Ana BonifĂĄcio Bernardo Scoditti JosĂŠ Augusto Castro Mariana Mizarela Nuno Fonseca Rui Horta Pereira
CALL FOR
PAPERS ANA BONIFÁCIO (n.1975) BERNARDO SCODITTI (n.1952) JOSÉ AUGUSTO CASTRO (n.1962) MARIANA MIZARELA (n.1987) NUNO FONSECA (n.1976) RUI HORTA PEREIRA (n.1975)
12 de janeiro a 2 de março de 2019 january 12 to march 2, 2019
CALL FOR PAPERS
| 01
TECHNICAL INFORMATION
Call for Papers Exposição Coletiva // Collective Exhibition 12 de janeiro a 2 de março, 2019 january 12 to march 2, 2019
Artistas // Artists Ana Bonifácio Bernardo Scoditti José Augusto Castro Mariana Mizarela Nuno Fonseca Rui Horta Pereira Curadoria // Chief Curator Helena Mendes Pereira Comunicação e Produção Executiva // Communication and Executive Production Catarina Martins Apoio à Comunicação e Produção Executiva // Communication and Executive Production Support Vanessa Ribeiro
Tradução // Translation Lurdes Fonseca // Photography and Video // Catalog Print
// Number of Copies 300 exemplares // 300 copies 02 | CALL FOR PAPERS
CALL FOR
PAPERS
CALL FOR PAPERS reúne, na zet gallery, em Braga, um conjunto de autores que privilegiam a produção artística sobre papel, encarando-o não apenas como suporte mas como espaço de possibilidades para o desenvolvimento de projetos de cariz instalativo: o papel é objeto e as obras de Arte combinam-se em soluções diferenciadoras de montagem para desafiarem a arquitetura e a intervenção do processo de curadoria sobre a mesma. Partimos daqui e clamamos pelo papel, em jeito de sugestão irónica à terminologia da Academia e dos eventos tecnocientíficos. O mote, apesar de comum, pressupõe seis formas de ver, seis títulos e seis áreas. 3x6. Superstição? Talvez.
Habituamo-nos a viver de pequenos bálsamos, de pequenos nadas emocionais, no emaranhado dos dias perdidos, nas ilusões do tudo que desejamos e do pouco que, verdadeiramente, necessitamos. O papel oferece aos espíritos inquietos a possibilidade da indagação das mágoas, da resiliência à inércia especulativa do quotidiano. Dedilhamos palavras e formas, acrescentamos conteúdo às dúvidas e substituímos o vazio pela essência da (des)ordem instalada nas almas (des)obedientes. Os japoneses conservam a criação com e a partir do papel como templo sagrado da estética que se superioriza à insensatez da destruição. O papel é mote da produção artística e do exercício da motricidade, é culto e é corpóreo. Tradicionalmente, o meio e o mercado da arte ocidental desconsidera-o enquanto suporte, tomando-o como prévio desígnio do porvir, esboço da ideia, exercício da (des)integração da imagem, preparatória possibilidade (ou não) da representação da realidade, prática da mão e do olhar, contrário da preguiça. Mas o papel tem o misticismo das meta-linguagens e da combinação do saber fazer e do saber pensar, com o espaço de atenção ao inconsciente e imediato, além de desafiar o exercício de adaptação do corpo à forma e ao projeto. O papel tem a pluralidade das coisas confusas das quais não conseguimos fugir. É o bálsamo dos intervalos criativos, dos abismos existenciais. O exercício sobre o papel permite-nos uma dimensão de Liberdade, sem formalidades e sem muletas pictóricas e/ou compositivas. Confrontamo-nos com a ideia ou com a sua ausência e deixamos discorrer a imagética leitura do que vem de dentro para fora e do que vem de fora para dentro. E de um nada construímos uma elegia que será poema objetual entre paredes. Avançamos, com atenção ao jogo de palavras, no elogio do papel e do seu regresso como protagonista do tempo e da matéria da curadoria e no alinhamento com uma certa proliferação da indisciplina expográfica, a tal explosão de fragmentos indisciplinados e sem direção precisa 1 de que fala Leonel Moura, que pretende devolver aos públicos o difícil desígnio do término da obra de arte. A questão da transformação dos públicos em agentes ativos do processo criativo é uma das que marca a dita pós-modernidade, identificada inicialmente como uma libertação do formalismo, mas também do aparelho ideológico, uma libertação das visões dicotómicas. Com efeito, tão central como a superação do conceptualismo foi a oposição ao neo-realismo e ao aparelho institucional. 2 Artistas, curadora, galeria e públicos estabelecem conexões numa imensidão de folhas de papel feitas desenho e/ou pintura: a anti-disciplina do contemporâneo e da vanguarda reina. A teia complexifica-se. Deambulamos no espaço, tentamos lê-lo, antes e depois de o interrogarmos. Obra de arte? Esquiço ou atalho circunstancial? Exposição ou parábola? Ironia ou tragédia? 1 2
MOURA, Leonel - “A discussão do momento” in Expresso “A Revista”, 30 de janeiro de 1982, página 28.
JÜRGENS, Sandra Vieira – Instalações Provisórias. Independência, autonomia, alternativa e informalidade, Artistas e exposições em Portugal no século XX. Lisboa: Documenta, 2016. Páginas 330 e 331. CALL FOR PAPERS
| 03
Assim, do mesmo modo que agora o artista se dirige, pelo seu lado, para o espaço expandido da criação – que já não acaba na porta do atelier, como antes alastra ao museu e à galeria -, sem conhecer previamente o programa que só a obra, uma vez realizada, lhe irá revelar em toda a sua extensão, também o lugar e a função do espectador contemporâneo mudaram. Tal como, de certo modo, acontece com o curador – que na verdade o representa, qual agente, diante do artista e da instituição, e em relação à qual aparece figurado quase como um “fiador do artista”, mediando as suas complexas relações e lembrando a ambos que o destino da obra é a instituição graças à qual a obra se inscreve - , ele encaminha-se agora para o museu, ou para a galeria de arte, numa disponibilidade absoluta (se não mesmo tomado de uma secreta expetativa) para ser surpreendido. Nisso se evidencia também o sentido cada vez mais performativo de toda a arte actual.3 Representação ou abstração? Será que a abstração existe? Seguimos, daqui, com Ana Bonifácio (n.1975), Bernardo Scoditti (n.1952), José Augusto Castro (n.1962), Mariana Mizarela (n.1987), Nuno Fonseca (n.1976) e Rui Horta Pereira (n.1975), uma seleção de artistas que nos levam numa viagem pelos caminhos e possibilidades da pintura e do desenho e dos seus referenciais reais (ou não). Distinguimo-los pelas linguagens e plasticidades, pelas formas de fazer e de apresentar a obra de Arte enquanto resultado de um processo de pensamento e construção interior, suportada em conceitos e estórias simples do quotidiano. Desafiamo-los: a produção sobre papel, o papel como objeto instalativo, a pintura e o desenho no limbo das categorizações estilísticas e com a certeza de que o tempo psicológico não corresponde ao tempo matemático4, como escreveu Saramago. Como que por teimosia e num exercício de não perder a figuração no desenho, há uns meses José Augusto Castro decidiu pousar no balcão da cozinha de casa um pequeno bloco A6 e, diariamente, fazer um registo rápido do que observava por ali. Os blocos foram-se multiplicando e, a dada altura, aquelas figurações reuniam linhas e detalhes que, na desconstrução da realidade que nos leva (por vezes) à abstração e à pureza da experiência da matéria, serviram de mote à realização de uma série de desenhos (muitos deles com colagem) a preto e branco em que figuração e abstração se confundem na ilusão de uma plasticidade simples e que nos liga, de forma imediata, à identidade de José Augusto Castro. DESENHOS DE LUGAR NENHUM é assim a catarse do exercício quotidiano de observação e registo, despretensioso e automático, que despertou o interesse pela poesia das formas do espaço habitado e pelas suas possibilidades na composição de novos desenhos. Agrupamo-los por cadência e expomo-los como sugestões narrativas encriptadas. José Augusto Castro mantém-se assim fiel a uma forma livre de ver a produção artística, desvinculada de tendências e apenas concentrada nas possibilidades da imagem e da experimentação. Licenciado em Pintura pela Escola Superior Artística do Porto, frequentou também um workshop em litografia e gravura na École de Beaux Arts de Liège, na Bélgica. Desde 1990, já realizou 15 exposições individuais e participou em mais de 25 coletivas e está representado em coleções públicas e privadas, tanto em Portugal como além fronteiras. A singularidade do que nos propõe em CALL FOR PAPERS foi ponto de partida e configura-se como desafio à ação-contemplação dos públicos, desafiados ao seu modo de ver. 3
ALMEIDA, Bernardo Pint. de – Arte e Infinitude. O Contemporâneo: Entre a Arkhé e o Tecnológico. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 2018. Página 46. 4
04 | CALL FOR PAPERS
SARAMAGO, José – Todos os Nomes. Lisboa: Editorial Caminho, 1997 (7ª edição). Página 179.
Em “CIDADE-CORREDOR”: VAZIOS CONSTRUÍDOS E OS PIRILAMPOS DE PEDRA deparamo-nos com a descida do desenho, dominado pelos pretos e pelos tons quentes, riscados em raiva, que nos entregam aos territórios de Ana Bonifácio. A circunstância da mudança de casa e dos caixotes levou-a à seleção de 15 livros, que se apresentam com um dos três fatores de desenvolvimento do projeto. Juntamos-lhes a rotina da análise dos territórios e das suas escalas e uma sala de 20 m2 transformada em atelier-galeria e onde procurou imaginar o corredor da zet gallery para o qual pensou o projeto. Dos livros, das suas plasticidades, dos seus títulos ou dos seus atores, das memórias e estórias que carregam começa o caminho solitário de construção desta “cidade-corredor”. O corredor sugere-lhe o princípio das paredes e dos muros enquanto “contornos primordiais do espaço público”, escreve-nos. E continua, “orgânica ou planeada, a cidade faz-se de positivos e negativos. (…) Da racionalidade urbana e da mimetização dos vãos, emerge a ideia de transição e passagem entre público e privado. A vida interior é calor que se exibe ao fundo da perspetiva e junto dos pontos de fuga indefinidos, sobrepostos, em movimento, que deixam, atrás de si, rastos de luz e restos de vida de pedra”. Ana Bonifácio pensou o papel para o lugar e na mudança operada em desenho e pintura interpela-nos sobre a nossa incapacidade de impor uma ordem ao espaço urbano, olhando a cidade como um somatório de matéria e imatéria, de intenção e aleatório. Natural de Évora, Rui Horta Pereira é formado em Escultura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Tem realizado diversas mostras individuais e participado em projetos coletivos, sendo que, desde 2000 o seu trabalho se tem centrado nas áreas da escultura e do desenho, onde explora diferentes materiais, técnicas e suportes, ainda que o papel prevaleça. A preparação do suporte, do papel, é uma das essências da produção artística de Rui Horta Pereira que em RETRILHAR apresenta duas séries de desenhos: Frontispícios e Moire. Os primeiros, dominados pelo preto e branco e por uma certa figuração icónica que itinera entre a mancha e a linha e a segunda com a cor a ocupar delicadamente, por vezes atrevidamente, a catarse da grafite que cobre a superfície em exercícios de experimentação metodológica e sistemática. Há espacialidades, vazios, sugestões gráfica, sumptuosos contornos de cor e as texturas que levam o desenho à inquietação da escultura e do pensar o espaço. RETRILHAR é, assim, “uma espécie de retorno a premissas e preocupações que se vão manifestando em formulações distintas ao longo dos anos, mas que não essência partem de uma matriz comum. São assim dois caminhos, dois trilhos possíveis”, escreve-nos. Das possibilidades da abstração chegamos à transnarratividade de Nuno Fonseca que, sobre o suporte papel, explora a tenção inerente do desígnio de uma representação que, em detalhes, chega à hiperrealidade, mas que é colocada ao serviço d’ O FLORICULTOR QUE SACHAVA PÉS, personagem principal ausente de um conjunto de obras que funcionam como atos de um drama. Sobre o seu Floricultor, Nuno Fonseca conta-nos assim: Acordava cedo como se o dia fosse crescer diferente. Levantava-se da cama, calçava os chinelos, dirigia-se à casa de banho e lavava a cara para acordar bem. “Fica-se mais expedito, com outra disposição!” Comia qualquer coisa, quase sempre um pão e uma caneca de leite e saía… como se saísse da minha vida. Ia colher flores já maduras, flores e pessoas, que atava com baraços emolhando tudo em dezenas. Depois voltava montado num burro, que dependendo do caminho lavrado, vinha de gente ou aos coices. Nuno Fonseca é um desenhador exímio. A sua produção artística assenta numa sensibilidade detalhista que contrasta com a presença dos contornos e com a expressividade das anatomias e do movimento dos corpos. Devolve-nos ao universo das fábulas e das parábolas do tempo escasso. CALL FOR PAPERS
| 05
Mariana Mizarela está há já vários anos a desenvolver o seu projeto artístico em Barcelona, perseguindo uma estética de tendência pop que recupera um universo das memórias a partir da recolha de fotografias, postais sobre os quais a pintura intervém disruptivamente, recriando cenários e recuperando contextos para o presente. SOUVENIR DA MEMÓRIA bebe desse espírito e trata-se de um projeto pensado para a leitura cruzada do corpo com uma estante-repositório, como se da aquisição de um souvenir se tratasse aquela contemplação. Mariana Mizarela licenciou-se em Artes Plásticas pela Escola Superior Artística do Porto e seguidamente concluiu o Mestrado em Ilustração Artística do Instituto Superior de Educações e Ciências, em Lisboa. É numa outra geografia que nos conta das suas viagens, influenciadas pela imagética do cinema e dos media dos primeiros tempos da pop, ainda que mantendo a tónica nas possibilidades de intervenção do corpo, por um lado, e na presença da palavra enquanto ato, por outro. Presenteia-nos com a sua arte-postal, a sua correspondência, recorrência quase perdida da utilização do papel. A obra de Bernardo Scoditti posiciona-se no tempo e no espaço do papel e da sumptuosidade da geometria ao serviço do detalhe. Linhas, círculos e pequenas manchas repetem-se na monocromia do suporte, simétrica e hermeticamente trabalhada, questionando a nossa forma de ver e percecionar e remetendo-nos para as técnicas de desenho, preparação para o pictórico e para a representação. Parece que regressamos ao Renascimento e sentimos a ligação umbilical entre Arte, Ciência e espiritualidade. Plena de virtuosismo, a produção do artista italiano, é de leituras equívocas e multiplicadas, na evidência de que a luz e os dias nos vão revelando um pouco mais. Apenas grafite e tinta-da-china, por vezes também aguarela, sobre papel. Sempre o papel. Não raras vezes, a obra ocupa os dois lados do suporte, numa narrativa formal dupla e complementar. O papel enquanto suporte, para a bidimensionalidade, mais próximo da natureza. A linha desenvolve-se ao ritmo certo, minucioso e de inequívocas conformidades com a ordem, interior e exterior, da composição. Há simetria, mas há, também, um ligeiro desajustar nos pequenos universos que, por vezes, surgem na composição e para os quais é necessária a atenção no exercício de decifração dos pequenos universos sugeridos. A obra do artista natural de Mesagne, na região de Brindisi, no sul de Itália, é um caso ímpar no panorama da produção artística do contemporâneo, não se posicionando entre correntes ou estilos, mas tendo sim a marca dos estudos clássicos de desenhos e pintura, que se tornam dimensão primeira do que há a ver e descobrir. Tudo é intenção e razão, ainda que medido no exercício de um retiro do mundo e de concentração na ação plástica e pictórica. Tudo é TEOREMA. Helena Mendes Pereira
06 | CALL FOR PAPERS
CALL FOR
PAPERS
CALL FOR PAPERS gathers in zet gallery in Braga a set of authors who privilege art on paper, seeing it not only as a medium, but also as a space which makes the development of installations possible: paper is the object and the works of Art combine themselves in differentiating assembly solutions to defy architecture and the intervention of curatorship in architecture itself. We set off from here and shout for paper, referring ironically to the Academy’s terminology and the technological and scientific events. The theme, despite being common, assumes six ways of seeing, six titles and six areas. 3x6. Superstition? Perhaps.
We get used to living off small balms, small emotional nothings, in a maze of lost days, in the illusions of everything we crave and of the little we truly need. Paper gives restless spirits the opportunity to question sorrows, resilience to daily speculative inertia. We handle words and shapes, we add content to doubts and replace void with the essence of the installed (dis)order in the souls of the ones who are (dis)obedient. Japanese have maintained the creation with and from paper as a sacred temple of aesthetics which is superior to the foolishness of destruction. Paper is the subject of artistic production and motricity exercise, it is refined and tangible.Traditionally the Western art market does not consider it as a medium, seeing it as a previous future design, a sketch of an idea, an exercise of the (dis)integration of image, a preliminary possibility (or not) of the representation of reality, practice of the hand and eye, opposite to sloth. However, paper has the mysticism of metalanguages and the combination of knowing how to do and how to think, paying attention to the unconscious and the immediate, besides challenging the exercise of adapting the body to shape and project. Paper has the plurality of confusing things from which we cannot escape. It is the balm of creative hiatus, of existential gaps. Exercise on paper offers us a dimension of Freedom, with no formalities and pictorial and/or compositional crutches. We face the idea or its absence and let the image reading of what comes from the inside or the outside flow. And from nothing we build an eulogy which will become an objectual poem between walls. We go forward, paying attention to the wordplay, in the tribute to paper and its return as a protagonist of time and subject of curatorship and in the alignment with a certain proliferation of the expo-graphic indiscipline, the so called explosion of unruly fragments and with no accurate direction1 to which Leonel Moura refers and intends to give back to the audience the difficult plan of finishing the work of Art. Turning the audience into active agents of the creative process is one of the ideas which marks the so-called post-modernity, identified initially as a liberation of formalism, but also of the ideological apparatus, a release of dichotomous visions. Indeed, resisting neo-realism and the institutional apparatus was as important as outgrowing conceptualism.2 Artists, curator, gallery and audiences establish connections in a vastness of sheets of paper turned into drawings or paintings: the anti-discipline of contemporary and forefront rules. The web becomes more complex. We wander in space, we try to read it, before and after questioning it. Is it a work of art? Is it a sketch or a circumstantial shortcut? Is it an exhibition or parable? Is it irony or tragedy? 1 2
MOURA, Leonel - “A discussão do momento” in Expresso “A Revista”, 30th January 1982, page 28.
JÜRGENS, Sandra Vieira – Instalações Provisórias. Independência, autonomia, alternativa e informalidade, Artistas e exposições em Portugal no século XX. Lisboa: Documenta, 2016. Pages 330 and 331. CALL FOR PAPERS
| 07
Therefore, similarly to the artist who now heads for the expanded creation space – which no longer ends at the door of the studio and spreads to the museum and gallery – without previously knowing the programme which only the work, once finished, will reveal in all its extension, the role and function of the spectator have also changed. As, in a certain way, it happens with the curator – who truly represents them before the artist and the institution, to which he resembles a ‘guarantor of the artist’, mediating their complex relationships and reminding both that the destination of the work is the institution itself. The curator now goes to the museum, or the art gallery, in a complete availability (even filled with a secret expectation) to be surprised. It is in that aspect that the more and more performative sense of all current art stands out.3 This is thus an exhibition which performs acts, small gestures and stories stemming from simple everyday life and disconnected from the formality we were used to. It pays homage to matter and it is also a questioning. Art as an exercise. Art as a way to mediate between audiences and worlds. Is it representation or abstraction? Does abstraction exist? We start off from here with Ana Bonifácio (born in 1975), Bernardo Scoditti (born in 1952), José Augusto Castro (born in 1962), Mariana Mizarela (born in 1987), Nuno Fonseca (born in 1976) e Rui Horta Pereira (born in 1975), a selection of artists who take us on a journey through the paths and possibilities of paintwork and drawing and their real benchmarks (or not). We distinguish them thanks to their languages and plasticities, to their ways of making and presenting the work of Art as the outcome of a thinking and inner development process, supported by concepts and simple stories of everyday life. We defy them: production on paper, paper as the object of installation, paintwork and drawing in the limbo of style categorizations and with the certainty that psychological time does not correspond to mathematical time,4 as Saramago once wrote. As if by stubbornness and in an exercise of not losing figuration in drawing, a few months ago, José Augusto Castro decided to leave a small sketchpad on the kitchen counter and quickly register what he saw every day. The pads multiplied and, at some point, those figurations gathered lines and details which, in the deconstruction of reality that takes us (sometimes) to abstraction and purity of the experience of matter, were used as the subject for the creation of a series of black and white drawings (many of them with collage) where figuration and abstraction merge in the illusion of a simple plasticity which connects us immediately to José Augusto Castro’s identity. DRAWINGS OF NOWHERE is thus a catharsis of the unpretentious and automatic daily exercise of observation and record, which stimulated the interest in shape poetry of the inhabited space and in its possibilities to create new drawings. We group them by cadence and exhibit them as encrypted narrative suggestions. José Augusto Castro remains loyal to a free way of seeing artistic production, unbound from trends and solely focused on the possibilities of image and experiment. With a degree in Painting from Oporto Higher Artistic School, he also attended a workshop of lithography and engraving in École de Beaux Arts de Liège, in Belgium. He has held 15 individual exbhibitions and has participated in more than 25 collective ones since 1990, and his work is among public and private collections, not only in Portugal, but also abroad. The singularity 3
ALMEIDA, Bernardo Pint. de – Arte e Infinitude. O Contemporâneo: Entre a Arkhé e o Tecnológico. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 2018. Page 46. 4
08 | CALL FOR PAPERS
SARAMAGO, José – Todos os Nomes. Lisboa: Editorial Caminho, 1997 (7ª edição). Page 179.
he proposes in CALL FOR PAPERS was the starting point and it is a challenge to the audience’s action-contemplation, whose viewpoint is defied. “CORRIDOR-TOWN”: BUILT VOIDS AND STONE FIREFLIES we come across the descent of drawing, dominated by black and warm colours, crossed out in rage, which takes us to Ana Bonifácio’s territory. Moving house and boxes made her select 15 books which present themselves as one of the three project development factors. We add to them the routine of analysing territories and their scales and a twenty-square-metre room transformed into a studio-gallery where she pictured zet-gallery’s corridor in order to draft the project. From books, their plasticities, their titles or their authors, the memories and stories they carry, the lonely journey of building this ‘corridortown’ begins.The corridor gives her the idea of the beginning of walls and enclosures as ‘primordial outlines of the public arena’, she writes. And she adds, ‘organic or planned, the town is made of positive and negative aspects. (…) From the urban rationality and the gap mimicking, emerges the idea to move and pass between public and private. Inner life is heat that shows itself at the bottom of perspective and by the indefinite vanishing points, overlaid, in movement, which leave behind them traces of light and of stone life.’ Ana Bonifácio thought of paper for the place and in the change made in drawing and paintwork, she asks us about our inability to impose order in the urban space, seeing the town as a sum of matter and imatter, of intent and randomness. Born in Evora, Rui Horta Pereira has a degree in Sculpture from the Faculty of Fine Arts of Lisbon. He has held several individual displays and has participated in collective projects, and since 2000, his work has focused on sculpture and drawing, where the explores different materials, techniques and props, although paper predominates. The preparation of the prop, the paper, is one of the essences of Rui Horta Pereira’s artistic production, which in TREADING ONCE AGAIN presents two series of drawings: Frontispiece and Moire. The first ones are dominated by black and white and by a certain iconic figuration which goes between spot and line, and in the second ones colour gently and sometimes boldly occupies the catharsis of the graphite which covers the surface in methodological and systematic experiment exercises. There are spatialities, voids, graphic suggestions, sumptuous outlines of colours and textures which take the drawing to the restlessness of sculpture and of the thinking of space. TREADING ONCE AGAIN is therefore ‘a sort of return to premises and preoccupations which express themselves in distinct formulations throughout the years, but that truly stem from a common matrix. They are thus two ways, two possible tracks’, he writes. From the possibilities of abstraction we reach the trans narrativity of Nuno Fonseca, who uses paper to explore the intrinsic intention of the design of a representation which in detail gets to hyper reality, but it is placed at the service of THE FLOWER GROWER WHO HARVESTED FEET, the absent main character of a set of works which function as acts of a dramatic play. Nuno Fonseca tells us about his Flower Grower: He would wake up early as if the day would become different. He would get out of bed, put on his slippers, go to the bathroom and wash his face to really wake up. ‘You get quick, in another mood!’ He would eat something, most likely a piece of bread and drink a mug of milk and leave… as if he was walking out of my life. He would pick ripe flowers, flowers and people, who he would tie up with ropes and bundle them by the dozens. Then he would come back on a donkey which, depending on the path, would come of people or kicking. CALL FOR PAPERS
| 09
Nuno Fonseca is a skilled designer. His artistic production is based on a detailed sensitivity which contrasts with the presence of outlines and the expression of anatomies and body movements. He takes us back to the universe of fables and scarce time parables. Mariana Mizarela has been developing her artistic project in Barcelona for several years, pursuing an aesthetics of pop trend which recovers a universe of memories from the collection of photos and postcards where paintwork acts disruptively, recreating sets and recuperating contexts to the present. MEMORY SOUVENIR drinks from that spirit and is a project created to cross-read the body with a bookcase-repository, as if that contemplation was the purchase of a souvenir. Mariana Mizarela graduated in Visual Arts in Oporto Higher Artistic School and subsequently finished the Master’s Degree in Artistic Illustration in the Higher Institute for Education and Science in Lisbon. It is in another sphere that she tells us about her travels, influenced by cinema and media imagetic of the early pop years, even though she keeps her focus on the possibilities of body intervention, on the one hand, and the presence of words as acts, on the other hand. She bestows us with her postal art, her correspondence, an almost lost recurrence of the use of paper. The work of Bernardo Scoditti positions itself in the time and in the space of paper and of the sumptuousness of geometry at the service of detail. Lines, circles and small spots repeat themselves in the monochrome of the prop, symmetrically and hermetically worked on, questioning our way of seeing and perceiving and taking us to drawing techniques, preparation for the pictorial and for the representation. We seem to go back to Renaissance and feel the umbilical connection between Art, Science and spirituality. Full of virtuosity, the production of the Italian artist is of multiple misleading readings, in the evidence that light and days reveal us a little bit more. Only graphite and China ink, sometimes watercolour on paper. Always paper. Not rarely does the work occupy both sides of the prop, in a double and complementary formal narrative. Paper as a medium to the two-dimensionality, closer to nature. The line evolves at the right pace, thorough and of unambiguous compliances with the inner or outer order of the composition. There is symmetry, but there is also a slight misplacing in the small universes which sometimes appear in the composition and to which it is necessary to pay attention in the exercise of deciphering the little suggested universes. The work of the artist born in Mesagne, in the region of Brindisi, south of Italy, is a unique case in the context of the contemporary artistic production, not placing itself among movements or styles, but having the influence of the classic studies of design and paintwork, which are the first dimension of what needs to be seen and discovered. Everything is intention and reason, even if it is measured in the exercise of a retreat from the world and of a concentration on the visual and pictorial action. Everything is THEOREM. Helena Mendes Pereira
10 | CALL FOR PAPERS
n.1975
ANA BONIFÁCIO
“CIDADE-CORREDOR”: VAZIOS CONSTRUÍDOS E OS PIRILAMPOS DE PEDRA “CORRIDOR-TOWN”: BUILT VOIDS AND STONE FIREFLIES
CALL FOR PAPERS
| 011
Ana Bonifácio Pirilampo de Pedra #08 Série Pirilampo de Pedra Acrílico sobre papel com linhas de costura Acrylic on paper with sewing threads 100 x 70 cm 12 | CALL FOR PAPERS
Ana Bonifácio Pirilampo de Pedra #09 Série Pirilampo de Pedra Acrílico sobre papel com linhas de costura Acrylic on paper with sewing threads 100 x 70 cm
Ana Bonifácio Pirilampo de Pedra #11 Série Pirilampo de Pedra Acrílico sobre papel Acrylic on paper 100 x 70 cm
Ana Bonifácio Pirilampo de Pedra #12 Série Pirilampo de Pedra Acrílico sobre papel Acrylic on paper 100 x 70 cm CALL FOR PAPERS
| 13
14 | CALL FOR PAPERS
Ana Bonifácio Vãos de Parede #5A Série Vazios Construídos’ Acrílico sobre papel Acrylic on paper 300 x 150 cm Ana Bonifácio Vãos de Parede #6A Série Vazios Construídos’ Acrílico sobre papel Acrylic on paper 300 x 150 cm CALL FOR PAPERS
| 15
Ana Bonifácio Vãos de Parede #5B Série Vazios Construídos’ Acrílico sobre papel Acrylic on paper 100 x 70 cm 16 | CALL FOR PAPERS
Ana Bonifácio Vãos de Parede #6B Série Vazios Construídos’ Acrílico sobre papel Acrylic on paper 100 x 70 cm
n.1952
BERNARDO SCODITTI TEOREMA THEOREM
CALL FOR PAPERS
| 17
Bernardo Scoditti Jardim de Meditação Grafite, tinta-da-china e aguarela sobre papel com incisões Graphite, China ink and watercolor on paper with incisions 100 x 100 cm 18 | CALL FOR PAPERS
Bernardo Scoditti 2011 Grafite e tinta-da-china sobre papel com incisĂľes Graphite and China ink on paper with incisions 64 x 101 cm CALL FOR PAPERS
| 19
2010 Grafite e tinta-da-china sobre papel com incisĂľes Graphite and China ink on paper with incisions 64 x 101 cm 20 | CALL FOR PAPERS
CALL FOR PAPERS
| 21
Bernardo Scoditti 2012 Grafite e tinta-da-china sobre papel com incisĂľes Graphite and China ink on paper with incisions 64 x 101 cm 22 | CALL FOR PAPERS
n.1962
JOSÉ AUGUSTO CASTRO
DESENHOS DE LUGAR NENHUM DRAWINGS OF NOWHERE
CALL FOR PAPERS
| 23
José Augusto Castro Sem título, 2018 Técnica mista sobre papel Mixed media on paper 85 x 110 cm 24 | CALL FOR PAPERS
José Augusto Castro Sem título, 2018 Técnica mista sobre papel Mixed media on paper 85 x 110 cm CALL FOR PAPERS
| 25
José Augusto Castro Sem título, 2018 Técnica mista sobre papel Mixed media on paper 85 x 110 cm 26 | CALL FOR PAPERS
José Augusto Castro Sem título, 2018 Técnica mista sobre papel Mixed media on paper 85 x 110 cm
José Augusto Castro Sem título, 2018 Técnica mista sobre papel Mixed media on paper 85 x 110 cm
José Augusto Castro Sem título, 2018 Técnica mista sobre papel Mixed media on paper 85 x 110 cm CALL FOR PAPERS
| 27
José Augusto Castro Sem título, 2018 Técnica mista sobre papel Mixed media on paper 85 x 110 cm 28 | CALL FOR PAPERS
José Augusto Castro Sem título, 2018 Técnica mista sobre papel Mixed media on paper 85 x 110 cm
n.1987
MARIANA MIZARELA SOUVENIR DA MEMÓRIA MEMORY SOUVENIR
CALL FOR PAPERS
| 29
Mariana Mizarela Sem título, 2018 Técnica mista sobre papel Mixed media on paper 10 x 15 cm 30 | CALL FOR PAPERS
Mariana Mizarela Sem título, 2018 Técnica mista sobre papel Mixed media on paper 10 x 15 cm
Mariana Mizarela Sem título, 2018 Técnica mista sobre papel Mixed media on paper 15 x 10 cm CALL FOR PAPERS
| 31
Mariana Mizarela Sem título, 2018 Técnica mista sobre papel Mixed media on paper 15 x 10 cm 32 | CALL FOR PAPERS
Mariana Mizarela Sem título, 2018 Técnica mista sobre papel Mixed media on paper 15 x 10 cm
Mariana Mizarela Torre dos Clérigos, 2018 Técnica mista sobre papel Mixed media on paper 15 x 10 cm CALL FOR PAPERS
| 33
Mariana Mizarela Praça do Império, 2018 Técnica mista sobre papel Mixed media on paper 10 x 15 cm 34 | CALL FOR PAPERS
Mariana Mizarela Torre de Belém, 2018 Técnica mista sobre papel Mixed media on paper 10 x 15 cm
n.1976
NUNO FONSECA
O FLORICULTOR QUE SACHAVA PÉS
THE FLOWER GROWER WHO HARVESTED FEET
CALL FOR PAPERS
| 35
Nuno Fonseca O Floricultor que Sachava nos pés 5 Acrílico e grafite sobre papel Acrylic and graphite on paper 150 x 88 cm 36 | CALL FOR PAPERS
Nuno Fonseca O Floricultor que Sachava nos pés 6 Acrílico e grafite sobre papel Acrylic and graphite on paper 150 x 86 cm CALL FOR PAPERS
| 37
38 | CALL FOR PAPERS
Nuno Fonseca O Floricultor que Sachava nos pés 8 Acrílico e grafite sobre papel Acrylic and graphite on paper 102 x 72 cm
Nuno Fonseca O Floricultor que Sachava nos pés 9 Acrílico e grafite sobre papel, montado em madeira Acrylic and graphite on paper, wood mounted 102 x 72 cm
Nuno Fonseca O Floricultor que Sachava nos pés 10 Acrílico e grafite sobre papel, montado em madeira Acrylic and graphite on paper, wood mounted 102 x 72 cm CALL FOR PAPERS
| 39
Nuno Fonseca O Floricultor que Sachava nos pés 7 Acrílico e grafite sobre papel Acrylic and graphite on paper 102 x 72 cm 40 | CALL FOR PAPERS
n.1975
RUI HORTA PEREIRA RETRILHAR
TREADING ONCE AGAIN
CALL FOR PAPERS
| 41
Rui Horta Pereira FrontispĂcios, 2008 Grafite sobre papel Graphite on paper 62 x 42 cm 42 | CALL FOR PAPERS
Rui Horta Pereira Frontispícios, 2008 Grafite sobre papel Graphite on paper 62 x 42 cm
Rui Horta Pereira Frontispícios, 2008 Grafite sobre papel Graphite on paper 62 x 42 cm CALL FOR PAPERS
| 43
Rui Horta Pereira Moire, 2010/2017 Tinta da china e pastel de รณleo sobre papel China ink and oil pastel on paper 65,5 x 50 cm 44 | CALL FOR PAPERS
Rui Horta Pereira Moire, 2010/2017 Tinta da china e pastel de รณleo sobre papel China ink and oil pastel on paper 65,5 x 50 cm
Rui Horta Pereira Moire, 2010/2017 Tinta da china e pastel de รณleo sobre papel China ink and oil pastel on paper 65,5 x 50 cm
CALL FOR PAPERS
| 45
Rui Horta Pereira Moire, 2010/2017 Tinta da china e pastel de รณleo sobre papel China ink and oil pastel on paper 65,5 x 50 cm 46 | CALL FOR PAPERS
Rui Horta Pereira Moire, 2010/2017 Tinta da china e pastel de รณleo sobre papel China ink and oil pastel on paper 65,5 x 50 cm CALL FOR PAPERS
| 47
Horário // Opening time 14:00 | 19:00 · segunda a sábado (exceto feriados) Outros horários mediante marcação 2:00 pm | 7:00 pm · monday to saturday (except holidays) Other schedules by appointment
Contactos // Contacts info@zet.gallery (+351) 253 116 620 www.zet.gallery
Morada // Address Rua do Raio, 175 4710-923 Braga Portugal
48 | CALL FOR PAPERS