Ano 1 • NÚMERO 3 Projeto Especial de Marketing
SALVADOR EM
Salvador terá BRT até 2013
FINANCIAMENTO: LULA PARTICIPA DA ASSINATURA DO CONTRATO ENTREVISTA: JOÃO HENRIQUE FALA DA COPA E OUTROS PROJETOS
Sumário SORA MAIA / AG. A TARDE
O BRT
ERIK SALLES/ AG. A TARDE
Entrevista ERIK SALLES/ AG. A TARDE
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BRT decola
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Entrevista
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Tendência
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Parceria
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Debate
Assinatura de contrato de financiamento entre o Governo do Estado, Ministério das Cidades e a Caixa Econômica Federal garante implantação do primeiro trecho do BRT Salvador.
O prefeito de Salvador, João Henrique, fala sobre os novos projetos e sua esperança da capital baiana sediar a Copa do Mundo de 2014 com brilhantismo e modernidade.
Enquanto em todo o mundo se privilegia o transporte de massa, na capital baiana o contrário vem acontecendo nos últimos anos, por falta de uma política consistente e efetiva de transporte público de grande capacidade.
O setor imobiliário endossa a necessidade de uma parceria em prol de um transporte de massa mais eficaz em Salvador, pois uma das maiores preocupações dos compradores de imóveis é a questão da mobilidade urbana.
A gratuidade no transporte público é um privilégio concedido para determinados grupos que onera o sistema para os demais usuários e só será um instrumento de promoção de justiça social se estiver fortemente relacionado a outras políticas.
Parceria SALVADOR EM
Ano 1 • NÚMERO 3 P roj e to Es p ec i a l d e M a rk e t i n g
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Ponto de Partida
Fidel Nuñez Knittel divulgação
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erceira cidade do país em população, Salvador se prepara para fazer parte do time das grandes cidades brasileiras (e por que não dizer do mundo?) no que se refere também ao transporte público. Como se sabe, o pontapé inicial foi dado quando o Comitê Organizador da Copa 2014 – capitaneado pela toda-poderosa Fifa - aprovou o projeto de mobilidade urbana desenhado especialmente para a capital baiana por um renomado grupo de técnicos. Resta somente que, agora, saibamos todos fazer o dever de casa, viabilizando a execução da Rede Integrada de Transporte com o uso do Bus Rapid Transit (a RIT/BRT), nos moldes em que foi concebida pelos especialistas. Ora, mais do que optar por uma modalidade de transporte que alia baixo custo (em relação a outros modais) e eficiência comprovada, ao eleger o BRT como carro-chefe do seu projeto de mobilidade urbana, Salvador dá demonstração de maturidade: deixa para trás a fase de sonhos de lenta concretização para desenvolver ações reais e em curto prazo. Afinal, se executada dentro dos parâmetros em que foi originalmente projetada – cumprindo os trechos Aeroporto/Lapa, via Vasco da Gama; e Calçada/ Pituba, via Iguatemi – a RIT, base do estudo aprovado pela Fifa, vai efetivamente desafogar os dois principais eixos da demanda de transporte coletivo da cidade. E vamos além: ousamos dizer que esse modelo democratiza o transporte, na medida em que conecta o subúrbio ferroviário e o miolo de Salvador aos novos polos de oferta de serviços da região do Iguatemi e seu entorno. Esse é um dos temas que a SALVADOR EM MOVIMENTO aborda nesta edição. É sobre os caminhos do BRT e outros assuntos de relevância para a cidade, por exemplo, que o prefeito João Henrique fala à revista e revela qual o legado de sua administração para a primeira capital do país: resgatar no soteropolitano o prazer e o orgulho de viver aqui. Ao investir na melhoria do sistema de transporte por ônibus e na adoção de novas tecnologias como o Bus Rapid Transit, estamos contribuindo para a requalificação de Salvador e melhorando sua imagem perante o mundo. Afinal, estamos convencidos de que oferecer um serviço de qualidade e obter como resposta a satisfação do cliente é investir na sobrevivência do nosso negócio. É uma lógica simples. Tão simples como a justificativa dada pelo trabalhador rodoviário para defender a adoção do BRT e rechaçar tecnologias à base de trilhos: “Somos a favor (do BRT), pois queremos preservar nossos empregos”, resume o presidente do sindicato da categoria, Manoel Machado.
Fidel Nuñez Knittel é presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Salvador (SETPS)
Guardadas as proporções, para empresários e trabalhadores, a requalificação do sistema de transporte coletivo por ônibus, através do projeto RIT/BRT, é exatamente isso: uma questão de sobrevivência.
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Capa POR Augusto Queiroz
Financiamento garante implantação do primeiro trecho do BRT Salvador
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implantação dos primeiros 20 quilômetros de corredor BRT (Bus Rapid Transit), interligando o Aeroporto Internacional de Salvador ao Acesso Norte, via Av. Paralela, foi assegurada com a assinatura, em 26 de agosto, no Palácio Rio Branco, do contrato de financiamento de R$ 541 milhões entre o governo estadual e a Caixa Econômica Federal (CEF).
O documento foi firmado pelo ministro das Cidades, Márcio Fortes, pelo vice-presidente da CEF, Jorge Hereda, e pelo secretário estadual do Desenvolvimento Urbano, Cícero Monteiro Filho, na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ressaltou a importância do fato para a população baiana: “tratam-se de investimentos que deixarão um grande legado para as capitais. Além de garantir a mobilidade urbana,
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cícero monteiro, márcio fortes e jorge hereda assinaram o contrato no palácio rio branco
estão focados na melhoria da qualidade de vida das pessoas que residem nessas cidades, com melhorias no trânsito”. Comparecerem à assinatura vários ministros de Estado, além do prefeito João Henrique, secretários estaduais e outras autoridades. Na oportunidade, também foi assinada autorização para construir mais 1.294 moradias do Programa Minha Casa, Minha Vida e lançado o edital para duplicação de 165 quilômetros da BR-101 na Bahia. As obras do BRT de Salvador “devem começar em abril de 2011, com previsão de serem entregues em abril de 2013, para que o sistema já esteja operando até junho de 2013, a tempo de atender à Copa das Confederações. Vamos cumprir todas as etapas rigorosamente para entregar tudo dentro do prazo”, garantiu o secretário de Desenvolvimento Urbano, Cícero
fotos: sora maia / ag. a tarde
Estado quer aditivo para novo trecho O titular da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur) revelou que o Estado já está envidando esforços para “incluir um aditivo no convênio que acaba de ser assinado para construir mais uma perna do BRT, ligando o Aeroporto até Portão (Lauro de Freitas), para fazer a integração metropolitana do sistema”. Segundo ele, a Sedur já está ultimando os estudos para construção desse novo trecho. “No momento, estamos fechando o projeto para ver qual vai ser o seu valor. A ideia é fazer um aditivo para incluí-lo já nesse contrato que acabamos de assinar, para ganhar tempo”, explicou.
lula ressaltou o legado que o novo sistema deixará para a cidade
De acordo com o ministro das Cidades, Márcio Fortes, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Copa vai financiar diversos projetos de mobilidade urbana nas cidadessede do mundial. Para tanto, serão investidos pelo governo federal recursos do FGTS que, somados às contrapartidas estaduais e municipais, totalizarão R$ 11,48 bilhões. A CEF informou que já foram habilitadas para contratação, no âmbito do PAC, 54 operações de crédito para projetos de mobilidade urbana visando à Copa de 2014, vinculadas ao programa Pró-Transporte do Ministério das Cidades. O investimento total será de R$ 9,9 bilhões. Os empreendimentos a serem financiados pela CEF utilizarão recursos do FGTS e serão caracterizados pela inovação tecnológica e pelos benefícios a serem revertidos à população
das cidades-sede, tanto em geração de emprego e renda, quanto em ganhos estruturais de mobilidade e acessibilidade. O primeiro projeto de mobilidade urbana em Salvador integrante do PAC da Copa se destina à construção de corredores exclusivos e estações para ônibus BRT, com previsão de integração com o metrô, e envolve investimentos da ordem de R$ 570 milhões. Segundo o secretário do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, Nilton Vasconcelos esta é a primeira intervenção estruturante de transporte de massa da capital baiana, levando em consideração a Copa 2014. Ele afirma que outros projetos de mobilidade urbana estão sendo desenvolvidos com a finalidade de facilitar o acesso de torcedores à Arena da Fonte Nova.
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POR Augusto Queiroz
BRT chega a Salvador até 2013 Novo sistema prevê inicialmente dois corredores troncais e dois transversais, que deverão revolucionar o transporte urbano da capital baiana
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té 2013, Salvador passará a contar com um sistema rápido, prático e seguro de transporte de massa adotado em várias metrópoles do mundo. Trata-se do BRT, sigla internacional de Bus Rapid Transit (Ônibus de Trânsito Rápido), um moderno equipamento de transporte de massa operado por ônibus de grande capacidade, que trafegam em vias exclusivas. E cujo primeiro trecho na capital baiana – ligando o Aeroporto ao Acesso Norte, passando pelas laterais do canteiro central da Av. Paralela - já está com recursos assegurados. Segundo a arquiteta Graça Torreão, superintendente de Planejamento e Gestão Territorial da Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado (Sedur), órgão responsável pela coordenação do projeto, as obras do BRT Aeroporto/Acesso Norte “devem ter início em janeiro de 2012, considerando a conclusão do seu Projeto Básico e os prazos legais de licitação”. Ela assegurou que a elaboração do Projeto Básico – que
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arestides batista / ag. a tarde
Capa
o conjunto de especificações, orçamento, cronograma e elementos técnicos que caracterizam a obra e que deve estabelecer com precisão as especificações de serviços e materiais, custos e tempo necessários para sua execução está avançada. O titular da Secretaria Estadual Extraordinária para Assuntos da Copa do Mundo da Fifa Brasil 2014 (Secopa), Ney Campello, por sua vez, disse que está em curso uma discussão “para saber se esse Projeto Básico será internalizado e assumido pelo erik salles/ag. a tarde
ney campello
“Temos que ter uma definição de curtíssimo prazo da modalidade desse Projeto Básico”
Estado ou contratado através de procedimento licitatório”. Ele garantiu, contudo, que essa discussão não gerará atraso na obra, já que não impede “a assinatura do contrato de financiamento de R$ 541 milhões com o governo federal, foi efetivado no final do mês de agosto, garantindo o bom andamento do processo. “De qualquer maneira, temos que ter uma definição de curtíssimo prazo da modalidade de contratação desse Projeto Básico, por conta do cronograma físico das obras, para que, até o final de 2013, possamos estar entregando o primeiro trecho do BRT em Salvador”, advertiu o secretário. Ele explica que, tanto a linha BRT Aeroporto/Acesso Norte como a linha do metrô Acesso Norte/Lapa, “precisam estar funcionando plenamente na Copa das Confederações, em junho de 2013”. BRT no dia a dia Com grande capacidade, o BRT transporta mais pessoas do que a maioria dos metrôs do mundo. Trata-se de uma tecnologia testada e aprovada, de implantação rápida, eficiência garantida, custos bem menores que o metrô e que contribui efetivamente para a melhoria do trânsito e do transporte urbano
nas grandes cidades. E, o que é melhor: usando tecnologia de origem nacional, com ônibus e componentes fabricados inteiramente no Brasil. “A plena efetivação do BRT em Salvador é absolutamente fundamental. Não só para o Mundial, mas também, e principalmente, para o atendimento à população da cidade no seu dia a dia”, assegurou Campello. Com relação aos dois outros trechos já previstos do BRT, o Aeroporto/Lauro de Freitas e o Iguatemi/Lapa via Vasco da Gama, Campello disse que a Aeroporto-Portão “já está em fase de desenvolvimento dos seus projetos funcional e básico junto à Sedur/Conder. Já o outro trecho, Iguatemi-Lapa, está na dependência de recursos. Neste caso, estamos esperando verba do PAC 2, porque a tomada de financiamento sai caro para o Estado da Bahia. Então, chegou a hora da União fazer a sua parte”, disse. A posição do titular da Secopa é corroborada pelo chefe de gabinete do prefeito João Henrique e responsável pelo Escritório da Copa do Mundo da Prefeitura de Salvador, Leonel Leal, 44 anos, para quem o BRT Iguatemi/Lapa “é
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erik salles / ag. a tarde
graça torreão
“O BRT também implica na reformulação do sistema de ônibus tradicional” estratégico e fundamental para a cidade. Estamos apostando na possibilidade de fazer esse trecho com recursos federais e já temos projeto para isto”. A superintendente de Planejamento e Gestão Territorial da Sedur, Graça Torreão, confirma a informação e diz que a prefeitura “já dispõe de Plano Funcional para o Corredor Iguatemi/Lapa e, segundo entendimentos, deverá captar recursos do PAC 2 do governo federal para sua execução”. Graça Torreão vai além e diz que, com base no projeto chamado 8
Sistema de Transporte Integrado Metropolitano, do Governo do Estado, e na Rede Integrada de Transportes (RIT), da Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), estão sendo considerados prioritários, dentro do recorte Copa, os corredores troncais de BRT Aeroporto/Acesso Norte/ Lauro de Freitas/Aeroporto e o Iguatemi/Lapa. E mais o Corredor Transversal Alimentador I – Av. Pinto de Aguiar/Av. Gal Costa e Ligação Av. Gal Costa/ Via Regional e o Corredor Transversal Alimentador II – Av. 29 de Março/Av. Orlando Gomes, e a Ligação Av. 29 de Março/ BA–526. Segundo ela, esses corredores (com exceção do Aeroporto/ Acesso Norte que já tem financiamento assegurado) serão objeto de captação de recursos mediante sua inclusão no PAC 2 – Mobilidade e outras fontes. “O Governo do Estado, através da Conder/Sedur já elaborou o Plano Funcional que foi aprovado pela PMS e abriu licitação para o Projeto Básico do Corredor Transversal Alimentador I (Av. Pinto de Aguiar/Av. Gal Costa e Ligação Gal Costa/Via Regional), a ser finalizada ainda nesse mês de agosto. Já o corredor Lauro de Freitas/Aeroporto está com o Edital de Licitação em análise, e deverá ser lançado no início de setembro”, explicou.
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Torreão revelou que o Estado está fazendo gestões junto à PMS com vistas à elaboração dos Planos Funcionais e outras gestões para consecução dos Projetos Básicos do Corredor Transversal Alimentador II (Av. 29 de Março/Av. Orlando Gomes), assim como a Ligação Av. 29 de Março/BA-526. A arquiteta explica que alguns eixos de tráfego estão sendo considerados pelo Estado como estratégicos para o desenvolvimento regional a médio e longo prazos, a exemplo do trecho Aeroporto/Acesso Norte. “Os principais corredores serão operados pelo sistema BRT, com ônibus de alta capacidade que garantem um serviço rápido, confortável, eficiente e de qualidade, com vias exclusivas, estações de embarque/ desembarque modernas e adequadas aos padrões internacionais de acessibilidade e segurança, sistema de cobrança externa com bilhete eletrônico e acesso em nível”. Cenário promissor O secretário extraordinário para Assuntos da Copa, Ney Campello, que participou como observador da Copa da África do Sul, disse que Salvador apresenta hoje um cenário muito promissor para o Mundial,
erik salles/ag. a tarde
despertando vários projetos que estavam adormecidos. “Há uma expectativa das 12 cidadessede da Copa que o governo federal assuma um aporte mais significativo de recursos para o transporte de massa. E Salvador é uma cidade que não tem sido muito feliz nesta área. Nós esperamos que o governo federal injete mais recursos aqui”. Segundo ele, no caso do BRT Iguatemi-Lapa, por exemplo, são esperados recursos do orçamento geral da União, via PAC 2. “Porque, com os R$ 567 milhões já assegurados, nós vamos fazer apenas um corredor, o Aeroporto/Acesso Norte. E uma malha viária como a prefeitura está planejando, vai requerer
Alta tecnologia Graça Torreão chama a atenção, entretanto, para o fato de, apesar do sistema BRT usar ônibus, ter pouco em comum com os sistemas tradicionais de transporte coletivo hoje operados em Salvador. “Trata-se de uma tecnologia muito mais avançada. A implantação do BRT implicará em mudanças não apenas na infraestrutura física da cidade, mas também, na reformulação do sistema de ônibus tradicional, com integração das linhas BRT aos outros modais (ônibus, metrô, trem de subúrbio, vans, etc); nova política tarifária, além de nova gestão e delegação dos serviços, com licitação
muito mais. Senão, vamos ter sempre uma solução que não resolve. Mas agora que o governo federal ampliou a possibilidade de endividamento das cidades-sede, o próprio prefeito já disse que vai fazer algumas obras por conta própria”, pontuou. Campello fez questão de lembrar que a implantação do BRT na Paralela “não exclui a possibilidade de ser colocado um metrô no canteiro central da avenida. Temos que pensar em soluções multimodais e que tenham capilaridade, desideologizando essa questão para ver o que se aplica melhor em cada lugar”.
específica para a operação do sistema”. A superintendente de Planejamento e Gestão Territorial da Sedur disse que o BRT requer ainda a implantação de um sistema de controle dos seus corredores de tráfego, que serão informatizados e usarão alta tecnologia para o acompanhamento da sua operação. Ela explica que a implantação do projeto implica na elaboração de: Plano Conceitual - já realizado, com base em pesquisas de demanda, considerando os deslocamentos da população, o uso do solo e os vetores de crescimento da cidade, definindo os itinerários, a localização das estações de integração e o modal (veículo) a ser usado;
Leonel leal
“O BRT Iguatemi/ Lapa é estratégico e fundamental para a cidade”
Infraestrutura física, que abrange: • Plano Funcional de Adequação Viária (em processo de revisão e conclusão) • Projeto Básico de Engenharia para as obras de infraestrutura física (em processo de revisão e conclusão) • Projeto Executivo (a ser licitado pelo Estado) • Obra (a ser licitada pelo Estado). Plano Operacional - desenvolvido pelas prefeituras e pelo Estado e que define as linhas, horários, frota (tipo do veículo, sua renovação, tipo de combustível, etc), forma de operação, sistema de controle, política tarifária, etc. Plano para o Modelo de Gestão Institucional - a ser licitado pelo Estado e que orientará a concessão da operação do sistema.
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Capa POR Augusto Queiroz
BRT é a melhor solução para Salvador, garante especialista
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engenheiro e professor Francisco Moreno Neto, especialista em Planejamento de Transportes e Tráfego, com larga experiência no Brasil e exterior, explica que o BRT é hoje uma tendência mundial, após o grande sucesso de sua implantação em Bogotá, capital da Colômbia, na década passada. “E é a melhor solução de transportes para a capital baiana”. Segundo ele, Salvador, pelas características físicas de suas avenidas de vale – Paralela, ACM, Juracy Magalhães, Vasco da Gama e outras – amplas, planas e com largura e requisitos técnicos adequados, possui todas as condições para a implantação de um bom sistema BRT, com um mínimo de desapropriações. “Além disso, a concepção prevista para a cidade – com faixas exclusivas para o BRT, sem supressão de pistas do tráfego geral - deve proporcionar uma melhor convivência entre ônibus e automóveis. O acesso às estações e paradas do percurso pelas tradicionais passarelas da capital é outro ponto positivo, que garante mais segurança aos usuários. Tudo isso deve possibilitar uma melhor mobilidade urbana para toda a população de Salvador”, diz. Diretor da TTC Engenharia de Tráfego 10 ing
e de Transportes, empresa responsável pela concepção inicial do BRT soteropolitano – o especialista explica que, comparado a outros sistemas de transporte de massa – como metrô, VLT etc –, o BRT tem, pelo menos, quatro grandes vantagens: 1 - Tecnologia nacional, com ônibus 100% fabricados no Brasil; 2 - Versatilidade dos veículos sobre pneus, que usam um simples sistema viário pavimentado para rodar, sem depender de trilhos, redes elétricas e caros sistemas de controle e sinalização; 3 - Grande rapidez de implantação; e, 4 - Investimento mais em conta, com custos de três a quatro vezes menores que o VLT e dez vezes menores que o metrô. “Metrô sobre pneus” Segundo o engenheiro Moreno, a simplicidade construtiva do sistema BRT – que praticamente representa uma ampliação do complexo viário já existente - traz grande facilidade executiva e rapidez na sua implantação. “Os projetos de engenharia e a execução das obras – faixas de tráfego, estações de transbordo, pontos intermediários, viadutos, etc – são de pleno domínio das empresas brasileiras. Além disso, os veículos selecionados – ônibus modernos de grande capacidade – são produtos da engenharia brasileira, fabricados por montadoras instaladas aqui no Brasil, que exportam essa
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bernardo de menezes / ag. a tarde
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Francisco Moreno
“A concepção prevista para a cidade - com faixas exclusivas para o BRT - deve proporcionar uma melhor convivência entre ônibus e automóveis” tecnologia para muitos outros países”, destaca Moreno. O aperfeiçoamento e as inovações incorporadas pelo sistema, que surgiu inicialmente em Curitiba, na década de 1970, criou condições para que os padrões de atendimento do BRT se aproximassem aos de uma linha metroviária tradicional – com velocidades médias de percurso próximas aos 30 km/h e capacidade de transportar de 45 a 50 mil passageiros/hora. O BRT é “um verdadeiro metrô sobre pneus”, explica Moreno, Por conta disto, dezenas de cidades de países emergentes perceberam a chance de melhorar rapidamente o padrão de mobilidade de sua população, com baixo custo e rapidez – a exemplo de Pequim, Shangai e Hangzhou (China) Joanesburgo e Capetown (África do Sul), Cidade do México, Quito, Bogotá, Cartagena e Santiago (América Latina), entre outras. P rojeto Especial de Marketing • SALVADOR EM MOVIMENTO
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VANTAGENS DO BRT Usado com sucesso em diversas cidades do mundo, são muitas as vantagens que o sistema BRT (Bus Rapid Transit) proporciona. Veja algumas: O tempo economizado nas viagens e na espera nas estações é um dos principais atrativos do sistema;
Por trafegar em vias exclusivas, o BRT chega a economizar até 50% do tempo de viagem, em comparação com os sistemas de ônibus convencionais, que são obrigados a enfrentar congestionamentos de trânsito, sinaleiras, lombadas, buracos na pista, tráfego de pedestres etc; Tempo gasto numa viagem BRT de 10 quilômetros, por exemplo, é estimado em, no máximo, 25 minutos, contra, no mínimo, 43 minutos no sistema convencional;
O ônibus BRT é mais veloz que os ônibus convencionais, tem uma capacidade muito maior e um custo operacional menor;
Com a implantação do Sistema de Controle Operacional e comunicação com o usuário, o tempo de espera nas estações pode ser de menos de um minuto.
Com o BRT, a velocidade média dos ônibus terá um incremento de 70%, de 14km/h para 24 km/h (média);
O BRT pode comportar uma demanda de até 45 mil passageiros por hora e por sentido. Os sistemas podem começar com uma operação mínima e irem se adequando conforme a demanda de uma determinada região, aumentando o número e tamanho dos veículos e a quantidade de faixas de circulação; O sistema BRT possibilita reorganizar atividades urbanas e a diminuição das extensões dos deslocamentos, facilitando a movimentação das pessoas na cidade, à medida que é criada uma rede integrada de transporte e há uma desconcentração dos destinos.
Etapas de Implantação do BRT em Salvador
1ª Etapa de Implantação (Troncos Principais)
1 - Aeroporto/ Mussurunga/ CAB/Iguatemi/ Acesso Norte/ Linha Circular na Av. Tancredo Neves
2 - Iguatemi/ Av. ACM (até Pituba)/Lucaia/ Vasco da Gama/ Lapa
fotos: divulgação
Diretrizes e características do projeto BRT a ser implantado em Salvador: • Eixos de Transporte usando ônibus de grande capacidade (acima de160 passageiros/ônibus) • Portas automáticas (duplas e largas) localizadas à esquerda dos ônibus • Mudança da frota existente • Cobrança prévia de passagem (externa!) • Estações com piso elevado (plataforma alta) no mesmo nível do piso dos ônibus, permitindo acessibilidade plena de cadeirantes e pessoas com deficiência • Possibilidade de ultrapassagens nas estações
2ª Etapa de Implantação (Corredores Transversais)
3 - Detran/Retiro/San Martin/ Calçada
4 - Av. Jorge Amado/Imbuí/Av. Edgar Santos/R. Silveira Martins/ Acesso Norte/ Sete Portas/ Barroquinha
5 - Piatã/CAB/ São Rafael/ Av. Gal Costa/ Pirajá
• Convivência de estações de “Área Paga” x “Abertas” • Linhas de ônibus Expresso / SemiExpresso / Parador • Mais segurança para os pedestres, com uso de passarelas ou travessias com semáforos (sinaleiras) • Mais conforto para os usuários, com estações modernas e, se possível, climatizadas • Maior compatibilidade ambiental, com urbanização complementar do sistema
3ª Etapa de Implantação (Linhas Complementares)
6 - Patamares/ Av. Orlando Gomes/Av. 29 de Março/ Cajazeiras/ Valéria
7 - Patamares/ Av. Orlando Gomes/Av. 29 de Março/ Cajazeiras/ Valéria
8 - Suburbana (Paripe < > Comércio)
9 - Orla (Itapuã < > Pituba)
10 - Ribeira/ Calçada/ Comércio/ Garibaldi/ Pituba
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Infra POR Victor Longo
Copa 2014: agora é pra valer!
Dispostas a vencer os desafios, as 12 cidades-sede arregaçam as mangas e vão à luta para que tudo esteja pronto dentro do prazo
efe/sIOJAN SUKI
ricardo teixeira
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al acabou a Copa da África do Sul, o Brasil já recebeu um “chega pra lá” das autoridades do futebol por conta dos atrasos nos preparativos para 2014. O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, criticou a infraestrutura das cidades brasileiras que receberão o torneio, enfatizando problemas nos aeroportos. Os comentários negativos não ficaram por aí: o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, condenou a demora no início das obras para 2014: “Precisamos construir estádios, aeroportos, estradas, fazer funcionar sistema de 14
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telecomunicações, resolver questões de hospedagem”. As críticas foram feitas depois da Fifa realizar vistorias nas cidades-sede. Para pressionar os gestores públicos, o Comitê Organizador Local (COL) promete instalar câmeras de vídeo nos canteiros de obras das cidades-sede até outubro, para poder acompanhar diariamente a evolução dos trabalhos preparatórios. Segundo o presidente da CBF e do COL, Ricardo Teixeira, as imagens serão geradas para a sede da entidade no Rio e poderão ser vistas também por funcionários da Fifa, governantes e pelos comitês das 12 cidades-sede. Para assegurar eficiência e rapidez nas obras, os comitês das cidades-sede terão que dispor, em cada estádio, de um
escritório com engenheiro ou arquiteto, central de imagens, sala de vídeo e teleconferência, e equipamentos como rádio, laptop e impressora. Pressionado, o presidente Lula resolveu reagir: “Já estão dizendo que o Brasil está atrasado em estádios, linhas de trem, metrô, como se fôssemos um bando de idiotas que não sabem conduzir suas prioridades”, disparou, em evento realizado em Brasília. Desde então, o presidente e assessores têm apresentado uma série de medidas para adiantar as obras. Por meio de uma Medida Provisória (MP), Lula criou um regime especial de tributação para a construção de estádios. A decisão, que atende a constantes pedidos dos Comitês Organizadores das cidades-sede, reduzirá o valor das reformas das praças esportivas. A medida define que empresas cadastradas pelo Ministério do Esporte serão desoneradas de PIS/ Cofins, IPI e Imposto sobre Importação de materiais, bens e serviços. A medida vigorará até 30 de junho de 2014. Outra MP assinada por Lula em meados de julho, flexibiliza o limite de endividamento das cidades que irão sediar a Copa. A norma também prioriza financiamentos do BNDES para projetos de infraestrutura para o Mundial e para as Olimpíadas de 2016. Nas atuais condições, diversos municípios que vão sediar jogos não têm capacidade de aprimorar ou construir estruturas esportivas, além de receber turistas. A ideia é que os recursos viabilizem obras de infraestrutura com sustentabilidade, para transformar o mundial no “evento esportivo verde da década”. Confira as principais obras anunciadas, que deverão beneficiar Salvador e as outras cidades-sede:
Críticas foram feitas após a Fifa realizar vistorias nas cidades-sede
Ainda no quesito segurança, a PF adquiriu recentemente novos equipamentos para o desarme de explosivos. Cada cidade-sede vai receber um veículo contendo um robô que detona bombas à distância com jato d’água, um traje antifragmentos para proteger os peritos e uma tenda para evitar detonações por meio de espuma especial.
Portos e aeroportos
Turismo
A infraestrutura aeroportuária já foi apontada como o principal gargalo para a Copa. O ministro do Esporte, Orlando Silva, garantiu que um dos focos é investir na infraestrutura e serviços dos portos e aeroportos, questão que faz parte da lista de 51 projetos prioritários para a Copa de 2014. Lula assinou, em julho, um documento para expansão e modernização de portos e aeroportos das cidades que receberão os jogos. O documento prevê investimentos do PAC de R$ 5,6 bilhões para 13 aeroportos das 12 cidades-sede entre 2011 e 2014. Desse total, R$ 740,7 milhões irão para os terminais de Salvador, Natal, Fortaleza, Manaus, Rio de Janeiro e Santos.
O Ministério do Turismo apresentou, em Brasília, uma proposta de Plano Estratégico do Turismo Brasileiro para a Copa. A ideia é estabelecer uma Matriz de Responsabilidades do Turismo Brasileiro para o Mundial. O planejamento estratégico reunirá dados sobre a situação atual e demandas das cidades-sede no turismo e apresentará propostas com indicação de investimentos e cronograma de ações.
Segurança O governo federal definiu que um Centro de Comando e Controle será responsável pela segurança da Copa 2014, numa parceria do Ministério da Justiça, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e polícias Militar e Civil das cidades-sede. O órgão irá interligar as 12 cidades, para que os jogos tenham um efetivo de policiais com os mesmos equipamentos e estrutura. A sede será em Brasília, e cada cidade deverá construir uma estrutura para abrigar os policiais. O governo pretende gastar R$ 1,6 bilhão com equipamento e treinamento dos policiais. Em contrapartida, os estados deverão oferecer efetivo policial e estrutura para comportar o esquema.
O plano será focado em seis áreas principais: estruturação da oferta turística; infraestrutura turística; qualificação profissional; promoção e apoio à comercialização; combate à exploração sexual; e estruturas e serviços temporários para a Copa. Estádios As obras de todas as arenas estão atrasadas e apenas seis tiveram início. A estimativa feita pelo comitê organizador é que a construção de estádios com capacidade para 65 mil torcedores demore 30 meses. Pelo menos quatro arenas precisarão estar prontas até 2012, prazo estabelecido pela Fifa para definir as cidades que receberão a Copa das Confederações, em 2013. Embora outras cidades que não participarão da Copa possam sediar os jogos do torneio, o campeonato prévio costuma ser usado pela Fifa como teste para a Copa do Mundo no ano seguinte. SALVADOR EM MOVIMENTO
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uma nova arena vai ser construída. O comitê organizador da Copa em Curitiba tem interesse em reformar a arena, mas o clube tem receio de se endividar.
Confira a situação das cidades-sede:
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Belo Horizonte (MG) - As obras previstas compreendem a reforma do Estádio Mineirão e a melhoria do sistema de transporte, com ampliação de vias urbanas, implantação de corredores exclusivos de BRT e expansão da central de controle de trânsito. Com recursos dos governos federal, estadual e municipal, o valor das ações previstas é da ordem de R$ 1,9 bilhão. A reforma do Mineirão está bem adiantada e já entrou na segunda etapa. O estádio terá capacidade para 69.950 pessoas. A terceira etapa tem início previsto para janeiro de 2011 e conclusão em dezembro de 2012.
Brasília (DF) - Com verba de R$ 1,11 bi dos governos federal e distrital, estão previstas a reforma do estádio Mané Garrincha e melhorias no transporte, com obras no acesso ao Aeroporto de Brasília e implementação de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), ligando diversos pontos da cidade. A arena do DF vai ter capacidade para 70 mil torcedores. As obras deverão ser concluídas em 2012. Em suas dependências, haverá um estacionamento subterrâneo com 500 vagas para políticos e espectadores ilustres, além de 12 mil outras vagas em outro estacionamento.
Cuiabá (MT) - As obras previstas compreendem a reconstrução do Estádio José Fragelli (Verdão) e a ampliação do sistema de transportes com a construção de corredores de BRT. O valor das ações previstas é de R$ 935,4 milhões, com recursos federais e estaduais. A construção da Arena do Verdão está em sua segunda fase. Após a demolição do antigo estádio, as obras passam à terraplanagem. Fortaleza (CE) - Governos federal, estadual e municipal preveem a reforma do Estádio Castelão e a ampliação do sistema de transporte da cidade, com construção de corredores exclusivos para ônibus, VLT entre Parangaba e Mucuripe, melhorias no Corredor Norte-Sul (Via Expressa) e implantação de duas novas estações de metrô. O valor das ações é de R$ 1,185 bilhão.
O processo de licitação para a reforma e modernização do Castelão segue uma rotina de impasses e ainda há um longo período de trâmites burocráticos até que o nome da empresa vencedora da licitação seja anunciado. Por conta disso, as obras só devem começar no início de 2011. Curitiba (PR) - Estão previstas melhorias no transporte com construção de corredores BRT, obras na Rodoferroviária, em terminais e corredores do sistema já implantado e em vias de integração. O setor também deverá ganhar um sistema integrado de monitoramento. O valor das ações previstas é de R$ 630,6 milhões. Os gestores ainda não definiram se a Arena da Baixada, do Atlético Paranaense, vai ser reformada ou se 16
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Manaus (AM) - As obras preveem a reconstrução do Vivaldão, além da construção de um corredor de BRT e um monotrilho para ligar diferentes pontos da cidade. O valor das ações previstas com recursos federais, estaduais e municipais é da ordem de R$ 2,05 bilhões. O Vivaldão é um dos estádios mais adiantados e em março começou a ter sua estrutura metálica desmontada. A previsão é que em dezembro o novo espaço
comece a ser erguido. O monotrilho deve ter em breve licitação aberta, apesar de um recuo no financiamento, já que a CEF retrocedeu por recomendação do Ministério Público Federal no Amazonas.
Natal (RN) - As obras previstas para Natal compreendem a construção da Arena das Dunas, além da ampliação do sistema de transporte em dois eixos. As ações previstas são da ordem de R$ 761,1 milhões. Única sede do Mundial que ainda não lançou edital de licitação, Natal passa por situação crítica e já admite a possibilidade de não sediar a Copa das Confederações de 2013. Após cancelar contratos com empresas que elaboraram os projetos da Arena, o governo do estado anunciou que vai manter o projeto básico para lançar a licitação de PPP para a construção do estádio. Porto Alegre (RS) - Ações pactuadas entre as três esferas do governo e o clube Internacional preveem a adequação do Estádio Beira Rio, já bastante adiantada, e a ampliação do sistema de transporte, com a construção de corredores exclusivos para ônibus e duplicação das principais avenidas de acesso ao estádio. As ações previstas têm o valor de R$ 524,7 milhões. A reforma do Beira Rio já foi lançada e o projeto do estádio é o mais elogiado, por usar recursos privados – orçada em R$ 150 milhões, a reforma será custeada pelo próprio Inter. Operários já trabalham no entorno do estádio. A expectativa é de que tudo esteja pronto em dezembro de 2012.
Recife (PE) - Governos federal, estadual e prefeitura firmaram um plano que prevê a construção de um estádio e um terminal de metrô e corredores exclusivos de ônibus. O valor das ações é da ordem de R$ 1,24 bilhão. O licenciamento ambiental para a construção da Arena Recife já foi concedido. O estádio ficará em São Lourenço da Mata, na região metropolitana, e terá capacidade para 46 mil pessoas. Ao redor da arena, está prevista a construção da Cidade da Copa, que ocupará 200 hectares e contará com nove mil unidades habitacionais, escolas e hospitais. No início de agosto, o Porto do Recife iniciou processo licitatório para construção do futuro Terminal Maítimo de Passageiros para a Copa de 2014.
Rio de Janeiro (RJ) - As obras compreendem a reforma do Maracanã e a ampliação do sistema de transporte, com a construção de um corredor exclusivo para ônibus. O valor das ações é de R$ 2,21 bilhões. O Maracanã ainda não tem data definida para o início das obras. A secretária estadual de Esporte, Marcia Lins, admitiu que o estádio poderá ficar aberto até o final do ano por causa da demora na conclusão da licitação.
São Paulo (SP) - As obras previstas compreendem a reforma do Morumbi ou a construção de um novo estádio, incluindo a revitalização e a implantação de equipamentos urbanos no entorno. A cidade receberá também nova linha de metrô – a Linha Ouro – que terá 23 quilômetros e fará a ligação do aeroporto de Congonhas com a rede de metrô, trens suburbanos e o estádio do Morumbi. As ações giram em torno de R$ 3,41 bilhões. Apesar de estar cotada para abrir o mundial, São Paulo também não está em uma situação boa – o Comitê Organizador Local (COL) já se prepara para substituir a cidade por outra sede, por causa da dúvida entre construir um novo estádio em Pirituba ou realizar os jogos no Morumbi. O Pacaembu e o Parque Antártica também são opções. P rojeto Especial de Marketing • SALVADOR EM MOVIMENTO
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Salvador POR augusto queiroz e Matheus Morais divulgação
Uma Fonte mais nova em 2014!
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os acelerados dias de hoje, o tempo não passa, voa! E, brincando, brincando, a Copa do Mundo de 2014 já tá aí, batendo na porta. Uma das cidades escolhidas para sediar o Mundial, Salvador tem que se preparar correndo para receber o maior evento de futebol do planeta. E a maior prova de que a Copa efetivamente já começou por aqui talvez seja a derrubada da Fonte Nova. No lugar da velha praça esportiva, vai surgir a nova Arena Fonte Nova. Toda moderna e bonita. Com capacidade para receber 50.433 espectadores, em três níveis de arquibancadas, com assentos cobertos, 70 camarotes (com capacidade de ampliar para mais 30), restaurante panorâmico de 1.245 m², com vista para o campo e para o Dique, e quase 2 mil vagas de estacionamento. De acordo com Alexandre Chiavegatto,
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A velha Fonte se foi, mas uma nova em folha vai surgir até dezembro de 2012. E já está cotada para sediar a abertura do Mundial diretor do Consórcio Arena Salvador 2014, (parceria entre as construtoras Odebrecht e OAS) responsável pela construção da nova arena, a principal novidade será o investimento feito em segurança, com um sistema de controle de acessos e monitoramento dentro dos melhores padrões internacionais. “O projeto arquitetônico vai preservar o formato de ferradura, com a abertura voltada para o Dique do Tororó, e transformará o antigo estádio em uma arena multiuso”, explicou. A estrutura da arena multiuso estimada em R$ 591 milhões - abrigará ainda um Museu do Futebol, lojas de entretenimento, salões de negócios e eventos, sala de imprensa, 39 quiosques, 12 elevadores e 81 sanitários. Segundo Chiavegatto, o sistema multiuso dará à nova arena padrões de excelência mundial, permitindo que o espaço seja utilizado não somente para eventos relacionados ao futebol, mas também para shows, congressos e encontros de negócios. “Com a nova estrutura,
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o espectador estará mais próximo do espetáculo, gerando um envolvimento muito maior”, falou. Abertura na Bahia? Uma coisa que muita gente ainda não sabe é que Salvador está na disputa para sediar o jogo de abertura do Mundial de 2014, posição que vem sendo defendida pelo governador Jaques Wagner e pelo prefeito João Henrique. Wagner lançou a candidatura da Bahia para sediar a abertura no dia 8 de julho, na África do Sul, no lançamento oficial da marca da Copa do Brasil. Depois disso, o publicitário Nizan Guanaes, cuja agência criou a marca oficial da Copa de 2014, apoiou publicamente a candidatura da Bahia para sediar a abertura. “Estamos elaborando uma exposição para apresentar à Fifa defendendo nossa proposta. A Bahia reúne todas as condições técnicas e políticas para sediar a abertura da Copa, porque a nova Fonte Nova poderá ganhar mais de 12
carlos casaes / ag. a tarde
“Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção, para cada 100 empregos diretos são criados 21 indiretos. Pretendemos contratar 1.500 pessoas durante a construção e mais 2.500 durante o período de operação da Nova Arena“, informou Chiavegatto.
xando p. / ag. a tarde
Velhas lembranças
eric salles / ag. a tarde
Alexandre Chiavegatto
Edson Meirelles mil assentos temporários. Com isso, sua capacidade sobe para cerca de 60 mil lugares, perfeito para sediar a abertura. Já fizemos sondagens junto ao Consórcio responsável pela construção e vimos que isso é possível”, diz o secretário estadual extraordinário para Assuntos da Copa do Mundo 2014, Ney Campello. Segundo ele, além do estádio, a Bahia tem outras vantagens: “o Brasil, país do futebol, nasceu aqui. Temos apelo
turístico, uma multiculturalidade e uma multirracialidade fortes, uma série de manifestações artísticas e uma experiência internacional de organizar grandes eventos, como o Carnaval, maior festa de rua do mundo”. Questionado sobre quais seriam nossos concorrentes nessa disputa, Campello aponta “o Rio de Janeiro, que já vai sediar a final no Maracanã, daí não acharmos justo que sedie os dois principais jogos. E mais Belo Horizonte e Brasília”. Ele defende que a abertura seja no Norte-Nordeste, “onde estão cinco das doze cidades-sede dos jogos. Então é importante dividir esta bola, não deixando tudo no Sul-Sudeste”. O titular da Secopa diz que quem vai decidir esta parada é a diretoria da Fifa. “Mas se não conseguirmos a abertura, queremos sediar ao menos uma semifinal, ou a disputa do terceiro lugar. É uma concorrência saudável, vamos participar!”, diz entusiasmado. O fato é que, sendo sede da abertura ou não, a Nova Fonte tem que estar pronta até junho de 2013, a tempo de sediar os jogos da Copa das Confederações. Por isso, o relógio não para e o pessoal envolvido com a obra também não. Após a implosão no dia 29 de agosto, os trabalhos seguem com a limpeza do terreno, terraplanagem e, depois, as fundações da nova arena. Para dar conta de todo o serviço, o consórcio pretende contratar até dezembro deste ano cerca de 500 profissionais da construção civil.
Com todo este movimento de obras, contudo, tem gente que ainda invoca as lembranças do velho Estádio Octávio Mangabeira. “As cenas do clássico BA x VI do Campeonato Baiano, na tarde de domingo, 22 de abril de 2007, não saem da minha cabeça”, conta o aposentado Edson Meirelles, 77 anos, torcedor do Vitória. “Foi uma partida disputada, dessas que dá gosto de pagar o ingresso para assistir”. O placar final apontou uma vitória rubro-negra por 6x5 diante do seu maior rival. Cerca de 60 mil pessoas lotaram a Fonte naquele dia. “Conheci a Fonte Nova ainda rapaz, na década de 50, quando estudava no Colégio 2 de Julho e disputei a final de um Intercolegial de futebol contra o Central. Perdemos o jogo, mas aquele dia foi marcante porque joguei num estádio de dimensões enormes. Íamos andando do Canela até o Dique na maior tranqüilidade”, diz Meirelles. Outra que relembra com saudade do velho estádio é a professora Célia Sena, 56 anos. “Ia com meus irmãos ver o Bahia jogar. Além de torcer, também aproveitava para paquerar os jogadores! Naquele tempo, o futebol era mais lúdico, mais apaixonante. A Fonte Nova sempre fará parte da minha história!”. Lembranças à parte, a nova arena está sendo aguardada por todos. Mas seu Edson, torcedor experiente e cauteloso, com mais de 50 anos de arquibancada, adverte: “a chegada de um estádio de futebol mais moderno vai ser muito bom, inclusive pelas opções de entretenimento que vai oferecer. Mas é preciso tomar cuidado para que a utilização do gramado não se restrinja apenas à Copa do Mundo”.
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Entrevista: Prefeito João Henrique
“Precisamos rapidamente de um novo sistema de transporte integrado. Não dá para esperar mais!”
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esponsável pela administração da terceira maior cidade do país, com mais de 3 milhões de habitantes na sua área metropolitana, o prefeito João Henrique, reeleito pela população para um mandato de mais quatro anos, tem à sua frente grandes desafios neste período. Entre eles, o de preparar a cidade para ser uma das sedes da Copa do Mundo de Futebol de 2014, o que vai requerer intervenções de peso no tecido urbano e social, especialmente no que diz respeito à área de mobilidade urbana (transportes e infraestrutura viária), atualmente um dos pontos fracos da cidade, cujo trânsito piora a olhos vistos, e que tem sido visto como prioridade pela prefeitura, que defende a implantação urgente do sistema BRT. Nesta entrevista concedida aos jornalistas Chico Vasconcelos e Augusto Queiroz, João Henrique fala um pouco sobre os novos projetos e sua esperança da capital baiana sediar a Copa com brilhantismo e modernidade, encantando ainda mais os turistas e visitantes e deixando um legado permanente para a população, com os novos equipamentos.
Salvador vive um momento muito especial com a vinda da Copa 2014, inclusive podendo sediar a abertura dos jogos. Como o sr. vê isto? João Henrique: Com um sentimento de muito orgulho por sediar a Copa, mas também de muita responsabilidade e preocupação, porque não é um só conjunto de grandes investimentos que se faz necessário, mas, sobretudo, uma mudança de comportamentos. Vamos precisar mudar conceitos, preconceitos, parâmetros e valores de nossa população, que tem uma concentração enorme de gente, cerca de 10 mil pessoas por km2, superior a São Paulo! No que diz respeito a transporte urbano, o sr. vem defendendo o BRT para a cidade. Quais as principais vantagens desse sistema? 20
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JH: Tempo e dinheiro. O BRT é mais rápido de se fazer e mais barato. E apresenta a mesma resposta que outros sistemas, como o VLT. E nós estamos com um horizonte muito restrito de tempo para a Copa do Mundo e, antes disso, para a Copa das Confederações, já em 2013. É um horizonte muito curto e não podemos nos dar ao luxo de embarcar numa aventura. Por mais que o VLT seja bonito, seja moderno, impactante, a gente precisa de resultados rápidos. Salvador ganha 60 mil novos moradores a cada ano. O equivalente a uma Irecê ou uma Cruz das Almas se somando à cidade a cada 12 meses! E toda essa gente precisa morar, trabalhar, se locomover... Por isso, precisamos rapidamente de um sistema de transporte integrado. Não dá para esperar mais! E é um legado que ficará para a população, independente da Copa.
Prefeito, a gente tem acompanhado a propaganda da prefeitura sobre as intervenções que vão ser feitas para melhorar a Av. Vasco da Gama. esse é um dos caminhos por onde vai passar o BRT, vindo do Iguatemi rumo à Lapa. As obras não vão bloquear a pista do BRT? JH: Não. Eu fiz essa mesma pergunta ao meu secretário de Transportes porque também estava preocupado com isto. A ideia é fazer essas obras de áreas de lazer nas partes mais largas da Vasco, sem prejudicar o BRT. Ou seja, essa avenida vai ter também uma pista exclusiva para o BRT. E o BRT Calçada-Pituba, passando pelo Iguatemi? JH: Está planejado e estamos pedindo ao governo federal recursos para executar esse trecho do BRT. Assim como para outras áreas. Se o recurso chegar antes da Copa, faremos, mas não creio que o trecho Calçada-Pituba fique pronto antes da Copa. Esse trecho está no pedido de projetos que fizemos à Casa Civil da Presidência da República, mas eu creio que ele vai ficar para o pós-Copa. Acho que, antes da Copa, a gente apronta o corredor central Aeroporto-Acesso Norte, passando pela Paralela e, inclusive, vindo lá de cima, de Portão (Lauro de Freitas), porque o processamento do financiamento desse trecho (Aeroporto-Acesso Norte) já está sendo feito pelo governo federal junto à CEF. O governo do Estado está tomando cerca de R$570 milhões para fazer este trecho. Já a prefeitura vai inaugurar o primeiro trecho do metrô, que é o Lapa-Acesso Norte. Os trens devem subir para os trilhos ainda neste mês de agosto para serem testados pelas empresas Rotem, Mitsui e Bombardier. Os testes devem durar entre quatro e seis meses.
eriK salles / ag. a tarde
Recentemente o governo federal baixou medidas ampliando a capacidade de endividamento das cidades que vão sediar a Copa. quais seriam as prioridades da Prefeitura de Salvador para a tomada de financiamento, no que se refere à mobilidade urbana? JH: Fazer o corredor BRT do Iguatemi rumo à Lapa, via Vasco da Gama, porque o metrô só contempla a população da Bonocô. E se o financiamento que pleiteamos permitir que executemos todo o trecho da Vasco da Gama até a Lapa, nós assim o faremos. Isso vai permitir que se vá de BRT para a Nova Fonte Nova via Vasco da Gama. Essa será nossa prioridade número um. E as perspectivas de fazer este trecho são boas? JH: Acho que sim. Não sei ao certo porque o meu secretário da Fazenda está ainda fazendo os cálculos. Porque o governo federal, ao baixar a Medida Provisória ampliando o endividamento, fez menção a uma série de leis e ele está levantando toda esta legislação que está referenciada nesta MP para saber para quanto irá nossa capacidade de tomar financiamento. Que até então é de R$ 70 milhões apenas.
Que não dá nada! Não dá nem pra fazer o fechamento todo da Vasco da Gama com o corredor central BRT. O governo federal, de alguma forma, tem deixado a desejar no que tange a recursos para a área de transportes em Salvador... JH: Tem. Salvador é a terceira cidade do Brasil. Quando é que vai oferecer um transporte de massa de qualidade para sua população? JH: Na velocidade que a cidade está crescendo, a prefeitura sempre vai estar correndo atrás. Eu acho que a cidade precisa se integrar mais com o Recôncavo. Por isso eu defendo ou a construção da ponte Salvador-Itaparica, ou, como defende a Odebrecht, e que eu acho mais demorado, uma avenida beirando a Baía de Todos os Santos e o Recôncavo e que leve também à ilha de Itaparica. Eu acho a ponte mais rápida e objetiva. São 13 quilômetros, mesma extensão da Paralela. Agora, imagine esses 13 quilômetros pedagiados e com um corredor exclusivo para ônibus, moderno, feito para os dias de hoje! Vai ser uma coisa extremamente eficiente e que vai permitir muito bem que as pessoas morem na Ilha e trabalhem em Salvador, e vice-versa. E eu defendo esta integração rápida com o Recôncavo por conta da velocidade com que a capital está crescendo... O BRT tornou Bogotá uma cidade respeitada hoje em todo o mundo na área de transportes. Lá, quando se fez o BRT, teve que se dar um choque nesta questão da gratuidade da passagem. aqui em Salvador, categorias dão “carteirada” e não pagam passagem. Isso termina aumentando o preço da tarifa para todo mundo. Como o sr. vê esta questão? Isso vai continuar com o BRT?
“Eu defendo esta integração rápida com o Recôncavo por conta da velocidade com que a capital está crescendo...” P rojeto Especial de Marketing • SALVADOR EM MOVIMENTO
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JH: Não pode. Inclusive o Elevador Lacerda levou décadas custando só cinco centavos!! E nós aumentamos para 15 centavos. O que ainda é muito pouco. Então, não tem como o sistema ser autossuficiente. A gente vai ter que quebrar conceitos e preconceitos nesta área. Vai ter que quebrar paradigmas. Os Correios, por exemplo, são uma empresa lucrativa... JH: Pois é, não tem porque andar de graça nos ônibus! Inclusive, quando a prefeitura precisa colocar cartas, ela paga! Ou seja, não tem contrapartida. Então, o BRT vai ser um momento da gente quebrar paradigmas nesta questão da gratuidade tarifária. Inclusive por conta de agentes políticos, vereadores que, ao longo de décadas, se elegeram defendendo a passagem grátis para algumas categorias. Ou seja, fazendo cortesia com o chapéu alheio. E isto vai ter que ser enfrentado, como a gente está enfrentando agora certas posturas. Como, por exemplo, disciplinando os horários de carga e descarga, que têm que ser feitas só à noite. Tem a questão do xixi nas ruas também, que estamos combatendo. A liberação para construir prédios na orla, onde hoje já começam a surgir bandeiras hoteleiras internacionais, como a Iberostar, que quer construir um grande resort em Stela Maris, porque agora o gabarito foi liberado. O sr. lançou um leque de projetos intitulado Salvador Capital Mundial. Entre eles, A Linha Viva e a Via Atlântica. Sabemos que não existem recursos para essas obras, mas no caso do governo federal ter o recurso e perguntar qual das duas teria prioridade, qual seria sua resposta? JH: Olhe, ambas são importantes. A Linha Viva é pedagiada, porque passa por baixo da linha de alta tensão da Chesf, área de servidão onde não existe ocupação. Então é mais fácil de ser feita. O que a gente quer é que a iniciativa privada faça esta via e recupere o investimento com o pedágio. Essa é a que vai ter menos problema no debate ambiental, porque passa na faixa de servidão, onde não existem ocupações. Já a Via Atlântica é mais complicado, porque passa por cima de áreas ambientalmente sensíveis, como o Parque de Pituaçu. E é uma obra cara, que precisa de recursos federais. Quero dizer que na Prefeitura de Salvador nós criamos um Escritório da Copa, para tratar dos assuntos referentes a mesma. E, através dele, nós já encaminhamos para o governo federal projetos pedindo recursos de R$ 5 bilhões para Salvador. Claro que o governo federal não vai liberar tudo isso, mas alguma coisa vai ter prioridade, e a Av. Atlântica é um dos pedidos. A participação da iniciativa privada na ajuda para a elaboração de alguns desses projetos parece que deu bons resultados. Tanto que quando a Fifa chegou aqui uma das razões de Salvador ter sido 22
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“Não tem porque andar de graça nos ônibus! Inclusive, quando a prefeitura precisa colocar cartas, ela paga! Ou seja, não tem contrapartida” escolhida como sede foi o fato de que já havia um projeto de mobilidade urbana com o uso de BRT. Foi importante essa participação da sociedade civil? JH: Claro. Tanto que eu nem me incomodei muito quando a imprensa citou que alguns projetos foram doados pela iniciativa privada. Porque eu reconheço que os salários na prefeitura nem sempre são suficientes para atrair profissionais para elaborar projetos sofisticados como estes do Salvador Capital Mundial. na área de mobilidade, o que está mais nos projetos? JH: A Vasco da Gama que, se o endividamente permitir, eu tomo como empréstimo. E se não permitir, aí eu tenho que pedir ao Ministério das Cidades. O senhor garante que na área de mobilidade urbana a Copa vem pra Salvador com toda tranquilidade? JH: Vem. Mais do que vir, ela está sendo a oportunidade para que a gente tire os projetos da gaveta e tenha coragem de enfrentar a burocracia. Então, a Copa está sendo um incentivo para todos os escalões da prefeitura e para entidades da sociedade civil organizada, que está encantada com os projetos que temos para a Copa. E estamos sentindo da parte deles – Fieb, ABI, OAB, Associação Comercial... – um sentimento de cooperação. Mesmo entidades da área ambiental estão interessadas em debater e colaborar. Como é que o senhor quer ser lembrado daqui a 10 anos, como prefeito de Salvador? JH: Como o prefeito que quebrou paradigmas que não deixavam a cidade crescer de forma planejada e organizada. E vou deixar projetos de planejamento, porque João Henrique passa, mas os projetos ficam.
Artigo
Jorge Jambeiro JOÃO ALVAREZ / ag. a tarde
Um dos mais importantes temas hoje, a nível nacional, é, sem dúvida alguma, o da mobilidade urbana nos grandes centros do país. Considero até que deva ser uma indagação obrigatória aos candidatos e às candidatas a presidente da República o que pensam fazer em benefício dos milhões de brasileiros em torno dessa questão. Que, a meu ver, deve merecer tratamento específico e prioritário. Nos países em desenvolvimento, os governantes perceberam que sistemas eficientes e eficazes de transportes públicos urbanos levam felicidade, tranquilidade e bem-estar para a população; atraem investimentos externos e desenvolvem o grande filão econômico que é o turismo. Com um sistema de transporte de qualidade, tudo melhora: o atendimento à educação, a saúde, a segurança, enfim, todos saem ganhando. Especialmente os setores econômicos, que, aquecidos, geram impostos e asseguram os empregos diretos e indiretos que tanto precisamos. No Brasil, de uma maneira geral, a imagem do transporte urbano está associada a congestionamentos, poluição, desconforto, insegurança e perdas de tempo. E, o que é pior, os elevados preços dos insumos que compõem a planilha de custos do setor e a alta carga de encargos sociais e impostos resultam em tarifas praticamente proibitivas para a população urbana usuária do transporte. Não há subsídios na maioria das capitais brasileiras para custear as gratuidades concedidas. Não se vê o mínimo de esforço político para desonerar os custos do setor. São estatutos e mais
E o transporte público, presidente? estatutos, e decretos de todos os níveis de governo que concedem benefícios a idosos, deficientes, estudantes e a outras categorias, sem que se especifique a fonte de custeio. No final das contas, quem paga o preço é o sofrido usuário. A impressão que tenho é que o governo federal tem tratado o problema do trânsito e do transporte público das cidades brasileiras mais como uma dor de cabeça ou um encargo indesejável do que como um direito que é obrigado a garantir. Faltam incentivos aos estados e municípios para desenvolverem os seus Planos Diretores de Transporte. Falta entrosamento das três esferas de governo e vontade política de enfrentar a questão da mobilidade urbana com isenção e profissionalismo. São também escassos os recursos para investimentos em infraestrutura viária, para novos projetos institucionais e de gestão econômica e operacional e, ainda, para implantação de novas tecnologias de integração. Os grandes projetos de transporte de massa, já aprovados e em andamento, sofrem pelas sucessivas interrupções das obras, causadas por motivos de toda ordem, com reflexos nos seus custos e nos prazos, e que ninguém sabe quando serão concluídos. Não há compromisso e respeito com o cidadão e falta responsabilidade para com a aplicação dos recursos públicos. A fiscalização é frágil e, muitas vezes, conivente e permissiva com a desregulamentação e a clandestinidade. Tudo isso nos leva a questionar ao futuro (a) presidente da República: qual o seu projeto, presidente, para os sistemas de transporte público urbano nas cidades brasileiras? Jorge Jambeiro É médico, vereador e presidente da Comissão de Transporte, Trânsito e Serviços Municipais da Câmara de Salvador P rojeto Especial de Marketing • SALVADOR EM MOVIMENTO
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Passando o troco POR Matheus Morais
Problemas no trânsito modificam comportamentos De buzu, paleta, TX ou bike, a onda agora é deixar o carro em casa
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nquanto em todo o mundo civilizado se privilegia cada vez mais o transporte de massa em detrimento do transporte individual, na capital baiana o contrário vem acontecendo nos últimos anos, por falta de uma política consistente e efetiva de transporte público de grande capacidade.
fernando amorim / ag. a tarde
Com uma frota superior a 700 mil veículos – número que cresce a cada dia -, Salvador está hoje “na contramão da história” e literalmente “travada” em muitos trechos, com engarrafamentos constantes e regulares em diversas horas do dia e da noite.
irracional dos automóveis em nossa sociedade. Afinal de contas, tem gente que não vai nem na esquina sem usar o carro!
Essa é uma tendência global. Tanto que, todo dia 22 de setembro, milhões de pessoas ao redor do mundo comemoram o Dia Mundial Sem Carro, num exercício de reflexão sobre a dependência e o uso (muitas vezes) 24
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claudionor júnior / ag. a tarde
O problema é tão grave que muita gente está optando por deixar o carro em casa e usar outros meios de transporte. De buzu, paleta, TX ou bike, a onda agora é deixar o carro em casa. Tudo isso, claro, contribui para diminuir os engarrafamentos, já que o número de carros em circulação fica menor.
As vantagens da troca do carro individual pelo ônibus são inúmeras: economia de dinheiro e combustível; menor desgaste do veículo; maior conforto e menor stress no trajeto (o tempo usado para dirigir pode ser utilizado para outra atividade, como ler, conversar, acessar computador, telefonar com segurança etc); e a possibilidade de, nas próprias estações, ter acesso a serviços como caixas automáticos, padarias, bancas de jornais e revistas, cafés, internet etc. Haja carro! Segundo dados recentes do Detran-BA, mais de 83% da frota de Salvador é de carros e caminhonetes, 11,35 % motos, 2,5% caminhões e 1,2% ônibus. É carro demais para uma cidade cuja estrutura viária e um transporte coletivo de massa não vêm crescendo na mesma proporção. A grande quantidade de veículos deve-se principalmente às facilidades encontradas hoje para comprar um carro novo ou usado. Ofertas
Para o ambientalista, o carro é um vício que causa mais dependência que o crack e o chocolate. Como os chocólatras, os viciados em carro também ganharam uma denominação: são os carrólatras, que não têm consciência do seu vício nem controle sobre seus atos. “As pessoas começam a se viciar em carro antes mesmo de obtê-lo, pois começam com o desejo de consumo. Querem porque querem ter um automóvel.
erik salles / ag. a tarde
Sem contar que, para começar a dirigir, os futuros motoristas já coçam o bolso desde o início, com a taxa de abertura da Carteira de Habilitação, que custa R$ 68, além de R$ 135 com exame médico. E mais gastos com cursos práticos e teóricos de direção nas autoescolas. Para renovar a Habilitação, o motorista também não tem pra onde correr: vai ter que gastar R$ 68 com a carteira e mais R$ 53 para exame médico, fora os custos com cursos de direção defensiva e primeiros socorros nas autoescolas. Comodismo caro Por tudo isso, tem gente que não quer nem saber de ter carro em casa! É o caso do professor aposentado, ambientalista e escritor, Jairo Carvalho, 64 anos, que há cinco vendeu seu carro particular. ”Quando comprei meu primeiro carro, aos 22 anos, queria liberdade. Hoje, 37 anos depois, vendi meu último carro e passei a andar de ônibus pelo mesmo motivo!”, comentou, bem humorado.
Depois vem a fase do status, afinal de contas ter carro significa ter condições financeiras. Essa fase nunca passa, pois quem tem um carro popular hoje sempre vai querer ter um carro de luxo no futuro”, ironizou Carvalho.
jairo carvalho
rejane carneiro / ag. a tarde
tentadoras, de encher os olhos e poupar o bolso, e prestações reduzidas em até 72 meses. Mas, adquirir um automóvel vai além de pagar prestações mensais. Pode colocar no orçamento os gastos com IPVA, seguro, manutenção, estacionamento, combustível, lavagem...
denise key “As pessoas ainda não entenderam que andar de carro é um comodismo caro. Além das despesas mensais, o carro se desvaloriza e começa a perder valor quando sai da concessionária”, diz o professor aposentado. Ele garante que ganhou mais qualidade de vida ao vender seu automóvel e optar pelo transporte coletivo, pois mora a 500 metros do ponto de ônibus e pode escolher o horário em que se locomover.
“Pago por um serviço barato, que custa apenas R$ 2,30, com um motorista profissional que dirige bem. Além disso, ainda ganho em média três horas de leitura diária no ônibus. Muitas pessoas precisam de carro para chegar mais rápido ao trabalho, mas tanto faz estar dentro dos carros ou nos coletivos, o engarrafamento é o mesmo”, garante. Segundo ele, é preciso que a população esteja ciente que o carro é um poluidor em potencial, que queima combustível fóssil e reduz o estoque de oxigênio no planeta. “A tendência é que daqui a 30, 40 anos não exista mais nada. O grande vilão dessa história toda é o comodismo, precisamos vencê-lo”, defende Jairo Carvalho. Quem também adora andar de ônibus, apesar de ter carro, é a inglesa Denise Key, 49 anos, professora de inglês, que mora há 16 anos na Bahia. “Meu carro fica quase todo tempo parado na garagem. Moro e trabalho no Rio Vermelho, por isso faço tudo a pé e adoro. Quando tenho que sair à noite - para o Pelourinho, por exemplo vou de ônibus e volto de táxi. Só uso o carro para viajar para Arembepe, e economizo muito dinheiro fazendo isso”, conta Denise. “Adoro andar de ônibus e acho que o serviço de coletivos é ótimo aqui em Salvador: as pessoas são extremamente educadas, seguram nossos livros, bolsas e sacolas e não nos roubam! São de um charme e delicadeza enormes. Uma vez trouxe amigos ingleses pra passear na cidade e eles ficaram impressionados com a amabilidade dos baianos, porque eles fizeram compras e pegaram um ônibus e, ao entrar, as pessoas os ajudaram com os pacotes”, contou.
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Segurança POR Jaciara Santos e Matheus Morais
Parceria Setps/SSP reduz assaltos a ônibus em Salvador
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o mapa vermelho das estatísticas policiais de Salvador, um dado desponta em azul: a significativa queda das ocorrências de assalto aos ônibus urbanos, que teve uma retração de 52,64%, comparando-se os meses de janeiro a julho de 2009 com o mesmo período de 2010. Com destaque para o recorde de maio deste ano, quando foram registrados apenas 42 casos. A título de comparação, só em abril de 1998, pouco antes do Setps firmar convênio com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) para apoiar as ações de combate ao roubo nos ônibus, foram verificados 399 casos. “Já tivemos 40 ocorrências num só dia”, revelou o delegado Antônio Cláudio Oliveira, titular do Grupo Especial de Repressão a Roubos de Coletivos (Gerrc), da Polícia Civil. Mas, a redução desses índices não foi obtida num passe de mágica. Na avaliação do superintendente-executivo do Setps, Horácio Brasil, os resultados devem-se ao conjunto de ações desenvolvidas pela prefeitura, empresas operadoras e, sobretudo, polícias Civil e Militar. Cofres com abertura temporizada, frota monitorada por câmeras em tempo real e dinheiro substituído por créditos eletrônicos são alguns dos itens da estratégia. Nada, entretanto, que se compare ao trabalho de prevenção e repressão feito pelo Gerrc e pela Companhia Gemeos (da Polícia Militar). “Está comprovado: o que inibe a ação dos marginais é mesmo o competente trabalho desenvolvido pelas duas polícias”, disse Brasil.
fernando vivas / ag. a tarde
As empresas acompanham os dados referentes ao roubo em ônibus desde 1996, embora o convênio Setps/SSP só tenha sido firmado em 1999. “Trata-se de uma atitude cidadã, pois gasta-se muito mais com o combate a essa modalidade de crime do que o montante subtraído nas ações delituosas”, esclarece Horácio Brasil. “Estamos convencidos de que os danos sociais e políticos decorrentes desses crimes são bem maiores que os materiais. Nos últimos 11 anos, o Setps investiu diretamente mais de R$1,7 milhão no enfrentamento ao assalto em coletivos, enquanto que, no mesmo período, foram roubados menos de R$ 1,5 milhão”, frisou. 26
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A descentralização do Gerrc é uma das medidas que contribuíram para a queda dos índices, avalia o delegado Oliveira. Agora, o Boletim de Ocorrência pode ser feito na sede do Gercc (na Baixa do Fiscal) ou em um dos três postos instalados nas estações de transbordo de Pirajá, Mussurunga e Rodoviária. “Outra ação importante é a abordagem em pontos de parada, onde já prendemos muitos meliantes prestes a agir”, disse. Também parceira do Setps, a Polícia Militar vê na “socialização das informações” a principal arma para enfrentar o crime: todos os dias, os comandantes das Companhias Independentes recebem, por e-mail, o relatório das ocorrências com transporte coletivo, contendo imagens capturadas pelas câmeras instaladas nos veículos. “De posse desse material, a caça aos
bandidos fica mais fácil”, diz o tenente PM Josair Santiago, chefe do Núcleo de Qualidade e Instrução da Gêmeos, companhia vinculada ao Batalhão de Polícia de Choque e especializada no combate a esses delitos. “Mas, ainda há falhas”, lamenta o oficial. Mesmo com a criação dos postos avançados do Gerrc, o registro da ocorrência não é tão ágil como deveria ser. “O ideal é que a polícia seja acionada pelo telefone 190, assim que os criminosos deixem o veículo,” ensina. Além de comunicar o fato, é preciso que as testemunhas forneçam detalhes como cor, cabelo, roupa, estatura, tatuagens, armas e local de descida dos ladrões, dentre outros. Rodoviários Alvo preferencial dos assaltantes, os rodoviários também festejam a queda dos roubos em ônibus. “Não dá pra
O primeiro a gente nunca esquece
num ônibus executivo”, lembra ela, que perdeu algum dinheiro e a antiga tranquilidade na ação.
A ação é geralmente rápida, não mais que cinco minutos. Mas, para quem vive o trauma de um assalto, pode parecer uma eternidade. É o caso da jornalista C.S., 28 anos, funcionária da prefeitura, assaltada três vezes nos últimos quatro anos. A última, em abril de 2009. Nas duas primeiras, as ações se passaram em dia claro. Na última, à noite.
O assalto sofrido à noite foi também assustador. Não tanto pela violência dos bandidos (dois jovens de cerca de 18 anos), mas pelos desdobramentos: o motorista foi obrigado a desviar do roteiro e foi parar na BR-324. Não fosse a tensão que envolve esse tipo de ação, ela poderia até dizer que a situação foi cômica: “Eu estava sem dinheiro e uma mulher que vinha atrás me deu umas moedas pra eu dar ao assaltante”, diz, rindo. Embora sem dinheiro, a jovem levava na bolsa um celular e um MP3, que não foram roubados.
O primeiro assalto ninguém esquece e para C.S. este foi realmente o mais traumático. Não só porque demorou mais (ou seria a inexperiência que teria causado essa impressão?), mas porque o assaltante demonstrava nervosismo e uma das vítimas tentou chamar a atenção de uma guarnição policial que passava no momento. “Foi em Ondina,
Hoje, a experiente C.S. adota alguma regras que lhe conferem maior segurança. Sempre senta no lado direito do ônibus, para melhor poder
esconder que diminuiu bastante”, admite Manoel Machado, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário da Bahia (Sttroba). Para não dar o braço a torcer e admitir o mérito das empresas nesse resultado, ele atribui o êxito à polícia e derrama-se em elogios ao delegado Oliveira, que classifica como “atuante e eficiente”. A criação dos postos avançados do Gerrc, as abordagens preventivas, e a pronta resposta da polícia são, na opinião de Machado, medidas que têm dado mais segurança à categoria, Mas, ele tem uma queixa: “As câmeras deveriam ser ligadas on-line com a central de polícia, para que o assalto fosse registrado em tempo real”. Elogio às empresas por contribuírem para a queda de quase 53% do roubo em ônibus? Nem pensar. Mas, faz parte. Trabalhador é trabalhador; patrão é patrão. E ponto final.
erik salles / ag. a tarde
Abordagens
c.s., assaltada três vezes acompanhar as reações do motorista; escolhe os assentos mais altos, de onde tem uma espécie de posto de observação; não sai com celulares caros nem aparelhos sonoros vistosos; e evita joias e relógios caros. E, por precaução, mantém abastecido seu porta-moedas para não precisar pagar mico de novo.
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Passava das 17h30 de um dia de agosto quando as três guarnições da Polícia Civil, com 10 policiais comandados pelo delegado Antônio Cláudio Oliveira, titular do Gerrc, saíram da delegacia para fazer a rotineira abordagem a ônibus na Suburbana. Essas blitze acontecem diariamente em toda a cidade, numa parceria com a operação Gêmeos da PM. “Além dos coletivos, também realizamos abordagens em pontos de ônibus e nos bairros mais atingidos pelos furtos. Também fazemos incursões por algumas comunidades e em transportes alternativos”, informa o delegado. As abordagens na região da Suburbana aconteceram em um ponto de ônibus. O delegado Oliveira escolhia as linhas mais visadas. Linha escolhida, a equipe entra em ação e os agentes pedem para os passageiros do sexo masculino descerem do veículo para serem revistados. As mulheres permanecem sentadas. Ao mesmo tempo, policiais revistam as bolsas e sacolas de todos os passageiros. Alguns passageiros não gostam das blitze, muitos chegam a reclamar. “Poxa, logo agora, que tô doido pra chegar em casa e descansar”, resmunga um senhor. Fora isso, tudo acontece na mais perfeita ordem, a ação não dura mais que 10 minutos. Enquanto uns reclamam, outros agradecem a ação da polícia, como a vendedora A.S, 39 anos. “Sei que as blitze são feitas para nos proteger. Ando de ônibus há muito tempo e percebo que os assaltos diminuíram bastante em Salvador. Não me incomodo com o trabalho dos policiais, pior é viver na insegurança de sair de casa sem saber se vai voltar”, comentou. O delegado Oliveira explica que são realizados dois tipos de abordagens. “A abordagem padrão, quando colocamos cones nas vias e paramos os coletivos, pedindo para os passageiros descerem para serem revistados. E as abordagens surpresas, quando os ônibus são parados em diferentes bairros sem qualquer aviso prévio. Esse tipo de abordagem tem alcançado bastante êxito”. Entre uma abordagem e outra, cai a noite na Suburbana. Na última ação, na linha Simões Filho/Terminal da França, um jovem percebeu a movimentação da polícia e jogou uma sacola no chão. Atentos, os agentes revistaram a sacola, onde estavam 50 gramas de maconha. O jovem foi levado para a delegacia. 28
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fotos: Gerrc/ divulgação
Blitz, documento! É a polícia em ação
Crônica século passado, descera para a capital.
O Sorriso de Cuné
Erro estratégico. Vagou sem rumo por vários dias, até homiziar-se em barraco de terra, varetas e papelão erguido às pressas na invasão Malvinas onde, em menos de um mês, desempregados e despossuídos de todas as cores levantaram cidade mambembe e proletária, em nome dos pobres de toda a Bahia. Descamisados, despossuídos... Cuné ouvia o homem bonito falar na televisão, mas não entendia bem do que se tratava. O que sabia era que já estava com “aquilo” roxo: de fome!
POR Augusto Queiroz
O dia era azul, o bairro São Caetano e, do alto do buzu onde viajávamos, fitávamos soberbos a península itapagipana, com seu amontoado de casas e prédios. Cunegundes olhou pra mim e sorriu. Um sorriso amarelo, meio sem graça, mas um sorriso. “Tô sem roteiro”, me disse.
Sabia que era verdade. Desempregado há vários meses, o velho Cuné já fizera de tudo para garantir o pão. Fôra pedreiro, engraxate, office-boy, ajudante de servente... por último, tentara vaga prum emprego de cobrador, sem sucesso. Havia sido fraco no estudo. E, aquilo de números, não era com ele.
Mas, Deus é bom, e Cunegundes passava, com aquela alegria tola dos descamisados, que encontram prazer imenso em serpentear pela vida afora, devorando humilde prato de arroz com feijão, quem sabe algum jabá.
Mas era boa pessoa, o velho Cuné. Honesto, boa-praça, trabalhador, amigo dos amigos, sem inimizades.
E foi assim, com essa alegria humilde e tola dos descamisados, que ele colocou a mão no bolso pobre, apenas para verificar, contrafeito, que não tinha dinheiro para a passagem.
Seguia o fardo de todos os humildes, e sentia-se perdido na cidade grande. Vivera primeiro em Irará, onde nasceu, depois mudou para Macajuba, sertão da Chapada. Um curto estágio em Baixa Grande e, no final da década de 80 do
Contrafeito ainda, leu a mensagem na janela traseira que dizia: “Quebre, Cuné, em caso de emergência, quebre”.
bamboo
“E
m caso de emergência, quebre”. Cunegundes leu a mensagem, mas não teve coragem. Em parte, porque estava comigo. Em parte, porque não tinha coragem mesmo.
Mas, Cuné me olhou, com aquele olhar mortiço de cachorro escorraçado e, por vergonha ou respeito, não teve coragem. Estávamos no alto, em São Caetano. Lá de cima, fitávamos soberbos a península itapagipana, eu e Cuné. Por momentos apenas indiferentes aos pequenos dramas que diuturnamente se armam nos bolsos dos pobres de toda a Bahia. Que ergueram às pressas, na invasão Malvinas, proletária e mambembe cidade de desempregados e despossuídos de todas as cores. Olhei pra Cuné e ele sorriu. Debochado e autêntico sorriso de um brasileiro que desceu pela traseira por não ter dinheiro pra pagar a passagem.
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Estação fotos: divulgação
POR Tom Costa
Rea Vaya: exemplo para o Brasil
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Rea Vaya o BRT da África
om garra, estratégia e um bom toque de bola, a Espanha conquistou sua primeira Copa do Mundo e entrou para a história do futebol. Dos pés do centroavante Iniesta saiu o glorioso e único gol da acirrada partida final contra a Holanda, no dia 11 de julho. Uma vitória que carimbou um torneio de superações, marcado pelo sorriso aberto dos sul-africanos, pelo soar estridente das vuvuzelas e pela inusitada bola Jabulani. A organização do evento superou expectativas e deixou também uma marca fundamental: o Rea Vaya (“estamos indo”, no dialeto zulu). Você sabe o que é isso? Trata-se de um moderno sistema de ônibus BRT (Bus Rapid Transit) desenvolvido especialmente para o Mundial da África do Sul. Um projeto ambicioso e que deixou um exemplo a ser seguido pelo Brasil para a Copa de 2014. Segundo o Ministério de Transportes da África do Sul, o Rea Vaya foi fundamental para transportar os torcedores aos estádios Soccer City e Ellis Park, em todos os 15 jogos realizados em Joanesburgo, maior cidade do país, com 5,3 milhões de habitantes. 30
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Somente no jogo entre Brasil e Costa do Marfim, cerca de 10 mil torcedores utilizaram os novos ônibus rápidos do BRT para chegar ao Soccer City. Com corredores bem sinalizados, pistas exclusivas e estações organizadas, o Rea Vaya percorre em apenas 20 minutos os cerca de 30 quilômetros que ligam o bairro negro de Soweto ao centro de Joanesburgo. O sistema representou uma revolução para a cidade, num país em que o regime do apartheid (1948-1994) negligenciou os transportes públicos, para manter as populações negras longe dos grandes centros. Com o Rea Vaya, os passageiros desfrutam de estações de embarque bem estruturadas e ônibus modernos, onde podem viajar com conforto, segurança, rapidez e custo acessível. A passagem custa o equivalente a R$ 2,40 e o usuário pode percorrer todo o trajeto pagando uma única vez. Mudança cultural O projeto do BRT em Joanesburgo começou a ser desenvolvido em 2003. Parte da primeira fase foi inaugurada em agosto
de 2009, com a abertura do trecho entre o centro da cidade e Soweto. Com 25 estações, esta etapa abrange 25 quilômetros e representa apenas o começo de um projeto de longo prazo, com expansões até 2030. Com previsão para ser entregue até 2013, a fase inicial prevê um total de 150 estações e sete rotas com eixos principais e secundários. “A primeira fase foi planejada para ter 122 km. A meta do governo é que o sistema seja abrangente, cobrindo a cidade” destacou a especialista Aimée Gauthier, responsável pelo planejamento do Rea Vaya. Considerado como um projeto crucial para o desenvolvimento da cidade, o BRT Rea Vaya certamente ainda precisa ser melhorado para ser inserido cada vez mais no cotidiano dos sulafricanos. “A mudança para um sistema eletrônico de cobrança de tarifa é o próximo passo”, disse Gauthier.
Um dos problemas enfrentados é de ordem cultural, uma vez que o transporte público em Joanesburgo, como em várias cidades da África, é feito, em sua maior parte, por vans exploradas por particulares (chamadas de “táxis”), que transportam cerca de 72% da população. Em geral velhas e desprovidas de placas que indiquem o destino, as vans não têm pontos definidos e os preços variam de acordo com o percurso, o que gera a insatisfação do público, principalmente visitantes, como o jornalista brasileiro Rafael Pirrho, que mora em Joanesburgo desde 2009. “Não há muitas opções de transporte, a frota é pequena. Van é a opção dos mais pobres e, em geral, são demoradas e nada confortáveis”, afirma ele, que chega a pagar 10 rands (R$ 2,50) nessas vans, que trafegam quase sempre acima de sua capacidade máxima, 10 a 15 pessoas. Os sindicatos dos taxistas da região chegaram a entrar em greve no início de junho, a apenas duas semanas da Copa, com receio de que o novo sistema BRT tomasse seus passageiros. Foi preciso que o governo e representantes da FIFA fizessem um
acordo para o transporte de turistas nas cidades sede da Copa. Em Joanesburgo, a associação de taxistas cedeu 300 microônibus e, em troca, exigiu participar do sistema BRT. Outro projeto já implementado na cidade é o Metro Bus, serviço de ônibus metropolitano que cobre seis zonas concêntricas ao centro comercial. O número de regiões que o passageiro atravessa determina o valor da passagem. Esse sistema, contudo, conta com apenas um terço da frota renovada e perde força diante da eficiência do novo BRT Rea Vaya, que está trazendo benefícios incontestáveis para o desenvolvimento da África do Sul e de Joanesburgo. Um sistema que se constitui também na aposta de várias cidades brasileiras para a Copa 2014, que já optaram pelo BRT, como principal solução para a questão da mobilidade urbana durante o evento. Afinal, “estamos indo” – e com força – em direção a um belíssimo mundial sediado no Brasil. P rojeto Especial de Marketing • SALVADOR EM MOVIMENTO
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Parceria POR AUGUSTO QUEIROZ e victor longo
Setor imobiliário quer parceria em prol do tra Ademi quer estabelecer diálogo para encontrar soluções
“N
o contexto atual, uma solução moderna de transporte coletivo é essencial para o mercado imobiliário de Salvador e Região Metropolitana. Por isso, a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-Ba) está disposta a estabelecer um diálogo com os poderes públicos para encontrar soluções que vão beneficiar não só os nossos clientes, mas toda a população”. Quem afirma é o vicepresidente da entidade, Cláudio Cunha.
Cunha ressalta que a infraestrutura viária precária é hoje um dos maiores empecilhos para o desenvolvimento do setor imobiliário em Salvador, que é um mercado extremamente lucrativo. Basta dizer que, em apenas cinco anos (2003 a 2008), as vendas de imóveis em Salvador e Região Metropolitana apresentaram um crescimento de mais de 700%, segundo dados da Ademi. Esse crescimento, contudo, não vem sendo acompanhado pela necessária e indispensável melhoria da infraestrutura viária da cidade.
Ele diz que ainda não houve nenhum encontro entre a Ademi, a Prefeitura de Salvador e o Governo do Estado para discutir o assunto, apenas por falta de convite. “Mas estamos sempre abertos para contribuir para que a cidade possa ficar melhor a cada dia. Esse diálogo deve acontecer”, enfatizou. Ele disse esperar uma conversa transparente, com regras claras e a segurança de que o combinado vai ser cumprido. 32
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erik sall es / ag. a tarde
cláudio cunha
fotos: erik salles / ag. a tarde
josinha pacheco
ansporte
fernando vivas / ag. a tarde
eliene freitas
graça prates
Trata-se de um descompasso que precisa ser equacionado, em prol da construção de uma metrópole melhor para todos, alertam os especialistas. Afinal, no mundo inteiro, hoje, o transporte de massa vem sendo priorizado em detrimento do transporte individual, que gasta mais e é mais poluente. “Vivemos uma situação econômica estável, com taxa de juros baixa e crédito abundante, o que facilita a compra de veículos pela população – e isso só piora os engarrafamentos. Se tivéssemos um transporte de massa eficiente, certamente as pessoas iriam deixar os carros em casa ou nem ter carro”, explicou Cunha. O representante da Ademi disse esperar que o trânsito da capital melhore com o BRT, cujos ônibus articulados podem transportar mais gente, diminuindo o número de carros nas vias. Quem também aposta numa melhoria do sistema viário da cidade e esbanja otimismo é a corretora Josinha Pacheco. “Os projetos têm que ser bem-vindos e envolvem os interesses de diversos setores da sociedade civil. As melhorias no nosso transporte urgem e eu tenho certeza de que vai haver esse diálogo com a Prefeitura, envolvendo outros órgãos e entidades. Esse projeto precisa acontecer. Décadas atrás, vi o projeto da Paralela e poucos acreditavam que essa avenida ia sair. Hoje, ela é uma das nossas principais vias, que dá acesso ao Litoral Norte e liga a Região Metropolitana aos bairros centrais de Salvador. E tende a ser ainda mais valorizada com a Copa”. Ricos e pobres A presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis do Estado da Bahia (Sindimóveis), Eliene Freitas, é outra que endossa a necessidade de um transporte de massa mais eficaz. “Uma das maiores preocupações dos compradores de imóveis é a questão da mobilidade. E o setor imobiliário é
fatalmente prejudicado pelo transporte ruim. Imagine que maravilha seria falar para um cliente que vai morar em Lauro de Freitas e ter uma via exclusiva de ônibus que o leve em 20 minutos para os bairros centrais de Salvador!”. Ela ressalta que essa preocupação com o trânsito independe da classe social dos compradores de imóveis e afeta tanto ricos quanto pobres. “Programas como o Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, oferecem ao interessado imóveis em bairros com acessibilidade ruim. Quando ele pensa nos transtornos que vai ter com o transporte público, desiste.” No lado mais favorecido da pirâmide social, o travamento do trânsito também pesa negativamente. Há cerca de três anos, a médica cardiologista Graça Prates comprou um imóvel no condomínio Alphaville, localizado às margens da Paralela. Até hoje, continua maravilhada com o que vê do portão para dentro: ruas arborizadas e com ótima estrutura urbana. Mesmo assim, ela já planeja se mudar, caso o trânsito da região não melhore nos próximos anos. “Quando a gente está em casa, é uma maravilha. O problema é sair!”, diz a médica. Apesar de estar farta dos engarrafamentos, Graça ainda tem a esperança de permanecer onde está. Ela espera que outras vias sejam construídas na região, mas tem na ponta da língua a solução mais viável para o problema que aflige a cidade: “O que tira carro da rua é transporte público bom. Minha família e eu estamos aguardando esta promessa do BRT para ver se o trânsito melhora”. A cardiologista Graça é apenas um pequeno exemplo da insatisfação com o trânsito presente hoje em Salvador. Um problema que afeta fortemente o mercado imobiliário cujos representantes anseiam por mudanças positivas no setor viário e no transporte público da cidade.
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Debate
Gratuidade no transporte: quem paga essa conta? 34
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iracema chequer/ag. a tarde
POR Emília Santana *
Não se pode questionar a relevância social do acesso ao transporte público, facilitado pela gratuidade para certos grupos sociais, a exemplo dos idosos e das pessoas carentes com deficiência. A dignidade da pessoa humana, a cidadania, a liberdade de locomoção, a integração social são ampliados pelo acesso ao transporte, mas a repercussão econômica das gratuidades e, consequentemente, seu impacto sobre a viabilidade da prestação do serviço, não pode ser olvidada. A principal questão é: quem paga essa conta? A tarifa não pode ser a única fonte de custeio das gratuidades. É injusto que o usuário comum arque, através da tarifa que paga, com esses benefícios, muitas vezes injustificados e até mesmo ilegais. E, quando os usuários já não podem arcar com o preço da passagem, é ainda mais injusto que milhares de brasileiros sejam excluídos do acesso a um serviço público essencial para que outras pessoas andem de graça.
benefícios mal equacionados: com a queda da qualidade do serviço e com o consequente aumento da tarifa. As empresas, por sua vez, têm diminuída sua capacidade de reinvestir em novos veículos, em tecnologia, em melhores condições de trabalho, o que repercute diretamente na vida dos milhares de rodoviários que atuam diariamente no transporte coletivo.
No caso da cidade de Salvador, 24,6% das pessoas transportadas não pagam a tarifa e 18,7% são estudantes que pagam meia tarifa. Ou seja, sem falar nas fraudes, a cada três passagens, uma é gratuita. Essa realidade gera um grave desequilíbrio, inviabilizando a existência de uma tarifa módica e refletindo diretamente no equilíbrio econômico financeiro do contrato, na sobrevivência das empresas e na justiça social. O usuário paga duas vezes pelos erik salles / ag. a tarde
A
gratuidade no transporte público de passageiros tem natureza jurídica de benefício de caráter social, não se confundindo com assistência social. É um complemento para viabilização de outras políticas sociais e não uma política de transporte efetivamente. Dessa forma, a gratuidade é um privilégio concedido pelo Estado para determinados grupos, apenas tornando-se um verdadeiro instrumento de promoção de justiça social se estiver fortemente relacionado a outras políticas e se for considerado como dever do Estado e da sociedade arcar com seus custos. Caso contrário, se torna uma política social às avessas, pois prejudica a sociedade, principalmente os mais pobres, que arcam com uma tarifa onerada pela gratuidade.
emília santana
“A gratuidade se torna uma política social às avessas, pois prejudica a sociedade, principalmente os mais pobres”
Conforme previsto na Lei Orgânica de Salvador, o ônus dos custos dos serviços de transportes coletivos deve ser assumido por todos que usufruem do benefício, mesmo que de forma indireta. Dentro desse parâmetro, e respeitando o critério censitário, aqueles que efetivamente não tivessem condições econômicas de acessar o transporte ou aqueles para os quais a sociedade entende como justo o benefício da gratuidade - como os idosos -, poderiam, dentro de uma política mais ampla, ser amparados pelo Estado, através de uma “bolsa transporte” - como já ocorre com o bolsa família -, ou através de subsídios diretos e desoneração tarifária. Entretanto, enquanto não se realiza o previsto em lei, medidas urgentes e enérgicas precisam ser tomadas para evitar o colapso da mobilidade urbana. No atual estágio do sistema de transporte coletivo por ônibus, apenas aquelas cidades que realizarem uma profunda revisão do seu sistema sobreviverão. O transporte público clama por políticas de transporte e não por políticas com o transporte. Como muitas vezes, infelizmente, ocorre com as gratuidades concedidas sem indicação, por lei, de sua respectiva fonte de custeio. * emília santana É formada em direito e é gerente administrativa do grupo ondina de transportes
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SOCIAL POR Matheus Morais
Ação social beneficia rodoviários
Q
uando os veículos que transportam a população param de rodar e vão para as garagens, o que acontece? Enganase quem pensa que os funcionários das empresas de ônibus de Salvador batem o ponto e se mandam pra casa... Muitos continuam nas garagens para assistir palestras, ler livros na biblioteca, acessar a internet ou simplesmente queimar as calorias na academia... São as ações sociais desenvolvidas pelas empresas. E, o que é melhor: dentro das próprias garagens. Os rodoviários, claro, apoiam. Essas atividades se desenvolvem no cotidiano e já fazem parte da filosofia de trabalho das empresas, seja para a melhoria das condições de vida das comunidades à sua volta ou para proporcionar interação e bem-estar aos seus funcionários através de ações de assistência social, educação, saúde, alimentação, esportes etc. 36
Numa das garagens do Grupo Ondina (composto pelas empresas Ondina, Central e ODM), em Jardim Cajazeiras, as opções são muitas: infocentro, biblioteca, palestras, cursos de treinamento e até uma academia de ginástica onde os colaboradores malham no turno oposto ao do trabalho. De acordo com a gerente administrativa do grupo, Emília Santana, as demandas foram sugeridas pelos próprios funcionários e entraram em funcionamento em 2007, quando o Grupo Ondina completou 50 anos. “Resolvemos comemorar a data atendendo a um pedido dos nossos funcionários. A academia já virou uma espécie de núcleo social da empresa”. O Projeto Academia na Empresa: mais saúde pra viver e trabalhar! já conta com 200 funcionários inscritos que frequentam o espaço diariamente; eles são atendidos por quatro professores de educação física, que fazem o acompanhamento físico de cada um através de fichas personalizadas. No total, o espaço é composto por seis esteiras, quatro bicicletas ergométricas
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domingos da conceição malha com a supervisão de fernando brito
e diversos aparelhos e pesos para a prática da musculação e da ginástica aeróbica. O motorista Domingos da Conceição, 56 anos, há 20 no Grupo Ondina, frequenta a academia quatro vezes por semana como forma de aliviar o estresse. “Chego a trabalhar mais de sete horas por dia, nesse trânsito caótico da cidade. Quando acaba o serviço, ao invés de ir pra casa comer muito e dormir, vou pra academia queimar as calorias e entrar em forma”, conta. Os exercícios físicos, aliados a uma boa alimentação, estão dando bons resultado para Domingos, que já perdeu 13 quilos desde que começou a malhar e a praticar dança de salão. No turno da tarde, quem comanda a malhação na academia do Grupo Ondina é o professor Fernando Brito, 27 anos. Há seis meses na função, ele se diz surpreso com o projeto, já
erik sall es / ag. a tarde
que nunca trabalhou numa empresa que oferecesse esse tipo de atividade. “É uma iniciativa inovadora que faz sucesso devido à vontade dos alunos. Eles chegam aqui bem dispostos. Mas o trabalho só é realizado após a liberação do setor médico da empresa. Assim, podemos avaliar as limitações físicas de cada um.“, explica.
filhos podem pegar livros emprestados e acessar a internet. E, há cerca de três meses, a empresa ofereceu a primeira fase de um treinamento especial de cuidados para com passageiros portadores de deficiências físicas, voltado exclusivamente para cobradores. A próxima fase será direcionada para os motoristas.
“A grande maioria dos alunos chega com quadros preocupantes de présedentarismo e sedentarismo. A maior vantagem é que eles começam as atividades já sabendo os objetivos que querem alcançar. Por isso, os resultados são atingidos com mais facilidade. Mas, sem dúvida, a preocupação maior é com o bem-estar, tanto para a vida profissional como para a vida pessoal”, disse Brito.
Outra ação desenvolvida pela empresa é o ciclo de palestras de saúde, que acontece mensalmente e trata de temas como a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e o câncer de próstata. “As pautas das palestras são definidas pelos funcionários e convidamos médicos para falar sobre os temas selecionados. Geralmente participam dos eventos entre 40 e 45 pessoas”, falou a gerente Emilia Santana.
Leitura, palestras e internet A empresa montou também uma biblioteca, onde os funcionários e seus
No final do ano passado, os funcionários do Grupo Ondina organizaram uma campanha
solidária para ajudar os moradores da comunidade de Vila Verde, próximo a Mussurunga, quando foram arrecadados 700 quilos de alimentos, distribuídos entre a população. De acordo com a gerente operacional, Sueli Adorno, esse tipo de ação social é fundamental, pois através dela a organização passa a enxergar o lado humano do funcionário. “A função básica dessas ações é mostrar que quem está ali trabalhando não é só um técnico, mas um ser humano dotado de conhecimento, emoções e sentimentos. Além disso, essas atividades também ajudam na integração dos funcionários, que se tornam mais amigos dos colegas e superiores, passam a render mais no serviço e desenvolvem suas funções com mais prazer. Outro ponto importante é o convívio familiar dentro do ambiente de trabalho: a presença das famílias deles nas festas de São João, fim de ano e nas caminhadas desenvolvidas pela empresa é constante.” As atividades do Grupo Ondina não param. Agora mesmo, 12 funcionários querem fazer uma participação na peça teatral “Depois da Crise, a Resiliência”, promovida pela Associação Brasileira de Recursos Humanos, tendo como tema central a gestão de pessoas. Além da Ondina, outras empresas também realizam atividades sociais, como a Transol, que promove um mutirão para transportar doadores de sangue em parceria com uma paróquia da cidade e dispõe de programas de saúde para seus colaboradores, com massagens e ginástica laboral. A empresa Vitral também não dorme no ponto e disponibiliza dois ônibus por mês para prestação de serviços comunitários nas comunidades de Sussuarana, Cajazeiras, Trobogy, Mussurunga e Engomadeira.
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A Viação Rio Vermelho promove eventos buscando trazer as famílias dos funcionários para dentro da garagem, criando assim uma interação com a instituição. Especialmente em datas comemorativas como a Semana do Motorista, Dia das Mães e das Crianças, com sorteios de brindes, passeios e oficinas de artesanato. Além da interação família-empresa, a Rio Vermelho também firmou uma parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem de Transporte (Senat), para montar uma estrutura de salas de aula e acervo bibliográfico do Telecurso 2000, de 1º e 2º graus. De acordo com a responsável do RH da empresa, Kátia Sales, no Carnaval são feitos treinamentos que ensinam motoristas e cobradores a lidar com foliões alcoolizados ou exaltados. “Esse tipo de ação é necessária para que não haja prejuízos nem para empresa, nem para os foliões”. Para o motorista e instrutor Jason Costa, 48 anos, há 23 na Rio Vermelho, a “Operação Carnaval” é um sucesso, já que depois
dela não houve mais acidentes com ônibus da empresa no período. “Além de conscientizar os profissionais, os treinamentos ajudam na prevenção de acidentes”, opinou. Porém, quando o assunto é responsabilidade social, o carro-chefe da Viação Rio Vermelho é o projeto Ônibus Cultural, criado em 2002, que promove visitas da comunidade à garagem da empresa. O Ônibus Cultural também permite que alunos de escolas públicas de São Cristovão, Mussurunga, Itapuã e outros bairros tenham a oportunidade de visitar museus e bibliotecas. O projeto já tem 134 escolas cadastradas, que têm direito a um passeio por mês. Já nas visitas à garagem, os alunos têm aulas de cidadania, educação para o trânsito e redução de acidentes. O motorista Jason diz que as visitas são uma grande oportunidade para as crianças tirarem da cabeça a ideia de que os motoristas vivem com as mãos sujas de graxa e são ignorantes. “Aqui mostramos como funciona a parte mecânica dos ônibus e a importância dos cobradores e motoristas para a
população. As crianças crescem sabendo o que a gente faz”, falou. Segundo Kátia Sales, o interesse das escolas pelo Ônibus Cultural é tão grande que o cronograma de visitas é fechado logo no começo do ano. “Transportamos um máximo de 52 alunos e um mínimo de 25, que só viajam com autorização dos pais. A resposta dos alunos é excelente, tanto que no fim do ano recebemos cartões de agradecimentos das crianças”. A coordenadora pedagógica da Escola Vereador José Ramos, localizada em Itinga, Sonia Machado, afirma que o Ônibus Cultural possibilita aos alunos extrapolar os muros da escola. “Tem crianças que nunca saíram dos bairros onde moram, e essas visitas permitem que elas interajam e conheçam museus, bibliotecas e o Zoológico, através das aulas vivas que acontecem durante os passeios. É um grande incentivo!”, contou.
Confira no próximo número da revista Salvador em Movimento, as ações sociais desenvolvidas por outras operadoras filiadas ao Setps.
ônibus cultural
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erik sall es / ag. a tarde
Rio Vermelho atenta
Caminho a seguir
RODOVIÁRIOS
POR Matheus Morais
u
apóiam o BRT
m transporte de massa eficiente, integrado, rápido, que trafegará em linhas exclusivas, livre de engarrafamentos, mais acessível para pessoas com deficiência e mais seguro e confortável. Este é o Bus Rapid Transit, BRT. E, quando o assunto é transporte público, é indispensável saber a opinião dos rodoviários, que têm nele o seu trabalho do seu dia a dia. Afinal, são eles que põem a cidade em movimento.
Para o sindicalista, “a chegada do BRT não vai atrapalhar; muito menos extinguir os ônibus convencionais. Ao contrário, vai ser mais uma opção para a população, já que os coletivos comuns vão andar menos lotados. Fora isso, o BRT vai possibilitar o surgimento de novas linhas–tronco, reduzindo a grande quantidade de linhas dos ônibus tradicionais”. Ele alerta que o novo sistema “não vai afetar os postos de trabalho, pois os ônibus serão redistribuídos, gerando novas possibilidades de transporte para a população. Com o crescimento de Salvador e Região Metropolitana, há necessidade urgente de uma nova modalidade de transportes sobre pneus”, explicou Machado. Questionado sobre as opções de metrô e VLT (Veículo Leve
erik salles / ag. a tarde
Para o presidente do Sindicato dos Rodoviários da Bahia, Manoel Machado, o projeto do BRT já deveria ter surgido há mais tempo, pois Salvador ainda é precária na área de transportes. “Temos a certeza que o ônibus ainda é o tipo de transporte mais viável para a cidade, porém as vias estreitas da capital não ajudam na circulação, o que faz do trânsito um verdadeiro caos. Com a vinda do BRT, a realidade do transporte coletivo vai mudar para melhor, com ônibus maiores, bi-articulados, que trafegarão em vias exclusivas. Enfim, uma solução mais prática mais rápida e mais barata para a população soteropolitana.”, afirmou
sobre Trilhos), o dirigente do Sindicato dos Rodoviários disse ter uma visão bastante crítica. “Nem o metrô, nem o VLT vão resolver os problemas da população soteropolitana, porque a grande quantidade de gente que precisa ser transportado com celeridade está localizada em Cajazeiras e São Cristovão. Assim, o metrô que liga a Rótula do Abacaxi até a Lapa não vai adiantar nada. Se eles (o poder público) resolverem estender uma linha dessas até Cajazeiras, Simões Filho, Lauro de Freitas vai demorar mais 10, 20 anos! E o povo não pode esperar esse tempo todo por um sistema de transporte de qualidade”, opinou.
manoel machado
O líder sindical disse que há tempo hábil para a implantação do BRT em Salvador até a Copa de 2014. “O novo sistema irá trazer benefícios para todos. Teremos novas estações, mais confortáveis, que permitirão aos usuários se locomover com qualidade e aos rodoviários trabalhar com dignidade. Hoje contamos com terminais precários, que não atendem às necessidades da nossa categoria. O BRT é um passo importante, que em dois anos já estará em plena atividade. Também somos a favor do novo sistema porque queremos preservar nossos empregos”. P rojeto Especial de Marketing • SALVADOR EM MOVIMENTO
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Rede
DEU NA IMPRENSA: BRT é o mais adequado sistema é destaque em entrevista com Horácio brasil
O
mestre em Engenharia de Transportes e superintendente do Setps, Horácio Brasil, concedeu recentemente entrevista sobre o sistema BRT ao site Bahia Econômica (www.bahiaeconomica.com. br), capitaneado pelo renomado economista e ex-secretário estadual de Planejamento, Armando Avena, que já se manifestou favoravelmente ao novo sistema, em sua coluna semanal publicada pelo jornal A TARDE. Na entrevista - que publicamos aqui de forma resumida -, Horácio explica porque o BRT é o sistema mais adequado para Salvador. Acompanhe. Bahia Econômica: O BRT é a melhor alternativa para Salvador? Horácio Brasil: Sim. É a mais adequada e factível. Claro que uma rede de metrô seria ideal, porque tem alta capacidade, trabalha no subsolo e interliga, com rapidez, pontos distantes. Por outro lado, custa muito caro, além de ser mais demorado. Em Salvador já temos 12 anos fazendo um pequeno metrô! O BRT vai atender à 40
cidade com muito mais rapidez. Se fosse feita a opção pelo BRT quando o metrô começou, o sistema já estava rodando, e sem enfeiar a cidade. Tendo a pista, o BRT pode começar a operar imediatamente e dá lugar a uma tecnologia melhor, com uma infraestrutura que geralmente quem faz é o poder público. É uma estrutura móvel que o setor privado pode fazer. Nós vibramos quando a prefeitura acatou essa ideia e começou a desenvolver o BRT e vamos continuar dando apoio porque sentimos que a cidade travou antes do esperado. Imagine como ficará o trânsito da Paralela, por exemplo, depois que inaugurarem todos aqueles prédios! BE: Os empresários de ônibus vão fazer investimentos no BRT? Hb: Sim. Na verdade, nós ajudamos a financiar a elaboração do projeto para a prefeitura. Estamos trabalhando nisso desde 95, quando fizemos junto com a prefeitura uma pesquisa domiciliar. Depois fizemos outros estudos e implantamos a bilhetagem eletrônica. Em 97, a prefeitura decidiu desenvolver o BRT. Quando apareceu a possibilidade da Copa e Salvador foi eleita, qual o projeto que existia? O do BRT! Desenvolvido pela prefeitura e por nós! O BRT precisa de sistema de bilhetagem sofisticado, que já implantamos em Salvador, e o sistema de controle operacional já está em teste. Vamos providenciar pessoal especializado. E estamos aguardando a infraestrutura ficar pronta e a ordem de serviço para comprar os carros. Nós compramos por ano uns 320 ônibus. E, o BRT, quem fabrica é a brasileira Marcopolo, que forneceu para a Copa da África, para Bogotá, Lima. BE: E a estrutura dos ônibus? HB: Estará pronta. O piso é na altura da estação e as portas do lado esquerdo, abrindo nos pontos. Os ônibus terão
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BRT é tendência em grandes cidades do Brasil
BE: O BRT já começa a ser implantado no ano que vem para estar pronto para a Copa de 2014? HB: Nós esperamos que sim, vai depender da Prefeitura e do Governo do Estado. O projeto envolve a ligação do Aeroporto até a Lapa e uma ligação da Calçada até a Pituba, cruzando o Iguatemi. E o Estado pretende fazer o trecho do Aeroporto até o Rio Joanes, em Lauro de Feitas.
câmeras, GPS e estamos trabalhando para o ar condicionado. O BRT é um ônibus de grande capacidade, que vai andar com velocidade maior e sem obstáculos. A entrada e saída de passageiros será rápida porque a cobrança será do lado de fora. Em Salvador, 70% das pessoas já têm o cartão e nem de bilheteria vão precisar, a não ser que paguem em dinheiro.
elói correia / ag. a tarde
BE: Então você considera esse sistema o ideal para Salvador em termos de transporte urbano? HB: Sim. Mas não vamos conseguir um transporte urbano de qualidade, não sendo o resto de qualidade. Em Bogotá, por exemplo, a cidade é limpa, segura e com educação de qualidade. Então, é preciso ter gestão. O BRT é só um dos fatores de mudança, tem que haver mudança na saúde, na segurança... Senão o BRT sozinho não se sustenta. O que nós vemos em Curitiba é uma cidade urbanisticamente amigável. BE: O BRT demanda toda uma mudança na estrutura da cidade. Isso vai acontecer em Salvador? HB: Sim, vai ser preciso requalificar a área de influência, ajardinar, fazer calçada... É questão de respeito. O local onde vai passar o BRT tem que estar requalificado. E, pelo esforço que a Sedur, a Conder e a Secretaria Municipal de Transporte estão fazendo, vai ser um bom projeto.
Os R$ 6 bilhões que o Brasil vai investir em BRT até 2013 já começam a movimentar o mercado de ônibus do país. A Scania, uma das maiores produtoras do setor, anunciou a criação de uma divisão só para esse tipo de veículo. O aumento do número de encomendas vai ocorrer porque 9 das 12 cidades-sede da Copa escolheram os BRTs como projeto de mobilidade urbana. O Brasil já tem várias cidades com sistemas semelhantes: São Paulo e Curitiba, a primeira a realizar esse tipo de projeto no mundo. A ideia dos empresários é emplacar os BRTs nas 27 capitais brasileiras e mais 20 cidades com mais de 500 mil habitantes. As empresas querem aproveitar o impacto dos projetos da Copa para que, até o fim da década, o sistema esteja implantado em mais 38 cidades. Com custo de implantação equivalente a um décimo do de um metrô, o sistema BRT pode ser feito em menos tempo. Algumas linhas têm capacidade para transportar até 45 mil passageiros/hora, metade do máximo de uma linha de metrô. Fonte: Folha de São Paulo, 17agosto2010, pág.B4
Mobilidade em alta Cansada das medidas tomadas sempre de última hora pela prefeitura de São Paulo, a ONG paulista “Movimento Nossa São Paulo”, criada em 2007, resolveu apresentar um plano de mobilidade à prefeitura. O estudo, que será enviado à Câmara de Vereadores em setembro, sugere a priorização de faixas exclusivas para ônibus, a exemplo do que foi feito no programa Transmilênio, o BRT de Bogotá (Colômbia). O projeto da ONG ainda prevê a criação de ciclovias; a diminuição dos deslocamentos das pessoas na cidade, por meio da criação de núcleos de urbanização nos bairros; a implantação de uma melhor infraestrutura para pedestres e, por fim, a abertura de um fórum de discussão do governo com a sociedade, como já feito em Barcelona, na Espanha. Fonte: Veja São Paulo, edição de 18 de agosto de 2010
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Passando a catraca Que venha o BRT!
POR augusto queiroz e MATHEUS MORAIS
Depoimentos Fala Povo! Usuários contam suas experiências e expectativas com o transporte coletivo de Salvador Dou graças a Deus pelos ônibus! “Nunca tive vergonha de andar de ônibus e faço isso desde moça, quando morava em Feira de Santana e ia pra o Colégio Estadual, onde estudava... Já em Salvador, cansei de pegar coletivo de Campinas de Pirajá até o Pelourinho, onde tenho meu salão. Já vi e passei muitas coisas dentro de um buzu: gente mal cheirosa, homem safado tentado se aproveitar das mulheres, meninas com criança de braço no colo, gente se espremendo e procurando um lugar pra se acomodar... Não posso negar minhas origens e sei que um dia posso voltar a precisar andar de ônibus. E se isso acontecer, vou subir as escadas, passar na catraca e pagar a passagem com satisfação. Temos mais é que dar graças a Deus por termos muitos ônibus na cidade que servem à população!“
arestides batista / ag. a tarde
Negra Jhô, cabeleireira afro
É preciso melhorar urgente o transporte público! “Tenho 44 anos e comecei a andar de ônibus desde muito cedo, ainda em Itabuna, onde morava. Quando vim pra Salvador, não tinha carro e continuei a usar o ônibus pra me deslocar de casa, no Rio Vermelho, até a Faculdade de Teatro da Universidade Federal da Bahia, no Canela, onde estudava. Além disso, nesse tempo, já atuava como ator em diversas peças. Lembro bem que nós marcávamos os horários do fim dos espetáculos de acordo com os horários dos últimos ônibus que circulavam. Existia antigamente um buzu chamado pernoitão, que rodava até altas horas da noite, mas quase ninguém tinha coragem de andar nele, porque o motorista só vivia dirigindo com o “pé embaixo”. Hoje em dia, percebo mais a importância do ônibus na vida dos soteropolitanos, pois com o passar do tempo a população cresce e, consequentemente, anda mais de ônibus! Muita gente tem carro, mas eles estão entupindo as ruas da cidade, transformando tudo num caos. Não sei quando sairá esse metrô e, quando começar a funcionar, vai ligar o quê ao quê? É preciso melhorar urgentemente o sistema de transporte público na cidade.” 42
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margarida neide / ag. a tarde
“Em minha opinião, a implantação do BRT em Salvador será de grande funcionalidade, no que tange ao transporte de massa com rapidez e alta capacidade. Devido à urgência estabelecida pela Copa do Mundo, que ocorrerá em nossa terra daqui a 46 meses, o tempo é muito curto para se pensar em outras soluções. Em conversa com técnicos de Urbanismo e de Mobilidade Urbana da Prefeitura de Salvador, questionei-os sobre a capacidade operacional e eficiência do novo sistema, sua articulação com os grandes polos geradores de tráfego, o combustível escolhido, o preço justo da tarifa, o nível de conforto, a funcionalidade além do bem-estar e respeito aos idosos e às pessoas com necessidades especiais. Fui convencido que o BRT é a melhor solução para este momento, até porque não será excludente com uma possível futura linha do metrô no canteiro central da Paralela. Espero que os novos e modernos meios de transporte de massa a serem implantados em nossa cidade contribuam e estimulem as pessoas a deixar seus carros em casa, em defesa do meio ambiente e da melhoria do tráfego.” erik salles / ag. a tarde
Jackson Costa, ator e apresentador José Augusto Saraiva, arquiteto, mestre em Engenharia Ambiental, membro do Conselho Estadual do Meio Ambiente e fundador do Grupo Ecológico Germen
Cartas
Leitores querem novo transporte
Leitores atentos do Blog da revista Salvador Em Movimento (http://salvadoremmovimento.atarde.com.br/) têm encaminhado diversas opiniões e comentários via e-mail sobre os novos sistemas e soluções de transporte que estão sendo propostos para a capital baiana. Alguns trazem elogios, outros sugestões, dúvidas e críticas, produzindo um debate sadio em prol de um melhor entendimento da questão. Selecionamos aqui alguns desses comentários enviados por nossos leitores/ internautas, respondidos por técnicos da área de transporte.
“Gostaria de saber se e como a Av. Ogunjá será beneficiada ou afetada pelo projeto BRT. ” Antonio Costa “Bom, eu sou baiano, e tenho imenso orgulho em ser, porém sou obrigado a dizer que (infelizmente) as coisas na Bahia andam pra trás! Moro em Curitiba há quase três anos e o sistema público de transporte daqui é o melhor do Brasil. Tudo bem que a cidade de Salvador não foi planejada, mas foi a primeira capital do país, é linda, turística, com um povo acolhedor, porém com sistema de transporte precário e caro! Aqui em Curitiba, com R$ 2,20 vc anda de ônibus novo, economicamente correto Lucas e podeCalmon rodar a cidade toda só com uma passagem (transporte coletivo integrado). Acorda Salvador, vamos ser a melhor capital do Brasil!” lucas calmon
Resposta: Caro Lucas, quando for implantada a RIT (Rede Integrada de Transporte de Salvador) haverá integração tarifária e racionalização das atuais linhas de ônibus. Então, o nosso sistema se aproximará do de Curitiba. Quanto ao preço da tarifa, lá não existe o volume de benefícios - estudantes e gratuitos - que temos em Salvador e que é o que mais onera a nossa tarifa. Vale lembrar também que, ao contrário de Salvador, o sistema de transporte de Curitiba conta com subsídio oficial.
Resposta: Costa, o corredor da RIT não passará pela Ogunjá. Apenas as linhas alimentadoras ou remanescentes da atual rede de linhas continuarão circulando pela via. O que mais afetará essa avenida será mesmo o metrô, quando entrar em operação normal.
“Fiquei contente quando tomei conhecimento da preocupação do jornal A Tarde sobre a mobilização urbana e triste porque não fui convidado. Sobre este tema tenho falado muito aqui em Lauro de Freitas. A cidade cresce e este assunto não é discutido com a sociedade. Precisamos convocar a sociedade para esta discussão, a fim de buscar uma democratização dos espaços, com prioridade para pedestres e transporte de qualidade.” Alonar Filguerias
Resposta: Ficamos muito felizes com sua preocupação sobre esse tema, Alonar. A participação cidadã nos debates e palestras sobre transportes é muito importante. Nesse primeiro debate, o foco foi o projeto de mobilidade urbana da cidade de Salvador, talvez por isso você não tenha sido convidado. Mas esperamos que possa participar das discussões em outros momentos.
“Quanta gente importante para falar de um assunto que já vem se arrastando há anos em Salvador! Só pela Copa? E a população? Será que ela vai mesmo ser beneficiada? Ela, que tem que suportar todos os dias esses ônibus velhos, falta de educação dos motoristas e, ainda por cima, assaltos diários. Será que vale à pena?” Albérico Simões
Resposta: Caro Albérico, como disse o arquiteto e especialista em mobilidade urbana Francisco Ulisses, técnico da Prefeitura, em recente entrevista à Salvador Em Movimento, os benefícios associados à RIT/BRT transcendem a Copa 2014. O grande beneficiado, sem dúvida, será o cidadão que reside em Salvador e região e que vai continuar usufruindo da requalificação do espaço urbano e dos transportes, mesmo depois da Copa.
“Gostaria de saber de vcs, representantes dos empresários e da sociedade em si, que criaram esse espaço, mas esqueceram de que a máquina só funciona com o empenho profissional que, na verdade dos fatos, nem foi lembrado. Sabemos que os rodoviários têm uma Resposta: Sr.profundamente Benedito, o povoativa no setor e é preciso participação estava representado no debate mais atenção para eles, pois se não têm o que merecem, pelo presidente da Comissão isso é trabalho escravo. Sejamdemais cuidadosos com Transportes da Câmara Municipal,e acaba a cada dia que quem zela pela nossa segurança vereador Jorge Jambeiro, o e dando forças a vossas passa lhes tornando mais ericos segmento empresarial, peloenganar com falas bonitas. línguas para tentarem nos economista José Carlos Rodeiro, Estamos de olhos bem abertos.” diretor da Associação Comercial da Bahia. Joel Sena
Resposta: Caro Joel, veja nesta edição da Salvador Em Movimento a entrevista do presidente do sindicato da categoria, Manoel Machado, que mostra o que o trabalhador rodoviário pensa sobre o assunto.
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