CASA ABRIGO PARA MULHERES ARQUITETURA MÓVEL
YASMIM DURANTE CIRNE NASCIMENTO 2020
UNIVERSIDADE VILA VELA ARQUITETURA E URBANISMO
YASMIM DURANTE CIRNE NASCIMENTO
CASA ABRIGO PARA MULHERES: ARQUITETURA MÓVEL
VILA VELHA 2020
YASMIM DURANTE CIRNE NASCIMENTO
CASA ABRIGO PARA MULHERES: ARQUITETURA MÓVEL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Vila Velha como requisito para obtenção de grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, orientado pela Dr.ª Simone Neiva.
2020
YASMIM DURANTE CIRNE NASCIMENTO
CASA ABRIGO PARA MULHERES: ARQUITETURA MÓVEL
Dissertação apresentada a Universidade Vila Velha, como pré-requisito do Programa de Graduação em Arquitetura e Urbanismo.
Aprovado em ______ de Dezembro de 20__
COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________ Dr.ª Simone Neiva Loures Gonçalves Universidade Vila Velha Orientador
______________________________ Dr.ª Melissa Ramos da Silva Oliveira Universidade Vila Velha
______________________________ Lorena Simões Graduada em Arquitetura e Urbanismo Convidada Externa
DEDICATÓRIA DEDICO O PRESENTE TRABALHO, ASSIM COMO TODO O MEU ESFORÇO ATÉ ESTE MOMENTO, Á MINHA FAMÍLIA. SEM O APOIO, OTIMISMO E ESFORÇO CONJUNTO DE DONA MORGANA, SR. PAULO E OCTÁVIO ESTE SONHO NÃO SERIA POSSÍVEL. OBRIGADA POR ACREDITAREM EM MIM. DEDICO TAMBÉM A TODAS AS MULHERES INCRÍVEIS QUE INSPIRARAM ESTE TEMA E MERECEM TODAS AS COISAS BOAS DO MUNDO.
AGRADECIMENTOS GOSTARIA DE AGRADECER MINHAS ORIENTADORAS, SIMONE NEIVA E MELISSA RAMOS, POR SUA PACIÊNCIA, ESFORÇO e DISPOSIÇÃO INCRÍVEIS NA ELABORAÇÃO DESSE PROJETO. O APOIO DE VOCÊS PERMITIU ESSE TRABALHO – E EU – SAIR DA ZONA DE CONFORTO. AOS MEU QUERIDOS AMIGOS E COLEGAS DE CURSO, QUE ESTIVERAM NOS ALTOS E BAIXOS DA GRADUAÇÃO COMIGO: VOCÊS TORNARAM ESSA JORNADA MAIS LEVE E POR ISSO SEREI SEMPRE GRATA. POR ULTIMO E NÃO MENOS IMPORTANTE, AGRADEÇO AO MELHOR CHEFE DO MUNDO, CARLOS, CUJO APOIO E ENSINAMENTOS EU LEVAREI PARA VIDA TODA.
Presenciei tudo isso dentro da minha família Mulher com olho roxo, espancada todo dia Eu tinha uns cinco anos, mas já entendia Que mulher apanha se não fizer comida Mulher oprimida, sem voz, obediente Quando eu crescer, eu vou ser diferente Eu cresci Prazer, Carol bandida Represento as mulheres, 100% feminista Eu cresci Prazer, Carol bandida Represento as mulheres, 100% feminista Represento Aqualtune, represento Carolina Represento Dandara e Chica da Silva Sou mulher, sou negra, meu cabelo é duro Forte, autoritária e às vezes frágil, eu assumo Minha fragilidade não diminui minha força Eu que mando, eu não vou lavar a louça Sou mulher independente não aceito opressão Abaixa sua voz, abaixa sua mão Mais respeito Sou mulher destemida, minha marra vem do gueto Se tavam querendo peso, então toma esse dueto Desde pequenas aprendemos que silêncio não soluciona Que a revolta vem à tona, pois a justiça não funciona Me ensinaram que éramos insuficientes Discordei, pra ser ouvida, o grito tem que ser potente (...)
100% FEMINISTA, KAROL KONKÁ, MC CAROL
RESUMO Hoje no Brasil, a situação de violência aos quais mulheres são frequentemente submetidas ganham manchetes com a mesma história todos os dias. A violência doméstica e familiar ocorre nos lares de diferentes classes sociais por todo o Brasil, e também no Mundo. Pelo cenário mais comum ser dentro de sua casa, somada a dependência financeira e emocional, possíveis soluções demandam processos complexos. Haja vista essa situação, o objetivo do presente trabalho é abordar um dos mecanismos que operam na quebra do ciclo da violência vivenciada por tantas brasileiras: a Casa Abrigo. Para tanto, foram analisadas o respaldo legal dessa estrutura, sua relevância, diretrizes e aspectos que podem e devem ser aprimorados. Como resultado, obtém-se o Projeto Arquitetônico de uma Casa Abrigo Móvel. Essa estrutura permite um ambiente seguro, sigiloso com o conforto que até então não foi alcançado no atual sistema de abrigamento visto no Brasil. O projeto então busca a quebra da ideia de aprisionamento, voltando-se para o espaço aberto, a manutenção da individualidade e privacidade da família e a esperança de um futuro sem violência.
ABSTRACT Nowadays in Brazil, the situation of violence to which women are often subjected makes headlines with the same story every day. Domestic and family violence occurs in homes of different social classes throughout Brazil, and also in the world. By the most common scenario being within your home, added to financial and emotional dependence, possible solutions require complex processes. Given this situation, the objective of this work is to address one of the mechanisms that operate in breaking the cycle of violence experienced by so many Brazilians: Home Shelter. Therefore, we analyzed the legal support of this structure, its relevance, guidelines and aspects that can and should be improved. As a result, the Architectural Design of a Mobile Shelter is obtained. This structure allows a safe, secretive environment with the comfort that has not been achieved until then in the current sheltersystem seen in Brazil. The project then seeks to break the idea of imprisonment, turning to the open space, the maintenance of the individuality and privacy of the family and the hope of a future without violence.
LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Gráfico por Tipo de Agressor ......................................18 Figura 2 – Gráfico mostrando os locais onde as mulheres são mais vitimadas ................................................................19 Figura 3 – Gráfico por tipo de violência sofrida em 2019.........20 Figura 4 – Distribuição de Homicídios no ES ...............................21 Figura 5 – Gráfico mostrando a natureza da relação entre agressor e vítima de homicídio no ES..................................22 Figura 6 – Gráfico mostrando os locais em que ocorreram homicídios no ES, 2019 .......................................22 Figura 7 – Fachada Externa ..........................................................34 Figura 8 – Fachada interna ...........................................................34
Figura 21 – Abrigo de Emergência da Carter Willianson Architects .............................................................46 Figura 22 – Vedação Interna .......................................................46 Figura 23 – Estrutura do Abrigo ...................................................47 Figura 24 – Fluxograma do Abrigo .............................................47 Figura 25 – Exemplo de Lona Tensionada .................................48 Figura 26 – Exemplos de Implantações possíveis ......................49 Figura 27 – Implantação ............................................................. 50 Figura 28 – Volume 3D da Implantação.....................................51 Figura 29 – Vista em 3D dos módulos de Acomodação..........52 Figura 30 – Possíveis fachadas moduláveis ................................53
.........................36 Figura 9 – Planta Baixa do Abrigo de Tel Aviv, Israel .............................38 Figura 10 – Pátio externo da Casa Viva Rachel
Figura 31 – Opções de disposição dos módulos de acomodação ...........................................................53
Figura 11 – Horta comunitária da Casa Viva Rachel ...............38 Figura 12 – Sala Comum da Casa Viva Rachel .........................38
Figura 32 – Esquema Explodido do Módulo de Acomodação ...................................................................54
Figura 13 – Cozinha da Casa Viva Rachel ................................39 Figura 14 – Rouparia da Casa Viva Rachel ...............................39
Figura 33 – Plantas Baixas do módulo de acomodação........55 Figura 34 – Esquema exemplificativo ..........................................55
Figura 15 – Mapa de Localização ..............................................41 Figura 16 – Condicionantes do terreno .....................................42
Figura 35 – Horta comunitária ......................................................56 Figura 36 – Espaço TV/leitura ........................................................56
Figura 17 – Esquema de setorização .........................................42 Figura 18 – Diretrizes de Projeto ...................................................43
Figura 37 – Refeitório ......................................................................57 Figura 38 – Layout lotação máxima ............................................57
Figura 19 – Fachada principal do Backyard Office Box............45 Figura 20 – Esquema explodido do módulo B.O.B ....................45
Figura 39 – Esquema módulo de acomodação ......................58 Figura 40 – Implantação humanizada .......................................59
LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Homicídios ocorridos no Espírito Santo, por mês........................................................... 21 Tabela 2 – Diferenças entre Casas Abrigo e Casas de Acolhimento.............................................27 Tabela 3 – Programa de Necessidades..............................................................................................43
Sumário INTRODUÇÃO...........................................................................................................................................................................13 Objetivos Gerais ..............................................................................................................................................................13 Objetivos Específicos ......................................................................................................................................................14 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................................................................................14 METODOLOGIA ................................................................................................................................................................15 ..........................................................................................................16 1. VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: UMA REALIADADE 1.1 Dados da Violência contra Mulher no Brasil e no estado do Espírito Santo .......................................................17 1.2. Legislação Pertinente e Políticas Públicas para Mulheres ...................................................................................23 1.3. Diferença entre Centros Especializados da Mulher, Casa-abrigo e Casa da Mulher Brasileira ......................26
2. RELEVÂNCIA DAS CASAS ABRIGO .......................................................................................................................................29 3. DIRETRIZES E ENTRAVES RELACIONADOS AS CASAS ABRIGO ..........................................................................................31 ...............................................................................................................................................................33 4. ESTUDOS DE CASO 4.1. Abrigo para Mulheres em Tel Aviv, Israel ................................................................................................................................33 4.2 Casa Viva Rachel, Rio Grande do Sul, Brasil .........................................................................................................37
.......................................................................................................................................................................40 5. PROJETO 5.1. Localização ..........................................................................................................................................................40 5.2. Condicionantes do terreno.................................................................................................................................42 5.3. Programa de Necessidades ...............................................................................................................................43 5.4. Diretrizes de Projeto .............................................................................................................................................43 5.5. Projeto Arquitetônico...........................................................................................................................................47 5.5.1. Referências Projetuais................................................................................................................................47 5.6. Fluxograma e Circulação ...................................................................................................................................48 5.7. Implantação.........................................................................................................................................................51 5.8. Volumetria.............................................................................................................................................................51 5.9. Anteprojeto ...................................................................................................................................................51
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................61 .........................................................................................................................................................62 REFERÊNCIAS
APÊNDICE ................................................................................................................................................................65
INTRODUÇÃO O contexto em que se encontra a mulher no presente momento
Dados que dizem respeito à natureza da violência
é de grande preocupação, uma vez que não apenas no Brasil,
de gênero também serão analisados de forma a salientar a
mas também no cenário internacional, observa-se uma
relevância do assunto no contexto da sociedade brasileira e
constante: o ferimento dos Direito Humanos da Mulher em
espírito-santense.
diferentes âmbitos – familiar, social, empregatício, dentre outros
Por fim, serão analisadas as diretrizes existentes
– a questão de gênero, o preconceito e a objetificação atrasam
que dizem respeito à Casas Abrigos de longa duração de forma
conquistas e delimitam o potencial das mulheres de diferentes
a possibilitar criação de um módulo móvel de que atue de forma
etnias, raças, religiões e classes.
a auxiliar as mulheres vítimas de violência doméstica e familiar
Dessa forma, o presente trabalho busca aliar conhecimentos
13
adquiridos
no
curso
de
Graduação
no processo de readaptação e retomada do controle suas vidas.
de
Arquitetura e Urbanismo com a problemática que envolve a
Objetivos Gerais
violência contra a mulher, de forma a propor uma discussão que
O objetivo deste trabalho é a elaboração de um Projeto de Casa
tem
já
Abrigo Móvel para Mulheres que opere além das necessidades
disponibilizados pelo Estado de forma a torna-lo mais eficiente
primárias dessa tipologia de edifício, permitindo que a vivência
na melhora da qualidade de vida das mulheres em todo o país:
da arquitetura e a experiência de se estar no espaço idealizado
a Casa Abrigo.
a partir de estudos específicos de ambientação permitam um
como
objetivo
aprimorar
um
dos
mecanismos
Para tanto, será analisado toda a produção de
melhor aproveitamento do período em que a mulher passar
Leis, decretos, acordos e tratados, dentre outros, de relevância
abrigada, de forma a trazer mais conforto e segurança nesse
estadual, nacional e internacional que dão respaldo a proteção
momento de emancipação da violência enquanto assegura o
da mulher em situações de violência de gênero.
aspecto sigiloso.
Objetivos Específicos - Contextualizar a situação da mulher na sociedade e a
doméstico, além de buscar aprimorar mecanismos já existentes
necessidade de mecanismos de segurança do Estado;
permite vivermos em uma sociedade mais igualitária. Promover
- Estudar as diretrizes existentes para Casa Abrigo assim como
um estudo voltado para o estabelecimento de uma Casa Abrigo
elaborar estudos de caso;
Móvel permite uma melhor compreensão das necessidades que
- Discutir a questão do sigilo da localização da Casa Abrigo e os
permeiam esses espaços e abre precedentes para uma
entraves que este causa
abordagem mais incisiva no que tange a qualidade dos espaços
- Projetar um módulo móvel de acordo com os objetivos das
disponibilizados pelo Poder Público voltados à proteção da
Casas Abrigo, utilizando os conhecimentos obtidos no curso
Mulher.
de Graduação de Arquitetura e Urbanismo.
Pesquisas apontam que a Casa Abrigo representa um apoio importante para mulheres, pois permitem que elas
JUSTIFICATIVA
tenham segurança enquanto restabelecem o controle de suas
O tema deste trabalho se volta para o desenvolvimento de
vidas através de apoio psicológico e assistência jurídica, dentre
projeto da Casa Abrigo Móvel para mulheres vítimas de
outros (CARLOTO, CALÃO, 2017). Entretanto, hoje não é
violência doméstica e familiar, objetivando alcançar, através do
seguido um modelo de Casa abrigo, sendo muitas vezes esses
exercício de projeto da Arquitetura, formas de tornar o processo
espaços sendo locais alugados por tempo indeterminado, tendo
de readaptação e retomada de suas vidas mais proveitosa e
assim um déficit de conforto, acessibilidade e espaços
promissora.
funcionais. O assunto trata de questões relacionadas a
Portanto, esse trabalho visa sanar a lacuna que
direitos humanos, uma vez que a mulher vítima de violência
envolvem os aspectos arquitetônicos desses espaços. Essa
representa uma porcentagem preocupante da sociedade
questão é admitida na Diretrizes Nacionais para o Abrigamento
brasileira, de forma que voltar o olhar para os meios de
de Mulheres em Situação de Risco e de Violência onde se
proteção e quebra dos ciclos de violência no âmbito familiar e
discute alterativas
14
para a necessidade de mudança de local periódica que ocorre
Conferência de Belém do Pará em 1994; os direitos
hoje e sua eficácia (BRASÍLIA, 2011).
defendidos na Constituição; Leis e decretos; instauração de
Dessa forma, o presente trabalho busca inovar
Secretarias e Políticas Públicas para Mulheres; dentre outros.
o método do abrigamento de longa duração ao propor um
Foram então levantados dados a respeito da natureza da
espaço móvel, projetado conforme um programa pré-
violência contra Mulher, tanto no Brasil quando no estado do
estabelecido com atenção voltada ao conforto e segurança,
Espírito Santo, de forma a dar credibilidade e relevância ao
enquanto assegura a manutenção do aspecto sigiloso do
tema tratado.
local ao permitir a transitoriedade da Casa Abrigo.
Por fim, foram analisadas as diretrizes que permeiam as Casas-abrigo, edifício que atende mulheres
METODOLOGIA
vítimas de violência doméstica em risco de morte iminente. Afim de elaborar um modelo desta edificação de
A princípio, buscou-se compreender o contexto da posição da
acordo com os usos, o público alvo e sua demanda por um
Mulher na sociedade através do tempo, buscando a origem
espaço confortável e seguro, foram feitos Estudos de Caso.
do preconceito de gênero que Lerner expõem em ‘A Criação
Dessa forma, é possível analisar casos reais e partir para a
do Patriarcado’. A partir deste ponto foram feitas pesquisas a
proposição do Programa de Necessidades e Fluxograma para
respeito das políticas voltadas a valorização e proteção de
a etapa final deste trabalho: o Projeto Arquitetônico de uma
mulheres, assim como a conceituação de violência e crimes
Casa Abrigo Móvel.
de gênero e instrumentos utilizados para coibir estes, presentes na Lei Maria da Penha. Desses instrumentos se pode citar a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher de 1981 e a
15
1. VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: UMA REALIDADE
O que podem ser consideradas as piores faces do machismo – termo diretamente ligado ao patriarcado que
Uma questão histórica e cultural, é como podemos encarar a
implica no homem superior a mulher na sociedade – seriam a
conjuntura da violência contra mulher no mundo. Á elas, as
total desvalorização da vida e desmoralização baseada em
mulheres, foram incorporados papéis secundários e de
gênero a que se remetem o feminicídio e violência doméstica
inferioridade ao homem. Esse fato é observado desde o
e familiar. Em todo o mundo, mulheres de diferentes etnias,
estabelecimento da propriedade privada até os dias atuais. A
crenças e raças, vivem expostas a diferentes formas de
mulher passou a ser subjugada a partir dos primeiros
agressão – física, psicológica, patrimonial, sexual e moral.
assentamentos humanos, quando o homem nômade passou a
O conceito de Violência contra a Mulher foi
sobreviver do cultivo. Assim, é imposto o Patriarcado, onde a
definido apenas em 1994 na Convenção Interamericana para
riqueza
seus
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher
descendentes, tendo a mulher o dever de reproduzir seus
(também conhecida como Convenção Belém do Pará) como:
herdeiros. Desde então, as relações sociais se desenvolveram
“(...) qualquer ação ou conduta baseada no gênero, que cause
em
Entretanto,
morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à
mantiveram a base estrutural do poder do homem sobre a
mulher, tanto no âmbito público como privado”. (BARSTED,
mulher sob diferentes moldes em todo mundo (LERNER,
apud MARTINS, CIQUEIRA, MATOS. 2015, pág. 4)
que
patamares
um
homem
cada
vez
produziu
mais
passa
complexos.
aos
2019).
A presença opressiva da violência de gênero Independente do contexto social, época ou local,
levou a propostas de intervenção em nível global como as
em todas as situações em que a mulher foi privada de saúde,
geradas pela
Declaração Universal dos Direitos Humanos
educação, lazer, trabalho e seus demais direitos, estava lá a
(1948); a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas
sombra do patriarcado.
de Discriminação contra a Mulher (CEDAW, 1981); Declaração
16
Universal dos Direitos Humanos (1948); a Convenção sobre a
pandemia do vírus Covid-19, onde vários países do mundo
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a
decretaram quarentena. Dessa forma, as vítimas de violência
Mulher (CEDAW, 1981); Declaração de Viena (1993) e a
foram obrigadas a passar mais tempo com o agressor, e
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
muitas vezes não possuíam meios de se dirigir a delegacias
Violência contra a Mulher (1994). A partir dos tratados e
ou abrir boletins de ocorrência. Em consequência a ONU criou
conferências internacionais citados foi reconhecida como um
uma série de recomendações para que os Governos
atentado aos Direitos Humanos a violência contra a mulher, o
facilitassem o acesso da mulher aos canais de denúncia e
que permitiu que os Estados se comprometessem a responder
abrigos (ISTOÉ, 2020).
politicamente – interna e externamente – a qualquer desacato a esses direitos que fosse permeado pela violência de gênero,
1.1. Dados da Violência contra a Mulher no Brasil e no estado
algo inédito até então. (MARTINS, CERQUEIRA, MATOS.
do Espírito Santo.
2015)
O quadro geral da violência perpetrado contra mulheres no Em 2006, com a promulgação da Lei Maria da
Penha, o conceito de Violência Doméstica e Familiar foi
governamentais
definido no Brasil, onde passou a ser considerado “(...)
Apenas em 2018, 16 milhões de brasileiras foram agredidas
qualquer ação ou omissão que lhe cause morte, lesão,
de alguma forma, sendo que 76,4% disseram que o
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
perpetrador se tratava de um conhecido. (DATAFOLHA,
patrimonial” (art. 5⁰, Lei 11.340/2006). Dessa forma, é possível
FBSP, 2019)
fornecer estratégias e meios de prevenção e punição mais amplos para casos de violência de gênero. Analisando o quadro internacional da violência doméstica, o ano de 2020 apresentou um aumento de mais
17
Brasil, como mostram as pesquisas feitas por órgão e
não-governamentais,
é
preocupante.
Em 23,8% dos casos, o agressor era o homem com que se relacionava, seguido por casos onde o agressor era um vizinho, 21,1%, e por último homens com quem já não se relacionava mais – ex-namorados, ex-maridos ou
ex-companheiros, 15,2% (Figura 1). Observam-se que em
Figura 1 – Gráfico por Tipo de Agressor
80% das ocorrências o agressor é conhecido da vítima em que esta se encontra na faixa etária de 25 a 44 anos. Esse dado mostra que as relações abusivas não são rompidas inicialmente, podendo se prolongar por vários anos. Nos casos de feminicídio apurados em São Paulo – estado com os maiores índices de violência doméstica e familiar contra mulher e feminicídio, segundo o Mapa da Violência de 2019 –, 84% dos responsáveis pela morte de mulheres eram o homem
que
com
quem
estavam
ou
já
foram
casados/conviventes com a vítima e outros 15% eram atuais namorados. (DATAFOLHA, FBSP, 2019) É clara a relação entre as estatísticas com a
Fonte: Datafolha/FBSP, 2019
questão cultural que envolve a mulher na sociedade brasileira - e no mundo – com as desigualdades por elas
Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad)
vividas nos mais diversos níveis. A repetição frenética das
indicou que enquanto 48% das mulheres vítimas de
histórias de violência e abuso, que ocorrem dentro de casa,
agressão (considerando-se todos os tipos de violência)
decorre da relação de poder baseada no gênero. Um dado
disseram ter sido vitimadas dentro da casa que residiam,
que demostra claramente a distinção da violência doméstica
apenas 14% de homens disseram ter sido vítimas de
contra mulher em comparação a violência infringida contra
violência no ambiente residencial. (MARTINS, CERQUEIRA,
homens foi obtida em 2009, onde a
MATOS. 2015)
18
O homem é visto como o provedor, o núcleo da família; enquanto à mulher é destinada as ocupações do lar,
Figura 2 – Gráfico mostrando os locais onde as mulheres são mais vitimadas.
um elemento que é responsável pela reprodução e criação dos filhos e pela manutenção da casa (LERNER, 2019). Essa é a situação mais recorrente dentro dos relacionamentos abusivos vistos atualmente, e esse é um dos principais motivos pelo quais 42% das vítimas de violência em São Paulo em 2019 relataram que o local de agressão é onde a mesma reside, enquanto 29,1% afirmam ter sofrido violência no espaço público (Figura 2). Das mulheres que relataram terem sofrido violência dentro de casa, apenas 10% recorreram a delegacia da mulher contra outras 52% que não efetuaram qualquer ação. (DATAFOLHA, FBSP 2019) Em questão de agressão física, a maior parte das mulheres (42,6%) está na faixa de 16 a 24 anos. Quando comparadas as agressões de assédio sexual infringidas de
19
Fonte: Datafolha/FBSP, 2019
acordo com a raça, é possível observar uma diferença, ainda
No que diz respeito ao tipo de agressão, das 27,4% mulheres
que sutil, entre mulheres brancas e negras. Enquanto para as
que disseram ter sofrido agressão, 21,8% disseram que esta
mulheres brancas a proporção foi de 6,5%, a de mulheres
envolveu agressão verbal (insulto, humilhação ou xingamento.
negras foi de 9,5% para esse tipo de violência. (Brasil, 2019)
Já as agressões físicas somam 18,2% (Figura 3).
Figura 3 – Gráfico por tipo de violência sofrida em 2019.
51,4% em relação ao ano anterior. Houve também um aumento de 29,5% nas medidas protetivas requisitadas por mulheres nesse mesmo mês. Ainda assim, o percentual real de violência doméstica não é possível de ser levantado, uma vez que a vítima muitas vezes não tem meios de recorrer aos órgãos públicos em meio a quarentena. (ISTOÉ, 2020) Já os casos de feminicídios ocorridos durante a quarentena entre os meses de março a abril aumentaram em 22,2%, enquanto os boletins de agressão sexual ou violência sexual tiveram redução quanto ao mesmo período no ano anterior. Esses últimos frequentemente resultado de uma violência onde o agressor é um desconhecido da vítima, que demostra uma queda na violência ocorrida no espaço público em detrimento do aumento da violência no espaço domiciliar. Um claro reflexo do peso que a violência doméstica tem na
Fonte: Datafolha/FBSP, 2019
sociedade brasileira. (ISTOÉ, 2020)
O fenômeno do salto no aumento da violência
No estado do Espírito Santo, no ano de 2019,
contra mulher durante a quarentena causada pela pandemia
foram registrados 89 homicídios de mulheres (Tabela 1). O
do Corona Vírus demostra claramente que o ambiente que a
maior número de ocorrências, 46%, na área Metropolitana de
mulher mais corre risco é dentro de sua casa. Em fevereiro de
Vitória – compreendida pelos municípios de Viana, Vila Velha,
2020, foi constatado que as prisões em flagrante de violência
Vitória, Serra e Cariacica. (Espírito Santo, 2020)
contra mulher aumentaram em
20
Tabela 1 – Homicídios ocorridos no Espírito Santo, por mês: MÊS
Feminicídio
Homicídio
confirmado
Doloso
Janeiro
5
4
9
Fevereiro
1
6
7
Março
2
4
6
Abril
4
5
9
Maio
1
7
8
Junho
2
1
3
Julho
6
1
7
Agosto
2
3
5
Setembro
4
3
7
Outubro
1
7
8
Novembro
2
10
12
Dezembro
3
5
8
Total
33
56
89
Figura 4 - Distribuição de Homicídios no Espírito Santo
TOTAL
Fonte: Datafolha/FBSP, 2019
Essa é a região que concentra o maior número
reportar a relação do autor com a vítima, em 31% desses
de pessoas no estado e apresenta um conjunto diversificado
envolvia um companheiro ou namorado de relacionamentos
de realidades socioeconômicas entre seus habitantes.
atuais ou anteriores. Esses números podem ser ainda
(Figura 4)
maiores, uma vez que em 49% dos homicídios não foi Já no que diz respeito a autoria do crime de
homicídio de mulheres, dos casos em que foi possível
21
Fonte: Observatório da Segurança Pública/Sesp, 2020.
informado a natureza da relação entre agressor e vítima. (Figura 5)
Figura 5 – Gráfico mostrando a natureza da relação entre agressor e vítima de homicídio no Espírito Santo:
Figura 6 - Gráfico mostrando os locais em que ocorreram homicídios no Espírito Santo, 2019
Fonte: Ministério Público do Estado do Espírito Santo.
Fonte: Ministério Público do Estado do Espírito Santo.
A realidade vivida pela mulher na esfera nacional
Esse dado, quando analisado aos índices de autoria do crime
quanto a probabilidade de se vivenciar a violência dentro da
como sendo de 34% dos casos o autor do homicídio ser um
própria casa de repete no Espírito Santo, onde o maior índice
conhecido da vítima expõe a natureza da violência de gênero.
de local de ocorrência do homicídio (44%) é na residência da vítima, seus arredores ou no ambiente de trabalho (Figura 6).
22
1.2. Legislação Pertinente e Políticas Públicas para Mulheres
Muito
embora
a
Constituição
tenha
sido
promulgada em 1988, e nela conste que homens e mulheres Os direitos das mulheres e dos homens, no Brasil, são
devam ser tratados igualmente, seguindo as diretrizes dos
assegurados pela Constituição Federal de 1988. Portanto, antes
Direitos Humanos, tendo direito à segurança e à vida, e indo
de analisar as leis que visam proteger a mulher de acordo com
mais além assegurando a proteção no âmbito familiar, a
a realidade na sociedade brasileira, deve-se voltar aos alicerces
realidade vivida pela mulher brasileira é permeada por todo tipo
das mesmas, uma vez que funcionam como mecanismos que
de desigualdade e impasses (Brasil, 1988). Em diversos
atendem aos interesses da Constituição. Nesta, pode-se
âmbitos, seja na média salarial ou em sua vida familiar, há
destacar:
desconformidade baseada no gênero.
“Art. 3⁰ constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: [...] promover o bem de todos, sem
Dessa forma, observa-se que as leis possuíam
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
brechas para a impunidade e fragilização da vida da mulher,
outras formas de discriminação. [...] Art. 4⁰ A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: [...] IV -
gênero foi considerada, em um primeiro momento, como de
prevalência dos Direitos Humanos.
caráter privado, fora do alcance da Lei. É importante salientar
[...] Art. 5⁰ Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
que a necessidade de se criar leis especificamente para
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
proteger a mulher diz respeito ao risco que a mulheres correm
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. [...] Art. 226⁰. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...] § 8⁰ O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.” (Brasil, 1988).
23
tanto em sociedade quanto dentro de casa. A violência de
em âmbito familiar e doméstico, enquanto que homens estão mais
suscetíveis
a sofrer
violência no
(MARTINS, CERQUEIRA, MATOS. 2015).
âmbito
público.
Foi nesse contexto que Maria da Penha Fernandes, após
uma situação delicada e de alto risco, a Lei Maria da Penha –
sofrer
ex-
como também é conhecida – busca criar mecanismos para
companheiro, buscou a Organização dos Estados Americanos
prevenir e coibir essa forma de violência além de facilitar a
(OEA) para denunciar o descaso e negligência do Estado
denúncia e posterior proteção da vítima. Ela determina o que é
brasileiro perante a violência doméstica que sofria. Em 2001,
considerado violência doméstica e familiar; como deve ser feita
Maria da Penha obteve a condenação do Brasil, onde o OEA
a prevenção de violência, assistência a vítima, o atendimento
orientou o Estado a adotar uma política de enfretamento a
policial, as medidas protetivas tanto em respeito a vítima
violência doméstica e familiar, trabalhando de forma a criar
quanto ao agressor, o tratamento dos órgãos públicos e
mecanismos de prevenção à violência além de facilitar os
demais assistências e recursos cabíveis. (Lei n⁰ 11,340/2006)
diversas
tentativas
de
homicídio
por
seu
processos de denúncia e trâmite jurídico. (OEA, 2001, apud MARTINS, CERQUEIRA, MATOS. 2015).
Em termos de legislação em prol da violência contra à mulher, a Lei n⁰ 11.340 é considerada pela
Lei n⁰ 11.340 promulgada em 7 de agosto 2006
Organização das Nações Unidas (ONU) uma das três
buscou sanar as lacunas existentes até então no que tange a
melhores do mundo. Contudo, segundo dados levantados nos
violência doméstica e familiar afim de atender as demandas da
anos posteriores a promulgação da Lei, não houve uma
OEA. Dessa forma, buscava preservar os direitos da mulher
mudança
em situações de violência doméstica e familiar, situação que a
(DATAFOLHA, FBSP, pág. 43, 2019)
significativa
na
diminuição
do
feminicídio.
mulher se encontra mais vulnerável por diversos motivos,
A partir da criação desta lei, os instrumentos para
como: dependência financeira e emocional do seu abusador,
amparo da mulher vítima de violência se tornaram mais
necessidade de manutenção da vida dos filhos, privação de
diversos e foram somados a Política Nacional de Enfretamento
seu patrimônio, cárcere privado e até mesmo ameaças de
à Violência contra as Mulheres, formulado pela Secretaria de
morte. Por se tratar de
Políticas para as Mulheres (SPM), esta
24
criada em 2003. Dentro
do
pacote
da
Política
Nacional
é
um período pré-estabelecido onde podem se organizar para
encontrada a Rede de Atendimento a Mulheres em Situação de
retomar suas vidas;
Violência. Esta reúne diversos serviços que buscam resguardar
- Juizados de Violência Doméstica e Familiar Contra à Mulher:
os direitos e bem-estar da mulher, tais como: assistência
órgãos de Justiça responsáveis pelas causas originadas pela
social, segurança pública, saúde e justiça. Os meios para
violência familiar e doméstica contra mulher;
acessar esses serviços são disponibilizados pelos Centros de
- Delegacias
Referência Especializados de Assistência Social (CREAS),
(DEAMs): estrutura da Polícia Civil responsável pelo registro do
Centros de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM) e os
Boletim de Ocorrência; medidas protetivas de urgência para
Centros de Referência de Assistência Social (CRAS).
mulher em situação de violência doméstica; ações para coibir,
Mais detalhadamente, as principais instituições e serviços disponibilizados são (Brasília, 2011):. -
CRAMs:
locais
onde
ocorrem
Especializadas
de Atendimento à Mulher
investigar e enquadrar situações de violência contra a mulher. - Órgãos da Defensoria Pública:
acolhimento
e
permitem o acesso a
assistência jurídica gratuita para quem não possui meios de
acompanhamento psicológico e social para mulheres vítimas
contratar um advogado.
de violência, assim como seu encaminhamento para serviços
- CRAS: responsáveis pelo acompanhamento de famílias,
médicos, orientação jurídica ou casas-abrigo.
visando o bem estar e qualidade de vida no meio intrafamiliar,
- Casas Abrigo: quando em risco de morte, mulheres e seus
além do acesso aos direitos básicos. Há 146 unidades desse
25
filhos (com até 18 anos) são acolhidos nesses locais, tendo
tipo de estrutura no Espírito Santo.
acesso a uma rede de apoio multidisciplinar. O objetivo
- Serviços de Saúde Especializados para Atendimento de
desses locais é resguardar a vida e o bem-estar da mulher e
Casos de Violência Contra a Mulher: englobam atendimentos
seus dependentes por
psicológicos, assistência social e médica,
voltadas para mulheres vítimas de agressão física e sexual. - Casas de Acolhimento Provisório: similar as casas-abrigo, porém se diferencia no tempo de em que a mulher e seus dependentes permanecem. O tempo estimado é de curta permanência onde a prioridade é coletar a maior quantidade de
Por conseguinte, o feminicídio, crime que envolve
informações possíveis da vítima para dar prosseguimento aos
“violência
trâmites jurídicos.
discriminação à condição de mulher” (Lei n⁰ 13.104/2015) tem
- Posto de Atendimento Humanizado nos Aeroportos
pena de reclusão de 12 a 30 anos. (Brasil, 2011)
- Núcleo da Mulher da Casa do Imigrante
doméstica
e
familiar
e/ou
menosprezo
ou
Já no estado do Espírito Santo, no que tange
- Demais serviços: Serviços de Abrigamento, Varas adaptadas
políticas
de
Desenvolvimento Espírito Santo 2030 metas para diminuição
Violência
Doméstica
e
Familiar,
Promotorias
Especializadas/Núcleos de Gênero do Ministério Público.
para
mulheres,
foi
proposto
no
Plano
de
do índice de homicídios. Este traz em uma de suas propostas a
Importante ressaltar que até então a Lei Maria da
abordagem das áreas carentes onde as mulheres estão mais
Penha resguardava situações de Violência Doméstica e
vulneráveis à violência doméstica e familiar, propondo
Familiar, mas não propriamente o homicídio de mulheres
intervenções na educação, habitação, emprego e saúde das
perpetradas
mesmas. (Espírito Santo, 2019).
pela
questão
de
gênero.
Para
tanto,
foi
promulgada em 9 de março de 2015, a Lei n⁰ 13.104/2015. Esta altera o art. 121 do Código Penal, tornando crime de
1.3 Diferença entre Centros Especializados da Mulher, Casa
feminicídio íntimo um qualificador do homicídio.
abrigo e Casa da Mulher Brasileira
Como
consequência, o crime de feminicídio passa a ser considerado crime hediondo que segundo a Constituição Federal (1988)
O Estado brasileiro, visando proteger mulheres do iminente
tem como consequência o seguinte:
risco de morte, disponibiliza locais para abrigamento
26
temporário das mesmas, período no qual vai utilizar de diferentes mecanismos para reassegurar a vida da mulher para que esta possa voltar a ter uma vivência saudável onde seus direitos são garantidos. A natureza do funcionamento dessas instalações se diferencia em dois tipos, onde as principais diferenças se mostram pelo tempo que a mulher pode permanecer abrigada. (Tabela 2) Tabela 2 – Diferenças entre Casas Abrigo e Casas de Acolhimento CARACTERÍSTICAS
Casa Abrigo
NOMENCLATURA NA
Serviço de Acolhimento
TIPIFICAÇÃO SÓCIO-
Institucional para mulheres em
ASSISTENCIAL
situação de violência
NATUREZA
Serviço público de longa
Serviço público de curta
duração (90 a 180 dias),
duração (até 15 dias), não
PÚBLICO-ALVO
Casas de acolhimento Serviço não administrado pela Assistência Social
geralmente de caráter sigiloso.
possui caráter sigiloso.
Mulheres sob risco iminente de
Mulheres em situação de
morte decorrido de violência doméstica e familiar, podendo estar acompanha dos filhos.
violência de gênero, que não estão sob risco de morte, podendo estar acompanhadas de seus filhos.
OBJETIVO DO SERVIÇO
Garantir integridade física e emocional das mulheres; oferecer assistência de forma a colaborar com a quebra do ciclo da violência e a emancipação da mulher
Garantir integridade física e emocional das mulheres; realizar captação de informações e encaminhamento para os serviços de apoio (Delegacia, IML, dentre outros)
27
Fonte: Secretaria de Políticas para Mulheres, Brasil, 2011
Estabelecida as diferenças entre as formas de abrigamento, é
-As Casas Abrigo oferecem acomodações,
necessária reconhecer quais os diferentes serviços que
alimentação e dão acesso a serviços como acompanhamento
podem disponibilizar acesso ao abrigo temporário a fim de
psicológico, jurídico e médico às mulheres – e seus filhos
deixar claro qual abordagem e diretrizes devem ser seguidos
dependentes – vítimas de violência que estão em risco
para alcançar o objetivo do presente trabalho. Alguns dos
iminente de vida. Nesse espaço (onde a localização é
equipamentos analisados são:
confidencial), a mulher e seus filhos permanecem de 90 a 180
-Os Centros Especializados da Mulher atuam
dias (podendo variar de acordo com o abrigo), período no qual
dando apoio psicossocial, jurídico e social para mulheres em
deve se organizar a fim de romper laços com seu agressor e
situação de violência em todos os âmbitos (sexual, moral,
readquirir o controle de suas vidas. Elas não podem ter
físico, patrimonial, psicológico; assédio sexual e moral, etc.) a
contato com o mundo exterior de forma a preservar sua
fim de permitir que elas deixem o convívio da situação de
segurança e só podem deixar o lugar acompanhadas de um
violência. O conjunto da equipe, que é formado por
dos membros da equipe multidisciplinar quando houver
assistentes sociais, psicólogos, advogados, dentre outros,
necessidade de natureza médica, judicial, dentre outras ou
promove ações e lidera uma rede de apoio às vítimas. Os
em caso de desligamento com a instituição. Há 77 locais de
Centros atuam como uma das portas de entrada para o
acolhimento em todo o Brasil, servindo 70 municípios (1,3%).
serviço
(MARTINS, CERQUEIRA, MATOS. Pág. 15. 2015)
de
abrigamento,
uma
vez
que
fazem
o
encaminhamento das mulheres para abrigos, uma vez que tenham o perfil necessário para tal. Há 215 Centros presentes
A Casa Abrigo vai ser a tipologia projetada no presente trabalho.
em 191 municípios da União, desses nenhum de localiza no estado do Espírito Santo (MARTINS, CERQUEIRA, MATOS. Pág. 13 2015)
28
-A Casa da Mulher Brasileira é um complexo onde
Políticas das Mulheres, vai além de oferecer espaços de
se opera uma equipe multidisciplinar de apoio às vítimas de
habitação temporária. Trata-se de um conjunto de serviços,
violência. A característica principal desse projeto que já
ações e programas que buscam restabelecer a autoestima,
implantou 27 unidades nos estados e no Distrito Federal, é a
independência,
capilaridade dos serviços prestados. Em um só há instalações
empoderamento das mulheres vítimas de violência (seja ela
dos seguintes equipamentos para atendimento à mulher vítima
oriunda do âmbito familiar/doméstico, de situação de tráfico de
de violência: Delegacia da Mulher, Apoio judiciário representado
pessoas, entre outros) em risco eminente de morte.
pela
Vara
A criação dos abrigos busca suprir, num primeiro momento, a
Especializada ou Juizado Especial; Atendimento Psicossocial;
demanda por um local seguro e protegido, já que muitas vezes
Apoio para obtenção de emprego e renda; Espaço de
se trata da única opção para vítimas de violência doméstica e
Convivência e Brinquedoteca; Central de Transportes para
familiar, uma vez que na maioria dos casos de violência o
acesso a unidades de saúde e Instituto Médico Legal;
agressor mora com a vítima ou tem fácil acesso a ela (sua
Alojamento de Passagem.
residência, local de trabalho, escola dos filhos, etc.). Portanto,
Defensoria
da
Mulher,
Ministério
Público,
segurança,
cidadania,
proteção
e
O alojamento atende mulheres em risco iminente
para ser acolhida nesses abrigos a mulher deve estar em grave
de morte, onde essas podem ficar por até 48 horas
ameaça e riscos de morte, sendo a Casa Abrigo uma última
acompanhada ou não pelos filhos. Compreende-se como abrigo
opção de asilo.
temporário de curta duração. No Espírito Santo não há estrutura do gênero.
Em um segundo momento, os abrigos também operam de forma a trabalhar com a mulher abrigada meios de romper a relação com seu agressor, fornecendo assistência
2. RELEVÂNCIA DAS CASAS-ABRIGOS
psicossocial para superar traumas e dependência emocional. Como foi observado em pesquisas feitas pela Datafolha e FBSP
O abrigamento é um conceito que, segundo a Secretaria de
29
(2019), o ciclo de violência na
vida da mulher começa na adolescência e a acompanha para a
escassas de fuga da violência.
vida adulta, onde o quadro de agressões se agrava com o
As formas de assistência variam de acordo com o
tempo. A mulher em situação de risco que for abrigada tem a
abrigo, onde parte das unidades oferecem acompanhamento
chance de romper esse ciclo a partir da terapia que é
pedagógico, uma vez que os filhos das abrigadas não podem
disponibilizada nesses locais, podendo reestabelecer um
comparecer à escola por motivo de segurança. O próprio abrigo
convívio familiar saudável, agora longe do seu agressor.
entra em contato com as unidades de ensino onde as crianças
A assistência jurídica também é fundamental para
previamente estudavam, afim de notificar à cerca da situação
que essa mulher consiga superar a violência doméstica. Uma
de abrigamento.
das maiores problemáticas enfrentadas pelas mulheres nessa
Outra forma de assistência prestada em parte dos Abrigos é o
situação é também a dependência financeira que tem em
encaminhamento para cursos de capacitação, de forma a
relação ao agressor e a falta de opções de moradias para si e
habilitar a mulher a obter sua independência financeira. Este
para os filhos. Com o apoio jurídico despendido pela Casa
aspecto é muito importante, uma vez que a mulher abrigada
Abrigo, há reconhecimento de seus direitos sobre os bens,
não possui recursos, o que amplia sua possibilidade de sucesso
pensão e guarda dos filhos.
ao se desvincular de seu agressor.
Há necessidade de considerar que as mulheres
No Espírito Santo, de acordo com a Secretaria de
mais vitimadas são as pretas e pardas. Fatores como baixa
Segurança Pública e Defesa Social, há uma Casa Abrigo
escolaridade, falta de acesso à informação e o racismo
Estadual chamada Maria Cândida Teixeira (CAES), até o
influenciam na dimensão da necessidade de se ter Casas
momento o único equipamento de alta complexidade que
Abrigos quando observamos que essa é a parte da população
atende vítimas de violência doméstica e familiar em risco de
de mulheres mais vulnerável e com opções mais
morte iminente. Nela, as mulheres são acolhidas juntamente
30
a seus filhos (com até 12 anos de de idade e incapazes). Nesse
Dentre os mecanismos que foram colocados em pauta estava o
abrigo, a mulher e seus filhos podem residir por até 3 meses. O
abrigamento e como este poderia ser feito de forma a
encaminhamento para o abrigo é feito através das Delegacias
assegurar a proteção da mulher de forma imediata ao mesmo
Especializadas em Atendimento à Mulher, assim como os
tempo que coíbe essa violência de acontecer novamente no
Centros
futuro.
de
Referência.
Na
CAES
é
disponibilizado
acompanhamento jurídico, psicológico, médico, pedagógico
O abrigamento de mulheres possui dois pilares: o oferecimento
além de recreação (estes últimos voltados para crianças).
de espaço seguro gratuito e
(ESPÍRITO SANTO, 2020)
multidisciplinar que funcionam de forma complementar. Para o
a
rede
de
atendimento
correto funcionamento desse mecanismo é necessário: 3. DIRETRIZES E ENTRAVES RELACIONADOS AS CASAS
- Vinculação: Os abrigos funcionam imperativamente em
ABRIGO.
conjunto com a Assistência Social, que são responsáveis pela administração dos mesmos;
A diretrizes das Casas Abrigo foram descritas pela Secretaria
- Institucionalização: de forma a oferecer mais segurança das
de Políticas para Mulheres em 2011 no documento chamado
abrigadas e funcionários da Rede de Atendimento, as casas-
Diretrizes Nacionais de Abrigamentos das Mulheres. Este foi
abrigos são criadas por Lei e estão atreladas à órgãos gestores
baseado no conjunto de Leis, Decretos e acordos internacionais
e a Administração Pública.
que discorriam sobre a mesma questão: como erradicar a
- Articulação com a Segurança Pública em caráter permanente:
violência infligida contra a mulher, dentre os quais se pode citar
visando que o objetivo do abrigo é assegurar a proteção das
a Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), o Decreto n⁰ 6.387 de
mulheres e seus dependentes, o abrigo deve estabelecer
5 de março de 2008, a Resolução n⁰ 109 de 11 de novembro de
parcerias formais com a força policial para garantir a
2009 do Conselho Nacional de Assistência Social, a Convenção
segurança.
de Palermo e a Convenção de Belém do Pará (Brasil, 2011).
31
- Acompanhamento pós abrigamento: Após a saída da mulher
Diretrizes Nacionais para Abrigamento (2011), é exposto a
do abrigo, esta deverá ser acompanhada por assistentes
ineficiência do caráter sigiloso tal qual como é hoje, uma vez
sociais de forma a garantir, em conjunto com a Casa Abrigo, o
que não é possível a localização permanecer secreta por
acesso à habitação e ao trabalho. Para tanto, é facilitada a
muito tempo. Em casos de presença de abrigos em cidades
obtenção de auxílio aluguel e é feito convite a programas
pequenas, por exemplo, manter o local sigiloso se torna pouco
sociais, de forma que possa retomar a vida, agora longe da
viável. Soma-se isso a outras ocorrências como: quebra de
violência.
sigilo por mulheres que já estiveram abrigadas no local,
- Sigilo: Desde o estabelecimento da primeira Casa Abrigo,
obtenção da localização por parte do potencial agressor da
sua localização se mantém sigilosa para que possa ocorrer a
abrigada, dentre outras formas em que a localização do abrigo
implantação e preservação do serviço.
se torna conhecida.
Objetivando o caráter sigiloso da Casa abrigo, gera-se
vários
entraves.
A
realidade
hoje
O
conjunto
de
Diretrizes
(2011)
propõem
desses
rediscutir o caráter sigiloso dos abrigos, partindo do princípio
equipamentos é seu estabelecimento em casas alugadas,
que serão efetuados procedimentos que garantam a proteção
para garantir a constante mudança de endereço para cumprir
da mulher abrigada e de seus filhos, como os expostos a
o pré-requisito de Sigilo.
seguir:
Portanto, não há como construir até então, um edifício próprio para exercer a função de Abrigo. Dessa forma há
comprometimento
em
relação
a
Acessibilidade
- Garantir a presença de força policial ou guarda municipal feminina para
e
garantir a segurança do local;
- Criação de Leis que assegurem a manutenção
adequação do edifício ao uso implementado, tendo prejuízo na
da
segurança
do
funcionamento
do
qualidade da estadia da mulher vítima de violência assim
responsabilidades e obrigações para tal;
abrigo,
conforme
como a atuação da equipe da Rede de Atendimento. Como consequência, no próprio conjunto de
32
- Formalizar parcerias utilizando acordos de cooperação técnica e demais documentos legais; - Conscientização da população local quanto à
projetar o Modelo de Casa abrigo ideal, foram selecionados dois abrigos: um localizado no exterior e outro em solo brasileiro.
importância do combate e prevenção da Violência Contra a Mulher e do amparo à mulher atendida pelo Abrigo.
4.1 Abrigo para Mulheres em Tel Aviv, Israel
- Assegurar a utilização de sistemas de segurança compatíveis com a realidade e riscos a que estão sujeitos os
O Abrigo para Mulheres em Tel Aviv, Israel, foi projetado por
abrigos;
dois escritórios de arquitetura: Amos Goldreich Architecture - Ter como requisito para permanência na Casa
(com sede em Londres) e Jacob-Yaniv Architects (com sede
abrigo o Boletim de Ocorrência registrado de forma a comprovar
local) e teve a conclusão de sua obra em 2018. O Projeto
perante o Estado a necessidade de oferecer proteção à mulher
recebeu 3 prêmios, além de menções honrosas. (GOLDREICH,
e seus dependentes;
2018)
- Não divulgar a localização da Casa abrigo em
Este é um raro exemplo de projeto de abrigo em
nenhum meio ou usar indicativos tais como placa de
que a concepção teve participação direta da equipe que iria
identificação no edifício de forma a informar sua função.
ocupar e gerenciar o abrigo. Dessa forma, o projeto se torna mais certeiro no que diz respeito às demandas das mulheres
4. ESTUDOS DE CASO
abrigadas e seus filhos. (GOLDREICH, 2018) Relação Externa X Relação Interna
Casas abrigos estão presentes em todas as partes do mundo,
Um dos elementos do Projeto que impressionam é
uma vez que a necessidade por edifícios do tipo se dá em
o aspecto impenetrável de sua fachada externa (Figura 7) em
diferente países e realidades. Dessa forma, buscando estudar
oposição com a fachada interna (Figura 8), que se volta para o
as necessidades que esses espaços possuem e de forma a
jardim central. Esse detalhe é de extrema importância
33
Figura 7 – Fachada Externa
Figura 8 – Fachada Interna
Fonte: Amos Goldreich Architecture
Fonte: Amos Goldreich Architecture
para Abrigos para Mulheres, uma vez que permite maior
- Playground
proteção das abrigadas na questão da confidencialidade de
- Sala de Tv
sua localização.
- Salas de Aula
Programa de Necessidades
- Creche
No Projeto são observados os seguintes ambientes:
- Jardim Comum
- Escritórios
Esses espaços foram pensados de acordo com as
- Cozinha para Funcionários
diversas atividades que ocorrem no abrigo. Como se trata de
- Alojamentos voltados para famílias com banheiros privativos
um ambiente com uma equipe multidisciplinar, foi planejado
- Cozinha comum
ambientes onde pudessem ser utilizados por advogados,
- Refeitório
assistentes sociais, pedagogos, psicólogos,
- Almoxarifado
34
dentre outros, simultaneamente. É importante lembrar que são
que esta foi posta na parte mais distante dos alojamentos.
as abrigadas as responsáveis pela limpeza da casa, lavagem de
Nota-se a permeabilidade espacial na planta (Figura 9),
roupas e cozinhar alimento. Portanto, é importante que os
que além de permitir fácil acesso a todas as dependências
espaços sejam facilmente acessíveis a todas.
também facilita o contato visual das mulheres com seus filhos, e das diferentes famílias entre si. Dessa forma, se desvencilha da
Setorização e Fluxos
ideia de que o abrigo é uma “prisão” e passa uma maior
Um dos detalhes do projeto é a relação que esse cria com a
sensação de conforto e segurança para os abrigados.
rotina pré-existente dessas mulheres ao elaborar os fluxos no
Análise de elementos em relação a proposta de Abrigo
abrigo. Foram pensados os espaços de forma que os
Modelo.
alojamentos conferissem certa privacidade para as famílias, se assemelhando a um pequeno apartamento. As áreas comuns, a parte administrativa e os alojamentos se distinguem em blocos. A área comum que envolve a cozinha, sala de tv e refeitório se abre para o jardim central e para o corredor que dá acesso aos alojamentos. Nesse mesmo bloco edificado estão as salas de aula
e
de
aconselhamento,
porém
com
um
acesso
Pontos Positivos do Abrigo
Pontos Negativos do Abrigo
Espacialidade que remete a rotina diária anterior ao abrigamento
Jardim interno sem projeto de paisagismo
Alojamentos que permitem a privacidade das famílias
Ambiência crua em suas cores e texturas
Relação entre o interior e exterior
Tratamento dos muros com o entorno
independente e próximo ao playground. No bloco administrativo estão os escritórios, apoio aos funcionários e a creche. Importante notar que a creche está a parte dos outros blocos, justamente para fazer cumprir a sua função, onde a mãe deixa a criança pela manhã e vai busca-la após seus afazeres, como seria em sua rotina normal, por isso é importante reparar
35
Concentração do administrativo e dos serviços da equipe multidisciplinar em um único bloco.
Figura 9 – Planta Baixa do Abrigo de Tel Aviv, Israel
Fonte: Amos Goldreich Architecture
36
4.2 Casa Viva Rachel, Rio Grande do Sul, Brasil
O abrigo possui as seguintes dependências: - Playground
A Casa Abrigo Viva Rachel está localizada na cidade de
- Sala da Tv
Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. O edifício faz parte
- Cozinha
do atual sistema de abrigamento que aluga espaços por
- Refeitório
determinados períodos a fim de manter a localização sigilosa.
- Escritórios
Nesse abrigo, as mulheres podem permanecer por até três
- Dormitórios
meses com seus filhos com comunicação com o mundo
- Horta comunitária
exterior limitada a que é intermediada pelos funcionários do
- Depósito para celulares e objetos de valor
abrigo.
- Rouparia A gestão do abrigo é de responsabilidade da
colaboração de uma Instituição Religiosa com a Prefeitura,
Neste abrigo, o preparo dos alimentos é de
com apoio da Secretaria de Segurança Pública e da Fundação
responsabilidade de uma cozinheira que prepara as refeições
de Assistência Social, estes fazendo o repasse de verbas e
para as abrigadas e seus filhos. Portanto, não é necessário
sendo canais para obtenção de auxílio jurídico, psicológico,
que seja parte das áreas comuns de amplo acesso a todos.
médico, dentre outros.
O edifício é um bloco único que possui pátio
A Casa abrigo opera com regras e horários pré-
externo (Figura 10 e 11), este circundado por muros, de forma
determinados para diferentes atividades como cozinhar, tomar
a preservar a privacidade e segurança das abrigadas. Neste
banho, fazer a limpeza do espaço e ter encontros com
pátio estão localizados o playground e Horta comunitária,
psicólogos e assistentes sociais.
mantida pelas mulheres.
Programa de necessidades
37
- Pequena biblioteca com acervo de DVD’s
Figura 10 – Pátio externo da Casa Viva Rachel
Fonte: Helena Bertho
Figura 11 – Horta comunitária da Casa Viva Rachel
Fonte: Helena Bertho
Figura 12 – Sala Comum da Casa Viva Rachel Análise dos ambientes É possível observar nos espaços o aspecto de ambiente adaptado. Ou seja, o edifício exerce um propósito diferente do qual foi projetado para exercer. Isso pode ser observado na disposição dos móveis e objetos e no espaço disponível para passagem e ocupação de pessoas na sala comum (Figura 12)
Fonte: Helena Bertho
38
Há presença de escadas (Figura 13), pela falta de planta
Figura 13 – Cozinha da Casa Viva Rachel
baixa não é possível analisar se restringe o acesso de possíveis abrigadas com mobilidade reduzida há áreas de uso comum. Entretanto, esse não seria um caso isolado na circunstância de falta de acessibilidade em abrigos. Por causa do sistema de constante troca da localização, não é sempre possível obter espaços amplamente acessíveis para alugar. O ambiente Rouparia (Figura 14) atende uma demanda que pode muitas vezes passar despercebida ao analisar o funcionamento do abrigo. É importante notar que a mulher abrigada (acompanhada ou não de filhos) muitas
Fonte: Helena Bertho
Figura 14 – Rouparia da Casa Viva Rachel
vezes chega apenas com a roupa do corpo, uma vez que está em situação de risco de morte. Dessa forma o abrigo deve ter roupas de diferentes tamanho para mulheres e crianças, além de artigos de higiene pessoal (escova de dente, sabonete, etc).
Fonte: Helena Bertho
39
Análise de elementos em relação a proposta de Abrigo modelo Pontos Positivos do Abrigo Ambiente que remete a atmosfera doméstica
Pontos Negativos do Abrigo Uso de escadas
Espaço para diferentes atividades como cuidados da horta e leitura Espaço para rouparia
Aberturas reduzidas e assim com menos luz natural. Espaços com layout mal distribuído
5. PROJETO O conceito que permeia o projeto apresentado a seguir é:
Itaparica como sendo o local mais propício de instalação do
“Um espaço que transmita conforto, segurança e paz; um
Abrigo Móvel, sendo localizado numa Zona de Ocupação
ambiente seguro para se reencontrar, para ver além de um
Prioritária.
passado violento e apreciar o futuro.”
residencial e em crescimento, portanto, dispõem de lotes
5.1. Localização
com as dimensões necessárias para a ocupação por parte
O abrigo necessita estar localizado em bairros residenciais
do Abrigo.
Trata-se
de
um
bairro
majoritariamente
de baixa circulação de pessoas, uma vez que assim se torna
Os lotes em questão são os de número 97 e 98
mais fácil o monitoramento de atividades suspeitas próximas
na Avenida Muqui (Figura 15). Foi dada preferência por não
ao local. Essa característica também é apontada no
ser
documento Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de
monitoramento de circulação de suspeitos. As dimensões
Mulheres
são 41,26 metros de testada por 41 metros de largura,
em
Situação
de
Risco
e
de
Violência
(BRASÍLA,2011).
um
lote
de
esquina,
permitindo
um
melhor
totalizando 1.691,66 m².
Dessa forma, ao analisar os bairros da região metropolitana da Grande Vitória, foi escolhido o bairro
40
Figura 15 – Mapa de Localização
41
Fonte: Google Maps
5.2. Condicionantes do terreno:
5.3. Programa de Necessidades
A testada dos lotes selecionados é voltada para oeste
O seguinte programa de necessidades pode ser dividido nos
(Figura 16), para uma via de mão dupla. Os lotes que
setores: Administrativo, composto pelos espaços utilizados
confrontam a área de ocupação se encontram sem uso.
pela equipe multidisciplinar que atua no abrigo; o setor de Acomodação, que é composto pelos dormitórios a serem
Figura 16 – Condicionantes do terreno
ocupados pelas abrigadas e seus filhos; e as Áreas Comuns, espaço para recreação e interação das mulheres, além dos banheiros e cozinha (Figura 17).
Figura 17 – Esquema de setorização
Fonte: Acervo pessoal
Fonte: Acervo pessoal
42
Tabela 3 – Programa de Necessidades
5.4. Diretrizes de Projeto Há muitos aspectos a serem abordados na elaboração do
Programa de Necessidades Administração Acomodação Sala da Mín. de três Coordenadora camas do abrigo Sala de atendimento individual (assistente social, psicóloga, advogada) Espaço para guarda de pertences das abrigadas (celulares, itens de valor)
Espaço para guarda de pertences
projeto, levando em conta a natureza do espaço, como: as Áreas Comuns Playground
necessidades das mulheres e seus filhos, estrutura para atendimento da equipe multidisciplinar, uma arquitetura transitória
Refeitório
porém
resistente,
espaços
convívio
confortáveis, dentre tantos outros elementos de suma importância para o resultado final do projeto. Portanto, foram selecionadas diretrizes norteadoras, consideradas os pilares da Casa Abrigo móvel (Figura 18).
Espaço íntimo
Banheiros
Espaço para Reuniões
Almoxarife
Copa Rouparia
Cozinha Espaço para TV/Leitura
Sala de Monitoramento
Jardim/Horta
Recepção
Sala de Aula
Figura 18 – Diretrizes de Projeto
Fonte: Acervo pessoal
43
de
Pode-se considerar a diretriz ‘Habitação’ de suma importância
formas de diminuir a necessidade de módulos, como por
pelo ponto de vista humano ao considerar a violência,
exemplo localizar o refeitório e espaço de TV/leitura em
estresse e medo vivenciados pelas mulheres abrigadas logo
espaços cobertos ao ar livre. Essa diretriz também é vista na
antes de ingressarem na Casa Abrigo. Dessa forma, um
forma de encaixe das peças da estrutura – tipo macho-fêmea
ambiente que remeta a ideia de um lar arejado, confortável e
parafusada.
amplo, pode auxiliar no processo de quebra do ciclo da violência e facilitar o trabalho desempenhado pela equipe
5.5. Projeto Arquitetônico
multidisciplinar do abrigo.
O projeto aqui apresentado busca a inovação do sistema de
A diretriz ‘Segurança’ diz respeito ao que levou
abrigamento de mulheres no Brasil, partindo de protótipos
essa mulher a recorrer como última alternativa a Casa Abrigo,
pré-existentes de módulos habitacionais como referencial
ou seja, a ameaça de morte. Lida-se com a possibilidade de
para a construção de um modelo único, que atenda as
invasão e perseguição por quem quer que seja o autor das
diretrizes de projeto e particularidades de um abrigo para
ameaças. Portanto, o monitoramento das dependências, o
mulheres e seus dependentes.
controle de entrada e saída, um espaço com amplitude visual, se faz necessário haja vista os riscos de quebra de
5.5.1 Referências Projetuais
segurança.
Uma das principais referências de projeto estudadas para a Como uma forma de manter a qualidade da
elaboração do Abrigo foi o B.O.B (Backyard Office Box). Esse
habitação enquanto garante a segurança em forma de sigilo
projeto propõem um módulo que é montado a partir de um kit
da localização, entra a ‘Praticidade’. Esta se encontra na
de peças facilmente transportado, utilizando ferramentas
escolha de materiais, soluções de estrutura, programa de
convencionais e materiais reciclados (Figura 19).
necessidades, guiando o processo de concepção do projeto para um produto executável e viável. Foram observadas
44
Figura 19 – Fachada principal do Backyard Office Box
Figura 20 – Esquema explodido do módulo B.O.B
Fonte: Archdaily
Montado, o módulo possui 13,93m² custando U$ 19,00/ m². O projeto é resultado de uma pesquisa elaborada na Universidade Estadual de Montana, Estados Unidos. A equipe que elaborou o projeto, também conhecida como Tr3s, desenvolveu um projeto adaptável a uma variedade de terrenos e usuários. B.O.B. pode funcionar como um espaço adicional para projetos já existentes ou como um abrigo temporário.
45
Fonte: Archdaily
O projeto em pequena escala é um quadrado de 3,35 por 3,35
Figura 21 – Abrigo de Emergência da Carter Willianson Architects
metros, divididos em uma grade de 3 por 3. A grade estrutural permite
diversas
configurações
dos
painéis
de
parede,
dependendo das necessidades do usuário (Figura 20). Um segundo projeto analisado é o Abrigo de Emergência da Carter Williamson Architects (Figura 21). A elaboração do projeto teve como diretriz o fácil transporte e montagem da estrutura, sendo também facilmente adaptado a terrenos irregulares. A vedação, composta de chapas metálicas na face externa, de forma a resistir às intempéries, e na face interna o uso de painéis em madeira (Figura 22) transmitindo um aspecto
Fonte: Archdaily
Figura 22 – Vedação Interna
aconchegante, enquanto cumpre a função estética de forma prática. Observa-se o sistema construtivo voltado para facilitar a montagem do módulo, onde a estrutura é composta por vigas e pilares metálicos que se encaixam, de forma a facilitar a montagem do abrigo (Figura 23).
Fonte: Archdaily
46
Figura 23 – Estrutura do Abrigo
Figura 24 – Fluxograma do Abrigo
Fonte: Archdaily
5.6. Fluxograma e Circulação O fluxograma foi pensado para minimizar os acessos por motivos de segurança, enquanto dentro do espaço ocupado pelo abrigo o deslocamento entre os módulos pudesse ser feito de forma ampla através de um pátio central (Figura 24). Fonte: Acervo pessoal
47
Uma vez que as estruturas são individuais e serão instaladas
5.7. Implantação
em lotes sem infraestrutura além do abastecimento de
Dinamicidade da disposição dos módulos individuais se faz
energia, água e captação de esgoto, a circulação entre
necessária uma vez que permite a implantação de diferentes
módulos será feita através de trajetos concretados in loco,
formas, de acordo com os diferentes lotes e demanda de
tendo cobertura em lona tensionada (Figura 25). Esta, sendo
espaços
possível de ser desmontada e reinstalada conforme a
Entretanto, é preservada a setorização dos módulos de
necessidade do abrigo.
acordo com a sua natureza, sendo áreas comuns, setor
encontrados
ao
mudar
o
abrigo
de
lugar.
administrativo ou dormitórios. Figura 25 – Exemplo de Lona Tensionada
Como se pode observar na Figura 26, foram elaborados três exemplos de implantação, com os seguintes ambientes: 1- Dormitórios
7- Sala de atendimento
2- Banheiros e lavanderia
8- Guarda-volumes
3- Cozinha
9- Rouparia
4- Sala de Aula
10- Sala de monitoramento
5- Copa de funcionários
11- Playground
6- Sala da coordenadora Fonte: Arqtex
48
Figura 26 – Exemplos de Implantações possíveis A) Exemplo 1:
B) Exemplo 2:
C) Exemplo 3:
Fonte: Acervo pessoal
A disposição dos módulos nas extremidades do lote, formando um pátio central, foi pensado como uma maneira de facilitar o monitoramento do espaço, assim como também das crianças. Essas estando sempre á vista de suas mães e da equipe multidisciplinar do abrigo. Para fins de projeto, a disposição escolhida para o seguinte trabalho foi a da Implantação número três (Figura 27).
49
Figura 27 – Implantação
Fonte: Acervo pessoal
50
5.8. Volumetria A arquitetura móvel tem como principal característica a necessidade de uma estrutura leve, que facilite a montagem e transporte. Logo, os módulos
Figura 28 – Volume 3D da Implantação
presentes nesse trabalho respeitam a escala humana e tem seu volume reduzido ao mínimo justamente para não necessitar de maquinários pesados ou mão-de-obra especializada na sua execução. Por se tratar módulos iguais que permitem ampliações, a altura permanece a mesma para todos os elementos construídos, mudando apenas o layout em que são posicionados (Figura 28). 5.9. Anteprojeto Os módulos tem como conceito ser um espaço familiar, que exprima conforto, segurança e individualidade, contrários a sensação de prisão que se poderia ter por parte das mulheres ali abrigadas, uma vez que elas não podem deixar o abrigo. Para tanto, foram usadas cores claras (Figura 29), tendo cada conjunto de dois módulos de acomodação uma cor única. Estas estão voltadas para o pátio central, com vista ampla para todo o abrigo.
51
Fonte: Acervo pessoal
Figura 29 – Vista em 3D dos módulos de Acomodação.
Fonte: Acervo pessoal
52
A ideia principal do projeto foi criar um conjunto de peças que podem ser montadas de diferentes maneiras, dessa forma é possível várias modulações (Figura 30). Figura 30 – Possíveis fachadas moduláveis.
O módulo possui 4 metros de altura, permitindo a instalação de mezanino quando usado para fins de dormitório. O módulo mínimo possui apenas 1 água justamente para permitir melhor conforto ergonômico e térmico no mezanino. Suas peças de encaixe permitem a modulação da cobertura com o sentido de água para ambos os lados (Figura 31) Figura 31 – Opções de disposição dos módulos de acomodação
53
Fonte: Acesso pessoal
Fonte: Acervo pessoal
Concebido de forma a facilitar a mudança de local do abrigo enquanto resguarda o bem-estar e conforto das usuárias, os módulos que
Figura 32 - Esquema Explodido do Módulo de Acomodação
compõem o projeto podem ser montados e Cobertura em Aço com proteção acústica
desmontados conforme a necessidade. Os espaços compreendidos pelos módulos, possuem peças em comum, tornando a produção das diferentes partes e o processo de montagem menos complexos. Tantos os materiais (Figura 32), quanto o método de montagem se assemelha ao sistema construtivo Steel Frame.
Vedação em placas de gesso acartonado revestido de impermeabilizante
Cobertura em Aço Galvanizado (similar ao Steel Frame)
O ponto de partida para a elaboração da Planta Baixa do módulo único foi o espaço de dormitório. A partir desse espaço, foi constatado quais as medidas mínimas necessárias. O espaço de Acomodação é resultado da junção de dois módulos, escada
possuindo de
uma
dimensões
pequena mínimas
Piso em Compensado Naval
varanda, projetada
especialmente para esse espaço e um pequeno
Fonte: Acervo Pessoal
mezanino que pode ter a função tanto de guarda de pertences como também de beliche (Figura 33).
54
Figura 33 – Plantas Baixas do módulo de acomodação.
Um dos objetivos do projeto é a maior redução possível de elementos construídos in loco, que não poderão ser
A) Planta Baixa convencional
B) Planta Baixa acessível
utilizados após a mudança de local. Entre esses elementos estão o muro que cerca a propriedade ocupada; e os sistemas de Infraestrutura. Infraestrutura Previamente a cada mudança de local, a próxima localização deve ser devidamente selecionada, o muro e sistemas de abastecimento devem ser instalados, estando finalizados de forma a diminuir o tempo de mudança do abrigo o máximo possível. O abastecimento de água será feito a partir da captação da rede da concessionária que abastece a localidade, passará por um relógio e será bombeada para uma caixa d’agua elevada de forma a adquirir pressão suficiente para alimentação de todos os ramais presente em projeto (Apêndice).
Fonte: Acervo pessoal
55
Já o abastecimento de energia elétrica será também obtido com a concessionária local, sendo o Quadro
em bases sobre rodas, de forma a fazer o transporte sem necessariamente desmontar as peças.
de Luz localizado na Sala da Direção. Todos os módulos
No segundo caso, o transporte deve ser feito a
devem possuir energia, essa distribuída pelo subsolo
noite e fora do horário de pico, de forma a atrair menor
(Apêndice).
atenção possível e não interromper o tráfego de veículos. A captação de esgoto deverá estar ligada na
Figura 34 - Esquema exemplificativo
Rede Pública, fazendo o despejo originado nos banheiros, lavandeira e cozinha (Apêndice). Montagem e Transporte A montagem foi prevista de forma a ser ágil, com pouca necessidade
de
maquinários
e
de
mão-de-obra
especializada, de forma a ser mais acessível e menos custosa. As peças que compõem a estrutura metálica possuem encaixe do tipo “macho-fêmea” somadas a parafusos (Figura 34). Essa forma de encaixe permite modular de diferentes formas a estrutura. O
transporte
das
peças
pode
ser
feito
desmontando as peças, colocando-as em um caminhão para serem levadas a próxima localização. Outra possibilidade é utilizar macaco hidráulico e posicionar os menores módulos Fonte: Acervo Pessoal
55
Figura 35 – Horta comunitária Horta Comunitária Um elemento que busca trazer mais uma opção de atividade no abrigo é a horta comunitária. Pensando na transitoriedade do abrigo, a horta não é plantada diretamente no solo, mas em caixotes que podem ser transportados juntos com o restante do abrigo (Figura 35). Espaço de TV/leitura Uma forma de diminuir a necessidade de módulos, e
Fonte: Acervo Pessoal
assim baratear custos de produção e transporte, é utilizar ao máximo espaços abertos sombreados pela
Figura 36 – Espaço TV/leitura
lona tensionada. Um desses espaços é o voltado para reprodução de filmes, leitura e descanso (Figura 36). Foi utilizada a parede de um dos módulos como espaço de projeção. O mobiliário composto por sofás é de material impermeável e resistente, com rodízio para facilitar sua movimentação de acordo com a necessidade. Há também mesas de apoio próximas.
56
Fonte: Acervo Pessoal
Refeitório
frontal e posterior com o intuito de dar mais privacidade
Assim como o Espaço de TV/leitura, o espaço de refeições
enquanto permite posicionar os módulos rentes uns aos
também está em ambiente aberto, coberto com lona
outros em caso de falta de espaço útil no abrigo.
tensionada, próximo a cozinha (Figura 37). Figura 37 – Refeitório
Figura 38 – Layout lotação máxima
Fonte: Acervo Pessoal
Interior da Acomodação O módulo de acomodação foi projetado para ser utilizado em duas situações: por uma mulher e seus filhos ou por duas mulheres abrigadas. A ocupação mínima é de três pessoas e a máxima é de cinco pessoas (Figura 38), variando conforme a necessidade. A janelas são posicionadas nas fachadas
Fonte: Acervo Pessoal
57
O módulo conta, além das camas, com espaço para guarda de pertences e mesa com cadeiras. Dessa forma, a família conta com espaço íntimo para exercer
Figura 39 – Esquema módulo de acomodação
de sua privacidade (Figura 39) As cores, tanto no interior quanto na exterior, possuem um tom pastel, sendo visto como a melhor opção para esse tipo de ambiente. A abertura na cobertura – presente em todos os módulos – permite a saída de ar quente enquanto preserva a privacidade. Guarda-volumes e Rouparia O módulo destinado ao Guarda-volumes é o espaço onde é guardado bens de valor e celulares das mulheres abrigadas, e é de acesso restrito a equipe do abrigo. Já o módulo de Rouparia é onde é guardada roupas tanto para as mulheres quanto para as crianças, uma vez que muitas mulheres chegam no abrigo sem seus pertences.
58
Fonte: Acervo Pessoal
Sala de aula
Buscando otimizar o espaço reduzindo ao
Como visto na Implantação humanizada (Figura 40) a Sala de
máximo a quantidade de módulos utilizados, o almoxarifado
aula se encontra próxima aos espaços comuns (refeitório,
está presente tanto no sanitários quanto na lavanderia, em
cozinha, sanitários). Esse espaço é voltado tanto para as
armários aéreos e embaixo da pia, sendo trancados a chave.
mulheres, para oficinas e cursos de capacitação – objetivando autonomia financeira em suas vidas após deixar o abrigo –;
Sala da coordenadora
quanto para seus filhos, uma vez que estes não podem deixar
Composto por uma sala para atender tanto as mulheres
o abrigo, e portanto, não podem ir para a escola. Seu uso
quanto a equipe multidisciplinar e por um quarto, uma vez que
deve ser feito alternando em turnos.
é necessário ter sempre um supervisor no abrigo.
Cozinha
Sala de atendimento
Um espaço de uso comunitário, a cozinha é o onde é
Espaço a ser utilizado pela equipe multidisciplinar composto
preparada as refeições, havendo possibilidade de ser
por Assistente Social, Psicóloga, Advogada, dentro outros.
responsabilidade das mulheres abrigadas ou de estar a cargo
Importante lembrar que o abrigo possui espaços de estar que
de uma equipe a serviço do abrigo.
também podem ser utilizados para essa função.
Sanitários e Lavanderia
Sala de monitoramento
Por questões de viabilidade de projeto, os módulos de
Espaço ocupado pelos vigilantes do abrigo, possui a função
acomodação não possuem sanitários. Estes tem a proporção
de guarita, tendo acesso visual ao Hall de entrada, de forma a
de um equipamento sanitário para um conjunto de módulos de
controlar a entrada e saída de pessoas.
acomodação (composto por dois apartamentos).
59
Figura 40 – Implantação humanizada
60
Fonte: Acervo Pessoal
CONSIDERAÇÕES FINAIS A situação da mulher tanto no Brasil quanto no mundo é
abrigada. Uma vez que a violência é vivenciada dentro do lar,
exposta nesta pesquisa, onde foram levantados dados e
é necessário tratar de diversas questões como os direitos que
estatísticas factuais alarmantes. Um dado que mostra
a mulher possui sobre bens, a questão da guarda dos filhos,
claramente a necessidade e importância de se discutir a
independência financeira e emocional, dentre outros. Trata-se
funcionalidade e a indigência do Abrigo, como ferramenta de
de um processo complexo que é somado ao risco iminente de
proteção à vida e a quebra do ciclo de violência da mulher, é
morte por parte do atual/ex parceiro, namorado ou marido, por
o que aponta que 58% das mulheres agredidas em 2019
vezes podendo se tratar também de um parente. Portanto, um
apenas no estado de São Paulo vivenciaram a violência em
ambiente seguro e familiar é de extrema importância para que
sua
essa mulher (e seus dependentes, se for o caso) passe por
residência
(DATAFOLHA/FBSP).
Em
situações
extraordinárias, como a quarentena causada pela pandemia
esse processo de maneira segura e eficiente.
do Covid-19, é possível observar a relação do tempo em que
Dessa forma, justifica-se a pesquisa e estudo de
a mulher está no mesmo ambiente do agressor com o
como elaborar uma Casa Abrigo Móvel para mulheres vítimas
aumento das situações de violência. Houve 40% mais
de violência doméstica e familiar, observando a necessidade
denúncias de violência que o visto no mesmo período de
do aspecto sigiloso do local. Sendo assim, este trabalho tem
2019 (ISTOÉ, 2020).,
como finalidade a elaboração de diretrizes que dizem respeito
A
partir
dos
dados
levantados
se
pode
ao Projeto Arquitetônico que atenda não apenas as
dimensionar a relevância que o Modelo de Casa Abrigo
necessidades básicas de sobrevivência, mas que ofereça um
representa em nossa sociedade, as carências estruturais e a
espaço seguro, onde seja possível curar e emancipar a
importância que esses espaços representam na vida de uma
mulher de uma vida de violência sanando as dificuldades e
61
entraves geradas na transitoriedade de endereço do abrigo. A criação de módulos que permitem um fácil deslocamento para manutenção do sigilo, adaptação da disposição de espaços de acordo com a forma do terreno e layout compatível com as necessidades das famílias busca sanar os impasses do sistema de abrigamento atual, enquanto entrega qualidade arquitetônica, com mais conforto e segurança. A presença de espaços amplos no Abrigo assim como Acomodações para cada família, respeitando a sua individualidade e privacidade, são as principais assinaturas do Projeto, após seu aspecto transitório. Pois dessa forma, desvia-se
do
aspecto
prisional
visto
no
sistema
de
abrigamento hoje e se volta para um ambiente onde a mulher possa buscar força e coragem para retomar o controle de sua vida e de seu futuro longe da violência e do medo.
61
REFERÊNCIAS
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S00NjcxLWI1NDItMTVjYzlhOTQ2MzExIiwidCI6ImEyNDc0OD
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U1LWZjZjUtNDFlOC05YzQ4LWMyN2RiNDUyZDZkZCJ9>
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<https://www.archdaily.com.br/br/880604/uma-
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64
APÃ&#x160;NDICE
Horta comunitรกria
Fonte: Acervo Pessoal
Espaรงo TV/leitura
Refeitรณrio
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
SALA DE AULA A= 25,75 m² LAVANDERIA A= 6,25 m²
N
COZINHA A= 25,75 m²
0
ESC
ADA
Ø1 5 BANH. PNE UNISSEX A= 6,25 m²
APART. A= 10,67 m² BANH. FEMININO A= 25,70 m²
APART. A= 10,67 m²
ESC
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
ESC
ADA
APART. A= 10,67 m²
SALA MONITOR. A= 6,25 m²
APART. A= 10,67 m²
ESC
ADA
ESC
ADA
APART. A= 10,67 m² SALA COORDEN. A= 12,50 m²
BASE ELEVADA REVESTIDA EM GRAMA SINTÉTICA APART. A= 10,67 m² ESC
ADA
ESC
ADA
COPA A= 6,25 m²
APART. A= 10,67 m²
APART. A= 10,67 m²
ESC
ADA
HORTA COMUNITÁRIA
GUARDA VOLUMES A= 6,25 m²
ROUPARIA A= 6,25 m²
SALA ATEND. A= 6,25 m²
PLANTA DE IMPLANTAÇÃO ESC.: 1/100
UNIVERSIDADE VILA VELHA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
CONTEÚDO:
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
ADA
CASA ABRIGO PARA MULHERES: ABRIGO MÓVEL PRANCHA:
IMPLANTAÇÃO
AUTOR(A):
YASMIM DURANTE CIRNE NASCIMENTO
DATA:
NOVEMBRO DE 2020
ORIENTADOR(A):
Dr.ª SIMONE NEIVA
ESC: 1/100
A2
FOLHA:
01/10
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
SALA MONITOR. A= 6,25 m²
BASE ELEVADA REVESTIDA EM GRAMA SINTÉTICA
PLANTA DE COBERTURA - MÓDULOS ESC.: 1/100
UNIVERSIDADE VILA VELHA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
CONTEÚDO:
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
N
CASA ABRIGO PARA MULHERES: ABRIGO MÓVEL PRANCHA:
PLANTA DE COBERTURA - MÓDULOS
AUTOR(A):
YASMIM DURANTE CIRNE NASCIMENTO
DATA:
NOVEMBRO DE 2020
ORIENTADOR(A):
Dr.ª SIMONE NEIVA
ESC: 1/100
A2
FOLHA:
02/10
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
CAIXA D'AGUA
MEDIDOR
LAVANDERIA
BANH. PNE.
SANITÁRIOS
COZINHA
BOMBA
CALÇADA
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
REDE PÚBLICA
ESQUEMA DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA ESC.: 1/75
SANITÁRIOS
COZINHA LAVANDERIA
BANH. PNE.
CALÇADA CX. DE ESPUMA
CX. DE INSPEÇÃO CX. DE INSPEÇÃO
CX. DE GORDURA
CX. DE INSPEÇÃO
COLETOR PÚBLICO
ESQUEMA DE CAPTAÇÃO DE ESGOTO ESC.: 1/75
QUADRO DE DISTRIBUIÇÃO
RAMAL DE LIGAÇÃO
CIRCUITOS TERMINAIS EM TODOS OS MÓDULOS
MEDIDOR CIRCUITO DE DISTRIBUIÇÃO
SALA COORDENADORA
UNIVERSIDADE VILA VELHA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
CASA ABRIGO PARA MULHERES: ABRIGO MÓVEL
CONTEÚDO:
ESQUEMA DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA
ESQUEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA, ENERGIA E CAPTAÇÃO DE ESGOTO
AUTOR(A):
ESC.: 1/75
YASMIM DURANTE CIRNE NASCIMENTO
DATA:
NOVEMBRO DE 2020
ORIENTADOR(A):
PRANCHA:
Dr.ª SIMONE NEIVA
ESC: 1/75
A2
FOLHA:
03/10
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
2 270
10
250
270 270
Ø1
287
250
200X100X105
10
200X100X105
267
200X100X105
10
250
250
200X100X105
10
10
50
270
10
3
4 PROJ. MEZANINO
7 170
130
170
131
597
PROJ. MEZANINO
527
527 7
51
10 100X100X105
100X100X105
10
70
110
80X210
100X100X105
80X210
100X100X105
80X210
80
10
90X210
SOBE
70 90
130 270
90
230
PLANTA BAIXA
PLANTA BAIXA
PLANTA BAIXA
PLANTA BAIXA
PLANTA BAIXA
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
LAYOUT OCUPAÇÃO MÍNIMA
LAYOUT OCUPAÇÃO MÁXIMA
MEZANINO
COBERTURA
LAYOUT ACESSÍVEL
527
81
9
81
20
527
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
390 289
390 289
370
105
210
309
100
MEZANINO
7
256
20
20
TÉRREO
7
270
VISTA 1
VISTA 3
CORTE
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
289
UNIVERSIDADE VILA VELHA
20
309
370
390
9
81
20
527
7
256 270
7
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
CASA ABRIGO PARA MULHERES: ABRIGO MÓVEL
VISTA 2
VISTA 4
CONTEÚDO:
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
AUTOR(A):
YASMIM DURANTE CIRNE NASCIMENTO
DATA:
NOVEMBRO DE 2020
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
70
1
PRANCHA:
PLANTA BAIXA, VISTAS, CORTE DO MÓDULO DE HABITAÇÃO ORIENTADOR(A):
Dr.ª SIMONE NEIVA
ESC: 1/50
A2
FOLHA:
04/10
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
2 270
250
10
10
250
70
70
30
130
270
10
110
80X210
250
270
GUARDA-VOLUMES A= 6,25 m²
80X210
250
270
COPA A= 6,25 m²
10
80X210
250
270
ROUPARIA A= 6,25 m²
10
10
80X210
250
4
100X100X105
100X100X105
100X100X105
100X100X105
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
1 PLANTA BAIXA
PLANTA BAIXA
PLANTA BAIXA
PLANTA BAIXA
PLANTA BAIXA
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
GUARDA-VOLUMES
COBERTURA
390 279
279
390
9
7
256
7
7
256 270
270
7
7
7
256 270
VISTA 1
VISTA 2
VISTA 3
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
10 20
20
10
105
210
309
100
9
81
20 370
COPA
81
20
ROUPARIA
370
SALA DE ATENDIMENTO
309
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
270
270 10
130
SALA ATEND. A= 6,25 m² 270
250
10
7
256 270
7
VISTA 4 ESC.: 1/50
UNIVERSIDADE VILA VELHA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
CONTEÚDO:
CASA ABRIGO PARA MULHERES: ABRIGO MÓVEL PRANCHA:
PLANTA BAIXA, VISTAS MÓDULOS SIMPLES
AUTOR(A):
YASMIM DURANTE CIRNE NASCIMENTO
DATA:
NOVEMBRO DE 2020
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
3
270 10
10
10
250
10
10
10
10
270 10
ORIENTADOR(A):
Dr.ª SIMONE NEIVA
ESC: 1/50
A2
FOLHA:
05/10
309
279
370
390
9
81
20
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
270
10
10
20
250
10
10
270
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
7
256
7
7
256
270
7
7
256
527
VISTA 1
VISTA 3
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
SALA COORDENADORA
20
250
287
SALA COORDENADORA
9
3
81
SALA COORDEN. A= 6,25 m²
390 279
100
100
70
130 270
20
10
10
105
105
210
309
370
110
250
100X100X105
130
527 7
527
80X210
70
1
7
7
256 270
7
256
PLANTA BAIXA
VISTA 2
VISTA 4
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
COBERTURA
SALA DA COORDENADORA
SALA COORDENADORA
7
256
7
527
PLANTA BAIXA
SALA COORDENADORA
UNIVERSIDADE VILA VELHA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
CONTEÚDO:
CASA ABRIGO PARA MULHERES: ABRIGO MÓVEL PRANCHA:
PLANTA BAIXA, VISTAS SALA DA COORDENADORA
AUTOR(A):
YASMIM DURANTE CIRNE NASCIMENTO
DATA:
NOVEMBRO DE 2020
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
2
ORIENTADOR(A):
Dr.ª SIMONE NEIVA
ESC: 1/50
A2
FOLHA:
06/10
20 9
370
1
309
309
100X100X90
80X210
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
7
256 270
270
VISTA 1
VISTA 2
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
7
3
200X100X105
7
250
256
270
7
4
81
81
A= 6,25 m² MONITOR. SALA
390
250
10
279
279
100
390
10
JANELA VOLTADA PARA O HALL DE ENTRADA
10
270
PLANTA BAIXA
2
SALA DE MONITORAMENTO
7
256 270
7
20
10
20
10
105
ESC.: 1/25
7
256 270
VISTA 3
VISTA 4
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
7
UNIVERSIDADE VILA VELHA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
CONTEÚDO:
CASA ABRIGO PARA MULHERES: ABRIGO MÓVEL PRANCHA:
PLANTA BAIXA, VISTAS SALA DE MONITORAMENTO
AUTOR(A):
YASMIM DURANTE CIRNE NASCIMENTO
DATA:
NOVEMBRO DE 2020
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
105
10
210
370
100
9
20
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
ORIENTADOR(A):
Dr.ª SIMONE NEIVA
ESC: INDICADA
A2
FOLHA:
07/10
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
2
527 250
7
250
10
390 279
100 210
309 7
253
20 7
7
253
7
527
VISTA 1
VISTA 3
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
7
513 527
7
SALA DE AULA
4
81
10
309
279
390
395
9
250
200X100X105
200X100X105
76
7
3
527
SALA DE AULA
513 527
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
200X100X105
10
100X100X105 250
250 527
PLANTA BAIXA SALA DE AULA
ESC.: 1/25
1
20
7 10
10
7
253
7
7
253
7
527
VISTA 2
VISTA 4
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
SALA DE AULA
SALA DE AULA
UNIVERSIDADE VILA VELHA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
CONTEÚDO:
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
30
10
105
250
200X100X105
200X100X105
395
20
34
10
9
46
81
76
10
10
CASA ABRIGO PARA MULHERES: ABRIGO MÓVEL PRANCHA:
PLANTA BAIXA, VISTAS, SALA DE AULA
AUTOR(A):
YASMIM DURANTE CIRNE NASCIMENTO
DATA:
NOVEMBRO DE 2020
ORIENTADOR(A):
Dr.ª SIMONE NEIVA
ESC: INDICADA
A2
FOLHA:
08/10
76
35
34
10
9
9
46
81
76
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
395
90
210
309
309
279
110
390
395
JANELA PARA PASSAGEM DE PRATOS
20
30
10
COZINHA
7
7
253
7
253
7
513 527
527
CORTE
7
253
7
253
527
VISTA 1
VISTA 3
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
SANITÁRIOS, LAVANDERIA
ESC.: 1/50
SANITÁRIOS, LAVANDERIA
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
2 527 7
250
250
10
210X25X235
10
210X25X235
235
309
20
10
4
7
250
210X25X235
210X25X235
7
3
527
279
390
395
250
210X25X235
210X25X235
34
10
9
46
81
76
10
513 527
7
7
7
7
253
527
VISTA 4
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
SANITÁRIOS, LAVANDERIA
SANITÁRIOS, LAVANDERIA
10
90X210
253
VISTA 2
60X100X90
80
60X100X90
250
277
1
PLANTA BAIXA COZINHA
ESC.: 1/50
UNIVERSIDADE VILA VELHA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
7
7
CASA ABRIGO PARA MULHERES: ABRIGO MÓVEL
CONTEÚDO:
PLANTA BAIXA, VISTAS, CORTE COZINHA
AUTOR(A):
YASMIM DURANTE CIRNE NASCIMENTO
DATA:
NOVEMBRO DE 2020
PRANCHA:
ORIENTADOR(A):
Dr.ª SIMONE NEIVA
ESC: 1/50
A2
FOLHA:
09/10
395
100
309
ARMÁRIOS PARA GUARDA DE MATERIAIS DE LIMPEZA E HIGIENE
105
210
309
210
210
279
390
395
25
34
10
9
9
46
81
76
76
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
20
10
SANITÁRIOS
7
7
7
770 784
7
253
253
7
7
253
253
7
527
527
VISTA 1
VISTA 3
SANITÁRIOS, LAVANDERIA
CORTE BB
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
81 390 279 235
309
SANITÁRIOS
7
20
20
10
SANITÁRIO PNE
10
279
390
395
34
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
10
9
46
81
76
SANITÁRIOS, LAVANDERIA
7
7
7
770 784
253
7
253
7
7
527
VISTA 2
VISTA 4
SANITÁRIOS, LAVANDERIA
CORTE AA
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
ESC.: 1/50
SANITÁRIOS, LAVANDERIA
B
7
770 784
2 784
10
7
250
250
10
210X25X235
210X25X235
40
10
210X25X235
7
250
210X25X235
146
100X100X105
4
210X25X235
50 Ø1
210X25X235
250
155
7
3
LAVANDERIA A= 6,25 m²
527 7
250
74
70X210
BANH. PNE UNISSEX A= 6,25 m²
BANH. A= 25,70 m² 105
A
A
90X210
10
90X210
80
SOBE
210X25X235
377
PLANTA BAIXA SANITÁRIOS, LAVANDERIA
UNIVERSIDADE VILA VELHA
250
B
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
1
CONTEÚDO:
ESC.: 1/50
CASA ABRIGO PARA MULHERES: ABRIGO MÓVEL PRANCHA:
PLANTA BAIXA, VISTAS SANITÁRIOS E LAVANDERIA
AUTOR(A):
YASMIM DURANTE CIRNE NASCIMENTO
DATA:
NOVEMBRO DE 2020
ORIENTADOR(A):
Dr.ª SIMONE NEIVA
ESC: 1/50
A2
FOLHA:
10/10
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION