de viabilizar este objetivo na nossa realidade social e cultural, na qual as condições de vida das jovens e o acesso a serviços são precários, tem exigido a busca criativa por novas soluções e estratégias. As metodologias são de valorização e empoderamento, desenvolvendo intervenções diferenciadas nas questões relacionadas ao uso de drogas, AIDS, exploração sexual, prostituição e gravidez na adolescência. As ações da organização contribuem para uma mudança de cultura, status social e desenvolvimento de potencialidades de jovens e mães em situação de risco social, através de proposta concreta de geração de renda e de inclusão social, fazendo com que estes passem de assistidas a formadoras e multiplicadoras de tecnologias que poderão aumentar sua renda mensal e sua autoestima, auxiliando na inserção laboral e contribuindo ao mesmo tempo para um diálogo, colocando-as na rede dos vários atores: instituições públicas e privadas, ONGs, universidades e cidadãos. Está dividida em três grandes eixos de trabalho: Acolhimento: Residência, Escuta Autonomia: Educação e geração de renda Inclusão: Redes e Tratamento Comunitário Esses eixos atuam de maneira integrada e seus conteúdos são trabalhados

através das seguintes frentes de ação: (I) gestão de casos e banco de dados, (II) formação, informação, elaboração de materiais e instrumentos e (III) disseminação das experiências.

Lua Nova em números Desde sua concepção, a Lua Nova já atendeu mais de 8 mil pessoas em suas atividades de tratamento comunitário, e já abrigou mais de 3.300 mil mães e filhos, além de geração de renda para mais de 456 jovens. Iniciada em Sorocaba, a atuação da Lua Nova hoje se expande para mais de 22 municípios em todo o Brasil, além de ter construído parcerias sólidas com mais de 166 organizações, entre elas entidades públicas, particulares, fundações, e ONGs. Hoje Lua Nova é Política Pública para o governo federal, representando boa prática no enfrentamento ao crack e junto aos Direitos Humanos nas ações de atenção contra o abuso e a exploração sexual, com sua metodologia disseminada no país.

Por que existimos A ausência de uma maternidade digna para jovens mães, muitas ex-moradoras de rua, estimulou o desenvolvimento da Lua Nova a fim de desmontar essa situação e criar modelos para influenciar políticas de inserção integral. É uma alternativa de atendimento que, cumprindo os preceitos legais da ECA, supera a visão de assistência pontual e fragmentada, pois atua com diversas parcerias através de um projeto de residência, gerando renda e criando formas de inserção social. Propomos desenvolver, através da maternidade, processos alternativos e autônomos na vida dessas jovens mães em situação de sofrimento social. Entendemos por sofrimento social o conjunto de dores e sensações provocadas por situações como a falta de estrutura familiar, a vivência nas ruas, a prostituição, o abuso sexual, a exploração, a gravidez precoce e o abandono. Essas meninas não trazem apenas uma, mas muitas dessas questões em seu histórico, experimentadas de maneira brutal e desumana. A droga existe na trajetória dessas mulheres como mais uma das inúmeras formas de sobrevivência e de proteção às inesperadas e desesperadas situações a que elas estão constantemente expostas. A garra e a coragem de vida das meninas, apesar das adversidades, chamou a atenção e motivou a Lua Nova a existir. Nosso principal objetivo é construir uma relação com essas jovens mães para que elas possam redescobrir seus valores morais e éticos e se reapropriar de sua cidadania. Ao longo dos anos, investimos na relação mãe-filho como base de um projeto de vida mais feliz para ambos. Para isso, desenvolvemos e experimentamos diferentes técnicas e práticas de inserção social das jovens, para desenvolver sua autonomia, ampliar suas redes e dar visibilidade aos seus potenciais.


Como fazemos

Caminho em parceria – Como a Lua Nova atua

Essência As jovens residentes e participantes das iniciativas da Lua Nova não são consideradas assistidas do projeto, mas parceiras essenciais para que o trabalho aconteça. O que queremos é auxiliar o processo de construção de ferramentas psíquicas, físicas e sociais que possam contribuir para sustentar suas escolhas. Acreditamos que, para um real processo de transformação, a troca é um mecanismo fundamental, onde cada um tem a dar e a receber, e é professor e aluno ao mesmo tempo. Dessa forma, as jovens são estimuladas a assumir sua responsabilidade no processo, bem como a contribuir com o desenvolvimento do outro e da comunidade em que vivem. Para isso, usamos como norte da nossa prática os seguintes princípios:

Focar a pessoa e não a vulnerabilidade – Questões como pobreza, injustiça social, prostituição ou abuso sexual não ocupam o centro do trabalho na Lua Nova. A pessoa é o foco principal. Dizemos sempre que as jovens que chegam à residência são pessoas que desenvolveram o talento de sobreviver a essas situações vulneráveis e, por isso, é possível que desenvolvam projetos de vida sólidos. Suportar a vulnerabilidade - sobretudo, a pobreza - não é uma fragilidade aos olhos da Lua Nova, mas, sim, um poder. Então, seus saberes e vivências são entendidos como talentos, que podem gerar ações multiplicadoras e preventivas.

Potencializar a maternidade – A maternidade, mesmo na adolescência, é um dom, uma potencialidade, uma capacidade que deve ser cultivada e valorizada. Ao resgatar o vínculo entre a mãe e o filho, buscamos, assim, mostrar a importância de “estar com”, “gostar de”, “contar com”, “respeitar”. Ao mostrar que esse vínculo não é só possível, mas fundamental para o desenvolvimento de ambos, conseguimos, então, empoderar essas jovens nas suas competências.


Trabalhar em conjunto As jovens fazem parte de uma cogestão participativa. São corresponsáveis pelo dia a dia da residência: lavam, passam, cozinham, arrumam a casa, cuidam de seus filhos e brincam com eles. Além disso, fazem parte da equipe que seleciona novas jovens e profissionais para o grupo, e ainda opinam sobre as regras da residência e a gestão financeira. Elas têm voz, e a voz delas é ouvida, sentida e respeitada.

Compartilhar soluções – Cabe às jovens participar da busca de soluções. É muito difícil resolver os problemas do cotidiano, pois cada uma chega com uma história e experiência de vida diferentes. Para trabalhar junto e encontrar soluções, criamos as assembleias semanais, quando problemas são convertidos em propostas de soluções, e a mais votada passa a vigorar. Esse processo dá à jovem poder, possibilidade de decisão e senso de pertencimento ao grupo.

PH Antonello Veneri


de

De

Au to no Qu mía alid ad e rilh

os

ren Ela da b pro oraç jet ão o d de e v um Ex ida do ecuç pro ão jet das od e e v tap Pre ida as inic pa Re raç iais ins ão erç pa ão ra so a s cia aíd l a

do ão Ge

raç

ão

de

sb

ão aç

aliz

aç alt

Ex

a

rez

ob ia/P

nc Violê

F

alta

m xtre

ae

c

eit o

is

Fo

rm

ae s eg paço raç s ão soc ia Int

so Ac

es

ã Pro o ci Tr fis dad iag sio ã em na Ma Po lizaç pe litic ha am ã bil en as o ida to pú Pro des da s Re blic fis sio sp as n

sociedade integrada

vid se n so volv a cia im l en to

A grande inovação é atuar com a jovem mãe através de um ciclo completo, isto é, do acolhimento à autonomia, oferecendo oportunidades concretas de sobrevivência e dando voz a seu potencial e sua capacidade de ser e fazer. A seguir, as três hipóteses de atuação dentro da sociedade:

ço spa

e de

ial

soc

ção

a

Id

ific ent

dos

s nça

Cria

o

ent

am

Isol

s

ma

ble

pro

s ee

d

as od

ã

E

aç xalt

ciais

s so

a tigm

es idad

abil

er vun

ma

Lei

de tivas i ão cuç s pun e l x E dida ocia os me ã s lu Exc

co flito

Con

b

sociedade Marginalizada

a

Continuar no âmbito de A – Trabalhar com essa hipótese significa NÃO contribuir para o Desenvolvimento Social, o que gera situações de violência, conflitos e exclusão cada vez maior, impossibilitando a interrupção do ciclo da pobreza. Propor soluções no âmbito de B – Nesta etapa, fortalece o emprego, reproduz diversas formas de sobrevivência, oferece educação e cultura, propicia o uso positivo do tempo livre, de informação e recreação diversa; permite manter um contato direto com os grupos sociais e retroalimenta seu estudo com o objetivo de alimentar as futuras propostas de trabalho. Dar continuidade, fortalecendo relações no âmbito de C - Permite apresentar às classes médias e altas da sociedade uma imagem positiva e “nova”, com os aspectos relevantes do desenvolvimento social, a fim de motivar sua aproximação e sua integração através de ações comuns em benefício da coletividade. A proposta da Lua Nova atua no âmbito B, ou seja, somos laboratório metodológico e incubadora de boas ideias e projetos de desenvolvimento de pessoas através do acolhimento, fortalecimento de emprego, geração de renda e reinserção social. Além disso, temos um papel importante na interlocução da sociedade com o poder público no fomento de políticas públicas favoráveis ao caminho para uma sociedade integrada (âmbito C).


Colocar limites, Construir vínculos Ao ficar na Lua Nova, a jovem é convidada a se tornar parceira do programa. É numa relação de troca e apoio mútuo com as outras residentes e com a equipe que a jovem constrói um novo projeto para sua vida com seu filho. De um lado, mãe e criança têm assegurado, na residência, seu direito à moradia, alimentação, assistência médica, psicológica e educacional. Mas, de outro, a jovem precisa assumir seus deveres: cuidar do filho, de si mesma, colaborar com o trabalho doméstico, trabalhar, participar das atividades terapêuticas e pedagógicas, respeitar as regras de convivência combinadas. O tempo médio de permanência das jovens é de oito a doze meses, quando começam a participar do projeto de inserção social. Durante a moradia na residência, buscamos trabalhar o fortalecimento de identidade, autoestima e autonomia, bem como valorizar as competências e o planejamento de futuro das jovens. A base do trabalho é incentivar que a mãe construa novas relações consigo mesma, com seu filho e as demais pessoas com quem convive. Tudo isto acontece de forma singular para cada uma, num ritmo próprio. Ela vai tecendo diferentes relações, que interagem entre si. São relações interdependentes e , muitas vezes, simultâneas, que podem ser organizadas da seguinte maneira:


ACOLHIMENTO Eu e a casa Eu e a equipe Eu e as outras Eu e eu mesma Eu e meu filho Eu e a comunidade Eu e o trabalho

A disseminação da experiência da Lua Nova nos mostra que as adolescentes demonstram, em sua maioria, desejo e capacidade de permanecer com seus filhos e de romper o círculo vicioso da vulnerabilidade. Por mais que os caminhos percorridos sejam difíceis e mesmo diante das adversidades. Em virtude da busca de aperfeiçoamento na atenção a esta população, e a fim de ampliar os resultados positivos e duradouros de nossas intervenções, trabalhamos uma proposta de acolhimento mais próxima de uma convivência familiar e comunitária. Com isso, deixamos para trás o modelo de abrigamento convencional, onde a jovem fica institucionalizada. A tabela a seguir compara os dois modelos:


Tabela 1: Tabela comparativa entre abrigamento convencional e metodologia Lua Nova Alojamento

Espaço de profissionalização / Escola de vida

Não permite protagonismo às jovens; Projeto idealizado e difícil de implantar.

Participação protagonista no projeto de vida.

Jovens assistidas; Autoestima baixa, dependência.

Jovens que assistam também.

Comportamento infantil.

Pessoas que assumam suas responsabilidades; Vocação e autonomia.

Parceria é difícil com um abrigo; Dinâmicas com base na hierarquia, não existe parceria.

Escola de vida e um processo de ensinamento mútuo.

Disseminação de um método de relações.

Disseminação de uma metodologia de aprendizagem.

Relação desigual equipe/ jovens.

Igualdade equipe/ jovem: Ensinamento: 50 % equipe / 50% jovens Aprendizagem: 50 % equipe / 50% jovens

Inserção social demorada e dependente.

Inserção social mais fácil: participação desde a entrada à profissionalização.

Dificuldade para entender o processo de reinserção social, desabrigamento drástico, falta de transição e de acompanhamento.

As jovens entendem o processo de reinserção social.

Dificuldade garantir um trabalho; Desenvolvimento-trabalho-convencionais, os jovens se adaptam à oferta.

Envolvimento da jovem num trabalho desde no início do processo.

Desabrigamento difícil.

Desenvolvimento / trabalho com as potencialidades e habilidades das jovens Profissionais de cada área com dificuldade de interagir com a equipe e focalizar a pessoa, e não o problema.

Desabrigamento pensado desde a entrada, acompanhamento, acolhimento das jovens já reinseridas e parceiros da rede social. Trabalho com as potencialidades e habilidades das jovens e da equipe.

Profissionais usam suas áreas para favorecer a autonomia das jovens no seu projeto de vida / ajuda “útil” Exemplos: Assistência social -> fala de rede Enfermeira -> faz curso de primeiros socorros/ medicação


A ideia fundamental é um ensinamento mútuo. Trabalhar junto significa criar uma relação de igualdade, ser parceira. Cada jovem e cada profissional de nossa equipe pode tanto aprender quanto ensinar.

EtcÉtera E como as fases da lua, as meninas chegam no início com apenas um filete de brilho, depois ficam meio iluminadas e meio obscuras até se encherem de luz e se

tornarem novas dia e noite, noite e dia. A Lua à luz do dia é assim: filhos brincando, mãe trabalhando. Raquel não imaginava a dimensão que a Lua Nova poderia chegar nestes 15 anos. E pensar que tudo isso começou com uma história que não é dela. Raquel: E eu queria ter filho e não conseguia. Aí, eu resolvi fazer uma parceria com essas meninas e, de alguma forma, trabalhar com elas porque, na verdade, elas tinham filhos e não podiam

criar. O mais legal é que 2 anos DEPOIS eu engravidei, então foi um presentão.


E quem já viu a maioria das fases se apaixona, acredita! Tia Cláudia está na ONG desde o início. Cláudia: Mexia e me apaixonava cada vez mais, muita força de poder ajudar, e o vínculo que elas têm com a gente é muito grande, porque você tem que se envolver no dia a dia delas para você realmente conseguir trabalhar. Raquel: A gente trabalha muito com o lema «dando força para quem tem vontade». Quer dizer, essas meninas têm muito poder e muita vontade de mudar, o que elas precisam é de uma oportunidade e de um momento em que elas entendam que podem mudar e que existe esse talento delas para transformação.

O passado destruiu, o presente está construindo. A caminhada é longa e a vida esta apenas começando. Para o futuro existem os sonhos. Tatiane Cristina: Meu sonho é ser uma padeira, uma coisa que eu já sou. Uma coisa que eu já sou porque todo mundo elogia, fala que eu sou muito boa na cozinha. Fazer uma casa e colocar minha mãe e meus filhos pra morar junto. Karina: Meu sonho é sair daqui bem, não usar mais, arrumar um serviço e poder cuidar dela como eu cuidava antes. Eu vou lutar até o fim, vou lutar com todas as forças pedindo a ajuda de Deus, mas não vou abandonar a minha filha como o pai dela fez.


AUTONOMIA – EDUCAÇÃO E GERAÇÃO DE RENDA Acredita-se que a prática criativa constitui um instrumento poderoso de aprendizado e transformação humana, de forma que a valoração referida não diz respeito somente a materiais, mas também a pessoas e ao ambiente que as abriga. Para isso, organizar e efetivar espaços de aprendizagem e produção guiam a conquista de autonomia, que, ao mesmo tempo, funciona como espaço de aprendizado não formal e de elaboração de projetos de vida, uma necessidade básica para estas jovens, como para outras na mesma situação social. Percebemos que o entendimento de geração de renda e as ações voltadas para população vulnerável, especificamente mulheres, são ainda incipientes e carecem de maior atenção. Principalmente, porque acreditamos que gerar renda, e assim possibilitar a estas jovens a inserção em espaços para tal, é um dos fatores protetores de maior eficácia, sobretudo aqueles em situação de exploração sexual e uso abusivo de drogas.


Metodologia aplicada na Incubadora, de acordo com o nível do grupo em formação

Lua Nova e a Incubação Social: caminhos paralelos que se cruzam A vida me ensinou a caminhar Saber cair depois se levantar O tempo não espera Não há espaço pra chorar Andei no escuro agora vou brilhar (Marginal Menestrel – MV Bill)

Durante o processo de disseminação de nossas “Boas Práticas”, além do acolhimento, o foco vem sendo as ações desenvolvidas, desenvolvida no intuito de contribuir para o trabalho e para a vida. As atividades desenvolvidas na Geração de Renda baseiam-se num processo de formação na ação, de aprender fazendo e fazer aprendendo. Trabalhamos na forma de negócios inclusivos, a partir de oficinas produtivas de geração de renda e do método “Desafio” de aprendizagem, que parte das vivências pessoais das jovens e do grupo, criando métodos e produtos no coletivo. O foco do processo está no ato de aprender e concretizar uma ação empreendedora por meio da construção de um conhecimento realizado pelo jovem vulnerável, que passa a ser visto como um autor de seu fazer e estar no mundo. Dessa forma, são cada vez mais intensos os processos de Incubação Social promovidos na Lua Nova. E o fio condutor que tece as relações entre as ações desenvolvidas pela Lua Nova e pela

Incubação Social - tem como ponto de partida ser um processo educativo pautado no reconhecimento de que os beneficiários têm um saber e um potencial que precisam ser legitimados. Esse reconhecimento gera pessoas multiplicadoras, não apenas sob o olhar do outro, mas a partir do olhar do beneficiário. Dentro desta perspectiva de incubação, desenvolvemos o seguinte programa na Incubadora:


Nível Básico

Metodologia Street Kids

GMM

Intermediário

Avançado

Desafio

Escalada Empreendedora

Descrição É um processo de aprendizado de negócios criado especificamente para jovens em risco e sem privilégio, com idade acima de 15 anos. Este curso aumenta sua compreensão de economia, e habilita-os a criar ou melhorar suas próprias atividades de geração de renda Geração Muda Mundo (GMM) é um projeto de incentivo e apoio ao potencial do jovem como agente de transformação, desenvolvido pela Ashoka Empreendedores Sociais em parceria com organizações reconhecidas que trabalham com juventude Promove a criação de negócios inclusivos para a geração de renda, fomentando iniciativas que sejam econômica e ambientalmente sustentáveis, social e culturalmente inclusivas. O Desafio está formado por 10 etapas (veja figura na página 43). Cada tarefa tem um prazo de uma semana para a sua realização. Todos os grupos, ao finalizarem as 10 etapas no tempo correspondente, terão conseguido criar um empreendimento com produtos ou serviços de qualidade. Cada ano, acontecerão até 3 ciclos do desafio para que todos os beneficiários possam participar de um deles.

Tem por objetivo colocar todos os integrantes dos grupos de geração de renda em contato com conceitos e informações sobre associativismo, empreendedorismo, gestão e organização. Existe a possibilidade de acesso a microcrédito, compras em grupo e acesso ao canal de vendas.



Modalidades de grupos produtivos

E ESSE OUTRO TRECHO? Se cair os dentes, siga-me Se perder o emprego, siga-me Tá passando fome, siga-me Se perder o medo, siga-me Tá com olho gordo, siga-me Tem amor à vida, siga-me (Uma Declaração de Guerra – MV Bill)

Os pilares da Incubação Social vão ao encontro dos conceitos de Freire (1996) relacionados à construção dialógica, respeito ao saber popular e desenvolvimento de novos conhecimentos a partir da prática. Os melhores resultados em Incubação Social, são advindos daqueles em que o processo de incubação desenvolveu-se nas próprias comunidades, já que lá as ações se tornam mais efetivas e suas possibilidades podem ser mais bem aproveitadas por seu entorno. E este processo vem sendo fomentado na Lua Nova. Porém, alguns desafios ainda despontam neste setor, como a dificuldade em mobilizar as pessoas a iniciar o processo de incubação e, sobretudo, dar continuidade aos processos. A questão da educação e a ressignificação da

mesma também se faz urgente, uma vez que incubar iniciativas de empreendimentos sociais é reconhecer o saber não-acadêmico como tão importante quanto, e, sobretudo, criar instrumentos que permitam a comunhão destes saberes - muitos dos participantes não possuem o domínio da leitura e escrita em suas formas convencionais. Portanto, a criação de metodologias como o “Desafio” e o “Programa Lua Nova de Qualificação Profissional” são bons exemplos, embora ainda necessitem de maior monitoramento de seus resultados. Outro desafio é amarrar estas iniciativas numa rede que a fortaleça, pois a incubação também depende de financiadores, fluxogramas de atendimentos e outros atores sociais e suas organizações. Além disso, o poder público também é chamado a entender seu papel nos processos de Incubação Social, haja vista o amplo alcance de suas ações e a estabilidade de seu acesso a financiadores.


AS 10 etapas do ciclo de desafio Por exemplo, montar um grupo na comunidade de gerações de renda: 1. Reconhecer brilhos e potenciais é importância de conceber o potencial em prol da mudança e, assim, fazer com que elas entendam que esse brilho pode colaborar com sua saúde financeira, gerando renda. 2. Conceito/glossário: negócio inclusivo, geração de renda, incubadora, etc e vai colocando mais coisas) 3. Poder acreditar que ela pode gerar recursos e melhorar qualidade de vida. Cuidados que tem que tomar (não deixar o filho em segundo plano, não pode perder a identidade, necessidades e desejos, ninguém admite que elas possam ganhar pra ter desejos e tem que trabalhar isso


CONDOMINIO SOCIAL O Projeto Empreiteira Escola se baseia na autoconstrução de casas e a geração de renda através da venda de tijolos ecológicos (solo-cimento). Em 2005, o plano de negócios do projeto foi vencedor do prêmio “Empreendedor Social – Ashoka & McKinsey”, atraindo maior visibilidade e possibilidade de captação de recursos para a construção das residências. Em 2008, foi inaugurado o Condomínio Social, batizado com o nome de Manayá pelas jovens, um espaço comunitário com doze casas construídas por jovens mães.


PH Antonello Veneri


Desde a inauguração, foram acolhidas 24 famílias (mãe e filhos). Todas as jovens passaram por formação nos espaços profissionalizantes da Lua Nova. Dessas, 12 jovens também foram formadas nas técnicas de construção de tijolos ecológicos e protagonizaram a construção das 16 casas do Condomínio Social Manayá e Condomínio Novo. Grande parte das jovens desenvolveram vínculos saudáveis com a comunidade e habilidades de autocuidado e autoestima, que possibilitaram a melhoria de qualidade de vida com relação ao uso de drogas e situações de violência. Investir na geração de renda, além da profissionalização e formação pessoal da jovem, nos viabilizou a empregabilidade e inserção no mercado de trabalho, criando oportunidades e soluções para produzir ganhos e executar o projeto de vida. Hoje, algumas jovens atuam em cenários i n st i t u c i o n a i s e c o m u n i tá r i o s c o m o formadoras – na elaboração e operacionalização de eventos e oficinas, dentro e fora da Lua Nova, tanto como equipe de apoio (organização física) como de facilitação (palestrantes, ministrantes de aulas, entre outros).

falar na minha vida, entendeu? Acho que isso já é um desafio. Uma mulher carregar uma lata de concreto, sei lá, é muito pesado, um desafio também. Uma mulher construindo casa, piorou! Desafio também! Eu acho que tudo o que a gente faz aqui no dia a dia é um desafio. Rita: Quando eu cheguei, tinha as duas primeiras casas e os tijolos que eles faziam. Eu ajudei a colocar telhado, assentar tijolo, fazer tijolo. Angélica: Aqui na construção civil, a gente vem aqui, vai sentir um monte de dor, essas coisas. Mas é o começo, depois para. A gente acostuma os poucos. Rute: Ajudar as meninas a construir a casa e, um dia, ter a minha, criar minha filha e ter um trabalho. Porque a gente sem serviço não é nada. Márcia: Ter uma casa, sair do aluguel porque eu não aguento mais pagar aluguel, é um dinheiro que para mim não tem volta. E, sei lá, eu espero que, em 2008, eu entre com o pé direito numa casa minha. Angélica: O futuro para mim é trabalhar bem, me capacitar bem para dar um futuro melhor pro meu filho.

Angélica: Meu interesse aqui, na empreiteira escola, é me formar mais, me capacitar mais, poder fazer uma casa para mim, mais um cômodo para o meu filho. Clara: Eu vim trabalhar porque eu mudei de Sorocaba para cá e fiquei desempregada. Daí eu via as meninas aqui e me interessei e vim ver, e procurei tentar entrar. Márcia: Uma mulher pedreira eu nunca ouvi

PH Antonello Veneri

Márcia: Eu acho que ninguém para mim é incapaz. Enquanto a gente tem perna e braço, a gente tem tudo, entendeu? E por mais que a gente ache que não, sempre tem uma pessoa disposta a te ajudar. Construa você, infeliz, porque se você não tem, passe a ter. Se você sonha, se você quer, vai atrás, entendeu? Não fique de braços cruzados porque, infelizmente, não cai do céu. Angélica: Tem que ser batalhadora, não pode abaixar a cabeça, porque o preconceito vai ter muito, e ela tem que ser mais firme e mais forte. Rita: Eu sinto orgulho de ver isso, porque eu nunca mexi com nada disso e agora eu estou aprendendo essa profissão. Angélica: Eu sinto uma alegria imensa, o orgulho de ver que uma mulher conseguiu construir uma casa. Márcia: Isso levanta a autoestima de qualquer um, ver que, dependendo da pessoa que te ensina, se tem vontade mesmo de te ensinar, você aprende. Porque não tem, bicho de sete cabeças. Eu acho que o esforço de cada uma ajudou todos a chegar onde estão, e eu também.


WENDREWS CREAS-AM Conquistar a amizade, o carinho e a confiança das pessoas para me sentir incluída. Isso requer tratar as pessoas com respeito. DALIANE BARBOSA DA CRUZ Casa Mamãe Margarida Em se tratando de inclusão, no sentido de me sentir acolhida em qualquer ambiente que seja, a receita que tenho é sempre o tratamento com respeito e dignidade ao outro, para que eu possa receber o mesmo deste. A relação se solidifica quando buscamos nos desprender dos nossos preconceitos para com os outros e até mesmo conosco. Se desvincular de preconceitos é pontochave para incluir. Quando penso em inclusão, penso em pluralidade, o que convencionalmente chamamos de «diferente de nós». Logo, eu sempre busco incluir o outro para, também, me sentir incluída em qualquer situação. Estar aberta a novas ideias, experiências, novos conhecimentos também é uma receita de inclusão. LIDIANE FERREIRA CANDIDO Casa Mamãe Margarida Jamais ver o outro como diferente ou incapacitado. A inclusão está dentro de nós e se externaliza em todas as ações, das menores às grandiosas. Portanto, minha receita é observar quem sou por dentro, o que penso e me dispor a sair desse ovo, quebrar preconceitos e viver junto aos outros, experimentar, trocar conhecimentos e fazer o melhor que puder por si e por todos. CLARISSA GRASIELLA DA SILVA CÂMARA Candidata à Coordenadora do Projeto no Distrito Federal

INVESTIR EM UMA MELHOR EDUCAÇÃO, FORTALECER JUNTO À COMUNIDADE A NECESSIDADE DO FORTALECIMENTO DOS VÍNCULOS FAMILIARES E SOCIAIS. DAR OPORTUNIDADE PARA OS JOVENS, NÃO SÓ COM EMPREGOS E/OU CURSOS PROFISSIONALIZANTES OU SUPERIORES, MAS PROMOVER A CONSCIÊNCIA DE SUA IMPORTÂNCIA COMO PARTE INTEGRANTE DA SOCIEDADE, E QUE, POR ISSO, PODE E DEVE TER VOZ.


ÁRIEN DENISE KINM CHAVES LEVINO DE OLIVEIRA PROJETO ACOLHER/CREAS-SEMAS Ouvir e respeitar a história e o tempo de transformação de cada indivíduo, oferecendo, ao longo do processo de atendimento, estímulos que auxiliem na motivação pessoal. LÉA MARA DO NASCIMENTO Reciclázaro Casa de Simeão Apresentar às comunidades que todos somos protagonistas dentro da sociedade existente.

Bom, em minha opinião, receita já vem pronta, descrita como se faz, e com as medidas corretas. Inclusão não tem receita, tem ação, vontade de fazer, executar, ir atrás e principalmente saber o que significa ser solidário ao outro, sem pensar no que vai receber de volta. Ajudar alguém, e ver que seu esforço valeu a pena, é a melhor recompensa que você pode ganhar. TÉRCIA FABRÍCIA RODRIGUES WENDLAND Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas - CAPS AD Trabalhos com artesanatos, voltados para recicláveis desde papel, pet, retalhos etc. MARCUS AURÉLIO FREITAS MARTINS Sítio Betesda (MISCOM

LUCIANO FRANÇA RAMOS Associação Brasileira Terra dos Homens Acho que a receita para incluir é envolver a população nos projetos, mostrando que eles são cidadãos de direito. É importante também incluir os jovens na mobilização, em oficinas e cursos para que eles tenham perspectivas de vida. THAMIRIS DA SILVA BRUNO ROCHA Associação Brasileira Terra dos Homens Ser sempre verdadeiro. VANDO DOS SANTOS PAULINO Associação Reciclázaro

PH Antonello Veneri


Receitas de Inclusão Durante o processo de disseminação, coletamos quais seriam as receitas de inclusão que as pessoas gostariam de dividir umas com as outras. O resultado: um fotolivro de receitas. RECEITAS DE INCLUSÃO Esforço e coragem. Comunicação e enfrentamento. Acolhimento, respeitando o outro na sua individualidade, na sua essência e na sua potencialidade. Pensar em cidadania, em defesa dos Direitos Humanos, em respeito às diferenças e em qualidade de vida. Pensar em quanto podemos ser mais úteis e justos. Aprender, ensinar e estar sempre aberto às trocas de experiências. Para caminhar em direção a uma melhor qualidade de vida, devemos nos apoiar no que temos de bom, de forma a nos impulsionar para relações construtivas e proveitosas. Conquistar a amizade, o carinho e a confiança das pessoas para me sentir incluída. Isso requer tratar as pessoas com respeito. A relação se solidifica quando buscamos nos desprender dos nossos preconceitos para com os outros e até mesmo conosco. Se desvincular de preconceitos é ponto-chave para incluir. Quando penso em inclusão, penso em pluralidade, o que convencionalmente chamamos de «diferente de nós». Logo, eu sempre busco incluir o outro para, também, me sentir incluída em qualquer situação. Estar aberta a novas ideias, experiências, novos conhecimentos também é uma receita de inclusão. A inclusão está dentro de nós e se

externaliza em todas as ações, das menores às grandiosas. Portanto, minha receita é observar quem sou por dentro, o que penso e me dispor a sair desse ovo, quebrar preconceitos e viver junto aos outros, experimentar, trocar conhecimentos e fazer o melhor que puder por si e por todos. Investir em uma melhor educação, fortalecer junto à comunidade a necessidade dos vínculos familiares e sociais. Dar oportunidade para os

jovens. Não só com empregos e/ou cursos profissionalizantes ou superiores, mas promover a consciência da sua importância como parte integrante da sociedade, e que, por isso, pode e deve ter voz. Ouvir e respeitar a história e o tempo de transformação de cada indivíduo, oferecendo, ao longo do processo de atendimento, estímulos que auxiliem na motivação pessoal. Acho que a receita para incluir é envolver a população nos projetos, mostrando que eles são cidadãos de direito. É importante, também ,incluir os jovens na mobilização, em oficinas e cursos para que eles tenham perspectivas de vida. Ser sempre verdadeiro. Receita já vem pronta, descrita como se faz, e com as medidas corretas. Inclusão não tem receita, tem ação, vontade de fazer, executar, ir atrás e, principalmente, saber o que significa ser solidário ao outro, sem pensar no que vai receber de volta.


TRATAMENTO COMUNITÁRIO

Ao longo dos anos, percebemos que o processo de inclusão social se dá a partir da integração de ações de educação, trabalho, assistência básica e terapia no dia a dia. Assim, da mesma forma que a residência tenta atuar nestas frentes e proporcionar uma vivência da jovem na sua complexidade, buscamos promover esta acolhida cotidiana nas comunidades de onde vêm estas jovens. Iniciamos o Tratamento Comunitário para criar um espaço de acolhida dentro da comunidade e reproduzir o mesmo processo de quando ela está dentro da residência. Desse modo, a comunidade deve ser um grande espaço de acolhida com seus atores e com a participação das pessoas vulneráveis, que apoiam na transformação daquele espaço. Nossa ótica revela que tudo o que transforma está no cotidiano. Então, precisamos facilitar para que nosso espaço do dia a dia seja transformador.

PH Antonello Veneri

As características para a escolha de uma comunidade que exerça o trabalho da Lua Nova são: (1) locais onde se encontram jovens mulheres em situação de vulnerabilidade, uso e tráfico de drogas, pobreza; (2) locais onde há identificação e estimulação de potencialidades e habilidades; (3) comunidades de onde vêm as jovens residentes da Lua Nova. Atualmente, a Lua Nova está nas comunidades: Jardim Nova Esperança, Habiteto, Ipiranga, Vitória Régia, Santo André, Vila Helena, Sabiá, João Romão, Brigadeiro Tobias, Cajuru e Aparecidinha. Uma vez identificada a comunidade a ser trabalhada, a metodologia usada para construção de uma proposta de atenção adota os seguintes passos:


1. Criar vínculo com as pessoas da comunidade e líderes de opinião formal e não-formal, trabalhar dentro do conceito de rede

2. Resgatar e conhecer a história da comunidade na qual trabalhamos, coletar dados da mesma, potencialidade e vulnerabilidade do local

3. Construir um projeto de ação comunitária com a comunidade e com as jovens, criando assim o empoderamento das mesmas

Em muitas comunidades, o projeto evolui para a criação de Centros de Escuta, um local cuja proposta é oferecer um serviço de baixa exigência - espaços abertos que permitem fácil entrada e saída dos beneficiários -, de acesso para a escuta imediata, a orientação e o acompanhamento. O objetivo é dar uma resposta imediata para as demandas e necessidades da população local, especialmente os membros do público-alvo, usando os recursos presentes nas comunidades, sem se tornar um centro de assistência social. O Centro de Escuta é a fase final de um processo de prevenção primária, ou seja, um dos pontos de chegada de um processo de prevenção em uma comunidade. Os núcleos têm uma gestão compartilhada entre a Lua Nova e a comunidade. As jovens formadas em Redução de Danos ajudam a administrar e descobrir novos talentos no bairro, além de atuarem como cuidadoras, apoiando outros jovens nos temas das drogas, sexualidade, violência e maternidade.

PH Antonello Veneri


DISSEMINACAO AVALIAÇÃO Disseminação – projeto ações integradas O Projeto Ações Integradas começou em setembro de 2010. O convite partiu da SENAD, propondo que a Lua Nova qualificasse o atendimento dos programas de atenção a jovens mães usuárias de drogas e outras vulnerabilidades. Esses programas foram desenvolvidos por organizações da sociedade civil e do poder público a partir das nossas aprendizagens. O Projeto de Implantação da Lua Nova acontece em um grupo 10 municípios de Estados diferentes.

DE IMPACTO

A Lua Nova acredita que seu desenvolvimento se dá pelas suas parcerias, e que o compartilhamento das melhores práticas trouxe e está trazendo melhores resultados e maiores impactos na atuação de todos os parceiros envolvidos. Além disso, o problema da inclusão social de grupos de risco e marginalizados está longe de ser resolvido em Sorocaba, no Brasil e no mundo. Quanto mais organizações atuarem neste sentido, mais próximos estaremos de encontrar políticas públicas viáveis para resgatar a autoestima destas pessoas que a sociedade tão comumente exclui.

Após de dez anos de existência, a Lua Nova passa atualmente por um processo de reestruturação da forma como são avaliados os projetos da organização, criando um sistema de monitoria que possa medir o real impacto das nossas intervenções, além de permitir um ciclo de aprendizado e melhoria contínuos. Além disso, acreditamos que em um futuro próximo as doações e os demais recursos financeiros destinados a fins sociais estarão mais e mais voltados a investimentos de impacto em ONGs, e para manter seu diferencial a Lua Nova necessita de uma ampla caixa de ferramentas que demonstre seu impacto e sucesso na busca de sua missão. Para identificar a transformação e o impacto da ação da Organização, há que se levar em conta a situação inicial da jovem, de acordo com os parâmetros do que se definir por situação de vulnerabilidade. Dessa forma, para as mesmas áreas de observação (educação, saúde, trabalho, família, moradia e vida social), podem se estabelecer como situação de vulnerabilidade:


Área de observação

Situação de vulnerabilidade Ser analfabeto funcional, independente do grau de instituição

Educação Saúde

Não ter o Ensino Fundamental ou não o ter completo Não conhecer qualquer ofício ou não ter descoberto seu potencial para o trabalho Padecer de moléstia grave, curável ou controlável com medicação, mas não fazer tratamento Não ter vínculo ou não utilizar a rede de atores ligados à saúde Fazer uso/abuso de drogas legais ou ilegais Desenvolver atividades que coloquem sua incolumidade física em risco (como prostituir-se por exemplo)

Trabalho

Estar sem trabalho, não estar inserido em nenhum programa assistencial, não possuir qualquer fonte de renda ou possuir fonte precária Desenvolver atividades ilegais como meio de subsistência Desconhecer a família de origem, ter perdido o vínculo com os familiares

Família

Ter sido desligado da família de origem em razão de violência, maus tratos, abuso sexual ou trabalho infantil Ter companheiro violento (concepção ampla), que incentive o uso de substâncias, que represente risco para os filhos Praticar maus tratos (concepção ampla) contra os filhos, ter perdido a guarda ou o poder familiar, ser negligente quanto à saúde e educação


Área de observação

Situação de vulnerabilidade Estar em situação de rua, habitar moradia precária, sem saneamento básico ou viver em espaços coletivos super-habitados

Moradia

Viver em moradia situada em zona de risco, área de desapropriação, em comunidade que favoreça o uso de drogas ou atividades Ilegais Viver em situação de exclusão, sem grupo de referência; não referir amigos, familiares ou vínculos afetivos positivos

Vida social

Não estar inserido em nenhum programa assistencial, de proteção à saúde, educativo, de operação de renda Não participar de grupos ou agremiações da comunidade onde está inserida (vínculos positivos)

Todas as jovens ingressam na Lua Nova em razão de um risco principal. Outros poderão ser identificados durante o período de permanência no programa. O objetivo final da Lua Nova é sempre que a jovem deixe o programa através da integração social, ou seja, que deixe a Organização podendo garantir seu sustento e de seu filho, através do exercício de um trabalho digno e lícito; que conte com uma moradia em plenas condições de habitabilidade e um mínimo de conforto; que ofereça ao seu filho uma relação saudável, visando ao seu pleno desenvolvimento; e que mantenha vínculos com atores sociais que funcionem como uma rede de proteção.


"Eu nunca tive uma família presente, passei por vários abrigos durante minha infância e adolescência. Quando minha filha nasceu, foi muito difícil. Eu não estava preparada para ser mãe e nem desejava isso naquele momento. Tinha 17 anos e muitas responsabilidades. Na Lua Nova, fui percebendo que ser mãe é muito especial, ver o sorriso na minha filha é tudo para mim. Eu hoje sou para ela o que nunca tive quando criança. Para o trabalho e a escola, eu não dava importância, mas depois de um tempo vi que é preciso ter uma profissão. Aqui também aprendi que nada na vida é fácil, mas temos potencial para conseguir alcançar nossos objetivos, basta segui-los com persistência, perceber nosso potencial e estar preparada para as oportunidades.” Alessandra

O impacto da intervenção na transformação da dificuldade principal pode ser direto ou indireto. A intervenção na área do trabalho, por exemplo, pode causar impacto positivo também na área da saúde. A intervenção no vínculo mãe-e-filho pode causar impacto positivo na relação da jovem com o grupo familiar de origem, já que uma mínima mudança pode desencadear todo um processo de transformação. Todavia, há que se verificar se a dificuldade principal - apontada como fator de desencadeamento para as demais dificuldades, ou como única situação de dificuldade - sofreu transformação ou não. Todo o processo é avaliado pela equipe em reuniões semanais, além de reuniões periódicas com as jovens, individualmente e em grupo, para verificação das metas traçadas no plano de intervenção. De maneira geral, serão considerados como casos de sucesso aqueles que apresentarem transformação em relação à dificuldade principal e, no mínimo, às áreas da família (em relação ao filho), do trabalho, da moradia e da vida social.


Desafios da gestão: A equipe Com perfis, trajetórias e formações variadas, os funcionários e colaboradores da Lua Nova compõem uma equipe diversa e, por isso, complementar, com quem a jovem estabelece relações diferenciadas e significativas. Área Administrativa Núcleos Comunitários CAPS AD Central de Vendas Residência Lua Nova Incubadora de Habilidades Voluntários

Antes de seu currículo, os profissionais devem apresentar suas propostas e ideias para o desenvolvimento da entidade. Ser transparente, honesto e acreditar que as jovens e seus filhos têm talentos são os principais critérios de seleção. A equipe é enxuta e está sempre em formação – seja em cursos externos ou na própria Lua Nova, em que se capacitam, fazem supervisão de casos, trocam informações e propostas com os demais. Quando a Lua Nova deseja contratar, também dá oportunidade a jovens que já foram residentes.


Desafios da gestão: Administração, captação de recursos e parceiros

Como nos mantemos Sustentamos nosso trabalho por meio de convênios com órgãos públicos, parcerias, financiamento de empresas privadas, trabalho voluntário e doações. Mas, nossa principal receita de sustentabilidade é um trabalho sério, transparente e participativo. Sem a parceria com as jovens seria quase impossível ter sobrevivido até hoje.

Importância da administração Arriscamos dizer que administrar uma organização social é muito mais difícil do que uma empresa. Comumente, precisamos trabalhar com recursos que ainda não chegaram, sempre lidando com imprevistos. Administramos recursos que não são nossos. A transparência e a clareza na prestação de contas são vitais para manter os apoiadores no longo prazo. Ter uma boa estrutura administrativa e contábil é, portanto, fundamental para a sobrevida de uma organização social.


Quanto custa Em 2014, o atendimento a uma mãe e um filho - incluindo alimentação, despesas com medicação, residência e transporte custa em média 1.200 reais por mês. Cabe lembrar que também utilizamos os recursos da comunidade, como postos de saúde e escola. O tempo de permanência é de, aproximadamente, um ano. Contudo, a jovem começa a gerar sua própria renda após um período de estadia.

Estrutura organizacional Administrativo Financeiro Recursos Humanos

Street Kids Consulado da Mulher Aliança Condomínio Porto Feliz

Coordenador (a) Técnico Executivo República, voluntários, crianças escola

Autonomia

Acolhimento

Tratamento Comunitário

Entre Nós Consultório de rua GMM

Gestão de casos Banco de dados Desafio Incubadora Abrigo Tratamento

Formação, Escola, Informação, Elaboração de Materiais e Instrumentos Disseminação

Relações Internacionais


A Lua Nova incentiva a contratação de profissionais que, normalmente, fazem parte de grupos de minoria, os educadores pares - por exemplo, mulheres, ex-usuários de drogas, moradores de rua -, com extensa experiência em campo, muitas vezes p a r e s d o s p r ó p r i o s beneficiários/atendidos. Acreditamos que essas pessoas têm grande capacidade de se relacionar e se comunicar de forma mais eficiente e

direta, além de, muitas vezes, terem sentido na própria pele a discriminação sofrida pela população-alvo. A organização procura, em toda a extensão de suas atividades, oferecer oportunidades àqueles que, comumente, têm suas oportunidades negadas e vivem à margem da sociedade. Portanto, evitamos quaisquer critérios de seleção que possam transmitir a mensagem de que um beneficiário não é adequado/bom o suficiente para ser atendido pela Lua Nova.


lua nova Mulher Fazedora de Mudança, uma alusão ao merecido prêmio Woman ChangeMakers: A vida me ensinou a caminhar, saber cair, depois se levantar, o tempo não espera, não há espaço pra chorar, andei no escuro agora vou brilhar (Marginal Menestrel – MV Bill)

É impossível separar o autor de sua obra, e esta máxima fica evidente na Associação Lua Nova, ONG que atua há mais de 10 anos com acolhimento de jovens mães e seus filhos. Através de metodologias de valorização e empoderamento, desenvolve centros de geração de renda para mulheres, através de intervenções diferenciadas nas questões relacionadas ao uso de drogas, AIDS, exploração sexual, prostituição e gravidez na adolescência. Raquel Barros, presidente-fundadora da Associação, impossibilitada de ter filhos, via na gravidez dessas jovens mães a grande matéria transformadora e, portanto, estabelecia parcerias com elas num processo de troca, onde cada um tem algo a dar e a receber, a aprender e a ensinar. Num aspecto você é professor, no outro é aluno. Num determinado momento você oferece e em outro você recebe, equilibrando as relações.

ENCONTRAR O BRILHO DAQUELES QUE PARECEM NãO BRILHAR Este equilíbrio é resultado de um exercício diário que a Lua Nova se compromete a realizar: encontrar o brilho daqueles que parecem não brilhar. Em outras palavras, possibilitar a estas jovens a mudança de status de desprovidas e vítimas para guerreiras de um mundo desigual, autoras de seu fazer e estar no mundo. As filhas de Raquel nasceram, cresceram e continuam lindas, assim como novos e ousados projetos foram acontecendo. Novos encontros. E a Lua Nova foi se consolidando como um laboratório de ideias, no qual testamos metodologias, ferramentas, criamos instrumentos, enfim, desenvolvemos nossas ações assumindo a dinâmica da realidade social. Se a realidade muda, nossa interlocução com ela deve mudar também!


Assumir esta perspectiva é bastante audacioso, mas a audácia é uma das características de Raquel, empreendedora social reconhecida pelos resultados alcançados junto às jovens mães. Hoje, a Lua Nova empreende novos sonhos a cada dia, propiciando espaços democráticos de desenvolvimento social. Porém, muitos destes sonhos não se transformariam em realidade, se não fosse a existência de uma rede, tecida ao longo dos anos, integrando beneficiários, comunidade e colaboradores. Rede esta que se amplia, estica e alcança outros estados e até países. Neste processo de ampliação e cultivo desta rede, as parcerias e brilhos se agregam, trocamos “boas práticas” e, assim, potencializamos os efeitos de nossas ações para um bem comum. E o fio condutor que tece as relações entre as ações desenvolvidas pela Lua Nova e sua rede têm, como ponto de partida, um processo educativo pautado no reconhecimento das jovens como potenciais multiplicadoras, não apenas sob o olhar do outro, mas a partir de seu próprio olhar. Espaços de educação não formal para experimentação de habilidades, centros de escuta e diferentes comunidades constituem o palco que acolhe nossas ações e nos convida a aprender, ensinar, co-construir e ressignificar .


Referências Bibliográficas BARROS, Raquel. Desafio guia do facilitador: um jeito divertido de gerar renda. Brasília: SENAD, 2012. _____________. Família adolescente: em constante busca de um lugar. In: BEDOIAN, G.; FENDER, J. (Org.). Mundo da Família - Conceitos e Manejos do Atendimento. São Paulo: Projeto Quixote Área Ensino e Pesquisa, 2010. p. 31-38. _____________. Força da Maternidade. In: UNESCO. Criança Esperança - 25 anos criando oportunidades. Brasília: UNESCO; Rio de Janeiro: TV Globo, 2010. p. 144-147. BARROS, Raquel; JABUR, Mariana. 2011. Lua Nova: Sistema baseado em relações. Manuscrito não publicado. BARROS, Raquel; LISBOA, Valéria Cristina Antunes. Vulnerabilidade, modelos de intervenção e busca de potencialidades. In: GARCIA, Marcos Roberto Vieira; FRANCO, Yoko Oshima (Org.). Usuários de drogas: da invisibilidade ao acolhimento. Sorocaba: Eduniso, 2013. p. 127-141. BILL, Mv. Uma Declaração de Guerra. Belo Horizonte, MG: Letras.mus.br, 2002. Disponível em: <http://letras.mus.br/mv-bill/97243>. Acesso em: 25 ago. 2012. BOWLBY, J. Uma base segura: Aplicações clínicas da teoria do apego. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. EIGUER, Alberto. Um divã para a família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia - Saberes necessários à prática educativa / Paulo Freire. São Paulo: Paz e Terra, 1996. MILANESE, Efrem. Tratamento Comunitário - Manual de Trabalho I Conceitos e Práticas. 2. ed. São Paulo: Instituto Empodera, 2012. MINUCHIN, Patricia; COLAPINTO; Jorge. MINUCHIN, Salvador. Trabalhando com famílias pobres. Porto Alegre: Artmed, 1999. MINUCHIN, Salvador. Famíias: Funcionamento e Tratamento. Porto Alegre: Artmed, 1990. MORIN, Edgar.Cap.III Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 2ed. Brasília: UNESCO; São Paulo: Cortez, 2000. p. 47-115. Narrativas das residentes da Lua Nova. Narrativas dos parceiros de projetos Municipais, Estaduais e Federais.



Lua Nova Dando forรงas para quem tem vontade www.luanova.org.br


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.