AGOSTO/SETEMBRO DE 2015
1 ZAHIL
Uma publicação ZAHIL VINHOS Conselho Editorial Serge Zehil, Antoine Zahil, Bianca Veratti, Bernardo Silveira Coordenação Editorial Regina Bernardi (Agência Madalena) Direção de Arte Leandro Cattani (Agência Madalena) Fotos Gladstone Campos
Colaboradores Mirian Ibañez, Regina Bernardi, Bernardo Silveira, Bianca Veratti, Isabel Carvalho, André “Déco” Rossi Revisão Técnica Bernardo Silveira, Bianca Veratti
Caros amigos, A América do Sul dá o tom desta nossa edição. Queremos levar até vocês um pouco das tantas possibilidades dos nossos vizinhos, que vêm abocanhando cada vez mais fatias de mercado. Tanto que abrimos a edição com Em Pauta (página 6), discutindo o consumo nacional de vinhos argentinos, chilenos e uruguaios, e apresentando o road show Zahil América do Sul programado para agosto. Trata-se da reedição de evento semelhante de muito sucesso realizado em 2013, desta vez nas cidades de Curitiba, Florianópolis e
São Carlos (SP). Na seção Novidades (página 10), rótulos argentinos muito elogiados, assim como uma sugestão do Chile, se juntam ao Reserva Especial 2007 da Casa Ferreirinha. Uma preciosidade. Em Tendências (página 18), André “Déco” Rossi nos traz os terroirs das três principais regiões argentinas produtoras de vinhos. E a seção Perfil (página 22) conta a trajetória da chilena Maria Luz Marin, fundadora, enóloga e CEO da Casa Marin.
Aromas e sabores também estão Em Torno Do Vinho (página 32), com uma reportagem pra lá de especial sobre o fascinante mundo das ervas e especiarias, com a consultoria de Nelo Linguanotto Neto, proprietário da Bombay Herbs & Spices. Na Cozinha (página 26), Marco Paulo Peluso, do Les Gourmands Club, ensina – passo-a-passo – a preparar um maravilhoso e aromático carré de cordeiro. Já o Jerez é a estrela das páginas reservadas aos Fortificados (página 44),
que trazem os segredos e as combinações desse tipo de vinho tão singular. Viajamos para a região francesa de Bordeaux para a reportagem de Turismo (página 38), trazendo na mala ótimas dicas de roteiros, hospedagem, gastronomia e, claro, vinhos, muitos vinhos! No total, 55 sugestões diferentes de vinhos estão nesta edição. Nada melhor do que aproveitar a mudança de estação para degustar as várias opções que aquecem o final do inverno e dão graça à chegada da primavera. Antoine Zahil e Serge Zehil
VENDA PROIBIDA PARA MENORES DE 18 ANOS
18
O TERROIR DA ARGENTINA
ÍNDICE
03
18
EDITORIAL
TENDÊNCIAS
CAROS AMIGOS
06
EM PAUTA
A AMÉRICA DO SUL ATERRISSA NO BRASIL
4
O TERROIR DA ARGENTINA
10
NOVIDADES
UMA SELEÇÃO PARA LÁ DE ESPECIAL
22
PERFIL
SENHORA MARIN E SEUS INCRÍVEIS VINHOS
26
NA COZINHA
CARRÉ DE CORDEIRO
55
VINHOS NESTA EDIÇÃO LEGENDA DE PREÇOS $ ACESSÍVEL $$ MODERADO $$$ PREMIUM $$$$ SUPER PREMIUM
44
CONHEÇA AS PROMOÇÕES E A LISTA COMPLETA DE PREÇOS NO ENCARTE QUE ACOMPANHA ESTA EDIÇÃO.
JEREZ: VOCÊ JÁ PROVOU DE NOVO?
32
EM TORNO DO VINHO
ERVAS E ESPECIARIAS,UM FESTIVAL DE AROMAS E SABORES
38
TURISMO
ENTRE DOIS MARES
44
FORTIFICADOS
JEREZ: VOCÊ JÁ PROVOU DE NOVO?
46
42
A GENTE GOSTA A GENTE RECOMENDA
ARTIGO
VINHO PARA MULHER? NÃO É BEM ASSIM!
Erramos!
• Ana Soares é o nome correto da chef da Mesa III, destaque da seção “Em torno do Vinho” da edição de maio/abril 2015.
• Julio Saenz é Enólogo da La Rioja Alta, cuja comemoração dos 125 anos foi tema da seção Perfil da edição de maio/abril 2015.
5 ZAHIL
Foto: Bruna Veratti.
EM PAUTA
A AMÉRICA DO SUL ATERRISSA NO BRASIL
O mercado brasileiro de vinho tem um comportamento muito particular. Existe uma diminuta parcela de consumidores altamente envolvidos com o vinho, incluindo colecionadores e grandes entendedores. Por outro lado, o consumo segue evoluindo lentamente ao longo dos anos: não atinge dois litros per capita, sendo boa parte deste número correspondente ao consumo de vinhos feitos com uvas não viníferas. Ainda assim, muitos produtores apostam suas fichas neste ainda jovem e incipiente mercado. Por que o otimismo?
G
ostamos de acreditar que ele vem da capacidade de o vinho nunca deixar de encantar as pessoas quando elas o descobrem. Ao contrário, ele atrai, seduz e instiga. O resultado não pode ser outro além da vontade de conhecer mais, saborear mais, entender mais sobre os vinhos de sua preferência e os que aguardam para ser descobertos. E os brasileiros têm tudo para aproveitar mais e mais essa fantástica
6
bebida. Um dos grandes empecilhos para o crescimento da cultura e do consumo do vinho no Brasil é o seu custo. Entre as dificuldades estão a infraestrutura, a logística, o capital de giro e a escala reduzida das operações. Ainda assim, uma das partes mais significativas desse custo são os impostos. Aos olhos da lei brasileira, vinho é um produto de luxo, não o fruto da produção agrícola
e da cultura de um lugar. Portanto, do ponto de vista tributário, é tratado como item supérfluo: segundo o Instituto Brasileiro de Pesquisa Tributária (IBPT), em 2015 a carga tributária total que incide sobre o preço de uma garrafa produzida fora do Brasil e da zona de influência do Mercosul é responsável por até 69,07% do preço pago pelo consumidor final. Mesmo os vinhos nacionais, fruto do trabalho de agricultores brasileiros, sofrem com a carga fiscal – ela corresponde a cerca de 53,53% do preço final da garrafa. Enquanto uma parte dos brasileiros, mesmo que abertos a novas descobertas, não desbrava o mundo dos vinhos devido a este alto custo, há o outro brasileiro, apaixonado por vinhos, que tenta se adaptar para não ter que abrir mão do que gosta. Uma das saídas é o consumo de sul-americanos. Nos últimos anos o próprio Brasil, o Chile, a Argentina e o Uruguai vêm fincando estacas cada vez mais robustas no mercado nacional. Motivos não faltam. O primeiro e mais importante: o que toca o bolso. Os países signatários
do Mercosul (como o Uruguai e a Argentina) e os que têm acordos alfandegários (caso do Chile) estão isentos do imposto de importação (cerca de 20% dos tributos). A redução no preço é
significativa, especialmente se considerarmos a diferença do custo da operação se comparada com algumas regiões tradicionais europeias: o custo da mãode-obra, dos encargos e das terras é muitas vezes
significativamente menor e a escala de produção frequentemente maior.
RUTINI WINES Argentina
BODEGAS SALENTEIN Argentina
FLECHAS DE LOS ANDES, Argentina
Maior sucesso da linha Trumpeter no Brasil. Produzido em vinhedos a 1.200 metros de altitude, é sedoso e frutado com bom aporte dos aromas das barricas, excelente frescor e aromas sedutores de violetas, ameixas, framboesas, chocolate e cravo.
Um Malbec acessível e muito bem feito, de taninos redondos e aveludados e aromas característicos da uva (ameixa, cassis e amoras), não é sem motivo escolhido com freqüência pelos especialistas como melhor compra de Malbec argentino.
Sempre puro Malbec da região de Mendoza, de grande concentração, é um desses vinhos que trazem impacto já pela intensidade da cor, que chega a tingir a taça. Vale guardar por alguns anos ou colocar no decanter antes de beber.
TRUMPETER MALBEC/ SYRAH $
PORTILLO MALBEC $
GRAN MALBEC $$
Em segundo lugar, fica evidente o gosto do brasileiro: nossos vizinhos nos brindam com uma
7 ZAHIL
EM PAUTA
8
gama de vinhos saborosos, fáceis de serem bebidos, apreciados e entendidos. Em boa parte deles predominam os aromas e sabores de frutas e o prazer obtido é imediato. É comum que o vinho não precise
passar pelos processos de envelhecimento, e seja produzido para consumo imediato. Em resumo, podem ser vinhos descomplicados e atraentes para o consumidor. Para o dia-a-dia, esta
categoria de vinhos atende a maior parcela do mercado. Por outro lado, existe a crescente demanda por vinhos mais nobres, os “de alta gama”. E, deixando estar aqueles que forçam a inflação de preços sem
entregar a qualidade, há uma espetacular evolução nesta categoria entre os vinhos sul-americanos. Alguns deles se tornaram verdadeiros ícones, enquanto outros estão só agora sendo descobertos.
BODEGAS CALLIA San Juan, Argentina
BODEGAS CARRAU Canelones, Uruguai
DON ABEL Serra Gaúcha, Brasil
CHÂTEAU LOS BOLDOS Cachapoal, Chile
Nascida no ano de 2003 como parte do grupo MP Wines, que também é proprietário da Bodegas Salentein, esta vinícola está localizada ao norte de Mendoza, na região argentina de San Juan. A sua linha Callia, a qual inclui o famoso espumante Extra Brut, tem uma excepcional relação custo-benefício.
O simpático proprietário da bodega, Javier Carrau, orgulha-se do Amat, um dos seus rótulos mais destacados e reconhecidos. Juntamente com o “Tannat de Reserva”, comprova que a uva Tannat, trazida do sul da França, encontrou em terras uruguaias tudo o que precisava para produzir ótimos vinhos.
Única representante brasileira no evento, a vinícola Don Abel, localizada na cidade de Casca, na Serra Gaúcha, vem ganhando destaque no cenário nacional graças à dedicação e ao apuro técnico na produção dos seus vinhos e espumantes, resultado do constante investimento em melhorias na produção.
Um dos mais clássicos produtores de Requinoa, em Cachapoal, o Château Los Boldos usufrui da dedicação do grupo Sogrape em nome da qualidade: ao longo dos últimos anos, investimentos vêm sendo feitos na reestruturação da adega e dos vinhedos, com cuidadosos estudos de solo e de viticultura.
CALLIA ALTA SHIRAZ $
TANNAT DE RESERVA $$
DON GRAN RESERVA $
CUVÉE TRADITION CARMÉNÈRE $
Leia também: Artigo de André “Déco” Rossi sobre as regiões vinícolas argentinas, página 18. Perfil da “Casa Marin, vinícola de vanguarda no Chile, página 22.
Infelizmente, existe uma grande resistência por parte do público conhecedor, que perde grandes oportunidades ao deixar de experimentar os novos clássicos do nosso país e dos vizinhos. É diante deste
cenário que se realiza pela segunda vez o road-show enológico Zahil América do Sul. Seu objetivo é mostrar a riqueza e variedade de vinhos destes países, gerar experimentação e fazer conhecer as suas novas
tendências. Apreciadores de vinho poderão conhecer e conversar com os próprios produtores em eventos de degustação realizados no mês de agosto nas cidades de Curitiba, Florianópolis e São Carlos. •
QUEBRADA DE MACUL Maipo, Chile
VOLCANES DE CHILE Chile
VIÑA AQUITANIA, Maipo e Malleco, Chile
CASA MARÍN San Antonio, Chile
Responsável pela produção de um dos ícones do Chile – o ótimo Domus Aurea – o vinho tem como enólogo o francês Jean-Pascal Lacaze, que realiza um trabalho minucioso. A prova é que o vinho foi eleito pelo Guia “Descorchados” o Melhor Cabernet Sauvignon do Chile.
Volcanes de Chile é um projeto inovador, que lança mão de solos vulcânicos espalhados por todo o país: os terrenos são selecionados pelo especialista em terroir Agustín Aguerrea para que possam produzir vinhos ricos, saborosos e marcados por sua origem, vinificados pela enóloga Pilar Díaz.
Dois renomados enólogos de Bordeaux, Bruno Prats e Paul Pontallier, o franco-chileno Felipe de Solminihac e o champenois Ghislain de Montgolfier uniram-se em um projeto que hoje é uma referência no Chile: vinhos realmente espetaculares, além de dois ícones no país, o Sol de Sol e o Lazuli.
Mariluz Marin, única proprietária mulher de uma vinícola no Chile, é um dos nomes fortes da vitivinicultura do país por sua audácia de ter uma vinícola em condições extremas, pelo pioneirismo ao investir em uma área pouco explorada, por migrar da produção de volume para a elaboração de microcuvées.
VOLCANES SAUVIGNON BLANC $
AQUITANIA CABERNET SAUVIGNON $
CIPRESES SAUVIGNON BLANC $$$
DOMUS AUREA $$$$
9 ZAHIL
NOVIDADES
UMA SELEÇÃO PARA LÁ DE ESPECIAL Dois rótulos com a uva que está se tornando a sensação da Argentina, a Cabernet Franc, passam a integrar o portfólio da Zahil. Um deles se destaca na excepcional linha Numina, da Bodegas Salentein, que chega também com um um Malbec, além do já tradicional Gran Corte. Da Casa Ferreirinha apresentamos o Reserva Especial 2007, uma raridade para encantar paladares muito exigentes. Completamos as novidades com riqueza vinda de solos vulcânicos, com o Tectonia Blend, da casa Volcanes de Chile.
FERREIRINHA RESERVA ESPECIAL 2007 Este é um vinho raro e, como diz o nome, especial! O Reserva Especial é anunciado após minuciosas degustações da equipe de enologia e anos de espera quando, finalmente, decidem se o estilo corresponde a um Reserva Especial ou um Barca Velha. Pouco mais de 15 safras receberam este rótulo em quase 50 anos e acaba de chegar ao Brasil a sua 16° edição. CASA FERREIRINHA DOURO, PORTUGAL $$$$
10
11 ZAHIL
NOVIDADES
NUMINA GRAN CORTE NUMINA CABERNET FRANC NUMINA MALBEC A linha Numina se expandiu para além do surpreendente “Gran Corte” com a inclusão de dois vinhos varietais: Já nas primeiras safras, Numina Cabernet Franc foi premiado consecutivamente (2014 e 2015) como o melhor desta variedade pelo júri do Wines of Argentina Awards que inclui especialistas do mundo inteiro, como a competente Master of Wine britânica Jancis Robinson. A tradicional Malbec aparece aqui com um vinho rico, saboroso e equilibrado. Vale conferir este trio bem acessível pela qualidade que oferece. BODEGAS SALENTEIN MENDOZA, ARGENTINA $$$
12
13 ZAHIL
NOVIDADES
SALENTEIN CUVテ右 SPECIALE A Salentein nos brinda com um delicado espumante que utiliza uvas Chardonnay e Pinot Noir plantadas no vinhedo mais alto da Bodegas Salentien, a Finca El Oasis. Alテゥm dos aromas de fruta amarela e cremosa borbulha, a Pinot Noir contribui com uma leve cor cobre que o deixa ainda mais festivo. BODEGAS SALENTEIN MENDOZA, ARGENTINA $
14
PORTILLO PINOT NOIR A Pinot Noir é conhecida por ser de difícil cultivo, porém atinge maturação perfeita nos vinhedos mais altos (até 1700 metros) da região do Valle de Uco. Este é um vinho característico da variedade, perfumado e delicado, companhia ideal para os encontros com amigos. BODEGAS SALENTEIN MENDOZA, ARGENTINA $
15 ZAHIL
NOVIDADES
RUTINI CABERNET FRANC A Cabernet Franc é mais conhecida pelos vinhos franceses que produz, porém encontrou um novo lar na Argentina. A Rutini oferece um vinho complexo e equilibrado no seu frescor que irá conquistar os novos amantes da variedade. RUTINI WINES MENDOZA, ARGENTINA $$$
16
TECTONIA BLEND Pilar Diaz seleciona uvas de três vales (Grenache de Rapel, Petite Sirah do Maipo e Mourvèdre do Maule) para fazer um corte mediterrâneo, de variedades que se adaptam perfeitamente ao clima chileno e representam o estilo que é foco entre os “Volcanes de Chile”: o reflexo das regiões e seus solos. VOLCANES DE CHILE RAPEL, MAIPO E MAULE, CHILE $$$
17 ZAHIL
Foto: divulgação.
TENDÊNCIAS
O TERROIR DA ARGENTINA
Por André Rossi*
Apesar de ser nossa vizinha, nós brasileiros estamos ainda começando a descobrir as diversas regiões vitivinícolas que a Argentina tem para oferecer. Descubra um pouco mais com André Rossi, o Déco, as particularidades de cada uma delas. Cafayate, Norte.
C
omeço este texto com uma pergunta: qual a uva e a região produtora que nos vem à cabeça quando falamos de vinho argentino? Muito provavelmente sua resposta foi Malbec e Mendoza, assim como seria a resposta da esmagadora maioria das pessoas. Desde o final do século XIX, quando o engenheiro agrônomo francês Michel Aimé Pouget levou a Malbec da França para lá, pouco antes da Filoxera devastar os vinhedos da Europa, a Argentina viu uma uva reinar absoluta em todos os seus terroirs. A Malbec se adaptou maravilhosamente bem, de norte a sul, e se tornou a grande rainha dos
vinhos hermanos. O país teve tanto sucesso com a Malbec que, hoje, produtores de Cahors (Sudoeste da França), sua região original, já apostam novamente nesta uva, muito embora os vinhos de lá não tenham o mesmo estilo dos argentinos. Mas a Argentina mudou e muito. E o país de Messi e Maradona tem muito mais para mostrar em suas três regiões principais.
NORTE
Cafayate é o principal centro vitivinícola, e há também outras regiões menores como Tucumán e Catamarca. Lá, a autóctone Torrontés (cruzamento
entre as uvas Criolla Chica e Moscatel de Alexandria), tida como a rainha das uvas brancas da Argentina, mostra todo o seu potencial aromático em vinhos com ótima acidez e personalidade. Além dela, a Malbec, claro, produz excelentes vinhos, assim como a Cabernet Sauvignon, a Syrah e a Tannat, principais tintas de lá. Na região, estão os vinhedos mais altos do mundo, entre 1.300 a mais de 3.000 metros de altitude. Esta grande altitude é muito benéfica para as videiras, que usufruem da grande amplitude térmica entre dia e noite. Os poucos 200 mm de chuva ao ano são *André “Déco” Rossi é editor do blog Enodeco e representante da Wines of Argentina no Brasil através de sua empresa de consultoria, a Winet.
18
Norte
complementados por uma irrigação de precisão e fazem as uvas crescerem e amadurecerem da melhor forma possível.
CUYO
Cuyo
Patagônia
A região central da Argentina, onde está o coração da vitivinicultura do país, abriga La Rioja, San Juan e Mendoza. La Rioja, com sua grande vocação para o cultivo de oliveiras, tem produzido bons vinhos à base de Torrontés, Malbec, Cabernet Sauvignon e Tannat. Já San Juan é uma região com enorme importância no cenário do vinho argentino. Lá o volume produzido equivale a pouco mais de 15% da produção do país e a principal uva é a Syrah, que encontrou um grande terroir em seus três vales (Tulum, Zonda e Ullum), com um clima quente e árido. Bom, pra falar de Mendoza é preciso destrinchar esta maravilhosa região, reconhecida como uma das grandes capitais mundiais do vinho. Mendoza não é apenas uma região, mas conta com sub-regiões que têm suas diferentes características, que são refletidas nos inúmeros vinhos que produzem. Poderia ficar páginas e páginas aqui falando de cada
uma delas. Mas, resumindo, as principais zonas de Mendoza são Maipú e Lujan de Cuyo, regiões mais próximas ao centro e mais antigas e tradicionais de lá. Nestas zonas estão grandes e famosas bodegas, que plantam inúmeras uvas brancas e tintas. Um pouco mais ao Sul, a mais ou menos uma hora e meia de carro, está a zona mais valorizada e procurada de Mendoza: o Vale do Uco é uma região mais alta e mais fria, chegando a 1.700 metros acima do nível do mar. Aqui, os vinhos têm características diferentes de Maipú e Lujan, onde trazem características de frutas maduras e geleias. No Vale do Uco, por ser uma região mais fria e mais alta, podem parecer ser mais complexos, com um bom equilíbrio entre flores, frutas e também algo mineral. Por último, vale falar de San Rafael, região que fica a umas duas horas e meia de carro ao sul do centro de Mendoza, onde o clima se parece muito com o Vale do Uco. Considerando a região toda de Cuyo, pode-se falar que a Malbec é a principal uva. Mas outras têm bastante destaque, como as brancas Chardonnay, Sauvignon Blanc e Viognier e as
tintas Cabernet Sauvignon, Bonarda, Merlot, Pinot Noir, Syrah e Cabernet Franc, entre outras. Se posso aqui puxar sardinha para alguma delas, queria ressaltar a qualidade da Cabernet Franc, originária de Bordeaux, mas que é a principal uva tinta do Vale do Loire e que tem dado vinhos impressionantes em Cuyo. Intensos, aromáticos, persistentes e que abrem uma enorme possibilidade de novo sucesso para os “Hermanos”. Ainda é cedo, pois ela equivale a pouco menos de 1% dos vinhedos plantados por lá, mas certamente vale ficar de olho.Pessoalmente, ela é hoje minha “menina dos olhos”.
PATAGÔNIA
A dos vinhos argentinos não é aquela patagônia que temos em nossas mentes. Os vinhedos não são plantados em icebergs e não existem pinguins passeando pelos vinhedos (risos). A Patagônia dos vinhos é o extremo norte da Patagônia, quase divisa com Mendoza. Ali temos um clima mais frio, ventos constantes e fortes e altitudes mais baixas, que variam de 300 a 600 metros acima do nível do mar. Nesta região, onde o Rio Negro é a principal referência, as zonas de Neuquén e Rio Negro
19 ZAHIL
TENDÊNCIAS
Foto: divulgação.
são as principais e mais importantes na produção de vinhos. Os vinhos aqui são bem diferentes. Os Malbecs são mais elegantes e menos intensos; Os Merlots e Pinot Noirs, são famosos, assim como os brancos à base de Chardonnay e Sauvignon Blanc; a Cabernet Franc tem aromas mais “verdes” e se integram bem a uma boa fruta. E há também
San Juan, Cuyo.
20
alguns outros bons vinhos diferentes, como Riesling e Tannat. Como podem ver, a Argentina é muito mais que Mendoza e Malbec. Falei de muitas outras uvas aqui e acho que deu para perceber que temos um universo muito grande a ser explorado. Isto sem falar nos maravilhosos Blends (vinhos
feitos com 2 ou mais tipos de uvas), que a grande maioria das vinícolas produz em todas as regiões e que muita gente diz ser o grande futuro da Argentina. Agora, a hora é de abrir a cabeça e a garrafa e aproveitar os grandes vinhos argentinos, sejam eles brancos, tintos, rosés, fortificados ou vinhos de
sobremesa. A Argentina vive, há muito tempo, uma revolução constante em seus vinhos, com novas técnicas nos vinhedos e nas vinícolas e uma nova e muito competente geração de enólogos. E a parte boa disto tudo é saber que estes resultados estão totalmente ao nosso alcance, dentro de nossas taças! •
Diversidade Argentina na Taça Uma seleção para você desbravar a Argentina. CALLIA MAGNA SHIRAZ
TRUMPETER CABERNET SAUVIGNON
Shiraz (ou Syrah, a mesma uva) é a variedade-estrela de San Juan. Na paisagem desértica, quase lunar do Valle de Tulum, em San Juan, ela faz vinhos intensamente saborosos, vivazes e macios.
A Rutini Wines/Bodega La Rural é um verdadeiro marco em Mendoza. A bodega de 1885 tem sua sede logo fora da cidade, onde alguns de seus vinhedos produzem vinhos saborosos.
BODEGAS CALLIA $
RUTINI WINES $
PUNTA DE FLECHAS
SALENTEIN PINOT NOIR
Este Malbec de Vista Flores, no Valle de Uco, traz leveza e frescor e reproduz um estilo tradicional, bastante europeu. A bodega Flechas de Los Andes é resultado da aliança entre o barão Benjamin de Rothschild e Laurent Dassault.
A Patagônia se tornou famosa entre os vinhos primeiro com Pinot Noir. Para provar algo parecido, é fácil encontrar um dos Pinots da Salentein, que em seus vinhedos de altitude no Valle de Uco consegue um refinamento e equilíbrio ímpares.
FLECHAS DE LOS ANDES $
BODEGAS SALENTEIN $$
RUTINI CABERNET FRANC
CALLIA ALTA TORRONTÉS
A Cabernet Franc da Argentina vem surpreendendo críticos e especialistas ao redor do mundo. Um dos grandes vinhos desta variedade no país é da Rutini e vem de Tupungato, no Valle de Uco.
Ficou curioso por conta da Torrontés, uva que se desenvolveu na Argentina? Dê um pulinho de Cafayate ao Valle de Zonda, em San Juan, e descubra os perfumes e o frescor do Callia Alta Torrontés.
RUTINI WINES $$$
BODEGAS CALLIA $
21 ZAHIL
Fotos: divulgação.
PERFIL
SENHORA MARIN E SEUS INCRÍVEIS VINHOS
Maria Luz Marin é a primeira mulher chilena a fundar uma vinícola no Chile: a Viña Casa Marin. Seus vinhos, conhecidos e premiados no mundo inteiro, refletem a filosofia da enóloga: deixar a natureza dizer quando é o momento ideal de colher para que, assim, os vinhos possam revelar o terroir da sua origem e, consequentemente, tragam aromas e texturas sem igual. E, nesta entrevista , ela conta sobre o início desta história de tanto sucesso e também fala a respeito dos planos para o futuro.
22
Como começou o seu sonho de produzir vinhos? Foi um sonho que surgiu e foi crescendo ao longo dos anos em que eu trabalhei em grandes vinícolas. Mas só começou a se tornar realidade à medida que fui conseguindo recursos financeiros e encontrei um lugar, Lo Abarca, cujas características – clima, solo, topografia – eram, até então, diferentes das outras regiões vinícolas do Chile, o que permitiria me diferenciar. A nossa vinícola está a quatro quilômetros do Oceano Pacífico, em uma área de bastante vento e temperaturas baixas durante o período de cultivo da uva. Essas condições possibilitam a produção de vinhas de qualidade superior àquelas plantadas em locais de temperatura mais elevada. Quais foram os desafios no início da Casa Marin? O principal desafio foi certamente conseguir recursos financeiros, uma vez que era necessário muito dinheiro para começar. Por se tratar de
um projeto de longo prazo, não era fácil recorrer a investidores que acreditassem no projeto e me apoiassem. Somava-se a isso o fato de que eu havia escolhido Lo Abarca para a minha vinícola, um lugar sem nenhuma referência em relação à produção vinícola, portanto, sem ninguém para seguir ou pedir conselhos. Também éramos um nome completamente
prejudicial. Mas, com certeza, as pessoas achavam muito estranho uma mulher ter coragem de se arriscar sozinha em um projeto que incluía explorar uma nova localidade para a criação de uma vinícola, uma vez que, até então, toda a vinicultura do Chile se concentrava na região central do país, onde se cultivava todas as variedades de uvas juntas. No entanto, eu acreditava
vinícola no Chile? O desafio é manter consolidado o nível da qualidade e do prestígio da nossa marca, tendo clareza e tranquilidade para competir com as grandes vinícolas estabelecidas há tanto tempo. É fundamental saber equilibrar estabilidade e riscos, ou seja, controlar custos e fazer apostas, mas sem nunca perder de vista a capacidade atual da empresa e para onde queremos levá-la. Para isso, devemos estar muito atentos com o que está acontecendo no mercado, tanto interno como externo, uma vez que existem diversos fatores e diferentes variáveis que sempre mudam e intervêm diretamente na nossa indústria. Como você vê o mercado de vinho?
desconhecido, sem uma marca famosa, com uma mulher como enóloga e CEO da empresa. O fato de ser mulher em um segmento até então dominado por homens foi alvo de preconceito?
nessa diferenciação. E eu estava certa: de acordo com os geólogos, a Casa Marin está em uma área onde antes era oceano e, portanto, com altos níveis de cálcio e minerais no solo, o que produz uvas bastante especiais.
Eu não diria que no começo o fato de ser mulher foi
E quais são os desafios atuais de se manter uma
Para a Casa Marin, vejo um pouco mais tranquilo, pois já estamos no mercado há 15 anos e conseguimos bastante prestígio em todos os mercados onde estamos presentes. Essa boa reputação vem se mantendo ao longo dos anos tanto em relação à nossa vinícola como aos diferentes vinhos que produzimos.
23 ZAHIL
Foto: divulgação.
PERFIL
CASONA GEWÜRZTRAMINER Delicioso e perfumado, é produzido a partir do vinhedo de solo argiloso próximo à casa que serve de sede para a vinícola. $$$
Na sua opinião, quais são as semelhanças e quais são as diferenças do mercado da América do Sul em relação ao resto do mundo? A grande diferença está no fato deste mercado preferir claramente os vinhos regionais (argentinos, chilenos e brasileiros). Na Europa, ao contrário, os vinhos do chamado Novo Mundo foram aceitos recentemente (nos últimos 20 anos) e, portanto, ainda precisam lutar muito para terem um lugar assegurado. Quais são os planos para o futuro?
ESTERO SAUVIGNON GRIS Mutação natural da Sauvignon Blanc, a “Gris” ganha um pouco de cor, bastante volume e uma concentração de sabor ímpar.
$$$
24
Crescer no mercado chileno e ter muito sucesso no enoturismo dentro de nossa vinícola. Vocês pensam em
trabalhar com outras variedades de uva?
CIPRESES SAUVIGNON BLANC
Sim! Já começamos trabalhar com Grenache e estamos lançando o nosso primeiro Grenache/Syrah.
Da parte alta de morro assolado pelo vento frio nasce um vinho de acidez pungente e sabores minerais e florais marcantes.$$$
Existem planos para expandir a produção para outras regiões do Chile? Não. Não tenho tempo, nem energia para começar algo novo. Mas talvez meus filhos pensem nisso no futuro. Atualmente, seu filho também é enólogo da vinícola. Quais novidades podemos esperar para o futuro, quando essa nova geração estiver à frente da Casa Marin? Quem sabe o que acontecerá no futuro com eles? Eu não sei dizer!
LAUREL SAUVIGNON BLANC Vinhedos baixos, em exposição noroeste, produzem um vinho frutado e volumoso, com notas cítricas e de flores evidentes.
$$$
COLE
OS MI
O DE PRÊ Ã Ç
VIÑA CASA MARIN
• “Top 100 Viñas del Mundo”: Wine & Spirits: 2009 – 2008 – 2007 – 2006
• “New Icon of tomorrow” – Decanter Reino Unido 2007 • “Viña del Año” – Wines of Chile 2010 • “Enóloga del Año” – Maria Luz Marín – 2008 • “200 mujeres líderes del bicentenario”: Maria Luz Marin – 2010
SYRAH MIRAMAR VINEYARD
• “Top 100 Vinos del Mundo” – Wine & Spirits – 2005 PINOT NOIR LO ABARCA HILLS
• “Mejor Pinot Noir del Mundo 2007”: MIRAMAR RIESLING Originado do vinhedo que, literalmente, “vê o mar”, este vinho é fresco, de baixo teor alcoólico e com aromas típicos.
$$$
Concours Mondial du Pinot Noir – Switzerland, 96pts
SAUVIGNON BLANC CIPRESES VINEYARD
• “Mejor Sauvignon Blanc del Mundo 2010”:
Concours Mondial du Sauvignon, Bordeaux Decanter International Trophy
• “Top 100 Vinos del Mundo”:
LITORAL PINOT NOIR Volume e fruta madura são equilibrados por acidez viva e grande complexidade aromática, com notas defumadas e terrosas. $$$
Wine & Spirits – 2005, 2006, 2007, 2008, 2009
• Mejor Sauvignon Blanc de Sur América: Descorchados: 2009 – 2007 – 2005
SAUVIGNON BLANC LAUREL VINEYARD
• “Mejor Vino Blanco Premium de Chile” – Mujer & Vino 2010 RIESLING MIRAMAR VINEYARD
• “Mejor vino de otros vinos blancos de Sur América”: Descorchados 2009
Foto: divulgação.
MIRAMAR SYRAH Os ventos resfriam as uvas e tornam este vinho ricamente perfumado e equilibrado, com aromas de especiarias e flores.
$$$$
LO ABARCA PINOT NOIR O clima frio permite conservar o frescor e desenvolver aromas como as notas terrosas nesse elegante vinho de Mariluz Marin. $$$$
25 ZAHIL
NA COZINHA
CARRÉ DE CORDEIRO
Quem gosta de carne vermelha, mas prefere a mais magra e de sabor suave, ligeiramente adocicado, não dispensa um carré de cordeiro. Sempre ao ponto ou até mesmo mal passado, porque assim fica bem macio e suculento. O corte é de origem francesa, um prato sofisticado e bastante nutritivo, mas de rápida excecução. Preparado pelo chef mineiro Marco Paulo Peluso, do Les Gourmands Club, combina muito bem com o kisir turco, um acompanhamento saboroso e colorido e que pode ser feito enquanto a carne fica marinando, na geladeira. O Kisir turco pode ser servido quente ou frio, enquanto os carrés são grelhados, na finalização de um prato que é um prazer para os olhos e o paladar.
Ingredientes
Para o kisir
6 carrés de cordeiro 100ml de azeite de oliva 4 ramos de alecrim 4 ramos de tomilho 2 dentes de alho mix de pimentas moídas na hora sal
100gr. de trigo grosso claro 600ml de água 1 cenoura 1 talo de salsão 1 cebola 4 pimentões de piquillo em conserva 10 ramos de salsa 10 ramos de hortelã 50ml de azeite de oliva 2 limões sicilianos 20 pistaches sem casca
Tempo de preparo: 1 hora a 1 hora e meia.
26
27 ZAHIL
NA COZINHA Misture azeite ao alho amassado e com casca, o alecrim e o tomilho. Faça uma marinada, coloque os carrés e leve à geladeira por 30 minutos.
Prepare rapidamente o kisir, misturando
os ingredientes um a um, mexa bem, finalize salpicando a pimenta e salgue a gosto. Para concluir, espalhe o pistache, garantindo a crocância do prato. 28
Leve ao fogo a cenoura com casca, o salsão e a cebola.
Salgue os carrés já marinados e
grelhe em azeite por 3 minutos de um lado e 2 de outro, em fogo alto. Não mexa na carne, vire apenas uma vez. Antes de retirar, salpique o mix de pimentas.
Pique bem a salsa e hortelã,
amasse os grãos de pistache e depois pique-os grosseiramente. Reserve. Corte os pimentões e reserve.
Mantenha só o caldo coado,
salgando a gosto, e acrescente o trigo por 10 minutos em fogo médio. Se secar, acrescente mais caldo. A consistência do trigo deve, no final, ficar como a do cuscus marroquinho.
29 ZAHIL
NA COZINHA
30
TRINCA BOLOTAS
IL PURO MERLOT PIAVE DOC
THE D’ARRY’S ORIGINAL
CÔTES DU RHÔNE
Esta importante novidade da vinícola faz referência a um dos símbolos da região: o porquinho alentejano, que se alimenta quase exclusivamente das “bolotas”. O vinho é um clássico alentejano: fruta viva, notas de especiarias, acidez fresca e taninos perfeitamente construídos.
Nos terrenos aluvionais da planície do rio Piave, região do Vêneto, a Merlot exerce seu domínio há mais de 200 anos. Trazida de Bordeaux e muito bem adaptada aos solos bastante similares ao de sua origem, produz vinhos sedosos, frutados, de taninos macios e bem formados.
A combinação de Shiraz e Grenache é engarrafada de acordo com a “receita” de Francis “d’Arry” Osborn, pai do enólogo Chester Osborn. Premiado continuamente há 4 décadas, é um australiano de carteirinha, concentrado, de intensa fruta preta e vermelha, especiaria e chocolate.
Excepcional vinho, com muita fruta, volume e maciez, agradavelmente “temperado” com perfumes de especiarias. Versátil companheiro de mesa, este típico francês pode acompanhar grande variedade de pratos, de carnes vermelhas e de caça a aves e legumes.
HERDADE DO PESO Alentejo, Portugal $$
ASTORIA VINI Vêneto, Itália $$
D’ARENBERG McLaren Valle, Austrália $$$
DOMAINE LA SOUMADE Rhône, Françal $$
CARRÉ DE CORDEIRO
COM SOTAQUE FRANCÊS Há vários cortes de carne de cordeiro e os carrés - ou costeletas - estão entre os mais apreciados. A nome tradicional do prato é de origem francesa e significa formato quadrangular, mais ou menos o que resulta da carne na extremidade superior do osso, que sempre é mantido durante o preparo. Aliás, é perto do
osso que a carne é mais saborosa, de maneira que a etiqueta à mesa mais informal até permite que se usem as mãos para não perder essa parte deliciosa. Quem vai preparar carrés pode comprar as costeletas ainda unidas, mas muitos açougues já oferecem a opção de venda uma a uma,
prontas para marinar e grelhar. É mais prático para quem não tem tempo. A melhor carne de cordeiro é a de animais com até um ano de idade, criados com todo cuidado, no que se refere à nutrição, manejo e origem. O Brasil consome quase 90 mil toneladas anuais dessa variedade.
O preparo desse prato sofisticado, de grande efeito para os sentidos da visão e do paladar, é bem simples e rápido. Pode ser feito de várias formas. Um convite à criatividade de quem o executa. Experimente nossa receita e brinde com os vinhos da Zahil aqui indicados. Bom apetite!
31 ZAHIL
EM TORNO DO VINHO
ERVAS E ESPECIARIAS, UM FESTIVAL DE AROMAS E SABORES
Um festival de experiências gastronomicas é o que podemos esperar ao entrar no vasto mundo das ervas e especiarias. Não tenha medo de ser um desbravador destas pequenas maravilhas.
Q
uando se ouve falar em ervas e especiarias é inevitável não pensar nos mercados de especiarias do Oriente ou no tempero que estes ingredientes trazem para a gastronomia. Porém, às vezes este último nos traz certo receio – será que vou gostar? será muito picante? - e nos fazem não nos aventurarmos por um mundo tão vasto quanto do vinho. Na realidade, tanto as ervas e especiarias quanto o vinho passam por uma mesma
32
realidade no Brasil: a falta de conhecimento. Para podermos usufruir um ou outro é necessário conhecêlos pelo menos um pouco e para isso é preciso experimentar, experimentar e experimentar sem preconceitos. Por isso fomos atrás do maior especialista em ervas, especiarias e o vasto universo das pimentas do Brasil! Nelo Linguanotto Neto, proprietário da Bombay Herbs & Spices, tem os temperos nas veias e nos ajudou a desvendar um
pouco sobre o assunto. Primeira questão: qual a diferença entre ervas e especiarias? Ervas são essencialmente as folhas dos vegetais que usamos para dar tempero à comida. Entre elas estão o louro, orégano, manjericão, a menta, etc. Já eram usadas desde os tempos primitivos e não é difícil encontrarmos hoje em dia alguém que cultiva suas próprias ervas em casa ou no quintal para usá-las fresquinhas enquanto cozinha. Aqui vai um segredo de bastidor: use-as
33 ZAHIL
EM TORNO DO VINHO
somente no final do cozimento! As ervas são muito delicadas e perdem facilmente seus aromas com o calor do fogo. Já as especiarias correspondem às sementes, cascas e raízes das plantas. Estão intimamente ligadas a grandes momentos históricos da humanidade – como os Grandes Descobrimentos – ou ao seu alto valor, como no caso do açafrão. Mas a verdade é que em países como o Marrocos e a Índia são usadas no cotidiano, sem grandes cerimônias. É possível imaginar que somente estes países do Oriente possuem estas pequenas maravilhas, mas a realidade é que elas estão presentes por todo planeta. Mesmo aqui no Brasil, em regiões como o cerrado ou a Amazônia, é possível encontrar especiarias como o Pacová, que poderia substituir outra tão famosa quanto o cardamomo. O alto custo de sua exploração torna inviável o seu comércio e, portanto, ficam conhecidas somente
34
regionalmente. Atualmente, no entanto, estamos vivendo um momento em que certas especiarias estão ficando mais caras devido à escassez. É o caso da noz moscada ou do cravo-daÍndia, derivados de árvores perenes, que levam mais de 40 anos para crescer, e a oferta está se esgotando. Uma pena! Quanto ao uso na cozinha, o ideal é colocar as especiarias desde o começo do preparo pois, ao contrário das ervas, liberam seus aromas e sabores por infusão. Outra dica importante é que seus componentes aromáticos são muito voláteis e se perdem ao longo do tempo. Por isso, o ideal é moer as especiarias na hora de usar, para preservar integralmente o sabor. As pimentas merecem um parágrafo à parte. São divididas em dois grupos: o gênero Capsicum - plantas cujos frutos são doces (ex. pimentões) ou picantes (ex. pimenta malagueta) - e a família das Piperaceae, que inclui plantas condimentares
como a pimenta-do-reino. Na hora de preparar os pratos, o segredo é conhecer um pouco o gosto dos comensais, pois a quantidade a ser usada vai depender muito do paladar de quem vai comer. Costuma-se aplicar uma graduação de 1 a 10 para indicar a picância da pimenta. Há alguns anos, a pimenta Habanero era a mais forte do mercado, com graduação 10. Então, surgiu a Red Savina, 10% mais forte e Nelo não duvidou em romper a barreira do 10. Hoje a ‘campeã’ presente no Livro Guinness dos Recordes é a Trinidad Scorpion, criada nos Estados Unidos, com picância 28. A pimenta-do-reino é a mais consumida do Brasil e também a mais popular do mundo. Ela pertence à família das piperaceae (Piper nigrum) e de um mesmo grão é possível produzir quatro diferentes pimentas. A pimenta-doreino – quando os grãos ficam secos e enrugados – a pimenta branca – feita com
a remoção da pele exterior e, portanto, mais fraca – a pimenta verde – retirada da trepadeira ainda verde – e a pimenta rosa – quando já está madura. Mas, como fazer combinar toda essa riqueza de sabores com vinho? Algumas considerações devem ser feitas: temperos são só um dos componentes dos pratos, portanto devem ser considerados os demais ingredientes, a textura do prato, grau de gordura, doçura e amargor. Se a especiaria for um componente muito dominante, deve ser tratada de maneira especial (veja quadro ao lado). Pratos fortes pedem ervas/ especiarias fortes. Portanto o vinho também deve ser intenso e encorpado para ficar em pé de igualdade com os sabores encontrados no prato. A diversidade de ingredientes faz o jogo da harmonização ser ainda mais interessante, então divirta-se nas escolhas e veja qual você mais gosta!
UM POUCO DE HISTÓRIA Muitas vezes encontramos no vinho aromas que nos remetem a ervas e especiarias e aí vem a pergunta: de onde veio este aroma? Gregos e romanos tradicionalmente incluiam especiarias nos vinhos para esconder defeitos de produção ou até oxidação dos mesmos. Mas com a evolução do conhecimento, da tecnologia durante a Idade Média e de produtores preocupados com a qualidade este ritual não é mais feito. Portanto, a semelhança de aromas vem de componentes químicos decorrentes do processo de fermentação do suco da uva que são igualmente encontrados nos temperos.
Alguns aromas de ervas e especiarias encontradas no vinho são: Menta / Eucalipto Pimenta-do-reino Alcaçuz Cravo
Lavanda Pimenta branca Baunilha em fava Canela
ERVAS
ESPECIARIAS
Orégano
Açafrão
Alecrim
Anis-estrelado
Cebolinha
Gengibre
Coentro
Noz moscada
Erva-doce
Canela
Menta
Cravo-da-Índia
Manjericão
Baunilha em fava
PICANTES
O JOGO DA HARMONIZAÇÃO ENTRE ERVAS E ESPECIARIAS • Um importante aspecto destes temperos é sua intensidade aromática que vai desde as mais leves (ex. erva-doce) até as mais pungentes (anis e gengibre). O vinho deverá ser tão aromático e saboroso quanto a erva ou especiaria para ficar em pé de igualdade com o prato. Quanto mais aromático for o prato, igualmente deverá ser o vinho.
• Especiarias como canela e cravo-da-Índia não estão restritas ao universo dos
pratos doces e também são usadas nos pratos salgados. Os aromas similares aos destas especiarias são em geral encontrados em vinhos que tiveram passagem por madeira. Desta forma, para harmonizar pratos com tais especiarias procure vinhos que tenham sido envelhecidos em carvalho. Quando usadas em pratos doces, escolha vinhos que tenham o mesmo grau de doçura que o alimento, tais como Porto, Madeira e os vinhos de Colheita Tardia.
CUIDADO COM OS PICANTES!!
Alcaparra
• O sabor marcante ou o efeito anestésico das pimentas mais picantes acabam
Mostarda
impedindo as papilas gustativas de captarem o sabor do vinho. Use tais temperos com parcimônia.
Pimenta- do-Reino Pimenta malagueta
• O equilíbrio pode ser alcançado através da contraposição de sabores, ou seja,
Pimenta vermelha (dedo-de-moça)
vinhos com algum residual de açúcar, intensamente frutados ou com toque de glicerina derivada do álcool para equilibrar a picância do prato.
35 ZAHIL
EM TORNO DO VINHO
POLENTA MOLE COM MIGNON E TOMILHO
PALETA DE CORDEIRO COM NOZ MOSCADA
PATO ASSADO COM PIMENTA DO REINO
BANANAS AO FORNO COM BAUNILHA EM FAVA
TOSCA CHIANTI COLLI SENESI
MARMORELLE NEGROAMARO
FRAMINGHAM PINOT NOIR
VENTUS MOSCATO DI SICILIA
Tosca, uma homenagem à Toscana e ao compositor Puccini, é um vinho que surpreende pela qualidade e equilíbrio. Típico Chianti, com sabor de cerejas e boa integração da madeira.
Este é um dos presentes que a Itália oferece aos apreciadores dos vinhos de qualidade: equilibra sabor de frutas negras, chocolate e especiarias com boa estrutura e frescor.
Entre as pouquíssimas regiões do mundo capazes de produzir bons Pinot Noir estão algumas neozelandesas, inclusive Marlborough. Taninos macios e final longo de fruta e especiarias.
Os Polegato selecionam uvas Moscato de colheita tardia na zona de Pantelleria, tradicional produtora de vinhos de sobremesa na Sicília. O resultado é um vinho fresco e muito saboroso.
TENUTA VALDIPIATTA, ITÁLIA $$
TENUTE RUBINO, ITÁLIA $$
FRAMINGHAM, NOVA ZELÂNDIA $$$
ASTORIA VINI, ITÁLIA $
Noz Moscada Baunilha em Fava
Tomilho
36
Pimenta-do-reino
As receitas estão disponíveis no site bombayherbsspices.com.br/receitas
TAGINE DE FRANGO COM CANELA
TAGINE DE KAFTA COM PÁPRICA
CASERECCE COM CAMARÕES E MANJERICÃO
BOLO DE FUBÁ COM ERVA DOCE
INOCENTE FINO
CHÂTEAU KEFRAYA
GAVI “LE MARNE”
CALLIA AMABLE DULCE NATURAL
Um dos mais renomados de Jerez: produzido de maneira tradicional, com fermentação em barricas, leveduras selvagens, uvas do importante vinhedos de Macharnudo Alto.
Um dos maiores clássicos do Líbano traz aromas complexos que misturam fruta vermelha, especiarias e notas minerais; na boca mostra taninos nobres, boa estrutura e frescor.
Excelente opção de branco para fugir dos habituais Chardonnay e Sauvignon Blanc, Gavi é produzido com Cortese, uva nativa da região. É um vinho de nariz muito aromático.
A Torrontés faz vinhos florais e frutados, que se encaixam no estilo dos “Colheita Tardia”: delicadamente doces, são uma ótima opção para acompanhar sobremesas de frutas frescas.
VALDESPINO, ESPANHA $$$
CHÂTEAU KEFRAYA, LÍBANO $$$
MICHELE CHIARLO, ITÁLIA $$$
BODEGAS CALLIA, ARGENTINA $
Canela
Páprica
Erva-doce Manjericão
37 ZAHIL
TURISMO
ENTRE DOIS MARES
A
A aristocracia do vinho mora aqui. As imagens de luxuosos châteaux são sua marca registrada, mas Bordeaux é também reflexo da dedicação de uma região em fazer vinhos que viriam encantar o mundo e, para muitos, se tornou sinônimo dos melhores vinhos do mundo.
pesar desta afirmativa não ser absoluta – não podemos esquecer os grandes vinhos da Itália, Espanha, Austrália, entre tantos outros – é inquestionável que esta região é referência tanto para enólogos como apreciadores de vinho. Por isso mesmo, é um pouco surpreendente que esta antiga região não tenha se preparado para receber turistas, como países produtores mais recentes como os norte-americanos ou argentinos. Bordeaux nasceu com alma de comerciante com a implantação de um dos mais importantes portos da Europa. O vinho veio por consequência, mas esta rica região investiu pesadamente para garantir que eles fossem de qualidade suficiente para cativar a corte inglesa e, séculos depois, o mercado
38
internacional. Uma das principais características da região é confluência de seus dois grandes rios – o Garonne e o Dordonne – que geram o Estuário do Gironde. É impressionante ter esta visão quando o avião está pousando no aeroporto de Bordeaux-Mérignac! Neste momento é que se pode entender porque o pedaço de terra entre os dois rios é chamado Entre-Deux-Mers, ou em português ‘Entre Dois Mares’. Nossa proposta para este roteiro é conhecer cada “margem” dos rios e descobrir suas diferenças nos vinhos e nas paisagens. A cidade de Bordeaux é a segunda maior da França e possui uma vida ativa com restaurantes, lojas, comércio e muitos negócios. É também lar da Universidade de Bordeaux e, portanto, possui uma agitada população jovem que dá
alegria à cidade. É aqui que recomendamos que faça sua base e aproveite as noites de sua viagem. Para hospedarse, o Wellkhome fica em um prédio histórico no distrito de Quinconces, no centro de Bordeaux, com apartamentos que foram convertidos em locais de hospedagem e o cliente se sente um habitante da cidade. A ‘margem direita’ é o primeiro destino. Na verdade ela está localizada ao norte do Dordogne e é ai que ficam os vilarejos de Pomerol e Saint-Émilion, onde reinam soberbas a Merlot e Cabernet Franc, responsável por vinhos famosos como Château Petrus e Cheval Blanc, respectivamente. Em Saint-Émilion é possível visitar o Château des Laurets, a mais recente propriedade da Cie. Vinicole Baron Edmond de Rothschild adquirida em
2003 por Edmond, filho do Barão. Um imponente ‘château’ domina a propriedade e suas instalações totalmente renovadas com tecnologia de ponta mostra toda qualidade pela qual a família Rothschild é conhecida. Aproveite o restante do dia para visitar a antiga cidade de Saint-Émilion cheia de ladeiras e casas feitas de pedra que te levam para épocas remotas. A cidade deve ser percorrida a pé para descobrir desde a igreja com suas colunas românicas até suas inúmeras lojas de vinho. O segundo dia será dedicado à Sauternes, região mais ao sul de Bordeaux e responsável pelos vinhos brancos doces mais famosos do mundo. Sua geografia única permite o desenvolvimento do fungo Botrytis cinerea nas uvas
brancas Sémillon e Sauvignon Blanc deixandoas secas, mas extremamente ricas em sabor, acidez e complexidade.
A próxima região a ser visitada é o Médoc, onde estão produzidos os vinhos tintos mais famosos de Bordeaux, feitos com maior porcentagem de Cabernet Sauvignon em corte com Merlot e Cabernet Franc, cujas plantações vêm cedendo a cada ano mais espaço para Merlot. Aqui estamos entramos na área da aristocracia de Bordeaux!
Se você se planejar com antecedência, é possível agendar uma visita paga ao lendário Château Margaux que acabou de inaugurar sua nova adega planejada pelo renomado arquiteto inglês Norman Foster. Vindo pela estrada a placa do Château passa quase despercebida, mas o GPS te levará à imponente casa, marca registrada da vinícola, que fica escondida em um pequeno bosque. Para quem ainda não tiver provado seu primeiro ‘Margaux’ é indescritível a emoção de fazê-lo no local onde ele é produzido! Paul Pontallier, além de diretor e enólogo do Château, é um dos sócios do projeto chileno Viña Aquitania, que se uniu a outros grandes nomes como
Bruno Pratts (ex-Cos d’Estournel), Felipe de Solminihac e Ghisland de Montgolfier (Champagnes Bollinger) com a intenção de fazer o melhor Cabernet Sauvignon do Chile. O nome dado ao vinho é Lázuli e know how não falta a estes senhores para chegar ao seu objetivo. A última parada será a pequena região de ListracMédoc que passa despercebida por muitos, mas foi descoberta pelo Baron Edmond de Rothschild quando decidiu seguir passos próprios na produção de vinhos, em vez de se acomodar ao lado de seus primos, proprietários do Mounton e Lafite Rothschild. Château
Foto: divulgação.
A viagem é feita pela impecável rodovia A62 em direção à Toulouse e, a partir do momento da saída da autopista e da entrada na estrada vicinal a paisagem se transforma para uma linda floresta. Em Sauternes é possível visitar o Château Guiraud, um dos Premier Grand Cru Classé de Sauternes da lendária classificação de 1855. A vinícola possui um dos maiores vinhedos de Bordeaux e tanto a área plantada como a de vinificação seguem o conceito orgânico, algo que
exige competência em uma região onde as condições climaticas são instáveis. É possível agendar visita para conhecer o processo de produção dos vinhos e degustar não só o top de linha como o Petit Guiraud, seu segundo Sauternes, e o vinho branco seco “G” de Guiraud.
Vinhedos do Château Guiraud, Sauternes
39 ZAHIL
Fotos: Bruna Veratti.
TURISMO
Clarke foi adquirido pelo barão em 1979 e, a partir daí, foi totalmente revitalizado. Ao contrário do que se espera, não há um ‘château’ ou mansão, pois a mesma foi demolida antes do barão comprar a propriedade devido ao seu mau estado de conservação. Mas o nome se manteve e os jardins ficaram a cargo de sua esposa, Baronesa Nadine, e tornam a visita à vinícola ainda mais agradável. As outras propriedades do barão, Château Malmaison e Peyre-Lebade são vizinhas ao Clarke e seus vinhedos divididos por um riacho e uma fileira de pinheiros. Havendo tempo é possível ampliar ainda mais a visita e chegar até Graves – terra do Château Haut Brion – Pomerol, Entre-Deux-Mers e tantas outras. Mas não deixe de apreciar algumas horas nas pequenas cidades no meio do caminho e conversar com os simpáticos comerciantes locais. Pequenas boulangeries que servem o autêntico croissant francês ou uma tortinha de framboesa fresca serão mais um momento inesquecível para ser lembrado quando voltar para casa.
40
Vinícolas CHÂTEAU GUIRAUD ww.chateauguiraud.fr CHÂTEAU MARGAUX www.chateau-margaux.com CHÂTEAU CLARKE E CHÂTEAU DES LAURETS www.cver.fr
Lojas BADIE badie.com LA VINOTHÈQUE DE BORDEAUX vinotheque-bordeaux.com L’INTENDANT www.intendant.com
Bares de vinho AUX QUATRE COINS DU VIN aux4coinsduvin.com BAR A VIN DO CIVB baravin.bordeaux.com
Restaurantes L’ORANGERIE DE BORDEAUX lorangeriedebordeaux.com LE NOAILLES www.lenoailles.fr LA BRASSERIE BORDELAISE, brasserie-bordelaise.fr COMPTOIR CUISINE comptoircuisine.com
Onde se hospedar WELLKHOME wellkhome-bordeaux.com
CHÂTEAU DES CABANS MÉDOC CRU BOURGEOIS $$
CHÂTEAU DES LAURETS PUISSEGUIN ST. ÉMILION CIE. VINICOLE EDMOND DE ROTHSCHILD $$$
Jardins e vinhedos do Château Clarke, do Barão Benjamin de Rothschild.
CIE. VINICOLE EDMOND DE ROTHSCHILD CHÂTEAU CLARKE LISTRAC CRU BOURGEOIS $$$$
CHÂTEAU GUIRAUD
Mas não deixe de provar o Les Granges deste mesmo produtor. $$$
Não deixe se descobrir o vinho branco seco desta vinícola, “G” de Guiraud. $$$
CHÂTEAU GUIRAUD 1ER. GRAND CRU CLASSÉ SAUTERNES (375 ML) $$$$
41 ZAHIL
A GENTE GOSTA A GENTE RECOMENDA
Ouvimos para esta edição distribuidores da Zahil Importadora em várias cidades do Brasil, para conhecer um pouco mais seus gostos, preferências e indicações para os clientes. Confira aqui a seleção dos parceiros Zahil.
Sou um apaixonado por este vinho chileno que além de apresentar uma qualidade ímpar é muito mais acessível se comparando aos grandes ícones do Velho Mundo. Apresenta aromas complexos de frutas maduras, notas terrosas e o típico mentolado dos grandes Cabernets chilenos. Na medida que evolui na taça, os aromas terciários se apresentam de forma cativante e sedutora, provocando o desejo de desbravar o vinho. Já no paladar é suculento, cheio e muito equilibrado, deixando uma sensação prazerosa e despertando o interesse para uma próxima taça. Um grande e marcante vinho!!! Paulo Cursino – Enoteca Cursino São José do Rio Preto, SP
DOMUS AUREA Quebrada de Macul, Chile $$$$
Um vinho redondo, de cor rubi violáceo intenso, com aromas onde sobressaem notas de frutas silvestres maduras, pimenta preta. Na boca se mostra elegante, com taninos macios com um toque defumado. Retrogosto bem persistente, mostrando a tipicidade deste monovarietal. Excelente qualidade x valor! Em uma degustação da ABS São Carlos o Aquitania Syrah surpreendeu pela elegância e riqueza de aromas Idinir Janduzzo – Mercearia 3M São Carlo, SP
AQUITANIA SYRAH Viña Aquitania, Chile $
42
Sou fã da linha Salentein, em especial do Salentein reserve Malbec, vinho que sempre escolho para acompanhar as melhores carnes. Vinhos assinados pelo super-renomado enólogo José “Pepe” Galante. André Linheiro – Brava Bebidas/D´Origem Fortaleza, CE
SALENTEIN RESERVE MALBEC Bodegas Salentein, Argentina $$
Este vinho encorpado e equilibrado me dá muito prazer. Foi meu eleito para servir no casamento da minha filha e no aniversário da minha loja em Campinas, Miami Store. É o meu preferido da Bodega Salentein. Carlos Said, Miami Store Campinas, SP
NUMINA GRAN CORTE Bodegas Salentein, Argentina $$$
Um vinho diferenciado, marcante, sabor que merece ser apreciado demoradamente e repetidamente. Pede paciência depois de aberto, esperar por ele o fará se mostrar rico em aromas, boa acidez e taninos elegantes. Um Tannat de primeira linha! Marcelo e Verônica Chianca – Magazzino Natal/RGN
AMAT TANNAT Bodegas Carrau, Uruguai $$$
43 ZAHIL
FORTIFICADOS
JEREZ: VOCÊ JÁ PROVOU DE NOVO? E
Poucos vinhos são tão diversos e versáteis quanto o “Segredo Andaluz”.
xiste um clube secreto, cujos sócios muitas vezes nem sabem que têm uma carteirinha. É um clubinho restrito, de uns poucos que descobriram um dos segredos mais mal escondidos do mundo do vinho, o Jerez. Com sorte, algum fã das corridas se lembra do nome: a cidade na Andaluzia, sul da Espanha, foi palco de vitórias de Ayrton Senna e ainda abriga as corridas do MotoGP, dando seu nome também a vinhos produzidos na região. Acontece que esses vinhos fogem absolutamente ao padrão, à expectativa que se tem do que é vinho hoje. E expectativa, meu caro apreciador do velo de flor¹, é um clichê de dois gumes. No caso do Jerez, há dois estilos que se destacam nas parcas vendas ao redor do mundo: o Fino e o Cream. O Cream é uma combinação de Jerez envelhecido com Jerez doce e um dos principais responsáveis pelo profundo preconceito contra essas maravilhas. A grande maioria do Jerez
comercializado nas últimas décadas é uma versão diluída de Cream, sem complexidade nem riqueza de aromas e um alto teor de açúcar. Daí que muita gente os vê como vinhos docinhos, bobinhos, coisa do passado.
iniciação, um pouco de prática.
Jerez, no entanto, é sem dúvida muito mais do que isto. Existem vários estilos oficiais (e um sem-fim de classificações, extra-oficiais), o que por um lado pode Já o Fino gera um outro tipo confundir e assustar. Por de confusão. O fato de que outro lado, tornam a visualmente se pareça um descoberta desses vinhos um vinho branco “normal” cria prazer quase interminável: uma grande os vinhos "Acontece que há bons armadilha. para Os vinhos esses vinhos fogem aperitivar, absolutamente ao aqueles brancos que padrão, à expectativa excelentes dominam frutos que se tem do que é com o mercado do mar, vinho hoje". hoje tendem outros são a ser intensamente frutados e boa companhia para carnes e macios. Os onipresentes há também os para a Chardonnay e Sauvignon sobremesa. Há Jerezes tão Blanc estão para o vinho refinados e complexos como a Caipirinha está para quanto os melhores Cognac os coquetéis – em geral são e há incríveis receitas de refrescantes, de boa acidez e coquetelaria com os variados levemente adocicados, estilos. deliciosamente fáceis de beber. Os Finos de Jerez são Foi com essa consciência que a “versão vinho” de um um par de aventureiros, com Martini – os melhores são a ajuda de outros absolutamente secos, quase apaixonados por Jerez e salgados, com certo impacto alguns produtores do álcool e um perfil de esclarecidos, começaram em aromas que requerem 2005 um projeto fantástico,
que desencadeou uma explosão na região. O criminalista Jesús Barquín e o enólogo Eduardo Ojeda decidiram comprar e engarrafar lotes limitados de botas² selecionadas cuidadosamente por degustação, em vinícolas e armazéns ao redor da Andaluzia. Estava criado o “Equipo Navazos”, um pequeno time que daria grande impulso a Jerez e recolocaria os vinhos sob os holofotes. Uma das maiores conquistas desse time foi justamente colocar em evidência a qualidade e a autenticidade dos vinhos. Suas seleções saem das soleras³ das melhores bodegas da região, com destaque para Valdespino, que é conduzida com extrema atenção por Ojeda. Em lugar de difundir os vinhos simplórios e docinhos que compõem a maior parte das vendas, se coloca em evidência aquilo que faz de Jerez um lugar único, com vinhos únicos. E são estes os vinhos que convidamos vocês a experimentar.•
¹Flor – as leveduras capazes de formar uma película (ou “véu”) sobre o vinho, alterando seu caráter. ²Bota – o nome dado à tradicional barrica de 600 litros utilizada em Jerez. ³Solera – o sistema de envelhecimento de vinhos tradicional em Jerez, que gradualmente mistura vinhos de anos diferentes.
44
Para beber e apreciar JEREZ PARA APERITIVAR Nada como uma taça de vinho refrescante, que estimula o paladar e também o estômago! A Manzanilla é uma opção perfeita: seu sabor é vibrante e abre o apetite. Se encaixa perfeitamente com azeitonas verdes e outras conservinhas de aperitivo. JEREZ PARA OS FRUTOS DO MAR A vivacidade da Manzanilla também funciona para os frutos do mar. No entanto, preparos ambiciosos e ricos, como uma bela Moqueca Baiana ou um Curry de Camarões, precisam de vinhos à altura. Um Fino com envelhecimento prolongado ganha a intensidade, riqueza de sabor e persistência necessárias. JEREZ PARA AS CARNES A maioria dos preparados de carne implica em sabores intensos e textura mais firme. Para estes, os vinhos de Jerez com influência do oxigênio são excelentes. Um Amontillado se encaixa perfeitamente a muitos preparos de porco e aves. Os Olorosos, volumosos e longos, são companhia para os assados mais nobres.
La Guita Manzanilla Marqués del Real Tesoro, Espanha $$
Inocente Fino Valdespino, Espanha $$$
Real Tesoro Fino Hijos de Rainera Perez Marin/La Guita, Espanha $
El Candado Valdespino, Espanha
JEREZ PARA A SOBREMESA Há Jereces adocicados através da combinação de diferentes vinhos, como o Cream. O truque aqui está em escolher os que tenham envelhecimento mais longo após o blend, de forma que tudo tenha se encaixado de forma harmoniosa. Para os verdadeiros amantes de doces, uma tacinha de Pedro Ximenez ou de Moscatel são a perfeição. JEREZ PARA CHARUTOS Os amantes de charutos vivem em busca de bebidas saborosas e impactantes, capazes de sustentar o poder das baforadas. Os Olorosos, intensos e persistentes, são boa pedida para os charutos de bitola mais larga e sabor mais intenso. Para aqueles um pouco mais sutis e delicados, um Palo Cortado equilibra refinamento e intensidade. JEREZ PARA COQUETELARIA Aqui o limite é o seu gosto pessoal. Há todo tipo de coquetéis, feitos com todos os estilos de Jerez. “Adonis”, “Bamboo” e “Rapscallion” são coquetéis fáceis de preparar e é possível encontrar suas receitas com facilidade na internet e na literatura.
$$$
45 ZAHIL
ARTIGO
VINHO PARA MULHER? NÃO É BEM ASSIM! Quem nunca ouviu – ou falou (ai de mim!) – que certo vinho é ideal para mulheres? Vinhos rosés, espumantes, determinados brancos e muitas vezes os doces são “endereçados” às mulheres ou desprezados por homens porque são “vinho de mulher”. No entanto, neste ponto da história da sociedade humana, é preciso questionar e combater essa visão sexista sobre um dos elementos mais gregários e acolhedores da nossa cultura: o vinho. Existem de fato diferenças de sensibilidade entre os homens e as mulheres, que podem levar a uma predisposição a gostar ou rejeitar certas sensações. Isso acontece porque, em geral, as mulheres têm os sentidos do paladar e do olfato mais apurados do que os dos homens. Sim, senhor, sim senhora: fisiologicamente, é comum que as mulheres sejam mais sensíveis aos aromas e gostos do que os homens. O resultado é que, em geral (outra vez...), as mulheres tendem a repelir mais facilmente a adstringência e o amargor, assim como a efervescência excessiva. Tratada de forma superficial, para não dizer maquiavélica, essa situação leva a uma conclusão aparentemente lógica: vinho de mulher é levinho, docinho. “Homem que é homem” gosta de bebidas fortes, concentradas, intensas, certo? O que não se leva em consideração na maioria dos casos é que de toda maneira a adstringência, o amargor e o “incômodo” da efervescência são gostos adquiridos. Com a experimentação, uma “educação” do paladar, tanto os homens quanto as mulheres podem descobrir o lado positivo dessas sensações. Nenhum ser humano nasce gostando dessas características e, não sem motivo, o tipo de vinho que domina o mercado de massa é leve, macio e doce - aquilo que agrada com mais facilidade a qualquer pessoa com menos experiência com a bebida. E como de fato homens e mulheres se relacionam com o vinho de forma diferente – em especial por causa de construções sociais que se desenvolveram nas nossas sociedades – os homens tiveram por muito tempo uma chance maior de “educar” seus paladares do que as
46
mulheres. Os vários “clubinhos” do mundo do vinho foram por muito tempo dominados por homens: desde o comércio e a produção, passando pelo consumo, apreciação e crítica. Me surpreende que ainda haja pessoas que separem os vinhos assim – ou qualquer outra coisa, já que estamos falando no assunto. É certo que há inúmeras atividades, objetos, produtos do engenho humano que tradicionalmente são vinculados ao estereótipo de masculino e feminino. No entanto, no ano de 2015, em grandes cidades, em meios sociais com acesso à informação e instrução, determinar que um tipo específico de vinhos seja adequado a mulheres ou a homens é simplesmente errado. 2015: é um número grande, faça aí a soma. Um sinal de que já passamos e muito do tempo em que as coisas eram separadas entre “o que é de homem e o que é de mulher”. Considerando que já temos que nos esforçar para não cair na armadilha sexista com coisas mais entranhadas, enraizadas culturalmente e talvez socialmente mais relevantes do que vinho, eu diria vale uma atenção extra quando se trata de algo tão... compartilhável, como é a nossa bebida predileta. Faço questão da liberdade de poder desfrutar e apreciar qualquer vinho pelo qual me interesse: nada é mais natural do que desejar um refrescante rosé quando o clima ou a comida assim o pedem; ou me deleitar com um Riesling com um toque adocicado; ou então encontrar a riqueza e a complexidade de um Bordeaux envelhecido. Da mesma forma, nada mais natural também do que combatermos o prejulgamento e a limitação do que a minha companheira, as minhas colegas e amigas poderão desfrutar. Quiçá, até, compartilhando comigo uma garrafa.
Bernardo Silveira AIWS especializou-se em vinhos em Londres, pelo Wine&Spirits Education Trust. Hoje é estudante do Institute of Masters of Wine e Diretor Técnico da Zahil Importadora.
www.zahil.com.br
Foto da capa: Jerez e seu “véu” de leveduras.
SÃO PAULO RIO DE JANEIRO SANTA CATARINA PARANÁ MINAS GERAIS BRASÍLIA SANTOS SE FOR BEBER, NÃO DIRIJA
Foto: divulgação sherry.org
Aprecie com Moderação. Venda proibida para menores de 18 anos. Se for beber, não dirija. Preços sujeitos a alteração sem aviso prévio. Consulte-nos sobre as safras disponíveis. Todas as garrafas contêm 750 ml., exceto quando indicado o contrário. Imagens meramente ilustrativas.