4 minute read
perfil do jogador
O botonista que salva vidas!
Antes de falarmos do futebol de botão, conte um pouco de sua trajetória profissional trabalho no SAMU.
Advertisement
Quando comecei a trabalhar, eu não tinha uma profissão. Casei jovem e tinha muitas responsabilidades. Portanto, eu não escolhia emprego, mas logo descobri que gostava de atender o público. Passei a pensar no curso de enfermagem e fui incentivado por um amigo que estava estudando. Após algum tempo, ele já estava trabalhando na profissão. Passei inicialmente a incentivar a minha esposa a fazer o curso e ela se interessou. Fiz sua inscrição e, no dia em que as aulas iriam começar, ela desistiu. Fui até a escola para saber o que fazer e o diretor informou que não devolveria o dinheiro. Disse, então, para colocar o meu nome no lugar dela e que eu iria fazer o curso. E assim foi. Levei muito a sério o curso e tive bom desempenho na parte teórica, mas durante a fase do estágio, foi bastante difícil. Muitos alunos pensavam em desistir. O contato com pessoas sofrendo e pacientes entubados não é fácil e nem todos estão preparados. Decidimos nos ajudar mutuamente e superamos o primeiro impacto.
Nome do jogador: Fábio Cerdan
Time do coração: Flamengo
Time de botão preferido: Flamengo do Tri de 55
Primeira participação: 29/02/2018
Desempenho: 48 vitorias, 71 empates e 139 derrotas Gols: 233 gols marcados e 399 gols sofridos,
Fabio Cerdan, que conquistou o título de melhor jogador do ano de 2022, conta como é sua rotina de trabalho no SAMU e como se apaixonou pelo futebol de botão
Ao final do curso, a prefeitura de São Paulo abriu um concurso para auxiliar de enfermagem e dividia meu tempo entre o trabalho voluntário que comecei a fazer no Hospital Fundação de Santo André durante as manhãs e a preparação para o concurso no período da tarde. Estudava oito horas por dia. Tive 84% de aproveitamento e, após seis meses de espera, fui chamado para assumir a vaga.
Conte uma experiência marcante que viveu no SAMU.
Presenciei um atendimento que lembra uma história de cinema. Fui acionado para atender que estava com dor no peito. Eu e minha equipe chegamos em menos de cinco minutos. Ao encontrar paciente sentado na cama na companhia da esposa e filha, ele apresentava todos sinais clássicos do infarto: face e tórax tomados por vermelhidão, dor intensa e gritos de agonia que o impossibilitava de se comunicar. A primeira atitude era solicitar o apoio do médico, mas fui informado que ele não estava disponível. Era a minha equipe que tinha que resolver. O paciente estava sentado na beira da cama com dor agonizante e gritando. Sabia que se o movimentasse para a cadeira de rodas, ele iria entrar em parada cardíaca. E cada minuto que você espera para tomar uma decisão agrava o estado do paciente.
Como o hospital São Camilo era na rua da casa dele, decidimos removê-lo imediatamente. Para isso, disse ao paciente: “não mexa nenhum músculo, nós vamos colocá-lo na cadeira de rodas.” Assim conseguiríamos evitar que entrasse em parada cardíaca. Mesmo assim, ele teve a parada. Descemos pelo elevador rapidamente. O motorista já estava a postos com a maca e o desfibrilador automático. Entramos na ambulância e o desfibrilador começou a monitorar o paciente e antes, de o equipamento terminar a avaliação, chegamos no hospital. Durante 30 minutos a equipe médica tentou recuperá-lo, mas sem sucesso. A médica anunciou, então, o óbito, e pediu para a fisioterapeuta que estava auxiliando a desligar o respirador e extubá-lo.
A frustação era geral. Mas, de repente, o paciente começou a apresentar movimentos respiratórios. Gritei que ele ainda estava vivo, como movimentos respiratórios. O paciente foi levado rapidamente para a UTI cardiológica em estado grave. No final daquele dia, o filho com quem o paciente não falava havia dois anos foi visitá-lo. Depois da visita, esse filho foi ao térreo conversar com a mãe, mas na sequência foi informado que o pai havia falecido. Prefiro pensar que o paciente precisava de mais algumas horas de vida para se despedir do filho. Em dias como esse você precisa de uma válvula de escape, e é aí que entra o botão na minha vida.
Quando você começou a jogar botão? Conte um pouco como tudo começou.
Eu comecei a jogar botão aos 5 anos. Minha mãe vendia roupas por catálogo da Hiroshima e foi até a casa casa de uma cliente dela. Ela me levou e conheci um garoto que me chamou para jogar botão com ele, Fiquei apaixonado. E claro que perdi as duas partidas (risos). Certo dia minha mãe entrou numa loja e perguntou sobre futebol de botão e o campo, Quando chegou o meu aniversário, meu pai disse que o Papai Noel havia passado em casa e os meus presentes estavam na sala. Saí correndo e encontrei o Estrelão e quatro times bola gol: Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Cruzeiro. Aí virou paixão. Na adolescência mudamos para um apartamento e o meu pai sempre me dava times novos. Um que me marcou muito foi o do Santos da Gulliver, de três tamanhos: dois zagueiros grandes quatro meio-campistas médios e três atacantes. Eu só jogava com ele. Até que um dia meu pai me presenteou com a camisa do Leão do período em que ele jogava no Corinthians. Foi mandada fazer de linho. Na época, só eu e o leão tínhamos essa camisa. Eu vivia correndo na rua de gente que queria roubar a minha camisa. Nesse mesmo aniversário, meu pai me deu campo oficial com três times da Kigol: Brasil, França, e Suíça, além de um par de través. Foi quando eu conheci a bolinha de lã e o campo oficial. Mas eu prefira jogar no meu quarto do apartamento e no banheiro. O campo ficava no quarto dos meu pais, atrás da penteadeira, e era difícil de pegar... Eu disputava campeonatos com o pessoal do meu prédio e sempre vencia os campeonatos. Tinha um pessoal mais velho, na fase do Exército, que fazia campeonatos e eu não era convidado. Um deles era o Dorival, de quem nin-