Literatura Popular

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VITRINE Literatura Popular VA L E

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V A R I E D A D E S

DIVULGAÇÃO

PROJETO INDEPENDENTE INCENTIVA PESSOAS A NÃO ABANDONAREM O HÁBITO DA LEITURA Vinícius Ferreira ESTAGIÁRIO

Uma pesquisa divulgada esta semana pela Federação do Comércio, de Bens e Turismo (Fecomercio) do Rio de Janeiro exemplifica a realidade nacional: brasileiros lêem cada vez menos livros de papel. Diariamente, as pessoas são bombardeadas por informações, mas muito poucas são advindas de livros. Dos entrevistados, 22% foram diretos, sinceros e responderam que não gostam de ler e pronto. Já um pouco mais da metade dos entrevistados, 60%, disse que não conseguem ter este hábito, e c ons e q üe nt e m e nt e , a p r á t i c a d a le i t ur a . Ma s a i nd a e xi s t e um a e s p e r a nç a , e nq ua nt o a ç õe s d e p op ula rização da literatura, mesmo que individuais e aparentemente pequenas, continuem a modificar as pessoas, como é o caso da "Inclusão Literal".

L

eonardo Gomes é jornalista e escritor. Todo dia ele levanta cedo, toma café, pega a bolsa com alguns exemplares do livro "O homem que contraiu crônica", de sua autoria, lançado em 2008, e sai. Quase sempre o seu destino é o terminal rodoviário de Coronel Fabriciano. "Geralmente ando de bicicleta. Aqui isso é possível, pois as avenidas dão fácil acesso

dos bairros ao centro da cidade e têm poucos morros. Já em Ipatinga, isto não funcionaria tão bem", brinca Leonardo. INCLUSÃO LITERAL Ao chegar ao seu destino, Leonardo começa o que nomeou de "Inclusão Literal". Sem apoio de leis de incentivo a cultura ou empresários, ele vende seu livro em locais de

grande circulação de pessoas, a preços populares, reduzindo seu lucro a uma tentativa de despertar nos outros o prazer pela leitura. "Já que eu fiz o livro de forma independente, e atuo também como distribuidor e vendedor, eu posso vender meu livro a um preço baixo. Quando eu abordo a pessoa e explico o projeto, elas entendem, compram e lêem. Costumo dizer que é algo bonito e

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barato", afirma o escritor. Quando despertou para sua vontade de escrever, Léo sabia da realidade da região em relação à leitura. "No Vale do Aço, poucos tem o hábito de ir a uma livraria e comprar livros, pouquíssimos. As pessoas até visitam, olham, mas sair com um exemplar na mão não é tão comum. Muitos têm outras obrigações para cumprir com o seu dinheiro e, por isto, não podem gastar, ou investir em livros. Mas a cinco reais, eles compram e lêem", afirma Leonardo. SONHO E CRÔNICA Leonardo começou a "concretizar" seu sonho literário durante os anos de 2003 e 2005, enquanto cursava a faculdade de jornalismo no Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (UnilesteMG). Foi lá também que conseguiu entender sobre o que ele escrevia. "Escrever sempre foi uma realidade na minha vida. Eu sempre escrevi crônica, mas não sabia dar um nome àquele for-

COM O PROJETO "INCLUSÃO LITERAL", Leonardo pretende fazer as pessoas lerem mais. "Espero, se possível, mudar o meu leitor, acho que fazê-lo ser um leitor já é uma mudança" mato. Só fui entender isto quando entrei na faculdade. No ensino médio e fundamental eu já escrevia sobre o cotidiano, sempre buscando uma forma bem-humorada de mostrar os fatos, intercalando com ficção, recheando com metáforas e ironias. Isto é a crônica", conta. "O homem que contraiu crônica", primeiro livro de Leonardo, foi lançado em 2008, com uma tiragem de mil cópias. Ele fez o padrão, distribuiu pelas livrarias da região, divulgou para alguns amigos, mas não conseguiu uma boa vendagem. Foi ai que ele decidiu colocar seu projeto de popularização da leitura em prática. "Eu entendi que tinha que levar o livro até o leitor. As pessoas não têm o hábito de ler, então precisam de um incentivo a mais. Vou às escolas e barzinhos, além de todo dia estar aqui no Terminal Rodoviário. Este é um ótimo lugar, são muitas pessoas, de diversos lugares, e muitas vezes entediadas por ter que esperar um ônibus. Neste momento eu tento oferecer para ela uma nova opção: em vez de ficar olhando pro tempo, ela pode ler um livro, e tem dado certo", revela o escritor. PROJETO MAIS AMPLO No seu projeto, Leonardo pensa ainda em agregar outras ações a esta que ele faz, tornando mais abrangente a "Inclusão Literal". "Pretendo chamar escritores da região para que eles ensinem o que sabem. Oficinas ao ar livre, para quem quiser, sobre poesia, contos e crônicas, indo também às escolas, levando esta arte às crianças. Mas, tem sido difícil conseguir reunir estas pessoas, a vida é muito corrida e complicada. Enquanto isto, eu permaneço com o meu esforço, tocando o projeto", declara o jornalista. Segundo Leonardo, o nome "Inclusão Literal" vem da necessidade de proporcionar às pessoas o prazer de ler, não só ser alfabetizado, mas de entender a leitura. "Temos projetos de inclusão social, Inclusão Digital, ensinamos as pessoas a usarem um computador, mas a escola é defasada e as crianças não têm

aprendido a ler direito. Não digo ser alfabetizado, isso a maioria já é, mas falo sobre aprender a fazer conexões e interpretações de texto, fator muito importante, sendo cobrado em qualquer prova que você faça, seja para nota na escola, seja um concurso público ou um teste para um emprego. Aquele que lê desenvolve melhor características importantíssimas, como o raciocínio, o vocabulário, a gramática, oratória, enfim, a comunicação como um todo. E isto é essencial para a vida em sociedade", afirma Leonardo. APOIO E RESULTADOS Sem ter nenhum apoio financeiro, seja de empresa, organização, prefeitura ou lei de incentivo, Leonardo pretende continuar com o projeto, independente das dificuldades. Tem uma coisa que para ele é melhor do que a tranqüilidade financeira. "As pessoas lêem e depois voltam onde eu estou e comentam o que acharam, falando se gostaram do livro ou não e me apoiando a continuar. Um dia desses, uma faxineira do terminal, chamada Rosa, comprou meu livro. Dias depois ela voltou para me dizer que seu filho havia gostado muito de uma das histórias e aquilo o havia motivado a estudar novamente. Isto me deixou muito feliz, e isto vale o esforço. Eu conto também com o apoio da gráfica Saramandaia, que me ajuda, com prazos e preços mais acessíveis, além do UnilesteMG, que tem me dado espaço de divulgação deste trabalho", diz. Leonardo já conseguiu, por meio do projeto, vender mais de 1500 livros, sendo que a segunda edição de "O homem que contraiu crônica" saiu em março do ano passado, com mais mil exemplares. "Um amigo uma vez me disse que o artista não pode ter a pretensão de mudar uma pessoa com a sua arte. Entretanto, eu me considero um escritor pretensioso, pois espero repassar e se possível mudar o meu leitor, acho que fazê-lo ser um leitor já é uma mudança", conclui Leonardo.


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