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Uma Cosmovisão Cristã da Ciência

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Apresentação

Apresentação

Uma Cosmovisão Cristã da Ciência

A ciência sem a religião é manca - a religião sem a ciência é cega. Albert Einstein. Não há sabedoria, nem inteligência, nem mesmo conselho contra o SENHOR (Provérbios 21.30).

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Cada pessoa tem as suas crenças acerca do mundo ou uma “visão de mundo” e através delas toma as suas decisões diárias. O cristianismo é uma cosmovisão e o cristão é alguém que olha para o mundo a partir da sua fé. A base desta cosmovisão é a revelação de Deus nas Escrituras Sagradas, que traz respostas para todas as áreas da vida humana e não somente da religião. Os dois objetivos da cosmovisão cristã são: entender o mundo e toda a sua realidade da perspectiva de Deus e viver de acordo com a vontade de Deus.

Infelizmente, fé e ciência mantêm um relacionamento tumultuado, alternando amor e ódio. Se a ciência descobre algo que ameaça o relato bíblico, ela se torna uma inimiga. Por outro lado, se a ciência descobre algo que confirma o relato bíblico, ela passa a ser amiga e um forte argumento de comprovação de que a Bíblia é a verdade. De ambos os lados, cientistas e apologistas da fé usam argumentos conforme os seus interesses, com o objetivo de enaltecer ou desprezar uns aos outros.

Este conflito é alimentado hoje por duas visões de mundo: o teísmo e o naturalismo. O teísmo é a crença de que existe um Deus pessoal e transcendente que criou o universo e o sustenta de forma providencial. Deus é

a origem última de todas as coisas. Nesta perspectiva, a ciência não é prejudicada pela fé. O naturalismo é a crença de que a natureza é tudo que existe e que causas naturais sozinhas explicam tudo que existe. Logo, a fé se opõe à pesquisa e ao conhecimento científico.

Esta dicotomia entre religião e ciência, entre conhecimento subjetivo e objetivo, estimula os cristãos a reduzir os seus valores apenas ao campo religioso e a demonizar todas as outras áreas do saber. Contudo, precisamos acabar com esta visão estreita e resgatar o princípio bíblico de que toda a verdade é verdade de Deus. O temor a Deus é o princípio do saber.

No nosso contexto brasileiro há uma espécie de competitividade entre a religião e a medicina, entre o pastor e o médico. As prováveis curas realizadas por religiosos e transmitidas por programas de televisão, reforçam o conceito de competição e incentiva o desprezo pelo tratamento médico. Cria-se no inconsciente popular a ideia de que a população não precisa de médico ou remédio, porque Deus cura. Basta ir a uma determinada igreja. Tal discurso é amplamente sustentado pelo pouco acesso que a população tem à saúde pública. Do lado contrário, estão aqueles profissionais da saúde que desprezam o poder da fé. Ridicularizam aqueles que buscam em Deus a cura para as suas doenças ou o consolo para enfrentar as suas perdas.

Baseado na Bíblia, sugiro dois princípios básicos para a formação de cosmovisão cristã da ciência.

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Princípio da Origem do Saber

A Bíblia ensina que o verdadeiro saber procede

de Deus. O Criador é a fonte de todo conhecimento. A verdadeira ciência ou o real conhecimento científico se origina em Deus. Este axioma independe se tenho fé ou se sou ateu.

Salomão é apresentado na Bíblia como o homem mais sábio que já existiu. E deu Deus a Salomão sabedoria, e muitíssimo entendimento, e largueza de coração, como a areia que está na praia do mar. E era a sabedoria de Salomão maior do que a sabedoria de todos os do oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios. E era ele ainda mais sábio do que todos os homens, e do que Etã, ezraíta, e Hemã, e Calcol, e Darda, filhos de Maol; e correu o seu nome por todas as nações em redor. E disse três mil provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco. Também falou das árvores, desde o cedro que está no Líbano até ao hissopo que nasce na parede; também falou dos animais e das aves, e dos répteis e dos peixes. E vinham de todos os povos a ouvir a sabedoria de Salomão, e de todos os reis da terra que tinham ouvido da sua sabedoria (1Reis 4.29-34). Observe três verdades ensinadas nestes versos: (1) Salomão foi o maior sábio ou cientista da sua época. A sua sabedoria foi a maior do oriente, sobrepujando a sabedoria egípcia. (2) A sabedoria de Salomão não se limitava ao campo espiritual, mas se estendia à administração pública, letras, música, botânica e zoologia. (3) A sabedoria de Salomão foi uma dádiva de Deus, em resposta à sua oração. E deu Deus a Salomão sabedoria, e muitíssimo entendimento, e largueza de coração, como a areia que está na praia do mar. Se alguém deseja sabedoria, deve pedir a Deus.

O desdobramento lógico deste princípio é que não existe ciência ou conhecimento verdadeiro que

contradiz ou se opõe a Deus. Salomão declarou: Não há sabedoria, nem inteligência, nem mesmo conselho contra o SENHOR (Provérbios 21.30). A verdadeira ciência não é inimiga de Deus. A fé e a ciência encontram na existência de Deus o seu ponto de referência e de unidade.

O objetivo final de se adotar a cosmovisão cristã é a glória de Deus. É o reconhecimento de que toda verdade procede dEle. O profeta Jeremias resume: Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR (Jeremias 9.23,24).

O

Princípio da Parceria

Sob o princípio de que Deus é a fonte do saber, nenhuma área do conhecimento humano é independente ou autônoma. Não existe um saber profano ou sacro. A sabedoria divina abarca todos os campos do conhecimento humano.

Por isso entendemos que a fé e a ciência devem caminhar juntas para entender os propósitos de Deus para esta vida, na busca de soluções para os problemas que afligem o homem como um todo.

O conceito de interdisciplinaridade requer a integração ou a conciliação de duas ou mais áreas do conhecimento, a fim de promover novos conhecimentos. A produção científica é cumulativa e interdependente. Por exemplo: se tomarmos o homem como o objeto de pesquisa, e o estudarmos sobre várias perspectivas

(físico, mental, emocional, comportamental e espiritual), teremos resultados diferentes para compreensão de um mesmo objeto. A área da medicina é uma das que mais precocemente tem buscado uma interface com as várias práticas religiosas. Há vários estudos sendo publicados sobre a importância da fé na prevenção e na recuperação de doentes.

Por outro lado, nós pastores, que somos procurados por pessoas com diversos tipos de transtornos mentais, precisamos do auxílio dos médicos para o diagnóstico e o tratamento adequados dessas enfermidades. Não devemos assumir o papel do médico na elaboração do diagnóstico. Precisamos distinguir enfermidade física da espiritual. Não devemos ser irresponsáveis orientando as pessoas a deixarem de tomar a medicação prescrita pelos médicos especializados.

A medicina é uma bênção de Deus a serviço do homem. Mas quando o homem chega ao seu limite, cria-se a possibilidade para a intervenção de Deus. Ele age em resposta às orações feitas com fé. O salmista declara: Vinde, ouvi, todos vós que temeis a Deus, e vos contarei o que tem ele feito por minha alma. A ele clamei com a boca, com a língua o exaltei. Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido. Entretanto, Deus me tem ouvido e me tem atendido a voz da oração. Bendito seja Deus, que não me rejeita a oração, nem aparta de mim a sua graça (Salmo 66.16-20).

Destaco três fatos bíblicos acerca da importância de um relacionamento equilibrado entre a medicina e a fé. Primeiro, temos o exemplo de Asa: No trigésimo nono

ano do seu reinado, caiu Asa doente dos pés; a sua doença era em extremo grave; contudo, na sua enfermidade não recorreu ao SENHOR, mas confiou nos médicos (2 Crônicas 16.12). Asa desprezou a Deus e confiou só na medicina.

Segundo, a mulher com o fluxo de sangue: Aconteceu que certa mulher, que, havia doze anos, vinha sofrendo de uma hemorragia e muito padecera à mão de vários médicos, tendo despendido tudo quanto possuía, sem, contudo, nada aproveitar, antes, pelo contrário, indo a pior, tendo ouvido a fama de Jesus, vindo por trás dele, por entre a multidão, tocou-lhe a veste. Porque, dizia: Se eu apenas lhe tocar as vestes, ficarei curada. E logo se lhe estancou a hemorragia, e sentiu no corpo estar curada do seu flagelo (Marcos 5.25-29). A mulher buscou a medicina e quando esta chegou ao seu limite, ela buscou a cura pela fé em Jesus.

Terceiro, o rei Ezequias que foi acometido de uma doença fatal: Naqueles dias, Ezequias adoeceu de uma enfermidade mortal; veio ter com ele o profeta Isaías, filho de Amoz, e lhe disse: Assim diz o SENHOR: Põe em ordem a tua casa, porque morrerás e não viverás. Então, virou Ezequias o rosto para a parede e orou ao SENHOR (Isaías 38.1,2). Ele orou e Deus lhe deu mais quinze anos de vida. Entretanto, houve um procedimento médico: Ora, Isaías dissera: Tome-se uma pasta de figos e ponha-se como emplasto sobre a úlcera; e ele recuperará a saúde (Isaías 38.21). Observe que Deus responde a oração de Ezequias, mas determina que o mesmo use um medicamento: pasta de figo. Eis um exemplo de tratamento que alia a fé com a medicina.

Concluímos que somente através de uma cosmovisão bíblica é que poderemos promover a reconciliação entre a fé e a ciência. Os conflitos cessarão e os desequilíbrios desaparecerão se aceitarmos que a origem de toda sabedoria e conhecimento vem de Deus.

A

plicações Práticas

Toda pessoa toma as suas decisões pessoais a partir de suas crenças ou da sua visão de mundo. O teísmo e o naturalismo são duas visões de mundo que se opõem atualmente. A cosmovisão cristã ou bíblica reconhece Deus como fonte de toda a verdade, a origem de toda a sabedoria. Não existe conhecimento científico sacro ou profano. Todas as áreas do conhecimento estão sob a soberania de Deus. No tratamento dos transtornos mentais a fé não substitui a orientação médica, e a medicina não anula a importância da fé.

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