R$12,00
009
EDITORIAL
O MEU AMOR
Chegamos ao número nove de YAY! Hype Magazine. Nove é o meu número da sorte. Quem tem amor tem sorte? Amor é sorte? Eu sei que tenho muito amor para distribuir para minha família, amigos e leitores. Amo a moda e amo criar essa linguagem com todos que contribuem com cada edição de YHM! Uma edição vermelha e apaixonante. Aquela paixão que dá febre. Já sentiu? Fomos a Inhotim, a maior galeria de arte contemporânea do mundo, onde tivemos uma experiência de primeiro beijo. Temos os casais mais românticos, ou não, da literatura pela perspectiva do jornalista Francisco Lima; e visto para todos os destinos do coração de nossos amigos catalogados pela turismóloga Sanmya Beatriz. Com açúcar e com afeto criamos esta edição para você se apaixonar ainda mais por nós! Um beijo, Irakerly Filho editor chefe
ONLINE
yhm.com.br
facebook.com/revistayay Twitter @RevistaYAY Instagram @YAYHypeMagazine #YAYHypeMagazine #SiteYAY #Magenta
EROS E PSIQUE, FRANÇOIS GÉRARD, 1798
“SÓ LOUCO AMOU COMO EU AMEI.” O AMOR É O SENTIMENTO MAIS COMENTADO PELAS PESSOAS, RELIGIÕES E CIÊNCIA E NESTA EDIÇÃO DA YAY! HYPE MAGAZINE TEMOS TRÊS PONTOS DE VISTA: DA IGREJA CATÓLICA, DA PSICOLOGIA E DO CANDOMBLÉ. PADRE AMADEU MATIAS, CÁSSIO MIRANDA E PAI OSCAR DE OXALÁ RESPONDERAM AS NOSSAS QUESTÕES SOBRE O AMOR E A SUA REPRESENTAÇÃO PARA CADA ÁREA.
ENTREVISTA texto e fotos IRAKERLY FILHO
Padre Amadeu Matias é sacerdote há 28 anos, estudou teologia em Roma, foi reitor do seminário menor de Teresina e vigário da Catedral de Nossa Senhora das Dores até o começo de 2014. Como a Igreja Católica busca fazer a união entre homem e mulher no sacramento do casamento? A maneira que as pessoas tenham uma ligação tanto fraternal como sexual. A Igreja Católica entende que o ser humano é feliz quando ama e quando é amado. Para nós o ser humano é chamado a amar. Porque nós entendemos que o modelo de ser humano para nós é Jesus Cristo. É interessante essa compreensão, querendo sermos humano nós precisamos viver a humanidade de Jesus; e ele viveu na perspectiva do amor. Claro que nessa perspectiva não houve o amor de homem e mulher, na nossa compreensão bíblica. Jesus viveu o amor de dar a vida, de entregar. Por isso mesmo nós falamos do homem e da mulher, nós queremos que se amem como Jesus amou. O sacramento do matrimônio do catolicismo é justamente o amor de Cristo pela humanidade. Que homem e mulher, quando se casam, assumem viver na sua vida este tipo de amor, um amor que é entrega. Um amor que a felicidade consiste em dar mais que receber. Um amor que do ponto de vista humano tende ao lado erótico, e a Igreja entende que o casamento só é consumado quando acontece o ato sexual, mas ao mesmo tempo esse amor erótico se fundamenta no amor que também pode se viver sem o ato sexual, para que haja fidelidade, indissolubilidade, essa doação e entrega. Nós entendemos que o amor humano se torna sinal do amor divino quando amamos como Jesus amou; e o amor de Jesus é que quem quiser ganhar a vida terá que perdê-la. Eu gostaria que o senhor comentasse o amor de Jesus para com a humanidade. O amor de Jesus para com a humanidade é o sentido da vida de nosso Senhor. Ele até disse “Como vos amei também deveis amar uns aos outros.”. O amor de Jesus para com a humanidade
é o amor de servo. É interessante isso, do ponto de vista bíblico, Jesus Cristo como enviado de Deus torna-se um escândalo, pois os judeus esperavam um rei com domínio, com poder, autoridade. Que ele escolhesse um caminho para mostrar a sua grandeza enquanto poder divino, e Jesus mostra o poder de se colocar em último lugar, o poder de amar, o poder da cruz. E por isso Jesus ama nesta perspectiva do servo que nosso Senhor assumiu na sua vida e quando nós falamos do amor cristão, falamos do amor que prefere a humanidade e Jesus vence o ódio, vence o mal. Jesus vence não sendo violento, mas oferecendo o rosto para quem batia na sua face. Jesus vence o mal com o amor. Então, o amor de Jesus para com a humanidade é a salvação, no qual Ele nos tira do caminho do mal, do pecado e da morte nos colocando no caminho do reino de Deus, que é o caminho do perdão, da fraternidade, da justiça. Vivemos em um tempo de notícias que nos assustam pela falta de amor entre nós. Como a Igreja pode nos ajudar? O Papa Francisco tem chamado atenção da humanidade, em modo especial da Igreja, para o risco do espirito mundano. Vossa Santidade quer que nós compreendamos que estamos no mundo levando a alegria de ser de Cristo. Na realidade, esse é o
grande desafio do cristão: de apresentar o amor de Deus ao mundo, de uma forma que mesmo estando no mundo, a gente se coloque numa atitude de serviço ao mundo e não numa atitude de quem se iguala. Não numa atitude de quem assume as feições do mundo. Dizer isso é compreender que nós temos um tesouro e é esse tesouro e que somos chamados a testemunhar. O Papa tem lembrado à humanidade inteira a importância de nos compenetrarmos na nossa condição de cristãos e de entender que nós temos um serviço a prestar a humanidade. Este serviço começa com o testemunho da nossa alegria de ser de Cristo, que nós mostremos ao mundo o amor de Deus através desse testemunho de felicidade, de alegria e de paz que nós vivemos. Na verdade, o mundo precisa de gentileza. Por exemplo, eu vejo no trânsito que as pessoas querem se sobrepor umas às outras nos lugares sem sinalização de semáforo. Se não tem gentileza, ninguém anda, ninguém convive, ninguém se sente bem. É importante reconhecermos que somos testemunhas do amor de Jesus e que este amor é um serviço. Nós não estamos procurando o primeiro lugar no mundo, nós estamos procurando o lugar de quem serve. Se nos colocarmos na atitude de quem serve, vamos atrás dos presos para sermos para eles uma presença de bondade, de amor ao invés de termos uma atitude de vingança, de maldade, de querer que eles morram. Vamos atrás dos drogados e ser para eles uma presença de apoio, pois é um amor gratuito. O cristão ama de maneira gratuita. Nós não amamos porque queremos algo em troca. Nós amamos porque já recebemos o grande tesouro que é o amor de Deus na nossa vida. Professor Cássio Soares Miranda é psicólogo com doutorado em psicanálise e letras e ministra aulas de psicologia da educação na Universidade Federal do Piauí – UFPI. Gostaria que você comentasse a relação de amor entre homem e mulher na contemporaneidade e a linguagem da ideia de amor. Acho importante nós destacarmos primeiro que as parcerias amorosas, não quero centrar entre homem e mulher, mas nas multiplicidades de parcerias possíveis que a vida contemporânea tem, do ponto de vista clínico, amar é uma decisão. Você decide amar alguém. E o segundo aspecto que amar é um trabalho. Sãos nos ofertada uma multiplicidade de encontros e diante dessa multiplicidade de corpos que temos para escolher, amar é uma decisão. “Eu escolhi amar aquele corpo”. A parceria amorosa nunca é construída isenta dessa ideia de ideal, de uma certa construção que o sujeito faz entorno daquilo que é o seu objeto de amor. Daquilo que supõem-se que irá me completar. A sensação de completude é apenas uma ideia. Ninguém completa ninguém, não existe essa ideia. Mas eu trago uma ideia de que o outro irá me completar porque o amor tem duas facetas. Há o amor enquanto falta e há o amor enquanto suplência. Eu encontro no outro algo que não se prepara, se programa. Tem a ideia grega de encontro e ela também pode acontecer na internet. Você pode conhecer 200 pessoas na internet e ninguém te chama atenção, de repente você encontra alguém que vai se destacar para você. Mas esse destacar-se tem algo a ver com você. Eu amo no outro
aquilo que também é meu de algum modo. Você ama alguém com quem você se identifica ou quem você admira qualidades que você não tem? Tem um poema do Carlos Drummond que eu gosto muito que chama “As 100 razões do amor.”, que faz um jogo com a sonoridade da palavra sem, da inexistência. O amor tem razões que eu sou capaz de listar em uma pessoa: eu amo porque é um pai dedicado, porque é uma mãe carinhosa, porque transa bem comigo, porque me entende, porque me bate. Enfim, eu sou capaz de criar uma lista, mas também o amor não tem razões. Ele acontece. Esse amor simplesmente acontece na nossa cabeça? Como funciona? Depende do que você chama de cabeça. A neurociência tem tentado encontrar os labirintos do amor do ponto de vista cerebral, de como acontece essa ideia. Na realidade ela não consegue porque o amor ultrapassa esse conjunto de ramificações nervosas, ele está num para além de questões orgânicas e biológicas. Entra no jogo do amor uma questão neuroquímica? Entra. Quando estou amando há uma série de modificações. A paixão é um bom exemplo disso por ser algo mais fulminante. Você fica sem sono, tem palpitação quando a pessoa chega, você não sabe o que fazer, é uma certa reação orgânica mesmo. Acontece um curto-circuito da ordem psíquica e o amor é da ordem do encontro. Eu gostaria que você comentasse a falta de amor entre as pessoas.
Como Freud coloca, nós temos o amor maduro, ele nomeia assim, que é como um túnel e pelas pontas entram a afetividade e a sensualidade, uma em cada, e no meio do percurso as duas partes se encontram. Não se tem amor sem sexo e afeto. Como a cultura popular afirma, amor sem sexo é amizade e sexo sem amor é vontade. Todas as relações se estabelecem no campo afetivo, eu ter uma amizade com alguém se estabelece na dimensão terna. As relações sociais são ternas. Eu não sei se é uma ausência da relação terna ou uma mutação dessas relações. Há uma intolerância maior das pessoas, a tolerância falha porque falta palavras. Não fazemos amor sem palavras assim como não fazemos relações sem palavras. Qual seria a proposta para que as pessoas voltassem a se amar? Tem uma música do Kid Abelha que fala: “ainda encontro a fórmula do amor.” Ela é esperançosa e otimista. Porém, nas parcerias amorosas não existe uma fórmula do amor, a não ser a que amar é uma decisão e amar é trabalho. Isso também se aplica as relações de um modo em geral. Em qualquer que seja a parceria, ela só é possível através das palavras. Volto a repetir, não se faz amor sem palavras. Pai Oscar de Oxalá é a primeira pessoa feita santo por uma equipe da Ilê Axé Yá Nossó Oká, popularmente Casa Branca, a casa mais antiga de candomblé no Brasil, no estado do Piauí e desde 1988 tem o seu próprio terreiro em Teresina. Como é a relação de amor dos orixás com os seus filhos? O amor hoje está muito fragilizado, principalmente dentro do lar. Infelizmente a palavra amor está tão saturada que nós não encontramos essa união, essa paz. Por isso que quando falamos em amor vemos que os nossos jovens todos precisando exatamente desse amor que não encontram dentro do lar. Mas a palavra amor é uma palavra muito bonita, muito forte. Existe o amor também na fidelidade. São duas palavras fortes: amor e amigo. O amor quando ele existe é muito bonito e nós do candomblé que cultuamos a vida, luz e a natureza somos a favor do amor e da paz. Na relação dos orixás com seus filhos eles trazem a paz e o amor para estes. Se tudo dependesse somente dos orixás, acredito que o mundo seria muito diferente pois orixás são a luz e a vida. As pessoas vêm muito ao seu encontro pedir um auxílio no amor? Com certeza! Os búzios têm revelado muito, e independente das relações e dos problemas que percebemos no quesito amor, é visível que as pessoas estão buscando o amor, a fidelidade, o respeito. Engraçado que outro dia estava pensando comigo mesmo e percebi que não são somente as mulheres que estão em busca do amor. Sou muito procurado também por homem e por rapazes procurando uma união. Essa procura é mais de homem ou mais de mulher? Pode-se considerar que seja a metade. Depois que o senhor joga os búzios para a pessoa, como ela deve proceder para buscar o amor?
No candomblé a gente não muda o destino. Mas com a fé e com o amor e com o conhecimento dos trabalhos com os orixás a gente modifica a vida das pessoas. Muitas vezes dentro dos relacionamentos tem algo que não é encontrado, mal interpretado. Então, temos mais facilidade de fazermos uma ligação positiva. Dentro da religião do candomblé tem o ritual do casamento. Gostaria que o senhor comentasse um pouco sobre ele. O candomblé é uma igreja como qualquer outra. É uma religião que veio dos escravos e dos índios e pela história é a primeira religião. O casamento na nossa religião não é reconhecido (pela lei) por falta de uma compreensão de afirmar a fé africana. Mas dentro dos terreiros de candomblé quando nós fazemos o santo de alguém, ou que alguém é adepto do candomblé, não pode haver a união das pessoas que são filhas do mesmo pai de santo ou da mesma mãe de santo. No momento que você entra no candomblé e você tem um relacionamento temos que saber separar, pode até conviver no mesmo terreiro, você pode ser meu filho e a sua parceira ser filha de outra pessoa, assim vocês passam a ser irmãos, então não pode dois irmãos se relacionar. Mas se você se for da casa, com essa separação nós podemos celebrar esse matrimônio.