Prensa IV

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Portugal

Por Bernardo Silveira, AIWS

É um tanto óbvio falar da relação de Portugal com o Brasil - afinal, fomos colônia portuguesa e devemos muito da nossa própria cultura e história aos portugueses. No entanto, quanto sabemos, hoje, sobre o que se passa em Portugal, especialmente do ponto de vista da cultura? Quais são as referências no país e que tipo de vínculos temos, na atualidade, com os portugueses? É com o espírito de reforçar os laços entre os dois países que nossos governos darão início, em Setembro deste ano, ao “ano Brasil-Portugal”, em que nos receberemos mutuamente para descobrir a música, as artes, as ciências um do outro. E nós aqui do Prensa aproveitamos o embalo para dar o pontapé inicial, falando de vinhos e de regiões de produção de relevo do por lá. Nossa “Ficha Técnica” desta edição se dedica a revelar um pouco da riqueza ampelográfica, ou seja, de variedades de uvas que Portugal escondeu durante décadas, mas que começa a revelar. Bianca Veratti entrevista em “Perfil” um dos mais importantes nomes da enologia portuguesa - Luis Sottomayor, enólogo responsável pela produção de grandes vinhos do Porto e do mais renomado vinho do Douro: Barca Velha. Quando o assunto é “Vinho e Cultura”, traçamos um histórico dos eventos de intercâmbio cultural entre Brasil e seus países-referência na Europa, até chegar ao “Ano Brasil-Portugal”. Para os que querem conhecer Portugal mais de perto, pedimos ao especialista Jorge Lucki suas indicações de hospedagem, restaurantes e passeios na região do Douro, para inaugurar uma nova seção: “Roteiro”. E, no “Laboratório”, experimentamos cinco safras diferentes de um dos vinhos de Luís Sottomayor - a mais velha com 10 anos de vida - para compartilhar com você como a variação do clima a cada ano influencia nossa bebida predileta e o que acontece quando a guardamos por alguns anos antes de abrir. Aproveite e não deixe de nos visitar em www.prensa.jor.br e contar pra nós as suas descobertas sobre as maravilhas de Portugal.

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Ficha Técnica Por Bernardo Silveira, AIWS

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ue Portugal é um país único, você já sabia. Mas e que tenha uma riqueza ímpar de variedades de uvas? A bem da verdade, a Itália também clama o lugar de “ampelografia mais rica”, mas a cada dia mais a “Terrinha” parece mostrar que seu acervo é incomparável. A verdade é que o longo isolamento de Portugal (política e geograficamente) do resto da Europa. Resultou em um desconhecimento da riqueza de sua viticultura, até pelos próprios portugueses. Regiões isoladas, vinhedos mistos com múltiplas variedades, investimento técnico muito recente, interferências agressivas de governos ditatoriais, foram os muitos fatores que contribuíram para que esse acervo continuasse desconhecido, sem contar os inúmeros sinônimos regionais para uvas idênticas, que acabam por confundir mesmo os especialistas.

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Aprenda aqui um pouco mais sobre as variedades mais importantes do país e não deixe de visitar WWW.PRENSA.JOR.BR para descobrir ainda mais.

Alvarinho

Produz vinhos aromáticos e refrescantes, de acidez viva, em especial na sub-região de Monção e Melgaço, na doP vinho verde. também conhecida como albariño por seus vinhos espanhóis, produzidos imediatamente após a fronteira, é uma das variedades portuguesas mais famosas, por ter sido uma das primeiras a constar de rótulos e produzir vinhos varietais. Sua casca relativamente grossa protege a uva das más influências da umidade, que por ali pode ser muito alta: a pluviosidade - que pode chegar a mais de 2000 mm/ano - e os ventos úmidos do atlântico incentivam o desenvolvimento de fungos nocivos às uvas. Descritores comuns: damasco, pêssego, maracujá, lichias, maças, limão, florais (jasmim, flor de laranjeira).

Encruzado

a estrela entre as brancas do dão, vem tornando-se uma referência nacional junto com a produção da região. Seus vinhos são longevos e estruturados, untuosos e complexos e precisam de atenção e um pouco de idade para mostrar seu melhor. também conhecida como Salgueirinho, pode ganhar complexidade quando vinificada em madeira. Descritores comuns: rosas, violetas, limão, resina, mineral.

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Aragonês/Tinta Roriz

É provavelmente a variedade mais importante de toda a Península ibérica: está presente em todo o Portugal, assim como na Espanha (onde se originou e é conhecida sob outros nomes, sendo o mais famoso deles tempranillo). t tempr anillo). Seus vinhos são apreciados em todo o mundo, dado o equilibrio que é capaz de alcançar entre complexidade e capacidade de seduzir. Podem ser estruturados e longevos, mas costumam ser frutados e macios e ainda variar bastante conforme a região e as técnicas de cultivo e produção. Descritores comuns: frutas vermelhas e negras, tabaco, café e alcaçuz.

Baga

outra estrela portuguesa, que ganhou muito destaque nos últimos anos pelas mãos de produtores dedicados e insistentes: de difícil cultivo, é capaz de produzir vinhos estruturados e escuros, de acidez viva e taninos dominantes o que também permite que sejam longevos. na Bairrada, terra onde domina a produção de maneira singular em Portugal (é de longe a uva mais plantada na região), brilha em tintos concentrados, rosés frescos e, cada vez mais, espumantes cuidadosamente vinificados. Descritores comuns: ameixa preta, tabaco, ervas secas e frutas de bosque negras.

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Castelão

domina as estatísticas portuguesas como a uva com a maior área plantada e, como outras, tende a ganhar um nome novo em cada região: Periquita, João de Santarém, Mortágua, tinta Merousa e assim por diante. Seus vinhos tendem a ser fáceis de beber, com acidez relativamente baixa e o álcool, assim como a fruta, em relevo. Quando bem cultivada e vinificada, pode produzir vinhos com alguma estrutura e boa longevidade, que se mostram agradavelmente interessantes com o envelhecimento. Descritores comuns: framboesas, morangos, groselhas.

Touriga Nacional

Provavelmente a mais nobre das tintas portuguesas, embora tenha quase se extinguido no passado. os baixos rendimentos não eram grande incentivo para os vinhateiros do passado, mas o refinamento e complexidade que seus vinhos podem atingir serviram de incentivo para uma retomada e recuperação que levou a uva a quase todas as regiões do país. o destaque vai para os vinhos do Porto, do douro e do dão, estes últimos talvez os mais eloqüentes exemplares da riqueza da variedade. Descritores comuns: ameixas, amoras, flores (violetas), pimenta preta.

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Perfil Luis Sottomayor

Por Bianca Veratti

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o Luis Sottomayor é um nome de respeito na enologia de Portugal. Com mais de 20 anos de experiência, ingressou em 1989 na equipe liderada pelo mestre Fernando Nicolau de Almeida - o criador do mítico Barca Velha – permanecendo no time quando José Maria Soares Franco assumiu o comando da Casa Ferreirinha. Hoje, é Sottomayor o enólogo responsável pela elaboração do mais renomado vinho português, além de liderar as equipes de enologia tanto da Ferreirinha como das casas de Vinho do Porto da Sogrape Vinhos – Offley, Ferreira e Sandeman.

Na entrevista que segue, ele partilha conosco um pouco de sua história e conta os bastidores que cercam a produção de um dos vinhos-ícones de Portugal.

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1. Hoje você é um dos enólogos mais importantes de Portugal, porém gostaríamos de saber como foi seu começo no mundo dos vinhos. O que te levou a seguir este caminho? “Desde criança que o vinho faz parte da minha vida. Nasci numa casa onde se produzia vinho e a época da vindima era mágica para mim. Para, além disso, já o meu pai foi enólogo e o meu avô paterno era administrador de uma casa de Vinho do Porto. Com estas raízes, arriscaria dizer que seguir as suas passadas no mundo dos vinhos foi uma sequência natural.” 2. Como você chegou à Casa Ferreirinha? Conte um pouco para nós a experiência de trabalhar com Sr. Fernando Nicolau de Almeida e com José Maria Soares Franco. “Ainda me lembro ao certo – comecei a trabalhar na Ferreira no dia 16 de Julho de 1989, a convite precisamente do José Maria. Posso dizer que tive a sorte e o prazer de trabalhar com ambos! Do Sr. Fernando Nicolau de Almeida recordo o grande sentido de humor, e o quanto me ajudou na arte da prova. Do José Maria destaco o profissionalismo e dedicação incomparáveis!” 3. O ícone da Casa Ferreirinha é o Barca Velha. Como você o define e qual foi a evolução do seu trabalho com este vinho? “Porque foi o primeiro vinho moderno e de qualidade produzido no Douro, pela filosofia particular que tem de um longo envelhecimento em garrafa, pelo facto de ser apenas produzido em anos verdadeiramente excepcionais, e ser por isso um vinho raro, Barca Velha é realmente uma importante referência no mundo dos vinhos portugueses. Bom conhecedor dessa personalidade e filosofia que Sr. Fernando Nicolau de Almeida tão audaciosamente criou já em 1952, e a que mais de 20 anos de trabalho na sala de provas da Ferreira obrigam, o meu trabalho tem sido essencialmente de manter o vinho fiel às suas origens, ainda que beneficiado de novas tecnologias e uma melhor viticultura.”

Leia a entrevista na íntegra em WWW.PRENSA.JOR.BR e descubra: • Como é feito o Barca Velha; • O que diferencia um Barca Velha de um Reserva Especial; • Se os vinhos do Douro estão substituindo os vinhos do Porto diante do público mundial; • E mais!

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Vinho e Cultura Ano de Portugal no Brasil

por Bernardo Silveira, aiWS

O quE tEm

NAPOLEãO BONAPARtE COm O ANO DE PORtugAL NO BRASiL?

Muito. Foi a iminente invasão de Portugal pelo exército napoleônico o que levou a corte portuguesa a mudar de mala e cuia ao Brasil a partir de 1808 e, com isso, alterar profundamente a vida e a cultura do nosso país. a partir de 1815, com a queda definitiva de napoleão, o Príncipe-regente d. João vi passou a retomar relações diplomáticas com a França e, como parte do processo de

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“enriquecimento cultural” da então sede do império, arquitetou uma visita de intercâmbio de luminares da cultura francesa ao Brasil. o grupo, conhecido como “Missão artística Francesa no Brasil”, tinha o escopo de dar início a uma renovação da educação no país e, em especial, criar uma escola superior de Belas Artes usando a bagagem artística francesa como referência. Quase 200 anos depois, uma iniciativa dos governos da França e do Brasil deu partida a um “revival” da Missão artística original: de 2005 a 2006, a França foi palco de interferências brasileiras e, entre 2009 e 2010, o Brasil recebeu representantes da cultura francesa contemporânea em inúmeros eventos culturais. a idéia parece ter funcionado: a itália também quis e teve seu “Momento” e a alemanha está na fila para o ano que vem - já que agora é a vez de Portugal. a partir de 7 de Setembro de 2012 até 10 de junho de 2013 - festas nacionais respectivamente do Brasil e de Portugal -, os dois países receberão concomitantemente exposições, oficinas e palestras com artistas de diferentes áreas, da música à gastronomia, passando pela pintura e pela moda, além de importantes eventos esportivos, seminários de tecnologia, comércio e educação.

• Para saber mais sobre a programação dos eventos, tanto em Portugal quanto no Brasil, visite www.prensa.jor.br.

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Roteiro do Douro por Jorge Lucki

Restaurante DOC

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orge Lucki é um dos maiores nomes do vinho no Brasil: sua inestimável experiência, construída com visitas técnicas regulares, leitura dedicada e degustação meticulosa, tornou-lhe um exímio conhecedor da enologia mundial. Aproveitando o tema central desta edição, pedimos ao Jorge que selecionasse um pequeno roteiro para quem fosse passear por uma das suas regiões prediletas em Portugal: o Douro.

Para comer Restaurante DOC - “Na beira do Douro, com deck que dá para comer fora se o tempo ajudar, e comida ótima (portuguesa sofisticada)” Estrada Nacional 222 – Folgosa 5110-204 – Armamar Coordenadas GPS: 41.151855, -7.682687 Telefone: (+351) 254 858 123 www.restaurantedoc.com

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Para se hospedar

vista do Porto a partir do Hotel Yeatman

Hotel Yeatman – “Fantástico. Fica na parte alta de vila nova de gaia, de frente para o douro”. rua do Choupelo (Santa Marinha) – 4400-088 – vila nova de gaia Coordenadas gPS: gPS: 41.13305, -8.61360 telefone : (+351) 22 013 3100 www.the-yeatman-hotel.com

Para quem quer passear Pipa d’ouro turismo Fluvial - “um dos barcos dá para até 12 pessoas e pode ser alugado por um grupo fechado. tem ótimo serviço de bordo, com aperitivos e vinhos durante a viagem.” rua azevedo Magalhães, 314 – 4430-022 – vila nova de gaia tel: (+351) 226 179 622 www.pipadouro.pt

Para quem ama vinho visita às caves do vinho do Porto – há várias e com diferentes formatos de visita. Procure seu produtor predileto ou visite www.cavesvinhodoporto.com

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Laboratório Por Bernardo Silveira, aiWS

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uando nos deparamos com grandes vinhos, de produtores renomados e regiões clássicas, em geral encontramos grande complexidade e concentração, a ponto dos vinhos serem considerados ainda melhores com o passar do tempo – a guarda, ou o amadurecimento do vinho na garrafa, torna-os mais macios, elegantes e de aromas mais elaborados.

Quando se trata da Casa Ferreirinha, um dos maiores nomes do douro e de Portugal, o óbvio é pensar no inigualável Barca velha, ou em sua versão “de prata”, o reserva Ferreirinha, ou até mesmo no Quinta da leda, fruto de seu vinhedo mais importante. Ficam um pouco esquecidos, tratados como vinhos “correntes”, os mais acessíveis Esteva e vinha grande, fruto das mesmas uvas e do mesmo cuidadoso trabalho da equipe. Há algumas semanas, nos reunimos em torno de algumas garrafas de vinha grande para descobrir o que acontece com os vinhos após dez anos em garrafa e como ficam influenciados pelas diferentes safras, tão marcadas ano a ano na Europa pelas mudanças climáticas.

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lho nos vinhedos. o resultado final, porém, parece excelente: provavelmente o rendimento menor deu lugar a um salto na qualidade, pois este foi o segundo destaque da degustação, com o melhor equilíbrio e composição aromática.

Vinha Grande 2002 a safra de 2002 tornou-se famosa na Europa pelo clima frio e a dificuldade em amadurecer as uvas em algumas regiões. na Ferreirinha os grandes rótulos não foram produzidos, o que resultou em EXCEPCional qualidade dos vinhos de base e este foi, sem dúvida, o grande destaque da degustação: a acidez viva e fresca mantém o vinho composto, com a fruta e as notas florais ainda muito vivas.

Vinha Grande 2007 Chuva e sol se alternando continuamente parece descrever a safra de 2007 no douro e o vinho reflete essa influência: os sabores de fruta são evidentes (resultado do calor), embora os taninos tenham permanecido relevantes (provavelmente em função da chuva). Pode ser uma boa promessa para mais alguns anos, à medida em que os taninos ganhem polimento e a fruta se conserve em evidência.

Vinha Grande 2003 2003 também é famosa como safra, desta vez no mundo inteiro: a onda de calor assolou praticamente qualquer país e região e, em muitos lugares, os teores alcoólicos vazaram os gráficos. os sabores de fruta no vinha grande 2003 não negam a safra: embora a intensidade já tenha baixado, o perfil ainda é da fruta doce, de madurez avançada. Macio e convidativo.

Vinha Grande 2008 desta feita a dupla chuva/calor parece ter amenizado: o ano foi seco e não muito quente, o que permitiu um desenvolvimento lento das uvas – em teoria, excelente para a qualidade. o vinho é sério e concentrado, menos impactante que seus irmãos mais velhos, mas com indícios de que o futuro promete: seus aromas são concentrados, os taninos firmes e a acidez viva. Para provar de novo com mais uns anos de adega, junto com o 2007.

Vinha Grande 2006 a contar do “report” da vinícola sobre safra de 2006, os viticultores e enólogos devem ter sofrido bastante: calor e chuva fora de época, com alta incidência de podridão, devem ter tirado o sono e aumentado o volume de traba-

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boa é a vida, mas Melhor

é o vinho (fernando pessoa)

REALIZAÇÃO:

www.zahil.com.br - Rua Manoel Guedes, 294 - Itaim Bibi - São Paulo - SP


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