Coleção Lua Nova Vol4

Page 1

Lua Nova Coleção Associação Lua Nova Volume 4

REDES SUBJETIVAS DE TRANSFORMAçAO SOCIAL




Presidenta da República Dilma Vana Rousseff Vice-Presidente da República Michel Miguel Elias Temer Lulia Ministro da Justiça e Presidente do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas José Eduardo Martins Cardozo Secretário Nacional de Políticas sobre Drogas Vitore André Zílio Maximiniano Revisão de Conteúdo Equipe Técnica – Senad Diretoria de Articulação e Coordenação de Políticas sobre Drogas Coordenação Geral de Políticas de Prevenção, Tratamento e Reinserção Social


O conteúdo intelectual dos textos é de responsabilidade dos organizadores e representantes da Associação de Formação e Reeducação Lua Nova e não expressa, necessariamente, a posição da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas.

Associação Lua Nova COORDENAÇÃO GERAL Raquel Barros

Venda Proibida. Todos os direitos desta edição reservados à SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS (SENAD). Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida ou gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Secretaria Nacional sobre Drogas.

PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Maysa Mazzon Mariana Jabur Gustavo Dordetto Letícia Firmino Yame Vieira Pâmela Coimbra

Direitos exclusivos para esta edição: Secretaria Nacional sobre Drogas – Senad Esplanada dos Ministérios Ministério da Justiça Bloco T, Edifício Sede. 2º Andar, Sala 208 Brasília – DF, CEP 70.064-900

EDIÇÃO GERAL E REDAÇÃO Cinthia Azir Iza Justino Silvina Mojana REVISÃO Lívia Gusmão PROJETO E EDITORAÇÃO GRÁFICA Silvina Mojana Melina Gutierrez IMAGENS Silvina Mojana Antonello Veneri AGRADECIMENTOS Efrem Milanese Irene Serrano ISBN: 978-85-69408-04-8


PREFÁCIO A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) é o órgão do Governo Federal responsável pela articulação de políticas públicas de prevenção, tratamento e reinserção social de usuários e dependentes de drogas. Essa missão exige um esforço conjunto, no qual todos os agentes governamentais ou não governamentais podem - e muito - contribuir. No Brasil, muitas iniciativas para prevenção, tratamento e integração social de usuários e dependentes de drogas merecem destaque, e a Senad vem buscando identificar boas práticas, investir no estudo e registro para sistematizálas e possibilitar que sejam referência em outras localidades. Esforços advindos de diferentes setores da sociedade estão envolvidos na atenção ao uso abusivo de drogas, empregando pesquisas, recursos e operações, visando eliminar as situações de vulnerabilidade causadas por elas. São escassas as iniciativas voltadas para as pessoas que fazem uso, ou na relação que desenvolvem no processo de vinculação com as drogas. Nesse diapasão, os agentes de transformação ganham cada vez mais espaço para uma melhor abordagem junto ao usuário, apresentando caminhos possíveis que nascem do encontro com ele, promovendo diálogos pouco abordados e explorados. Nos espaços voltados para cuidado e atenção ao usuário de drogas, o olhar e as práticas sobre este clamam por transformações - desde

mudanças nas metodologias e ferramentas de intervenção junto ao indivíduo e sua comunidade, como a mudança no próprio objeto da intervenção. Desse modo, o foco, antes apenas no usuário, passa a abranger a comunidade na qual ele vive e estabelece diversas relações, buscando oferecer as mais variadas e ricas oportunidades de interações, ampliando sua rede. A Experiência da Lua Nova, sistematizada nestes quatro volumes e em sua segunda edição, nos convida a mergulhar nesse olhar e, sobretudo, nos instiga e prepara para disseminar essa visão em espaços que desejam assim fazê-lo. Afinal, desenvolver a metodologia da Lua Nova não implica ter um prédio ou uma estrutura para acolher jovens mulheres usuárias de drogas, e seus filhos, e sim estabelecer relações de parceria e troca com essas jovens, focando em suas potencialidades e brilhos. A leitura da sistematização das experiências da Lua Nova nos empresta as “lentes da inclusão” para que possamos desenvolver e praticar novos olhares baseados no estabelecimento de relações nas redes, nas trocas de potenciais e saberes e na participação como principal instrumento de intervenção. O livro é dinâmico, complexo, recheado de possibilidades a serem empregadas em contextos de vida de pessoas em sofrimento social, que vivenciam questões como pobreza, injustiça social, prostituição ou abuso sexual -

embora tais temas não ocupem o centro do trabalho na Lua Nova. As pessoas são o foco principal; as vulnerabilidades assumem o pano de fundo da história. Portanto, profissionais em busca de estratégias mais inovadoras e metodologias mais sensíveis para estes contextos encontrarão inspiração nestes livros. Equipes de trabalho de diferentes políticas públicas que buscam caminhos para garantir a participação e a adesão dos usuários nos serviços para eles voltados também encontrarão possibilidades nestes livros. Pessoas que já estiveram em situação de risco, usaram drogas e vivenciaram ou vivenciam situações de sofrimento social também podem mergulhar no livro e encontrar motivação para buscar seu brilho - que, às vezes, parece apagado, mas que está apenas adormecido, necessitando de oportunidades. Gestores públicos à frente de estratégias e planos integrados voltados para atenção ao usuário de drogas encontrarão, nestes livros, propostas interessantes e caminhos instigantes. Organizações não Governamentais, Associações comunitárias, enfim, diferentes atores que buscam usar as “lentes da inclusão” encontrarão diálogos possíveis nestes livros. Boa leitura! Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas


SUMÁRIO História da Comunidade.....................................................................................................................8 Educadores..............................................................................................................................................10 Construções das redes subjetivas............................................................................................29 É nóis na rua...........................................................................................................................................38 Querem conhecer um SIDIES?.....................................................................................................44 Fotos da Comunidade........................................................................................................................51 Processo...................................................................................................................................................63 Redes que ampliam...........................................................................................................................77 Bibliografia...............................................................................................................................................83


REDES SUBJETIVAS DE TRANSFORMAรงAO SOCIAL

Lua Nova Dando forรงas para quem tem vontade www.luanova.org.br


Lua na comunidade Cada pessoa da equipe contava com o apoio de usuários e da comunidade. Sérgio, que era psicólogo, também atuava como apoio no trabalho de Amon, responsável da lavanderia, e na comunidade de Vitória Régia tinha como referência a Fátima, uma líder comunitária que nos emprestava a casa para que fizéssemos os grupos. Era como se, ao construirmos a engrenagem CAPS AD, drop in e ações comunitárias, acessássemos especialistas (expertos) para cada ação e integrássemos os vários grupos, com suas respectivas funções - complementares entre si. Difícil descrever, mas, por exemplo, no CAPS o André era motorista, mas na comunidade era líder e, ao mesmo, tempo professor do curso de tapete e aluno no curso de vidro. Cada função que eles assumiam nesta engrenagem trazia para ela suas redes. Esse movimento em engrenagem e flexível dava poder a todos e, ao mesmo tempo, fazia-os colaboradores e coordenadores. O todo era mais que a soma das partes, era a composição minuciosa delas em funções e ações específicas que valorizavam as habilidades de cada um e ampliavam a ação dos membros de sua rede. A equipe era composta não somente de técnicos, mas de todos os participantes do CAPS (BARROS, 2010). Comunidade, redes, recursos, articulação e parceria são temas que compõem este volume. Cada pessoa vista como uma rede. Cada rede, um potencial de transformação.

A COMUNIDADE DEIXA DE SER UM ESPAÇO FÍSICO PARA SER UM ESPAÇO FÉRTIL DE RELAÇÃO, DIVERSIDADE, PROTEÇÃO E SOLUÇÃO. A partir da necessidade de avançar na busca de respostas mais eficazes para as jovens e seus filhos, a Lua Nova abriu seus muros e procurou trabalhar na perspectiva de construir laços com o entorno e com as comunidades de onde originavam estas mães.

HISTÓRIA DA COMUNIDADE A comunidade como portagonista - esse é nosso desafio, nosso diferencial e nossa riqueza. Trabalhamos sobre o resgate das incontáveis histórias que elas apresentam, sobre as inúmeras potencialidades que elas têm, em cada rua, em cada pessoa, em cada amanhecer.

Comunidade, rede e parceria são os temas principais deste livro, propondo ações que valorizam a sintonia dentro do tratamento, prevenção, redução de danos e integração junto à comunidade, onde a integração da prática de rede respeita a diversidade social, protegendo as pessoas vulneráveis seja na área de drogas ou em outros problemas sociais. Abandonar a visão da cura como algo que deve acontecer “entre muros” e incluir a comunidade como ator desse processo (MILANESE, 2012), este é o convite que este livro faz aos seus leitores.


O ENCONTRO COM A COMUNIDADE Contar a história da Lua Nova na Comunidade nos faz reviver parte da história da Redução de Danos em Sorocaba/SP. O Projeto de Redução de Danos (PRD) iniciou em 1997, através dos chamados “trabalhos no campo”. Na época, por volta de 60% dos pacientes soropositivos atendidos no Conjunto Hospitalar de Sorocaba haviam sido contaminados através do uso de drogas injetáveis (Relatórios do Programa Redução de Danos - 2001/2002). Estes mesmos UDIs (Usuários de Drogas Injetáveis) que frequentavam o serviço de Moléstias infecciosas do conjunto hospitalar foram selecionados para trabalhar com seus pares em 4 áreas/campos mais críticas da cidade de Sorocaba. Em 2000, aconteceu o encontro da Lua Nova com o Programa de Redução de Danos (PRD) “Tô Sossegado”, idealizado e conduzido pela Dra. Vilma, hoje supervisora do Programa “Entre Nós: Política Sobre Drogas” do município de Sorocaba. Juntos passaram a desenvolver um trabalho comunitário, possibilitando a integração social das jovens mães - e seus filhos - como multiplicadoras e redutoras, dialogando com a comunidade. O trabalho incluiu ir a campo, em boates da cidade, mantendo as ações de informação, troca de seringas e preservativos, encaminhamentos médicos e psicossociais, e acrescentando a estes as ações de envolvimento comunitário e fortalecimento de suas redes. O objetivo era diminuir a distância entre usuários de drogas, pessoas contaminadas pelo vírus HIV, profissionais do sexo e a comunidade local, buscando pontes sólidas e efetivas entre estes e demais atores dos bairros e comunidades nas quais atuávamos.

SONHOS Acreditamos que as mudanças só acontecem quando encontramos razões, quando encontramos sentidos. É por isso que nosso trabalho começa com a descoberta de sonhos, de gostos e prazeres, desde os cotidianos, para juntos buscarmos sua realização.


EXPERIÊNCIAS EM COMUNIDADE

Todas as pessoas que passan por nossas formações têm uma mala cheia; de experiências, de histórias; Para nós os especialistas são eles, que olham, vivem, sentem a comunidade, aqueles que fizerem a faculdade daqueles; que criam, que buscam e que acham as alternativas para fazer melhor o seu dia a dia, em cada passo, em cada caminhar

PRINCIPIO DE TROCA Com esse trabalho as jovens da Lua Nova podiam participar ativamente de processos d e transfo rmação dos hábitos e comportamentos de pessoas em situação de vulnerabilidade. Isto lhes dava um status no qual, ao mesmo tempo que recebiam na Lua Nova, podiam dar para a comunidade. E por que mudança de status? Um dos principais focos do trabalho da Lua Nova é estimular a participação com poder. Para a Lua Nova a integração social é um processo de participação ativa, consciente e permanente. Não entendemos a integração social como algo que vem depois, algo que sucede uma “preparação” ou “maquiagem” das meninas para que sejam aquilo que a b“sociedade quer que sejam” - quando já fizeram um curso de computação, e conseguiram um emprego com carteira assinada. A integração social começa quando a menina chega e ocupa um espaço de destaque no cotidiano da Lua. Nossa lógica baseia-se em encontrar potencial onde parece não haver e concretizá-lo em ações, em vivências de troca e não de dependência da estrutura e da equipe. Para haver qualquer transformação (pequena, grande) deve haver rede. O que é rede? Rede é muito mais que um conjunto de instituições que se encontram uma vez por mês para discutir determinado assunto. Rede é relação. Relação é troca. Trocar é dar e receber ao mesmo tempo, é reciprocidade.

O que se troca? Trocamos a nossa potencialidade, nossos recursos. Aquilo que eu tenho de bom e que o outro quer, aquilo que tem de bom no outro e eu quero. Quero no outro o que pode ser bom para mim. Não quero do outro aquilo que não gosto e sim aquilo que eu identifico como seu potencial. Trocamos então o que existe no outro e não o que o outro não tem. A receita de como promover a transformação da qualidade de vida de uma pessoa em situação de vulnerabilidade, é encontrar nele/nela um potencial, por menor que seja, e que você queira trocar. Um sorriso, uma habilidade, u m comportamento, qualquer coisa que permita que aquela pessoa te dê ao mesmo tempo em que esta recebendo. Ao contrário, promover o lado vulnerável é a receita ideal para perpetuar a exclusão. Quando dizemos a um usuário de droga que não deve usá-la, que a droga faz mal, que ele não se comporta…Estamos valorizando suas debilidades e dizendo a ele que não pode trocar. E quem não troca não transforma. Se em vez de valorizar seu lado droga, buscamos algo nesta pessoa que nos agrada (todos temos potencialidades, brilhos) estamos dizendo a ela que estamos disponíveis para estar junto, para trocar e,articular. Se existe troca de potenciais existe relação, e se existe relação existe rede e, desta forma, existe transformação.



MERGULHANDO NAS COMUNIDADES No ano de 2002, através da Caritas da Alemanha, Lua Nova e Reciclázaro (ONG parceira que atua com moradores de rua), foram convidadas a participar da construção de uma proposta de intervenção comunitária (Tratamento Comunitário baseado no modelo Eco2 O exercício proposto por Caritas foi o de desconstruir nossas simples respostas voltadas ao problema da droga, o que não sempre ajudava a mudança da qualidade de vida das pessoas, e reconstruir nossas praticas através do trabalho das redes inserindo a comunidade como protagonista e parceira. Com este trabalho iniciamos a vivenciar na prática o conceito sofrimento social, ressaltando que a questão da droga é apenas o resultado de um mal-estar mais complexo o qual tem a comunidade como um ator importante. Com a experiência de Caritas passamos a valorizar os “expertos” na questão da droga e não apenas os especialistas como fazíamos até então. Um “experto” é uma pessoa que tem profundo conhecimento do tema, pela sua experiência, vivência e não por haver estudado (especialista). Essa abordagem propõe também que especialistas e expertos atuem junto a comunidade para a busca de recursos e solução de problemas. Outra grande contribuição desta parceria foi o exercício de

registrar e sistematizar nossas experiências e adquirir assim elementos importantes para avaliar nossos impactos e resultados. A partir deste encontro com o Tratamento Comunitário, passamos a amadurecer nossas ações e crescer com as ricas experiências advindas de intercâmbios com instituições latino-americanas que, junto conosco, contribuíram para que o Tratamento Comunitário se desenvolvesse. Aprendemos com a experiência madura e estruturada dos colegas do México que com seu arcabouço teórico significava e re significava o fazer; da Colômbia, a capacidade de fazer em ambientes difíceis e a seriedade no sistematizar e avaliar suas experiências; de Centro América, a intensa articulação com o poder público e com as universidades a fim de ampliar o impacto de pequenas ações e do Chile, a capacidade de ampliar e escalar uma ação. Hoje estes países junto a Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e,Peru formam a RAISSS (Rede Americana de Intervenções de Situações de Sofrimento Social) uma rede composta por redes de organizações da sociedade civil que atuam com o Tratamento Comunitário. Também em decorrência deste encontro, a partir de 2003 a Lua Nova inicia o uso dos instrumentais de acompanhamento da Implantação do Tratamento Comunitário (Ficha de Primeiro Contato e o Diário Clínico e Avaliação CBT), que sistematizam os dados e permitem monitorar e avaliar os resultados obtidos junto a estas intervenções. A equipe da Lua Nova e da redução de danos, agora


uma única equipe trabalhou no sentido de reestruturar as ações de campo incluindo novos atores sociais como: líderes comunitários, pessoas ligadas as igrejas, espaços de agregações comunitárias. Foi fundamental a formação da equipe para a ampliação da visão do trabalho (inicialmente o olhar estava voltado para a doença, o problema é com a proposta de Tratamento Comunitário, passamos a pensar no contexto, nas interações e não mais de indivíduos sozinhos). Lua Nova passou então a participar dos processos construção de políticas públicas locais e nacionais. Participamos como boa prática do Curso de Conselheiros da Secretaria Nacional Sobre Drogas ministrado a conselhos municipais de direito da criança e adolescente, de segurança, tutelares, de saúde. Este curso estáé baseado na estruturação de redes colaborativas como resposta a questão do uso de drogas.


TRATAMENTO COMUNITÁRIO E REDES Buscamos atuar desde a ampliação dos olhares, a inclusão de diversas metodologias e conhecimentos, a conjunção deles. Buscamos reconhecer vínculos, criar relações, propiciar encontros. Porque acreditamos nas pessoas, nas suas histórias e seus recursos.

TRATAMENTO COMUNITÁRIO: UMA PROPOSTA DE Inclusão/ Inserção e INTEGRAÇÃO SOCIAL Incluir é “colocar dentro. Inserir é incluir com ordem. Integrar é articular, relacionar Efrem Milanese – Guia de Integracion Social – CICAD/ OEA A identificação imediata da Lua Nova com a proposta do tratamento se deu pelo fato de que esta metodologia: 1. Respeita aquilo que nós fazemos, não vem com um modelo pronto e sim organiza, complementa e articula as propostas existentes; O Tratamento comunitário é uma proposta que complementa, não pretende ser uma modalidade alternativa, não substitui e sim articula e íntegra. Trascrição da Palestra de E Milanese na Universidade Catolica de Assuncion Paraguai.Inserisci qui? 2. Comunica e sistematiza as ações e resultados, de uma maneira diferente; através do registro diário e a utilização dos instrumentos de acompanhamento e avaliação eatravés de um registro diario de informação critica sob a processo de tratamento comunitario utilizando ferramentas que facilitam a organização do trabalho da equipe e a avaliaao dos resultados resultados e do processo.


3. Amplia a possibilidade de integração social com o foco nas articulações das redes, isto é nas relações entre as pessoas, mais que nas próprias pessoassem esquecer a importancia dos atributos das pessoas. É uma proposta inclusiva, que não apaga as outras abordagens e suas culturas profissionais, e sim valoriza para planos presentes e futuros e suas conquistas e sim a valoriza para planos futuros. Com o Tratamento Comunitário foi possível passar do enfoque de saúde pública, doença (referindo-se ao problemático de drogas) ao enfoque de ação social. O uso da Droga faz parte de um processo social, sendo assim deve ser considerado seu contexto, o qual é permeado por relações. O tema “Drogas” na perspectiva de saúde pública é um tema médico enquanto que a ação social inclui ao processo outras pessoas e recursos.

SAÚDE PÚBLICA

Doença

Aprendemos que o que garante a continuidade do processo de ajuda é a qualidade da relação mais que a qualidade da ajuda – Transcrição Universidade Católica

OS ELEMENTOS DO TRATAMENTO COMUNITÁRIO Do Modelo Eco2 O Tratamento Comunitário é constituído por 5 eixos de atuação e 2 componentes transversais elementos fundamentaisquesto è nuovo anche per me. Preferirei chiarmali "tres macroprocessos: Eixos de atuação, Os cinco eixos de atuação

PREVENção Organização

INTEGRAÇÃO SOCIAL Comunidade como sistema de redes

Assistencia Basica/ Redução de Danos

Diagnóstico clínico Identificação de recursos Especialistas Indivíduos saudáveis

Participação dos atores da Comunidade

A lógica instigante do Tratamento Comunitário mostra resultados na prática, e estes resultados não são somente a mudança de hábito ou a mudança de comportamento dos nossos parceiros (população alvo) como também um impacto na qualidade da equipe, sua rede, na comunidade, e destas com o contexto e as políticas locais. Começamos então a investir, a aprender, tentar ensinar e experimentar. Hoje, Sorocaba/SP, cidade sede da Lua Nova, desenvolve uma Política de Integração Social, que será descrita no Programa “Entre Nós”. Em parceria com o governo local, passamos a disseminar de forma mais ampliada o Tratamento Comunitário, integrando atores nacionais e latino-americanos. A proposta fortalece relações, troca, articula e constrói processos de mudança.

- Prevenção vista como sistema de relações. Conhecimento e organização dos recursos (individuais, grupais, comunitário, etc) em função das necessidades das pessoas, dos objetivos do tratamento etc. Este é trabalho das redes, do reconhecimento e visibilização das mesmas, da crianção de uma base que permita segurançã no processo e sustentabilidade. Neste eixo se contrói o dispositivo. Fortalecer quando existe, criar e organizar (quanto nao existe) o dispositivo para o tratamento comunitario. Gera segurançã e visibiliza os recursos. Construir dispositivos comunitários. - Este é o momento em que no tratamento comunitario, através das ações de vinculção (aquelas que facilitam o contato e a entrada na comunidade) procura ofrecer simples respostas as pessoas em situação de sofrimento social como alimentação, banho, pequenos cuidados físicos. Busca restituir os direitos básicos da pessoa e sua comunidade.

Educação / reabilitação

- Empoderamento em nível individual, grupal, institucional e comunitário por meio de processos educativos (treinamento e formação) finalizados a melhorar a participação na vida social e na qualidade de vida. A educação pode ser formal ou não formal, mas são as estratégias que ofecerem ao sujeito instrumentos parça construir de maneira participativa seu processo de transformação. Ter consciência e assumir os Direitos e deveres.

Terapia física e mental

- Ações ou processos de escuta psicológica e médica que restituam o individuo, na medida do possível (experiências graves de exclusão podem produzir danos irreversíveis) um corpo são e uma mente sã, cruando espaços de acolhimento efetivos. Busca aliviar os efeitos dolorosos da exclusão grave.

Trabalho

- Os indivíduos necessitam de um trabalho pois é através dele que conhecem, reconhecem e desenvolvem suas habilidades, que as gere A oportunidade de trabalho é fundamental para o processo de Tratamento Comunitário. Visa construir autonomía e dignidade.


Essa metodologia se fundamenta na prática de cinco aspectos/macro utilizasmos la palabra processos o eixos?ações ou eixos: prevenção/organização (criação dos dispositivos-redes), assistência básica/redução de danos (restituição de direitos), educação e reabilitação (consciência dos direitos), terapia física e mental (alívio a sofrimento) e trabalho (construção de autonomia).

SIDIES- Sistema de Diagnóstico Estratégico

identificar comunidade local

Estes 5 eixos estão relacionados e são complementares, por isso cada fase do processo pode ser avaliada utilizando-os como critérios ou variáveis.

COMPONENTES TRANSVERSAIS São as atividades que visam construir a participação comunitária,este é o método com o qual a comunidade trabalha para integrar processos de cima para baixo (construídos desde a comunidade, das pessoas)com os de baixo para cima(propostos por políticas e especialistas). São ações desenvolvidas na comunidade local, assim não é preciso retirar a pessoa do seu ambiente mas promover ações que o melhorem através das redes de relacionamento deste indivíduo com os demais membros da comunidade, onde institucionalizar (entre muros) não é necessário. Tudo acontece em parceria com a própria comunidade, junto e por meio dela. A comunidade passa a ser parceira e, dentro desta perspectiva os líderes de opinião, religiosos, comerciantes e donos de bares por exemplo, são tidos como “expertos comunitários”, e são fundamentais para o sucesso do processo. SIDIES (Sistema Diagnóstico Estratégico) É o diagnóstico da realidade da comunidade e ao mesmo tempo o tratamento da comunidade através de seus recursos. Este “diagnóstico” se dá a partir das redes e as ações que são desenvolvidas por elas.

Produzir modelo organizativo

construir equipe inicial

produzir perfis diferentes


O primeiro conceito e aquele de comunidades PH Antonello Veneri

ALGUNS CONCEITOS: Abaixo descreveremos os principais conceitos do Tratamento Comunitário e a interrelação entre eles

Comunidade é feita de redes. Redes não somente as institucionais as quais estamos acostumados a trabalhar, mas redes subjetivas, subjetivas comunitárias, redes operativas, rede de recursos comunitários, redes de lideres de opinião e minorias ativas.

Entendemos que as mudanças não se dão no divã de um psicanalista, ou na sessão de grupo, elas se dão no dia a dia, na hora em que saímos de casa, na hora em que encontramos as pessoas, quando vivemos. Ali se dão as transformações.

Chamamos de parceiro aquele com quem trabalhamos, ele não é paciente, cliente, doente. Ele é uma pessoa com quem fazemos relação, quem dá e recebe. Quem faz a troca e através dela permite mudar a ele e aos mesmos


Costumamos dizer que a comunidade não te recursos quando ela não possui instituições governamentais como escola, posto de saúde, assistência social. Nos esquecemos de valorizar os pequenos recursos que existem nas comunidades e que muitas vezes atuam tão bem como ou até melhor do que as instituições governamentais, falamos de parteiras, igrejas, espaços privados etc.

Os lideres são fundamentais, são aqueles que nos oferecem o espaço para mudar e o propagam.

Deve-se tomar como ponto de partida os saberes e crenças das pessoas e identificar os problemas da realidade imediata, vinculados com a vida cotidiana

Os encontros devem se dar onde as pessoas podem estar. Quanto mais eu facilito o acesso das pessoas a minha proposta, mais fácil a aderência, a sensação de pertencimento.

Busca – se vincular aos atores em seu entorno através da participação comunitária, o que implica que a população se organize e participe ativamente

A escuta facilita que se desenvolvam ações de baixo para cima, desde a comunidade até as propostas políticas e não ao contrário de cima para baixo, quando as politicas são desenvolvidas através do que se pensa que a comunidade precisa.


Grupos que aos poucos vão conseguindo modificar as representações que a comunidade tem dela mesma, de seus membros e destes para com eles e a comunidade.

No tratamento Comunitário não existe uma grande mudança senão a soma de pequenas e contínuas mudanças, e por isso devemos valorizar tudo o que muda, e se transforma.

Comunidade A comunidade local é onde se dá o Tratamento Comunitário. É um espaço da comunidade definido, um território no qual existem recursos e situações de sofrimento social como pobreza, vulnerabilidades, exclusão no sentido de gerar dependência das pessoas com as instituições ou outras pessoas. Outros dois conceitos importantes são o de Limiar e Complexidade. Limiar é tudo o que pode aumentar a distância entre a pessoa e a resposta a sua necessidade. Uma ação de rua é de baixo limiar pois o contato com a pessoa (parceiro) é direto enquanto que para entrar em uma comunidade terapêutica temos que agendar, passar pela triagem, preparar documentos e então entrar para o tratamento. Complexidade é o quanto mais se exige em termos de equipe, formação, equipamentos, local para que se possa dar uma resposta a uma necessidade. Um centro de escuta é um dispositivo de baixa complexidade, pois exige uma equipe mínima que possa escutar enquanto que um Caps AD é um dispositivo de alta complexidade pois exige uma equipe com vários profissionais de diferentes espacialidades. No Tratamento Comunitário buscamos construir dispositivos de baixo limiar e baixa complexidade, pois sabemos que existem muitos usuários que não conseguem chegar ao serviço por dificuldade de acesso. Acreditamos que os dispositivos devam ser um facilitador da resposta da comunidade e não a resposta em si, para gerar sustentabilidade e diminuir a dependência aos serviços. Trabalhamos na ótica de sistema e não na ótica de serviços.


Como Fazer o Tratamento Comunitário: Começamos o Tratamento Comunitário com uma equipe mínima que deve possuir perfis profissionais diferentes O principal problema na composição da equipe é a quebra de paradigmas que ela deve enfrentar, a ideia é que seja composta por técnicos, educadores, redutores e educadores pares. É o início do processo de Tratamento Comunitário, no qual o espaço do beneficiário é de parceria e participação na elaboração e execução da própria resposta a sua demanda e da acolhida. Esta mudança de status do beneficiário para parceiro também gera uma dificuldade de entendimento das demais instituições que atuam em rede. O preconceito continua sendo uma restrição, pois ainda é difícil demonstrar o poder e a capacidade de trabalho das pessoas consideradas “vulneráveis” com um histórico de exclusão. Entretanto, esta questão será solucionada a medida em que o trabalho for se desenvolvendo. Com intuito de atuar em harmonia todos os membros da equipe devem adquirir as habilidades fundamentais para o trabalho em equipe e rede como criatividade, e flexibilidade, resiliência, abertas às mudanças e pro ativa para o desenvolvimento de metodologias.


Abaixo exemplo da equipe do programa Entre Nós

AGENTES DE REDE

Comunicativo, empático, ter pensamento rápido, proativo

Conhecero projeto orientar, respeitar, escutar, conhecer métodos, instrumentos e projetos, redução de danos, educar, administrar conflitos

ASSISTENTE SOCIAL

1 - Escuta 2 - Orientação ao beneficiário 3 - Conscientização 4 - Geração de conhecimento

Parceiros: participação assídua em todas as etapas do curso e participação da gestão compartilhada

APRENDIZES

ASSESSOR DE GERAÇÃO DE RENDA

Apoio à equipe multiprofissional no desenvolvimento da metodologia do Tratamento Comunitário na comunidade e apoio aos parceiros (Rede Operativa) e no desenvolvimento das ações de prevenção

Comunicativo, Educado, Ético, Empático, Profissional, Negociador, Estrategista. Receptivo, Liderança e Flexível

Ouvir, tomar decisões, representar, vender, apresentar, administrar, ter conhecimento em informática, delegar, publicar e dirigir combi

Compras, parcerias, contatos, negociações, vendas, controle de pessoal, controle financeiro, prestações, planejamentos, transporte de pessoas, acolhimento das jovens e mediações de conflitos

1 - Divulgação 2 - Noções de empreendedorismo 3 - Responsabilidade 4 - Produção 5 - Relacionamento 6 - Criação 7 - Laços maternais 8 - Autoconhecimento 9 - Compromisso com os outros 10 - Coordenar 11 - Promoção da autonomia das jovens

Atencioso, Responsável, Imparcial, Colaborador, Ético, Bom ouvinte e Carinhoso

Conhecimentos em relação ao seu trabalho, intermédia conflitos com usuários e atendidos, trabalhar em equipe e conhecer a metodologia e projetos da Lua Nova

Orientações, acompanhar os processos relacionados com o judiciário, elaborar relatórios, elaborar pareceres sociais, manter contato com as redes assistenciais, encaminhamentos para a rede de atendimento (CAPS, ambulatórios, hospitais), fazer acolhimento e orientações, contatos telefônicos, fazer triagem e entrevistas, supervisão de estagiários

1 - Fazer o usuário e atendidos a buscarem seus direitos 2 - Fazer o usuário e atendido a refletir quanto aos seus atos 3 - Saber motivar nos momentos de frustração 4 - Valorizar as conquistas levantando a autoestima do usuário


COORDENADOR

EDUCADOR

EDUCADORES PARES

FINANCEIRO ADMINISTRATIVO

Responsável, organizado, comunicativo, paciente e mediador de conflitos

Prestativo, focado, amigo, flexível, equilibrado, ético, responsável, paciente, referência, ativo, tolerante, humilde, educado e imparcial

Conhecimento do projeto que coordena e do funcionamento da organização

Dizer sim/não, orientar, respeitar, escutar, conhecer métodos, instrumentos e projetos, redução de danos, educar, administrar conflitos e triagem.

Ser semelhante à população com a qual ele vai trabalhar, coerente (alguma mudança que ele foi capaz de fazer), resiliente, sensível ao sofrimento do seu “par”, aceito e conhecido naquele meio que trabalha, ponte/elo, mediador, consciente

Saber diferenciar-se, enxergar a potencialidade do outro, acionar recursos e redes, ter noções de RD

Organizado, comunicativo, paciente, ágil, educado, responsável e flexível

Fazer lançamento Siconv e em contas online (bancos), planilhas, saber dialogar e lidar com dinheiro, conhecer os projetos e priorizar necessidades

Articulação entre os projetos, planejamento, cumprir metas e cronogramas, desenvolver competências e talentos na equipe, contratação e demissão, contato com parceiros e comunidade

Triagem “acompanhar”, relatar o dia a dia, disciplina e orientação Acompanhamento do cotidiano do projeto e da acolhida

Encontrar recursos em pessoas os quais ninguém vê (recurso), trazer dados da realidade de seus pares

Organizar contas, movimentação bancária, lançamento sistema Siconv, prestação de contas (todos os convênios), agendamento de reuniões (Raquel), planilha financeiro, planilha contabilidade, garantir recursos para atividades projetos

1 - Organização 2 - Comprometimento 3 - Articulação da rede 4 - Motivar 5 - Integrar a equipe 6 - Equipe usar instrumentos 7 - Equipe enviar dados 8 - Equipe seguir projetos 9 - Equipe seguir métodos

1 - Organização 2 - Higiene em geral 3 - Erros e acertos 4 - Comprometimento

1 - Auxiliar a equipe na vivência de rua 2 - Olhar diferenciado 3 - Articular equipe com beneficiários 4 - Ampliar sua rede de relações

1 - Negociar com credores 2 - Pedir para as pessoas responsáveis pelos pagamentos dos convênios o quanto precisamos daquele dinheiro 3 - Fazer negociações das contas 4 - Fazer as pessoas entenderem o mecanismo do financeiro de uma ONG


GESTOR DE INFORMAÇÃO

Organizado, ágil ,responsável com prazos e comunicativo

Escrever projetos, manejar base de dados, conhecer metodologias utilizadas em profundidade, fazer relatórios / avaliações,funcionamento dos projetos, teoria de redes e sistemas e informática avançada Técnicas, performances, atividades e dinâmicas que possam ser executados com qualquer pessoa em locais diferentes

Projetos, relatórios, avaliações, elaboração de manuais e materiais, formação equipe, manejo de plataformas, apoio gestão técnica, apoio coordenação de projetos, leitura e organização de dados, transferência dados em informação e participar das reuniões Desenvolvimento de atividades, previstas no projeto, que atendam as necessidades identificadas e que possam servir como "tratamento" à comunidade mais vulnerável

OFICINEIRO

Criativo, proativo, organizado, inovador, dinâmico, produtivo, habilidoso, solidário

PEDAGOGO

Atencioso, compreensivo, acolhedor, dinâmico, criativo

Planejar, executar, coordenar, acompanhar e avaliar projetos e programas de natureza educativa

Desenvolver metodologia de trabalho de prevenção, jogos, dinâmicas de grupo, rodas de conversa para os variados públicos e idades, capacitando e orientando novos parceiros nos territórios (atuará nas unidades escolares, UBS, Igrejas e outros) Além disso, acompanhará os trabalhos nos territórios, coordenando e orientando o desenvolvimento dos trabalhos dos agentes de Rede

PSICÓLOGO

Paciente, acolhedor, ético, cauteloso, empático e disponível

Psicologia, Tratamento Comunitário, realizar escuta e discernir pessoal do profissional

Escuta, acolhimento, atendimento individual ou grupal, mediações de conflitos, acompanhamento terapêutico, realizar relatórios e pareceres psicológicos e supervisão de estagiários.

1 - Novas experiências 2 - Atuar conforme demanda da comunidade 3 - Auxiliar a equipe em suas atividades 1 - Executar projetos educativos 2 - Prevenção 3 - Promoção de saúde 4 - Aprendizagem

1 - Levar o outro à reflexão 2 - Ressignificação das vivências 3 - Descristalização 4 - Clarificação 5 - Prevenção, promoção e tratamento da saúde

Identificação de casos, encaminhamentos, orientações à comunidade e rede de serviços, apresentação de demandas

REDE OPERATIVA

RH

1 - Equipe utilizar instrumentos 2 - Equipe enviar dados 3 - Equipe seguir projetos 4 - Equipe seguir métodos

Tolerante, imparcial, paciente, ético, responsável, flexível, conciliador e receptível

Conhecimento de funcionários, valores – benefício dos funcionários e conhecimento de RH, folha de pagamento e Departamento Pessoal

Office girl, contratação, auxílio à Raquel e à Sheila, mediação, reuniões, audiências, fazer controle de horas e controle valetransporte

1 - Entender funções de cada setor 2 - Se comprometer 3 - Dar satisfação 4 - Respeitar hierarquia


SUPERVISOR

Responsável, organizado, comunicativo, paciente e mediador de conflitos

Conhecer e compreender os Acompanhar, orientar e supervisionar as p r o j e t o s e p r o g r a m a s equipes, sanando as dificuldades existentes na organização apresentadas por território e apresentação dos instrumentais e relatórios para a Comissão de Acompanhamento Divulgação, estratégias, articulação com parceiros

Nosso processo de construção metodológica é conjunto, o que facilita muito a autonomia de cada profissional e dos parceiros. Todos os nossos princípios estão pautados na autonomia, reconhecimento dos potenciais nossos e de outros (pessoas ou instituições) e otimização destes potenciais através de trocas.

EDUCADORES PARES: OS PARCEIROS-CHAVEs PARA ENTRAR EM UMA COMUNIDADE RELAÇÃO COM AS DROGAS Um dos princípios de nosso trabalho é entender que todos nós temos relações com as drogas, o que varia é o modo, o lugar e o contexto no qual essa relação se estabelece. No trabalho com os educadores pares, interessa resgatar a experiência que dá lugar a essa relação, desmistificando ideias preconcebidas, construindo e reconstruindo relações.


Para falar da Lua na Comunidade, temos que falar da importantíssima parceria com os educadores pares. Afinal, para desenvolver um trabalho direto com pessoas, muitas vezes, em cenas de uso de drogas ou outros cenários de sofrimento social, precisa-se partir dos atores que conhecem e vivem - ou já viveram - como protagonistas nesse cenário. Essas pessoas são chamadas educadores pares, e se tornaram protagonistas de suas próprias histórias, contribuindo para a transformação da comunidade da qual participam. Trabalhar ao lado deles promove verdadeiros processos participativos, mudanças reais na qualidade de vida comunitária e das relações entre os integrantes da equipe. Os educadores pares sabem, conhecem, vivem a comunidade e também as mudanças que querem para ela, e por isso, são parceiros-chaves. O trabalho das jovens pares transformou a Lua Nova em um espaço de contínuos processos de formação, onde há troca de saberes e fazeres entre os diferentes perfis profissionais da equipe e cada uma das jovens. Algumas das características dos educadores pares são pessoas da comunidade: • Acompanhadas como casos pelas equipes da Lua Nova; • Vivem ou viveram em situação de risco; • Envolvidas com alguma ação comunitária, mesmo que timidamente; • Disponíveis e proativas; • Carismáticas, a fim de juntar pessoas e empatia para fazer grupo de pares; • Com capacidade de observação; • Capaz de estabelecer bom contato com jovens e demais atores comunitários; • Com vontade de contribuir para a transformação; • Motivadas a participar de encontros de troca de saberes e fazeres; • Capazes de trazer e partilhar sua experiência em ações comunitárias. Retomamos a tabela a seguir e focalizamos nas competências do educador:

EDUCADORES PARES

SER CONHECER FAZER FAZER FAZER

Ser semelhante à população com a qual ele vai trabalhar Coerente (apresentar alguma mudança que ele foi capaz de fazer) Resiliente Sensível ao sofrimento do “par” dele Aceito e conhecido naquele meio que trabalha Ponte/elo Mediador Consciente Saber diferenciar-se Saber enxergar a potencialidade do outro Saber acionar recursos e redes Saber noções de RD Encontrar recursos em pessoas os quais ninguém vê (recurso) Trazer dados da realidade de seus pares

Auxiliar a equipe na vivência de rua Olhar diferenciado Articular equipe com beneficiários Ampliar sua rede de relações

Os educadores pares foram os que nos permitiram mergulhar nas comunidades!


Construção de redes – Quais redes? Sabemos que a comunidade é um conjunto de redes e que, no Tratamento Comunitário, as redes são o foco central. Valorizamos com quem a pessoa se relaciona dentro da sua comunidade; quais são as pessoas, os indivíduos com quem ela convive, troca experiências; quais as demandas e necessidades que essa pessoa apresenta e quais são os recursos que podem ser encontrados na comunidade ou próximo a ela. As redes são invisíveis, porém presentes - é preciso saber localizá-las. O interesse está nos vínculos que se estabelecem e como se formam, menos do que as características de quem os estabelece. Uma vez formada, a equipe deve buscar, na comunidade onde vai atuar, as pessoas com quem tem relações amigáveis que vão constituir a sua rede subjetiva comunitária.

Rede Subjetiva Comunitária: São as relações que temos dentro da comunidade. A rede subjetiva comunitária são as pessoas e suas redes com as quais a equipe mantém relações amistosas. Uma rede subjetiva comunitária constitui um contexto de segurança e uma fonte rica de informação para a equipe. Conhecer pessoas no entorno de onde se trabalha é um recurso (capital social) para desenvolver uma proposta segura e sustentável. É o primeiro passo do trabalho na comunidade: em vez de ir aos usuários e aos vulneráveis, a equipe têm que buscar suas relações e, antes de tudo, construir o dispositivo através de um processo de alianças. O foco é na comunidade e não no usuário.

DESENHO DE REDE SUBJETIVA COMUNITÁRIA - EXEMPLO Em 2006, a Lua Nova, que já experimentava o Tratamento Comunitário, foi convidada para administrar um Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas (CAPS AD) e propôs transformá-lo em um Drop in, em uma visão mais ampla que a de um ambulatório de saúde mental. As experiências junto aos parceiros, as inovações através de ações de geração de renda e a constante valorização da relação entre pares marcaram fortemente a trajetória da Lua Nova no âmbito comunitário, e dessa experiência fecundaram os Núcleos Comunitários. Na época, foram implantados núcleos em bairros periféricos da cidade, nesta perspectiva de atuar fora de muros e com a comunidade. Esta foi se apropriando dos espaços, e o núcleo da Vila Barão desenvolveu uma padaria como estratégia de fomento ao desenvolvimento da inclusão produtiva e prevenção. Algumas mulheres que viviam na comunidade já haviam atuado no programa de RD e, também, em algum programa de geração de renda da Lua Nova. Desta maneira, foi se configurando a rede subjetiva comunitária da Vilma com a D. Maria, D. Eulália, Sr. Pedro, Sebastião - o dono do supermercado. A partir daí, seguimos para a construção das redes subjetivas comunitárias dos membros da equipe. Dra. Vilma conhecia o Antonio, sua esposa, Zélia, e a Daise. Raquel conhecia a Tati. Josiane conhecia o Sr. Antonio, e a Pâmela conhecia o Milton, a Cláudia e sua mãe. Ailton, que frequentava o CAPS AD, também vivia com sua mãe neste bairro e, assim, com os outros membros da equipe.


Rede Operativa É formada pela equipe e sua rede subjetiva comunitária quando estes desenvolvem as ações de vinculação. As ações de Tratamento Comunitário somente começam quando a equipe se organiza com a sua rede subjetiva comunitária, a fim de fazer uma ação de vinculação em conjunto. Desta ação, surge a rede operativa e é necessário que esta conte com o apoio da sua rede subjetiva comunitária.

DESENHO DA REDE OPERATIVA A rede operativa é constituída de todos aqueles que contribuem direta ou indiretamente para a realização de uma intervenção comunitária, com o objetivo compartilhado. A seguir, a descrição de algumas ações que são desenvolvidas pela equipe e sua rede subjetiva comunitária no Núcleo da Vila Barão:

NOME DO NÓ DA REDE OPERATIVA

TIPO DE PARCERIA NA REDE OPERATIVA

Isabel

Ajuda-nos quando fazemos algum tipo de intervenção e cursos para chamar pessoas, além de ser uma de nossas articuladoras dentro da comunidade

Jorgina

Mãe de Isabel, apoia-nos com palestras em seu bar e divulga nosso drop in

Vilza

Ajuda-nos a chamar pessoas para os cursos oferecidos em nosso drop in

Jucilene

Moradora e participante das palestras dadas à comunidade, ajuda-nos com o lanche

Cátia

Moradora e participante das palestras dadas à comunidade, cuida da limpeza do local

Dj Um Ana Clara

Quando realizamos algum evento, o DJ Um nos ajuda a organizá-lo, dando ideias do que a comunidade gosta, além de tocar nas festas Muito criativa, mas com pouca aderência à parceria, Ana Clara sempre nos dá ideia de como a comunidade pode gerar renda


Rede de Recursos Comunitários A rede de recursos comunitários é meio para fazer com que a comunidade aprenda a assumir as suas necessidades, utilizando seus próprios recursos. Existem os recursos formais (instituições) e os não-formais. Os recursos comunitários não-formais são os que garantem a sobrevivência da comunidade. Por exemplo, não deixar o lixo na rua, fechar a porta, cuidar de sua comunidade. As comunidades não existem se as pessoas não cuidam dela na vida cotidiana. Quando pensamos em fazer alguma atividade nela e percebemos que não temos dinheiro, a força do vínculo ajuda a fazer com que, mesmo que de maneira micro, as pessoas colaborem conosco. O nosso desafio, a partir do Tratamento Comunitário, é que estes recursos comunitários se interconectem. Trabalhar com redes de recursos comunitários significa esforçar-se para conhecer os recursos que existem na comunidade e mobilizá-los antes de recorrer a recursos externos.


CONSTRUÇÃO DA REDE DE RECURSOS COMUNITÁRIOS É importante que estes recursos comunitários possam satisfazer os 5 eixos do Tratamento Comunitário: albergues noturnos, creches, Unidades básicas de saúde, higiene básica (banho e roupa limpa), alimentação básica (fornecimento de uma refeição ao dia, pelo menos), educação básica, defesa legal, apoio documentação, escuta, profissionalização ou colocação em trabalho.

A rede de recursos comunitários do Núcleo da Vila Barão Bar do Fera

O “Bar do Fera” é onde a comunidade se reúne aos finais de semana e onde realizamos ações de redução de danos

Território Jovem

Realizamos atividades noturnas em conjunto

Bar Princesa

Nesse bar é onde rolam as baladinhas e realizamos ação de redução de danos

E- Jovem

Grupos GLBTT que se encontram dois sábados por mês em nosso drop in, realizam atividades na comunidade contra a homofobia e com foco na redução de danos.

Unidade Básica de Saúde Vila Barão

Orientação das pessoas da comunidade sobre questões de saúde. Encaminhamos algumas pessoas para atendimento, realização de exames e etc. Fornecem-nos também alguns dados sobre a saúde das pessoas da comunidade, quais são os maiores problemas e etc

Supermercado Beto

Onde as pessoas da comunidade fazem suas compras - Bruno, o dono do supermercado, nos ajuda a nos articularmos com a comunidade, divulgando nosso trabalho

Centro Esportivo Dr. Pitico

Realizamos esta parceria com intenção de promover eventos no local em um futuro breve

Escola Izidoro

Em parceria com a escola mais próxima da comunidade, a mesma divulga nosso trabalho aos jovens. Dois jovens, que frequentam nosso drop in, realizam um trabalho na escola hoje que consiste levar cultura aos alunos através de documentários que promovem a discussão

Salu

Parceria com os donos da loja que, muitas vezes, nos ajudam a divulgar nosso trabalho e nos doam alguns materiais

Sesi Vila Barão

A pastoral é também um polo que atende jovens em situação de conflito com a lei, como o nosso núcleo; desta forma, podemos estabelecer parceria, trocando ideias, experiências, modos de trabalho, entre outros, ainda que a forma de trabalho deles seja um pouco distante da nossa proposta

CAPS AD Vila Angélica

Esta última foi uma nova parceria que estabelecemos; o CAPS AD encaminha jovens usuários para que frequentem nosso núcleo e as atividades propostas - estamos estudando formas de estreitar ainda mais esta parceria


Rede de LÍderes de opinião A rede de líderes de opinião é um importante recurso comunitário. É formada por aquelas pessoas que têm a capacidade (poder) de influenciar a opinião e comportamentos de outros, de produzir mudanças, resistências e cooperação. É possível dizer que eles são os agentes da comunidade, enquanto que os outros membros da comunidade são atores. São as pessoas referenciadas em determinado tema na comunidade, com influência em toda a comunidade e reconhecidos como tal. Poucas coisas podem acontecer em uma comunidade sem que a rede de líderes locais não-formais conheça, permita ou favoreça. Nada sucede ao acaso na comunidade. Mesmo que pareça caótico, é ordenado e estruturado pelos líderes de opinião. (EM)- Palestra Universidad Católica "Nuestra Señora de la Asunción" (Asunción, Paraguai) - Educadores de Rua.

CONSTRUÇÃO DA REDE DE LÍDERES DE OPINIÃO NOS NÚCLEOS DA VILA BARÃO De 2008 a 2011, a equipe da Lua Nova foi, junto com sua rede subjetiva comunitária, atuar em diversos bairros de Sorocaba a fim de ampliar o espaço de relação entre a comunidade e as pessoas em situação de sofrimento social que nela viviam. Dentre várias ações, mapeávamos os líderes de opinião formais e não-formais. Fazíamos uma pergunta a uma das pessoas da nossa rede subjetiva comunitária e ela nos indicava uma pessoa. Íamos a esta pessoa e ela nos apontava outra, e assim seguíamos até encontrar os nomes mais indicados para aquele determinado assunto. A tabela a seguir se refere ao mapeamento de líderes comunitários do Núcleo da Vila Barão relacionado à juventude. A pergunta: Com quem posso contar aqui na comunidade se eu quiser trabalhar com os jovens?

Quem é ator na sua comunidade?

O que ele/ela faz?

Participa dos encontros realizados? Caso não, explicar por quê.

Cláudia Soares

Articuladora

Sim

Georgina Claro

Comerciante

Sim

Bernadete Castro

Articuladora

Sim

Rosa Souza

Moradora antiga

Sim

Carmo da Silva

Moradora

Sim, porém não em todos os encontros

Ana Laura

Moradora

Sim, porém não em todos os encontros

Dj

Dj

Sim, porém não em todos os encontros

Bata

Comerciante

Somente do primeiro, logo no início separou-se da esposa e saiu do bairro, mas moradores ainda fazem referência a Fera como líder


rEDE DE LÍDERES DE OPINIÃO DO BAIRRO HABITETO PERGUNTA: Quem é a pessoa que pode nos ajudar a desenvolver um trabalho contra a violência aqui no Habiteto?

Pessoa que respondeu Ana Cláudia

A quem sugeriu

Tipo de autor

Era quem resolvia coisas para a Comunidade

SAB

Joceli

Tráfico

Líder informal

Luana

Cláudio

Tráfico

Líder informal

Roberta

Danilo

Tráfico

Líder informal

Liz

Pedrite

Por que

Nilton

Não sabe informar

Medo de se comprometer

Morador

Roberto

Não sabe informar

Medo de se comprometer

Morador

Dudu

Não sabe informar

Medo de se comprometer

Morador

Antonio

Salão Comunitário

É o local onde tudo acontece

Supermercado

Israel

Antonia Silva

A Pastoral tem um trabalho sério no bairro

Pastoral

Augusto César

Não sabe informar

Medo de se comprometer

Dono do bar

Diretor escola

Eduardo

É quem desenvolve Projetos esportivos com os jovens

Ajuda a resolver problemas do bairro/ embora não seja alfabetizado

Rogério

Eduardo

É quem auxilia a comunidade

Desenvolve atividades esportivas com a comunidade

Francisco Carlos

Não sabe informar

Medo de se comprometer

Fiscal Prefeitura

Jorge

Rodolfo

Tráfico

Líder informal


O Tratamento Comunitário em redes Mais uma vez, lembramos que as redes são a base do Tratamento Comunitário, o seu “tapete” e a sustentação do cenário onde se vai atuar. Este “tapete” é composto pelas redes subjetivas comunitárias, rede operativa, redes de recursos comunitários, rede de líderes de opinião que se interconectam. São o suporte do seguimento de um caso (parceiro). Na lógica de saúde pública, primeiro “curamos” o caso (parceiro) e, depois, buscamos para ele a rede geralmente institucional e de alto limiar e complexidade. Nesta situação, o fluxo é casorede. No Tratamento Comunitário, buscamos primeiro construir uma base para o caso e, a partir disso, passamos a conhecê-lo, integrá-lo ao processo como ator e, com ele, continuamos a rede. Deste modo, o fluxo passa a ser rede-caso-rede. Sem estas redes, não existe o tratamento (segundo nossa metodologia), pois não existem relações que podem suportar. Através delas é que se descobrem as Representações sociais da comunidade - o que a comunidade pensa e como vê determinados assuntos - para que se possa entender e atuar em sua mudança. Durante esse processo, as ações de prevenção/organização, assistência básica/redução de danos, educação/reabilitação, terapia e trabalho se articulam e facilitam os processos de transformação individual e comunitário. A ideia é pensar que a construção do processo do Tratamento Comunitário é como a construção

de um edifício. A construção das redes (prevenção/organização) é o subsolo. Sem ele, não há base e não é possível dar continuidade à construção. A redução de danos e a assistência básica seriam o andar térreo, de onde se começa com o indíviduo, restituindo-lhe os direitos básicos. Sem suprir suas necessidades básicas, não é possível pensar, agir, assumir, articular. Seguido a este, vem a educação/reabilitação, ou seja, o primeiro andar. A educação aparece no sentido de tomada de consciência de seus direitos e deveres, da justiça de proporcionar o mesmo conteúdo, a mesma oportunidade de conhecimento a todos. Pois, o conhecimento é o principal instrumento de crescimento. O segundo andar é aquele do eixo trabalho e as ações de geração de renda, onde o indivíduo se reconhece e faz com que a comunidade se reconheça com habilidades, brilhos, capacidades e, como consequência, autonomia. Em um processo de prevenção e tratamento tradicionais, a inclusão e a integração social são um fim, e não uma parte do processo. No Tratamento Comunitário, a mudança deve se dar dentro das redes através das relações e das ações cotidianas. Para isso, a pessoa tem que estar inserida, e não isolada, como se preparando para “chegar”. Esse é um diferencial importante. Finalmente, se ainda pensamos no prédio, há o terceiro andar, aquele da terapia e cura física ou psicológica.

Repare que, no Tratamento Comunitário, as ações acontecem com uma prioridade diferente. Na nossa perspectiva, começar um processo partindo da terapia psicológica e física, segundo a ótica da saúde, é como se quiséssemos entrar em algum lugar cujo acesso ainda não é possível. É como entrar no prédio pelo terceiro andar - a única forma é se soubéssemos voar (MILANESE, 2012). Pode-se também pensar que, se iniciado do terceiro andar, ao sair do edifício a pessoa “cairia”, pois não encontraria os demais andares para se apoiar. Assim se dá com a terapia médica e psicológica - elas, por si só, não sustentam um processo de transformação ao longo do tempo.


A Figura abaixo mostra isso graficamente Integração Inclusão Inserção

Assistência Médica

Educação - Reabilitação Assistência Psicológica Assistência Básica

AÇÕES DE VINCULAÇÃO A abordagem só é comunitária se há participação de atores comunitários e de recursos comunitários em cada um destes elementos.

Importante perceber que essas redes não se constróem como num passe de mágica. Esses passos são para fins didáticos, pois, na prática, muitas vezes essas redes se misturam. Porém, essas só se consolidam através das Ações de Vinculação, pequenas ações para que, pouco a pouco, as pessoas assumam seu protagonismo na comunidade. (MILANESE, 2012)


a) Trabalho de Rua Conhecer a comunidade, ser parte dela, construir um dispositivo para a ação, contatar e manter o contato com todos os membros. O trabalho de rua consiste em viver a comunidade a partir da rua: • Encontrar as pessoas que vivem ou trabalham na rua, conhecê-las e fazer-se conhecer, contatar a organizações e grupos que trabalham na rua; • Contatar donos de negócios e lojas, todos aqueles que, de alguma forma, vivem e recebem pessoas que vêm da rua - os comerciantes são um grupo-meta especial; • Construir uma rede subjetiva comunitária; • Identificar a rede de recursos operativos; • Estabelecer uma relação forte com os membros do grupometa; • Conhecer o território (mapeamento ecológico); • Monitorar, avaliar, manter ao dia o diagnóstico de comunidade. PH Antonello Veneri

b) Ações Conectoras Realizar ações concretas de prevenção ou assistência imediata, dirigidas a pessoas ou grupos de parceiros, finalizadas ao melhoramento das suas condições de vida. Realizam-se através das seguintes ações: • Ações na área da saúde; • Melhorar as condições de saúde das pessoas gravemente excluídas; • Por meio do trabalho de rua, focalizar as necessidades mais importantes na área de saúde da população excluída; • Incluir, entre as ações na área de saúde, aquelas que a experiência têm indicado ser importantes, mesmo que não estejam presentes, nas demandas explícitas dos parceiros: prevenção de HIV-Aids, prevenção de DTS (doenças de transmissão sanguínea), uso seguro de drogas, sexo seguro, autoproteção contra o abuso sexual (menores e mulheres), alimentação (para as crianças em particular); • Ações de educação não-formal em áreas de necessidades

definidas juntos com os parceiros e a comunidade; • Identificação de uma necessidade específica. Construção participada de um processo de educação nãoformal (jogos, animações, teatros, vídeos, discussões, diálogos, visitas guiadas, entre outros) e de instrumentos (entre eles, panfletos, fotos, materiais para explicar e ilustrar situações e casos, vídeos); • Avaliação no processo e final. Animação e Iniciativas Culturais. Fortalecer a vida comunitária por meio de atividades de animação e da participação a sua vida cultural; • Promover formas de animação (teatro de rua, jogos etc.) por meio dos quais se proponha uma elaboração de alguns destes temas populares (relação homem-mulher, educação das crianças, construir e realizar breves processos de educação ao não abuso de álcool e substâncias, por exemplo); • Ações de Assistência imediata; • Ajudar as pessoas de maneira concreta em situação de uma necessidade urgente, sobretudo na área da saúde, segurança, pobreza extrema; • Identificar a necessidade da pessoa (veja: escuta e análise da demanda), buscar na rede de recursos comunitários uma resposta para essa demanda; • Informar e orientar a pessoa, fortalecendo uma relação com ela; • Acompanhar e velar para que a demanda encontre resposta; • Completar a ação com um acordo verbal de manter o contato.


““É NÓIS NA RUA””

PH Antonello Veneri

Perceber que a principal dificuldade encontrada é a aderência dos jovens em propostas que oferecem o “pacote pronto” levou a equipe da Lua Nova a desenvolver um processo de vinculação junto à comunidade Nova Esperança, chegando nos espaços até então mais invisíveis: a favela do Canta Sapo, em Sorocaba. O projeto “““É NÓIS NA RUA””!” buscou uma maior aproximação dos jovens e da comunidade, acolhendo-os e envolvendo-os no processo de elaboração e realização das atividades. Promovemos bazar, distribuição de preservativos e a realização das mesmas oficinas que aconteciam nos espaços do Território Jovem.

Proponhamos; • Acolher os jovens em situação de vulnerabilidade do Jardim Nova Esperança; • Contribuir para descobrimento e potencialização de talentos dos jovens; • Proporcionar momentos de aprendizagem, lazer e descontração; • Engajar a comunidade no planejamento e/ou realização das ações; • Facilitar o processo de empoderamento dos jovens e da comunidade.

Partimos do princípio básico de que cada jovem tem um potencial que este precisa ser descoberto e valorizado, acreditamos que ele é capaz de se tornar protagonista de sua própria vida e de ações em sua comunidade. Necessitamos criar e fortalecer um elo de parceria com o jovem, para que ele deixe de ser público assistido por diversos projetos e passe a ser o principal parceiro e protagonista das ações. O ““É NÓIS NA RUA”” pretende reunir as diversas atividades propostas pelas oficinas dos Territórios Jovens, mas realizá-las de uma maneira diferente: em vez de ficarmos na expectativa de atrair os jovens até os Territórios, nós iremos até eles. Levaremos as oficinas para as ruas, e lá buscaremos desenvolver diversas ações em parcerias com os jovens e a comunidade. Realizaremos o projeto nas quartas-feiras, no período das 14h00 às 17h00, inicialmente em 4 ruas, sendo cada uma mensalmente. Após as quatro primeiras oficinas, selecionaremos as ruas nas quais obtivemos maiores resultados e, nestas, realizaremos oficinas semanais.


alguns relatos da proposta 2. Dia 04/08: Primeiro dia de ““É nóis na rua”” (Mariana J) Chegamos à favela do Canta Sapo, situada no bairro Vila Nova Esperança, às 14h00. Nossa aliada Pâmela envolveu seu primo, que cedeu sua casa como espaço de referência para o nosso primeiro dia de trabalho. Invadimos uma sarjeta da favela, em mutirão, e montamos uma estrutura com mesa de silk, caixa de som e microfone, além de uma arara para montar o brechó. A curiosidade no olhar dos moradores começou a surgir. Apesar de não entenderem o que estávamos fazendo, aos poucos, eles entraram no movimento e pegaram carona, inclusive, disponibilizando mais espaços para que tudo acontecesse. Dona Eloísa ofereceu a esquina de seu barraco para montarmos o brechó, de forma a protegê-lo do vento. Outra pessoa nos cedeu água, e mais outra, a eletricidade para usarmos o microfone. A partir de nossa primeira experiência no bairro, já sentimos um acolhimento dos moradores! E o brechó começou a bombar! Meninas, mulheres, senhores e rapazes começaram a pechinchar e a sair de lá felizes, com uma calça ou uma bota, seminova, mas diferente das que estavam enjoados de usar! Pedidos de outras peças e mais opções masculinas não faltaram. Aí pronto: a deixa de que, a partir de agora, estaríamos sendo esperados na próxima semana, não como penetras que querem conhecer a dura realidade da favela, mas como malucos que fizeram uma gostosa bagunça nos becos do Canta Sapo! Camisinhas foram distribuídas, aulas de hip hop ministradas, camisetas silkadas ali, ao lado de nossos queridos oficineiros que dividiram seu

tempo e talentos, somando em nossa intervenção! E as perguntas começaram: de onde vocês vieram? Por que estão fazendo isso? Vocês virão toda semana? E, em cada pergunta, a esperança de que esta gente maluca voltasse e repetisse o evento! Foi uma tarde de muita alegria, de ver que a comunidade - em meio a fumaças de criminalidade e olhares cansados de ver aquilo que não querem mais - sabe sorrir e se divertir! Esses câmbios aconteceram o tempo todo. Calças jeans usadas lavadas peloo melhor desinfetante produzido pela própria moradora; 1 real por uma blusa que enaltece aquele decote - esse mesmo 1 real que poderia ser usado no câmbio por pedras de crack! Na hora da despedida, pedidos! Façam de novo, façam à tarde, façam no sábado! Traz mais jeans masculino, mais camisetas, quero ganhar de você no truco! E também parcerias: Dona, pode deixar as coisas no meu barraco, aqui é seguro!

PH Antonello Veneri


““É Nóis na Rua- RéGIS”” O projeto ““É Nóis na Rua”” foi sensacional em seu primeiro dia, pois conseguimos atingir nosso públicoalvo, os jovens em vulnerabilidade grave que não estávamos atingindo no Território Jovem. O mais interessante foi que era um dia de clima muito frio, os jovens estavam entocados em suas casas e alguns usando drogas na esquina. Mas, esta cena mudou quando começamos a fazer as atividades. Muitos jovens apareceram meio sem saber o que era aquilo - alguns, inicialmente, com olhares desconfiados, porque ninguém faz nada lá;, olhares que diziam “o que será que esse pessoal está fazendo aqui?”. Pouco a pouco, foram se aproximando, começaram a fazer a aula de hip-hop meio de longe. Dava pra ver que a vontade de estar junto a nós era grande, mas a desconfiança ainda prevalecia. No começo da aula de hip-hop, só estavam fazendo a aula os oficineiros Flávio e Camilo e a coordenadora Mariana Bueno. Foi interessante porque, enquanto a equipe fazia a aula de perto, alguns jovens dançavam de longe, na esquina isto, durante a primeira coreografia. Gradativamente, os jovens se aproximaram, até o ponto de tomarem conta do espaço e dançarem sozinhos, além de conversarem conosco, pedindo para passarmos outra coreografia. Neste momento, percebi que tínhamos conseguido um voto de confiança. Após pouco tempo, havia jovens participando de todas as atividades e a equipe toda trabalhando fortemente para dar certo. O oficineiro Flávio entrevistou a comunidade para saber o que eles estavam achando. Já o oficineiro

PH Antonello Veneri

Camilo conversou e formou vínculo com os jovens. A Mariana Jabur permaneceu no brechó, que foi um chamariz também para a comunidade se aproximar. A Mariana Bueno passou por todas as atividades para conferir se estava tudo bem, e eu e a Renata demos aula de hip hop, buscando criar vínculos com os jovens que ali estavam. O silk (oficineira Larissa) foi umas das atividades que atraiu muitos jovens, todos com os olhos brilhando. Brilho esse que só conseguimos ver quando o jovem se sente valorizado, feliz, e por nós o aceitarmos como ele é, e não pelo que a sociedade gostaria que fosse. Foi tão intenso aquele momento na rua que os jovens perguntavam quando ia ter de novo, se seriam todos os dias. Enfim, o ““É Nóis na Rua”” tem sido de extrema importância para o Tratamento Comunitário, pois estamos muito mais próximos de nosso público e, assim, podemos fazer com que a comunidade se empodere destas atividades, assumindo sua organização - objetivo principal desde o primeiro encontro com a comunidade.


11/08- 2º “É NÓIS NA RUA” Chegamos na favela por volta das 15h00 e as pessoas já perguntavam se viríamos! Dessa vez, contamos com a presença de duas novas oficineiras, Mayara e Sílvia, que fizeram atividades de tererê no cabelo e batucada com instrumentos musicais de percussão. Havia mais jovens, alguns diferentes dos que estavam na esquina no evento anterior e que, nessa semana, participaram do truco e de outras atividades. As jovens da semana passada estavam lá e participaram, inclusive, do show de talentos - dançando! O brechó não vendeu muito, já que os produtos eram quase os mesmos. Isso demonstra que são simples, mas querem qualidade! No entanto, a barraca do brechó se transformou num gazebo e ficou bem mais aconchegante! Distribuímos prêmios para os participantes, que ganharam caixas de bombons. Algumas questões precisavam ser discutidas na semana seguinte: • A continuidade de produtos diferentes, para que haja motivação; • Procurarmos, ao máximo, trazer o que prometemos, pois eles cobram e ficam decepcionados (cinema); • O cuidado de não agradarmos muito o público infantil, pois eles não são nosso público-alvo e depois, se quisermos fazer algo na madrugada, podemos ter problemas; • O cuidado em não esquecer nosso papel lá: estabelecer vínculo com jovens em risco, proporcionar a eles diversão e opções saudáveis de relacionamento; • Precisamos construir metas do que queremos fazer lá; • Tomar cuidado para não cair no assistencialismo - que venham pela alegria e não pelas doações; • Deixar a comunidade ser mais protagonista, e não dar tudo de não beijada. Para a próxima semana, percebemos que podíamos nos comprometer a trazer mais peças de roupas, tentar realizar o cinema E FORTALECER OS VÍNCULOS. Camilo disse que tentaria trazer coisas de circo!!

PH Antonello Veneri

““É nóis na rua”” 18/08 Chegamos na comunidade do Canto Sapo por volta 14h30, e logo sentimos um clima diferente no ar. Viemos a saber, então, de alguns acontecimentos: Cézinha, irmão de Paulinho, havia espancado seu pai por motivos fúteis (o pai havia se incomodado com o fato de Cézinha ter levado a namorada para casa). Além disso, no dia anterior, percebemos um forte movimento do tráfico, observamos que o movimento estava mais intenso do que nos encontros anteriores, o que nos levou a acreditar que havia uma nova remessa de drogas chegando na comunidade. Isso mobilizou os jovens a trabalharem de forma mais intensa com o tráfico durante a semana. A movimentação constante de carros indicava o tráfico de drogas que acontecia ali, em plena luz do dia. O uso de drogas também foi mais visível: vários jovens estavam fazendo uso de maconha e inalantes. Se, por um lado, isso pode ser um fator preocupante, por outro, pode significar que a representação social da comunidade sobre nós já não é - se é que foi um dia - de “intrusos”, ou possíveis “delatores”, mas sim de “parceiros” e/ou “amigos”. Isso pode ser considerado um importante ganho em nosso trabalho. Foi notada, também, a presença de novos jovens, com predominância do sexo masculino.


Percebemos, também, a aproximação respeitosa dos traficantes, de maneira que muitos deles se envolveram em algumas das atividades promovidas no dia. Dona Teresa, mãe de Paulinho, forneceu lanche, para nós da equipe, e foi visível a felicidade dele e sua mãe em poderem nos servir. No último encontro, havíamos pontuado que a oficina de serigrafia não havia sido eficaz, pois a oficineira havia estampado as camisetas para os jovens ao invés de eles mesmos o terem feito. Nesta semana, porém, o engajamento dos jovens no silk foi produtivo: eles mesmos estamparam suas camisetas, utilizando-se somente do auxilio da oficineira quando necessário. Estamos nos vinculando cada vez mais com os moradores da comunidade, que sempre nos recebem de forma calorosa e afetuosa, porém sentimos a necessidade de angariar um núcleo dentro da comunidade, a fim de dar sequência e aprofundamento em nosso trabalho. Flávio tem editado os vídeos do ““É Nóis na Rua”” e o trabalho está primoroso. Mayara, que realiza a oficina de jornal, também veio hoje ao escritório construir, com seu aluno, a sistematização do dia do evento em forma de um folhetim a ser distribuído na comunidade. Pontos a serem pensados: • Mais uma vez, o cinema deu errado e, mais uma vez, isso criou expectativas nos moradores que não conseguimos suprir; • Desvincular nossa imagem de um papel assistencialista, já que, no dia do evento, muitas pessoas vieram pedir camisetas e chocolates; • Organizarmo-nos para levar, toda semana, novas atividades, com o intuito de motivar jovens e moradores da comunidade a participarem semanalmente; • Renata deu a ideia de, a cada semana, levarmos um dos oficineiros que não fazem parte do projeto ““É Nóis na Rua””, mas que fazem parte do Território Jovem, para que essas atividades possam os estimulem a aderir aos espaços da prefeitura também.

““É nóis na rua”” – 25/08 Chegamos atrasados, pois estávamos com uma visita, o Joaquim. Estávamos preocupados se teria muita gente, pois havíamos avisado que seria na terça-feira, mas mudamos ontem devido à visita. Quando descemos no território Jovem, Tony disse que ocorreu um assalto a uma loja e que a polícia levou todos embora, todos com camiseta verde. Não sabemos se foi isso, mas o bairro estava parado, sem muito movimento. Tivemos um contratempo, pois as meninas do abrigo da Lua Nova tem frequentado o projeto e uma delas pediu droga para o Paulo em troca de sexo. As meninas, que sempre vão, desta vez foram fumar maconha. Outros jovens, de 17 anos, que antes só olhavam de longe, aproximaram-se e participaram. A oficineira do jornal trouxe o impresso produzido na semana anterior. Todos quiseram seu exemplar - inclusive, a turma do barraco pregou um na parede. Paulo comentou que sua mãe não havia ido trabalhar no dia anterior para nos esperar. Conversei com três rapazes de 17 anos e um deles ficou bem próximo, inclusive perguntou minha formação e contou PH Antonello Veneri


fragmentos de sua história. Ele se chama Hudson, nascido e criado por aqui, completará os estudos no colégio do Nova e tem seus amigos desde moleque. Disse que vai parar com as fitas erradas (acredito ser o tráfico), pois no ano que vem será “de maior” e não quer ser preso. Namora há 3 meses e está feliz. Trabalha de carteira assinada como auxiliar de eletricista, mas tem o sonho de trabalhar numa fábrica. A família está se reerguendo agora do tráfico;, só um tio ainda está preso e Hudson não quer essa vida, embora estivesse fumando maconha no momento em que me aproximei. Alex chamou amigos de outra parte do bairro para participar, meninas de 11 e 14 anos pediram para montar um grupo de dança e modelos Digitamos na máquina de escrever trazida pela oficineira, o que despertou o interesse da criançada. Elas, então, digitaram que o grupo “As Meninas da Laje” será montado e Pâmela poderá acompanhá-las, pois nesse horário não poderiam estar na rua - era horário de aula. A caixa de som estragou, pois o som foi muito alto. As meninas que escolheram o CD. Segundo Joaquim, isso mudou a cena da favela. Sem som, ouvimos mais suas vozes, sentamos no barraco e conversamos. Eles querem mais música, mais mulheres, mais coisas! Muitos pedidos para nós, mudança de horário e local do ““É Nóis na Rua””. Outro ponto importante foi um movimento de pessoas do bairro que nunca tinham aparecido por lá: Neném, embriagado que queria jogar truco, um homem vendendo pazinhas de metal por 5 reais e duas moças que fazem tapetes de fuxico também se interessaram pelo movimento. Convidamos para que apareçam por lá!

Reflexões Fizemos uma boa supervisão com Joaquim e algumas questões me angustiaram: • O que estamos levando e o que estamos trazendo? • Qual é nosso objetivo? Estabelecer vínculos, realizar oficinas, entre outros, são os meios para se chegar até eles, mas quais são os fins? • Qual é nosso papel lá? • Devemos ter nosso espaço após o SIDIES, para evitar que sejamos aliados do tráfico. • Como eles estão nos vendo? • Qual é nosso planejamento a curto, médio e longo prazo? Mudamos semana a semana pelas as adversidades do local ou devemos permanecer? • Qual é nosso fio condutor?

““É nóis na rua”” 01/09 Fomos até o Canta Sapo e fizemos algumas atividades, onde tivemos uma participação até que razoável e, por causa do som, muitos não se aproximaram muito. A Sílvia conseguiu umas doações de pães e molho, compramos refrigerante e distribuímos para os moradores e para quem estava lá. Camilo ajudou na preparação de tudo e eu distribui o lanche. Mayara e Sílvia fizeram suas oficinas normalmente. Algumas das roupas do Mini Bazar, eu doei para os moradores, as que já foram colocadas à venda, mas não tiveram saída. Concluindo, foi tudo bem, porém não teve o movimento de sempre por causa do som e porque havia poucos de nós lá. Mas, conseguimos fazer nossotrabalho tranquilamente.

Na próxima semana, o Camilo levará os seus instrumentos de pagode e vai tocar com os meninos. Estou montando um grupo de meninas para ensaios de dança e maquiagem. Elas também querem desfilar em algum evento ou festa.


SIDiES Sistema diagnóstico estratégico

Breve história da comunidade As comunidades são como as pessoas, ambas têm histórias. Conhecer sua história permite compreender os fatos atuais e localizar as novas situações.

São microações para conhecer e transformar a comunidade e trabalhar com ela como um sujeito. O SIDIES é um sistema de coleta, sistematização, análise da informação da comunidade. É um conjunto de passos organizados para que os parceiros e a rede operativa possam coletar diferentes dados e, com eles, gerar reflexão. O SIDIES ajuda a encontrar estratégias mais adequadas, a fazer conhecer os atores, a estreitar seus laços. Por meio do trabalho de rua, do contato com os líderes e os recursos comunitários, obtemos as informações que se organizam em diferentes microprocessos.

Identificação dos temas geradores É importante conhecer o conteúdo dos diálogos e discursos da vida comunitária: desejos, preocupações, queixas, propostas, comentários e ideias. Os temas geradores são subdivididos em dois grupos: os espontâneos, propostos diretamente pelos atores comunitários, e os induzidos, propostos pela equipe e/ou a rede operativa.

Identificação dos Líderes de Opinião Identifica os líderes de opinião, ou seja, as pessoas que estão em condições de concorrer ou influir para que as pessoas mudem seu pensamento ou atitude diante de determinados temas.

Elementos e estratégias de ancoragem e objetivação Ancoragem e objetivação são os dois processos que favorecem a construção e, por consequência, também a mudança das representações sociais. Sua modificação é necessária, sobretudo, porque as representações sociais são causa-consequência-causa de exclusão. Podem ser também de inclusão.

Estudo dos projetos anteriormente desenvolvidos ou em fase de implementação É o levantamento de ações, dos resultados, são as lições aprendidas das experiências não formais e institucionais que foram desenvolvidas no passado na comunidade. Através deste pode-se fortalecer aqueles deram resultados, mudar o que for preciso mudar, inovar onde precisa.

Mitos e formas rituais Os temas geradores fundamentais em uma comunidade - nascimento e morte, saúde e doença, força, violência, justiça, conflito, droga, álcool, pobreza, vítima, rua, gangues, etc - têm seus mitos, com seus personagens e seus modelos exemplares, e seus ritos. Esses mitos e ritos conformam grande parte do pensamento e da vida cotidiana das comunidades - por exemplo, o mito da gangue e os rituais que todos, em uma comunidade, têm que respeitar. Entender esses mitos e ritos permite criar consciência, modificar representações sociais, criar outros mitos e formas rituais.

Análise dos fracassos dos projetos e das boas práticas Conhecer ações realizadas e que fracassaram, os elementos comuns que as fizeram fracassar e qual a lógica. Pensar no fracasso é não persistir nas mesmas coisas. Trabalhar as resistências a mudanças e facilitar a participação ativa de todos na proposta de ação.

Elementos sociológicos Coletar os dados sociológicos mais representativos da comunidade, que permitam dimensionar as suas características. Buscar informações sobre o território e suas características, serviços existentes e faltantes, características demográficas, arquitetura urbana além do estudo da cultura comunitária e das formas nas se manifesta.

Identificação dos conflitos de base no interior da comunidade Um conflito pode ser entendido como um processo no qual dois ou mais atores se encontram em oposição mútua, ou são incompatíveis. Dito de outra maneira, um conflito é um processo de construção de oposições e incompatibilidades.


Principais problemas Ainda em 2008, iniciamos o processo de investigação na ação, realizando o SIDIES da comunidade.

SIDIES – JD. NOVA ESPERANÇA Mapa do Bairro História do Bairro Dados gerais coletados – Canta Sapo e Nova Esperança A região do bairro Nova Esperança costumava ser uma grande fazenda pertencente à família Matarazzo. Em 1980, um prefeito construiu 60 casas populares e sorteou uma TV - a primeira do bairro. A partir de então, a invasão, que já havia começado desde 1971, se intensificou. Hoje, o Nova Esperança é um bairro todo invadido, mas apenas nos últimos anos é que começou a regulamentação fundiária. O terreno estava em litígio e virava uma verdadeira disputa. A maioria dos moradores se mudaram para lá entre 1978 e 1986, vindos do Paraná, seguida por outros de cidades do interior de São Paulo como Itapetininga e Boituva, e, na sequência, migrantes do Ceará e da Bahia. Inclusive, entre 1979 e 1980, para entrar no bairro era necessário pagar pedágio. As primeiras residências legalizadas foram as casas 1, 2 e 3. Nessa época, já havia drogas no bairro e as pessoas roubavam umas às outras, vendiam terreno sem dono. Em 1979, as pessoas “morriam por maconha”; hoje, não. Havia creche, onde o sistema era o de mãe crecheiras. Entre os anos de 1975 e 1976, muitos adolescentes eram assassinados no trilho do trem, em brigas

de gangues entre bairros como Zulmira e Vila Barão. “Queriam transformar aqui numa Favela da Rocinha”, disse um morador. Um fato que marcou a história do Jd. Nova Esperança foi a origem do “rasgo geográfico”, situado atrás do Território Jovem. Até meados de 1985, o local costumava ser um aterro - uma barragem que segurava água de uma lagoa, conhecido como “o antigo tancão”. As crianças costumavam brincar na lagoa, algumas chegavam a morrer afogadas. Um dia, essa barragem explodiu. arrastando casas e animais, fazendo uma vítima. Em 1970, nasce a escola. Em 1979, fundou-se a comunidade da Igreja Católica Nossa Senhora Aparecida, conhecida como posto de saúde que distribuía leite. Em 2002, houve a integração a partir da figura de Zé Rosa, que pediu ajuda para o Padre Edson e fundou a Pastoral do Menor. Episódios curiosos, bonitos e engraçados recheiam a história do bairro, como o dia em que as mulheres lavavam roupa no rio e um estuprador apareceu, fazendo com que elas se unissem e amarrassem o agressor. Histórias de batalhas travadas também se destacam, como o dia em que os moradores do bairro se juntaram com todos os tipos de armas que possuíam, entre facas e tesouras, e atacaram o quartel - na época, situado à rua General Carneiro - e protagonizaram uma verdadeira guerra. Alguns mitos chamam a atenção no bairro: “Netinho”, bandido pesado que, na ausência do crime organizado, se tornou um líder no bairro. Com um “currículo invejado”, matou muita gente e, ao mesmo, tempo fez casais pedirem desculpas um para o outro, mediando conflitos do bairro. “A história do Flamboyant Vermelho é muito linda”, conta uma moradora do Jd. Nova Esperança, mostrando que há também boas lembranças na comunidade. O que o bairro tem de bom? Aqui não é pirambeira, aqui é próximo da cidade. É plano. Não pagamos impostos, pois não estamos regularizados, e não temos escritura, por isso não temos valor.


Órgãos públicos Pastoral do Menor (8 anos de existência no bairro, atendendo 512 pessoas ao todo) Território Jovem, UMDI (União dos Moradores Independentes), Esporte Clube Nova Esperança, Unidade Básica de Saúde (Coordenadora Thaís), Escola de Samba, Escola Estadual Reverendo Ovídio (8° anoªdo Ensino Fundamental a 3°ªano do Ensino Médio), Creche, Igreja Católica mais antiga do bairro (religião predominante, seguida da Igreja Evangélica, Espírita e Umbanda). CRAS não existe mais. ONG Mão de Fada. Principais problemas: Tráfico e uso de drogas: o PCC é citado como bom, onde cada um tem um líder e um não briga com o outro. A principal droga usada no Jd. Nova Esperança é a cocaína, não tem muito crack; Alcoolismo: “Muito bêbado em cada esquina”; Violência: “Tá tranquilo até demais, a união da comunidade e os projetos sociais ajudam”; Lixo: “Cada casa tem container, atrás da creche tem aterro, na Canta Sapo eles colocam o lixo na rua próxima à Avenida General Osório, para melhor acesso dos coletores.” Desemprego: não há muito, a maioria das mulheres é empregada doméstica, diarista ou atua no salão de beleza e os homens como pedreiros em construção civil; Lazer: Território Jovem, quadra, praça. Atividades fixas que o correm no bairro: Feira de artesanato (na esquina em frente à Pastoral); Campeonato de futebol todo domingo próximo ao trilho do trem; Balada na Quadra, com a coordenação do Presidente da Associação de Moradores; Madrugativa, um evento para jovens que acontece no período noturno, realizado pela Secretaria da Juventude e parceiros. Atividade de enganche na Favela do Canta Sapo “Associação Lua Nova”; Forró e Baile Funk na Favela do Canta Sapo.

Entrevistas com os Moradores Líderes formais e Informais Dona Paulina conta que quando chegou no Bairro era tudo mato e um grande tancão enorme. Presenciou vários homicídios no bairro e em frente a sua casa. Conta, com lágrimas nos olhos, sobre a morte do famoso e conhecidíssimo Eduardinho, um rapaz de 24 anos que foi assassinado e que era muito querido por todos - morreu nas mãos de Paulinho Preto por desrespeitar as pessoas que não são envolvidas no tráfico de drogas do bairro. Conta que ele teve uma morte muito feia: Paulinho Preto, o justiceiro do bairro, cortou sua língua e o esfaqueou sem dó no meio da rua. “Foi muito triste”, diz a senhora. Fala, também, que o bairro mudou muito de lá pra cá e que as regras estão muito boas agora. "O que mais tem no bairro agora, é o tráfico de drogas, e não a matança que antes havia, e por isso o bairro é difamado, por causa das coisas que antes aconteciam. Os traficantes hoje nos respeitam bem mais, só que também não escondem e nem evitam fazer coisa errada e de usar as suas drogas na frente de qualquer um de nós, e à hora que querem. Isso é complicado porque os netos e filhos das pessoas crescem vendo isso e muitas das vezes se inspiram neles. E se for para e pensar e também perguntar para

muitos, eles entraram no crime porque tiveram oportunidade, porque presenciaram tudo isso quando criança - e, também, os traficantes do bairro abrem portas para que pessoas novas e do bairro possam entrar no mundo do crime. Ela mesma criou dois netos que entraram há pouco tempo no crime e hoje já são patrões, porque os caras deram oportunidade de eles crescerem. Mas, isso é uma coisa que ela tentou evitar, só não foi possível, pois na escola eles já conviviam com os alunos maiores - além disso, até as escolas têm que ter regras estabelecidas pelo PCC. Eles sempre acharam legal o mundo do crime, diziam que os caras eram o máximo e que eram requisitados, assim foi a paixão pelo crime. Hoje, Dona Paulina tem 88 anos e já passou por muitas coisas nessa vida. Ela não anda direito. Seus netos cuidam muito bem dela e não falta nada a ela. Por mais que tenham se tornado traficantes, eles não esqueceram que a avó sempre cuidou deles com muito carinho. Pessoas contam que o atual posto de saúde ficava onde hoje é a Sede da Associação de Moradores do Bairro.


Coordenadora do Posto de Saúde Maioria das pessoas que vão ao posto de saúde para realizar o exame de gravidez são jovens com idade entre 14 e 18 anos, parte delas não terminaram os estudos, cerca de 30% delas têm os maridos presos ou estão envolvidos com o tráfico de drogas do bairro. 20% são meninas solteiras, 40% amasiadas e 10% levam uma vida normal como todos os casais felizes. A maior parte das jovens que estão grávidas moram com os pais ou nas áreas verdes do bairro. As adolescentes parecem não se interessar por quaisquer atividades oferecidas por alguns projetos do bairro. Ao saber que o resultado é positivo, pelo menos 50% delas choram nas salas do médico e se arrependem. Sendo assim, podemos afirmar que a maior parte das jovens não se previne nas relações sexuais de nenhuma maneira, nem com preservativos, nem com contraceptivos. Só para ressaltar, o posto de saúde oferece palestras para prevenção mensalmente.

João – Presidente da Associação dos Moradores do Bairro Os alunos que fazem os cursos que oferecemos não são jovens vulneráveis, a maioria são pessoas de 20 a 40 anos de idade. Os jovens parecem que nem querem saber de nada, não se interessam pelos cursos. Fazemos, de 15 em 15 dias, a balada na quadrinha que fica na Rua 3 e na quadra de atividades, usada também pelos moradores e pelos projetos. As baladas são agitadas e é uma das mais comentadas entre os jovens das escolas e da rua. A quadra fica cheia - cerca de 300 jovens participam da bagunça que rola até as 23h00 nos sábados. João: “Por festas e bagunças, eles se interessam e estão sempre dispostos, mas por estudos não querem nem saber. Os jovens dessa vila só querem saber de sair e curtir tráfico e coisas erradas. Já nem sabemos mais o que fazer com eles e eu lavo minhas mãos para os errados. Quem quer, quer e quem não quer, não venha."


Jurandir – Coordenador de esportes do Bairro Os rapazes do bairro gostam de esportes. Quando tem torneio, todos participam do futebol - as meninas também gostam, mas desde que seja a noite. Aos domingos de manhã, temos campeonatos no campo e a participação deles é muito grande. Os meninos do tráfico têm times que participam e todos respeitam as regras dos campeonatos. Jurandir: “Acho que tirar eles do tráfico não é possível. E, sim, se eles quiserem e a hora que quiserem, podemos ajudar em algumas situações e com nosso trabalho no bairro.”

Pâmela Coimbra – Educadora da Lua Nova Nós que trabalhamos com a comunidade, fazendo trabalho social, temos que abrir portas e oferecer novos caminhos. Mas, tudo na base da amizade, e não apresentar que somos pessoas chatas e que pegam no pé. Eles não gostam de ouvir e nem de falar muito, por isso não podemos querer mudar tudo - até podemos querer, mas não demonstrar que queremos. Em minha opinião, temos que ir devagar, mesmo que resultados demorem a aparecer. Temos que estudar bem o que fazer na comunidade, porque o Nova Esperança é um bairro difícil de fazer atividades por ser um lugar onde todos mandam, e onde cada um tem seu território. Os jovens de lá se sentem bem como estão. Eles têm escolas, atividades esportivas e culturais, cursos e outras coisas que podem ajudá-los, porém não se empolgam para praticar nenhuma dessas atividades. Portanto, temos que, talvez, “inventar” algo novo e não ter pressa para que dê resultado. É um processo difícil, mas eu acredito que ali, no Canta Sapo, a gente pode mudar muita coisa, fazer uma história e aprender também.

Murilo – Tatuador da Vila Murilo acredita que o que tem no bairro para os jovens já está bom, e que não se interessam porque não querem mesmo saber de nada. Ele fala de uma maneira muito linda a respeito do lugar, pelo qual é apaixonado. Acha que ali é “sussi” e que tem que ser cada um na sua, cada um cuida da sua vida. Ressaltou que é difícil unir a comunidade porque as “tretas” entre as pessoas são várias e não podem ser resolvidas de uma hora para outra - e nem tem como resolver. É aí que as pessoas desistem de muitas coisas e ninguém pisa onde o outro está. “Adoro festas à noite e os jogos de futebol nos campos.”


Construção da Representação Social da Comunidade Individualização dos atores da vida social na comunidade Identificação dos lÍderes de opinião formais e não-formais Nome dos Atores

Nilton

Definição do tipo de autor Dono do 1°º e maior supermercado do bairro, hoje com mais de 20 funcionários (Rua Itanguá) Patrocinador do TUNE (Torcida Uniformizada Nova Esperança)

Pardo

Dono de um bar onde tem baile de forró de cada 15 dias no bairro (Rua Maria de Lourdes Ferreira)

Júlio, Thaís e Demerval

Filhos do Antonio e donos de uma loja de material de construção

Tere e Plínio

Donos de um bar da Rua 2, onde se reúnem muitos homens para assistirem ao jogo de futebol aos finais de semana (Rua 2)

Josef

Antonio

Pizzaria e lanchonete mais conhecida no bairro, onde todos frequentam (Avenida 9 de Julho)

Coordenador do Território Jovem


Nome dos Atores

Definição do tipo de autor

Dona Clara

Benzedeira (Rua São Francisco de Assis)

Dona Antonia Maria

Líder da Igreja Católica

Welder

Ajudante de bairro

Miguel

Assessor do Vereador Hélio Godoy, do bairro Nova Esperança Presidente do TUNE - Torcida Uniformizada Nova Esperança

Clara

Assessora do Vereador Hélio Godoy

Irmãos do PCC

Homens, irmãos do Primeiro Comando da Capital que organizam as situações do bairro Chefes do tráfico que dão as ordens no Nova Esperança Impõem regras para melhor convivência de toda a comunidade, tentam ao máximo manter a disciplina na comunidade de acordo com a Lei do Comando.

40 líderes do tráfico

Líderes do tráfico de drogas da comunidade, entre eles, primos, gerentes, patrões e chefes de pontos de tráfico do bairro

100 traficantes

Adolescentes e jovens com idades entre 13 e 30 anos que vendem drogas para os chefes, líderes e patrões

Grupo Sorokaus

Grupo de rap formado por uma só família O grupo acabou após da morte de Pow, um dos irmãos que foi preso e, após sair da prisão, foi assassinado

Jonas

Bar onde pessoas se encontram aos finais de semana para jogar truco e bilhar


Fotos Antigas – Moradores e festas

Antigamente, as primeiras festas de carnaval eram realizadas à luz do dia. Essa é uma foto resgatada de um senhor que mora no bairro há mais de 30 anos e que foi um dos que fundaram o carnaval na comunidade.


Esta foto mostra como eram as festas para jovens e crianças do bairro 15 anos atrás. Todos se reuniam neste local que, hoje, é um campo de futebol. Os líderes da comunidade chamavam os bombeiros para dar banho de mangueira nos moradores em dias de muito calor.

Hoje, a maioria desses jovens permancem morando na comunidade e ainda praticam capoeira. Dois deles viraram professores desse esporte e, hoje, um deles - o “Caju” - é professor no Canadá . Imagem do primeiro ônibus inaugurado na comunidade. Na Rua Maria de Lourdes Ferreira, crianças e jovens pararam para ver a novidade.

Este é o primeiro grupo de capoeira formado no bairro. Os jovens que iniciaram com o grupo se encontravam para realizar treinos na Rua Paula Mayer Cattine, antiga Rua 03.

Equipe de moradores da Cooperativa do Lixo, assim nomeada por eles, recolhiam o lixo porta a porta, pois a falta de coletores era muito grande, acumulando sujeira e mal cheiro, o que incomodava os moradores. Depois de um tempo, os moradores montaram um depósito para facilitar a coleta, de onde se retiraria todo o lixo em um único dia da semana e em um lugar só.


Antigo CRAS da Comunidade Nova Esperança: festa do Dia das Crianças. O homem junto aos filhos dos moradores é “Tião”, hoje Presidente de Bairro e da Associação de Moradores.


O depósito da Cooperativa de Lixo da Comunidade.

Algumas ruas da entrada do bairro eram de paralelepípedo. Hoje, cerca de 80% das ruas são aslfatadas somente os moradores do Canta Sapo ainda não têm esse benefício.


Antigo Tancรฃo Nova Esperanรงa Fotos do Canta Sapo atualmente.



USINA DA TRANSFORMAÇÃO Experiência em rede de formação, vinculação e diagnóstico. A ideia da Usina nasce da necessidade de facilitar e otimizar a participação e articulação de atores comunitários na criação de propostas de integração em suas comunidades. Após inúmeras reflexões sobre como este objetivo poderia ser alcançado pela equipe do Instituto Empodera, as organizações Lua Nova, Reciclazaro, SPM, Pode Crer e O Amor É A Resposta elaboraram um desenho metodológico de uma Usina que promove o desenvolvimento de projetos locais, por meio de um desafio de participação comunitária em forma de gincana. Nele, instituições e atores locais criam novas iniciativas, além de fortalecer as já existentes, a fim de oferecer novas alternativas e oportunidades para que as populações vulneráveis se tornem protagonistas de sua história e criadoras do seu espaço. O formato de gincana facilita o acesso aos conteúdos teóricos do Tratamento Comunitário, propiciando a construção de espaços de encontro. Além disso, a Usina envolve atores locais, Ongs e poder público em um movimento articulado de melhoria da qualidade de vida de pessoas, comunidades e cidade. Permitem ainda implementar microprojetos comunitários em cada comunidade como forma concreta de contribuir para as mudanças de representações sociais e paradigmas da comunidade. A ideia da Usina é criativa, inovadora e diferente porque acredita, fundamentalmente, nas pessoas e seus potenciais. Ela tem como objetivo criar um ambiente comunitário que possa gerar segurança e integração entre seus moradores, através do desenvolvimento de um modelo de formação em ação. Promove o desenvolvimento pessoal e comunitário das pessoas e suas respectivas redes que se encontram em situação de vulnerabilidade, através do empreendedorismo social, do desenvolvimento de potencialidades, da criação de vínculos e da

PH Antonello Veneri

articulação em redes que contribuam na melhora da qualidade de vida dos jovens e suas comunidades. A Usina é diferente porque se nutre de todos os seus participantes e se enriquece com a diversidade. A banca de jurados é, geralmente, composta por duas pessoas com experiência em atuação comunitária e fazem uso dos instrumentos qualitativos e quantitativos de avaliação. Os grupos que conseguem 75% da pontuação total, no final da Usina, recebem um fundo semente para desenvolver um projeto comunitário de sua escolha. Lançou-se, portanto, a “gincana”, desafio nos núcleos comunitários no espaço de 8 semanas, durante as quais cada grupo pôde desenvolver uma ação semanal específica, cada uma relacionada a temas como comunicabilidade, geração de renda, solidariedade, desenvolvimento de habilidades, mobilização e participação comunitária. As ações foram avaliadas e pontuadas por uma banca julgadora. Finalizadas as 8 semanas, os grupos que participaram ativa e satisfatoriamente receberam o fundo-semente, puderam continuar o acompanhamento e seguimento durante a execução do processo, sem internação ou afastamento de seu convívio social.


Relato de um Processo 1 - Seleção dos Usineiros Cada instituição (Lua Nova, Reciclazaro, SPM. O Amor É A Resposta, e Pode Crer) fazia o convite a jovens que atuavam em sua instituição, assim como a educadores comunitários. As instituições participantes indicavam jovens, através de uma ficha sobre suas motivações, e a coordenação escolhia dois representantes por organização . O critério era disponibilidade, criatividade, espírito empreendedor, capacidade de liderança e responsabilidade com a implantação da proposta. A principal motivação que fizeram os usineiros e anjos participarem da Usina foi contribuir para a melhoria da comunidade na qual alguns moram e outros atuam em diferentes âmbitos. Além disso, os que já participaram de outros processos formativos realizados pelo Centro de Formação (hoje, instituto Empodera) possuíam uma relação de confiança na proposta de Tratamento Comunitário. 2- Encontro motivacional para educadores comunitários Após esta fase, foi realizado um encontro com os educadores comunitários e os jovens formados nas anteriores etapas do processo em cada cidade, através de uma capacitação para educadores pares. Este encontro reuniu todos os grupos inscritos em cada comunidade, para que cada um se conhecesse e entrasse em contato com o formato e as regras, os tipos de resultados esperados. Além disso, para que fossem motivados a impactar positiva, ambiental e socialmente nas comunidades de onde provem, durante três dias, os grupos vivenciaram experiências de cooperação, associação, articulação, comunicação e criatividade, a fim de adquirir repertório para atuar no desafio e na vida. Os temas abordados foram comunidade local, trabalho em equipe, motivação, lideranças, capacidades, competências, habilidades, autoestima, responsabilidades, papeis no mundo, empreendimento, sustentabilidade, desenvolvimento pessoal, sonhos, prazeres, articulação em redes, cooperação, valores, solidariedade, minorias ativas e diversidade. Através deste evento, os participantes puderam vivenciar a prática e os conceitos envolvidos no processo, além de discutir os procedimentos, postura e atividades a serem realizadas nas etapas subsequentes. Durante o encontro motivacional, os participantes tiveram uma aula de propostas de Marketing e envolvimento com a mídia, visando ao aperfeiçoamento da forma de comunicar as propostas e, especificamente, o objetivo da Usina. Foram preparados releases, logos e desenvolvida, conjuntamente, a base de toda a campanha que será veiculada nas comunidades para a divulgação do desafio.


CARTA DE PRINCÍPIOS A Carta de Princípios é a bússola que orienta a ação dos usineiros e à qual devem sempre recorrer, seja para orientar a ação individual ou coletiva, para dividir com outros, para melhorá-la, ou para iluminar o caminho.

PRINCÍPIOS-GUIAS DA USINA DA TRANSFORMAÇÃO 1 - Fortalecimento das habilidades e competências Ao nascer, cada um traz um conjunto de características individuais que o fazem diferente dos outros. Algumas herdadas de nossos antepassados, outras que adquirimos na convivência com outras pessoas, com o contexto e durante o nosso desenvolvimento. É muito importante valorizá-las e colocá-las à disposição do coletivo, pois assim se fortalecem e se valorizam. Algumas habilidades muito importantes que desenvolverão neste caminho serão as de respeitar as identidades e as diferenças; utilizar a linguagem de forma expressiva e correta; interrelacionar pensamentos, ideias e conceitos; desenvolver o pensamento crítico e flexível; adquirir, avaliar e transmitir informações; desenvolver a criatividade e saber conviver com o seu grupo, entre outras que serão constatadas ao longo do processo. 2 - Estímulo e motivação Estar estimulado e motivado com uma causa comum é o que faz as transformações acontecerem. É a emoção, a força que impulsiona para o próximo passo, para o próximo movimento. Por isso, as escolhas feitas têm que fazer seu coração bater. A motivação nos coloca inteiros em direção a um objetivo, contribui para nos manter centrados no foco e, assim, o resultado não pode ser outro senão o sucesso e a conquista.

Alimente a motivação, busque estímulos no trabalho de cada dia, pois eles o ajudarão a se manter firme, determinado e de olho no futuro. Uma equipe motivada contagia o seu entorno, gerando aliados e mais sonhadores, novos transformadores que vão à ação! 3- Cooperação e articulação em redes O trabalho em equipe é o pilar fundamental para o desenvolvimento de ações comunitárias. Além de tolerância, paciência e atitude positiva, é indispensável a cooperação entre os membros e fora do grupo. Cooperação que se faz com os participantes da sua equipe, mas também com a comunidade na qual se atua, com os líderes e instituições com os quais se articula, sempre com vista num objetivo comum. Estabelecemos redes desde que nos relacionamos com outros, e essa relação deve ser colaborativa e horizontal, em um constante fortalecimento de vínculos e conexões que facilitam a convivência em harmonia e a superação dos obstáculos. 4 - Persistência e confiança Ambas são virtudes que precisam ser bem exercitadas no dia a dia, quando se tem uma ideia e quando se trabalha em equipe. Ser firmes e constantes quando temos um pensamento e, suficientemente, coerentes e consistentes para que esse pensamento passe a ser coletivo é um trabalho árduo e que precisa de muita convicção. A persistência fortalece a vontade e a atitude das pessoas; a confiança lhes permite sonhar e ver o caminho das possibilidades junto com outros, nos quais acreditamos e nos sentimos em segurança. Não importa quantos obstáculos se apresentem no caminho se o grupo tem a certeza da mudança que quer. Quando as dificuldades parecem maiores que seus ganhos, imagine o seu objetivo cumprido e sinta a emoção da conquista como se ela já tivesse acontecido… É um ótimo gás para continuar!

5 - Respeito à diversidade Muitas pessoas trabalhando juntas, sonhos que compartilham e outros que não, conflitos que surgirão, interesses diferentes, tudo isso é parte da convivência e do trabalho em equipe. Mas, se estamos de olho no futuro, nada disso pode desanimar o grupo. A diversidade é rica por si mesma e, quando compreendida, traz ao grupo um diferencial sem igual. Discussões devem ser realizadas, pontos de vista devem ser colocados. Opiniões bem argumentadas, escuta ativa e abertura contribuem para que o grupo seja, além de tudo, coeso e respeitoso. É muito importante aprender com as diferentes experiências e opiniões apresentados, manter o foco nos objetivos e nas relações, promover um ambiente multicultural e incentivar ativamente a contribuição de cada indivíduo dentro do grupo. 6 – Coragem e empreendedorismo Se você está frente a esta Carta de Princípios e chegou até aqui, se considere um corajoso. Reconhecemos em você um empreendedor, uma pessoa que quer produzir mudanças, que assumiu trabalhar junto com outros por e com objetivos maiores. Você está assumindo uma grande responsabilidade: a de atuar para transformar. Para isso, precisará entrar em contato permanente com a sua iniciativa, coragem, decisão, respeito com a sua comunidade e muita capacidade de organização. Para ser um empreendedor, é preciso muita determinação, consciência e ter, indiscutivelmente, um olhar diferente sobre o mundo, tomar decisões acertadas, explorar novos conhecimentos, conectar novas pessoas, valorizar experiências e dar passos importantes no presente rumo ao futuro.


OS ATORES

TODOS OS ATORES DA COMUNIDADE TÊM UM PAPEL FUNDAMENTAL!

A Usina de Transformação

PERFIL PROFISSIONAL

FAZER

USINEIROS

Operadores que realizam as tarefas propostas na Usina, equipe composta por pessoas que vivem na comunidade. Os Usineiros de diferentes municípios podem estar relacionados com os colegas da Usina, possibilitando a realização de ações de cooperação entre elas, tendo que realizar SEMPRE as atividades separadamente.

EQUIPES

Rede formadora que envolve diversas organizações, associações e atores que contribuem com o processo da Usina. Realiza o envio das tarefas, acompanhamento e apoio às equipes de usineiros.

BANCA DE JURADOS

MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Os membros dos jurados têm a responsabilidade de pontuar cada tarefa segundo os critérios e, caso seja, possível enviar comentários a respeito do trabalho dos usineiros. Geralmente, são compostos por potenciais apoiadores dos projetos que surgem neste processo. Apoia a inclusão do projeto nas diferentes instâncias de discussão, principalmente as que competem ao desenvolvimento local e juventude, fomentam a participação de representantes nas atividades realizadas pelos Usineiros. Oferece apoio com infraestrutura, divulgação e equipamentos e técnica para desenvolver as tarefas.

Divulgação e destaque das ações correspondentes à Usina, contribuindo para gerar mudanças da percepção da comunidade a nível local e regional, promovendo e divulgando seu papel protagonismo e espírito transformador.

LIDERANÇAS FORMAIS E NÃO-FORMAIS

Constitui a rede de líderes de opinião, identificados em instâncias prévias. São peças fundamentais para a efetivação da Usina, contribuindo com os Usineiros na realização das atividades e fazendo o nexo entre todos os atores da comunidade, promovendo a intervenção.

PARCEIROS

Constitui o capital social da intervenção. São todos os parceiros que colaboram nas tarefas específicas, empréstimo de infraestruturas, apoio técnico, contribuição para a promoção e divulgação das atividades entre seus beneficiários e outras.


DESENVOLVIMENTO DO DESAFIO A metodologia utilizada no processo reconhece, como essencial, o aspecto vivencial da experiência, estimulando a participação aplicada no desenvolvimento de exercícios de integração à realidade comunitária que permitam o fortalecimento das competências individuais e coletivas. Em cada etapa da Usina, os grupos participantes desenvolveram diferentes tarefas e reportaram os resultados semanalmente para banca avaliadora. Este resultado era enviado na forma de um produto e uma descrição do processo para desenvolvê-lo que, por sua vez, eram avaliados pelos jurados, seguindo indicadores apresentados em uma tabela . Os grupos de Usineiros recebiam, a cada semana, junto à tarefa indicada, um quadro com os critérios pelos quais essas tarefas iriam ser avaliadas. Além deste, um texto motivacional era anexado a cada tarefa e tinha a função de oferecer subsídios para que se apropriassem dos conceitos, o que facilitaria no desenvolvimento da tarefa. Este texto motivador era lido junto

com o Anjo (tutor do grupo de cada organização) no momento em que se recebia a tarefa. Todos recebiam uma tabela com os itens que seriam julgados pelos Jurados. Por exemplo, no item criatividade, o Jurado avalia as características do produto apresentado, assim como sua modalidade de apresentação e ideia. Quanto mais criativa e inovadora, mais pontos eles recebiam. Aos Jurados, era enviado o mesmo material da tarefa e ainda a tabela com os critérios. Cada uma delas continha critérios qualitativos e quantitativos que a banca utilizou para avaliar. Estes pontuavam cada uma das organizações segundo os critérios e somavam os pontos, chegando a um valor final de cada organização por tarefa. O processo de recepção e desenvolvimento da tarefa segue o esquema abaixo: 1 - Tarefa postada no blog 2 - Leitura da tarefa pelo Anjo e/ou um membro do grupo de Usineiros 3 - Leitura do texto motivacional

4 - Encontro de 1 hora para planejamento da execução da tarefa 5 - Definição de funções e cronograma 6 - Desenvolvimento da tarefa na comunidade 7 - Elaboração do produto a ser postado 8 - Finalização do produto 9 - Postagem do produto 10 - Encaminhamento dos produtos à banca julgadora, juntamente com a tabela de critérios 11 - Avaliação dos Jurados sobre o produto oriundo da tarefa 12 - Divulgação das notas dos jurados Cabe lembrar que os grupos não competiam entre si, e sim deveriam cumprir mais da metade dos critérios estabelecidos por tarefa para não serem desclassificados.


Tarefa 2: Divulgação da proposta A tarefa 2 consiste em divulgar o desafio na sua comunidade e na cidade. Os Usineiros têm como tarefa conseguir que seu entorno saiba que, por 8 semanas, acontecerá um desafio em diversas cidades do Brasil e do qual eles são parte. Têm ainda como tarefa divulgar nas escolas, instituições, comércios, e por meio da mídia, a sua participação nesta Usina de Transformação. A equipe conta com conhecimento para fazer um release e esse instrumento será de muita utilidade. Nesta etapa, os Usineiros têm a possibilidade de aprimorar as seguintes habilidades: articulação em redes, cooperação, motivação, responsabilidades, comunicação, negociação. Tarefa 3: Apresentação do projeto e justificativa A tarefa 3 consiste em realizar uma nota jornalística que justifique e conte, para a comunidade e para a cidade, sobre o projeto que se pretende desenvolver junto com a comunidade, assim como encontrar aliados para realizar a atividade e o sonho comunitário. A mesma deve ser divulgada para o maior número

U ci LT da IR da ÃO ni a da

Tarefa 1: Apresentação da equipe A primeira tarefa consiste em apresentar, de forma criativa e por meio de um pequeno filme, a equipe de Usineiros que fizeram a ação em busca da transformação. Nesta etapa, os Usineiros têm a possibilidade de aprimorar as seguintes habilidades: trabalho em equipe, valores, solidariedade, criatividade, cooperação.

M

Tarefas

Promovendo talento

Geração de Renda

m no

e

r

g

B

u IR lha R nd O o

A

RO R I BA vela u me a no h min

de pessoas e instituições possíveis. Nesta etapa, os Usineiros têm a possibilidade de aprimorar as seguintes habilidades: comunicação, reflexão crítica, escrita, coerência, persuasão, sensibilidade.

mudanças que eles querem realizar. Nesta etapa, os usineiros têm a possibilidade de aprimorar as seguintes habilidades: imaginação, empatia, amabilidade, curiosidade, integração, reconhecimento, observação.

Tarefa 4: Mergulhando no bairro A tarefa 4 consiste em dar um mergulho no bairro! Os Usineiros devem investigar e realizar uma apresentação que contém dados importantes de seu bairro, seus mitos, rituais, músicas, costumes, modismos e formas de se comunicar, recursos, líderes comunitários e minorias ativas. Permite às equipes identificar as potencialidades, recursos e oportunidades que existem na própria comunidade, assim como as pessoas-chaves que poderão contribuir com as

Tarefa 5: Gerando renda Na tarefa 5 da Usina, os Usineiros devem realizar uma ação empreendedora de geração de renda, criada pelos próprios participantes, utilizando os recursos identificados na tarefa 4. A atividade deverá ser planejada e executada durante uma semana e deverá, além de gerar renda, ter impacto social e ambiental no bairro.


O recurso conseguido poderá ser utilizado nas etapas subsequentes. Nesta etapa, os Usineiros têm a possibilidade de aprimorar as seguintes habilidades: empreendedorismo, negociação, sustentabilidade, inovação, criatividade, visão estratégica, articulação da rede subjetiva. Tarefa 6: Mutirão de mobilização Com o objetivo de promover os valores de solidariedade, responsabilidade e cooperação, propõese, nesta etapa, que os Usineiros realizem uma ação de movimentação durante um dia que beneficie a maior parte de moradores do seu bairro, seja esta de saúde, social, cidadania e/ou outros temas pertinentes. Nesta etapa, os Usineiros têm a possibilidade de aprimorar as seguintes habilidades: solidariedade, responsabilidade, cooperação, capacidade de mobilização, comunicação, criatividade. Tarefa 7: Minha comunidade, minha novela Os grupos devem identificar o problema mais significativo que atravessaram no processo e refletir sobre as estratégias utilizadas para resolvê-los. Após discutir ambos os aspectos, realizar uma fotonovela, forma de arte sequencial que se utiliza de fotografias para narrar uma história baseada em roteiros previamente desenvolvidos, onde possam mostrar os resultados do processo. A tarefa deve envolver atores da comunidade, além de refletir sobre os conflitos e sua mediação, além da promoção de relacionamentos não violentos. Nesta etapa, os Usineiros têm a possibilidade de aprimorar as seguintes habilidades: imaginação, criatividade, paciência, mediação de conflitos, expressão corporal, síntese, sensibilidade, cooperação.

PH Antonello Veneri

Tarefa 8: Reconhecendo talentos Nesta etapa, os Usineiros devem realizar um evento que reúna os talentos da comunidade utilizando recursos do bairro, articulando as pessoas identificadas e contatadas nas tarefas anteriores e usando os recursos captados na tarefa de geração de renda anteriormente realizada. Nesta etapa, os Usineiros têm a possibilidade de aprimorar as seguintes habilidades: competências, habilidades, potencialidades, articulação, comunicação, trabalho em equipe, sensibilidade. A Usina é um projeto contínuo, no entanto, os impactos logo podem ser vislumbrados, entre os quais destacamos a mudança que já é visível das representações e imaginários que a comunidade está tendo dos jovens e as pessoas consideradas vulneráveis. Concomitantemente a isto, a mudança de olhar que a cidade vem tendo dessas

comunidades, enxergando-as como capazes de lutar pelos seus direitos, promovendo valores de solidariedade e cooperação. Um outro impacto que se pode ver é a amplitude na rede subjetiva das pessoas que participam do projeto, o que significa um importante fator de proteção para os jovens, suas famílias e sua comunidade, contribuindo para criar um ambiente mais seguro e acolhedor, fazendo do espaço no qual moram um lugar para viver. O fortalecimento das redes nos núcleos através da Usina da Transformação contribuiu, sobretudo, no sentido de mobilizar e fortalecer o envolvimento, apoio e formação das parcerias, incluindo o poder público municipal e federal.


O Tratamento Comunitário – Escalando para a Política Pública

PROGRAMA “ENTRE NÓS” Apoiados pela Secretaria do Desenvolvimento Social e Secretaria da Saúde, em 2011, assumimos o desenho e a coordenação do Programa “Entre Nós”, política pública sobre drogas da cidade de Sorocaba, que tem como principal foco o trabalho integrado, seguindo a proposta de Tratamento Comunitário. A integração social na comunidade, mercado de trabalho e escola; o empoderamento e reconhecimento como cidadãos; o resgate dos vínculos familiares e sociais; a autonomia; a capacitação e a implantação da redução de danos nas Unidades Básicas de Saúde formam o conjunto de objetivos vislumbrados pelo “Entre Nós”. A partir do mapeamento das áreas de atuação e da própria prática, foi possível avaliar os locais com as maiores demandas e criar as estratégias para atuação. Procurou-se, inicialmente, conhecer as redes e os serviços existentes no município e buscar uma atuação articulada e complementar entre estes e as comunidades vulneráveis da cidade possibilitando: • Integrar o trabalho das organizações comunitárias e instituições públicas, constituindo uma rede local; • Propor intervenções personalizadas dentro do contexto da comunidade; • Organizar o processo de acolhida aos usuários de drogas e pessoas em situação de vulnerabilidade, gerando um tapete articulado e resistente.

Os princípios fundamentais da política “ENTRE NÓS” são: 1 - Frequência e permanência: proporcionar atividades diárias por, no mínimo, 3 horas em cada comunidade, a fim de que se visualize a acolhida continua. 2 - Investigação: durante o processo de atuação, a sistematização fornece um diagnóstico dos recursos e demandas da cidade. 3 - Atuação em sistema e não através do serviço: Os serviços, projetos e instituições são elementos da proposta que devem articular com as redes comunitárias, as redes operativas e as redes subjetivas dos usuários. Não existe uma atuação isolada, mas, sim, dentro de um sistema integrado e que reflete a realidade comunitária. 4 - Recursos: todas as situações, grupos e instituições são transformadas em recursos fazendo, assim, um processo ágil de transformação. 5 - Diversidade no grau de exigência dos serviços: oferece a possibilidade de maior aderência da população de usuários ao serviço. 6 - Acompanhamento integrado de casos: três ou mais instituições e grupos comunitários fazem o acompanhamento dos casos, ampliando a possibilidade de sucesso e diminuindo a resistência dos usuários.


Parceiros e Atores Secretaria do Desenvolvimento Social, Secretaria da Saúde de Sorocaba, Secretaria da Educação, Secretaria de Esporte, Lua Nova, Pode Crer, SENAD, Unidades Básicas de Saúde, Agentes Comunitárias de Saúde, Escolas, líderes comunitários, Associação de Moradores do Bairro, pastorais, moradores em situação de rua e outros moradores, bares e estabelecimentos do bairro, coletivos culturais.

As equipes foram formadas em seus diversos níveis: ← Equipe Volante: circula entre todas as comunidades e tem como principal função a de escuta e diagnóstico. Hoje é composta pelo Consultório na Rua, Equipe Sorocaba Integra, Redutores de Danos, Abordagem Social. ← Equipe Local: atores da comunidade que atuam como base para a proposta de atenção comunitária. Hoje é composto por Programa Saúde da Família das comunidades, Unidades Básicas de Saúde, Centro de Atenção Social – CRAS, Centro Esportivo, Escola da comunidade, Associação Amigos de Bairro, Líderes Comunitários. ← Equipe de Apoio: instituições que já existem no município, como Comunidades Terapêuticas, CAPS AD “Saca Só”, Unidade de Acolhimento “Tudo Nosso”, Centro de Convivência, ambulatórios, hospitais, etc.

A ideia de organizar a equipe em três níveis foi a de poder ampliar a capacidade de acesso dos usuários aos processos de escuta, acolhida, tratamento e integração social. Desta maneira, a equipe principal e a local estão na comunidade e podem acompanhar, diariamente, as necessidades das pessoas acompanhadas na comunidade. A equipe volante assume a função de articular e integrar as diversas instituições. A equipe de apoio, que em outras políticas sobre drogas tem papel principal, aqui no “Entre Nós” assume uma função coadjuvante. Contamos com o Sistema Banco de Talentos para integrar todos os instrumentos utilizados na sistematização dos atendimentos no modelo do Tratamento Comunitário: Folha de Primeiro Contato, Diário Clínico, Seguimento e Avaliação. O Banco de Talentos contém informações sobre os usuários atendidos, nome, endereço, grupo familiar, escolaridade, rede subjetiva e diário clínico. Essas informações estão disponíveis nesse sistema para facilitar o compartilhamento e compreensão do indivíduo atendido, para os coordenadores das Unidades Básicas de Saúde. (www.bancodetalentosluanova.org.br)


MODELO DE GESTÃO – Equipe Equipe Volante

A Ação

Educadores Sociais (Lua Nova- Consultório na Rua)

Ações de enganche, educação não-formal, escuta, Trabalho de Rua, itinerantes, Ações na área da Saúde, Ações Organizativas, gestão de casos, encaminhamentos

Educadores Pares (Lua Nova )

Atividade de mapeamento potencialidades e vulnerabilidades, articula em rede

Redutores de Danos (Pode Crer)

Atividade de acolhimento e informação ao usuário de drogas

Agente de Rede Sorocaba Integra

Articula com as redes locais, comunitárias e, subjetivas e de recurso

Médico (Dra.Vilma)

Ações na área da Saúde, encaminhamentos, gestão de casos

Psicólogo (Lua Nova)

Escuta, acolhida

Terapeutas (Terapia Comunitária)

Escuta, acolhida, roda de conversa

Jovens Agentes (Lua Nova)

Um jovem de cada comunidade que atua junto ao consultório de rua em sua comunidade, facilitando o acesso ao bairro e para a mobilização da comunidade


Atuação Interdisciplinar Criação de um Comitê Gestor A representatividade do grupo foi desenhada com o objetivo de estabelecer uma proposta de ação integrada e complexa como o modelo a seguir:

$

$ Administrador

Agente de rede

coordenador do projeto

operador de base educador de rua

operador par

supervisor externo

case manager

coord. case manager

operador especial


ALGUNS DISPOSITIVOS DO ENTRE NóS COORDENADOS PELA LUA NOVA Neste modelo, o usuário, a comunidade e os familiares podem contar com inúmeros serviços que atuam em diferentes âmbitos e limiares de acesso, de maneira integrada e respeitando a especificidade de suas ações, o que facilita a aderência e sucesso do processo. Cronograma: O “Consultório de Rua” e o “Sorocaba Integra” estão presentes 2 vezes por semana nos bairros, durante 4 horas, conforme o cronograma abaixo:

Sorocaba Integra O programa Sorocaba Integra atua no sentido fortalecer os processos de integração social da cidade de Sorocaba, revigorando a formação e participação das redes comunitárias. Hoje, o Integra capacita formadores e multiplicadores entre os atores dos projetos sociais, rede subjetiva comunitária e instituições da rede de serviços público. Implanta e dá visibilidade a dispositivos inovadores de atenção à pessoa em situação de vulnerabilidade, a partir do Tratamento Comunitário no âmbito do acolhimento (centros de acolhida), do trabalho (formação laboral e geração de renda) e da educação (processos de educação não-formal através de “peer education”). Além disso, acompanha casos no Banco de Talentos através dos Instrumentos de Seguimento de Casos do Tratamento Comunitário. As atividades do Integra são: - Escuta; - Acolhimento - Atuação integrada de serviços; - Acompanhamento de 500 casos em ambiente comunitário; - Encaminhamento de casos e acompanhamento da atuação em rede; - Sidies das comunidades; - Avaliação do serviço; - Capacitação e grupo de estudos para a equipe e parceiros; - Tratamento para usuários de drogas em ambiente aberto/ comunitário. - Relatórios quantitativos e qualitativos.

15h00 Às 17h30 15h00 Às 17h30 15h00 Às 17h30 15h00 Às 17h30 15h00 Às 17h30 Sabiá (Praça Principal)

Habiteto (Renascer)

Cajuru (Campo de Futebol)

Vila Formosa (Praça da Formosa)

Nova Esperança (Território Jovem)

18h00 Às 20:30 18h00 Às 20H30 18h00 às 20h30 18h00 Às 20h30 18h00 às 20h30 Brigadeiro Tobias

Vitória Régia (Espaço do Território Jovem)

Aparecidinha

Lopes de Oliveira

Ipiranga (Frente à Casa do Cidadão)


ETAPAS DO PROJETO: SOROCABA INTEGRA O quê? Definição da equipe

Capacitação da equipe selecionada Identificação das 200 lideranças dos bairros e parceiros dos serviços de saúde, educação, assistência social (25 por bairro, divididos conforme os serviços oferecidos, inclusive a equipe da SEDES), que possam compor a equipe de apoio Capacitação dos apoiadores selecionados e identificados (200)

Desenvolvimento do Projeto nos territórios

Ações Selecionar e contratar os pessoais técnicos e agentes de que a entidade ainda não dispõe (03 Supervisores, 01 Psicólogo, 01 Assistente Social, 01 Terapeuta Ocupacional, 01 Pedagogo, 08 Agentes de Rede - um de cada bairro de atuação). Receber e avaliar currículos e/ou indicações, com entrevistas pela entidade com acompanhamento dos coordenadores, se necessário. 1 - Capacitação inicial de 8 horas diárias, durante 5 dias (Introdução à Metodologia do Tratamento Comunitário), apresentação dos serviços de referência do SUAS, divisão de tarefas referentes ao projeto, identificação das lideranças e serviços dos territórios; 2 - Fornecer material prático e instrumentais de trabalho.

Articulação com equipes da Saúde, Educação e Assistência Social dos bairros contemplados (Nova Esperança, Centro, Brigadeiro, Ipiranga, Aparecidinha, Habiteto, São Bento e Vitória Régia), bem como identificação nos locais de maior concentração de pessoas, das lideranças e pontos de apoio.

12 horas mensais por 12 meses, sendo 4 horas de capacitação teórica, 4 horas de atividades práticas na comunidade e 4 horas de apresentação e compartilhamento de casos - com certificação Lua Crescente, validada pela PMS (04 turmas de 50 apoiadores da Rede Operativa - encontros quinzenais)

Subdivisão da equipe em duas equipes menores, que atuarão um dia da semana por bairro, na metodologia do Tratamento Comunitário, nos períodos da manhã, tarde e noite alternadamente, sendo um dos dias reservado para ações de prevenção junto às unidades escolares e outros espaços de grande concentração de pessoas. Obs.: Todo o processo é acompanhado e registrado em instrumentais próprios do Tratamento Comunitário, bem como nas ferramentas de acompanhamento da comissão responsável.


PH Antonello Veneri

Consultório na Rua A Lua Nova coordena ainda o Consultório na Rua (CR), que percorre com uma unidade móvel, disponibilizada pela Secretaria Municipal da Saúde de Sorocaba (SES), alguns bairros durante a semana. A unidade móvel leva uma equipe multiprofissional com assistente social, psicólogo, médico, educador social e redutor de danos até as comunidades, onde oferecem aos usuários de drogas os cuidados básicos e orientações sobre tratamentos oferecidos no sistema de saúde. O Consultório na Rua é uma ampliação do acolhimento e facilitador do acesso dos usuários de drogas e pessoas em situação de vulnerabilidade social aos serviços existentes na comunidade e no município de Sorocaba. Seu intuito é promover a saúde e ampliar as relações desses indivíduos, respeitando a individualidade e aproveitando os recursos da própria comunidade. Não impomos uma mudança na situação que eles vivem e, sim, despertar o interesse para que eles possam se perceber como sujeitos, que possuem o direito a escolher a maneira de viver, a partir das concepções deles, não das nossas. O Consultório na Rua também é responsável em desenvolver atividades de enganche, que dão acesso às demandas da comunidade, possibilitam a articulação dos casos e aproximam a comunidade aos contextos educativos (formal e informal), com o intuito de diminuir os riscos de vulnerabilidade social e de estimular o desenvolvimento de outras habilidades.

Relato de caso R. M., 43 anos, morador em situação de rua, ex-detento, usuário de álcool e crack. Assistido pela equipe do Consultório na Rua há, aproximadamente, um ano. Tem uma hérnia no umbigo e acreditava que essa enfermidade atrapalhava sua respiração. Graças ao olhar holístico da equipe, que não reduziu o indivíduo a um simples usuário com problemas respiratórios - derivados do uso da droga -, foi solicitado o exame que constatou o que já esperávamos: tuberculose. No início, ele apenas reclamava, mas não pedia ajuda. Com o passar do tempo, o amadurecimento da relação, a construção do vínculo, R. M. passou a se aproximar, a contar de si e de suas dificuldades. Ele foi encaminhado para a Policlínica, onde iniciou o tratamento de tuberculose e, na sequência, foi encaminhado para um abrigo de homens. Conseguimos entrar em contato com sua irmã que, junto à sobrinha, visitaram-no durante o período de reclusão e mantiveram contato com a equipe do Consultório na Rua. R.M. permaneceu internado por 3 meses, mas devido a problemas de relacionamento com outro interno do abrigo, fugiu. Dias depois, encontramos o indivíduo na rua, alcoolizado, com tratamento interrompido, alimentação precária e, novamente, se queixando das dores. Quando pensávamos que todo o movimento tinha sido em vão, para nossa surpresa, outra moradora em situação de rua, que divide uma casa invadida com mais 12 moradores, decidiu se responsabilizar pelo companheiro de “mocó”. O tratamento foi retomado, e após algumas semanas, R.M. foi transferido para um abrigo em uma cidade vizinha.


Drop In noturno – Acolhida Noturna Mais recentemente, a Lua Nova, em parceria com a prefeitura de Sorocaba através da Secretaria de Desenvolvimento Social, iniciou um espaço de acolhimento noturno onde se oferece o serviço chuveiro para banho, máquina de lavar e tanque para lavar roupas, micro-ondas e cozinha para alimentação, primeiros-socorros, armário guarda-volume e doze camas disponíveis, das 18h00 às 8h00 do outro dia.

Relato da Comunidade Em um dos bairros que assistimos, os jovens do skate não se misturam com os alcoolistas e se mantinham distantes das atividades do Sorocaba Integra no bairro. Quando os educadores começaram a jogar futebol entre eles, como num toque de mágica, as pessoas começaram a se aproximar - jovens, adultos, funcionários do tráfico, todos se uniram para jogar futebol. O mais interessante dessa atividade é que, durante o intervalo, surgiram conversas de diversas temáticas que possibilitaram uma nova visão dos jovens do skate em relação aos adultos alcoolistas. Da semana seguinte até hoje em dia, quando estamos no bairro, podemos ver esses jovens jogando baralho e, muitas vezes, até sentados no banco conversando com o grupo de alcoolistas.


Dentro desses grupos, a alimentação é feita pelo próprio parceiro e, durante toda a semana, desenvolvem atividades de gastronomia. Cabe lembrar que, durante o dia, esse espaço é utilizado pela equipe do CREAS POP, integrando inovação com política pública. Das 60 pessoas que frequentam o espaço diariamente, hoje 23 delas já desenvolvem regularmente atividades para a gestão do espaço, criando com seus próprios recursos uma engrenagem sólida que fideliza a parceria. O pessoal da equipe está disponível para apoiar, porém o parceiro deverá ser protagonista no espaço noturno. Através do acolhimento, busca-se estabelecer o vínculo e perceber as demandas. Todos mantêm um olhar atento e uma atitude respeitosa frente a cada um que chega. Atividades lúdicas são oferecidas para facilitar a conquista e aderência e permitem o aparecimento espontâneo de demandas que, geralmente, uma conversa formal não detecta. Também está claro seu papel de prevenção e promoção da vida. Esta acolhida é totalmente administrada pelos próprios moradores de rua e supervisionada por um pedagogo e educadores pares. Este trabalho tem mostrado não somente a mudança de comportamento com relação ao uso de drogas, como também a descoberta de inúmeras potencialidades e talentos dentre eles. Encontramos potencialidades como: cozinheiros, cabeleireiros, artesãos, pintores, pedreiros, contadores de história, imitadores, dançarinos, cantores, desenhistas, leitores, escritores, comunicadores, pescadores, secretárias, serviços gerais, colaboradores, pessoas felizes, pessoas querendo mudanças para sua vida. Todos são capazes de organização, estruturação e o que mais querem são oportunidades para mostrarem suas potencialidades. A proposta se estrutura a partir da concepção de

que os parceiros, ainda que excluídos do sistema de garantia de direitos, são portadores dos mesmos, têm conhecimento prévio sobre a realidade e a vida, com capacidade para pensar sobre ela e desenvolver sua autonomia. Além disso, vivenciam todas as características de qualquer um de nós gostam de namorar e passear, sabem cozinhar e limpar, entre outros. É necessário considerar, ainda, a necessidade primordial de respeito aos valores trazidos pelos parceiros. O intuito é mostrar que existem caminhos possíveis para serem percorridos, com responsabilidade e autonomia. Deste pressuposto, construiu-se uma base para a proposta de gestão compartilhada, que parte da cultura e do mundo dos parceiros, ou seja, do conhecimento e habilidades destes antes de tudo. A vida cotidiana e as relações interpessoais são fontes para a compreensão e modificação dos comportamentos e para o desenvolvimento de um projeto pessoal de vida, que se inicia na chegada ao DROP IN (sob a ótica do Tratamento Comunitário, chamamos assim o serviço com baixa exigência que oferece assistência básica e processos educativos no cotidiano). Fazem parte do cotidiano do drop in as seguintes atividades: Atividades domésticas de limpeza, higiene (banho e lavagem de roupa) e alimentação (preparação das refeições diárias). Briefing: realizado uma vez por semana com todos os parceiros, tem a função de planejar a semana, acompanhar os projetos e avaliar o desempenho. Enfermaria: levanta as necessidades médicas, viabiliza os encaminhamentos e atendimentos, cura feridas e faz primeiros-socorros. Inserção escolar/Acompanhamento reforço escolar: levantamento de documentos e providência, matricula na escola e faz o acompanhamento escolar através de aulas lúdicas,

vivências oriundas do processo de gestão, em articulação com o CREAS POP. Atividades lúdicas: jogos, competições, passeios, cinemas, teatros, jogos de cartas etc. Projeto de vida: desde o processo de entrada, observa-se os objetivos, motivações e potencialidades do parceiro. Em conjunto com o setor social, educadores e psicólogos planejam e viabilizam, associado ao residente, o seu projeto de vida. Escuta: é estar presente no espaço da vida cotidiana, nas situações vivenciadas pelas pessoas. É, então, um acompanhamento sobre a relação da vida cotidiana. Estar presente nas várias fases da vida e situações de vida do parceiro não se trata de um serviço e, sim, de integração entre a vida cotidiana e as relações. Por isso, o importante é estar presente de modo permanente. A escuta é feita pela equipe com os parceiros, pela equipe com equipe, pelos parceiros com a equipe e pelos parceiros com parceiros. É o coração do espaço de acolhida. É uma ação para estabelecer contato, se envolver, consolidar a relação. Está relacionado a todas as questões da vida da pessoa, não apenas com seus problemas . Brechó: roupas doadas estão disponíveis para venda por quantias módicas, e um grupo de parceiros fará a implantação e acompanhamento das vendas do mesmo. O recurso captado vai para um fundo de manutenção e emergência da acolhida. Pernoite: é possível utilizar 12 vagas por pernoite, também avaliadas e integradas pelo grupo de seleção e pernoite, composto por redutor de danos e parceiro - estes conhecem melhor a situação da pessoa na rua e poderão ter mais elementos no momento do acompanhamento. Não existe obrigatoriedade em nenhuma das atividades acima. O serviços são “self-service”. Porém, a parceria e a troca de competências é necessária.


Gestão compartilhada É a metodologia utilizada para elaborar o sistema de gestão compartilhada e a da vivência prática, além de encontros no modelo de Assembleia, onde cada participante oferece algo para trocar. Todos são potenciais parceiros, porém temos um objetivo e uma missão clara, que é a integração social efetiva, pela qual nossos parceiros são identificados. Percebemos a competência do outro, verificamos a flexibilidade na atuação conjunta e buscamos deixar claras as funções e expectativas de ambas as partes. Respeitamos o tempo e os valores, estabelecendo vivências iniciais que vão nos mostrar quais são os nossos vícios e qualidades, assim como do outro. Estando clara essa troca, sentimo-nos “parceirizando”. Com alguns deles, estruturamos um contrato de parceira com funções e tempos estabelecidos; com outros, criamos produtos finais em comum; com outros ainda, relatamos nossos sucessos e dificuldades. Para alguns, basta a troca e a convivência; para outros, prestamos conta de nossas relações. Acreditamos que o estar junto das mais variadas formas, a honestidade e a transparência entre os parceiros é a maior garantia de fidelidade, aderência e sucesso. Lua Nova se destaca pela OUSADIA, CRIATIVIDADE E CAPACIDADE para encontrar os talentos em quem “teoricamente” não os teria. Além disso, possibilita um relacionamento profissional entre pares, abolindo quase que definitivamente a mendicância. Apresentamos alguns exemplos a seguir: Vanessa, 34 anos, mãe de cinco filhos - todos menores de idade e, no momento, as crianças moram com sua mãe. Natural de Sorocaba (bairro Jardim Refúgio), estava em situação de rua há cerca de 3 meses, usuária de crack e álcool, porém seu

maior problema é com este. Abandonou os filhos e sua família por conta do uso abusivo das drogas e da violência física que sofria de seus ex-parceiros. Dirigiu-se ao serviço através de uma pessoa que já o conhecia. Vanessa chegou extremamente abatida, fraca e muito vulnerável. Solicitou ajuda e se dedicou em sua estadia na casa, auxiliando na cozinha e na limpeza do local, se tornando uma colaboradora participativa que, com 1 mês de casa, foi convidada a fazer parte da equipe Lua Nova. Ficou muito feliz e atribui, hoje, com o papel de Educadora Par. Continua no processo de reinserção social, sendo assistida pela equipe do CREAS e Lua Nova. Sente-se forte, porém, ainda não consegue seguir por si só, pois precisa de orientação em questão da sua organização financeira, afetiva e familiar. Faz uso da maconha, onde diz que se segura pela falta do crack e também oscila bastante com o álcool, mas consegue solicitar ajuda antes de uma forte recaída. Vanessa voltou a fazer contato e visitas a sua família e seus filhos. Diz ser muito bom todo esse processo pra ela, mas sabe que ainda precisa de mais tempo para se reorganizar com suas questões. Diz gostar do seu serviço, participa de cursos e está aprendendo a cada dia com tudo isso. Costuma dizer que tem muito o que aprender com as pessoas, principalmente estando hoje no papel de educadora. Vanessa é uma ótima cozinheira, gosta de se vestir, se produzir e faz facilmente amizades; auxilia nas conversas e escutas, conseguindo se relacionar e contribuir com a rotina da casa. Continua pernoitando e permanece no CREAS durante o dia. Tem muita vontade de alugar uma casa e morar com seus filhos longe da sua família e do seu bairro. Vanessa participou dos encontros da Formação dos Educadores pela Lua Nova, onde viu que tem muito que aprender e a mudar com seu jeito e sua postura, sobretudo como educadora agora, e está disposta a mudanças.

Algumas histórias… Omar, 33 anos, tem dois filhos, natural de Mato Grosso. Há 12 anos mora em Sorocaba. Usuário de múltiplas drogas, seus maiores problemas são com o álcool e o crack. Em Sorocaba, ja foi preso duas vezes. No Mato Grosso, quando jovem, aos 18 anos, foi preso várias vezes. De tanto entrar e sair da prisão por lá, resolveu vir embora para Sorocaba, onde já encontravam alguns parentes e familiares na cidade. Tentou ficar com seus familiares, porém devido ao uso abusivo de drogas, seu comportamento agressivo e o fato de não aceitar nenhum tipo de regras o colocou em muitos conflitos, fazendo com que Omar ficasse em situação de rua. Fez dela a sua liberdade, o seu “ganha pão” e, a seu benefício, começou a traficar também. Fazia muitos furtos de carros com cargas perigosas de drogas, mas nunca foi preso por isso - as vezes em que foi preso, foi por pequenos furtos, o que deixou Omar muito irritado, levando-o a usar de sua força física para matar e agredir pessoas que o irritavam. Ele nunca foi de muito diálogo, sempre bateu de frente com tudo e todos que “cruzassem” seu caminho. É um líder por onde passa e sempre usou dessa liderança para as coisas que ele gostava e acreditava - no caso, o crime. Após cerca de um mês e meio da saída da prisão, pela segunda vez em Sorocaba, passou a ficar na rua novamente. Começou a frequentar o serviço por si próprio e, como já conhecia o trabalho da Lua Nova, passou a solicitar ajuda para mudanças e melhorar sua vida. Hoje diz que a Lua Nova foi o único lugar que nunca fechou as portas para ele, mesmo ele sendo "difícil". Omar é uma pessoa de difícil diálogo, não fala muito das suas angústias, problemas e dificuldades que o atrapalham, mas, de algumas semanas pra cá, vem conversando e solicitando muita ajuda. Precisa ocupar a mente, não misturar as drogas que usa, pois ele mesmo admite que, quando faz uso e mistura as drogas (crack, cocaína e álcool), fica incontrolável e toda aquela vontade de bater, matar e judiar fica em sua mente, deixando-o atormentado e provocando uma atitude negativa, inclusive para si


mesmo. Hoje em dia, ele sabe que não tem mais estrutura mental e nem física pra voltar para uma prisão. Precisa em mudar de vida, fazer algo de bom para si mesmo, pois, como ele mesmo diz que só fez coisas ruins, precisa saber como é Omar fazendo coisas boas, produzindo e ajudando as pessoas a saírem da vida do crime e de abandono. Omar adora cozinhar, consegue realizar várias culinárias na cozinha (bolos, salgados, entre outras receitas). Sempre diz que é uma terapia para ele: enquanto esta cozinhando, esquece de todos os seus problemas. Faz alguns artesanatos com barbantes coloridos (pulseiras, porta-bic, chaveiros), tem facilidade em ensinar as pessoas tanto na cozinha como com os artesanatos. Hoje consegue direcionar suas angústias, em que a maior delas, está no abandono de sua família, ex-mulher e filhos para com ele. Omar quer parar com as drogas e entende que precisa fazer uma redução de danos consigo mesmo, começando em não mais misturar as drogas que usa. Com isso, evitará as relações/movimentos diretos com as pessoas do tráfico, tendo mais tempo dentro do serviço. Ele tem conseguido administrar suas questões e, o melhor, já consegue falar e expor tudo isso, facilitando o nosso diálogo e convivência e, até mesmo, melhorando a relação com outras pessoas. Frequenta normalmente a unidade de acolhimento e nos ajuda bastante na cozinha com as refeições. Está mais tranquilo e seu limite para ficar no serviço tem aumentado a cada dia. Conseguimos já ter sua presença por até cinco dias seguidos no serviço, sem sair para fazer uso abusivo de drogas mais “pesadas” - segura-se na maconha e na cozinha. É um possível colaborador da alimentação para o Hotel Lua Nova, e acreditamos que um trabalho mais intenso de escuta, conversa e outras relações ajudaria, e muito, nesse processo com Omar. Paloma, 26 anos, natural de Manaus, está em Sorocaba acerca de 8 meses. Não tem filhos, tem mãe e pai na sua cidade de origem, é homossexual assumida e não tem nenhum problema quanto a isso. É uma pessoa calma, gosta muito de conversar, escutar e dar ideias e conselhos. Trabalha em um

banco como auxiliar de escritório das 12 h00 às 18 h00, de segunda a sexta-feira,mas não é um trabalho que gosta muito. Diz que veio para Sorocaba por esse trabalho, mas não é feliz nessa área. Gosta de trabalhar com pessoas em vulnerabilidade, admira e gosta muito do trabalho da Lua Nova. Paloma foi despejada de sua pensão, pois não tinha como pagar pelo quarto. Por ganhar muito pouco e não dar conta do aluguel, pediu auxílio ao CREAS, que a encaminhou para pernoitar no serviço. Paloma está tentando guardar dinheiro para alugar uma casa e reorganizar suas questões. Nunca usou drogas pesadas, fuma seu cigarro e, eventualmente, bebe sua cervejinha, mas bem pouco. Já nos ajudou em um turno de final de semana, associada a outros educadores, no qual se saiu muito bem. É prestativa, auxilia sempre nas “vaquinhas” com suco, pão e mistura, e diz que ajuda com todo coração o local que a ajuda também. Paloma já se colocou à disposição e disse, também, que gostaria muito de fazer parte da equipe um dia. Sempre pergunta quando tem dúvidas, e gostou muito do trabalho de redução de danos. Agradece muito pela oportunidade de sempre aprender com o pessoal do CREAS e da Lua Nova. Acredita que é muito importante esse tipo de acolhimento para pessoas em qualquer situação de vulnerabilidade social. Comenta que esse trabalho faz com que as pessoas busquem outras coisas importantes para suas vidas e que deveria haver outros parecidos com o da Lua Nova. Paloma pode ser uma candidata para um trabalho no Hotel, até mesmo pela parte de escritório, sobre o que ela entende bastante, além de poder atuar também como educadora social. Corina, 43 anos, natural de Botucatu, mora em Sorocaba há, aproximadamente, trinta anos. É a beneficiária mais conhecida pelos serviços da cidade, pois sempre passa por eles e sempre esteve em situação de rua na cidade. Já foi casada com Jorge, “cercado” por ela até hoje Corina até tenta se relacionar com outros homens, mas Jorge é o seu “bebê”, como ela mesma diz... amor antigo. Atualmente Corina namora Raul, outro beneficiário que

sempre está conosco - um rapaz de cerca de 30 anos, pedreiro e que ajuda muito Corina. Sempre a presenteia com doces, bijus e roupas, que o agrada quando é para seu próprio benefício. Às vezes, humilha muito o Raul, sobre o que já conversamos muito, mas ela se faz de durona. Corina é uma usuária forte de álcool e crack, mas ultimamente está mais na maconha e no álcool. Raul, por um período, conseguiu controlá-la só na maconha, uma vez que ele mesmo só usa esta droga. Mas, nos últimos dias, Corina está muito difícil e andou usando crack. Está ficando "rebelde" novamente. Entendemos que ela sofre pelo Jorge e se acaba no álcool. Sempre que pode e consegue, Corina perturba o ex-marido e todos que estão ao seu redor. Ninguém pode se aproximar dele, ainda mais se for mulher, mas ela sabe com quem ela consegue mexer e incomodar. Já tivemos muitos problemas com Corina: gosta de uma conversa paralela e sua vida é ficar levando e trazendo informações das pessoas, ainda mais para irritá-las. Ela tem esse “dom”. Faz sempre “tempestade em copo d'água”, mas quando está “de boa", sem influência de álcool, é uma grande parceira; ajuda nas atividades da casa; gosta de cozinhar também; é ciumenta com as coisas da Lua Nova e da sua madrinha Marta, do “Pode Crer”. Sempre conseguimos “driblar” as confusões causadas por Corina e, quando não conseguimos, é chamada para uma conversa mais formal. Geralmente, depois disso, ela fica mais tranquila, pois se batermos de frente e direto, teremos problemas sempre. Por conhecer muita gente, muitos locais e estar direto com o movimento da rua, Corina seria uma ótima representante de noticiários. Poderíamos pensar em um “jornal da rua”, para o qual ela traria informações certeiras de tudo o que está rolando no centro e nas redondezas. Seria uma atividade para ela e outra para o Hotel. No atual momento, Corina divide o seu itinerário com Pode Crer, CREAS, Lua Nova e a rua, sempre pernoitando conosco na instituição. Gosta de se arrumar, as unhas e os cabelos, e já estamos com um cabeleireiro que tem transformado essas mulheres.


ENTRE NóS ATÉ HOJE O trabalho tem favorecido uma maior articulação da rede, em especial, entre os serviços de saúde, saúde mental e assistência social e, destes, com a comunidade e os parceiros contribuindo, assim, para uma atenção multiplicada aos usuários de álcool, e outras drogas, além do efetivo gerenciamento de casos. Podemos ver mudanças significativas no cotidiano dos indivíduos e da comunidade. As pessoas acompanhadas pelo “Entre Nós” são compartilhadas com os serviços de Saúde, Assistência Social, CAPS, Ambulatórios e CRAS, CREAS, quando se fez necessário, assim como a rede de atenção básica e serviços especializados. Muitos vínculos familiares foram retomados, alguns usuários voltaram a trabalhar, estudar, reduziram o uso de álcool e outras drogas, ou até mesmo alcançaram a abstinência. Nosso trabalho conta com colaboração do usuário como parceiro, da família e da comunidade durante todo o processo. É importantíssimo tratarmos a questão das representações sociais para diminuir os preconceitos e aproximar a comunidade dessa realidade que os afeta direta ou indiretamente. Desta

maneira, é possível entender que a metodologia do Tratamento Comunitário não consiste em transportar, na comunidade local, estratégias e serviços experimentados na comunidade terapêutica - ou em hospitais, ou em outras formas institucionalizadas de assistência no que diz respeito ao uso de drogas - se não detectar, reunir organizar, fortalecer, educar, curar e fazer trabalhar juntos os recursos presentes na comunidade. Neste processo, podem se utilizar obviamente metodologias, instrumentos e recursos procedentes de experiências terapêuticas, educativas e produtivas institucionalizadas. Compreendemos o usuário como um indivíduo que possui direitos e deveres, potencialidades e carências e não o vemos apenas como mais um usuário, e, sim, como mais um cidadão, com sentimentos, sonhos e desejos que devem ser respeitados, independente da situação que se encontra. Como se, ao construirmos a engrenagem CAPS AD, drop in e ações comunitárias, nos tornamos especialistas (expertos) para cada ação e integramos os vários grupos, cada um com a sua função precisa, mas complementando a função dos outros.


LUA NOVA E TRATAMENTO COMUNITÁRIO NO BRASIL E AMÉRICA LATINA RESPOSTAS COMUNITÁRIAS Em 2012, a Lua Nova, junto com o Instituto Empodera e apoio da SENAD, iniciou as Repostas Comunitárias, movimento concretizado através do Encontro de Saberes e Fazeres. O objetivo foi criar uma rede de propostas simples de intervenção desenvolvidas na/pela comunidade para a solução de desafios sociais. O encontro transcorreu por meio de diálogos, intervenções, vivências, integrações, exposições e muita troca de conhecimento e aprendizagem, com o intuito de multiplicar saberes para ampliar e fortalecer a rede. O evento não teve custo e, por seus dois dias de realização, foi utilizada a moeda social. Sua aquisição era através de um Banco Social que funcionou durante o evento, e era usada na alimentação oferecida por “RESPOSTAS” de grupos produtivos nesta área, apoiados pelo “Consulado da Mulher” e “ ITCP” da FGV. No evento, houve o lançamento do livro Tratamento Comunitário – Instituto Empodera de Efrem Milanese, com participação de representantes da SENAD/MJ, OPAS, CICAD, e que já teve sua segunda edição publicada na língua portuguesa, além de uma edição em espanhol. Os eixos que os participantes poderiam enviar “Respostas Comunitárias” eram compostos por expertos e especialistas, divididos em 4 eixos: Dignidade Humana, Saúde, Educação e Trabalho. http://www.wix.com/luanova2011/respostascomunitárias A participação de todos no “Encontro Formativo: Reconhecendo Saberes – Fazendo Parcerias” fomentaram a necessidade nacional de articular as experiência e organizações para um fortalecimento mútuo.


REDES QUE SE AMPLIAM Neste movimento, fortalece-se a Rede Americana de Intervenção em Situações de Sofrimento Social (RAISSS), que une organizações sociais sem fins lucrativos voltadas à intervenção nas situações de sofrimento social (drogas, HIV, situação de rua, meninos e meninas em vulnerabilidade, etc) com a metodologia baseada no Modelo ECO2. Esta rede já está consolidada no México (REMOISSS), CentroAmérica (RECOISS), Colômbia (RAISSS Colômbia), Brasil (RAISSS Brasil), Chile (EFAD), e se encontra em formação no Peru, Uruguai, Argentina e Bolívia. Para conhecer melhor, visite o site http://www.raisss.cl. Esta rede conecta experiências de formação organizadas em cinco Centros de Formação, sendo estes Cafac (México), Centro de Formação RECOISS (Centro-América), Centro de Formação RAISSS (Colômbia), Instituto Empodera (Brasil) e Fundação EFAD (Chile), os que têm articulado para entregar uma formação comum para o Modelo ECO2 na Região. Também tem surgido múltiplas experiências, processos e programas que colocam em marcha as ações sobre o Modelo ECO2 nos diversos países que integram a rede.

FORMAÇÃO DE FORMADORES – Novos tratamentos comunitários A Lua Nova, em parceria com a Secretaria de Políticas sobre Drogas e o CRR da Paraíba, desenvolveu a Formação de Formadores em Tratamento Comunitário. O curso foi pensado para profissionais da rede de atenção aos usuários de crack e outras drogas, agentes sociais e lideranças comunitárias. Para participar os interessados devem: ← Ter experiência prática em trabalho comunitário, em projetos que atuem diretamente com as pessoas (trabalhos de rua, centros de acolhida, centros de escuta, respostas comunitárias, ou com instituições articuladoras de redes); ← Ter um espaço de prática de campo. Cada participante representa uma organização, e esta assumiu o compromisso de permitir que se desenvolvam as ações na linha do Tratamento Comunitário. Tem como principais objetivos: ← Implementar um processo de capacitação e formação de uma equipe nacional e latinoamericana em “Tratamento Comunitário – Modelo ECO2”; ← Melhorar a capacidade e competência em propor respostas comunitárias a situações também comunitárias de exclusão grave e consumo de drogas; ← Implementar ações de Tratamento Comunitário como formas de aprendizagem/formação na ação; ← Elaborar materiais didáticos e teóricos; ← Criar uma equipe de supervisores para apoiar o acompanhamento de práticas de Tratamento Comunitário; ← Criar indicadores de avaliação para o monitoramento e avaliação de ações em Tratamento Comunitário.


COMPETÊNCIAS E HABILIDADES No final do curso e da prática supervisionada, os participantes terão as seguintes competências (conhecimentos) e habilidades: 1. Conhecimento do quadro conceitual do SIDIEs; 2. Manejar os componentes do SIDIEs; 3. Conhecimento dos componentes (5) de Tratamento Comunitário e seu quadro conceitual; 4. Manejo dos componentes de Tratamento Comunitário, exceto o componente de Terapia; 5. Uso de instrumentos de base de Tratamento Comunitário: ficha de primeiro contato, ficha de gestão de casos individuais em comunidades locais, ficha de gestão de casos de grupos em comunidades locais, instrumento de avaliação de passagens, diário clínico, questionário de avaliação do Tratamento Comunitário. Análise com base no conteúdo (informação) dos instrumentos enumerados em 5 para avaliação (objetivos, resultados e impactos) de processos, de programas.

PRÁTICAS DE FORMAÇÃO 1. Leitura crítica dos artigos científicos; 2. Escrever breves publicações descritivas das práticas de campo; 3. Relatório escrito do trabalho; 4. Desenvolvimento de materiais de treinamento para a divulgação de experiências e treinamento da equipe; 5. Acompanhar processos de Tratamento Comunitário; 6. Avaliar processos de Tratamento Comunitário; 7. Acompanhamento de equipes que trabalham em campo; 8. Utilização de instrumentos de avaliação do Tratamento Comunitário; 9. Análise dos dados de avaliação do Tratamento Comunitário;


a) Conteúdo do curso (fase presencial) Temas/Subtemas Conhecimentos do quadro conceitual do SIDIEs e Tratamento Comunitário. Tratamento Comunitário, Comunidade, Comunidade de alto risco, Sofrimento Social, Exclusão Social, início do Tratamento Comunitário, equipe/rede operativa, perfil de profissionais, Prevenção – Organização. Indivíduo, família, grupo, sistema (aspectos psicológicos e socioantropológicos). Elementos psicodinâmicos (defesas psíquicas e grandes “áreas” psicopatológicas). Folha de Primeiro Contato, diário clínico, SPICL, Avaliação do Tratamento Comunitário. Conhecimento do quadro conceitual e prático de SIDIEs e Tratamento Comunitário. Entrar, encontrar, estar na comunidade, rede (ego rede), redes subjetivas, redes primárias, redes secundárias, rede de líderes de opinião, rede operativa, rede de recursos comunitários, rede subjetiva comunitária, minoria ativa, dispositivo e construção do dispositivo, ações de vinculação, capital social, Assistência Básica e Educação. Diagrama de rede (gráficos e matrizes de incidência). Ficha de primeiro contato, diário de campo, diário clínico, SPICL/SPGCL. Conhecimento do quadro conceitual de SIDIEs e Tratamento comunitário. Análise de boas práticas e fracassos, história da comunidade, elementos sociológicos, temas geradores, estratégias de ancoragem e objetivação, mitos, rituais e costumes. Na base de conflitos da comunidade, cura médica e psicológica, trabalho individual, família, grupo, rede. Elementos básicos psicodinâmicos (desenvolvimento de defesas psíquicas), modos de abordagem ao trabalho de “cura psicológica”. Aspectos médicos do vício. Folha de Primeiro Contato, agenda, clínica diária SPICL / SPGCL, EPPP, Avaliação de Tratamento Comunidade. Conhecimento do quadro conceitual do SIDIEs e Tratamento comunitário. A comunidade e seus serviços. Limiares, complexidade e processos. Tipologia de serviços. Os territórios comunitários, centros de baixo limiar, centros de escuta, centros de tratamento integrado, centro de complexidades mistas. Integração social. Folha de Primeiro Contato, agenda, clínica diária SPICL / SPGCL, EPPP, Avaliação de Tratamento Comunidade.


Referências Bibliográficas MILANESE, Efrem. Tratamento Comunitário - Manual de Trabalho I. 2. ed. São Paulo: Instituto Empodera, 2012



Lua Nova Dando forças para quem tem vontade www.luanova.org.br

SENAD Secretaría Nacional de Políticas sobre Drogas


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.