Ecovilas: Perspectivas para um viver sustentável

Page 1

ECOVILAS: PERSPECTIVAS PARA UM VIVER SUSTENTÁVEL YASMIN KURKDJIBACHIAN

CENTRO UNIVERSITÁRIO MOURA LACERDA RIBEIRÃO PRETO - 2016


ECOVILAS: PERSPECTIVAS PARA UM VIVER SUSTENTÁVEL YASMIN KURKDJIBACHIAN

Projeto de pesquisa apresentado ao Centro Universitário Moura Lacerda para cumprimento das exigências parciais para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo sob a orientação da Prof.ª Me. Anelise Sempionato Souza Santos.


AGRADECIMENTOS Agradeço a minha família, em especial minhas amadas Mãe e irmã Nanayra, companheiras de profissão, que me ajudaram e me acompanharam por toda esta etapa. Ademais, registro aqui, a pessoa que fez despertar em mim, a aspiração por uma arquitetura digna a todos, meu Pai (in memoriam), que infelizmente não pode estar presente neste momento tão feliz da minha vida, mas que não poderia deixar de citá-lo, pois sua dedicação, bondade e amor, foram fundamentais para minha formação pessoal e profissional. Saudades eternas! Ao meu namorado, Luan Guilherme Dias, maior inspiração pessoal, sempre disposto a ajudar, instigou em mim o anseio por um mundo mais justo. O seu companheirismo, dedicação e respeito reforçam, cada dia mais, o meu amor por você! A minha querida Orientadora Prof.ª Me. Anelise Souza Santos Sempionato, por todo empenho, paciência e, principalmente, incentivo. Com certeza, seu modo de orientar engajou, de forma agradável e descontraída, todas as etapas e desempenhos do trabalho. Agradeço também, a Prof.ª Me. Luciana Pagnano Ribeiro, que esteve em minhas bancas com considerações de grande relevância para o desenvolvimento do trabalho e que, com certeza, contribuíram para que o trabalho pudesse ser concluído com êxito. Aos integrantes da Ecovila Tibá - São Carlos, que gentilmente nos recebeu e ofereceu toda a atenção necessária para a pesquisa realizada, nos possibilitando conhecer e ver de perto o admirável mundo das Ecovilas.


RESUMO

O presente trabalho faz uma reflexão sobre a vivência em Ecovilas ao mesmo tempo em que apresenta projetos arquitetônicos com a intenção em contribuir positivamente para a solução dos problemas ambientais que vieram se alastrando e crescendo cada vez mais, desde o marco da Revolução Industrial. As reflexões que se fazem têm, sobretudo, carácter ecológico-sustentável e social-comunitário. Tratase, portanto, de apresentar tecnologias e materiais sustentáveis de baixo impacto ao meio ambiente. Esta concepção se dará através da Arquitetura Sustentável e os instrumentos que permeiam as Ecovilas, como a Bioconstrução, Permacultura, Agrofloresta e suas soluções tecnológicas sustentáveis pontuais como gestão de resíduos sólidos e líquidos. Deste modo, as Ecovilas apresentam-se como uma forma em potencial na integração, harmonização e contribuição para o melhoramento da relação entre o homem e o meio ambiente natural. Além disso, implica também em um novo formato de estruturação social que é a vivência comunitária e seu valor: solidariedade. PALAVRAS-CHAVE: Ecovilas; Arquitetura Sustentável; Cultura solidária; comunitário.


ABSTRACT

This paper provides us an opportunity to make a reflection about living in Ecovillages at the same time that shows a projectual proposal with the intention of contributing positively to solve the environmental problems which has being growing tremendously, since the Industrial Revolution. These reflections has, above all, an ecological/sustainable and social/shared bias. It is, therefore, an opportunity to present technologies and sustainable and low environment impact materials. This idea will be achieved through a sustainable architecture and the instruments that surrounds the Ecovilas, like the Bioconstruction, Permaculture, Agroforestry and its specific sustainable technological solutions, such as the management of solid/liquid waste. Therefore, the Ecovilas come across as a good solution for a harmonization and contribution to the progress of the relationship between men and environment. In addition, also implies in a new format of social structuring: the community experience and its values: solidarity, self-sufficiency and freedom. KEY-WORDS: community.

Ecovillages;

Sustainable

Architecture;

cooperative

culture;


SUMÁRIO CAPÍTULO 01 – PLANO DE PESQUISA ................................................................... 7 1.1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 7 1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................ 9 1.3 OBJETIVOS ................................................................................................ 10 1.3.1 Objetivo Geral ................................................................................. 10 1.3.2 Objetivos Específicos ..................................................................... 10 CAPÍTULO 02 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................... 12 2.1 BREVES REFLEXÕES ACERCA DO TEMA .............................................. 12 2.2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL .......................................................................... 14 2.3 SUSTENTABILIDADE ................................................................................ 16 2.3.1 Desenvolvimento Sustentável......................................................... 16 2.4 ARQUITETURA SUSTENTÁVEL ............................................................... 18 2.5 ECOVILAS .................................................................................................. 19 2.5.1 Respaldo histórico .......................................................................... 19 2.5.2 Conceitos e Princípios das Ecovilas ............................................... 21 2.5.3 As dinâmicas sustentáveis de gestão adotadas pelas Ecovilas. .... 23 2.5.3.1 Permacultura ............................................................................... 23 2.5.3.2 Bioconstrução .............................................................................. 26 2.5.3.3 Gestão de resíduos .................................................................... 33 2.5.3.4 Sistema Agroflorestal (SAFs) e seus benefícios .......................... 40 2.5.3.5 Geração de energia e aquecimento solar .................................... 42 CAPÍTULO 03 – EXEMPLOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS DE ECOVILAS – PROJETOS REFERENCIAIS ................................................................................... 47 3.1 Ecovila Crystal Waters ................................................................................ 47 3.2 Ecovila Findhorn ........................................................................................ 51


3.3 Ecovila Tibá ............................................................................................... 56 3.4 Considerações sobre os projetos referênciais ............................................ 70 CAPÍTULO 04 – PROJETO ...................................................................................... 71 4.1 ESTUDO DE CASO: RIBEIRÃO PRETO – SP ........................................... 71 4.1.1 Caracterização territorial e demográfica de Ribeirão Preto – SP.... 71 4.1.2 Levantamento dos aspectos ambientais ......................................... 72 4.2 DELIMITAÇÃO TERRITORIAL PARA A PROPOSTA PROJETUAL .......... 75 4.2.1 Variáveis determinantes para a escolha da área ............................ 75 4.3 ÁREA DE INTERVENÇÃO ......................................................................... 76 4.3.1 Legislação e Planialtimetria ............................................................ 77 4.3.2 Memorial Justificativo Geral, Características Físicas, Fluxograma, e Plano de Massas Setorizado .................................................................... 80 4.3.3 Memorial Justificativo do Projeto, Volumetria e Estrutura ............... 85 CAPÍTULO 05 – CONCLUSÃO ................................................................................ 89 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 91 APÊNDICES ............................................................................................................. 96 ANEXO - PROJETO ............................................................................................... 106


7

CAPÍTULO 01 – PLANO DE PESQUISA

1.1 INTRODUÇÃO

Mergulhados na necessidade do crescimento econômico e na evolução tecnológica, a Revolução Industrial tomou força transmudando o processo de produção artesanal em um processo de estandardização1. Entretanto, suas buscas pelo progresso não contemplavam a preocupação com o futuro, pois encaravam a “idéia de natureza como uma entidade infinita” (PORTOGHESI Apud RAINHO, 2006, P. 27). Do campo para as cidades, rapidamente o espaço foi se modificando e se “adequando” ao novo urbanismo industrial, dando uma nova escala para a cidade. O progresso estava associado com maiores lucros a curto prazo. Para isso, a produção em massa crescia aceleradamente, visando sempre, o progresso instantâneo. Deste modo, o setor secundário passou a tomar conta da economia mundial. Dentro desta realidade conturbada, o impacto deste fato refletiu-se, principalmente, sobre a natureza e no próprio bem-estar do homem. As fábricas passaram a ser o principal elemento das cidades. Posicionadas lá dentro, exalavam fumaça, barulho e poluição. As moradias operárias se apertavam entre as fábricas ou em bairros sem higiene e infraestrutura alguma, resultando muitas vezes, em grandes epidemias, como cólera e tuberculose. Contrapondo-se com o grande desenvolvimento econômico, o meio ambiente foi atingido agressivamente por todos os lados. Essa nova escala do inchaço urbano fez-se observar a desastrosa repercussão com os recursos naturais, o que resultou na supressão de grande parte da vegetação existente e que, por consequência, vêm se arrastando até os dias atuais, ocasionando modificações sobre as características físicas das paisagens. É importante ressaltar, que todo este impacto interfere diretamente na própria vida do homem. Prova essa, todos os resultados expostos nos dias atuais, como a crise hídrica na cidade de São Paulo – SP (ano de 2015), onde o reservatório do 1

Em técnica industrial, unificação dos elementos de construção, de tudo aquilo que pode facilitar os trabalhos. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/estandardiza%c3%a7%c3%a3o>. Acesso em: 31 mar. 2016.


8

Sistema Cantareira, em Bragança Paulista, chegou a mostrar partes do solo totalmente secas, ocasionando a falta de água em cerca de 71% das residências paulistas. Por outro lado, ressalta-se também a importância e necessidade em desenvolver a educação ambiental ao propor a consciência de finitude dos recursos naturais e propor práticas de interação e contribuição mais harmônica entre a natureza e a sociedade, ou seja, é a consciência da sustentabilidade implantada em cada ação diária do homem. Como consequência a este processo, as Ecovilas se fazem capazes e vislumbram um grande potencial ao integrar a vida humana harmoniosamente com a natureza. Assim, é possível obter trocas vantajosas, como, a melhoria da saúde, bem-estar e conforto do homem, uma vez que, quando respeitada, a natureza se faz “recíproca”. Deste modo, as Ecovilas apontam caminhos para adesão da consciência ambiental ao oferecer ao indivíduo um olhar integrado à natureza. Assim, este trabalho descreve-se em torno dos ideais e tecnologias apontados pelas Ecovilas, principalmente pelo fato de que oferecem um outro formato de vivência, díspar dos parâmetros tradicionais vigentes. Para atingir as intenções aqui apresentadas, este trabalho organiza-se em capítulos que trazem um arcabouço teórico, estudos de caso, levantamento de dados materiais, tecnológicos e do local de implantação. O capítulo 01 trata do Plano de Pesquisa e todos os seus métodos: problemática, justificativa, objetivos e os procedimentos metodológicos. Deste modo, este capítulo se dá como um auxílio e norteamento para o desenvolvimento da pesquisa. O capítulo 02 contempla toda a fundamentação teórica que gira em torno das temáticas pertinentes à Educação Ambiental, Sustentabilidade/Desenvolvimento Sustentável, Arquitetura Sustentável e Ecovilas (Histórico, conceito, princípio e dinâmicas sustentáveis de gestão). O capítulo 03 contempla projetos referenciais de Ecovilas em escala nacional e internacional, dentre as quais estão a Ecovila Crystal Waters e Ecovila Findhorn e Ecovila Tibá. Ademais, relata-se também o estudo de caso feito na Ecovila Tibá onde abrange toda a história desde o surgimento da Ecovila e seus aspectos de planejamentos que permitem a manutenção desta.


9

Já o capítulo 04 engloba os levantamentos e a realização de um projeto de Ecovila localizada na cidade de Ribeirão Preto – SP. Por fim, o capítulo 05 se faz como etapa conclusiva, diante de toda a pesquisa realizada até então e o projeto executado, relatando de forma analítica os objetivos pautados, as diretrizes traçadas e os resultados obtidos que tornam eficaz o desenvolvimento de uma Ecovila.

1.2 JUSTIFICATIVA Os centros urbanos brasileiros, marcados pelo elevado crescimento espraiado (urban sprawl2) e desordenado, mostram-se cada vez mais insustentáveis visto que, para o seu “crescimento”, a ignorância e a ganância, juntamente com a especulação imobiliária, passam por cima de tudo, desmatando e poluindo os meios naturais. O Planejamento Urbano, embora dotado de política, diretrizes e instrumentos adequados, apresenta-se descomprometido com a realidade empírica e foca-se em satisfazer interesses econômicos privados. Em meio a estas degradações, ressaltasse-a a construção civil, já que, segundo a Green Building Council Brasil3, a construção civil é responsável por um terço dos gases lançados na atmosfera em todo o mundo, ou seja, é um dos setores que mais poluem no planeta. Em vista disso, nota-se tamanha necessidade de se construir e viver sustentavelmente. O intuito de se propor Ecovila como solução, envolve a necessidade de reverter este quadro. Sabe-se que a espécie humana exerce domínio sobre o planeta, sendo ela a que tem a capacidade de influir e modificar, de forma radical, todo o planeta. Assim, torna-se o principal responsável por devolver a natureza ao planeta. Desta forma Fathy, Hassan esclarece: Já que as potencialidades das decisões do homem são tão grandes tanto para o bem quanto para o mal, sua responsabilidade é realmente muito séria. Assim, um dos aspectos mais importantes da condição humana está no fato de que as decisões que o homem toma alteram o mundo, que ele não pode fugir delas e que ele tem consciência do bem e do mal que causa, da beleza ou da feiura que cria. (grifo nosso) (FATHY, HASSAN,1982, P. 37) 2

É o fenômeno caracterizado pela expansão horizontal das cidades muito antes de se atingir uma densidade demográfica ideal. Acesso em: https://transportehumano.wordpress.com/2008/12/20/espraiamento-de-cidades/ 3 Criada em março de 2007, é uma ONG que visa fomentar a indústria de construção sustentável no Brasil. Disponível em: <http://www.gbcbrasil.org.br> Acesso em: 16 mar. 2016.


10

Ainda que não seja uma tarefa simples, abordar as questões sustentáveis é uma tarefa necessária e emergente, que envolve tudo e todos. É a necessidade de se tomar uma nova forma, um novo meio de se pensar e fazer. É identificar os impactos negativos sobre o meio ambiente, entender as causas e procurar por soluções de grande eficiência. Nesta mesma perspectiva, FathyHassan (1982) clareia: A decadência cultural começa com o próprio indivíduo, que é confrontado com escolhas que não está preparado a fazer, e é nesse estágio que devemos combate-la. Construir é uma atividade criativa, em que o momento decisivo é constituído pelo instante da concepção, aquele instante quando o espírito tomar forma e todas as feições da nova criação são virtualmente determinadas. Enquanto que as características de um ser vivo são irrevogavelmente fixadas no momento da fertilização, as características de um edifício são determinadas pelo complexo global de decisões tomadas por todos aqueles que, a cada estágio da construção, dela participam. Assim, o momento da concepção sobre o qual se assenta a forma final de um ser vivo torna-se, no caso de um edifício, uma multiplicidade de tais instantes, cada um deles desempenhando um papel decisivo no processo criativo total. Se pudermos identificar e dominar esses instantes poderemos então controlar todo o processo de criação. (FATHY, HASSAN,1982, P. 38)

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral O objetivo geral da pesquisa é elaborar um projeto de uma Ecovila inserida na zona rural da cidade de Ribeirão Preto/SP.

1.3.2 Objetivos Específicos 

Identificar princípios socioambientais que tornam as Ecovilas uma opção em potencial para um viver mais integrado entre os indivíduos e a natureza;

Identificar as estratégias de planejamento e gestão adotadas para a vivência comunitária;

Identificar os fatores que direcionam a escolha territorial para implantação de uma Ecovila;


11



Identificar os materiais e tĂŠcnicas construtivas utilizados pelas Ecovilas e retratar seus benefĂ­cios ambientais.


12

CAPÍTULO 02 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Com o objetivo de promover sustentação teórica para o estudo, são utilizadas literaturas

que

tratem

teorias

e

conceitos

sobre:

Educação

Ambiental,

Sustentabilidade, Arquitetura Sustentável, Ecovilas e seus conceitos, princípios e dinâmicas sustentáveis de gestão. Deste modo, é possível estabelecer os principais conceitos que norteiam o desenvolvimento da pesquisa e proposta projetual.

2.1 BREVES REFLEXÕES ACERCA DO TEMA A maior parte da população mundial vive hoje no espaço urbano. É sobre este território urbanizado que se concentra a grande maioria dos locais de habitar, trabalhar e divertir, além da infraestrutura para seu funcionamento. No entanto, o elevado crescimento urbano não planejado, contribui muito na degradação ambiental, sufocando e prejudicando, cada vez mais, a natureza. Em detrimento a isso, obtém-se resultados que impactam negativamente a vida do homem e de toda a biodiversidade. Evidentemente nos dias de hoje, pode-se notar os resultados destas degradações, que vem impactando cada vez mais a forma de se viver e pensar da população. Desta forma, diante de um leque de fatores preocupantes que embasam o atual cenário urbano, faz-se necessário compreender o que é urbano. Castells (2000) afirma: Urbano designaria então uma forma especial de ocupação do espaço por uma população, a saber, o aglomerado resultante de uma forte concentração e de uma densidade relativamente alta, tendo como correlato previsível, l uma diferenciação funcional e social maior. (CASTELLS, 2000 apud CORBELA; YANNAS, 2003, p. 51)

Entende-se, portanto, que a noção do urbano pertence à diferenciação do espaço local (cidade) caracterizada principalmente, por edificações contínuas. O seu crescimento resulta de relações recíprocas entre as pessoas e o meio. Disto, resultam grandes impactos ambientais diretos e indiretos, dentre os quais Bissolotti (2004) ressalta: Alteração (piora) do microclima local; diminuição da infiltração da água pluvial no solo; aumento da suscetibilidade a processos erosivos (sulcos, voçorocas); degradação dos vales; piora da


13

estrutura do solo devido a pior distribuição de raízes das plantas e ao pior desenvolvimento da microbiota; piora das propriedades físicoquímicas do solo pela diminuição da biomassa do mesmo; aumento de particulados (poeira); diminuição do nível de água do lençol freático, desregularizando a vazão; elevação do nível de turbidez; assoreamento dos canis de drenagem; enchentes; diminuição das espécies vegetais; impossibilidade de efetuar a interligação de fragmentos florestais; diminuição da oferta de abrigo e alimento à fauna; diminuição da capacidade de sustentação da fauna silvestre; diminuição da diversidade da fauna silvestre; possibilidade de redução das populações faunísticas terrestres e ictiofaunísticas devido à contaminação da cadeia trófica; possibilidade do aumento das populações de animais nocivos ao homem, devido à criação de ambiente propício ao seu desenvolvimento. (BISSOLOTTI, 2004,

p.97). Sua produção tem uma finalidade definida e o espaço adquire, desta forma, uma dimensão estratégica e política advinda da grande especulação imobiliária juntamente com o descaso do Poder Público em relação às exigências e normas do meio ambiente. Estes problemas são comuns a todas as cidades brasileiras e, quanto maior a cidade, mais visíveis se tornam. Vê-se, portanto, tamanha necessidade de implementação de instrumentos de gestão ambiental ainda mais eficazes, fundamentados na questão dos impactos da ação humana sobre o meio ambiente. Diante da interferência entre o meio ambiente urbano e natural, faz-se necessário repensar e propor uma conciliação imediata para essa evidente oposição, a urbanização e a natureza. De tal forma, as Ecovilas vislumbram grande potencial em satisfazer tais necessidades das evoluções sustentáveis harmoniosas com o meio ambiente e o meio urbano. Sua potencialidade torna-se mais aguda principalmente pelo fato de que, quase sempre dependem minimamente de apoios institucionais ou governamentais, ou seja, sua iniciativa parte dos próprios cidadãos e não dependem economicamente do Estado para sua implantação e “mostram que a força de vontade de cidadãos comuns alterou, de forma significativa, o modo de viver e observar a natureza, através do respeito e da convivência harmônica com o meio ambiente” (BISSOLOTTI, 2004, p. 21). Logo obtém-se uma resposta para a principal função das Ecovilas: mobilização em direção a sociedades comunitárias autossustentáveis. Nesse sentido, cumpre afirmar que as Ecovilas apresentam uma nova proposição de vida em sociedade, envolvendo o meio e o impacto da vida humana, de outros seres e do


14

planeta. O seu desenvolvimento comunitário sustentável se dá, portanto, através da justiça social, a igualdade e as possibilidades de produção do ecossistema. Diante deste leque de acontecimentos e da “ferramenta” proposta como solução, as Ecovilas, convém aprofundarmos nos conceitos e teorias de cada item citados acima. 2.2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL Uma educação sustentável é oposta da educação para a competitividade. (GADOTTI, 2000)

Segundo Gadotti (2001, P. 85), o princípio da sustentabilidade está interligado ao da ecopedagogia e isso envolve o estímulo ao respeito pela diversidade, pela cultura e pela identidade, transformando e preparando o educando, pois esta didática se dá pela base da educação para a sustentabilidade. De tal forma, Francisco Gutiérrez (apud GADOTTI, 2001, P. 85) acrescenta: “é impossível construir

um

desenvolvimento

sustentável

sem

uma

educação

para

o

desenvolvimento sustentável”. Em sentido contrário ao sistema educacional, Gadotti (2000), explica: “o sistema de notas e prêmios é uma clara evidência de uma concepção de educação baseada na lógica da competitividade”. É por estes fatos que o modo como se educam “não formam seus alunos para a solidariedade”, explicitando uma exígua democracia escolar. O Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global4 em 1992, apresentou os princípios da Educação Ambiental da seguinte forma:

1. A base da educação ambiental parte do pensamento crítico e inovador, independentemente do tempo ou lugar, “em seu modo formal, não formal e informal, promovendo a transformação e a construção da sociedade”; 2. Aborda o individual e coletivo com propósito de “formar cidadãos com consciência local e planetária, que respeitem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações”; 4

Publicado durante o Rio 92, o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global é um documento que foi elaborado por várias pessoas de diferentes países e que serve como referência para o tema da Educação Ambiental.


15

3. Sua perspectiva deve ser holística5 de forma a enfocar a relação entre o ser humano, “valendo-se de estratégias democráticas e interação entre as culturas”; 4. Deve incitar a “solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos, valendo-se de estratégias democráticas e interação entre as culturas”; 5. Deve promover a integração dos “conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e ações”; 6. É necessário também, que a educação ambiental auxilie no desenvolvimento

de uma consciência ética, respeitando seus “ciclos vitais e impor limites à exploração dessas formas de vida pelos seres humanos”. (GADOTTI, 2000 apud SANTOS, 2009, P. 06). Esses princípios deixam claro a necessidade da reeducação do sistema para, assim, introduzirmos uma cultura de sustentabilidade no processo educacional de forma integrada e interativa. Isso envolve não apenas o que diz respeito a educação ambiental, mas sim na inclusão social, na solidariedade e o respeito aos direitos humanos. Assim seguindo, é possível obter-se uma melhoria relativa da qualidade de vida, na diminuição da pobreza extrema e do consumismo desenfreado. Mais do que isso, a Educação Ambiental acarreta em uma construção de valorização do indivíduo como principal determinante para a preservação e união harmônica da biodiversidade. A Educação Ambiental é uma práxis educativa e social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade de vida e a atuação lúcida e responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente. Nesse sentido, contribui para a tentativa de implementação de um padrão civilizacional e societário distinto do vigente, pautado numa nova ética da relação sociedade-natureza.

(LOUREIRO, 2002 apud SANTOS, 2009, p. 06). Deste modo, a intenção e o desejo partem da necessidade de se tirar a Educação Ambiental do mundo das ideias e afirma-la como um relevante instrumento à disposição de todos os cidadãos, transformando numa visão democrática e participativa da educação.

“Os holistas sustentam que a utopia, o imaginário, são instituintes da nova sociedade e da nova educação. Recusam uma ordem fundada na racionalidade instrumental, que menospreza o desejo, a paixão, o olhar, a escuta”.(GADOTTI, 2007, P.41) 5


16

2.3 SUSTENTABILIDADE Sustentabilidade seria fruto de um movimento histórico recente que passa a questionar a sociedade industrial enquanto modo de desenvolvimento. Seria o conceito síntese desta sociedade cujo modelo se mostra esgotado. A sustentabilidade pode ser considerada um conceito importado da ecologia, mas cuja operacionalidade ainda precisa ser provada nas sociedades humanas. (BACHA; SANTOS; SCHAUN. 2010 p.05)

Capra (2006), destaca que a sustentabilidade é “consequência de um complexo padrão de organização que apresenta cinco características básicas: interdependência, reciclagem, parceira, flexibilidade e diversidade”. Destaca ainda, que, para a sociedade alcançar a sustentabilidade, é necessário que, possua a capacidade de aplicar as características acima citadas no modo de viver de cada dia. Nas palavras de Franco (2001), ele afirma que a sustentabilidade se baseia em três princípios fundamentais: [...] a conservação dos sistemas ecológicos sustentadores da vida e da biodiversidade; a garantia da sustentabilidade dos usos que utilizam recursos renováveis e o manter as ações humanas dentro da capacidade de carga dos ecossistemas sustentadores. (FRANCO, 2001, APUD BISSOLOTTI, 2004, P. 34)

Contudo, para Layrargues (1998, Apud SANTOS, 2009 p. 08), a sustentabilidade passou do abordar questões ambientais para um modo muito mais difundido, sendo fisgado pelos setores econômicos, sociais e políticos. Em detrimento disso, sua conceituação e aplicação tornaram-se muito mais amplos e complexos.

2.3.1 Desenvolvimento Sustentável O Relatório de Brundtland, também conhecido como “Nosso Futuro Comum”, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) em 1983 para avaliar a situação ambiental do Planeta, foi publicado em 1987 e conceituou o termo: Desenvolvimento Sustentável: “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades”. Ademais, firmou a crítica ao modelo econômico presente na maioria dos países pelo fato de não serem mais viáveis em vista da perversa situação degradante que a natureza se encontrava. Em


17

vista disso, propuseram a realização de uma Conferência para um debate sobre a questão. Por conseguinte, elaboraram a implantação de políticas que visassem a proteção e conservação ambiental. Na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, em 1992, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou a conferência proposta pela (CMMAD) conhecida como Cúpula da Terra, Rio 92 ou Eco 92. Como resultado, obteve-se documentos como a Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Carta da Terra e a Agenda 21. A Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento reforça a Declaração de Estocolmo e o Relatório de Brundtland. Composta por 27 princípios, a declaração considera os “referenciais importantes na questão do desenvolvimento sustentável” (SIQUEIRA, Apud RAINHO, 2006, P.36): 

 

As nações têm o direito de explorar seus recursos naturais em busca do desenvolvimento desde que não causem danos ao meio ambiente e risco à sobrevivência das presentes e futuras gerações; A conservação ambiental não deve estar à margem do desenvolvimento dos países e sim se tornar parte integrante. Todos os países devem eliminar os processos de produção que degradam o meio ambiente; Os países desenvolvidos reconhecem sua responsabilidade no que concerne a degradação ambiental do planeta; Todos os países devem aplicar o princípio da precaução: sempre que houver perigo de ocorrência de um dano grave ou irreversível ao meio ambiente, a falta de certeza científica absoluta não pode ser utilizada como motivo para adiar medidas que impeçam esse dano.

A Carta da Terra diz respeito aos seres vivos e o planeta, ratificando sua estreita ligação. A Carta confirma a Teoria de Gaia e o movimento Ecologia Profunda ao declarar que “a Terra, nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única” e que “somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum” (CARTA DA TERRA, 1992, p.1). Além disso, o documento ressalta a preocupação com os recursos finitos; o esforço de se integrar a sustentabilidade econômica, social e ambiental e a adoção dos meios de produção e consumo que “protejam as capacidades regenerativas da terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário” (CARTA DA TERRA, 1992, p.4).


18

Já a Agenda 21, possui os “instrumentos de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis” que “concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. ” (AGENDA 21, 1992). Em questão de habitação, o documento destaca a necessidade de se promover, entre outros itens, sistemas sustentáveis de energia, saneamento e manejo de resíduos sólidos e abastecimento de água. 2.4 ARQUITETURA SUSTENTÁVEL Contextualização / Conceitos e Princípios Enquanto a revolução industrial caminhava para o grande desenvolvimento econômico, o meio ambiente surtia-se contrariamente, acarretando um grande desequilíbrio “dos recursos naturais e a sua capacidade de renovação” (SANTOS, 2009, p. 11). É possível observar hoje, de forma clara, o resultado advindo desta época e sua caminhada que se alastra com mais força até os dias atuais. Em vista de todo o panorama histórico que o planeta vem sofrendo, faz-se necessário rever principalmente os métodos construtivos mais utilizados. A arquitetura sempre desempenhou um papel de grande importância neste ciclo, usando a criatividade para se construir harmoniosamente junto a natureza. Porém, em contraposição, a construção civil é, ainda hoje, um dos setores que mais poluem o planeta (GREEN BUILDING COUNCIL BRASIL, 2007). Com a tentativa de reverter este quadro, a Arquitetura Sustentável vem mostrando suas inúmeras alternativas e formas de conciliação com a natureza. Desta forma, convém explicar o real significado de arquitetura sustentável: A Arquitetura sustentável é a continuidade mais natural da Bioclimática, considerando também a integração do edifício à totalidade do meio ambiente, de forma a torná-lo parte de um conjunto maior. É a arquitetura que quer criar prédios objetivando o aumento da qualidade de vida do ser humano no ambiente construído e no seu entorno, integrando as características da vida e do clima locais, consumindo a menor quantidade de energia compatível com o conforto ambiental, para legar um mundo menos poluído para as próximas gerações (CORBELA; YANNAS, 2003,

p. 19). Em vista disso, podemos destacar que a arquitetura sustentável envolve principalmente, a integração do conforto dos habitantes e o próprio conforto da natureza, ou seja, “uma escolha consciente dos materiais de construção e um bom


19

planejamento sustentável durante todos os processos de implantação, contribuem diretamente na harmonização do homem com a natureza”. (CORBELA; YANNAS, 2003, p. 278). Assim, pode-se concluir que arquitetura sustentável se traduz, segundo as palavras de Bissolotti (2004, p. 34) na “manutenção da diversidade biológica, da qualidade do ar, da água, do solo e da qualidade de vida, preservando o bem-estar da humanidade e respeitando a natureza. ” Os materiais e técnicas que compõem a Arquitetura sustentável serão abordados mais a frente, no item Bioconstrução. 2.5 ECOVILAS 2.5.1 Respaldo histórico O movimento das ecovilas não surgiu como dissidência de outro movimento, e sim da união de vários movimentos - cohousing, educação alternativa, ativismo ambiental, hippie - e cada ecovila os utiliza de acordo com sua vertente. (RAINHO, 2006, p. 41)

Após a publicação do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson em 1962, a certeza de que a industrialização e a tecnologia não eram o caminho para a felicidade veio à tona e desabrochou-se em movimentos insatisfeitos com o modo de se viver das cidades modernas. Dentre eles, o movimento dos hippies que rejeitaram os valores materialistas e tentaram recriar novos conceitos de comunidade. O movimento cohousing é o que está mais relacionado à arquitetura e foi mais aceito pelo fato de ser um movimento menos radical que o dos hippies. Correspondia a um Movimento de Cohabitação, ou seja, habitação comunitária que tinha por real necessidade, oferecer o espírito comunitário ao mesmo tempo que garantisse a sensação do pertencimento, algo que acreditavam, não mais encontrar naquela época (RAINHO, 2006, p. 41). Durante o inverno de 1964, o Arquiteto dinamarquês Jan Gudmand-Hover e um grupo de amigos, se reuniram para discutir alternativas de habitações díspar das modernas devido ao isolamento imposto pelo modelo industrial. Destas discussões, surgiu a ideia de se realizar um projeto de condomínio que tivesse como princípio a priorização na vida comunitária, “o contato e a proximidade entre os residentes, sem perder a privacidade e abstendo-se dos problemas das cidades densamente


20

povoadas”. Deste projeto, surgiu então, o nome de Cohousing (RAINHO, 2006, p. 42). Porém, existe uma diferença entre o movimento Cohousing com o das Ecovilas. Apesar de ambas possuírem muitas características iguais, as Ecovilas além da vivencia comunitária, integram o modo de viver sob uma visão social, espiritual, cultural, econômica e, principalmente, ambiental. Neste passo, importante ressaltar os nomes de Hildur e Ross Jackson, pois ambos vivenciaram os dois tipos de habitações, as Cohousings e as Ecovilas. Após 20 anos morando em um “condomínio” Cohousing, em 1987 fundaram a Associação Gaia Trust na Dinamarca com intenção em financiar o movimento das Ecovilas na busca pela “sustentabilidade através de cursos, encontros mundiais para a troca de informações, criação da rede de Ecovilas da Dinamarca, da rede mundial de ecovilas e para investir o capital em empresas iniciantes consideradas ecológicas” (RAINHO, 2006, p. 43). Em 1991, Diane e Robert Gilman, editores da revista In Context, elaboraram uma pesquisa a respeito dos melhores exemplos de comunidades sustentáveis. Nesta pesquisa, efetuaram a reportagem “Ecovilas e Comunidades Sustentáveis” cunhando o termo Ecovilas como “um assentamento completo, de escala humana, onde as atividades estão harmoniosamente integradas ao mundo natural, que sustenta o desenvolvimento humano saudável para continuar indefinidamente no futuro” (JACKSON, H; 1998, Apud RAINHO, 2006, p. 43). Na Conferência em Findhorn com financiamento da Gaia Trust, em 1995, nasceu a Rede Mundial de Ecovilas (GEN – Global Ecovillage Network) e tornou-se uma confederação mundial de comunidades “que se encontram para compartilhar idéias e novidades no âmbito tecnológico, ambiental, cultural e educacional”. Os fundadores foram os líderes das oito principais Ecovilas existentes pelo mundo na época: Findhorn (Escócia), The Farm (Estados Unidos), Cristal Waters (Austrália) e os membros da Rede de Ecovilas da Dinamarca. Desde então, existem encontros mundiais, cada ano em uma ecovila, para trocar ideias e informações a respeito das tecnologias, métodos construtivos, economia e educação que permeiam as Ecovilas (RAINHO, 2006, p. 44).


21

2.5.2 Conceitos e Princípios das Ecovilas Segundo a Global Ecovillage Network: Ecovilas são comunidades urbanas ou rurais formadas por pessoas que se esforçam para integrar o ambiente social cooperativo com um estilo de vida que não cause danos ao meio ambiente. Para atingir este objetivo, junta-se também vários aspectos de planejamento e projeto ecológico, construção ecológica, produção verde (orgânica, sem agrotóxicos), fontes alternativas de energia, práticas para construir a comunidade e outros fatores mais. (GLOBAL ECOVILLAGE NETWORK, 2013)

Entende-se, assim, que essas comunidades são formadas por pessoas que possuem grande preocupação com toda a biodiversidade já que, vislumbram o cuidado com a natureza, os animais e a própria saúde do homem. Além disso, as Ecovilas visam um novo formato de estruturação social, que se “estabelece sobre valores comunitários, implicando em, por exemplo, respeito a diversidade, a cooperação, a solidariedade, a autonomia e a liberdade” (CUNHA, 2012, P. 60). Desta maneira, permite-se que as relações humanas caminhem para se tornar mais harmônicas e justas. Para Bissolotti (2004, p 112), as Ecovilas fundamentam-se em três níveis: ecológica, social/comunitário e espiritual, onde cada ecovila particularmente se interconecta mais a fundo ou não nos itens citados, ou seja, algumas prezam mais pelo nível ecológico, outras mais pelo nível social/comunitário e outras mais pelo nível espiritual. Destarte, faz-se necessário conceituar: 

entende-se por Comunidade a maior preocupação com a coletividade, onde existe divisão de recursos comuns, sustento para seus membros, integração, expressões culturais, educação geral e outros, contemplando assim dimensões sociais e políticas da sustentabilidade; a Ecologia prevê o contato mais próximo com o meio ambiente, retirando deste os recursos necessários para as necessidades humanas primárias, atentando-se, porém, para os ciclos naturais ou abusos destes recursos, na tentativa de contemplar assim o eixo ambiental da sustentabilidade; tem-se como Espiritualidade o fundamento precursor e estruturador que tenta promover a união das pessoas entre si e entre estas e a natureza. Sabe-se também que a fundamentação teórica adotada nas Ecovilas é a chamada "Hipótese Gaia", que considera todo o planeta como um único organismo vivo. (COCOZZA, 2002 Apud POLAZ et, al., 2007).


22

Pode-se notar que a Ecovila funciona como um instrumento social, cultural, ambiental, educacional, econômico e espiritual, que visa uma perspectiva de vida alternativa e que aspira por um ciclo de vida saudável e harmonioso com a biodiversidade. Cunha (2012, p 60), acredita que a ideia das Ecovilas implica na transformação do relacionamento do homem com a natureza, ou seja, a maneira como ela é percebida, um “pano de fundo” que dispõe infinitamente sua matériaprima quando necessário para produção. Em detrimento disso, os “Ecovilenses” tentam inverter este quadro, deixando claro que a natureza é finita e não aceita os impactos poluentes gerados pelo homem. Deste modo, destaca-se o princípio fundamental das Ecovilas que contribui diretamente para amenizar estes problemas emergentes: “não tirar da Terra mais do que podemos devolver a ela” (QUEIROZ, 2013 p. 13). Centena (2002), defende e esclarece que a versatilidade do sistema colabora para se viver em harmonia com a natureza utilizando-se de seus recursos: O modelo das Ecovilas está sempre em construção, em transformação, em desenvolvimento, numa perspectiva de flexibilidade, buscando integrar-se ao ambiente e garantindo as necessidades básicas da comunidade. (CENTENA, 2002, p.06).

Ademais, Queiroz (2013) enfatiza que acessibilidade e flexibilidade são as soluções construtivas e tecnológicas deste modelo comunitário e sustentável de se viver, ou seja, utilizam-se tecnologias e materiais apropriados compatíveis a cada região e acessíveis a todos. Assim, é possível ressaltar as principais ferramentas utilizadas nas Ecovilas para realização dos preceitos acima citados: Sistema permacultural, bioconstruções e design, diversidade cultural, economia solidária, cooperativismo, rede de trocas, produção local e orgânica dos alimentos, esquemas de apoio social e familiar, educação transdisciplinar e holística, sistema de saúde integral e preventivo, prevenção e manejo dos ecossistemas locais. (QUEIROZ, 2013, p. 12)

Desta maneira, o autor entende que as Ecovilas funcionam como uma estratégia de solução frente às problemáticas socioambientais conforme argumenta: “Esse conceito tem proposto soluções viáveis para erradicação da pobreza e da degradação do meio-ambiente e combina um contexto de apoio sócio-cultural a um estilo de vida de baixo impacto. ” (QUEIROZ, 2013, p. 15)


23

Nesse sentido, cumpre afirmar que, para a viabilização de uma Ecovila, necessita-se de mudanças comportamentais em escala individual e coletiva, bem como transformações nos processos de produção e de consumo. Isso implica repensar as práticas diárias de se viver nos centros urbanos, empreendendo-se um novo modelo de consciência e convivência socioambiental. Com grande importância e contribuição para o meio ambiente, o conceito de Ecovila foi incorporado pela Organização das Nações Unidas (ONU) no Programa de Desenvolvimento

de

Comunidades

Sustentáveis

(Sustainable

Community

Development Programme – SCDP). Seu projeto piloto realizou-se no Nepal em 1996 com o objetivo de apoiar as comunidades rurais e locais que praticam o desenvolvimento sustentável a partir do uso de energias alternativas e o gerenciamento ambiental. (BISSOLOTI, 2004, P.22)

2.5.3 As dinâmicas sustentáveis de gestão adotadas pelas Ecovilas. As dinâmicas sustentáveis de gestão adotadas pelas Ecovilas são técnicas que priorizam a manutenção e conservação dos recursos naturais, de forma a minimizar o impacto causado pelo modo de se viver do homem. Além disso, faz parte integrante da Arquitetura e Urbanismo de modo que sustente a conservação da natureza e a integração do viver confortavelmente bem e saudável.

2.5.3.1 Permacultura Os pesquisadores Bil Mollison e David Holmgren em meados dos anos 70 cunharam o termo Permacultura e descreveram como um “sistema integrado de espécies animais e vegetais perenes ou que se perpetuam naturalmente e são úteis aos seres humanos”. Com a necessidade de atualização, visto que, as pessoas, suas edificações e forma como se organizam tornam-se questões centrais, Holmgren define: Paisagens conscientemente desenhadas e que reproduzem padrões e relações encontradas na natureza e que, ao mesmo tempo, produzem alimentos, fibras e energia em abundância e suficientes para prover as necessidades locais (HOLMGREN, 2009)

Desta maneira, a visão da Permacultura, segundo Holmgren, passa de uma agricultura permanente ou sustentável para uma visão de cultura permanente


24

sustentável. Em detrimento disso, a Permacultura constitui-se com base em uma orientação prática, onde define seus princípios e pressupostos gerais. Suas práticas giram em torno de sete campos principais:

c

Figura 01: Flor da Permacultura. Fonte http://escoladepapel.files.wordpress.com/2008/04/flor-dapermacultura.jpg

1) Manejo da Terra e da Natureza: Este item consiste no trabalho com a Terra desde o cultivo de verduras, hortaliças, juntamente com plantas na floresta, banco de sementes, captação de água, etc. 2) Espaço Construído: Esta Pétala trata da Bioconstrução, ou seja, uma Arquitetura Sustentável que envolva materiais naturais locais, energia


25

renovável, captação da água e seu reuso, design passivo para a energia solar, etc. 3) Ferramentas e Tecnologia: Aqui se trabalha com Energias renováveis tentando, ao máximo, reduzir, reutilizar e reciclar. 4) Educação e Cultura: Arte, Música e Leitura da Paisagem fazem parte integralmente do modo de se viver e pensar culturalmente. 5) Saúde e Bem-estar Espiritual: O Bem-estar que advém da disciplina “corpo, mente e espírito” através da yoga e da própria natureza. 6) Economia e Finanças: O trabalho voluntário é o principal item desta pétala e consiste na valorização do consumo consciente e sistema de trocas e serviços. 7) Posse da Terra e Governo Comunitário: Criação de Cooperativas e ONGs que tratem da resolução de conflitos e harmonização social. (CUNHA, 2012, p. 68)

Os fundamentos da Permacultura estão ligados à ideia de que é possível que as regras gerais partam do conhecimento do mundo natural ou de sociedades sustentáveis da era pré-industrial, pois nesta época havia um relativo equilíbrio com o meio ambiente. Além disso, a ideia englobaria uma aplicabilidade universal, porém, com algumas variações de acordo com as características de cada local. (HOLMGREN, 2009). Holmgren (2009), define que os princípios devem ser pensados como slogans ou check lists para pensar o design e evolução de sistemas de suporte ecológico podendo ser divididos em dois grupos: os éticos e os de design. A figura XX abaixo ilustra os dois princípios citados:


26

Figura 02: Diagrama dos princípios da Permacultura. Fonte: http://permacultureprinciples.com/principles/

Os princípios éticos estão agrupados em três principais itens: cuidado com a Terra (solos, florestas e água); cuidado com as pessoas (consigo mesmo, com parentes e com comunidades) e partilha justa (limites para o consumo e reprodução e redistribuição do excedente). A partir destes princípios deriva-se doze subitens que definem todos os objetivos da Permacultura.

2.5.3.2 Bioconstrução Os conceitos modernos na área da arquitetura sustentável advêm, principalmente, da escola escandinava de paisagismo e arquitetura, que tinha sua linha de segmento voltada para o “observar a natureza e aprender sua dinâmica


27

morfológica”, ou seja, antes de iniciar qualquer construção, era necessário observar e se aprofundar no conhecimento dos aspectos já existentes no local circundante para então, dar início na construção. Essa necessidade do conhecimento dos aspectos existentes consistia em saber como os elementos chegaram até lá e como foi o processo de transformação e desenvolvimento que veio a formar o ambiente atual. Ao compreender estes aspectos, é possível obter o conhecimento necessário para se construir corretamente de forma a se encaixar harmoniosamente com os elementos da natureza circundante. (PENTEADO; SANTORO, 2009, p. 10). Ademais, Braun (2001 Apud PENTEADO; SANTORO, 2009, p. 10), complementa que esse modelo de construção consiste na mais pura arte, “pois implica descobrir os movimentos favoráveis da natureza a fim de seguir sempre o caminho da menor resistência, ou seja, do menor gasto de energia”. Em detrimento disso, as técnicas da Biocontrução se fazem relativamente satisfatórias visto que, os métodos deste modelo de construção caminham sempre através da integração homem e meio ambiente. Para Soares (2014, Good News), as técnicas da Bioconstrução consistem em:

- Análise do ciclo de vida de cada material utilizado; - Análise de onde vem cada material e para onde vai; - Não utilização de materiais tóxicos (coadjuvantes) e descartáveis; - Valorização dos materiais locais; - Utilização de técnicas inteligentes de materiais de mercados industriais; - Racionalização do uso da água e promover tratamentos naturais dos efluentes (esgoto); - Reciclagem e reuso; - Busca pela utilização de fontes de energias renováveis e trabalhar com eficiência energética através de desenhos arquitetônicos bioclimáticos.

Soares (2008, Apud PENTEADO; SANTORO, 2009, p. 10) acrescenta que as técnicas da arquitetura vernacular aliada aos materiais ecológicos advindos da localidade de cada execução, reduzem, consideravelmente, o impacto ambiental. Deste modo, a Bioconstrução tem por objetivo maior, a execução de habitats sãos, saudáveis e confortáveis e principalmente, em harmonia com o restante. Por conseguinte, convém conceituar e explicar brevemente alguns dos principais materiais utilizados na Bioconstrução:


28

Adobe Uma das técnicas construtivas mais antigas e populares do mundo, o Adobe é uma combinação de argila, água, palha e areia. Deste modo é feito uma mistura destes componentes e logo em seguida colocados em fôrmas que se secam ao sol. Após a cura e a retirada das fôrmas, o tijolo está pronto para o uso (BRANDÃO; SILVA; VAZQUEZ, 2009, p. 05). Este tipo de técnica construtiva, requer um solo bastante argiloso e clima predominantemente seco, pois a umidade nestes tijolos permite a proliferação de fungos, podendo causar danos à saúde dos usuários. Rachaduras nesta técnica construtiva são normais e fazem parte do processo, pois “ao secarem, os tijolos se contraem” ocasionando rachaduras. Para as rachaduras leves existem soluções como por exemplo o “reboco” a base da mistura de terra, água, areia e baba de cacto. Recomenda-se, portanto, que se faça antes, alguns tijolos de teste para diagnosticar se as rachaduras serão prejudiciais ou não. (BRANDÃO; SILVA; VAZQUEZ, 2009, p. 05). Muitas vezes não se utilizam a palha na composição desta técnica, devido à escassez ou desconhecimento da importância. Porém, a palha é um elemento de grande importância na composição, pois é ela “que cria uma espécie de trama, que quando inserida junto à mistura de água, argila e areia, facilita a agregação e rigidez das matérias-primas”. (BRANDÃO; SILVA; VAZQUEZ, 2009, p. 05). As principais vantagens do Adobe são: sua alta capacidade em produzir conforto térmico através da inércia, sua fácil produtividade, rapidez de aplicação, utilidade de material regional e baixo custo. A Figura 03 a seguir, apresenta as fases de execução dos tijolos de adobe.


29

Figura 03: Etapas da execução de tijolos de adobe Fonte: Brandão; Silva; Vazquez, 2009, p. 06.

Superadobe Criada pelo Arquiteto iraniano Nader Khalili, a técnica do Superadobe ficou conhecida em 1984 em um simpósio realizado pela Agência Aeroespacial Norte Americana (NASA). O objetivo deste evento era reunir Arquitetos e Engenheiros para discutir as viabilidades de construções na lua. O Superadobe ficou como uma das técnicas mais viáveis e eficientes para a solução arquitetônica. Sua viabilidade e eficiência se deu pelas qualidades físicas em “evitar o transporte de grandes quantidades de material para o espaço, propiciar conforto térmico e evitar grandes extorsões ao meio ambiente no momento da construção”. (BRANDÃO; SILVA; VAZQUEZ, 2009, p. 06). Formado por sacos de polipropileno preenchidos com uma mistura bem compactada de areia, palha, argila e água, o Superadobe é ideal para execução de edificações em formatos orgânicos. Seus sacos são sobrepostos moldando o formato da alvenaria. Sua espessura necessita-se no mínimo de quarenta centímetros. Além das alvenarias, é possível a execução da cobertura com o Superadobe, formando uma espécie parecida com Iglu. Para o alicerce, é necessário que sua execução seja feita com pedras ou concreto de forma a proteger a base da alvenaria contra a umidade. O acabamento pode ser feito “com a mesma mistura utilizada


30

para o preenchimento do saco, porém deve ser mais úmido”. (BRANDÃO; SILVA; VAZQUEZ, 2009, p. 06). A figura 04 a seguir, ilustra as etapas da execução do Superadobe.

Figura 04: Etapas da execução da alvenaria de Superadobe no Ecocentro IPEC. Fonte: Brandão; Silva; Vazquez, 2009, p. 07.

Cob Semelhante ao Adobe, o Cob também é uma técnica tradicional. Porém, sua aplicação pode ser feita a todos os tipos de climas. Composto pelos mesmos itens do Adobe: palha, argila, areia e água, a diferença entre estes dois tipos de alvenaria está na forma de execução em que, o Cob é esculpido ainda molhado diretamente na forma da parede. Suas alvenarias são autoportantes e possuem a base mais espessa que o topo. Além disso, assim como o Adobe, o Cob também possui alta capacidade térmica, fazendo com que a edificação “tenda a ficar quente no inverno e fresca no verão”. Outras vantagens do Cob são: sua grande resistência a atividade sísmica, resistência ao fogo, baixo custo de matéria prima e é uma das técnicas mais fácil de ser executada. (BRANDÃO; SILVA; VAZQUEZ, 2009, p. 07). A figura 05 a seguir apresenta as etapas da execução do Cob.


31

Figura 05: Etapas da execução da alvenaria de Cob no Ecocentro IPEC. Fonte: Brandão; Silva; Vazquez, 2009, p. 08.

Bambu Com uma considerável diversidade de técnicas, grande resistência e facilidade de adequação a diferentes tipos de terrenos, o bambu, diferentemente dos outros materiais vegetais estruturais, possui a mais alta produtividade. De forma tubular oca e uma baixa massa específica, o bambu é um material estruturalmente estável. Dois anos e meio após ter brotado do solo, possui uma levada resistência mecânica estrutural. (OLIVEIRA, 2006, p. 57). Glenn (1950 Apud SANT’ANA; VAZ FILHO, 2013, p.02), destaca a alta resistência do bambu à tração. A resistência apresentada pelo bambu à tração é maior do que a da madeira e do concreto, sendo superada apenas pelo aço. Ao analisarmos as relações entre peso específico e resistência à tração do bambu, podemos chegar à conclusão de que este possui uma alta eficiência estrutural, melhor até do que os materiais estruturais mais usuais. Portanto, um material de grande leveza e alta resistência mecânica, “...ficando atrás apenas do titânio e do Kevlar. (GLENN, 1950)

Sua melhor adaptação encontra-se em locais de clima tropical úmido, como por exemplo no Brasil onde é possível encontra-lo em abundância. Como resultado à utilização deste material para a construção civil, têm-se baixo custo de produção, facilidade de transporte e trabalhabilidade. (MARÇAL, 2008, p. 09)


32

Ademais, o bambu é um grande aliado para programas de reflorestamento e formação de “barreiras naturais contra erosão, deslizamento e como barreira para ruídos indesejáveis em meios urbanos”. (OLIVEIRA, 2006, p. 56). O bambu já é muito disseminado e utilizado principalmente nas culturas asiáticas (China, Japão e Indonésia), na América Central e América do Sul (Colômbia, Equador e Venezuela). No Brasil, sua abundância é de grande escala nas matas locais e suas principais espécies são: Entoucerantes, cuja principal característica é o crescimento radial próximos um do outro, e Alastrantes, com principal característica é seu crescimento descentralizado e de forma desordenada. (MARÇAL, 2008, p. 10). Sabendo da sua grande repercussão e inúmeras vantagens para a construção civil, criaram-se normas para realização de construção com bambu. Estas normas foram propostas pelo ICBO- International Conference of Building Officials e publicadas no relatório AC 162: Acceptance Criteria for Structural Bamboo, em março de 2000 (ICBO, 2000). (MARÇAL, 2008, p. 14). O Colombiano Simon Velez destaca-se como um dos maiores Arquitetos do mundo na construção com bambu. Velez e seu parceiro Marcelo Villegas, estudaram novos métodos e novos sistemas de apoios estruturais, tornando o bambu em um material moderno e flexível. Deste modo, a principal característica de Velez para a construção com este material, é o preenchimento dos colmos em concreto nos esforços mais atuantes. (MARÇAL, 2008, p. 31).

Figura 06: Conexões nos esforços – Simon Velez Fonte: Marçal, 2008, p. 32.


33

A Catedral da cidade de Pereira é uma das incríveis obras do Arquiteto e exibe uma impressionante monumentalidade e, ao mesmo tempo, uma leveza adquirida através da construção com o bambu:

Figura 07: Catedral de Pereira - Colômbia – Simon Velez Fonte: <http://www.gazetadopovo.com.br/arquitetura/bambu-e-opcao-para-construcoes>

2.5.3.3 Gestão de resíduos

Gestão de resíduos líquidos 

Águas Cinzas São caracterizadas por águas cinzas aquelas provindas dos chuveiros,

lavatórios, tanques e máquinas de lavar roupa e louça. Este tipo de resíduo possui grandes vantagens para reutilização desde que seja projetado corretamente e especificamente para este fim. (FIORI, 2006, p. 21). Como se sabe, o consumo de águas cinzas nos dias atuais é excessivamente grande visto que, segundo Gonçalves (2006), o consumo diário é de 92,9 litros/hab/dia. Diante disso, imperioso ressaltar a importância da reutilização destes resíduos de forma a contribuir com a natureza diminuindo exploração dos recursos naturais. Tratada junto à fonte geradora para uso no próprio ambiente, a água cinza apresenta vantagens no quesito energético, pois evita longos transportes para a condução às unidades de tratamento, possibilitando a fácil operação e manutenção sem grandes dificuldades e custos. Este tipo de reuso, geralmente, é eficiente e


34

muito utilizado para finalidades não potáveis, como jardinagem e descarga em bacias sanitárias. Segundo Fiori (2006, P. 22), a configuração básica de um sistema de utilização de água cinza consiste em: Um sistema de coleta de água servida do subsistema de condução da água (ramais, tubos de queda e condutores), da unidade de tratamento da água (por exemplo, gradeamento, decantação, filtro e desinfecção) e do reservatório de acumulação. Pode ainda ser necessário um sistema de recalque, o reservatório superior e a rede de distribuição.

Porém, para o procedimento de reuso das águas cinzas, há a necessidade de medidas e projetos efetivos de proteção à saúde e ao meio ambiente, devendo ser técnica e economicamente viáveis. Ainda que desta água não apresente efluentes dos vasos sanitários, muitas vezes é possível a contaminação do reuso das águas cinzas advindas de lavagem das mãos após o uso da toalete, lavagem de roupas ou até mesmo no próprio banho. Em detrimento disso, a qualidade da água cinza depende do modo como as atividades domésticas são executadas, uma vez que os componentes contaminantes variam de local a local, no qual os costumes, instalações, qualidade da água de abastecimento e a quantidade de produtos químicos são os pontos determinantes que influenciam na qualidade da água reutilizada. (GONÇALVES, 2006). 

Águas Negras O Saneamento Ecológico tem como enfoque principal o aumento da disponibilidade hídrica pela economia de água, a proteção dos recursos hídricos pelo não lançamento de esgoto - tratado ou não nos cursos de água, possibilitando a reutilização racional de todos os nutrientes presentes nas excretas. (GALBIATI, 2009, p. 02).

Água negra compõe-se por efluentes provenientes dos vasos sanitários, apresentando grande carga orgânica e presença de sólidos. Contém basicamente fezes, urina e papel higiénico. A água proveniente deste setor “representa uma fração de 20 a 30% do volume dos esgotos domésticos”. Considerando que uma pessoa utiliza o vaso cinco vezes por dia, sendo que, uma delas é para defecar e as outras para urinar, o


35

consumo de água potável chega a ser de 24 a 32 litros/hab./dia. (REBÊLO, 2011, p. 52). Como pode ser visto, o consumo de águas negras é bem menor que o consumo de águas cinzas (92,9 litros/hab./dia). Entretanto, as águas negras possuem maior parte dos microrganismos patogênicos e dos nutrientes encontrados no esgoto. “Estes nutrientes se encontram na forma ideal para serem absorvidos pelas plantas: nitrogênio em forma de uréia, fósforo como superfosfato e potássio na forma iônica” Deste modo, é possível a realização de reciclagem dos nutrientes através do reaproveitamento destas excretas. Isso auxilia no crescimento das plantas além de prevenir a contaminação direta causada pela descarga de águas negras nos mananciais. Outro benefício, é a redução da necessidade de fertilizantes industriais visto que, estas excretas desenvolvem nutrientes para o solo e plantas. (GALBIATI, 2009, p. 02). Segundo Gonçalves (2006 Apud REBÊLO, 2011, p. 53), as principais características das águas negras são: • Elevada concentração de matéria orgânica e sólidos em suspensão; • O perfil de vazão apresenta características de grande variação temporal, geração descontinuada e vazões pontuais elevadas; • As características de consumo de água do aparelho sanitário utilizado também influenciam nas características do esgoto gerado, ou seja, menor consumo de água implica na concentração maior dos compostos presentes nas fezes e urina no efluente; • A inclusão das águas originadas da pia da cozinha é atualmente uma prática recomendada, tendo em vista a presença de grande quantidade de sólidos em suspensão e compostos graxos, óleos e gorduras de origem animal e vegetal.

O tanque de evapotranspiração é um dos tratamentos eficazes e de baixo custo para as águas negras. Consiste em uma técnica desenvolvida por permacultores para o tratamento domiciliar de águas negras. O propulsor desta técnica é o permacultor americano Tom Watson. Inicialmente, sua técnica foi bastante implantada principalmente no Estado de Santa Catarina e na região do Distrito Federal. Logo foi se difundindo e aperfeiçoando por todo o Brasil e Estados Unidos. O sistema compõe-se basicamente por um tanque impermeabilizado preenchido com diferentes camadas de substrato e plantados com espécies vegetais de crescimento rápido e alta demanda por água. (GALBIATI, 2009, p. 04)


36

A figura 08 abaixo, ilustra em “corte” o sistema de um tanque de evapotranspiração:

Figura 08: Sistema de tratamento Evapotranspiração. Fonte: <http://www.ecoeficientes.com.br/bet-como-tratar-o-esgoto-de-forma-ecologica/>.

Desta forma o tanque recebe efluente dos vasos sanitários que, por consequência do sistema, passam por um processo natural de “degradação microbiana da matéria orgânica, mineralização de nutrientes, absorção e evapotranspiração pelas plantas”. (GALBIATI, 2009, p. 04) 

Captação de água da chuva Com a grande escassez de água nos dias atuais, como explicitado mais a

fundo na Introdução deste trabalho, a técnica de captação de água da chuva vem crescendo cada vez mais nas edificações comerciais e residenciais. Além de suprir muito bem a necessidade de água do habitante para fins não potáveis, este sistema permite a racionalização de água, diminui o uso de cursos d’água, traz economia e diminui o volume de água das áreas impermeáveis (ruas e calçadas) em épocas de chuva contribuindo na diminuição dos alagamentos. (RAINHO, 2006, p.151). Esta tecnologia foi ratificada em março de 2003, pelo 3º Forum Mundial da Água no Japão. Destacou-se que a técnica poderia beneficiar em torno de dois bilhões de pessoas no mundo “a custos relativamente baixos, de maneira participativa, passando para as próprias comunidades a responsabilidade de


37

gerenciar o seu abastecimento de água, e com um impacto ambiental mínimo” (RAINHO, 2006, p. 151). O sistema de captação e armazenamento de água da chuva funciona da seguinte forma: A água que cai no telhado é recolhida pelas calhas, desce por gravidade para um filtro e depois para um reservatório, deste é bombeada para uma caixa d’água na laje da habitação para então ser usada. Portanto, a tecnologia possui os seguintes componentes: superfície de captação (normalmente os telhados), reservatórios (cisternas), mecanismos de filtragem (filtros) e distribuição (caixas d’água) (RAINHO, 2006, p. 151).

Para as impurezas que existem na superfície, existe uma técnica em que, nos primeiros 15 a 20 minutos de chuva, a água é coletada e armazenada em um reservatório menor. Quando cheio, a boia fecha a entrada de água e passa a encher a cisterna enterrada. A água que fica armazenada no reservatório menor pode ser utilizada para limpeza de pátios e irrigação de plantas. Além deste reservatório menor para impedir água suja, é necessário a existência de filtros para a limpeza total da água evitando o acúmulo de detritos. Estes filtros podem ser comprados em empresas especializadas ou ser utilizado de forma alternativa, como a colocação de plantas com raízes que impedem a entrada de impurezas e vetores de doenças. (RAINHO, 2006, p.152).

Figura 09: Sistema Captação e Armazenamento de água da chuva. Fonte: Rainho, 2006, p.152.

Gestão de resíduos sólidos 

Composteira


38

Os resíduos sólidos são altamente poluentes, pois na sua decomposição produz um líquido escuro, o denominado chorume. O chorume é “formado por água de constituição do próprio lixo e por enzimas expelidas pelas bactérias responsáveis pela decomposição da matéria orgânica. ” Quando em contato com os rios, ocasiona a redução do oxigênio existente, causando a morte das espécies aquáticas. Além do chorume, estes resíduos, quando em decomposição, geram também o gás metano com alto poder de aquecimento, 23 vezes superior ao dióxido de carbono (CO2), podendo causar explosões. (BALDIN, et, al. 2007, p 01). A compostagem é uma das melhores soluções para este problema, pois se dá como forma contrária proporcionando grandes vantagens para a utilização dos resíduos sólidos. “A compostagem produz um material rico em nutrientes para uso no cultivo de plantas ou mesmo como corretivo de solos ácidos. ” (BALDIN, et, al. 2007, p 03). O seu sistema se dá através de um processo aeróbico controlado por diversos microrganismos que envolvem duas fases distintas. Na primeira fase ocorre a degradação ativa onde se desenvolve, através da temperatura associada aos resíduos orgânicos, o crescimento de bactérias termofílicas. Na segunda fase, ocorre a maturação. A produção de calor e desprendimento do gás carbônico e vapor d’água é constante durante todo o processo. (BALDIN, et, al. 2007, p 04). Um dos sistemas de compostagem é o chamado Cone-verde e é formado por um recipiente cônico com duas camadas, um cesto na base e uma tampa para entrada dos resíduos:


39

Figura 10: Composteira Cone-verde Fonte: Baldin, et, al. 2007, p 04.

A finalidade do duplo cone é de melhorar a circulação de ar no interior da composteira durante todo o processo aeróbico. A cesta enterrada no solo tem a finalidade de repor os nutrientes, enquanto que o cone acima possui a finalidade de absorver a radiação solar para o aumento de temperatura, contribuindo na aceleração da biodigestão e degradação do composto. 

Coleta e reutilização de materiais recicláveis

O acúmulo de lixo é um fenômeno exclusivo das sociedades humanas. Em um sistema natural não há lixo: o que não serve mais para um ser vivo é absorvido por outros, de maneira contínua. No entanto, nosso modo de vida produz, diariamente, uma quantidade e variedade de lixo muito grande, ocasionando a poluição do solo, das águas e do ar com resíduos tóxicos, além de propiciar a proliferação de vetores de doenças. (HESS, 2002 Apud GALBIATI, 2012).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o lixo só é considerado como lixo quando não se possui nenhum valor comercial. Em detrimento disso, os materiais tido como recicláveis (papel, vidro, lata, etc.), não podem ser considerados lixo, e sim, matéria prima, em que seu valor comercial é estabelecido de acordo com o mercado de recicláveis. Gonçalves (2003, apud GALBIATI, 2012, p.06), destaca três etapas que envolvem o processo da cadeia produtiva de reciclagem:

Recuperação, que engloba os processos de separação do resíduo na fonte, coleta seletiva, prensagem, enfardamento; revalorização, que compreende os processos de beneficiamento dos materiais, como a moagem e a extrusão e, por fim, a transformação, que é a reciclagem propriamente dita, transformando os materiais recuperados e revalorizados em um novo produto.

Gonçalves ainda destaca que para o sucesso de um programa de coleta seletiva, é necessário que a população esteja, de forma integrada, envolvida a um bom programa de comunicação e educação ambiental; uma logística de coleta; e um sistema efetivo de escoamento dos materiais.


40

Os materiais não precisam necessariamente serem transformados para serem reutilizados. Existem inúmeras maneiras de reutilização com os vários tipos de matéria prima existentes. Nas Ecovilas, os moradores utilizam muitos destes materiais para a Bioconstrução, como no caso da Ecovila Tibá em São Carlos/SP:

Figura 11- Alvenaria de um chalé da Ecovila Tibá Fonte: Autora, 2016

A figura acima mostra a reutilização de matérias primas na execução de uma alvenaria em Taipa de mão. Neste caso, utilizaram vidros de automóvel e garrafas de vidro para iluminação interior da edificação.

2.5.3.4 Sistema Agroflorestal (SAFs) e seus benefícios Uma das atividades mais agressivas para o meio ambiente é a agricultura, mas já existe conhecimento e tecnologia para fazer diferente. (VIDA EM SINTROPIA, 2015)

Ao contrário do modelo insustentável da monocultura6, Gotsch (VIDA EM SINTROPIA, 2015) fundamenta-se na observação e entendimento do funcionamento

da natureza colocando a produção de alimentos para funcionar na “engrenagem” do 6

Cultura de um só produto agrícola. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2013.

Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/monocultura>. Acesso em 31 mar. 2016.


41

planeta, ou seja, consiste na produção de alimentos ao mesmo tempo em que se conserva ou recupera a natureza. Deste modo, a Agrofloresta, para Ernst, é o resultado dos sistemas inspirados na própria natureza. Com o conhecimento aliado a uma sensibilidade prática, a ideia de Ernst parte dos sistemas mais simples aos mais complexos, em que todas as interações são no sentido de promover um balanço energético positivo no sistema. Este conjunto de princípios e técnicas constitui a Agricultura Sintrópica de Götsch. (VIDA EM SINTROPIA, 2015).

Independentemente do tipo de solo, do tamanho da propriedade ou do clima, as práticas adotadas “permitem uma rápida recuperação de solos empobrecidos” Este

sistema

atinge

“alta

produtividade

e,

simultaneamente

aumenta

a

biodiversidade e melhora a fertilidade do solo”. (GÖTSCH, 1996, P. 03). A técnica de uma Agricultura Sintrópica envolve “implantação e manejo mecanizado, produção de hortifrutigranjeiros e grãos, prática da pecuária e produção de madeira com baixos insumos”. Nas palavras de Gotsch (2015): “A minha capina é a colheita”. O Agricultor explica que sua técnica se baseia na poda, pois é ela que fornece o combustível para o metabolismo do sistema funcionar no máximo de sua eficiência gerando um crescimento contínuo dos recursos. A poda da árvore possui vários efeitos positivos, o seu principal é o aumento das atividades nas raízes mudando, naquele momento, a micorriza.

Figura 12: Ernst Gotsch cultivando sua técnica de poda. Fonte: Vida em Sintropia, 2015.


42

Além disso, o plantio de espécies cultivadas juntamente com a união das espécies que normalmente ocorreriam na natureza, as “espontâneas” permitem a contribuição e o pleno desenvolvimento de uma para a outra, ou seja, como se uma contribuísse para o crescimento da outra e vice-versa. (VIDA EM SINTROPIA, 2015). Deste modo, muitos produtores agrícolas estão adotando o sistema devido, principalmente, ao seu processo integrado com a produção de alimentos e a contribuição para a conservação do meio ambiente. Assim, incrementa-se o alto giro de renda das comunidades agrícolas e contribui diretamente na natureza.

2.5.3.5 Geração de energia e aquecimento solar

Energia solar: Placas Fotovoltaicas O consumo energético de recursos não renováveis vem se mostrando, cada

vez mais, irreparáveis ao ecossistema global. Nos próximos anos, “o quadro de oferta futura de energia elétrica aponta fragilidade e dificuldades no abastecimento do mercado de energia” para o Brasil. De acordo com informações publicadas pelo Plano Nacional de Energia – PNE 2030 (ANNEL; Apud TAKENAKA; 2010, p. 37), em 2030 o consumo de energia elétrica no País se situará em medida 950 e 1.250 TWh/ano (projeção), exigindo, por consequência, aumento significativo na oferta de energia elétrica. Ainda que a prioridade futura seja a oferta de energia hídrica, a instalação de usinas novas gerando 120 mil MW não será capaz de suprir toda a demanda. (TAKENAKA; 2010, p. 37) Em consciência a este relevante problema ambiental, estudiosos buscam possíveis alternativas sustentáveis para substituir e tentar solucionar parte do problema futuro. Uma fonte renovável de energia de forma distribuída encontra-se como alternativa no auxílio do suprimento energético do país. Dentre elas, destacase a geração solar fotovoltaica “por ser uma fonte de conversão direta da energia solar em energia elétrica de maneira não poluente, silenciosa, eficiente e não prejudicial ao meio ambiente”. (TAKENAKA; 2010, p. 37) As vantagens dos painéis fotovoltaicos tanto usuais quanto colaborativas ao meio ambiente, se dão principalmente, por conta do elemento ativo mais utilizado na fabricação dos painéis, o silício, um dos elementos mais abundantes na superfície da terra. (TAKENAKA; 2010, p. 37)


43

Os módulos FV interligados à rede elétrica podem ser integrados à edificação, necessitando como requisitos para sua utilização uma orientação solar e uma inclinação adequada (a orientação ideal ocorre quando as superfícies da edificação estão voltadas para o norte geográfico, no hemisfério sul, e a inclinação ideal equivale a um valor igual à latitude local, o que permite maior captação solar).

(TAKENAKA; 2010, p. 38) A Alemanha é um dos países de maior exemplo a esta tecnologia. Com incentivos governamentais desde 1988, lançou o Programa 1.000 telhados em 1991 com financiamento da instalação de módulos em coberturas de edificações residenciais como projeto piloto. Em evolução, a Eurosolar aumentou a cota em 1999 e lançou o programa 100.000 telhados garantindo, ainda mais, o investimento com energia limpa. O sistema funciona independentemente e conectado à rede elétrica como garantia secundária, resulta-se em uma mini-usina geradora. Assim, a energia gerada é comercializada à rede com uma tarifa prêmio. (TAKENAKA; 2010, p. 38) Sabe-se que hoje, no Brasil os painéis fotovoltaicos ainda não são utilizados em grande escala devido ao elevado custo. Em contrapartida, vale ressaltar que o Brasil é um país tropical e, assim sendo, apresenta elevados níveis de irradiação solar, ou seja, caracteriza-se como vantagens acima de alguns outros países para sucesso nesta tecnologia. Ademais, vê-se ao redor do mundo, que essa alternativa além de beneficente para o planeta, compensa também para o “bolso” dos usuários. Basta obter incentivos, conscientizações e técnicas de gestões governamentais, que o sistema se torna viável para todos, haja vista a Alemanha como grande exemplo. 

Aquecedor solar com Garrafas PET

De baixo custo, o coletor solar utilizado a partir de materiais reutilizados é uma alternativa sustentável, acessível e eficiente. Entretanto, antes da execução necessita-se estudar e coletar os dados estatísticos para cada localidade e quantidades desejadas de modo a melhorar o rendimento e evitar desperdícios. De acordo com Fonseca; Santos (2011, p.03), a montagem do equipamento é simples, mas necessita de cuidado e atenção quanto a construção e manuseio dos materiais. Abaixo, a tabela demonstra o quantitativo dos materiais a serem utilizados para montagem do coletor com capacidade para 50 litros:


44

Tabela quantitativos materiais. Fonte: Fonseca; Santos 2011, p.03.

Ademais Fonseca; Santos (2011, p.03), destaca que a temperatura deste equipamento é limitada devido ao próprio material utilizado, os canos PVC e garrafas PET que, em temperaturas muito altas, podem perder a rigidez e ocasionar vazamentos. Além disso, é necessário se atentar também a altura do coletor para a caixa d’água de modo a não comprometer a circulação autônoma da água. O funcionamento de cada elemento atua da seguinte forma: A garrafa PET seria o vidro que é utilizado nos coletores convencionais e a caixa Tetra Pak o painel de absorção. “Ambos protegem o coletor de interferências externas, como ventos e oscilações de temperatura, como o efeito estufa.” (FONSECA; SANTOS, 2011, p. 04). Para um bom desempenho do equipamento, Fonseca; Santos (2011, p. 04) destaca: 

Escolha das garrafas PET: Qualquer garrafa PET de 2 litros transparente;

Caixa d’água: pode ser usada a existente desde que considere corretamente a quantidade de um terço de água fria para uma caixa d’água de 500 litros. “O ideal é usar um reservatório apenas para a água quente, podendo ser interligado com a caixa de água fria, inclusive para o caso de falta d’água o reservatório não fique sem água, o que pode danificar o coletor solar". Além disso, recomenda-se isolamento térmico para reservatórios que serão utilizados água quente todos os dias.

Caixa Tetra Pak: Caixas de leite, suco, etc, são recomendadas devido a composição de alumínio, poliestireno e celulose que asseguram a não deformação em altas temperaturas.


45

A figura X abaixo mostra as etapas de execução: Limpeza, e recorte das garrafas (recorte do fundo) e das caixas:

Figura 13: Garafas e caixas recortadas. Fonte: Fonseca; Santos, 2011, p. 07.

Após a limpeza e o recorte as caixas devem ser pintadas com tinta preta fosca, de acordo com a figura X:

Figura 14: Caixas Tetra Pak recortadas e pintadas. Fonte: Fonseca; Santos, 2011, p. 05.

Em seguida é feita a montagem com os canos PVC, como a figura abaixo:

Figura 15: Montagem canos PVC. Fonte: Fonseca; Santos, 2011, p. 07.


46

Por fim, a figura abaixo mostra a placa coletora pronta para execução no telhado:

Figura 16: Placa solar com capacidade para aquecer 50 litros. Fonte: Fonseca; Santos, 2011, p. 07.

Vale ressaltar que a instalação do coletor no telhado necessita estar, impreterivelmente, inclinado 10º acrescido na latitude local. Além disso, para melhor aproveitamento da luz solar, a placa deve estar voltada para o Norte. Executado deste modo, o coletor solar além de trazer benefícios ao usuário, é uma alternativa sustentável e eficiente, pois une a reciclagem com a tecnologia, demonstrando que é possível viver bem e contribuir para o meio ambiente sem grandes gastos.


47

CAPÍTULO 03 – EXEMPLOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS DE ECOVILAS – PROJETOS REFERENCIAIS Estabelecida as bases fundamentais teóricas, podemos avançar para a etapa dos projetos referenciais de forma a elucidar o bom funcionamento das práticas instrumentais das Ecovilas, dentre os quais, uma visita de campo (Ecovila Tibá – São Carlos – SP) foi necessária para que se obtivesse o auxílio e a estruturação na obtenção de dados. 3.1 Ecovila Crystal Waters Localização e história da Ecovila Localizada em Queensland ao norte de Brisbane, na Austrália, seu clima subtropical é caracterizado pelo verão úmido e quente; a primavera e o outono moderados com noites frescas e o inverno moderado com noites frias em que, normalmente, marcam temperatura abaixo de 0ºC. É somente no mês de setembro que os ventos fortes se predominam enquanto que, no restante do ano, ocorrem somente brisas. A chuva presencia-se constante nos primeiros meses do ano e seu índice pluviométrico médio é de 1350mm. Considerada a “primeira vila intencional permacultural”, a Ecovila surgiu em 1986, a partir do projeto de Max Lindegger, Robert Tap, Barry Goodman e Geoff Young. O local escolhido na época encontrava-se muito degradado pelo processo de exploração de madeira. Além disso, apontava irregularidades pois, naquela região rural as subdivisões de terras deveriam ter no mínimo 40 acres, o que não contemplava no local. Este problema foi solucionado através de um processo de negociação política com as autoridades governamentais do local que viabilizaram a aprovação do projeto da ecovila. A ecovila contou também, com o apoio da constituição de uma cooperativa dos moradores (CUNHA, 2012, P. 71). Não menos penoso, a proposta não contemplava com nenhum tipo de financiamento, levando a compra da terra por meio de uma permuta do antigo dono da terra, que ficou com 10 lotes do projeto permacultural realizado. O pagamento dos designers da ecovila foi também, da mesma forma, cada um ficou com 3 lotes. Foi nesse passo que, após a venda dos primeiros lotes, realizaram a construção da infraestrutura e alguns equipamentos públicos (CUNHA, 2012, P. 71).


48

Apesar das muitas dificuldades, a força de vontade e a dedicação foram recíprocos. Hoje, a experiência é reconhecida pelo World Habitat Award387. Crystal Waters tem hoje, cerca de 200 moradores para 83 lotes individuais de 1 acre cada onde cultivam hortas, pomares, mel e animais. Contudo não existe a produção de alimentos de forma coletiva. A ecovila conta também, com dois lotes comerciais do mesmo tamanho (1 acre cada). Além disso, 80% da área total de 259 ha é de propriedade cooperativa (coletiva). A comunidade relativamente grande, dispõe de comércios, turismo, atividades educacionais e indústria leve. A área do café, ponto de referência, conta com “encontros sócioculturais envolvendo música, yoga, permacultura, esportes, teatro e discussão sobre os assuntos comunitários”. (CUNHA, 2012, P. 73).

Figura 17: Encontro sociocultural. Fonte: <http://crystalwaters.org.au/things-to-do/events/>.

Além disso, a Ecovila possui “webdesigners, serviços de consultoria, educação e capacitação (em diversas áreas), tratamento biológico de pragas; produção de instrumentos musicais; pintores artísticos; serviços de acomodação no parque”. (CUNHA, 2012, P. 73).

7

O World Habitat Awards é uma premiação ligada ao programa HABITAT da ONU, que, a cada ano, distribui, além de um troféu e um título, um prêmio de L$10.000 para dois projetos considerados referência em “boas práticas de habitat”. A Crystal Waters foi finalista da premiação no ano de 1996 (WORLD HABITAT AWARDS, 2010 Apud CUNHA, 2012).


49

Zoneamento e partido arquitetônico Para realização do projeto foram feitos os estudos físicos essenciais para a organização dos espaços, dentre os quais: topografia, clima, tipo de vegetação, vias fluviais, ventos dominantes, etc. Assim, identificaram as áreas propícias para a implantação dos lotes, estradas e agricultura. Em apenas um ano o projeto já saiu do papel e tornou-se materializado. Aos poucos, a quantidade de moradores foi crescendo juntamente com a infraestrutura, transformando-a em uma grande ecovila. (RAINHO, 2006, p.67).

Figura 18: Projeto de Permacultura de Cristal Waters. Fonte: <http://www.newfarm.org/international/features/0604/australia/map.html>

A definição dos projetos residenciais foi feita pelos próprios moradores em que, tiveram como prioridade em comum, construir em harmonia com a natureza de forma a minimizar os impactos ambientais. Como explícito, o inverno de menos de 0ºC, também foi prioridade na hora de se projetar, tomando como alternativa, adequar o projeto aos conceitos bioclimáticos para o aproveitamento da radiação solar passiva.


50

Para as construções, foram utilizados os seguintes materiais: Os materiais mais utilizados são os naturais como a madeira de florestas próximas manejadas sustentavelmente, palha em fardo, pedras, terra batida, bambu e tijolos de terra comprimidos, além dos materiais ditos “segunda mão”, isto é, aqueles já utilizados em outras construções que estão sendo descartados por seus proprietários como portas e janelas. São evitados os materiais artificiais como o alumínio, os de origem distante que necessitam de transporte motorizado para sua entrega ao local ou madeiras de florestas sem manejo, pois causam desequilíbrio na natureza. (RAINHO, 2006, p.69).

Figura 19: Acomodação para visitantes em madeira. Fonte: Crystal Waters, 2005 (Apud RAINHO, 2006, P.69).

Figura 20: Residência em tijolos de terra. Fonte: Crystal Waters, 2005 (Apud RAINHO, 2006, P.69).

Figura 21: Área externa em pedra para refeições. Fonte: Crystal Waters, 2005 (Apud RAINHO, 2006, P.69).

Figura 22: Residência em tijolo. Fonte: Crystal Waters, 2005 (Apud RAINHO, 2006, P.69).

A existência de uma rede elétrica próxima ao local influenciou os projetistas a optarem por ela com o receio de que a energia solar não fosse suficiente devido ao clima predominantemente nublado e chuvoso na região que poderiam diminuir a eficiência dos coletores fotovoltaicos. Porém, adotaram-se meios econômicos para que se diminuísse o gasto com essa energia elétrica, como a instalação de cabos de baixa voltagem que “leva aproximadamente metade da corrente normal que uma


51

casa australiana comum consome”. Em algumas casas foram adicionados coletores fotovoltaicos para produção de energia nos dias propícios. (RAINHO, 2006, P. 70) Para diminuir a poluição visual, foi instalado galerias subterrâneas que escondiam os cabos. Já para o aquecimento da água, foi utilizado coletores solares. A existência de represas e rios na área possibilitou a implantação de atividades recreativas como, canoagem natação e pesca. A água para a irrigação dos pomares e hortas coletivos e individuais é retirada “do sistema de tratamento das águas servidas e da captação e reaproveitamento das águas”. (RAINHO, 2006, P. 70)

Figura 23: Represas e rios na propriedade de Cristal Waters, 2005 (Apud RAINHO, 2006, P.70).

3.2 Ecovila Findhorn A Ecovila Findhorn localiza-se ao norte da Escócia na Baía de Findhorn. Seu clima é temperado com ventos fortes e frios. A vegetação compõe-se basicamente por restinga, dunas, bosques e ambiente marinho com praias. (RAINHO, 2006, p. 54) Em 1962, após serem dispensados do trabalho, Peter Caddy e sua família se mudaram para um acampamento de trailers na Baía de Findhorn.


52

Figura 24: Traileres originais de Findhorn. Fonte: FINDHORN, 2005.

Para sobreviver, resolveram plantar legumes e vegetais em um solo que não contribuía muito, pois era arenoso e seco. Porém, foram persistentes e não desistiram. Com isso, as características do solo se alteraram completamente tornando-se em um solo fértil ideal para o plantio. Para isso, utilizaram uma mistura de excrementos de cavalos e gado, capim, caules de árvores, resto de folhas, algas marinhas, resíduos de cevada e palha. Com isso, muitas pessoas interessadas neste modelo de vida alternativo e harmonioso com a natureza, se instalaram em trailers e construíram bangalôs para receber convidados e palestrantes. Hoje, a Ecovila e seu jardim fértil é conhecido internacionalmente, por sua enorme diversidade de legumes, verduras, flores, raízes e muitas espécies de plantas e árvores (RAINHO, 2006, p. 54). Para a realização de cursos educacionais, a comunidade comprou em 1975, o Hotel Cluny Hill e o nomearam como Colégio Cluny Hill. Na década de 80, foi comprado o terreno onde se encontrava o Parque de Trailers da Baía de Findhorn (Findhorn Bay Caravan Park), “construções como a vizinha Cullerne House cujos jardins transformaram-se no centro de produção vegetal orgânica, e a Drumduan House em Forres para acolher a Escola Moray Steiner.” (RAINHO, 2006, p. 55).


53

Figura 25: Implantação da fundação Findhorn. Fonte: Rainho, 2006)

Criada em 1972, a Fundação Findhorn é responsável pelo centro de educação e organização e encaminha para todo o mundo através de seus seminários, vivências, cursos, palestras toda a visão e fundamentos da Ecovila. No quesito sustentabilidade, a Fundação comprou dois terrenos próximos com intuito de trazer estabilidade e tranquilidade para as futuras gerações. Nos anos 80 transformaram

a

área

em

comunidade

ecológica

e

grande

exemplo

de

sustentabilidade através da união das experiências ambientais, sociais, espirituais, culturais e econômicas. Deste modo, caminharam para a implantação e realização de métodos sustentáveis, como telhados verdes, gestão da água e energia, utilização de materiais recicláveis, etc. (RAINHO, 2006, p. 55). Na a Arquitetura, a prioridade foi para a questão de eficiência energética, conforto do usuário e utilização de materiais recicláveis naturais existentes no local, como a pneus de automóveis, palha, pedras e madeira de barris de whisky.


54

Figura 26: Residência em madeira.

Figura 27: Residência em palha.

Fonte: Rainho, 2006, P.57.

Fonte: Rainho, 2006, P.56.

Figura 28: Residência em madeira de

Figura 29: Residências em madeira.

barris de whisky. Fonte: Rainho, 2006,

Fonte: Rainho, 2006, P.56.

P.56.

A madeira nas edificações, maximizaram o aquecimento para proporcionar maior conforto ao usuário sem a necessidade dos aquecimentos convencionais. Além disso, utilizaram-se lâmpadas fluorescentes compactas para aumentar a eficiência energética. Os ventos fortes predominantes na Baía de Findhorn, são reaproveitados para a produção de energia renovável eólica. O tratamento das águas é desenvolvido biologicamente através da chamada Máquina Viva, que trata por dia cerca de 300 pessoas, isto é, cerca de 50m ³ por dia. A Máquina Viva encontra-se no interior de uma estufa de vidro que mede 10 por 30 metros. Ela mantém um microclima estável adequado para os processos biológicos e reações químicas. (RAINHO, 2006, p. 58)


55

Figura 30: Maquina Viva (Living Machine). Fonte: Rainho, 2006, P.58.

Para o esgoto, utilizam um sistema de tratamento que funciona da seguinte forma: O esgoto chega em 3 tanques anaeróbicos primários, localizados fora da estufa, que têm como função reduzir o material orgânico e os sólidos do efluente sem a presença de oxigênio para promover o crescimento da população de bactérias anaeróbicas. Já no interior da estufa segue para um tanque aeróbico fechado onde os gases serão filtrados para eliminar os odores antes de serem liberados para a atmosfera. Após esta etapa o efluente se instala em 4 tanques aeróbicos abertos com diversas espécies de plantas flutuantes dotadas de grandes raízes grossas que favorecem o aumento da atividade microbiana removendo metais e destruindo os organismos patogênicos. (RAINHO, 2006, p. 58)

Após todo esse processo, os resíduos passam a se acomodar no fundo do tanque por conta da ação das bactérias e o efluente de esgoto passa a caminhar para as camas ecológicas fluídicas compostas por pedras e bactérias que ajudam na filtragem da água. Assim, seguem para o tanque de armazenamento onde se encontram moluscos e peixes que possuem o papel de terminar a limpeza da água se alimentando dos microrganismos. Feito este tratamento, a água passa a ser considerada de boa qualidade podendo ser conduzida para o mar ou reutilizada para fins não potáveis. Além disso, utilizam o sistema de captação e armazenamento de água da chuva para utilização de fins não potáveis. (RAINHO, 2006, p. 59)


56

Figura 31: Tratamento biológico de águas servidas. Fonte: Rainho, 2006, P.59.

O sistema de Telhados Verdes também foi uma das tecnologias ambientais que deram certo na Ecovila. A intenção do sistema foi para uma melhor “integração com a paisagem e manutenção do conforto térmico em seu interior”. Além disso, os telhados receberam também, placas de coletores solares para o aquecimento de água e produção de energia. Esses painéis são fabricados pela própria comunidade e são comercializados para edificações residenciais e comerciais do Reino Unido (RAINHO, 2006, p. 59).

Figura 32: Telhados Verdes e Placas Solares nas edificações da Ecovila Fonte: Rainho, 2006, P.60.

3.3 Ecovila Tibá Para estudo de caso, foi escolhida a Ecovila Tibá, pois possui grandes semelhanças com a intenção do projeto de uma Ecovila proposta no próximo capítulo. Serve, portanto, como referencial principal para o desenvolvimento do projeto.


57

Realizada no dia 27 de fevereiro e no dia 09 de abril de 2016, a visita de campo

contou

com

guias

(moradores

da

Ecovila)

que

contribuíram

excepcionalmente para todo o entendimento do modo de se viver na Ecovila. Além disso, o site da Ecovila, os questionários realizados com os moradores (que se encontra em anexo) e artigos relacionados contribuíram também, para a estruturação da pesquisa. De tal forma, foi possível elaborar suntuosamente como se deu o surgimento da Ecovila juntamente com a forma que se organizaram e se organizam comunitariamente até hoje.

Características e escolha do local Localizada a 17 Km do centro de São Carlos - SP, Brasil, o local possui 11 alqueires incluindo a Área de Preservação Permanente (APP) que se encontra dentro da área juntamente com uma cachoeira. Seu clima é Tropical de Altitude onde os verões são chuvosos e invernos secos. Sua temperatura varia geralmente de 26,9º C máxima e 16,2º C mínima. A precipitação pluviométrica está em torno de 1.500 mm anuais. Para a escolha da Terra, foram determinados alguns fatores necessários por ordem de importância: “a paisagem local (existência de matas e características de ocupação do entorno); disponibilidade de água; distância de centros urbanos; infraestrutura existente e, finalmente, preço” (POLAZ et, al., 2007) Composta por vegetação predominantemente Cerrado com Matas de morros e matas galerias nos rios, o solo da área antes da posse dos Ecovilenses foi, por muito tempo, devastado pela criação de gado. Como solução, adotaram o eficiente modelo do Sistema de Agroflorestas já citado no segundo capítulo. Deste modo, hoje o solo encontra-se relativamente bom e produtivo. A Figura abaixo mostra a implantação da Ecovila Tibá:


58

Figura 33: Implantação da Ecovila. Fonte: Material cedido pelos moradores da Tibá, 2016.


59

História da Ecovila Há dez anos atrás um grupo de dez amigos, alunos e professores da Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR, se reuniram para criar uma pessoa jurídica para sustentar o viver em um espaço coletivo. Naquela época eles não pensavam em viver comunitariamente como o pessoal da Ecovila vive hoje, mas o que tinham por vontade era de se formar um "condomínio ecológico de amigos." A ideia era “não ser amigo do vizinho, mas vizinho do amigo”. Esse projeto teve início a dezenove anos atrás, em 1997. Dez anos depois a ideia surge com vigor juntamente com novas pessoas que orbitavam em torno dessa ideia. Com o sonho e o plano de necessidades iniciaram então, a busca de uma terra para a execução juntamente com a busca das instâncias jurídicas para realização da compra conjunta. Para uma compra conjunta justa, a terra foi colocada no nome de uma associação. Desta forma, conjuntamente todos passaram a ser dono de tudo. Funcionava e funciona ainda hoje da seguinte forma: Os sócios compram quotas, mas a terra é da associação, caso algum sócio queira sair da ecovila, sua cota é vendida para a própria associação. Com estudos e pesquisas de campo, conseguiram desenvolver um modelo de ferramenta que auxiliasse no processo de “entrada” dos novos integrantes da comunidade. Esse processo funciona da seguinte maneira, conforme a explicação da moradora Ana Cláudia (Cacau): “Tomaremos como exemplo um relacionamento amoroso: inicia-se geralmente com a fase da “paquera”, paquerou, gostou, pede em namoro. Namorou, gostou, pede noivado. Noivou, gostou, casa. ” A fase da “paquera” seria conhecer a ecovila, logo na fase do namoro, a comunidade possui um processo de acolhimento para a pessoa que deseja conhecer e vivenciar um pouco mais da ecovila. Esse processo de acolhimento consiste em um acordo em que o visitante pode morar na ecovila durante sete dias a três meses. Quatro horas por dia, ele sede para as atividades na ecovila e as horas restantes ele fica livre para fazer o que desejar. Outro modo de se aproximar da ecovila também, é a pessoa visitar, participar dos mutirões, eventos e reuniões várias vezes sem precisar morar (dormir) na ecovila. Após esse período de maior proximidade, é necessário que o futuro morador da ecovila escolha suas atividades fixas. Vivenciando dessas atividades, é onde ela


60

decide se vai ou não firmar sua vida comunitária na ecovila, ou seja, fazer a compra da quota. Hoje a ecovila se encontra com vinte e nove moradores, com todos da associação o total é de quarenta e cinco pessoas. Dos fundadores hoje só constam duas pessoas na comunidade, pois a maioria ainda estava muito absorvida com a vida na cidade devido ao trabalho de professor e a vida de estudante. É interessante constar que dentro destas vinte e nove pessoas somente dez são quotistas. Todos os adultos quotistas, exceto um casal, trabalham ou tem uma relação com a cidade. Alguns não possuem condições financeiras, porém, contribuem de outras formas, se dedicando bem mais na comunidade. A vida comunitária como Ecovila surgiu espontaneamente há três anos. Cada um morava em sua casa dentro da ecovila e aos poucos foram partilhando das atividades juntos, como por exemplo cozinhar juntos, carona coletiva, compras coletivas, etc. Desta forma foi se estruturando o viver em comunidade, porém com algumas individualidades, como explicam os moradores: Amigos e famílias morando próximos uns dos outros, mas ainda com individualidade, dividindo áreas comuns que propiciem o convívio, o trabalho e redução do custo de vida, sem destruir o ambiente. (http://www.ecovilatiba.org.br/site/index.php/oprojeto-arquitetura)

Figura 34: Mapa da Ecovila pintado na parede. Fonte: Autora, 2016.

É preciso lembrar, por oportuno, que a comunidade enquanto Ecovila, possui apenas três anos, e dispõe ainda, de muitos projetos e desejos a serem realizados. Em vista disso, estão sempre pesquisando e estudando métodos para que o sonho


61

se realize da melhor maneira estrutural de uma Ecovila: ecológica, social/comunitária e espiritual. Deste modo, imperioso evidenciar a forma como demonstram seus sonhos e interesses para a convivência comunitária: Sonhamos com interações mais amorosas (Gil), o cultivo de amizades sólidas (Clara), o respeito a todas as formas de vida (Nena), o respeito aos nossos limites e potenciação das qualidades individuais (Aninha), a simplicidade voluntária e um bom emprego do tempo (Dion), cooperação espontânea e liberdade (Adriano). (http://www.ecovilatiba.org.br/site/index.php/projeto-valores)

Figura 35: Salão e cozinha comunitária. Fonte: Autora, 2016.

Hoje as crianças são educadas pelos próprios moradores até aos quatro anos de idade. Após isso, elas começam a estudar na escola dentro da cidade de São Carlos - SP. Vale ressaltar que além das atividades educativas comuns das escolas, elas possuem o privilégio de partilhar dentro da própria ecovila, aulas de educação ambiental e sustentável integrada às brincadeiras cotidianas como: horta orgânica, artesanato, reciclagem, Bioconstrução, cuidar dos animais, cosméticos naturais, dentre outros. A escola distancia-se da ecovila por média de quinze quilômetros,


62

vinte minutos de automóvel. O transporte é feito coletivamente, ou seja, cada dia é a vez um pai levar todas as crianças. A intenção dos habitantes da comunidade, é de se criar futuramente uma escola para a comunidade de forma a suprir a necessidade de se deslocar longamente e também, incluir a educação ambiental no cronograma escolar. A

Figura

36

a

seguir,

mostra

as

crianças,

moradoras

da

Tibá,

brincando/participando do mutirão de Bioconstrução com terra de um chalé de taipa de mão:

Figura 36: Crianças moradoras da Ecovila brincando/participando do mutirão em Bioconstrução. Fonte: Autora, 2016.

Em relação às divisões de atividades, vale ressaltar que não se considera o sexo da pessoa para divisão, ou seja, não é por força ou físico, lá eles primam pela igualdade. Além disso, para o bom funcionamento da comunidade, é reservado sempre um dia da semana para todos os moradores se dedicarem somente para a Ecovila.


63

Figura 37: Moradores e visitantes no mutirão em Bioconstrução de um chalé em taipa de mão. Fonte: Autora, 2016.

Os materiais utilizados para a execução das construções vêm sendo estudados na prática, dentre as quais: superadobe, taipa de mão, taipa de bambu, tijolo de solo-cimento, telhas de garrafa pet, telhado verde, piso de papel, pintura de terra, pintura com cacto palma, construção a partir do reuso de material reciclável (garrafas, vidros, paletes, etc). As figuras 38, 39 e 40 abaixo, mostram as etapas para a execução de um chalé na técnica Yurt de Bambu sendo executado na Ecovila: 

Situação da obra quanto à primeira visita (27 fevereiro de 2016):

Figura 38: Maquete em gravetos do Chalé Yurt. Fonte: Autora, 2016.

Figura 39: Fundação em superadobe. Fonte: Autora, 2016.


64

Figura 40: Chalé Yurt de Bambu com paredes e caixilhos. Fonte: Autora, 2016.

Situação da obra quanto à segunda visita (09 de Abril de 2016):

Figura 41: Chalé Yurt de Bambu com estrutura do telhado. Fonte: Autora, 2016

Figura 42: Parte da parede do Chalé que se desmoronou. Fonte: Autora, 2016

A Ecovila possui também, uma edificação em Containers. O material foi comprado de segunda mão a preço de custo, em que se utilizavam para comercio de loja. O container existe há pouco tempo na comunidade e teve sua inauguração justamente no dia da segunda visita (09 de abril 2016). Em conversa com Rodrigo, morador do Container, ele contou suas pesquisas, dificuldades, erros e acertos da reforma. Suas principais preocupações foram a questão térmica e espacial da edificação. Para tanto, na questão térmica foi pensado e executado o sistema de grandes aberturas cruzadas. Isso permitiu grande e eficiente ventilação cruzada. Rodrigo contou que em uma de suas pesquisas para a execução da abertura, as pessoas encontravam grandes dificuldades na hora de


65

executarem as aberturas dos vãos nos containers. Isso se dava por conta de o material ser de pequena espessura e de metal o que ocasionava, ao executarem as aberturas, deformação do material. Como solução a esse problema, foi necessário que as aberturas fossem feitas individualmente, ou seja, ao executar uma abertura, já se implantava a caixilharia e seus reforços de modo a dar sustentação, para então depois, dar sequência na abertura de outro vão. Além disso, para a solução térmica, foi executado também, forros internos de Drywall, o que permitiu no auxílio em manter a temperatura mais amena. Apesar destas duas eficientes soluções térmicas, o morador contou que não foi suficiente para a permanência durante o dia. Para que a questão térmica fosse eficaz, era necessário, além de tudo, que se executasse o tratamento externo do container. Rodrigo disse que foi atrás da tinta nanothermic8 1, porém, não encontrou mão de obra para a execução. Em detrimento disso, acrescentou que ainda está à procura de alguma solução térmica viável. Para a questão espacial, encontra-se a seguinte situação: os dois módulos de container medem em média 2.50 metros de largura por 12.00 metros de comprimento. Viu-se, portanto, a necessidade de maior amplitude na largura. Para tanto, implantou-se decks de madeira nas suas duas laterais permitindo a continuidade da largura. Deste modo, com as grandes aberturas no ambiente de baixo juntamente com a extensão do deck de madeira nas suas duas laterais, permitiu-se com que o ambiente tornasse mais amplo espacialmente. 

8

Situação da obra quanto à primeira visita (27 fevereiro de 2016):

Nanothermic 1 atua por reflexão a radiação solar. Tem a finalidade de reduzir a temperatura do ambiente interno, colaborando com o conforto térmico. Disponível em: <http://www.nanothermic1.com.br/tinta-termica-containers.html> Acesso em: 17 abril 2016.


66

Figura 43: Container metálico com aberturas em execução. Fonte: Autora, 2016.

Situação da obra quanto à segunda visita (09 de Abril de 2016):

Figura 44: Container metálico com expansão dos decks em execução. Fonte: Autora, 2016.


67

Figura 45: Fotos internas do container metálico. Fonte: Autora, 2016.

A figura 46 a seguir mostra um chalé executado em taipa de mão. Interessante ressaltar, que ao longo da pesquisa de campo, foi percebida grande diferença na questão de temperatura dentro da edificação em relação ao externo. Ao contrário do container e sua grande preocupação em encontrar soluções para a amenização térmica, o chalé possui alta capacidade em amenizar temperaturas. Assim, foi possível perceber na prática, a eficiência do barro em sua alta capacidade da amenização térmica: absorvendo o calor ao longo do tempo e soltando-o de forma gradativa, de acordo com as variações de temperatura, permitindo conferir o conforto térmico através da inércia.


68

Figura 46: Chalé em taipa de mão. Fonte: Autora, 2016.

São

utilizadas

as

seguintes

tecnologias

sustentáveis

na

Ecovila:

Armazenamento de águas através de cisternas, mini-cisternas e piscina natural; tratamento ecológico de águas cinzas e negras; biofiltro da piscina; defumador de bambus; forno de barro; banheiro seco; eco-academia; poltronas de pneus, telhado verde, etc. As Figuras 47 e 48 a seguir, mostram o primeiro sistema de captação de água da chuva implantado na ecovila e a piscina natural, onde recebe parte dessa água. A piscina recebe tratamento através do sistema do biofiltro natural a partir das plantas:

Figura 47: Sistema de captação de água da chuva. Figura 48: Piscina natural com biofiltros naturais. Fonte: Autora, 2016. Fonte: Autora, 2016.


69

Além da preocupação na utilização da água de chuva, para economizar água e contribuir para o meio ambiente, a ecovila possui também, o banheiro seco.

Figura 49: Banheiro seco. Fonte: Autora, 2016.

Está sendo implantado também, telhado verde em algumas edificações da comunidade para melhorar a integração com a paisagem e manutenção do conforto térmico em seu interior.

Figura 50: Telhado verde sendo executado. Fonte: Autora, 2016.

Além disso, adotaram o sistema de horta em espiral estruturada em pequenos bambus. Este sistema contribui para o crescimento adequado de cada planta de


70

acordo com o sol e a contribuição de cada planta umas com as outras (absorção de nutrientes).

Figura 51: Horta em espiral. Fonte: Autora, 2016.

3.4 Considerações sobre os projetos referenciais

O levantamento referencial demonstra as diferenças e semelhanças entre as três Ecovilas. Criadas em épocas e locais distintos, todas caminham por um principal objetivo: A Vida Solidária e harmônica em meio a natureza. No tocante promovem diretrizes para alcançar tal objetivo adequado para cada região. Desse modo, assemelham-se em cinco aspectos que referenciaram o desenvolvimento do projeto em si: 1. Aspectos

Tecno-construtivos

sustentáveis:

Sistemas

estruturais,

vedações e instalações utilizados a partir de materiais locais e reciclados; 2. Aspectos Espaciais: Setorização, volumetria e plástica; 3. Aspectos

Físico-psicológicos:

Conforto

físico,

psicológico; 4. Aspectos Econômicos: O foco não é o dinheiro; 5. Aspectos Sociais: Cultura solidária.

térmico,

acústico,


71

CAPÍTULO 04 – PROJETO Este capítulo tem por escopo um projeto de Ecovila localizada na zona rural do Município de Ribeirão Preto – SP. A princípio, traz informações do contexto urbano em que constata o objeto empírico, trazendo levantamentos sobre aspectos territorial, demográfico e ambiental de Ribeirão Preto – SP. Por esta sequência, a pesquisa avança para a delimitação territorial onde será implantado o Projeto. Vale ressaltar que o Projeto da Ecovila apresenta as diretrizes e determinantes para a elaboração do Fluxograma, Plano de Massas Setorizado e Implantação com o respectivo Memorial Justificativo e Programa de Necessidades. Entretanto, o detalhamento projetual fica por conta do Edifício principal, o salão multiuso coletivo e as residências fixas. Espaços que apresentam, de forma integrada, o conceito do trabalho: a cultura solidária. Nesse sentido, inicia-se os Levantamentos da Área de Intervenção para então abordar o Projeto da Ecovila. 4.1 ESTUDO DE CASO: RIBEIRÃO PRETO – SP 4.1.1 Caracterização territorial e demográfica de Ribeirão Preto – SP A Cidade de Ribeirão Preto localiza-se no sentido nordeste do Estado de São Paulo e distancia cerca de 310 Km de sua capital. Possui uma área de 651,3 Km² onde, 45% do seu território corresponde a áreas urbanas e expansão urbana e 55% área rural. O Município faz divisa com as Cidades: Jardinópolis (ao norte); Brodowski (ao nordeste); Serrana (a leste); Cravinhos (a sudeste); Guatapará (ao sul); Pradópolis (a sudoeste); Dumont (a oeste); Sertãozinho (a noroeste). (SANTOS, 2014, p. 68). Ribeirão Preto setoriza-se em quatro regiões (Norte, Sul, Leste e Oeste) e dezoito sub-regiões. A maior área urbanizada situa-se ao norte e as áreas com maior potencial de expansão encontram-se ao sul e a oeste. A figura abaixo indica o mapa da Cidade com suas sub-regiões:


72

Figura 52: Organização dos setores na Cidade de Ribeirão Preto – SP. Fonte: Secretaria de Planejamento e Gestão Urbana de Ribeirão Preto, 2013 Apud Santos, 2014, p.70

4.1.2 Levantamento dos aspectos ambientais Ribeirão Preto caracteriza-se por clima tropical úmido onde, seus verões são quentes e chuvosos (temperaturas superiores a 23°C e pluviosidade acima de 250 mm) e invernos amenos e secos (temperatura média de 18°C e precipitação inferior a 30 mm). Porém, Guzzo (1999 Apud SANTOS, 2014, p. 78), esclarece que estas classificações variam de local para local da Cidade devido ao “relevo, cobertura vegetal e massas de ar, evidenciando, portanto, resultados genéricos entre regiões distintas”. Em questão hídrica, grande parte de Ribeirão encontra-se inserida ao extremo norte a Bacia Hidrográfica do Rio Pardo e ao extremo sul, a Bacia Hidrográfica do Mogi-Guaçu. Os rios da Cidade dispõem-se geograficamente da seguinte forma:


73

Ao Norte, fazendo divisa com os municípios de Jardinópolis e Brodowski, encontra-se o Rio Pardo; na porção leste, tangenciando os municípios de Serrana e Cravinhos, estão os ribeirões Tamanduá e Espraiado; ao sul, na divisa com o município de Guatapará, está o Ribeirão da Onça; a oeste, no limite com Dumont, encontra-se o Córrego da Fazenda Caçununga. (SANTOS, 2014, p. 78)

Deste modo, a Figura 53 apresenta o mapa da distribuição hídrica de Ribeirão Preto:

Figura 53: Distribuição hídrica de Ribeirão Preto. Fonte: Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento de Ribeirão Preto Apud Santos, 2014, p. 79.

O Aquífero Guarani9 é a principal fonte de abastecimento público de Ribeirão Preto. Formado por sedimentos arenosos das formações Pirambóia e Botucatu, sua água é considerada, em sua maioria, de ótima qualidade. De acordo com a CETESB / DAEE (1997, Apud SANTOS, 2014), a área do Aquífero que abrange no Estado de São Paulo, é considerada a área de maior vulnerabilidade por conta da grande quantidade de poços e os riscos de contaminação por resíduos industriais.

9

Em

Maior reservatório subterrâneo de água doce da América do Sul. Com área de 1,2 milhões de Km², encontra-se na Argentina, Uruguai, Paraguai e sua maior parte encontra-se no Brasil, com 840.000 Km².


74

Ribeirão Preto, local onde essa vulnerabilidade é maior por conta da presença da área de recarga, a necessidade de uma fiscalização torna-se mais preocupante principalmente na área nordeste do município, local onde ocorre o afloramento do Aquífero. (SANTOS, 2014, p.79) Em questão do tipo de solo, Ribeirão Preto possui, predominantemente, o Latossolo Roxo:

Figura 54: Tipos de Solo do Município de Ribeirão Preto. Fonte: Henriques, 2003 Apud Santos, 2014, p. 82.

Segundo Henriques (2003, Apud SANTOS, 2014, p. 82), o Latossolo Roxo e a Terra Roxa Estruturada possuem texturas argilosas e muito argilosas e são comuns em relevos de colinas vastas. Ambas possuem elevado teor de óxido de ferro e possuem a coloração bastante avermelhada.


75

O Latossolo vermelho-escuro e vermelho-amarelo são comuns em áreas de relevos constituídos por amplas colinas. Predominam-se em áreas de Formação Botucatu e Pirambóia. Já o solo Litólico encontra-se normalmente em áreas que possuem grande declividade como, por exemplo, morros. 4.2 DELIMITAÇÃO TERRITORIAL PARA A PROPOSTA PROJETUAL 4.2.1 Variáveis determinantes para a escolha da área Alguns elementos/ações são indicados por Gaia Education (2007, Apud POLAZ et, al., 2007) quando da criação de uma ecovila e, se seguidos, podem minimizar/prevenir os conflitos: 1. Identificar a visão da comunidade, iniciativas e a necessidade de divulgá-las e registrá-las; 2. Criar documentos para memória dos processos de construção coletiva; 3. Escolher um processo participativo apropriado de tomada de decisão; 4. Registrar por escrito as deliberações acordadas entre os membros (propriedade comum, p.ex.) e as atas das reuniões (com aprovação de todos na reunião posterior); 5. Desenvolver habilidades de boa comunicação e de processos de grupo; 6. Desenhar o processo e os critérios de seleção e inserção de novos membros; 7. Desenhar também o processo de saída, celebrando-a (descasamento). (GAIA EDUCATION, 2007, Apud POLAZ

et, al., 2007) O sistema de tomada de decisão pode ser autocrático, consultivo, democrático, por unanimidade ou por consenso. Isso vai depender de comunidade para comunidade e a forma como preferirem adotar para o melhor andamento da Ecovila. Gaia Education (2007, Apud POLAZ et, al., 2007) define cinco elementos que são requisitos básicos para a tomada de decisão: “a) objetivo comum, b) facilitação efetiva, c) agenda coletiva, d) disposição de dividir o poder e e) compromisso esclarecido do processo de consenso”. Esses instrumentos, auxiliam e norteaiam os integrantes para um bom desenvolvimento evitando que haja desorganização e conflitos.


76

4.2.1.1 Programa de necessidades

Fonte: Organizado pela Autora, 2016

4.3 ÁREA DE INTERVENÇÃO Com as bases referenciais exploradas juntamente com o Programa de Necessidades e Pré-dimensionamentos é possível moldar o projeto Arquitetônico proposto: uma Ecovila na zona rural do Município de Ribeirão Preto. Localizado ao Leste, zona rural de Ribeirão Preto/SP, o terreno escolhido faz divisa com o Município de Brodowski/SP:


77

Figura 55: Mapa do Município de Ribeirão Preto com indicação da área de intervenção. Fonte: Adaptado pela Autora, Google Maps, 2016.

Figura 56: Corte da área de intervenção. Fonte: Elaborado pela Autora, 2016.

Com 350.282,00 metros quadrados, 35 hectares, a área de intervenção possui uma média de 7,85% de inclinação e encontra-se totalmente desmatada. O tipo de solo predominante é o Terra Roxa Estruturada.

4.3.1 Legislação e Planialtimetria A Área de Intervenção, segundo o Artigo 6º da Lei Municipal 2157/07 – Parcelamento do Solo, encontra-se na macrozona ZR – Zona Rural: Composta pelas demais áreas do território municipal destinadas ao uso rural, agro-industrial, e a equipamentos de uso público de influência municipal ou inter-municipal. (PARCELAMENTO DO SOLO, 2007).


78

Para a implantação das Edificações na Área de Intervenção, Zona Rural, o projeto deverá seguir os parâmetros do Decreto 12.342/78 que visa os requisitos mínimos de uma edificação, tais como: saneamento, iluminação e ventilação, dimensões mínimas dos cômodos, etc. Segundo o Artigo 2º do Código Florestal – Lei 4.771/65, é obrigatório a presença de Mata ciliar nas margens dos Córregos, Lagos, Represas e Nascentes. Chamada de Área de Preservação Permanente – APP, esta Mata garante a preservação, qualidade e espaços extras para o fluxo das águas de acordo com suas épocas de cheias. A largura da faixa da APP a ser preservada está relacionada com a largura do curso d’água, como a imagem abaixo mostra:

Figura 57: Área de Preservação Permanente de acordo com a largura do curso d’água. Fonte: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/agricultura>.

Como a figura abaixo mostra, a existência de edificações na margem do Rio Pardo próximos à Área de Intervenção, não respeitam a exigência do Código Florestal em relação a APP. Isso se dá por serem empreendimentos antigos quando não havia devido cuidado e fiscalização:


79

Figura 58: Vista área de edificações na APP, margem do Rio Pardo. Fonte: Adaptado pela Autora, Google Maps, 2016.

Nesta região, a largura do percurso do rio encontra-se por média de 60 a 80 metros. Portanto a APP deveria ter, no mínimo, 100 metros de largura durante toda a extensão. Em questão de Topografia, o Artigo 54º da Lei Municipal 2157/07 – Parcelamento do Solo, veta a implantação de edificações em terrenos com declividade igual ou superior que 30%. Desta forma, convém destacar as áreas que possuem tal inclinação através de um mapa de Planialtimetria:

N

Figura 59: Mapa Planialtimetria. Fonte: Elaborado pela Autora, 2016.

Através do mapa de Planialtimetria pode-se notar que a inclinação média do Terreno de Intervenção para elaboração da proposta Projetual é de 10%, havendo apenas uma pequena parte com inclinação média de 11 a 20% e 21 a 30%. Deste modo, o terreno destaca-se, em questão de topografia, relativamente viável,


80

necessitando apenas do nivelamento da pequena mancha vermelha (inclinação de 21 a 30%).

4.3.2 Memorial Justificativo Geral, Características Físicas, Fluxograma, e Plano de Massas Setorizado Como justificativa principal, a escolha da área se dá pela intenção em promover a manutenção e requalificação do Rio Pardo e seu entorno, ao passo que as Ecovilas se firmam como grande potencial na requalificação e harmonização entre o meio ambiente e o homem. Suas características físicas, denominadas como "eixos naturais", são os elementos determinantes e estruturadores para a implantação do Projeto. Estes eixos estão delimitados pelo Rio Pardo, a topografia existente, as áreas verdes, a estrutura viária e a orientação solar. A relação com o entorno se dá diante da contraposição entre "Barreiras x Integração". Barreiras porque a área escolhida propositalmente por possuir obstáculos físicos (Rio Pardo e Morro), impedem futuras ocupações da mancha urbana, garantindo a preservação e necessidade da Ecovila rural. Ao mesmo tempo, estas barreiras, por serem elementos naturais, formam uma paisagem sensível e harmoniosa que se integram poeticamente com o entorno, traduzindo-se em um significado social e ambiental.

Figura 60: Vista aérea da área de intervenção demonstrando suas “barreiras físicas” (Morro e Rio Pardo). Fonte: Google Earth, 2016.

Ademais, estas barreiras não impedem o convite de exploração e descoberta de um modo de viver díspar das habitações urbanas. Isso se dá por meio de um acesso localizado à oeste do terreno, a Avenida Aldredo Ravaneli:


81

Figura 61: Vista aérea da área com indicação da Avenida Alfredo Ravaneli. Fonte: Google Earth, 2016.

Para o acesso à área, foi projetado a continuação desta via até a delimitação do terreno, como será mostrado mais à frente, no Plano de Massas. A Implantação foi concebida através de soluções Plásticas e Funcionais. Estas questões integradas revelam a experiência do conjunto arquitetônico integrado com a paisagem. Para isso, a topografia e as necessidades determinaram a organização setorial culminando um mirante que permitirá a visibilidade harmoniosa da Paisagem. Ademais, este projeto não opera somente em torno das duas questões Plásticas e Funcionais, mas procura caminhar profundamente em uma consonância de caráter ecológico/sustentável e social comunitário, revelando uma personalidade originalmente focada na identidade dos "Ecovilenses". A disposição setorial geral divide-se em dois aspectos: Coletivos e Privados:

Figura 62: Setores gerais Fonte: Elaborado pela Autora, 2016.


82

Na imagem acima, a mancha amarela corresponde ao setor geral coletivo e a mancha vermelha ao setor geral privado. Por ser um local habitacional, mas que ao mesmo tempo recebe pessoas de fora para visitar a Ecovila ou fazer algum curso, esta divisão foi essencial, visto que, a não existência de algo coletivo implantado na mancha vermelha garantirá a privacidade dos moradores. O Fluxograma setorizado ainda de forma generalizada, demonstra como se dá a circulação de modo a garantir tal privacidade:

Figura 63: Fluxograma Fonte: Elaborado pela Autora, 2016.

A imagem acima demostra que esta organização garante a privacidade dos moradores, de modo que a circulação pública fica somente concentrada no setor coletivo e o setor residencial afastado o bastante para possibilitar total sossego desejado. Deste modo, convém destrinchar os dois setores gerais em forma de um Plano de massas setorizado pelos sentidos Norte, Sul, Leste e Oeste:


83

Figura 64: Plano de Massas setorizado. Fonte: Elaborado pela Autora, 2016.

Mais que estas duas divisões setoriais acima citadas, a organização destrincha-se por conta da viabilidade e atividades realizadas no dia-a-dia tanto dos moradores como dos visitantes. Inicia-se, portanto, ao sudoeste, com um Estacionamento que conduz os visitantes para a Recepção / Administração. De lá, o recepcionista direciona facilmente o visitante para o salão coletivo, principal setor que interliga todos os outros setores, como a imagem abaixo apresenta:


84

Figura 65: Interligação dos Setores. Fonte: Elaborado pela Autora, 2016.

O salão coletivo compõe-se por duas áreas, uma coberta e outra descoberta. Ambas são áreas multiuso para diversas atividades. Contém cozinha, refeitório, loja de artesanato, sala de estar, playground e duas áreas livres uma coberta e outra descoberta multiuso para eventos, festas, yoga, descanso, lazer, etc. Por esse caminho, o salão coletivo distribui as edificações restantes onde, a Horta Comunitária encontra-se localizada estrategicamente ao setor sudeste, bem próxima à cozinha para auxiliar e tornar prática a hora de cozinhar. Apesar de encontrar-se no setor sudeste, local bastante propício para receber o vento que vem do Sul, as presenças do morro, do setor Educacional prático e do Galpão, funcionam como barreiras que contribuem para que o vento não passe diretamente na horta. O Setor Educacional Prático foi posicionado ao Sul longe de todos os outros setores por ser um local que exibirá, por vezes, atividades que possuirão índices sonoros altos. Deste modo, garantirá que não atrapalhe o restante da comunidade. Como apoio a este setor e ao Sistema de Agroflorestas, o Galpão de Depósito foi implantado próximo para guardar todos os Equipamentos e materiais da Bioconstrução e Sistema Agroflorestal. Por fim, os setores residenciais, tanto os fixos, como os alojamentos temporários, encontram-se mais afastados no setor leste por conta da privacidade já explicada acima. Entre estes dois setores encontra-se também o setor dos animais que, por necessidade, localizam-se afastados da horta comunitária, devido à probabilidade de os animais comerem ou devastarem a horta.


85

4.3.3 Memorial Justificativo do Projeto, Volumetria e Estrutura Com um partido voltado para a cultura solidária, o projeto delineia-se para a economicidade e sustentabilidade de forma a priorizar os aspectos físicopsicológicos do usuário, como por exemplo, ergonomia e conforto. Estes aspectos são conseguidos através de materialidades e tecnologias sustentáveis, dentre as quais: 

Alvenaria: Adobe (conforto térmico através da inércia);

Estrutura: Malha estrutural de bambu da espécie Dendrocalamus giganteus (haverá produção local);

Revestimento externo: Pallets e revestimento natural de terra;

Revestimento interno: Para áreas molhadas mosaico utilizado a partir de sobra de azulejos (quebrados);

Piso: Pallet (resíduo de madeira tratado) e para áreas molhadas mosaico utilizados a partir de sobra de pisos (quebrados);

Telhado verde: auxilia no conforto térmico e harmonização visual do espaço;

Iluminação e ventilação: Grandes aberturas e cruzamentos permitem boa iluminação e ventilação natural.

Geração de energia: Placas fotovoltaicas e sistema conectado à rede (segunda opção);

Aquecimento solar: Aquecedor solar de garrafa PET e caixas de leite (reaproveitamento de materiais recicláveis) e sistema conectado à rede (segunda opção);

Bason: sustentável (não utiliza água) e acessível (no nível da edificação);

Piscina Biológica: sistema natural de filtragem através das plantas;

Círculo de Bananeiras e Tanque de Evapotranspiração: tratamento das águas;

Sistema de captação de água da chuva: Reaproveitamento da água. Por esta perspectiva, a solução arquitetônica proposta define a expressão

plástica do edifício revelando a harmonia e integração do encontro “interno x externo” de forma que o volume se dilua com o entorno emitindo a ideia de que o volume faça parte da natureza.


86

Os volumes dispostos em formato “H distorcido”, como mostra a figura abaixo, garantem, juntamente com a orientação solar (Nordeste/Sudeste), com que o horário de maior incidência solar não coincida com os ambientes de maior permanência.

Figura 66: Incidência solar na volumetria. Fonte: Elaborado pela Autora, 2016.

Deste modo, o formato padrão dos volumes revelam a identidade visual de uma arquitetura inteligível e confortável que visa, sobretudo, o bem-estar daqueles

que

habitam.

Além

disso,

o

formato

cria,

automaticamente,

espacialidades que permitem atingir a integração “interno x externo”, como mostra a figura abaixo:

Figura 67: Incidência solar na volumetria. Fonte: Elaborado pela Autora, 2016

A estruturação é formada por uma malha estrutural de bambu que caminha pelos eixos lineares formando um esqueleto:


87

Figura 68: Malha estrutural de bambu gigante nas extremidades (ResidĂŞncia Fixa) Fonte: Elaborado pela Autora, 2016

Figura 69: Malha estrutural de bambu gigante nas extremidades (GalpĂŁo coletivo) Fonte: Elaborado pela Autora, 2016


88

A espécie de bambu Dendrocalamus giganteus (bambu gigante), que será cultivada no próprio local para produção, foi escolhida por suas grandes vantagens: resistência, rápida produção, é cultivado no Brasil e por ser uma espécie entouceirante10. Sua execução é simples se seguida pelas técnicas básicas do corte, encaixe e manuseio do bambu, como a figura ilustra abaixo:

Figura 68: Corte e encaixe do bambu para formação da Malha Estrutural. Fonte: Elaborado pela Autora, 2016.

10

Ao contrário dos bambus alastrantes, os colmos dos entouceirantes nascem todos próximos uns aos outros de forma concêntrica, sem invadir. Fonte: https://vivianegallindo.wordpress.com.entouceirante-e-alastrante-morfologia-do-bambu/.


89

CAPÍTULO 05 – CONCLUSÃO Desde

o

marco

da

Revolução

Industrial,

as

cidades

cresceram

aceleradamente repercutindo, nos dias atuais, uma escala de inchaço urbano em que, os recursos naturais, muitas vezes, são considerados “problema” para o crescimento das cidades. Como exemplo, os inúmeros desmatamentos ocorridos para dar lugar à construção civil, provando grande falha na legislação pertinente, que se encontra, escancaradamente, aliada ao setor especulativo. Por todos estes aspectos, podemos considerar um certo “fracasso do sistema” com relação a vivência quotidiana dos Centros Urbanos e o cuidado com o Meio Ambiente. Mais do que isso, os inúmeros problemas de saúde ocasionados no homem por conta do próprio descaso com a natureza e seus reflexos, reforça, ainda mais, tal fracasso e compila-nos a acreditar que a “dependência do dinheiro” é a principal causa destes problemas, pois com uma economia capitalista, o nível de produção e consumo são largamente incentivados. Ainda que, acontecimentos mundiais como a Teoria de Gaia, o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, Nosso Futuro Comum e Agenda 21 manifestam e confirmam a preocupação com o Meio Ambiente, as ações concretas continuam escassas e reforçam a ideia de que, pequenas ações de cada indivíduo é o meio mais próximo de se conquistar a sustentabilidade e contribuir positivamente tanto para o homem, como para os animais e o Meio Ambiente. Deste modo, as Ecovilas encaixam-se como alternativa mitigadora e garante uma convivência digna a todos sempre em consonância e respeito a natureza. A visita a Ecovila Tibá, em São Carlos-SP, permitiu uma observação concreta do modo de viver dos Ecovilenses e revelou a preocupação e o objetivo comum das Ecovilas: a consciência ambiental que valoriza, além dos seres humanos, a vida de todos os seres vivos. Destarte, foi possível elaborar um projeto de Ecovila que priorize a requalificação e proteção dos recursos naturais existentes em um trecho nas


90

margens do Rio Pardo em Ribeirão Preto – SP. Além da consciência ambiental, o projeto contempla tecnologias de baixo impacto ao meio ambiente, que os Ecovilenses tanto defendem. Dentre as muitas tecnologias implantadas, o Sistema de Agrofloresta implantado entorno de toda a Ecovila, revela uma das grandes possibilidades de se reverter o atual estado depredado do local devido à excessiva monocultura. Em consequência, o sistema de Agrofloresta, além de oferecer alimento, saúde, conforto e matérias primas de construção para o homem, possibilita também, requalificação do solo do local e do Rio Pardo. Esta tecnologia foi realizada com sucesso por Ernest Gosth e reutilizada por muitos Ecovilenses, como a Ecovila Tibá – São Carlos. Além disso, as tecnologias de baixo impacto executadas no projeto, como telhado verde, adobe, bason, tanque de evapotranspiração, etc, indicam, além da grande preocupação com o meio ambiente, a preocupação com os aspectos físicopsicológicos dos usuários, proporcionando conforto e bem estar a todos. Nesse sentido, a pesquisa revela a luta constante dos Ecovilenses, que perpetuam para um caminho em que, a consciência ambiental e social se tornem objetivos comuns, que determinarão a construção de uma sociedade inclusiva e, cada vez mais, autossustentável.


91

REFERÊNCIAS BACHA, M. L.; SANTOS, J.; SCHAUN, A. VII SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia – 2010. 14 f. Disponível em: <http://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos10/31_cons%20teor%20bacha.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2016 BALDIN, S.; COSTA, M. M.; LORENZI, E.S.; PEREIRA, E. B.; SALVARO, E.; VIANA, E. Avaliação de cinco tipos de minicomposteiras para domicílios do Bairro Pinheirinho da Cidade de Criciúma/SC. 2007. 10 f. Artigo Cientifico. Universidade do Extremo Sul Catarinense. Disponível em: <http://www.comscientianimad.ufpr.br/artigos/avaliacaodecinco.salvaro.etall.pdf>. Acesso em: 21 abril 2016. BISSOLOTTI, Paula Miyuki Aoki. Ecovilas: Um método de avaliação de desempenho da sustentabilidade. 2004. 148 f. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/86863> Acesso em 11 nov. 2015 BRANDÃO, M. G. S.; SILVA, O. J. C.; VAZQUEZ, E.G. Bioconstrução: Aplicabilidade no meio rural como forma de desenvolvimento Sustentável e possibilidades de uso no ambiente Urbano. 2009. 10 f. Artigo Científico. Simpósio de Pós-Graduação em Engenharia Urbana. Maringá-PR. Disponível em: <http://www.dec.uem.br/eventos/ii_simpgeu/arquivos/Trabalhos/101.pdf>. Acesso em: 20 abril 2016. BROGNA, Rodrigo Cesar. Avaliação prévia de um paradigma urbano emergente: Ecovila Clareando, Piracaia/SP. 2007. 172 f. Pós-Graduação em Engenharia Urbana. Centro de Ciências exatas e tecnologia. Universidade Federal de São Carlos. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&c o_obra=172331>. Acesso em 28 ago. 2015 CAPRA, F. O que é sustentabilidade. Texto adaptado por Augusto de Franco para a revista Século XXI (número 3, setembro de 1999) do Instituto de Política - foi tirado, com autorização dos editores brasileiros, do epílogo do livro “A Teia da Vida: uma nova compreensão dos sistemas vivos” (Cultrix - Amana-Key, São Paulo, 1997) intitulado “Alfabetização Ecológica. Disponível em: < http://www.rededlis.org.br/textos_download.asp?action=lista&ordena=titulo >.Acesso em: 17 mar. 2016. CENTENA, Cristiano Viégas. Desafios da construção de um plano de desenvolvimento sustentável participativo para assentamento em área de proteção ambiental: notas introdutórias de pesquisa. 2002. 16 f. Artigo Científico. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponível em: <http://revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/viewFile/2035/2670> Acesso em: 27 ago. 2015.


92

COCOZZA, G. P. Sustentabilidade Ambiental: Sistematização Crítica das Novas Proposições Urbanísticas. Dissertação de Mestrado em Engenharia Urbana. São Carlos: UFSCar, 2002. Acesso em: 06 mar 2016. CORBELLA, Oscar; YANNAS, Simos. Em busca de uma arquitetura sustentável para os trópicos. Conforto Ambiental. Rio de Janeiro: Revan, 2003. 305 f. Acesso em: 12 nov. 2015. CUNHA, Eduardo Vivian. A sustentabilidade em ecovilas: Práticas de definições segundo o marco da economia solidária. 2012. 234 f. Tese de Doutorado. Universidade Federal da Bahia. Disponível em: <http://www.adm.ufba.br/ptbr/publicacao/sustentabilidade-ecovilas-praticas-definicoes-segundo-marcoeconomia-solidaria> Acesso em: 06 mar. 2016 FATHY, Hassan. Construindo com o povo: Arquitetura para os pobres. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982. 235 f. Acesso em 13 nov. 2015. FIORI, S. et al. Avaliação qualitativa e quantitativa do reúso de águas cinzas em edificações. Revista Ambiente Construído, Porto Alegre. Acesso 11 mar. 2016. FONSECA, Wellington da Silva; SANTOS, Hortencia Noronha. Coletor Solar com garrafas Pet: Utilizando conhecimento de Termodinâmica como meio de promover a responsabilidade social. 2011. 8 f. Artigo Científico. Universidade Federal do Pará. Disponível em: <http://docplayer.com.br/15919034-Coletor-solar-com-garrafas-petutilizando-conhecimento-de-termodinamica-como-meio-de-promover-aresponsabilidade-social.html>. Acesso em: 07 set. 2016. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. Editora Peirópolis. Peirópolis , SP – 2000. 217 f. Acesso em 13 mar. 2016

__________. Pedagogia da terra: Ecopedagogia e educação sustentável. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. 2001. Acesso: 13 mar. 2016. GALBIATI, Adriana Farina. O gerenciamento integrado de resíduos sólidos e a reciclagem. 2012. 10 f. Artigo Científico. Engenharia Ambiental. Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Disponível em: <http://www.amda.org.br/imgs/up/Artigo_15.pdf>. Acesso em: 22 abril 2016. __________. Tratamento Domiciliar de Águas Negras através de Tanque de Evapotranspiração. 2009. 52 f. Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Ambientais. Disponível em: <file:///C:/Users/Yasmin/Desktop/projeto%20ECOVILA/2016/ARTIGOS%20%20REVI STAS/ADRIANA%20FARINA.pdf>. Acesso em 02 abril 2016.


93

GONÇALVES, R. F. et al (Coord.). Uso Racional da Água em Edificações. Projeto PROSAB. Rio de Janeiro: ABES, 2006. GÖTSCH, Ernst. O renascer da Agricultura. 1996. Rio de Janeiro. Disponível em: <http://aspta.org.br/wp-content/uploads/2014/09/O-Renascer-da-Agricultura.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2016 HOLMGREN, D. Permaculture: Principles & Pathways Beyond Sustainability. Hepburn, Australia: Holmgren Design Services, 2009. Acesso em: 09 mar. 2016 HULSMEYER, Alexander Fabbri. A Ecovila Urbana: uma alternativa sustentável. 2008. 43 f. Monografia (Graduação em Arquitetura e Urbanismo). Universidade Paranaense UNIPAR. Disponível em: <http://revistas.unipar.br/akropolis/article/view/2212/1827> . Acesso em 29 ago. 2015. MARÇAL, Vitor Hugo Silva. Uso do Bambu na Construção Cilvil. 2008. 60 f. Monografia (Monografia em Engenharia Civil e Ambiental) Universidade de Brasília. Disponível em: <http://bambusc.org.br/wpcontent/uploads/2009/05/tratamentobambu_vitor_hugo_marcal.pdf>. Acesso em: 21 abril 2016. MOLLISON, B.; SLAY, R. M. Introdução a permacultura. Tradução por André Luis Jaeger Soares. Brasília: MA/SDR/PNFC, 1998. 204 p. Acesso em 28 ago. 2015. OLIVEIRA, Thaisa Francis César Sampaio. Sustentabilidade e Arquitetura: uma reflexão sobre o uso do Bambu na Construção Civil. 2006. 136 f. Dissertação (Mestrado em Dinâmcas do Espaço Habitado). Universidade Federal de Alagoas. Maceió. Disponível em: <http://www.ctec.ufal.br/grupopesquisa/grilu/Artigos/Sustentabilidade%20e%20Arquit etura%20Uma%20Reflex%C3%A3o%20Sobre%20o%20Uso%20do%20Bambu%20 na%20Constru%C3%A7%C3%A3o%20Civil.pdf>. Acesso em: 21 abril 2016. Parcelamento Do Solo. Lei Municipal 2157 / 2007 – Ribeirão Preto. Disponível em: <https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/J321/pesquisa.xhtml?lei=21377>. Acesso em: 30 abril 2016. PASQUALETTO, Antônio. Ecovila Santa Branca: Alternativa sustentável de moradia. 2008. 23 f. Artigo Científico. Universidade Católica de Goiás. Disponível em: <http://www.ucg.br/ucg/prope/cpgss/ArquivosUpload/36/file/Continua/ECOVILA%20S ANTA%20BRANCA%20- > Acesso em: 27 ago. 2015. PENTEADO, C. L. C.; SANTORO, R. B. Bioconstrução: Utilizando o conhecimento Ecológico para a criação de construções saudáveis. 2009. 16 f . Artigo Científico. XIII Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento


94

Urbano e Regional. Florianópolis. Disponível em: <http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:QqfTsTc8vxQJ:unuhospe dagem.com.br/revista/rbeur/index.php/anais/article/download/2963/2898+&cd=3&hl= pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 19 abril 2016. QUEIROZ, Emiliano Utermohl. A Evolução do Pensamento Frente à Percepção da Natureza. (Edição Paco Editorial). Jundiaí, Paco Editorial: 2013. 77 p. RAINHO, Lúcia Cristina da Silva. As tecnologias ambientais nas ecovilas: um exemplo de gestão da água. 2006. 314 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Universidade Federal do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&c c_obra=41598>. Acesso em: 13 jan. 2016. REBÊLO, Marcelle Maria Pais Silva. Caracterização De Águas Cinzas e Negras de origem residencial e análise da eficiência de Reator Anaeróbio com Chicanas. 2011. 115 f. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Alagoas. Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento. Disponível em: <http://www.ctec.ufal.br/posgraduacao/ppgrhs/sites/default/files/dissertacaomarcelled issertacaomarcellem.pdf>. Acesso em 01 abril 2016. ROSA, Altair. Rede de governança ambiental na cidade de Curitiba e o papel das tecnologias de informação e comunicação. 2007. 176 f. Dissertação de mestrado. Gestão Urbana. Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Disponível em: <http://livros01.livrosgratis.com.br/cp029091.pdf>. Acesso em 17 mar. 2016. ROYSEM, Rebeca. Ecovilas e a construção de uma cultura alternativa. 2013. 246 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social). Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-31072013-114650/ptbr.php>. Acesso em: 29 ago. 2015. SANT’ANA, R. R.; VAZ FILHO, H. F. Bambu na Arquitetura: Potencial construtivo e suas vantagens econômicas. 2013. 24 f. Artigo Científico. Disponível em: <http://www.computacao.unitri.edu.br/erac/index.php/e-rac/article/view/132/172>. Acesso em: 21 abril 2016. SANTOS, S. S. A. Diretrizes para implantação de sistemas de infraestrutura verde em meio urbano: estudo de caso da cidade de Ribeirão Preto – SP. Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR – SP), 2014, 191 f. Acesso em: 26 abril 2016. __________Espaço Educacional Ecológico. Monografia. Presidente Prudente: Faculdade de Ciências e Tecnologia - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FCT - UNESP), 2009, 84 f. Trabalho Final de Graduação. Acesso em: 15 mar. 2016.


95

SILVA, Luis Fernando de Matheus. Viver de forma sustentável ou contribuir para a sustentabilidade do capital? As contradições que permeiam a práxis das ecovilas em tempos neoliberais. 2014. 13 f. Artigo Científico (Doutorado em Geografia Humana) Universidade de São Paulo. Disponível em: <http://www.cantacantos.com.br/revista/index.php/geografias/article/view/365> Acesso em: 10 set. 2015. TAKENAKA, Fátima Oliveira. Avaliação do potencial de geração de energia solar fotovoltaica na cobertura das edificações do Campus I – CEFET-MG, interligado à rede elétrica. 2010. 154 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil). Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/94358/282546.pdf?sequence =1> Acesso em: 11 set. 2016. WEBSITES CARTA DA TERRA. (CNUMAD- Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento). 1992. Disponível em <http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/carta_terra.doc>. Acesso em: 18 mar.2016. Global Ecovillage Network. Disponível em: Acesso em 29 ago. 2015.

<http://www.gen.ecovillage.org>

Good News: Conheça a Ecovila do IPEC em Pirenópolis. 2014. Programa Good News. Rede TV. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZbaVTUX4Zs0>. Acesso em: 19 abril 2016. Green Building Council Brasil. 2007. Disponível em: <http://www.gbcbrasil.org.br/> Acesso em: 28 ago. 2015. Mapa topográfico de Ribeirão Preto-SP. 2016. Disponível em: <http://datageo.ambiente.sp.gov.br/app/?ctx=DATAGEO>. Acesso em: 13 abril 2016. Organização das Nações Unidas <http://nacoesunidas.org/>. Acesso em 28 ago. 2015

ONU.

Disponível

em:

Portal Ecovila Crystal Waters. Disponível em: <http://crystalwaters.org.au/>. Acesso em: 15 mar. 2016 Vida em Sintropia. Edição especial COP 21. Paris. 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=gSPNRu4ZPvE>. Acesso em 13 mar. 2016. WWF – Brasil. Organização não-governamental brasileira. 1996. Disponível em: <http://www.wwf.org.br>. Acesso em: 30 abril 2016.


96

APÊNDICES 01/05 - QUESTIONÁRIO PARA MORADORES DA ECOVILA TIBÁ – SÃO CARLOS/SP Nome: Rodrigo Cordelini Sexo: masculino

Profissão: Idade: 38

Tempo como morador: 9 meses

Origem (de onde veio): Cotia-SP

1- O que é morar em uma Ecovila? É compreender que, apesar de todos os estímulos comerciais contrários, um dia-adia coletivo é muito mais interessante do que um isolamento familiar. Viver no coletivo te ensina a ajudar. Se isolar te ensina a consumir.

2- Existem ganhos socioambientais? Sim. Quando você trata seu próprio esgoto, limpa, separa e vende seus próprios resíduos, semeia, planta, cuida e colhe, você diminui drasticamente o impacto de consumo na sociedade atual. As ecovilas caminham para a auto-suficiencia. O que é um contra-senso para a tendência de vida atual (consumir para se sentir bem).

3- Quais as tecnologias melhores se adaptam com a localidade da Ecovila? Energia solar para AGUA QUENTE e num futuro próximo, quando o custo de implantação diminuir, as placas solares fotovoltaicas. Há também espaço para geração de energia através de turbinas eólicas em alguns pontos da ecovila onde o vento é mais forte.

4-Como é a vida em uma comunidade? Uma vida menos egoista. Em um ambiente coletivo você perde a capacidade de tomar decisões sozinho. Você aprende a ceder, a aceitar algo que você não concorda. Funciona como um espelho. Você se enxerga nos outros.

5- O que o (a) levou a vir morar na Ecovila?


97

A vontade de abandonar uma vida consumista e vazia de sentimentos. Eu procuro numa ecovila para me alimentar de afeto, de amor (sentimentos cada vez mais raros para quem decide acumular dinheiro)

6- Quais as vantagens e desvantagens que você percebe em relação às bioconstruções existentes na Ecovila com as construções convencionais (alvenaria de tijolo/cimento) Vantagens: custo baixo, utilização de materiais existentes na propriedade, trabalho em grupo (mutirões) Desvantagens: dependência de mutirões para o desenvolvimento da obra, demora maior para terminar a obra, necessidade de mão de obra especializada escassa.

7-Quais são suas atividades na Ecovila? Compra coletiva de alimentos (assentamentos, mercado), manutenção das áreas uteis (cortar a grama e roçar), planejamento das vivencias da comunidade, criação de identidade visual da comunicação das vivencias.

8-Qual sua opinião sobre as tecnologias construtivas nos seguintes aspectos: manutenção, custo x benefício, obtenção de conforto ambiental, qualidade de vida. A manutenção é algo importante nas bioconstrucoes. Diferentemente do que acontece nas construções de alvenaria, as casas de barro, adobe, super adobe, bamboo, etc necessitam de manutenção constante. O custo beneficio das construções naturais depende do ponto-de-vista de quem esta construindo.

9- Existe algum aspecto em particular que você acredita que possa contribuir para a Ecovila? Se sim, qual e como? Acredito que eu possa contribuir com a organização e o planejamento das vivencias de capacitação. Tenho ampla experiência em comunicação e publicidade, e posso ajudar a Tibá a criar novas vivencias para receber os hospedes interessados.

Nome: Bárbara Vicentini Oliveira Sexo: Feminino

Idade: 21 anos

Origem (de onde veio): Botucatu

Profissão: Tempo como morador: 6 meses


98

02/05 - QUESTIONÁRIO PARA MORADORES DA ECOVILA TIBÁ – SÃO CARLOS/SP Nome: Fernanda Martin Catarucci

Sexo: Feminino

Profissão: Fisioterapeuta Acupunturista / Pesquisadora

Idade:

Tempo como morador: 02 anos

34 anos

Origem (de onde veio): São Paulo/SP

1 - O que é morar em uma Ecovila? Viver nesta ecovila é praticar a ética da permacultura: cuidar das pessoas, cuidar da terra e repartir excedentes.

2 - Existem ganhos socioambientais? Comemos melhor com alto rendimento, baixo custo e com pouco impacto ambiental. Repasso alguns pontos trabalhados na pétala do Manejo da Terra e da Natureza que tornam estes ganhos possíveis.

1) Jardinagem bio-intensiva: uso do composto, cavação dupla, plantas companheiras e controle natural de pestes para produzir o máximo de comida numa área mínima. 2) Jardinagem Florestal: produção de alimento com árvores, plantas perenes e anuais em um sistema que imita a floresta natural. 3) Salvando Sementes – Banco de Sementes: Coletando e armazenando sementes, com alvo frequente de manter certas linhagens. 4) Agricultura Orgânica: Agricultura comercial que usa fertilizantes e métodos de controle de pestes naturais. 5) Biodinâmica: um sistema de agricultura orgânica e jardinagem baseada no trabalho de Rudolf Steiner, que respeita e utiliza os ciclos da natureza para o plantio. 6) Plantio Natural: um sistema japonês de agricultura orgânica envolvendo o mínimo ou nenhum uso de maquinário e manejo animal, muito notavelmente associado com Masanobu Fukuoka. 7) Linha chave para coleta de água: um sistema de análise de paisagem, que capta água e desenvolve solos usando represas, canais, arando e condicionando o solo, desenvolvido por P.A. Yeomans


99

8) Plantio em Seqüencia Natural: Um sistema de gabiões, revegetação e valas de infiltração para restaurar a saúde e a produtividade de planícies alagadiças, desenvolvida por Peter Andrews. 9) Agrofloresta: floresta sustentável que usa espécies mistas, rotações longas, coleta de mínimo impacto e regeneração natural em florestas selvagens ou plantadas.

3- Quais as tecnologias melhores se adaptam com a localidade da Ecovila? Seguindo a definição do dicionário em que tecnologia é uma teoria geral e/ou estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da atividade humana (p.ex., indústria, ciência etc.). A permacultura utiliza o conhecimento antigo com a tecnologia moderna. Em cada uma das sete pétalas que compõem esta flor temos estes dois pilares trabalhando juntos. Na gestão, por exemplo, temos as rodas do coração para resolução de conflitos associado ao uso do Whatsapp para nos comunicarmos com moradores que estão na cidade.

4-Como é a vida em uma comunidade? Cada comunidade tem um formato de organização. Na Tibá a vida comunitária é intensa, temos equipes que fazem o Cuidado Coletivo semanal, que inclui cozinhar para os outros moradores, e a divisão em grupos de trabalhos relacionados a cada uma das pétalas da permacultura: gestão, financeiro, terra, espaços

construídos,

tecnologias

renováveis,

educação/cultura

e

saúde/espiritualidade.

5- O que o (a) levou a vir morar na Ecovila? O sonho de que viver com mais autonomia e de forma sustentável era possível se me unisse com mais pessoas que acreditassem na mesma coisa. ``Sonho que se sonha só é só um sonho. Sonho que se sonha junto é realidade´´. Raul Seixas

6- Quais as vantagens e desvantagens que você percebe em relação às bioconstruções existentes na Ecovila com as construções convencionais (alvenaria de tijolo/cimento)?


100

Aqui na ecovila temos construções convencionais realizadas antes da compra da terra e construções que seguem princípios da bioconstrução feitas depois da aquisição do sítio. Na experiência que tivemos aqui com bioconstrução, a maior desvantagem foi à dificuldade em encontrar pessoas próximas que conhecessem a técnica tanto para orientar como para ajudar a fazer. A vantagem na construção foi a participação no processo e o baixo impacto gerando menos resíduos. Também é perceptível que as casas de bioconstrução são mais térmicas do que as de alvenaria.

7-Quais são suas atividades na Ecovila? Eu participo do cuidado coletivo as sextas-feiras e dos grupos de trabalho das pétalas da

gestão, finanças,

saúde/espiritualidade,

espaços construídos e

tecnologias renováveis.

8-Qual sua opinião sobre as tecnologias construtivas nos seguintes aspectos: manutenção, custo x benefício, obtenção de conforto ambiental, qualidade de vida. As bioconstruções são relativamente novas, não tenho como avaliar a manutenção. Os custos são similares, porque como estamos em área rural gastamos mais com o transporte do material e para conseguir pessoas para ajudar na execução das obras. Mas os benefícios são maiores, porque gera menos impacto ambiental e traz mais conforto térmico.

9- Existe algum aspecto em particular que você acredita que possa contribuir para a Ecovila? Se sim, qual e como? A Ecovila não está separada do resto do planeta. Cuidados locais sobre o que consumimos, interferem e produzem transformações globais. Por exemplo, ao construir casas com tijolos ecológicos que não precisaram ser queimados, deixamos de derrubar árvores em algum local próximo a nós e produzir dióxido de carbono (CO2) para todo planeta.

03/05 - QUESTIONÁRIO PARA MORADORES DA ECOVILA TIBÁ – SÃO CARLOS/SP


101

Nome: Bruno Scivoletto Sexo: Masculino

Profissão: Aprendiz na Ecovila Tibá Idade: 28 anos

Tempo como morador: 1 ano

Origem (de onde veio): São Paulo/ São José dos Campos/ São Carlos

1- O que é morar em uma Ecovila? É viver em um coletivo orgânico, estar sempre aberto a diferentes opiniões e saber encontrar o equilíbrio sempre que possível.

2- Existem ganhos socioambientais? Muitos.

3- Quais as tecnologias melhores se adaptam com a localidade da Ecovila? Construção com materiais disponíveis como terra e bambu, outros materiais reutilizados como garrafas de vidro, madeiras e tijolos de demolição. 4-Como é a vida em uma comunidade? Aprendizado e evolução constantes. 5- O que o (a) levou a vir morar na Ecovila? As pessoas. 6- Quais as vantagens e desvantagens que você percebe em relação às bioconstruções existentes na Ecovila com as construções convencionais (alvenaria de tijolo/cimento)? Custos, autonomia e aprendizado, disponibilidade de materiais, conexão com a comunidade pois em bioconstrução é muito utilizada a tecnologia social de mutirões.

7-Quais são suas atividades na Ecovila? Trabalho na área de manutenção dos espaços e bioconstruções.

8-Qual sua opinião sobre as tecnologias construtivas nos seguintes aspectos: manutenção, custo x benefício, obtenção de conforto ambiental, qualidade de vida. Bioconstrução é superior em custo x beneficio, em conforto ambiental e em qualudade de vida, em relação às construções ambientais. Normalmente a


102

bioconstrução exige mais manutenção do que as construções convencionais, porem, as atividades de manutenção em bioconstrução são muito mais agradáveis e envolvem contato com materiais naturais.

9- Existe algum aspecto em particular que você acredita que possa contribuir para a Ecovila? Se sim, qual e como? Sim. Acredito que todas as pessoas possuem aspectos para contribuir. No meu caso tenho facilidade para lidar e agregar as pessoas e uma boa visualização do lado técnico para contribuir. 04/05 - QUESTIONÁRIO PARA MORADORES DA ECOVILA TIBÁ – SÃO CARLOS/SP Nome:

Rebeca Remp

Sexo: Feminino

Profissão: Idade:

22

Tempo como morador: 2 meses

Origem (de onde veio): Araras-SP

1- O que é morar em uma Ecovila? É viver o novo a cada amanhecer, compartilhar e partilhar experiências de diversas formas, conhecer outras culturas, costumes.

2- Existem ganhos socioambientais? Sim

3- Quais as tecnologias melhores se adaptam com a localidade da Ecovila? Tecnologia eólica, solar.

4-Como é a vida em uma comunidade? Para mim está sendo incrível morar nesta comunidade, me sinto viva e muito feliz em poder estar fazendo parte desta família, me conhecendo melhor a cada dia, sabendo os meus limites que engloba os limites do todo, não penso só em mim, mas sim no coletivo, o que é bom para mim é para os meus irmãos.

5- O que o (a) levou a vir morar na Ecovila?


103

A vontade de viver de maneira simples e seguir um caminho diferente.

6- Quais as vantagens e desvantagens que você percebe em relação às bioconstruções existentes na Ecovila com as construções convencionais (alvenaria de tijolo/cimento)? A vantagem é nenhum impacto para terra, pois reciclamos aquilo que se é jogado fora, não vejo desvantagens.

7-Quais são suas atividades na Ecovila? Sou aprendiz na pétala da terra, manejamos a horta para chegarmos na auto suficiência.

8-Qual sua opinião sobre as tecnologias construtivas nos seguintes aspectos: manutenção, custo x benefício, obtenção de conforto ambiental, qualidade de vida. Baixo custo e sem impacto para a terra, qualidade e conforto de vida excelente.

9- Existe algum aspecto em particular que você acredita que possa contribuir para a Ecovila? Se sim, qual e como? Eu estando aqui e sendo aprendiz da pétala da terra é a contribuição que eu tenho a oferecer e ensinar música aos interessados. 05/05 - QUESTIONÁRIO PARA MORADORES DA ECOVILA TIBÁ – SÃO CARLOS/SP

1 - O que é morar em uma Ecovila? Para mim morar em uma ecovila diz respeito à uma vida em comunhão com a natureza, com as pessoas e suas diversidades, com formas de troca mais justas e com formas alternativas de cuidar da água, da terra e da moradia que agridam menos o ambiente.

2 - Existem ganhos socioambientais? Sim. Tudo o que fazemos é com a intenção de transformar socialmente e ambientalmente nossa realidade.


104

3- Quais as tecnologias melhores se adaptam com a localidade da Ecovila? Tecnologias que são favorecidas pelo sol intenso (como o forno e a desidratadora solar) e por ventos fortes (por se situar em uma localidade alta).

4- Como é a vida em uma comunidade? A vida em uma comunidade é muito dinâmica, enriquecedora e transformadora.

5- O que o (a) levou a vir morar na Ecovila? Já tinha uma conexão com as pessoas e a comunidade, especialmente depois de um evento de agroecologia (Enga) que aconteceu há 2 anos. O que me levou a vir morar aqui foi essa busca por algo mais sincero e mais real dentro do que acredito para mim.

6- Quais as vantagens e desvantagens que você percebe em relação às bioconstruções existentes na Ecovila com as construções convencionais (alvenaria de tijolo/cimento)? Como vantagens enxergo claramente a redução dos impactos ambientais, consequência da grande redução do lixo gerado das bioconstruções e também o reaproveitamento dos materiais (fatores que integram a permacultura). Temos como desvantagem a falta de pessoas com o conhecimento técnico específico na área e a nossa localização geográfica que, muitas vezes dificulta e encarece a mão de obra para as bioconstruções.

7-Quais são suas atividades na Ecovila? Faço parte da Pétala da Terra, onde, como aprendiz, trabalho no cuidado de tudo o que envolve a terra: os planejamentos, a horta, os sistemas agroflorestais, o viveiro, o galinheiro, os espaços coletivos, o camping... além do cuidado com o coletivo que acontece uma vez por semana para cada pessoa e envolve o feitio das refeições do dia, a organização e harmonização do espaço.

8-Qual sua opinião sobre as tecnologias construtivas nos seguintes aspectos: manutenção, custo x benefício, obtenção de conforto ambiental, qualidade de vida.


105

Já que as tecnologias construtivas envolvem uma grande autonomia por parte da pessoa que está construindo, sinto que facilita o processo de manutenção, pois ela saberá a disposição e localização dos elementos da construção, o tipo de material a ser usado etc. Os impactos ambientais são claramente reduzidos, sendo um grande benefício, mas o custo pode ser o mesmo que de uma construção convencional devido por exemplo à busca externa dos materiais necessários, o que faz encarecer a obra.

9- Existe algum aspecto em particular que você acredita que possa contribuir para a Ecovila? Se sim, qual e como? Não.


106

ANEXO - PROJETO Prancha anexa ao documento fĂ­sico.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.