No meu tempo era assim: brinquedos e brincadeiras de outrora BALNEĂ RIO RINCĂƒO, 1940 - 1970
Ana Maria Manaus Teixeira Elisangela da Silva Machieski
No meu tempo era assim: brinquedos e brincadeiras de outrora BALNEÁRIO RINCÃO, 1940 - 1970
Projeto realizado com o apoio do Estado de Santa Catarina, Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte, Fundação Catarinense de Cultura, FUNCULTURAL e Edital Elisabete Atnderle/2014.
FICHA TÉCNICA Pesquisa e texto Ana Maria Manaus Teixeira – Bacharel e Licenciada em História Elisangela da Silva Machieski – Mestre em História Colaboradoras Clarice Evaristo Vieira – Bacharel e Licenciada em História Jéssica Ramos Ferreira – Acadêmica de História Revisão de Texto Mariza Gyrão Góes – Doutora em Linguística Projeto gráfico, diagramação e tratamento der imagem Luís Henrique Lindner – Mestre em Mídia e Conhecimento Juliana Tonietto – Bacharel em Design Fotografia Lucas Pacheco Sabino Wikimedia Commons Acervo (Museu Arqueológico Balneário Rincão)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Esta pesquisa é dedicada a todas as crianças de Balneário Rincão, às de hoje, de ontem e de amanhã.
Sumário Apresentação ..................................................................................................7 Prefácio ............................................................................................................9 Palavra do prefeito ....................................................................................... 11 Sobre o projeto ............................................................................................. 13 Brinquedos e suas possibilidades................................................................ 22 Balanço ................................................................................................................................................. 26 Bate ........................................................................................................................................................ 28 Biloquê .................................................................................................................................................. 30 Bola......................................................................................................................................................... 32 Bolinha de vidro ................................................................................................................................ 36 Boneca .................................................................................................................................................. 38 Canoa .................................................................................................................................................... 40 Carretilha ............................................................................................................................................. 42 Carretinha ........................................................................................................................................... 44 Carrinho ............................................................................................................................................... 46 Cavalinho ............................................................................................................................................. 48 Cozinhadinho..................................................................................................................................... 50 Dança da cadeira .............................................................................................................................. 53 Ficha ....................................................................................................................................................... 54 Figurinha .............................................................................................................................................. 55 Funda..................................................................................................................................................... 56 Ourinho ................................................................................................................................................ 58 Passar anel .......................................................................................................................................... 60 Pés de Lata e Perna de Pau............................................................................................................ 62 Peteca .................................................................................................................................................... 64 Pião ......................................................................................................................................................... 66 Pipa......................................................................................................................................................... 68 Pular corda .......................................................................................................................................... 70 Tria .......................................................................................................................................................... 72 Uga ......................................................................................................................................................... 74
Brincadeiras de Roda, Cantigas e Parlendas ............................................... 76 Brincadeiras de roda ....................................................................................................................... 77 A Canoa virou ..................................................................................................................................... 77 A menina tão galante ..................................................................................................................... 77 Atirei o pau no gato ......................................................................................................................... 78 Ban-bandeja ....................................................................................................................................... 78 Ciranda ................................................................................................................................................. 79 Linda boneca ...................................................................................................................................... 79 Senhora Dona Condessa ............................................................................................................... 80 Viuvinha ............................................................................................................................................... 80
Cantigas ........................................................................................................ 82 A carrocinha pegou ......................................................................................................................... 82 A dona Barata .................................................................................................................................... 82 Cai, cai balão....................................................................................................................................... 82 Carangueijo não é peixe ................................................................................................................ 82 O Cravo e a Rosa ................................................................................................................................ 82 Peixe vivo ............................................................................................................................................. 83 Perdi meu galinho ............................................................................................................................ 83 Pirulito que bate-bate... ................................................................................................................. 83 Roseira................................................................................................................................................... 83 Sabiá lá na gaiola ............................................................................................................................. 83 Se essa rua fosse minha. ............................................................................................................... 83 Terezinha.............................................................................................................................................. 83
Parlendas ...................................................................................................... 84 Jogos e Brincadeiras ..................................................................................... 85 Amarelinha ......................................................................................................................................... 86 Bangue-bangue ................................................................................................................................ 88 Brincar de pegar ................................................................................................................................ 90 Entrudo ................................................................................................................................................. 91 Galinha qué pô .................................................................................................................................. 92 Pata Cega ............................................................................................................................................. 94 Ré............................................................................................................................................................. 96
Posfácio......................................................................................................... 99 Referências ................................................................................................. 101
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Apresentação Você sabia que, na Amarelinha, não se pode pisar na linha? Que, quando não se tinha cola, usava-se uma misturinha de arroz amassadinho ou farinha de trigo para colar a pipa? Você sabia que a bola de futebol era feita com a bexiga do porco? Que, quando se brinca de Ré, não se pode espiar? Você sabia que, de algumas folhas de mamoneira, pode-se fazer uma linda boneca? Que as crianças colhiam capim, na véspera de Natal, para alimentar o burrinho que trazia o Menino Jesus? ‘No meu tempo era assim’ é a expressão máxima, a mais corriqueira, quando conversamos com alguém de outra geração. Não importa se a pessoa vai falar de comida, transporte, economia, escola ou sobre brincadeiras. Ela, invariavelmente, começa com essa frase. É como olhar para trás, para dentro, para o passado, que se insurge ‘concretamente’ quando verbalizado. Lembranças da infância, das brincadeiras, dos brinquedos. Às vezes, elas nos chegam soltas, desacompanhadas, vagas, quase esquecidas. Em outras, vêm fortes, em conjunto, quase palpáveis, uma sensação de que foram experiências do dia anterior, mesmo quando vivenciadas há muitos e muitos anos. A presente produção resulta da pesquisa intitulada ‘Como nossos avós? O encanto e a criatividade de jogos e brincadeiras infantis de outrora’, iniciativa que teve por objetivos principais identificar, registrar e divulgar os jogos e as brincadeiras infantis realizados por pessoas que vivenciaram sua infância no Município de Balneário Rincão, no período compreendido entre as décadas de 1940 e 1970.
Esta cartilha tem como prioridade ser simples e didática, apontando possibilidades de construção de brinquedos e utilização de jogos e brincadeiras no cotidiano, seja na sala de aula, no pátio de casa ou na praça da cidade. Nesse sentido, ela se destina a professores/as, pais, mães, avôs e avós, mas, também às crianças. Que o verbo ‘brincar’ se faça mais presente em nossas vidas! Que o encantamento e a alegria vivenciados na (re)construção dessas memórias nos tornem cúmplices no compartilhamento de sorrisos, lágrimas, imaginação e criatividade característicos do ato de brincar!
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Prefácio [...] é que as crianças são especialmente inclinadas a buscarem todo local de trabalho onde a atuação sobre coisas se processa de maneira visível. Sentem-se irresistivelmente atraídas pelos detritos que se originam da construção, do trabalho no jardim ou em casa, da atividade do alfaiate ou do marceneiro. Nesses produtos residuais elas reconhecem o rosto que o mundo das coisas volta exatamente para elas, e somente para elas. Neles, estão menos empenhadas em reproduzir as obras dos adultos do que em estabelecer entre os mais diferentes materiais, através daquilo que criam em suas brincadeiras, uma relação nova e incoerente. Com isso as crianças formam o seu próprio mundo de coisas, um pequeno mundo inserido no grande. (Walter Benjamin, 1926-1928. Canteiro de obras)
Quando Walter Benjamin escreveu esse texto, alguns dos narradores das infâncias do Balneário Rincão ainda não haviam nascido, mas o filósofo retratou algo presente nas crianças de todos os tempos e lugares, essa capacidade de construir seu mundo de vida dentro do mundo dos adultos. Compreender nas criações das crianças sua capacidade de construir cultura faz parte das tendências atuais das pesquisas com, sobre infâncias e crianças. Quando pesquisadores ou pesquisadoras das infâncias se debruçam no tempo presente para perceber essa capacidade, conseguem facilmente registrar a forma como crianças em idade bem precoce lidam e constroem seu mundo de vida. No entanto, buscar como isso se deu em um passado próximo ou remoto é uma tarefa muito difícil, pois, a testemunha de outros tempos, nessa situação são principalmente, as memórias reportadas no tempo presente. Visto que é muito comum descartar as produções das crianças nas escolas ou mesmo nas famílias. Quando encontramos registros dessas produções realizadas no passado, tais documentos tornam-se relicários dessa cultura, das culturas infantis.
As historiadoras Elisangela da Silva Machieski e Ana Maria Manaus Teixeira desafiaram as dificuldades para recuperar o modo de viver a infância em uma temporalidade distante. E conseguiram construir um material, que para além, de uma cartilha, apresenta-se como registro das culturas infantis, de crianças que viveram cercadas pelo mar. Colheram narrativas, identificaram brinquedos e brincadeiras, observando variáveis tanto de nomenclatura como na forma de organização; problematizaram a vida das crianças, mostrando sua ligação com outras temporalidades e espaços, essa abordagem não reforça a ideia de infância romântica, mas salienta a ideia de crianças capazes de construir cultura, ou seja, sujeitos de cultura, o que de certa forma, reivindica o direito a voz na sociedade. Ao receber o convite para esse prefácio me senti honrada pelas autoras, não só porque tive o prazer de ser professora de história da educação das mesmas no curso de história, mas por ter consciência que um material desse porte ajudará no trabalho de educadores e educadoras, provocará curiosidades nas crianças enquanto leitoras e também evocará lembranças dos adultos que o lerem. Além disso, essa escritura está garantindo o registro de existências de pessoas comuns, que constroem no dia a dia, suas vidas. Esse é um trabalho sobre memórias de infâncias! Apreciem e se deliciem com as lembranças de infâncias pois, “No meu tempo era assim: brinquedos e brincadeiras de outrora” (Balneário Rincão, 1940 – 1970)
Marli de Oliveira Costa, setembro 2016. Professora nos cursos de Pedagogia, História e do Mestrado em Educação da Universidade do Extremo Sul Catarinense. Possui graduação em Filosofia pela Universidade do Sul de Santa Catarina (1993), mestrado em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (1999) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2009).
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Palavra do prefeito Com o registro dos brinquedos e brincadeiras da infância de outrora, este trabalho constitui-se em mais uma das inúmeras tarefas realizadas por este Governo para transformar em realidade a existência do novo município de Balneário Rincão. Afinal, registrar o passado é fazê-lo presente, e o presente bem estruturado, bem vivido, bem construído, leva-nos ao futuro dos sonhos para todos! Foi com esse espírito que nos movemos e trabalhamos nas diversas áreas da Administração Pública: na implantação de toda a estrutura administrativa, na elaboração das leis, nas políticas públicas da Saúde, Educação, Assistência Social, na Pesca, Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico, na Cultura, Esporte e Turismo, na manutenção da cidade e seu ajardinamento, no cuidado com suas belezas naturais, com as pessoas, na execução das obras, no planejamento de um desenvolvimento sustentável. No caso específico da Cultura, entre tantas realizações, orgulhamo-nos de ter dado vida ao Museu Arqueológico Balneário Rincão, que, com uma equipe tão pequena em quantidade, mas imensa em qualidade, realizou, entre tantas outras ações educativas voltadas à escola e à comunidade, a elaboração de um Inventário Histórico-Cultural e sua Cartilha correspondente, o “Café com Mistura” e o “Projeto Escavação”, com a simulação de um sítio arqueológico junto ao Museu.
Em todas elas, mantivemos firme o propósito de promover a valorização da história para que o nosso desenvolvimento seja alicerçado nos costumes e na memória do povo, fortalecendo sua identidade, mas procurando prepará-la e abri-la para receber bem aqueles que, oriundos de toda a região e até mesmo extrapolando-a, vêm para cá viver seus momentos mais importantes do ano. Afinal, nossa vocação como estância de veraneio e turismo é inegável, pelo bem do próprio povo, para a geração de emprego, renda e dignidade. Embora brincar seja sempre uma atividade séria, já que é pela brincadeira que as crianças dão seus primeiros passos no mundo, esta obra provoca-nos uma reflexão sobre um tempo em que brincar representava muito mais: pensar coletivamente, criar, executar, exercitar, movimentar, relacionar-se, fortalecer vínculos, diferente destes tempos atuais da industrialização, da tecnologia e da realidade virtual. Como não poderia ser de outra forma, o presente trabalho faz um recorte do universo investigado, a começar pelo período: 1940 -1970. Daí sentirmos falta da pesca de cará, piava, traíra, dos arroios, dos peixes embaixo das tábuas das lavadeiras ou nos tijolos furados, das lagoas, das varas de pesca com bambu, linha e anzol de alfinete dobrado, das corridas e caminhadas nas imensas dunas. Mas, claro, é também na incompletude que reside a beleza de uma pesquisa como esta, sempre inacabada, aguardando novos recortes. Nossos agradecimentos a todos que colaboraram para a edição desta obra e das demais, em especial às pesquisadoras, que tiveram a coragem e competência para executá-la! Esperamos, sinceramente, que os castelos de areia que edificamos, tão lindos, não sejam simplesmente levados pelas ondas do mar! E que as sementes, tão carinhosa e amorosamente plantadas, germinem e produzam os frutos com os quais tanto sonhamos para alimentar e adoçar a vida de todos!
Décio Gomes Góes e Mariza Gyrão Góes
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Sobre o projeto O Projeto ‘Como nossos avós? O encanto e a criatividade de jogos e brincadeiras infantis de outrora (Balneário Rincão, 1940 – 1950)’ nasceu da iniciativa de um grupo de pessoas que, preocupadas com o registro de memórias da infância, principalmente no quesito brinquedos e brincadeiras, resolveram apresentá-lo, em nome de Ana Maria Manaus Teixeira, ao Prêmio de Cultura Popular do Edital Elisabete Anderle/2014. Além de contar, desde o início com total apoio do Governo Municipal. A proposta foi premiada e a execução iniciada. A primeira etapa consistiu na realização de um mapeamento para identificar pessoas que estivessem dispostas a compartilhar suas memórias sobre experiências infantis vivenciadas no Município de Balneário Rincão, seja no decorrer do ano ou somente na temporada de verão. Participaram 45 pessoas, resultando em 40 entrevistas. Dessas, oito vivenciaram sua infância na década de 1940; 15, na década de 1950; 12, na década de 1960 e as 10 últimas, na década de 1970. No que se refere às entrevistas, foram utilizados os pressupostos e a metodologia da História Oral, sistematizada em duas etapas. A primeira etapa compôs-se de questionamentos voltados para a história de vida da pessoa entrevistada: nome, idade, escolaridade, profissão, onde nasceu, há quanto tempo residia no Município e onde, especificamente, viveu sua infância. Depois disso, a entrevista pautou-se na temática da diversão infantil, na identificação dos brinquedos, jogos e brincadeiras existentes no Rincão de outrora.
Findada a etapa da pesquisa, iniciou-se a sistematização das informações coletadas. A partir das entrevistas, mapeamos brinquedos e brincadeiras, registramos os detalhes de cada brinquedo ou brincadeira, mas não paramos por aí. As fotografias que ilustram nossa cartilha tiveram como modelos as crianças do passado, ou seja, aquelas que compartilharam suas memórias de infância com este projeto. Adentramos, assim, em um mundo real, mas (re)construído por meio da memória. São lembranças de fatos que aconteceram aqui, em nossa cidade, mas em contexto temporal diverso, quando o brincar acontecia ao ar livre, era autônomo e repleto de imaginação. Os brinquedos eram construídos pelas crianças, e a rua era o principal cenário para as brincadeiras. Assim, esta pesquisa teve o intuito de apresentar as sutilezas e a espontaneidade de brinquedos e brincadeiras do Rincão de outrora.
Este projeto de pesquisa resultou em: - Acervo em áudio, arquivado no Museu Arqueológico Balneário Rincão; - Publicação de cartilha de apoio didático; - Oficina de capacitação para professores/as; - Realização do “Dia das brincadeiras de outrora” (conversa com ‘avós’, contação de história, confecção de brinquedos e muita brincadeira).
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Como nossos avós? Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. (Manoel de Barros) Um barquinho navegava pelas águas do Arroio Rincão. Há quem diga que era apenas uma dobradura de papel. Possivelmente essa pessoa não conseguia ver a movimentação da tripulação para conseguir domar o barco depois da forte chuva. Aqueles piratas eram realmente bem pequeninos, mas, se fechassem os olhos, talvez... Depois que o temporal havia acalmado, e a água da chuva concentrava-se em poças pela estrada, uma menina corria animada para mostrar sua boneca para as amiguinhas. Era tanta urgência, que ela nem atentou ao trajeto, e a boneca Beatriz caiu numa das poças. A menina juntou a boneca, Beatriz nada sofreu, um banho seria a solução, se não fosse a boneca de papelão. Um menino e seu fiel escudeiro, o cavalo de faz-de-conta. Eles eram tão amigos que, não importava se ele era apenas um cabo de vassoura velha, com cabeça de mandioca, o menino não fazia nada sem seu companheiro. Entregava leite, ia para a escola e fazia compras para a sua mãe. Uma vez, fez uma longa viagem, saiu da sua casa, na região central da cidade, e foi até a venda do Gervásio Ferraz, lá em Pedreiras, fazer compra a cavalo. Um grupo de meninos se preparava para jogar Ourinho. Dobravam as folhinhas douradas das carteiras de cigarro. Outros corriam, subiam e escorregavam pelas dunas. Usavam cascas de coqueiro ou pedaços de tábua como prancha. As meninas brincavam de Cozinhadinho, faziam um café para tomar entre comadres. Enquanto isso, as Ugas circulavam pelas ruas, até as mães gritarem pela peça faltante do fogão a lenha.
O que essas histórias têm em comum? Todas elas são reais e aconteceram em um lugar chamado Balneário Rincão. Lembranças daqui e de acolá que foram reunidas, brincadeiras de um tempo em que o Rincão era cheio de dunas, árvores e tinha poucas ruas. Nesse período, era difícil alguém comprar um brinquedo, para algumas famílias era praticamente impossível, por isso a imaginação e a criatividade corriam soltas, e as crianças confeccionavam seus próprios brinquedos.
Que tal usar essas histórias e entrevistas como inspiração? Peça que seus alunos/as perguntem para seus pais, mães, avôs e avós como eram as brincadeiras de sua infância. Sabugos de milho eram transformados em dois bois, o Gigante e o Moreno, prontos para serem cangados. Da mesma maneira, algumas folhas de mamoneira, quando amarradas, compunham uma linda boneca. Ou, então, uma ou duas latas cheias de pedrinhas, unidas por um arame, viravam uma Carretinha. Enfim, criar brinquedos a partir de materiais descartados era uma prática muito comum entre as crianças que vivenciaram sua infância entre 1940 e 1970. A criança, ao transformar a matéria-prima, produz cultura. Ela cria um conjunto de símbolos e significados que expressam seus sentimentos, ideias e os contextos vividos. Exemplo disso é a representação do cotidiano dos adultos, ou seja, por meio das brincadeiras infantis, as crianças (re)elaboram a vivência que compartilham com os adultos. Lá, no mundo delas, nas suas brincadeiras, elas assumem a responsabilidade de serem mães, pais, madrinhas e padrinhos das bonecas, cozinham para si e para os seus, brincam de Polícia e ladrão, cavalgam com seus cavalos e transportam cargas nos pequenos carros de bois. Como se houvesse um limite, uma linha imaginária a segregar os dois mundos: de um lado, o das crianças; do outro, o mundo adulto.
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Há que se mencionar o rompimento da linha em algumas situações, entre as quais três, as mais evidenciadas nas narrativas orais. A primeira está associada à contação de histórias, quando a família se reunia para ouvir as famosas narrações de outros tempos, aquelas que eram passadas de uma geração para outra. Na segunda, a conotação afetiva é ainda maior, como se a lembrança fosse um afago na criança de outrora, como a experiência de acompanhar o Boi de mamão. Por meio dela, adultos e crianças vivenciavam juntos a morte e a ressurreição do boi. Uma alegria tamanha era compartilhada ao ver os personagens ganhando vida. Cabe lembrar que os menores ficavam com muito medo, afinal, era um boi, mesmo que de pano. Por último, apresentava-se a festividade natalina, quando crianças e adultos compartilhavam a magia do nascimento do Menino Jesus. É muito recorrente nas lembranças o fato de cortarem capim para o burrinho, responsável por carregar o Menino Jesus em sua passagem pelas casas para deixar os presentes. Assim, os pais incentivavam as crianças para que o capim fosse cortado e colocado em um pratinho, aos pés do presépio. As crianças iam dormir na euforia de acordar na manhã seguinte, o Dia do Natal, para confirmar a passagem do Menino Jesus e a comilança do burrinho, além, é claro, de conferir os presentes.
“Daí todo mundo saía atrás de capim. Daí a gente pegava, fazia aquele molhinho ali, amarrava com linha, linha das mães que a gente pedia, botava dentro de um pirezinho, e botava no presépio, ali embaixo. Aí, quando, no outro dia, a gente ficava ansiosa. Aquela noite, meu Deus do céu, não parava mais. Daí a gente ia lá, tinha... eu lembro que tinha um pão, esses pão doce com canela dentro, uma laranjinha e tinha um pacotinho de bala. Nossa! Feliz da vida a gente ficava.” (Idenir Cardoso Rodrigues, 63 anos) “O presente que nós ganhava no Natal, aqueles ovinho, a minha mãe furava, pintava ao redor, a gente ia lá e ganhava aquilo ali. Ah! Era o presente mais lindo do mundo!” (Ilda Fernandes Silva, 74 anos)
Se a confecção dos brinquedos demandava imaginação e criatividade, as brincadeiras de antigamente exigiam movimentação e agilidade, muita atividade física. Pega-pega, Esconde-esconde, Cantigas de roda, içamento de pipas, futebol, Amarelinha, Queimada, Galinha qué pô, haja fôlego para tamanho corre-corre. É notória uma forte relação das crianças com a natureza, afinal, além de oferecer materiais para a confecção dos brinquedos, a mãe natureza servia de cenário para as infinitas brincadeiras. O mar, as lagoas, os combros, as árvores, enfim, toda nossa paisagem litorânea era transformada em um imenso parque de diversões.
“A gente saía pra procurar ninho de passarinho. No tempo que era de pitanga, dava muita pitanga. Tinha um pasto ali, que hoje é o Campestre, dava muita pitanga, nós comia muita pitanga. Tempo de araçá, nós saía nos pastos pra comer araçá. Ia procurar ninho de passarinho. Era assim.” (Erotides Maria Cardoso dos Santos, 71 anos) “Naquele tempo, não tinha malícia, mas os pais não gostavam muito não. Os pais não gostavam que a gente brincasse junto, mas era assim, naquela época tinha muitos pais que não gostavam.” (Maria José Fernandes Rodrigues, 58 anos)
Assim fomos tecendo a redescoberta de outros tempos, o tempo das crianças, e, aqui, coisa de criança é coisa séria, merecedora de muita atenção. Neste momento, é preciso frisar que, além das lembranças, entram em cena também os esquecimentos. Trata-se de atos, ações e dizeres que não foram ou não quiseram ser trazidos ao presente por inúmeros motivos, o que foi respeitado durante a construção desta narrativa. Do mesmo modo, ressaltamos que estivemos atentas ao olhar da criança que permanece no adulto, como ocorreu no relato de alguns/as dos/as entrevistados/as, ao dizerem que não havia segregação entre meninos e meninas porque não havia maldade. Possivelmente, ela não se fazia presente no olhar da criança que aquele adulto foi, mas, para os adultos daquela época, meninos e meninas não podiam brincar juntos principalmente por questões morais.
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Outro fator que precisa ser evidenciado é a pluralidade de infâncias, ou seja, não há como padronizar a infância apenas por habitar um mesmo contexto geográfico, nesse caso a nossa cidade, Balneário Rincão. Existem outras categorias que precisam ser pensadas e problematizadas. Crianças vivem de maneiras diferentes, e essas diferenças são afetadas pelas categorias de gênero, classe, geração, raça/etnia, entre tantas outras peculiaridades em relação ao cotidiano de cada criança, o que nos permite afirmar que as infâncias são plurais, aqui ou acolá. Como exemplo disso, podemos citar as brincadeiras específicas para cada um dos gêneros, pois existiam brincadeiras/brinquedos que eram destinados somente para meninos, outros apenas meninas podiam compartilhar. Ou, então, a diferença entre os brinquedos dos veranistas e dos moradores. Os primeiros eram, em sua maioria, comprados na ‘cidade grande’, enquanto os segundos eram confeccionados pelas próprias crianças, sempre utilizando elementos naturais (galhos, barba de velho, sabugo de milho, gravetos) ou outros materiais que já haviam sido descartados pelos adultos (restos de tecido, madeira, metal). Ao visitarmos essas diferentes infâncias, ainda que em um mesmo território, foi possível identificarmos semelhanças e divergências. No entanto, desse mergulho no mundo infantil de outrora, por meio das memórias, destacamos o brincar como linguagem universal da criança. Independentemente de qualquer outro fator que as diferencie, a brincadeira era algo que as aproximava, identificava, criava uma identidade comum: ser criança. Mesmo quando o brincar só podia acontecer nos finais de semana, mesmo que somente no domingo à tarde ou em noites de luar, a brincadeira era algo em comum, algo que unia, era um meio de compartilhar saberes e fazeres.
“Sem luz elétrica, se aproveitava muito quando tinha a lua pra gente brincar à noite.” (José Geraldo dos Santos, 68 anos)
Na passagem de um modelo artesanal de produção para o padrão industrial, o brinquedo deixou de ser produzido manualmente, adquirindo um caráter de fabricação especializada e em série. E foi aí, nesse processo gradual, que os brinquedos confeccionados pelas mãos das crianças foram ficando de lado. Fato que também aconteceu com as brincadeiras tradicionais, uma vez que a sociedade se tornou eletrônica e tecnológica, e as crianças foram distanciando-se das atividades físicas que as brincadeiras oportunizavam. Desse modo, os brinquedos e brincadeiras tradicionais foram deixando as ruas, passando a habitar somente as lembranças das crianças de outros tempos. Assim, abrimos uma janela para apresentar esse mundo que está dentro de outro mundo. Um passado que não aparece nos registros oficiais, pleno de memórias que, se não registradas, sumirão ou perder-se-ão nos labirintos das coisas de gente grande. Enfim, com vocês, os brinquedos e as brincadeiras do Rincão de outrora...
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O encanto e a criatividade dos brinquedos e brincadeiras infantis de outrora Até aqui, mostramos um panorama da diversão infantil do Rincão de outrora. Como se as lentes estivessem focadas em uma escala mais distante, vemos as crianças brincando, apreciamos os brinquedos e as brincadeiras como um todo, mas desconhecemos suas características e especificidades. Agora, queremos apresentá-las em seus pormenores, nos pequenos e singelos detalhes, por isso aproximamos o foco. Apresentaremos os brinquedos e brincadeiras identificados aqui, no Balneário Rincão, mas será mais didático organizá-los por grupos, embora essas categorias sejam intercambiáveis. Em outras palavras, a brincadeira/brinquedo foi agregada em um dos conjuntos, mas, também, caberia em outro. Enfim, segundo a lógica adotada, o resultado foi a divisão em três grandes grupos: (1) brinquedos e suas possibilidades; (2) cantigas, brincadeiras de roda e parlendas; (3) jogos e brincadeiras. A partir daqui, adentraremos em um mundo encantado, no qual a criatividade é a senha para se conseguir acesso. Senha? Confere! Ah... existe mais um detalhe: é preciso deixar a imaginação fluir, ok? Não, não somos pessoas más! Longe de nós criarmos muros ou muralhas! Longe de nós impedirmos o acesso de quem quer que seja! É que fantasia conta muito aqui. Afinal, sabugos de milho se transformam em bois, folhas de mamona em bonecas e cabos de vassoura em cavalinhos. Por isso, precisamos deixar a imaginação ir ao infinito e além. Antes de seguirmos, há outro ponto importante: os brinquedos e brincadeiras, que logo serão apresentados, servem para mostrar o quanto os hábitos e costumes das pessoas se transformaram nas últimas décadas. Calma! Explicamos. É só pensar na possibilidade de brinquedos sem pilha ou bateria, com poucos detalhes, simples. Aliás, o plástico era novidade na época. Além disso, a grande maioria dos brinquedos era confeccionada pelas próprias crianças. Haja criatividade!
Brinquedos e suas possibilidades Reunidas aqui estão as brincadeiras que só poderiam acontecer se houvesse brinquedos. Assim, os brinquedos eram imprescindíveis, sem eles as brincadeiras não aconteceriam. Eles até poderiam ser substituídos na última hora, mas, sem brinquedos, sem brincadeiras. Assim, um anel poderia ser facilmente substituído por qualquer outro objeto pequeno que seria deixado entre as mãos de uma das crianças enfileiradas na brincadeira de Passar anel. Ou uma bola de borracha poderia ser substituída por algumas folhas de papel de pão amassadas, preenchidas com um pouco de areia, garatindo a brincadeira da Queimada.
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Ah... os brinquedos! Por alguns deles as crianças nutriam um grande valor sentimental, zelavam, cuidavam e tinham um imenso carinho, mas existiam outros que eram usados somente no momento da brincadeira e depois eram deixados de lado. É preciso frisar que poucos eram os brinquedos que podiam ser comprados. É evidente que isso foi mudando no decorrer dos anos, e que, no final do recorte temporal desta pesquisa, as crianças ganhavam mais brinquedos de presente, principalmente na década de 1970. Mas isso também não significa que as crianças das outras décadas não ganhassem brinquedos, elas ganhavam, mas até os brinquedos comprados eram feitos manualmente, como as bonecas de pano e os carrinhos de madeira.
“Nós fazia aqueles cata-vento, não sei se tu sabe. Cortava aquela folha assim, de um lado e do outro. Fazia igual uma hélice assim, e saía correndo.” (Everton Aurélio Motta, 46 anos) “Não, nada comprado, tudo inventado. Tudo inventado, que nós inventava pra brincar.” (Antônio dos Santos, 66 anos). “Só o que eu fazia eram as carretinhas, o resto era comprado.” (Everton Aurélio Motta, 46 anos)
Assim, evidenciamos a principal característica dos brinquedos desse período: sua confecção pelas próprias crianças, para a qual elas utilizavam como matéria-prima elementos oferecidos pela natureza ou, então, (re)aproveitavam os materiais descartados pelos adultos. Criatividade e muita imaginação se faziam necessárias nesse processo. Durante as conversas, conseguimos identificar três tipologias de brinquedos. O primeiro conjunto se insere nos brinquedos comprados, adquiridos nos ar-
mazéns de secos e molhados da localidade ou em algumas das visitas que os pais/mães faziam à cidade de Criciúma, a maior nas proximidades. Existiam, também, algumas pessoas que confeccionavam e comercializavam seus brinquedos, tornando-se referência na região. Os brinquedos eram simples, sempre adquiridos para as festividades natalinas e geralmente deveriam ser compartilhados entre o grupo de irmãos. O segundo grupo era constituído por brinquedos fabricados pelas crianças, às vezes em uma tarefa solitária, em outras, na coletividade. Alguns pais compartilhavam a responsabilidade da fabricação dos brinquedos, principalmente quando os brinquedos possuíam detalhes maiores. A grande parte do material utilizado era proveniente da natureza: madeira, areia, gravetos, folhas, palha. Associados a esses, os materiais reutilizados: latas, barbantes, telhas, tijolos, restos de madeira, tecido e metal. Brinquedos simples que duravam duas ou três brincadinhas, ou, então, brinquedos que eram para toda uma vida. O terceiro grupo era o dos brinquedos que as crianças chamavam de ‘emprestadinhos’, ou seja, objetos que no mundo adulto se destinavam a uma determinada função e que eram ressignificados no mundo infantil. Vamos a eles?
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Desfile de biciletas,. Balneário Rincão, década de
1970.
Eu ganhei uma bicicleta. Foi a primeira bicicleta aqui, e a gurizada, os meus amigos, andavam tudo atrás. Eu tinha uns 14 anos, por aí, quando o pai disse: Oh, Zé, se a farinha dé preço, eu vou te dar uma bicicleta. Oh... mas eu rezava, será que eu vou ganhar mesmo uma bicicleta? E deu! Ele disse assim, nunca me esqueço: Vai lá, aro 26... vai lá e escolhe uma bicicleta pra você. E eu fui. Fomos lá e já ajeitaram e montaram. Eu não vim mais de carroça, eu vim de bicicleta, pela Mineração e, quando eu vinha de bicicleta, naquele tempo não se tinha movimento, era pouco. Quando eu vinha de bicicleta: Oh... um menino de bicicleta! Aquela coisa, aquela curiosidade. Eu, quando cheguei aqui, barbaridade, era uma festa!” (José Luiz da Luz, 67 anos)
Balanço O que precisava Cordas, uma tábua para servir de assento e uma árvore (quanto maior, melhor).
Características Brincadeira individual ou coletiva, geralmente acontecia nas proximidades da casa. Quando o grupo para se balançar era muito grande, existia uma fila que aguardava a sua vez, brincando entre os galhos da árvore na qual o balanço estava amarrado.
Como se brincava Quanto mais alto fosse o balanço, maior seria o frio na barriga. O vaivém promovido pelo embalo cativava as crianças. Habitualmente colocado em árvores nos arredores das casas, as figueiras eram as preferidas, pois seus galhos eram os mais resistentes. Mas ninguém ficava sem balanço. Se não tinha a figueira, ia a goiabeira, a laranjeira, nem as pitangueiras mais robustas escapavam. Quando sozinhas, as crianças pegavam impulso com os próprios pés; quando em grupos, um coleguinha ajudava, proporcionando alturas nunca atingidas. Cada novo empurrão era um novo recorde.
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“A minha brincadeira era brincar de balanço. Amarrava uma corda num pé de goiabeira, e colocava a tabuinha e vamos balançar. Um empurrava e outro ia, até que um dia nós derrubamos o pé de goiabeira.” (Maria do Carmo Vargas de Lima, 57 anos) “Eles faziam um balanço, balanço na figueira. O falecido meu tio tinha um laço de laçar gado, que é feito de couro, eles faziam aquele balanço, e começavam a se balançar.” (Erotides Maria Cardoso dos Santos, 71 anos) “Balanço era muito comum, todo mundo fazia, nas árvores, pendurava as cordas, colocava uma madeirinha embaixo para não machucar as pernas, um empurrava o outro. A gente se empurrava sozinha também, mas, normalmente, brincava em turma, aí um empurrava o outro, era uma festa.” (Edite Fernandes, 60 anos)
Bate Outros nomes Cinco Marias
O que precisava Cinco saquinhos de tecido preenchidos com areia ou cinco pedacinhos de telha arredondados. No improviso total: pedrinhas encontradas pelo caminho.
Características Um jogo para se brincar em dupla ou mais amigas, funcionava como um desafio. Geralmente o ganhador recebia uma prenda. Brincadeira considerada de meninas, mas alguns meninos afirmaram que também brincaram muito de Bate.
Como se brincava Fazia-se uma roda, todas ficavam sentadas, o Bate circulava por entre as meninas, ou seja, sempre era passado adiante quando uma das meninas não conseguia executar a jogada. A brincadeira era dividida em etapas: bate de um, bate de dois, bate-todas, trave. Nas três primeiras etapas, a sistemática era sempre a mesma: consistia em espalhar as peças no chão, na frente da jogadora; depois de escolher o capitão, deveria jogá-lo para cima; enquanto o capitão estava no ar, a jogadora deveria pegar uma peça (bate de um) que estava no chão, e continuar, até que todas as peças estivessem na sua mão. Finalizada a primeira etapa, na sequência, o mesmo procedimento deveria ser realizado no bate de dois. As peças deveriam ser colocadas no chão, na frente da jogadora, capitão pra cima. A diferença é que, ao pegar as peças, deveria pegar duas por vez.
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No bate-todas, enquanto o capitão estivesse no ar, a jogadora, com uma única mão, deveria pegar todas as peças que estavam em sua frente de uma vez. A última etapa consistia em formar uma trave com os dedos polegar e indicador, apoiando-os contra o chão. Com a outra mão, deveriam ser lançados os cacos de telha de forma a espalhá-los próximo da trave. Em seguida, o capitão deveria ser lançado para cima. Enquanto estivesse no ar, com a mesma mão, empurrava-se um dos cacos que estavam no chão em direção à trave, a fim de marcar um ponto. Cada vez que jogasse o capitão para cima, deveria fazer um gol, ou, então, passaria a vez para a amiguinha.
“Jogar Bate, eu fazia de telha de casa, aí a gente quebrava as telhinhas, fazia tudo redondinha e depois a gente ia jogar, em duas, três, conforme se tivesse o bolinho das meninas pra brincar. É sete pedrinhas, tens os pares e depois tem o capitão. Então, ali a gente pega, jogava assim aquelas pedrinhas, elas se espalhavam, depois uma tu fica na mão, joga pra cima e pega uma pedrinha daquela, ela tem que passar aqui, não pode queimar aqui na baliza. É, vai jogando, vai jogando, se tu bater com a mão aqui, tu queimou, aí tu arriava pra outra, às vezes passava uma tarde brincando.” (Ilda Fernandes Silva, 74 anos)
Biloquê Outros nomes Bilboquê.
O que precisava Se fosse o simples, apenas lata, graveto e linha. Já o rebuscado necessitava de madeira, linha e ferramentas para sua confecção.
Características
Vam os faz er? Esse é um dos brin que dos mais simp les de se faz er. Pre cisa rem os de três cois as: uma lata (des sas de milh o, ervi lha ou extr ato de tom ate) , um ped aço de barb ante , de apro xima dam ente 20 cm, e um grav eto ou ped aço de mad eira . Prim eiro , abra com plet ame nte uma das extr emid ade s da lata ; no lado opo sto, faça um peq uen o furo com o aux ílio de um preg o e um mar telo . Pas se o barb ante pelo furo , faça um noz inho . A outr a pon ta do barb ante dev e ser ama rrad a na pon ta do grav eto. Pro nto! Ago ra é só com eça r a brin car.
Havia quem pudesse comprá-lo pronto ou ganhá-lo de presente; este, então, era todo em madeira, na maioria das vezes decorada. No entanto, a maior parte das crianças tinha esse brinquedo feito à mão, que podia ser de madeira, bambu ou reaproveitamento de pequenas latas e gravetos. Elas, as crianças, controlavam o nível de dificuldade com o tamanho das latas que escolhiam para fazer o Biloquê. Quanto maior a lata, menor a dificuldade.
Como se brincava Se, de um lado, estava a lata ou a peça em madeira com um furo no meio, do outro, unida por uma corda, estava a haste ou o cabo de encaixe. A diversão acontecia pelo desafio de encaixar as partes, isso tudo somente com uma mão.
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“Biloquê eu ainda tenho em casa. Ah... jogava, fazia torneio de Biloquê. [...] Fazia de madeira e lata de fermento.” (Manoel Carlos Rodrigues, 57 anos) “Os Biloquês, nós brincavamos também, as meninas também brincavam de Biloquê, mas eles faziam, até porque eu era mais nova de uma família grande, então, eles que construíam, e a gente participava da brincadeira.” (Edite Fernandes, 60 anos) “Ele tinha pra comprar, mas a gente inventava , fazia a mão de obra. Tinha o Biloquê mais difícil e o mais fácil. Então, o mais difícil era feito de madeira, tinha o de lata de fermento e tinha também a de leite ninho, que a gente não errava nunca.” (José Geraldo dos Santos, 68 anos) “O meu pai, no tempo que tinha os filhos pequenos em casa, ele fazia de canudo de bambu. Então, ele cerrava, deixava um nozinho aqui, cerrava um pedacinho e ajeitava bem, raspava pra ficar bem lisinho, pra brincar, aí ele furava o miolo do bambu, amarrava o cordãozinho e fazia o Biloquê de bambu.” (Ilda Fernandes Silva, 74 anos)
Bola Características Brincadeira coletiva, a bola era objeto indispensável nas mais variadas brincadeiras. Durante muito tempo, foi artigo de luxo entre as crianças de Balneário Rincão, sendo improvisada com bexiga de porco ou de boi, restos de tecido ou papel de pão e areia, limão ou laranja.
Como se brincava A bola era um brinquedo muito querido por todos e todas, era também um brinquedo plural, ou seja, poderia ser utilizado para muitas brincadeiras diferentes. Queimada, Bobo no meio, Alerta. No entanto, dentre todos os jogos em que a bola era utilizada, o futebol era o preferido.
“Bola não tinha, era uma bexiga. Quando matava um porco, tirava a bexiga, enchia e fazia uma bola. Pegava um talo de mamoneira, fazia um cano ali e soprava, e um já ficava com a corda, prontinha, só enchia e amarrava. Bexiga de porco nós batia nela bem antes pra dilatar, ficar dilatada. O pai matava o porco lá, e nós tirava e corria. A primeira coisa era fazer uma bola.” (Clésio Vargas, 59 anos) “Nós botamos bexiga de boi, enchia e brincava e aquilo não aguentava muito. Daí nós fomos aqui, até tinha um senhor aqui perto da nossa... O Zé Patrício, o nome dele. Daí nós fomos lá e combinamos com o seu Zé pra comprar uma bolinha pra nós, que nós pagava ele por semana.” (José Luiz da Luz, 67 anos) “Eles tiravam a bexiga, limpavam, enchia com canudinho de mamona e botavam a secar. Ficava um balão. Às vezes, botavam pano, botavam qualquer coisa, preenchiam e brincavam.” (Maria da Rosa Pereira, 73 anos) “Às vezes, não tinha bola. Eles enleavam um plástico, não sei o que eles enleavam, fazia a bolinha, né? Jogavam, às vezes, quatro/cinco meninos, que se ajuntavam [...] Eles batiam uma bolinha.” (Ilda Fernandes Silva, 74 anos)
Futebol Esporte cativo entre a meninada, o futebol virou brincadeira que era praticada sem a formalidade de igual número de integrantes por equipes e, muitas vezes, havia só um goleiro para ambas. Pelos campos cheios de roseta, beira-mar ou no meio da rua - em frente às residências - os pés estavam sempre descalços e o tempo era livre, tanto que a brincadeira podia durar uma tarde inteira e adentrar pela noite, se a lua estivesse iluminando. As traves quase sempre eram improvisadas, pedaços de madeira, pedras e, quiçá, chinelos, quando os jogadores os tinham. O futebol apresentava algumas variações: Travinha Livre: quando duas equipes eram organizadas. Sem goleiros, as traves assumiam uma proporção bem reduzida, ao tamanho de um passo. A rua era o principal cenário desse jogo e não possuía demarcações de linhas. Pênalti: para brincar de pênalti, bastavam duas crianças, uma seria o goleiro e a outra, o batedor. Estas podiam revezar-se nas funções. As traves eram estabelecidas com dois tijolos, entre duas árvores ou mesmo por um par de chinelos.
“Futebol só jogava no verão, que era só no verão que o pessoal vinha, chegava no Natal ganhavam bola, então, nós não tinha condições de ter bola, então, nós aproveitava no verão pra jogar futebol, porque era a época que tinha bola, senão nós não tinha bola.” (José Geraldo dos Santos, 68 anos) “O que eu mais gostava era do futebolzinho, juntava meus primos, nós fizemos um campinho no nosso terreno, lá meu tio mais pra lá um pouco e vinha a turminha daqui da Pedreira. Eles faziam um... faziam umas travezinhas de madeira de eucalipto e depois pegavam as laterais, pegavam uma enxada e fazia um risco na grama. Era no meio do pasto do tio lá, lá em casa era um pasto também e ficava prontinho ali, chegava nos domingo nós... Tudo descalço, nada de tênis, naquela época andava descalço mesmo” (Clésio Vargas, 59 anos)
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Queimada Também conhecida como brincar de matar ou Mata-mata, essa era uma brincadeira coletiva. E funcionava assim: duas das crianças eram escolhidas para serem as lançadoras e teriam de ficar atrás das linhas, dispostas em lados opostos do espaço para o jogo. As demais crianças espalhavam-se entre as linhas, esgueirando-se das bolas atiradas. Caso uma das lançadoras acertasse a bola em alguma das crianças, esta passaria para seu lado, permanecendo com ela atrás da linha. Ganhava o jogo a equipe que, ao final, contabilizasse o maior número de pessoas.
Bobo-do-meio Fazia-se um círculo de crianças. Uma delas deveria ficar no meio da roda, ele seria o bobo, seu objetivo era pegar a bola. A bola deveria ser jogada de um lado para o outro do círculo, e o bobo circulando na tentativa de alcançar a bola. Se ele conseguisse, a última pessoa que tocou na bola seria o novo bobo do meio.
Alerta Alguém chutava a bola o mais distante possível, enquanto outro participante, previamente definido, ia buscá-la. Os demais tinham de se esconder. Uma vez recuperada a bola, esta era colocada em sua posição inicial e ela seria a barra. A criança passaria a procurar os amigos escondidos. Se um deles conseguisse chegar até a bola sem ser visto, poderia chutá-la novamente e a brincadeira reiniciaria.
“Mata-mata era uma bolinha de pano que se atirava e, se atingido, então a pessoa saía, ia, passava pro outro time.” (Joaquim Arantes de Bem, 73 anos) “Os meninos brincavam com bola, futebol, brincar de matar também. Matar é assim, é tipo Queimado é, a gente falar Matar, é o mesmo Queimado, é.” (Franki Lino, 45 anos) “Nós brincava de bobo do meio, tinha umas dez crianças, um ia no meio, aí olhava pra um, ele não estava olhando, a gente jogava naquele, caia no chão e ele era o novo bobo do meio.” (Edite Fernandes, 60 anos)
Bolinha de vidro Outros nomes Bolinha de Gude
Características Um dos poucos brinquedos comprados, tanto na cidade grande, quanto nas vendas da localidade. Todas as vendas tinham, em seu balcão, um pote de bolinhas de vidro. A Bolinha de Vidro era tratada como um tesouro entre as crianças e carregadas em pequenos sacos de tecido ou latas que, improvisadas, tornavam-se pequenos cofres. As crianças ficavam fascinadas, seus olhinhos brilhavam ao avistar as pequenas bolinhas, mas nem todas podiam comprar. Uma solução era fazer as pelotas de barro, que, depois de bem modeladas, seriam assadas no forno de rua para se tornarem mais resistentes.
Como se brincava Existem algumas maneiras diferentes para se jogar com esse brinquedo. Uma das variações era chamada de “Burica” ou “Biróca”. Era assim que as crianças identificavam um pequeno buraco que elas próprias cavavam no chão. Dentro dessa variação, existiam alguns jeitos diferentes de se jogar, dentre os quais identificamos dois, durante a pesquisa. No primeiro, cada participante colocava uma bolinha dentro da Burica, como objetivo de retirar a bolinha dali. Assim, um a um, os amigos seguiam tentando retirar as bolinhas de dentro do buraco, lançando outra bolinha com a força de seus dedos, o indicador e o polegar, sendo que o primeiro era responsável por segurar a bolinha, enquanto o polegar dava o impulso. Quem conseguisse retirar a bolinha passaria a ser seu dono. A segunda variação consistia em traçar uma linha, com alguns metros de distância da Burica. Dali os jogadores deveriam jogar as suas bolinhas tendo como
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objetivo acertar o buraco. Geralmente eles estabeleciam uma quantidade de bolinhas para aquele jogo, número que deveria ser igual para os participantes. Assim, um jogador por vez ia arremessando suas bolinhas, isso numa sequência, até que todas as bolinhas acabassem. Cabe informar que quem acertasse na Burica tinha o direito de tentar bochar, dali do buraco, as bolinhas dos outros jogadores. Caso acertasse, a bolinha passava a ser parte da sua coleção. A segunda variação era a do triângulo. Utilizando uma vareta ou pedra, riscava-se essa forma geométrica no chão. Em cada aresta, uma bolinha era colocada e os participantes tentavam acertá-las para que saíssem do triângulo, aumentando, assim, sua coleção.
“A gente, às vezes, brincava de bolinha de gude, que era dos meninos, mas nossa brincadeira também.” (Maria da Rosa Pereira, 73 anos) “Eu brincava muito de bolinha de gude. Ela era comprada, aquela não tinha como fazer [...] O cara jogava naquela risca lá e vinha. O que chegasse mais perto jogava primeiro. Se jogasse e tirasse uma bolinha daquela ou batesse nela, aí seguia jogando e ia tirando, mas, se não tirasse, o outro jogava e vinha e pegava na minha que eu joguei, ele tirava a bolinha dali, já era dele.” (Clésio Vargas, 59 anos) “Bolinha de vidro nós até comprava... Naquele tempo, os bodegueiros, como se diziam lá pra dentro, eles vendiam, até tinha um vidro que eles tinha as bolinhas, tinha a maior, tinha a mais pequena. Jogava uma bolinha ali e, depois, aquele que jogava e chegava mais perto, pegava a bolinha, se bochava a bolinha, aí, se bochasse a bolinha, ganhava.” (Pedro Luiz Fernandes e Edith Pagani Fernandes, 82 e 85 anos) “A gente ia brincar na Burica, ia jogar mais, se jogava valendo. Você tinha 10 bolinhas e eu tinha só cinco. Se eu soubesse jogar e era bom, pegava todas as tuas bolinhas e acabou-se[...] Eu guardei o meu tesouro e perdi. Eu enterrei uma caixa, na época, com uma quantidade imensa de bolinha de vidro, aonde nós morávamos e fui embora e perdi. Eu não sabia mais aonde tinha guardado as bolinhas de vidro, que a gente guardava que era pros outros não roubar, pros outros não pegar. Então, eu perdi o meu tesouro de bolinha de vidro.” (Pedro Antônio Rodrigues, 67 anos) “Nós éramos pobres. Então, a mãe assava as bolinhas pra gente brincar.” (Edite Fernandes, 60 anos)
Boneca Características Brinquedo cobiçado, a Boneca Família Abílio José Agostinh o e Ana de Jesus Agostinh era o sonho de muitas meninas. o. Detalhe: a menina Sedir e sua boneca. Balneário Rinc ão, década de 1970. Quem tinha uma guardava-a como uma joia rara. Os materiais utilizados para fazê-la também eram diversificados: retalhos de tecido, papelão, palha de milho e até de folha de mamoneira. A brincadeira poderia ser individual ou coletiva.
Como se brincava A brincadeira já começava na hora de produzir as bonecas, especialmente aquelas feitas com folhas da árvore de mamona, pois eram as próprias crianças que as faziam. O peculiar jeito de dobrar e ajeitar as folhas, escolhidas com cuidado, era uma diversão à parte, com direito a travesseiro, feito com a mesma folha, e bercinho de telha para aconchegá-la com muito carinho. Depois, as crianças organizavam batizados e passavam a se chamar de comadres e compadres. Existiam, também, as bonecas de pano, confeccionadas pelas mães, avós ou vizinhas, que ficavam conhecidas rapidamente por esse talento. Para trazer um pouco de cor para seus lábios, o corante vermelho extraído do urucum dava um charme e capricho todo especial. As bonecas de papelão costumavam não durar muito tempo. Bastava uma distração, uma chuva repentina no meio da tarde, e a boneca, molhada, desfazia-se. A brincadeira consistia em assumir o papel de mamãe da boneca: embalá-la, alimentá-la, fazê-la dormir, enfim, todas as funções de uma mãe para com seu filho recém-nascido.
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“As bonecas de pano. A minha mãe fazia. Ah... tão bonitinha! Bem caprichadinha, ela tinha cabelo de pano, um lencinho preto. A minha mãe pintava o olhinho e a boquinha. Usava vestidinho.” (Dalila Viscardi Martinhago, 85 anos) “A primeira boneca que eu ganhei era de papelão. Eu fui, bem faceira, um dia de chuva, que tinha chovido no Natal, com a boneca assim, pelo pé, correndo pra mostrar pras minhas amigas. Eu caí um tombo, e ela caiu com a cara na poça d’água. Daí eu fui lavar porque ela tava... ficou preta. A água era pirita. Ficou preta a cara dela, e eu fui lavar, e ela desmanchou tudo porque era de papelão. Ah.. mais eu chorava com essa boneca! Cheguei com a boneca sem olho, sem nada, porque era pintado, né? Saiu tudo.” (Sônia Martinhago, 60 anos) “Brincava de boneca. Quando era criança a mamãe fez uma boneca de pano pra mim, muito da feia, mas, aquilo pra mim era muito bonita, porque era só o que eu podia ter.” (Erotides Maria Cardoso dos Santos, 71 anos)
“Eu lembro que a minha mãe me deu uma boneca de papelão. Era aquela de papelão, com papel crepom, tudo, o vestido tudo era assim. Eu lembro daquela boneca. Até, um dia, eu joguei ela dentro do poço. Daí eu comecei a gritar, chorar, chorar. O meu pai pegou. Nossa! Uma coisa bem funda mesmo, quando veio, ela veio toda mole. Aí eu chorei, chorei.” (Idenir Cardoso, 63 anos) “E nós ia lá pra debaixo daquela chácara brincar. E aí era feito a boneca de folha de mamoneira, porque eu não tinha como, a minha mãe não tinha como comprar uma bonequinha. Eu pegava aquelas folha de mamoneira, eu fazia as bonequinhas.” (Ilda Fernandes Silva, 74 anos) “A boneca, ela fazia o cílio da boneca com tinta preta, fazia aquela rouge na carinha da boneca e aquele vestido bem rodado. Bah... eu tinha ciúme daquela boneca... Toda de pano, toda costurada a mão.” (Maria Salete da Rosa Fernandes, 71 anos) “Nós ia atrás, nós colhia o milho na roça, colhia o milho, fazia as boneca da palha do milho.” (Marlene Adílio da Silveira, 61 anos)
Canoa O que precisava Uma Canoa de coqueiro, um combro (duna) ou um morro.
Características Brincadeira coletiva, as crianças andavam à caça/procura das canoas de coqueiro. Quando não as encontravam, substituíam-nas por pedaços de tábuas.
Como se brincava Era uma brincadeira que exigia muito esforço físico, pois, para poder escorregar do topo do morro, era preciso subir puxando a canoa. Não que a canoa fosse pesada, mas essa ação acontecia repetidas vezes. Subia-se o morro, descia-se escorregando sobre a canoa, que servia de base. Quando chegava à base do morro, a criança devia descer da canoa e levá-la consigo de volta ao topo do morro. Lá chegando, entregava-a para a próxima criança da fila. Essa brincadeira também acontecia nos combros, o que a deixava mais divertida, pois a areia proporcionava, segundo as crianças, maior velocidade, mas, também, deixava-a mais cansativa.
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Crianças brincando nos combros. Balneário Rincão, década de 1950.
“Subia lá em cima, pegava um... não tem essas de coqueiro? Como é que se chama? Nós chamava canoa, aí nós levava aquela, amarrava uma corda ali na ponta e subia lá em cima. Ah... era uma briga! Agora eu, agora eu! Minha vez, que tu já fosse. E eu não queria, a canoa era minha.” (Maria Salete da Rosa Fernandes, 71 anos) “Nós pegava a tábua, nós botava lá em cima na cabeceira do combro e vinha até lá embaixo. Nós dentro, nós sentado dentro.” (Antônio dos Santos, 66 anos) Eles cortavam aquela... Tu já visse daquelas canoas que dá assim no coqueiro? Eles cortavam uma canoinha daquela, nós sentava dentro e ia lá, escorregando, até lá embaixo. Era uma tarde assim, brincando. A tarde acabava em um instantinho.” (Erotides Maria Cardoso dos Santos, 71 anos) “Nós fazíamos canoa do coqueiro. Então, nós pegava aquela canoinha do coqueiro e subia o morro a pé, e lá escorregava com ela pra baixo. Nós ia lá, subia aquele morro a pé, sol, chegava lá suado, simplesmente pra descer escorregando na nossa canoinha.” (Marlene Adílio da Silveira, 61 anos) “Nós brincava, ia nos morros, nos pastos, uma turminha de meninas. Aí tinha aqueles coqueiros grandes, aquelas carriolas. Saía o cacho do coqueiro, aí tinha aquele carriola por cima, aí ia bem na ponta do morro, outra empurrava, ia embora.” (Ilda Fernandes Silva, 74 anos)
Carretilha O que precisava Madeira e ferramentas.
Características Prancha com rodas, toda em madeira. Algumas possuíam rolamentos de metal, principalmente na década de 1970. O brinquedo tinha três ou quatro rodinhas. O eixo da frente era móvel, o que garantia, com a ajuda dos pés, o controle do carrinho na descida do morro. Algumas crianças preferiam colocar um guidão, pois consideravam mais fácil utilizar as mãos para guiar.
Como se brincava A brincadeira consistia em descer um morro, sentado ou deitado sobre a carretilha. Quanto maior o morro, mais velocidade o brinquedo atingia. Esse brinquedo foi pouco utilizado na região central da cidade, afinal, ali não existiam morros. Mas ‘rolava’ um improviso: enquanto um ficava sentado, o outro puxava ou empurrava. Algumas vezes acontecia de amarrarem a carretilha na carroça ou no carro de boi, o que garantia a agilidade necessária para a brincadeira. Mas, se na região central ela pouco aconteceu, na localidade da Pedreira, ela foi uma brincadeira constante. Na maioria das vezes, como existia apenas um carrinho de mão para várias crianças, elas faziam fila para poder brincar e aguardavam ansiosamente por sua vez. No bate-todas, enquanto o capitão estivesse no ar, a jogadora, com uma única mão, deveria pegar todas as peças que estavam em sua frente de uma vez. A última etapa consistia em formar uma trave com os dedos polegar e indicador, apoiando-os contra o chão. Com a outra mão, deveriam ser lançados os cacos de telha de forma a espalhá-los próximo da trave. Em seguida, o ca-
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pitão deveria ser lançado para cima. Enquanto estivesse no ar, com a mesma mão, empurrava-se um dos cacos que estavam no chão em direção à trave, a fim de marcar um ponto. Cada vez que jogasse o capitão para cima, deveria fazer um gol, ou, então, passaria a vez para a amiguinha.
“Nós fazia carretilha, nós brincava de carretilha, né? Carretilha nós fazia com rolamento. Então, fazia com a tábua certinha, dois rolamento atrás e um na frente, como aqui na praia, como tudo é muito plano, né? Então, um empurrava, um levava até lá, depois outro trazia pra cá, então, nós fazia essas carretilhas também.” (Luiz Carlos Pinto, 51 anos) “Nós chegamos a fazer uma, mas nós engatava na carroça porque não tinha ninguém pra puxar. Aí o cavalo ia andando, e nós ia atrás brincando.” (José Geraldo dos Santos, 68 anos) “Nós brincava bastante. Na frente era um guidãozinho, atrás com duas rodinhas, com caixa de madeira, a gente sentava e segurava no guidão e descia morro abaixo.” (Edite Pagani Fernandes, 85 anos)
Carretinha Outros nomes Latinha, Trenzinho, Rolo, Rolete.
O que precisava Latas, arame, corda e areia (pode ser substituída por terra ou pedrinhas). Ferramentas: alicate, martelo e prego.
Características De uma a três latas reutilizadas (geralmente de óleo de cozinha), unidas por arame e corda/barbante. Dentro, um pouco de areia, pedras pequenas ou qualquer outro material que sirva para dar peso e fazer barulho. Brincadeira individual ou coletiva.
Como se brincava Pelos quintais, ruas e dunas, andar e correr puxando a Carretinha pela corda. Eram organizados campeonatos, as crianças enfileiradas lado a lado, disputavam qual seria a Carretinha mais rápida.
“Nós furava, botava um araminho, às vezes fazia uma carretinha de três latinhas, uma atrás da outra e saía correndo com elas. Rooom... Igual um trenzinho, como se fosse um trenzinho no combro.” (Antônio dos Santos, 66 anos) “Rolo, rolete. Botava umas três quatro latinhas uma atrás da outra.” (Manoel Carlos Rodrigues, 57 anos) “Era usado muito o leite ninho. Aí, nós enchia de areia, furava e saía por aí puxando aquilo. Truuumm... Era 10, 15 guris brincando.” (Pedro Vital Estácio, 68 anos)
Vam os faze r? tamp a (pode ser de Você prec isará de: duas ou três latinh as com aram e, barb ante , areia e acho colat ado, leite em pó ou algo do tipo) , te. Em uma das latinh as, pedr inhas . Ferra ment as: preg o, mart elo e alica o; pass e o aram e pelos faça dois furos , um na tamp a e outro no fund cada lado. Dobr e as duas furos ; deve m sobr ar uns 15 cm de aram e para isso, dobr e as pont inhas de extre mida des do aram e para a frent e. Feito uma, como se fosse m as modo a form ar um pequ eno círcu lo com cada o proc edim ento na segu nda pont inhas de uma agulh a. Exec ute o mesm latinh as com areia e pelatinh a, exce to o últim o pass o. Ench a as duas ante de mais ou meno s 30 drinh as. Ama rre na prime ira latinh a um barb r o carri nho. O próx imo pass o cent ímet ros, o que servi rá para você puxa e no aram e da latinh a da é pega r a segu nda lata e enca ixar o seu aram o’ por aí. frent e. Agor a é só sair desf iland o e ‘baru lhand
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Carrinho Outros nomes Carro de boi, Caminhãozinho.
Características Os carrinhos, em sua maioria, eram confeccionados artesanalmente, principalmente no período anterior à década de 1970. Dos carros de passeio aos carros de boi ou carretas, esses brinquedos eram construídos de maneiras diversas, assim como diversos eram os materiais utilizados em sua confecção. Para dar conta de ter um carrinho para brincar e dar vida à imaginação, a criatividade era o principal ingrediente. Os materiais utilizados nesse processo eram muitos: madeira, galhos de árvore, latas de sardinha, latas quadradas de azeite, caixas de fósforos e sabugos de milho. Carrinhos de plástico, considerados artigos de luxo, poucos eram os meninos que os possuíam.
Como se brincava Com um carrinho na mão, a criança simulava os afazeres relacionados ao trabalho na roça ou na cidade e, até mesmo, ao lazer. Puxar cargas no carro de boi, viagens de passeio, carregar o caminhãozinho com areia da beira-mar. Estradinhas, imensas vias rodoviárias, com pontes, túneis e morros eram construídos ou erguidos pelos meninos nas areias do Rincão.
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Crianças brincando nos combros, Balneário Rincão, década de 1970.
“Eu tinha um caminhãozinho que eu ganhei do meu padrinho, de madeira. Coisinha mais lindinha! Veio um navio apitando e veio,veio, veio... E encostou lá na praiada Esplanada. Eu fiz um burraquinho no combro e tapei o meu caminhãozinho. Deixei ali. Fui, mais o pai, ver o navio. Na época eu tinha nove anos. Quando eu voltei, eu fui buscar o meu caminhãozinho, não tava mais. Eu não achei mais. Até hoje, tenho uma saudade do meu caminhãozinho.” (Antônio dos Santos, 66 anos) “Os Carrinhos que os meninos brincavam, eles faziam com caixinha de fósforo.” (Edite Fernandes, 60 anos) “Tinha o vermelho e tinha branco, sabuguinho branco e vermelho, então, fazia boizinho. Nós pegava uma madeirinha e fazia o chifrinho dele, amarrava, botava uma cordinha, fazia um carrinho de boi. E ficava brincando, enchia o carrinho de lenha, carregando pro lado e pro outro.” (Clésio Vargas, 59 anos) “Eles faziam uma canguinha, botavam dois sabuguinho ali e era os boizinhos. Um era gigante e o outro era... como era? Moreno, era Moreno.” (Dalila Viscardi Martinhago, 85 anos) “Um brinquedo muito bom, que a gente fazia era a estradinha na areia. Então, todo mundo brincava naquela estradinha, fazia túnel, fazia morro.” (José Geraldo dos Santos, 68 anos)
Cavalinho O que precisava Cabo de vassoura.
Características Brincadeira individual ou coletiva, na qual se adaptava um cabo de vassoura ou pedaço de madeira, para ser o Cavalinho. Poderia ou não ser confeccionada uma cabeça. O material para produção da cabeça poderia ser de madeira, pano, mandioca ou de alguma raiz na qual a criança tenha tropeçado em suas andanças.
Como se brincava O Cavalinho era um companheiro de aventuras. Estava ali para tudo: levar almoço para os pais na roça ou no mar, ir ao armazém que ficava a quilômetros de distância. O cavalinho era movido pelas pernas cavalgantes das crianças. Muitas tinham, inclusive, um relho para forjar um galope mais rápido. Depois da aventura diária, ele era guardado, às vezes dentro de casa, nos galpões ou em um cantinho do quintal, onde, então, recebia o merecido descanso entre uma saída e outra.
“A mãe dizia: tá na hora de ir lá no compadre Bepinho, comprar querosene. A mãe só pegava a garrafa colocava numa bolsinha. Eu pegava a bolsinha e o Cavalinho. O Cavalinho era uma vara de bambu e ainda tinha o relhinho. Num instantinho subia a lomba, ia lá, comprava querosene e vinha. Chegava cá, entregava pra mãe, depois pendurava o Cavalinho. Amanhã ou depois precisa.” (Terezinha Fernandes da Silva, 70 anos)
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“Era um cabo de vassoura, fazia a cabecinha do Cavalinho, a gente montava nele e saía.” (Danúsia de Souza, 46 anos) “Cavalo de pau, uma rama de mandioca e um pauzinho que fosse do tamanho de um cabo de vassoura. Então, fazia orelha, botava uma cordinha, montava e saía. Eu ia lá pro Gervásio Ferraz fazer compra a Cavalo. Quanto mais corria, melhor.” (Pedro Luiz Fernandes, 82 anos) “Meu falecido pai fazia uma cabecinha de cavalo, igualzinho uma cabecinha de cavalo, nós botava numa madeirinha e saía correndo com os Cavalinhos nos combros.” (Antônio dos Santos, 66 anos)
Cozinhadinho Outros nomes Comidinha, Casinha, Comadre.
O que precisava Panelas (latas, panelas ou potes velhos), fogão (construído durante a brincadeira), lenha, alimentos.
Características Essa brincadeira pode ser pensada de duas maneiras. Da primeira, é quando não havia fogo e a comidinha já vinha pronta da casa dos pais, ou seja, quando se construía um fogão somente para faz-de-conta. Já da segunda, levava-se ao pé da letra o termo ‘cozinhadinho’. Pegava-se uma pequena chapa de ferro, alguns tijolos ou pedras (para elevar a chapa), galhos para servirem de lenha, latas ou panelas velhas, grãos e cereais para cozinhar (cedidos pelos pais). A brincadeira coletiva era destinada exclusivamente às meninas. Aliás, essa era uma das únicas brincadeiras de meninas de que os meninos não podiam participar.
Como se brincava Primeiramente, escolhia-se o espaço para a brincadeira: ora na casa de uma, ora na casa de outra, as amigas se reuniam e preparavam o lugar onde faziam o cozinhadinho. Geralmente realizada aos domingos, a diversão acontecia pelo fato de que crianças preparavam uma refeição, cozinhavam os alimentos (ou faziam de conta) sobre a chapa de ferro, ao calor do fogo. Algumas das entrevistadas relataram o fato de observarem o cotidiano das mães para a preparação das comidinhas. O fato mais marcante sobre isso foi a imitação do processo da salga dos peixes. Como não existia geladeira, o peixe
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era salgado e colocado ao sol para secar, depois armazenado em caixas, o que garantiria sua conservação. As meninas reelaboraram esse costume com laranjas vergamotas, cujos gomos eram salgados e colocados ao sol para secar. Depois de toda a preparação e o cozimento dos alimentos, o almoço era servido para a família de brincadeirinha.
“Pegava a latinha, botava uma alcinha na latinha, aquela ali era a nossa panela, ia brincar de comida. Nós fazia comida, uma turma lá e nós aqui. Então, nós vinha uma na casa da outra assim: comadre, vamos lá em casa? Vai lá em casa domigo, almoçar lá. Chegava domingo e elas vinham, aí almoçavam ali com nós, nós cozinhava feijão, ensopava uma carninha.” (Dalila Viscardi Martinhago, 85 anos) “O nosso brinquedo era na areia. Fazia o fogão, o forninho, botava o pé, depois tapava de areia, aquela areia mais molhada, depois tirava o pé, botava um galhinho de mato, pra dizer que era a chaminé.” (Maria da Rosa Pereira, 73 anos) “Brincávamos de cozinhadinho, embaixo das árvores, fazia fogãozinho com as panelinhas, brincava. Nós fazíamos comida de verdade. Pegava as panelinhas, nós mesmo fazia de lata de azeite, esses óleo que era nas lata quadrada, antigamente. Hoje vem em plástico, mas antes era lata, e nós mesmo preparava, fazia as panelinha de lata de azeite. Panelinha, chaleira, bule, nós fazia tudo.” (Marlene Adílio da Silveira, 61 anos) “Nós brincava mais assim, perto de casa, porque atrás de casa tinha assim uma capoeirinha, um matinho, aonde era mais pintangueira. Aí ali a gente brincava de casinha, de fazer comidinha, nos domingo, nós se juntava com mais umas duas ou três amiguinhas e era o que tinha ali. Aí a gente fazia cozinhadinho, fazia um fogãozinho, a minha mãe levava um arroz, um feijão, lá pra nós. Era comidinha de verdade.” (Neli Estácio de Souza, 83 anos) “As mãe davam um pouquinho de arroz, um pouquinho de açúcar, nós fazia cozinhadinho. Naquele tempo, cozinhava um pouquinho de arroz. A gente comia aquela comidinha que elas fazia.” (Suelli Pacheco Rebello, 60 anos)
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Dança da cadeira O que precisava Cadeiras.
Características Brincadeira coletiva para a qual não existia número máximo de participantes, mas a regra era ter uma cadeira a menos do que o total de jogadores.
Como se brincava As cadeiras eram colocas em formato de círculo, com os assentos voltados para o lado externo da roda. Os participantes caminhavam no ritmo de uma música, ao redor das cadeiras. Quando o som parasse, eles deveriam sentar-se rapidamente. Quem não conseguisse, deixava a brincadeira, e mais uma cadeira era tirada. Esse processo se repetia até que restassem apenas duas pessoas e uma cadeira. Aquela que conseguisse sentar-se primeiro era a campeã do jogo.
“A cadeira, nossa, tudo quanto era brincadeira no colégio que a gente fazia era brincadeira da cadeira. A cadeira, tu bota... pegava assim, no caso, 10 meninas ou 10 meninas com meninos, porque, naquela época, a gente brincava tudo com os meninos junto. Então... aí a cadeira, tu bota, se tinha 10 menina, pegava 10 cadeira, nove cadeira e tu botava.” (Idenir Cardoso Rodrigues, 63 anos) “A dança da cadeira colocava cinco cadeiras e seis pessoas, aí rodeava as cadeiras e, quando parava a música, quem ficava de pé saía fora e saía uma cadeira. A última que ficava ganhava o jogo.” (Marlene Adílio da Silveira, 61 anos)
Ficha O que precisava Fichas de gasosa (refrigerante).
Características As crianças colecionavam as tampinhas do refrigerante da época e criaram um jogo. Cabe lembrar que as tampinhas das gasosas eram de metal, semelhantes às tampinhas utilizadas no envasamento de cervejas.
Como se brincava Eram casadas as fichas, ou seja, cada jogador deveria colocar a mesma quantidade de fichas em um mesmo lugar. Feito isso, eles se afastavam e traçavam um risco. Por detrás daquela marca, eles deveriam jogar um caco de telha. Quem alcançasse o mais próximo das fichas iniciaria o jogo e, assim, sucessivamente, para a definição da ordem dos jogadores. O objetivo era virar a ficha. Enquanto conseguisse, a criança seguia na jogada. No entanto, se, ao jogar a telha, a criança não virasse nenhuma ficha, era a vez do próximo. Como foi dito, as crianças colecionavam as fichas. Nesse caso, cada ficha virada acrescentava mais uma à sua coleção.
“Hoje pode ser de cerveja, que, naquele tempo, era de gasosa, tá bom. Então, a gente pegava aquelas fichas, botava na mão, quatro ou cinco fichas, com um caquinho de telha. Então, nós fazia o jogo, jogava em dois ou três, quantos quisesse. Então, como...tinha um que sempre começava, né? Quem estava ganhando ou quem começava o jogo, jogava o caco de telha, e quem jogasse a primeira ficha, aquela, até o final do jogo, a ficha que tivesse mais pertinho da telha, é que depois ia bater o bolo, aí fazia um bolinho de ficha ali, e com aquele caco de telha batia, a ficha caía emborcada pra baixo, ganhava, pegava o caquinho de telha e, conforme ia caindo, ia ganhando. Aquele que não ganhava passava pra outro, era assim a brincadeira, então, nós brincava muito.” (Maria da Rosa Pereira, 73 anos)
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Figurinha Características As figurinhas podiam ser acompanhadas por revistas de futebol, quadrinhos ou personagens famosos. Algumas vinham junto com a goma de mascar, outras eram compradas em bancas de revistas ou mercadinhos. Colecionáveis, por crianças e jovens, principalmente a partir da década de 1970.
Como se brincava Dois ou mais amigos se reuniam e ali, no chão, um a um tentava desvirar uma pequena pilha de figurinhas utilizando as mãos para efetuar um leve tapa sobre o montante. Cada figurinha desvirada passava a ser sua.
“Olha, na época, não lembro quais as figurinhas que a gente tinha, mas sempre tinha figurinha de gibi, de revistinha. Umas figurinhas quadradas, tu bate com a mão em cima, com o ar assim, tu tenta virar elas. Quem a que vira ganha.” (Franki Lino, 45 anos) “Eu brincava muito de figurinha. Vinha nas revistas. A gente comprava cartãozinho de figurinha, a gente brincava muito, e fazia assim, batia, quem virasse ganhava, virasse ganhava, com a mão que, meia entreaberta, era muito legal.” (Maria José Fernandes Rodrigues, 58 anos) “A Figurinha nós colocava em cima da mesa e batia aqui, bateu, não virou, o outro já vai. Eu casava cinco, ele, cinco. Ia batendo, bateu, virou, já guardava.” (Pedro Vital Estácio, 68 anos)
Outros nomes
Funda
Estilingue
Características Um graveto em forma de forquilha, no qual se amarrava um elástico ou uma tira de borracha. Para segurar a pedra, podia-se amarrar ao elástico um pedaço de couro para proteger os dedos e dar firmeza ao arremesso. Brincadeira individual ou coletiva, muitas vezes as crianças organizavam expedições pelas ruas do Rincão, cada qual com sua Funda. É importante relatar que muitas crianças confeccionavam suas próprias pelotas, o processo era o mesmo da bolinha de gude. Pegavam a argila, moldavam pequenas bolinhas e colocavam no forno de rua para que, com o cozimento, se tornassem mais resistentes.
Como se brincava O objetivo da funda era atingir um alvo. Uma das mãos segurava a forquilha e, com a outra, encaixava-se a pedra no couro, esticando a borracha/elástico e, assim, a pedra era lançada em direção ao alvo.
“Os meus irmãos, eles saíam caçar nas chácaras, com aquela... hoje eles falam estilingue, mas era ‘funda’ que a gente chamava.” (Ilda Fernandes Silva, 74 anos) “A funda, nós arrumava borracha, cortava, fabricava.” (Pedro Vital Estácio, 68 anos) “A funda eu fazia, cortava uma galhetinha, pegava aquela borrachinha de soro, aí pegava um corinho, botava no meio dos dois, pegava uma pedrinha e puxava. Vez em quando, aparecia um vidro quebrado.” (Neli Estácio de Souza, 83 anos) “Uma brincadeira que a gente fazia muito era caçar de funda, fazia pelota de barro e secava no forno da dindinha Antônia. Secava no forno que ela fazia rosca... ela queria bater em nós.” (Pedro Vital Estácio, 68 anos)
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Ourinho Características A matéria prima deste brinquedo eram os papeis dourados ou prateados que compunham a parte interior das antigas carteiras de cigarro.
Como se brincava Produto colecionável, o Ourinho era disputado entre crianças em jogos que podiam fazer o desafiante perder toda a sua coleção de uma só vez. Duas modalidades eram muito comuns: no estilo simples da brincadeira, com as figurinhas, o tipo de jogo era realizado da seguinte forma: primeiramente, cavava-se um pequeno buraco ou riscava-se o chão sobre o qual seriam colocados os ourinhos. Na sequência, a certa distância – definida pelo grupo – cada criança arremessava uma pedra ou aquele mesmo arco da chapa do fogão à lenha utilizado na Uga, para tentar tirar os ourinhos do buraco ou da marcação riscada. Quem conseguisse realizar esse feito, aumentava sua coleção. Alguns chamavam essa brincadeira de ‘chimba’. Outro jeito de brincar era a ação de trançar os ourinhos formando uma espécie de corrente.
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“Ourinho nós pegava as carteiras de cigarros, aquele tempo tinhas as carteiras, tinha Hollywood, tinha Continental, Paquetá. Aí o Hollywood era o mais caro que tinha. Às vezes trocava, dava três, quatro de outros ourinhos por um daquele. Ele tinha nas beiradas um vermelho, assim meio grená, aquele era o ourinho mais caro. Era jogado, fazia uma rinha redonda no chão, jogava cinco, seis, 10, 12 rapazes. Ali, cada um botava seu ourinho, pegava um pedaço de ferro ou de telha, nós dizia ‘chimba’. Fazia um círculo, casava aqui, botava uma pedrinha em cima pra não voar. Mais ou menos cinco metros, fazia um risco. Então, o cara pegava e jogava aquela chimba. O que ficasse mais perto daquele risco era quem jogava primeiro. Aí jogava naquele bolo ali. Se ele tirasse tudo, era dele. Se não tirasse, o outro jogava também.” (Clésio Vargas, 59 anos) “Era um ourinho que vem dentro da carteira de cigarro, sabe? Daí a gente vivia atrás de carteira de cigarro vazia pra fazer. Aí a gente dobrava direitinho, ficava como se fosse um dinheirinho, quem tinha mais, ia apostando mais.” (Danúsia de Souza, 46 anos) “A gente pegava carteira de cigarros, tirava o ourinho de dentro, dobrava ele direitinho e a gente jogava com a chimba. E aquele que ia ganhando, ia casando o ourinho. A chimba era assim uma chapa de fogão antigo, daqueles fogões a lenha. Era assim: a gente fazia uma rodinha, lá na frente riscava, uns três metros pra trás. Todo mundo tinha oportunidade de jogar a chimba, e aquele que arrastasse o ourinho, aí ganhava o bolo.” (Gelson dos Santos, 52 anos) “Era daquelas sedas de antigamente da carteira dos cigarros. Pegava, fazia um círculo, botava ali os ourinho, dobradinho, e daí tu pegava um caco de azulejo e jogava. Se tirasse, tudo era teu.” (Donato Pereira, 52 anos)
Passar anel O que precisava Um anel ou qualquer outro objeto que o representasse.
Características Brincadeira coletiva, acontecia principalmente na escola. Em algumas situações, na ausência do anel, as crianças o substituíam por qualquer outro objeto, uma pedrinha, um pedacinho de madeira, uma ficha de gasosa.
Como se brincava Formava-se uma fila de crianças, uma ao lado da outra, com as mãos unidas em frente ao peito. Essa organização também poderia acontecer em formato circular. As crianças faziam uma roda, e o guardião do anel ficava no centro dela. Palmas das mãos unidas, aguardando pela criança que passaria o anel, o guardião passaria de mão em mão, sem deixar nenhuma das crianças para trás. No meio do caminho, ela escolhia com quem, discretamente, deixaria o anel. Feito isso, ela escolhia uma criança a quem perguntava: com quem está o anel? O escolhido deveria adivinhar com qual criança o anel estava. Se acertasse, seria o próximo guardião do anel; caso contrário, teria de pagar uma “prenda” que nada mais era do que realizar um desafio de forma jocosa: imitar uma galinha, pular num pé só, fazer alguma dança, entre outros. No caso do erro na resposta, o novo guardião do anel seria aquele que o recebeu durante a rodada.
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“A gente brincava de muita coisinha, brincava de Passar anel.” (Erotides Maria Cardoso dos Santos, 71 anos) “E aquele assim que eles passavam o anel, nós também brincava” (Donato Pereira, 52 anos) “A gente brincava muito de anel, aquela brincadeira, Passar anel.” (Idenir Cardoso Rodrigues, 63 anos)
Pés de Lata e Perna de Pau O que precisava Para as pernas de pau eram necessárias duas varas, pregos e martelo; para os pés de lata, duas latas, cordinhas, prego e martelo.
Características De fácil confecção, esses brinquedos tinham por objetivo fazer com que as crianças “caminhassem nas alturas”. É evidente que a perna de pau dava a possibilidade de ficar/estar bem mais alto, mas os pés de lata tinham a mesma função, pois as crianças deveriam caminhar e se equilibrar em cima do brinquedo.
Como se brincava Com os pés apoiados sobre o brinquedo, a criança desafiava a si mesma na tentativa de equilíbrio, uma longa caminhada, de lá para cá, daqui para lá. Quando caísse, deveria passar a vez para o próximo da fila. Algumas crianças apostavam corridas com o brinquedo, da linha de largada até a linha de chegada, caminhando com a perna de pau ou com os pés de lata. As regras variavam. Às vezes, quem caísse era desclassificado; em outras, poderia subir e continuar dali. No entanto, uma coisa não mudava: quem chegasse primeiro seria o ganhador.
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“A gente, às vezes, fazia Perna de pau da lata, sabe? Botava uma cordinha, e fazia perna, no máximo, acho que Perna de Pau.” (Franki Lino, 45 anos) “Nós pegava uma lata tipo de leite ninho e furava no fundo e botava um cordão. Depois botava o pé em cima e saía andando.” (Erotides Maria Cardoso dos Santos, 71 anos) “Sabe que a gente brincava de Perna de Pau, nós fazia muito Perna de pau. A gente pregava assim e andava com a Perna de Pau, isso a gente brincava bastante. Cada um tinha o seu. A gente tinha um monte de irmão, nós somos em sete, os mais velhos que faziam.” (Jucileni Borges José Paradela, 45 anos)
Peteca O que precisava Penas, areia, tecido.
Características
Vam os faz er? A Peteca é um brinquedo que tem suas origens entre os povos Há uma man eira bem simp les e rápi da de indígenas. Feita com penas, coucon fecc iona r uma Pete ca. Bas tam três folh as de ro, palha de milho ou retalhos de jorn al. Res erve uma das folh as, ama sse as outr as tecido e um pouco de areia para dua s, form e uma peq uen a bola de pap el. Feit o isso esti que a folh a que sobr ou, colo dar peso. Os materiais utilizados que a bola de pap el no cen tro, emb rulh e-a com para sua fabricação dependia de o se foss e um ovo de pás coa . Pas se uma fita , a Pete ca está quem a produzia. Se fosse adpron tinh a pra ser joga da. quirida em uma das vendas, a peteca tinha o couro como base e penas na parte superior. Agora, se fosse confeccionada em casa, a Peteca poderia ter sua base em tecido ou palha de milho, ambas levariam pena na decoração. Algumas pessoas relataram que a Peteca era feita da espiga do milho, bastava parti-la ao meio e enfiar penas em um dos seus lados. Era uma brincadeira coletiva, geralmente associada às meninas, no entanto, alguns meninos afirmaram ter jogado Peteca durante a infância.
Como se brincava Não é um brinquedo para se brincar sozinho, a Peteca sempre envolvia dois ou mais participantes, pois a brincadeira consistia em jogar o brinquedo para um amiguinho tentando evitar que a Peteca caísse ao chão. Para lançá-la era preciso segurar com uma das mãos pelas penas, enquanto a outra mão daria um tapa em sua base, assim a Peteca voaria pelo ar até chegar a outras mãos, o processo se repetiria até o final da brincadeira.
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“Era uma Peteca de borracha, ela tinha umas penas, era comprada, não era feita em casa. Era tipo uma conchinha, tipo uma bolinha e tinha umas penas. Então, a gente jogava para um, jogava para outro.” (Edite Pagani Fernandes, 85 anos) “A nossa Peteca era de sabugo de milho, a gente enfiava as penas dentro do caninho do sabugo. E a nossa Peteca era aquilo ali, jogava pra cima” (Ilda Fernandes Silva, 74 anos) “A Peteca era com pena de galinha ou ganso, pegava um paninho, colocava areia dentro, colocava três ou quatro peninhas.” (Pedro Vital Estácio, 68 anos)
Pião O que precisava Madeira, prego e fieira (pedaço de barbante).
Características De rodopio encantador, o pião era brinquedo para brincar na rua, pois dentro de casa poderia causar muitos estragos. Talhada à mão, a madeira deveria adquirir um formato ovalado, sendo que, em uma das extremidades, era fixada uma ponta de prego; na outra, deixava-se uma pequena haste, que serviria para dar a primeira volta no enlace da fieira. Isso era de extrema importância para que o pião adquirisse boa velocidade e girasse alinhadamente.
Como se brincava As crianças podiam brincar sozinhas, cada qual com seu pião, desafiando-se para realizar o lançamento perfeito ou arriscando alguma manobra. A manobra mais comum era pegá-lo enquanto rodopiava no chão, com o objetivo de fazer com que o pião continuasse a girar sobre a palma da mão espalmada. Aquele que dominasse bem a arte de lançamento poderia arriscar-se a desafiar os amigos. Existiam alguns tipos de desafios, dos quais identificamos dois. O primeiro consistia na duração do rodopio, ou seja, o pião que ficasse girando por mais tempo ganharia. O segundo desafio era a “Rinha”, que consistia em se fazer um círculo no chão, utilizando um graveto ou pedra. Os piões a participarem da rinha eram colocados ali dentro. Na sequência, uma das crianças jogava seu pião sobre eles com força suficiente para, se possível, tirar os outros piões de dentro da demarcação ou até mesmo parti-los ao meio. Vez ou outra, a brincadeira acabava com um pião danificado.
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“Tinha o Pião, que, naquela época, a gente jogava muito. Eu era muito boa! Eu gostava bastante também.” (Danúsia de Souza, 46 anos) “Nós mesmo fazia o Pião, jogava. Às vezes quem ia em Criciúma, ia pra comprar e diziam: compra um Pião pra mim, compra um pra mim. Mas, era difícil.” (José Geraldo dos Santos, 68 anos) “Pra fazer o Pião, tinha umas madeiras que era melhor de fazer, mas não sei qual era. Aí fazia, botava o ferrão, fazia, ficava meio... Muita gente não comprava o Pião porque não tinha dinheiro pra comprar, aqueles Pião torneados que nós dizia.” (José Luiz da Luz, 67 anos) “Nós brincava muito de Pião também. Até hoje, casado, eu brinco de Pião.” (Manoel Carlos Rodrigues, 57 anos)
Pipa Outros nomes Pandorga ou Papagaio.
O que precisava Hastes finas de bambu, linha, papel ou plástico e um pouco de cola.
Características No Rincão, muitos dias eram propícios para brincar de pandorga. O vento fazia a pipa subir e subir. No entanto, ela precisava ser leve para se deixar levar pelo ar e subir muito alto. Uma linha unia a criança ao brinquedo. Esta, que a empinava, ficava torcendo para o vento não parar e a linha não arrebentar, caso contrário, ninguém saberia onde a pipa iria parar. A confecção da pipa era simples. O papel era o que tinha em casa, geralmente o papel do pão, haste de bambu bem fininha e cola. Às vezes, não se tinha cola em casa e os pais improvisavam com arroz cozido bem amassadinho ou uma misturinha de farinha de trigo e água para colar as hastes na pipa.
Como se brincava A brincadeira precisa de espaço, grandes áreas abertas, sem a existência de postes e fios elétricos. As crianças, primeiro, identificavam a direção do vento, e se colocavam de costas para ele. A pipa era solta aos poucos, à medida que o vento levava a pipa, a criança ia soltando a linha, e logo ela estava lá, no alto do céu.
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“Pipa, muita pipa também. A cola nós botava arroz, fazer a cola. Era com taquara, papel, muitas vezes jornal, e colava as varetinhas com arroz, amassava assim, ou, senão, fazia a massa de trigo, e passava e colava, não usava cola naquela época ainda.” (João Gilberto Freitas Kawabata, 54 anos) “A pipa era um brinquedo de menino, mas eu fazia pros meus filhos brincar. Pegava um papel fininho, forte, fazia triangular, depois colava umas taquarinhas em volta, depois fazia um rabicho bem grande e comprava bastante fio. Quando dava vento, norte ou sul forte, a gente ensinava eles a soltarem, aí eles iam soltando aquela pipa, ia erguendo pra cima, ia, ia.” (Neli Estácio de Souza, 83 anos) “Soltava as pipas muito quando não existia o fio elétrico. Depois, quando foi tramando os fios e que foram se acabando porque elas foram engalhando, acabou por causa da eletricidade.” (José Geraldo dos Santos, 68 anos)
Pular corda O que precisava Uma corda.
Características O tamanho da corda variava de acordo com a quantidade de crianças que brincavam. Se a criança fosse pular sozinha, o tamanho ideal deveria ser para ela conseguir bolear a corda e pular ao mesmo tempo. Quando a brincadeira era coletiva, a corda deveria ser maior.
Como se brincava Embora fosse uma brincadeira que permitia que uma menina brincasse sozinha, elas preferiam se reunir para pular corda. Nesse caso, em cada uma das extremidades da corda se colocava uma menina, as quais seriam responsáveis por bolear a corda. Para pular, entravam uma, duas ou mais meninas, dependendo do acordo inicial. Às vezes, na ausência de uma menina para uma das pontas, a corda poderia ser amarrada em uma árvore. Algumas vezes, eram cantadas músicas e as puladoras deveriam seguir determinadas ações. Uma regra geral era continuar pulando até errar a passada. Aí a menina deveria ceder o lugar para outra puladora.
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“Fúria, começava a bolear e aí gritava fúria e boleava bem rápido. Quem perdia saía.” (Maria da Rosa Pereira, 73 anos) “Fá, fé, fi, fó, fúria, e fazia bem rápido, bem rápido.” (Jucilene Borges José Paradela, 45 anos)
Tria O que precisava Grãos de cores diferentes e um local para desenhar o tabuleiro.
Características O tabuleiro de tria era confeccionado em qualquer lugar: no verso de um quadro, em cima de uma caixa de camisa ou mesmo no chão. Para jogar, eram usados grãos de milho e feijão. Em algumas situações, não tinha o milho, aí as crianças descascavam o feijão, ficava metade das peças pretas e metade brancas.
Como se brincava Um jogo, para ser jogado em dupla, poderia acontecer em qualquer lugar da cidade, nas ruas, com o desenho improvisado no chão ou em casa, à noite, sendo o jogo iluminado pelas lamparinas. Cada jogador escolhia um grão e ia colocando uma peça de cada vez no tabuleiro. O objetivo era formar uma linha com três grãos da mesma cor, seja na vertical ou na horizontal. A cada tria completada, uma peça adversária saía do tabuleiro. O jogo era encerrado quando um dos participantes ficasse apenas com uma peça, impedindo-o de realizar a tria. O ganhador era o jogador que mais peças tivesse adquirido do adversário.
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“Tria é aquela, você faz no chão, risca no chão mesmo e joga com pedrinhas. Aí você bota uma pedrinha e tem que fazer a tria. A tria vocês faz um quadrado, com três pontos assim, né? Tem um X no meio, né? E dai você tem que fechar, botar as pedrinhas nas três, assim, né? Ou assim, ou fazer três...sempre fazia tipo jogo da velha, só que daí é um quadrado.” (Franki Lino, 45 anos) “Geralmente a gente pegava caixa de camisa, eu tinha um quadro velho, fazia atrás do quadro velho. Aí a gente fazia um quadro, outro maior por fora e outro maior por fora. Depois, fazia um risco na diagonal, e brincava com feijão e milho. Brincava em duas, mudava pro lado até formar a tria.” (Jucilene Borges José Paradela, 45 anos) “Eu brinquei com uma diferente, então, tira par ou ímpar. Quem começava colocava no meio. Então não pode fazer três seguidos. A tria é três pedras na mesma direção. Às vezes, descascava o feijão para ficar branco, aí ficava preto e branco.” (José Geraldo dos Santos, 68 anos)
Variações dos tabuleiros improvisados
Tabuleiro de seis peças cada cor.
Tabuleiro de chão, três peças de cada cor.
Uga O que precisava Parte circular da chapa do fogão, haste de ferro ou madeira.
Características Parte da chapa de metal do fogão a lenha, em formato circular, acompanhada de haste de madeira (ou ferro), com gancho de ferro em uma das extremidades para engate da argola. Essa brincadeira, individual ou coletiva, precisava de um espaço amplo para ser realizada.
Como se brincava Uma vez engatada a haste à argola, a brincadeira consistia em passear pelas ruas, ou onde quer que fosse, empurrando e equilibrando o arco, fazendo-o girar. Às vezes, as crianças faziam competições. Ganhava quem fosse o último a deixar a uga cair.
“A mãe, às vezes, ficava braba, tava meio vago o fogão, nós roubava aquela argola, pegava um ferro, enfiava um pedaço de madeira e fazia uma curva assim, e levantava ela aqui e saía na estrada... 10, 12 guri com aquelas rodas faziam um barulhão. Equilibrando ela, não deixava cair.” (Clésio Vargas, 59 anos)
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“Arco, cada um tinha o seu, nós pegava, às vezes apanhava das mães, que nós pegava da cozinha, nós usava da chapa do fogão que elas usavam mesmo. Pegava emprestadinho pra dar um brincadinha. Então, a gente fazia um araminho, que a ponta era tortinha assim, colocava ali, só no forçar aqui, ele já saía rodando, daí nós brincava com aquilo ali. Saía um correndo atrás do outro.” (Luiz Carlos Pinto, 51 anos) “Eu vinha da Urussangua Velha até aqui na Pedreira. Tinha um mercado aqui, era do falecido Joca Ferraz. Naquele tempo, eu vinha com a uga de lá aqui pra fazer as comprinhas, um café, um açúcar, uma coisa pra levar pra mãe.” (Neri da Silva, 79 anos)
Brincadeiras de Roda, Cantigas e Parlendas
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Brincadeiras de roda As brincadeiras de roda eram dinâmicas, suas ações variavam conforme a música que as embalava. A atividade concentrava uma multiplicidade de fazeres: cantar, rodar e seguir as indicações da letra da música. Aqui, em Balneário Rincão, identificamos as seguintes:
A Canoa virou Letra: Parte 1: A canoa virou. E tornou a virar, foi por causa da (dizer o nome da criança) que não soube remar. Parte 2: Se eu fosse um peixinho e soubesse nadar, tirava o (repetir o nome da criança) lá do fundo do mar. Como se brincava: Essa cantiga era dividida em duas partes, ambas repetidas inúmeras vezes, até que todos os participantes fossem mencionados. Na primeira parte, ao ter seu nome proferido, a criança deveria soltar as mãos e ficar com as costas para o centro da roda, ao contrário de todas as outras crianças que estavam a cirandar. Depois de citar o nome de todas as crianças, e consequentemente, que todas estivessem de costas, começaria a segunda parte da brincadeira. Ao cantar a segunda parte da música, as crianças deveriam voltar à posição inicial, ou seja, viradas para a roda. Nome por nome, todas as crianças seriam chamadas, e a brincadeira seria encerrada.
A menina tão galante Letra: Oh! Menina tão galante que convida pra dançar. Vamos juntos neste instante dar a volta alegre estar. Oh! Que delícia saber dançar. Oh! Que delícia do lindo mar. Como se brincava: As crianças formavam uma roda e, na parte interna, circulava uma menina, a ‘tão galante’. No ritmo da música, ela escolheria alguém para dançar com ela. Depois de completarem uma volta em dupla, a primeira menina ficaria na roda e a escolhida por ela assumiria a posição da menina galante. Isso era um ciclo que se repetiria por inúmeras vezes.
Atirei o pau no gato Letra: Atirei um pau no gato (tô, tô). Mas o gato (tô, tô). Não morreu (reu, reu). Dona Chica (cá, cá) Admirou-se (se, se). Do berro, do berro que o gato deu: Miau! Como se brincava: As crianças seguiam girando de mãos dadas. Ao finalizar, gritavam “miau” com um pulo e caíam de cócoras no chão.
Ban-bandeja Letra: Ban-bandeja, ban-bandeja não deixar ninguém passar, se não for a da frente a de trás ficará. Passe por aqui, passe por aqui, a última ficará. Como se brincava: Primeiramente, duas crianças definiam quem representaria o céu e o inferno, porém ambos seriam representados por frutas, segredo a ser revelado apenas ao final da brincadeira. Por exemplo: Maria seria o céu, mas diria “pitanga”. Joana ficaria com o inferno, mas diria “jabuticaba”. As duas dariam as mãos enquanto as demais formariam uma fila segurando na cintura ou nos ombros umas das outras. Ao som da cantiga, uma a uma as crianças passavam por baixo das mãos. A participante que estivesse passando por ali exatamente no momento em que a música chegava ao fim, teria de optar por uma das frutas e ficaria ali, formando fila atrás da menina que representasse a fruta escolhida. Em uma variação, podiam desenhar dois círculos no chão, e a criança se dirigia até lá conforme sua decisão. Ao final, revelava-se quem estava no céu e no inferno.
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Ciranda Letra: Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar! Vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar. O anel que tu me destes era vidro e se quebrou; O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou. Por isso dona (diga o nome de uma das crianças) entre dentro dessa roda, diga um verso bem bonito, diga adeus e vá se embora. Como se brincava: As crianças rodavam em círculo com as mãos dadas, em sentido horário. Quando chegava no trecho “vamos dar a meia volta”, deveriam mudar de sentido, indo na direção contrária da qual estavam girando. No final, uma das crianças era escolhida para entrar no centro da roda e recitar um versinho.
Linda boneca Letra: Que linda boneca na roda entrou. Lá deixa, lá ela, que nada roubou. Que nada roubou foi o pé de limão. Ladrão, ladrãozinho vai mais ligeirinho, não queira ficar nessa roda sozinho. Na roda sozinha não hei de ficar por que tenho uma amiga para ser meu par. Como se brincava: Roda tradicional.
“Ah... fazia uma roda lá, grudava uma na mão da outra e saíam dançando, até a música, acho que era aquela: escravos de Jó e não sei o que lá.” (Clésio Vargas, 59 anos) “Brincadeira de roda, nós brincava de roda, uma entrar no meio, né? Aí nós cantava.” (Dalila Viscardi Martinhago, 85 anos) “Ah... pegar na mão um do outro e sair: ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar...” (Antônio dos Santos, 66 anos)
Senhora Dona Condessa Letra: Senhora Dona Condessa de língua de prata, Dona Violência, o rei mandou falar com uma das filhas para casar, as minhas filhas eu não dou nem por ouro, nem por prata, nem por sangue da lagarta. Como se brincava: Roda tradicional.
Viuvinha Letra: Viuvinha, por que choras, seu marido já morreu, sente falta de um carinho, se levante e abrace eu. Quem sou eu? Como se brincava: Fazia-se uma roda, uma criança se agachava no centro do círculo, enquanto as demais cantavam em sua volta. Ao final da cantiga, ela se levantava, de olhos fechados, e abraçava uma das participantes, que seria a próxima a ficar no meio.
“Nós brincávamos tudo junto, era aquela que fazia uma roda, brincava menina tão galante... aí faziam aquelas rodas, e a gente brincava todo mundo.” (Everton Aurélio Motta, 46 anos) “Na escola, tinha as cirandinhas, né? Que também era outro tal de zig-zig-zá, e cantar, brincar de rodinha.” (José Vital Estácio, 62 anos) “A gente brincava de roda, aquele círculo de pessoas, brincava de cantar músicas, tinha uma pessoa que ia dentro da roda, cantava a música, pra depois anunciar o nome de quem ela queria botar no lugar dela.” (Maria da Rosa Pereira, 73 anos)
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Cantigas As Cantigas eram, em sua maioria, associadas às brincadeiras de roda. No entanto, é importante ressaltar que não eram exclusivamente dessa tipologia de brincadeira. Em sua maioria, elas possuem uma datação antiga, tanto que os estudiosos têm dificuldade de apontar sua origem. Sabe-se que elas têm grande circulação, tanto de tempo, quanto de espaço, o que fez com que fossem tendo uma alteração aqui, outra ali, e, inclusive, com variações regionais.
A carrocinha pegou
Cai, cai balão
A carrocinha pegou Três cachorros de uma vez A carrocinha pegou Três cachorros de uma vez Tra-lá-lá Que gente é essa Tra-lá-lá Que gente má.
Cai, cai balão Cai, cai balão Aqui na minha mão. Não cai não, não cai não Cai na rua do sabão.
A dona Barata A barata diz que tem Sete saias de filó É mentira da barata Ela tem é uma só Há, há, há Hó, hó, hó Ela tem é uma só. A barata diz que tem Um chinelo de veludo É mentira da barata O pé dela é que é peludo Há, há, há Hó, hó, hó O pé dela é que é peludo
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Carangueijo não é peixe Caranguejo não é peixe, Caranguejo peixe é, Caranguejo tá na toca, Esperando a maré.
O Cravo e a Rosa O cravo brigou com a rosa Debaixo de uma sacada O cravo saiu ferido A rosa, despedaçada. O cravo ficou doente A rosa foi visitar O cravo teve um desmaio A rosa pôs-se a chorar
Peixe vivo
Sabiá lá na gaiola
Como pode um peixe vivo, Viver fora da água fria. Como pode um peixe vivo, Viver fora da água fria. Como poderei viver, Como poderei viver sem a tua, Sem a tua, sem a tua companhia.
Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho, Voou, voou, voou, voou E a menina que gostava tanto do bichinho Chorou, chorou, chorou, chorou Sabiá fugiu do terreiro, Foi cantar no abacateiro E a menina pôs-se a cantar Vem cá, sabiá, vem cá A menina diz soluçando, Sabiá estou te esperando, Sabiá responde de lá, Não chore que eu vou voltar.
Perdi meu galinho Há três noites eu não durmo, ô lalá Pois perdi o meu galinho, ô lalá. Pobrezinho, lalá, coitadinho, lalá, Eu o perdi lá no jardim. Ele é branco e amarelo, lalá, Tem a crista vermelhinha, lalá. Bate as asas, lalá, abre o bico, lalá, Ele faz qui, ri,qui, qui..
Pirulito que bate-bate... Pirulito que bate, bate Pirulito que já bateu Quem gosta de mim é ela Quem gosta dela sou eu.
Roseira Roseira, minha roseira, Roseira do coração, Roseira me dá um beijo Roseira dá-me um botão
Se essa rua fosse minha. Se esta rua, se esta rua fosse minha Eu mandava, eu mandava ladrilhar Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes Para o meu, para o meu amor passar.
Terezinha Terezinha de Jesus Foi a queda foi ao chão Acolheu três cavaleiros Todos os três chapéu na mão O primeiro foi seu pai O segundo seu irmão O terceiro foi aquele que a Tereza deu a mão Tanta laranja madura, tanto limão pelo chão, Tanto sangue derramado dentro do meu coração Da laranja quero um gomo Do limão quero um pedaço Da morena mais bonita quero um beijo e um abraço
Parlendas A Parlenda é um conjunto de palavras organizadas de modo a criar um ritmo rimado, no entanto, sem melodia. Aqui em nossa cidade, as mais comuns são:
Hoje é domingo Pede cachimbo Cachimbo é de ouro Bate no touro Touro é fraco cai no buraco Buraco é fundo acabou-se o mundo.
Batatinha quando nasce Espalha rama pelo chão A menina quando dorme Põe a mão no coração.
Pico, pico, sarapico Quem te deu tamanho bico Foi a velha açucareira Que andava na gibeira Procurando ovo choco Pra frigir na frigideira.
Seu mindinho Seu vizinho Pai de todos Fura bolo Mata piolho.
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Jogos e Brincadeiras Os jogos e as brincadeiras aconteciam predominantemente nas ruas da cidade, pois necessitavam de espaços amplos. As brincadeiras eram coletivas, e geralmente não precisavam de materiais. No entanto, quando exigiam algo, essas necessidades eram supridas com objetos encontrados nas ruas, como pedras, gravetos e afins. Essas atividades exigiam agilidade, rapidez, força. Enfim, agilidade física.
“Bom, brinquedo nosso era a rua, o pátio, né? Era correr, era brincar de pegar, de queimada, de bola, era brincar de casinha, era subir nos pés de laranja, ficava apanhando laranja, goiaba, é brincar de casinha, que a gente brincava de cumadre, de boneca. A gente se divertia muito.” (Sônia Maria Estácio Vieira, 59 anos)
Amarelinha Outros nomes Amarelinho.
O que precisava Caco de telha, carvão ou giz para riscar o chão e pedrinhas para lançar.
Características Brincadeira coletiva. O formato da amarelinha variava conforme o desafio ou grau de dificuldade. Aqui no Rincão, identificamos dois desenhos diferentes, um mais popular, utilizado até os dias de hoje, com quadrados individuais e duplos, iniciado e finalizado com um semicírculo que era identificado como inferno e céu, respectivamente. O segundo desenho era feito com linhas onduladas e se pulava com apenas um dos pés.
Como se brincava Uma criança, por vez, lançava a pedrinha e, gradativamente, ia pulando num pé só por entre o riscado. Se encostasse em alguma das linhas, os amigos avisavam: Queimou! E assim, passaria a vez para o próximo participante. Também passava a vez, se não conseguisse acertar a pedrinha dentro da casa correspondente à sua posição no jogo. O objetivo era completar a Amarelinha sem queimar.
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“Nossa! Brincava muito de Amarelinho, tudo quanto é lugar nós fazia, buraco ali, escrevia ali, nós brincava muito de Amarelinho.” (Idenir Cardoso Rodrigues, 63 anos) “A única brincadeira que a gente brincava na praia, que os pais eram pescador, daí a gente ia levar almoço, eu e os meus irmãos, aí a gente chegava lá e ficava esperando, brincava de Amarelinho.” (Idenir Cardoso Rodrigues, 63 anos) “É, era com telha, a gente fazia, riscava no chão pra pular, jogava a telhinha lá e pulava. Não podia queimar. É Amarelinha! ”(Ilda Fernandes Silva, 74 anos) “É Amarelinha, a gente jogava e depois ia pular. É, ia pulando com o pé, pra não encostar, a gente brincava também na escola.” (Lucinda Custódio Rebello de Barros, 69 anos)
Bangue-bangue Outros nomes Calmon.
Características Brincadeira relacionada aos filmes de faroeste, no qual existiam os mocinhos e os bandidos.
Como se brincava A dinâmica se dava num misto de perseguição e esconde-esconde, em que qualquer objeto poderia virar uma arma e, na falta de um, as próprias mãos e braços eram utilizados para simular revólveres, bem como arcos e flechas. As onomatopeias eram essenciais para reproduzir os sons dos armamentos: “Pá!”, “Pou, pou, pou!” Acompanhados pelos gritos e gemidos que não podiam ficar de fora deste enredo. Existia uma variação dessa brincadeira que foi batizada de “Calmon”. Durante a brincadeira de bangue-bangue, era comum ouvir um menino gritar para o outro: “Calmon!”. Essa expressão referia-se a um bordão dos filmes de caubóis. Em inglês, os atores diziam: Come on, boy! ou seja: Vamos lá, garoto!, em português. À revelia de seu significado, por aqui, quando alguém gritasse: “Calmon” e lhe apontasse o dedo, era sinal de que a criança deveria ficar imóvel, congelada.
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“Quando dizia Calmon, porque o cara pegava o cara, né? Calmon! Daí o cara parava. Se escondia tudo. “Calmon, peguei!” Parados, aí já tinha ganhado a guerra. (Risos) Nós, em sete/oito guris, tudo se escondiam, vamos brincar de Calmon, em cima do rancho do pai se escondia, era assim.” (José Luiz da Luz, 67 anos) “Aí fazia o revolvinho, a pistolinha de madeira, pra fazer, então, quando tinha que parar, pra passar pro outro galho, só gritava “calmom”, aí paralisava, não podia andar.” (Marlene Adílio da Silveira, 61 anos) “Quando dizia Calmon era porque pegava o cara. Calmon! Daí o cara parava. Se escondia tudo. Parados, aí já tinha ganhado a guerra. Nós em sete/oito guris, todos se escondiam, vamos brincar de Calmon.”(José Luiz da Luz, 67 anos) “Nós fazia as nossas arminhas em casa, nós brincava de artista. Quando dizia assim: calmon, aí a pessoa tinha que ficar paradinho ali.” (Luiz Carlos Pinto, 51 anos)
Brincar de pegar Outros nomes Pega-pega ou Brincar de Correr.
Características Correr é atividade constante entre as crianças, mesmo nos dias atuais. Corre-se até para buscar um copo d’água, tamanha é a energia que possuem. Brincadeira coletiva, muito antiga, que se mantém viva em meio à meninada.
Como se brincava A base da brincadeira era correr até alcançar alguém e encostar-lhe a mão, dizendo: “Pego!” Esse era o sinal para comunicar-lhe que ela seria a próxima pessoa a pegar. Em algumas vezes, um ponto era selecionado para ser a barra, local de proteção, enquanto o participante estivesse cansado..
Variações: Pega-congela: Ao ser pega, a criança permanecia imóvel até que alguém, ainda não congelado, livrasse-a dessa situação, encostando-lhe a mão ou, então, estipulava-se um tempo para que a pessoa voltasse a correr.
“Eu acho que eu deveria ter uns cinco, seis anos. A gente brincava embaixo dos matos porque não tinha brinquedo nenhum. Eu lembro que a gente brincava de pegar, escondia atrás das árvores.” (Idenir Cardoso Rodrigues, 63 anos) “Quando pegava um, dizia congelei. Se a pessoa que estava pegando conseguisse congelar todos, era campeã.” (Edite Fernandes, 60 anos)
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Entrudo O que precisava Balde, bacia, pote ou qualquer outra coisa com que se pudesse transportar água.
Características Brincadeira comum no período que antecede à Quaresma ou durante o Carnaval.
Como se brincava Utilizando baldes, jarras, latas, o entrude era a brincadeira de jogar água nas pessoas, mesmo que estivessem prontinhas para sair de casa, pois o princípio básico do entrude era pegar os desavisados. Geralmente, aquele que fosse molhado tentaria dar o troco para sentir-se vingado. Por isso, alguém com o objetivo de molhar os demais, escondia-se atrás das moitas ou esgueirava-se pelas casas para surpreender grupos conversando, casais de namorados, crianças brincando distraidamente. Qualquer um poderia ser a vítima, até mesmo aquela pessoa por quem se guardava um amor ainda não declarado. As crianças gostavam mesmo era da seringa feita com gomo de bambu, pois ela era uma potência, esguichava água longe.
“No tempo de entrude a gente cortava um gomo de bambu, fazia um furinho na ponta, só um furinho pequeninho e enfiava outro por dentro, bem apertadinho. Pegava e enchia de água. Botava um trocinho pra sair a água e ia molhar os outros.” (Antônio dos Santos, 66 anos) “Entrude é: Oh... tá chegando a época de entrude. Então, às vezes ficava marcado de um ano pro outro, pra você me molhar, você guardava aquilo na mente. Oh, quando chegar a época, eu vou molhar o Pedro, ele me molhou esse ano, ano que vem ele vai pagar.” (Pedro Antônio Rodrigues, 67 anos)
Galinha qué pô Outros nomes Ovo Choco.
O que precisava Uma pedra, uma fruta redonda ou uma bolinha de papel.
Características Brincadeira coletiva que poderia ser realizada em qualquer local, bastava um objeto pequeno e redondo para representar um ovo.
Como se brincava Sentadas em círculo, as crianças escolhiam quem ficaria com o ovo. Primeiramente, esta se afastava das outras para que pudessem combinar o horário em que a galinha poria o ovo. Isso feito, chamavam de volta a criança e iniciava a parlenda que acompanhava essa folia, estabelecendo um jogo de perguntas e respostas. A criança com o ovo caminhava em volta do círculo aguardando o momento de agir: “A galinha qué pô? Não deve dizer pro vovô! Ela põe amanhã? Não sei, vou ver! À uma? Não! Às duas? Não! Às três? Sim!” Neste momento, os participantes fechavam os olhos, e o que estava em pé escondia o ovo atrás de alguém sentado. Quando percebessem com quem estava, esta pegava o ovo, levantava-se e corria para tentar pegá-lo antes que sentasse no seu lugar ao som da torcida: “Corre, galinha, que o galo te pega! Corre, galinha, que o galo te pega!”
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“Ficava todo mundo acocadinho, aí a pessoa pegava um papelzinho ou alguma coisa, e saía cantando ao redor da roda, né? Com essa musiquinha que ela falou: “A galinha quer por? Não deve dizer pro vovô. Ela põe amanhã? Não sei, vou ver.” Ele vai falando a hora, aí ela pega e bota embaixo da bunda de alguém e a pessoa pega o ovo e corre atrás da pessoa. Correr atrás até ela pegar. Se ela não pegar naquela volta, a pessoa senta e fica no lugar dela.” (Danúsia de Souza, 46 anos) “É ovo choco. É que a gente se acocava, várias meninas, depois uma fazia uma bola de papel, aí a gente andava assim ao redor: ovo choco, ovo choco, ovo choco. Aí, tinha outra coisa, botava o papel atrás de uma, saía correndo, aí todo mundo olhava pra trás, se aquele papel tivesse ali, ela saía correndo.” (Idenir Cardoso, 63 anos) “Brincava de ovo choco, fazia aquela rodinha de criança e pegava uma bolinha de pano e corria em volta. Botava aquela bolinha ali, era um ovo, botava atrás e saía correndo. Se a gente chegasse ali, pegasse ela no lugar ainda, ela era a galinha choca, ela ia lá pro ninho, pra dentro chocar. Se a pessoa visse, saía correndo pra pegar.” (Neli Estácio de Souza, 83 anos) “Fazia aquela roda grande e fazia um ovo de papel, daí a gente ia bem quietinha, por trás, bem quietinha, quietinha, soltava ovo, quem via não contava e continuava a correr. Se a pessoa olhasse pra trás e pegasse o ovo, a pessoa continuava a correr e botar o ovo. Mas, se a pessoa facilitava que não via, aí a gente vinha bem quietinha, juntava o ovo e dizia: Vai pro choco. E aí o que estava no choco saía e ia o outro chocar em cima do ovo. Guria nós ria, nós ria tanto com essa brincadeira, se matava de rir por causa do ovo choco.” (Carolina Estácio Ferreira, 77 anos)
Pata Cega Outros nomes Cabra Cega.
O que precisava Um pedaço de tecido.
Características Brincadeira coletiva em um lugar amplo que possibilitasse o corre-corre das crianças.
Como se brincava Antes de mais nada, escolhia-se quem seria o primeiro a vendar os olhos, que seria a pata cega. Assim, sem enxergar, a criança teria de se esforçar para pegar uma das outras crianças que lhe faziam provocações e fugiam. A brincadeira contava com algumas variações: a primeira consistia em vendar alguém e esconder um objeto para que fosse encontrado com o auxílio de uma varinha. A segunda era a Pinhata, um boneco ou balão de papel machê (mistura de papel picado e cola), recheado com balas e guloseimas, que deveria ser quebrado por uma criança de olhos vendados. Quando as balas se espalhavam, as crianças se atiravam ao chão para pegar o maior número possível de balas.
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“Pata cega, era amarrado um pano aos olhos, vendava os olhos, e a pessoa saía a caminhar em uma direção.” (José Vital Estácio, 62 anos) “Nós botava um lenço, vendava os olhos, depois mandava que ela procurasse aonde que tava a pessoa. A pessoa falava: Ei! Aí ela tinha que achar aonde que tava.” (Neli Estácio de Souza, 83 anos) “Amarrava um pano nos olhos, eles colocavam qualquer negócio lá no chão, uma garrafa, uma latinha. Colocava lá no meio, dava uma voltinha na pessoa, ela tinha que ir, tinha que ir até acertar, ia com uma varinha até acertar.” (Ilda Fernandes Silva, 74 anos) “Botava um pano nos olhos, que ele não enxergasse nada, andava com a criança ao redor pra ela não medir a direção, e ela tinha que ir lá quebrar com aquele pau. A finalidade era quebrar o pote porque a iniciativa foi quebrar o pote. Então, andava com a criança, em roda, por exemplo. A criança ficava nessa posição aqui, mas o pote tava lá. Então, essa era a diversão, uma das diversões do nosso tempo, do nosso passado.” (Pedro Antônio Rodrigues, 67 anos)
Ré Outros nomes Esconde-esconde.
O que precisava Em uma das variações, fazia-se necessário um objeto qualquer.
Características As crianças eram os próprios instrumentos para que essa brincadeira coletiva pudesse acontecer.
Como se brincava Por entre as árvores dos quintais, nas ruas ou à beira das lagoas, brincar de esconder era diversão garantida. Uma pessoa era escolhida para ser a primeira que iria procurar os demais. Depois de definida a pessoa, ela iniciaria a brincadeira e faria a contagem – de um a 10 ou de um a 50- dando o tempo suficiente para que os outros pudessem se esconder. Espiar onde os amigos estavam se escondendo não podia, significava infringir as regras. O contador deveria ficar com o rosto virado para a parede ou um tronco de árvore, de preferência com os olhos fechados. Terminada a contagem, a criança teria de encontrar os amigos em seus esconderijos. O primeiro que fosse encontrado seria o próximo a procurar. Existia uma variação, como escolher alguém para esconder uma varinha ou qualquer outro objeto. Os demais sairiam à sua procura, orientados da seguinte forma: se estivessem longe do objeto, indicava-se que estava “frio”; à medida que alguém se aproximava do objeto, a temperatura subia: “tá quente”.
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“Coisa mais boa do mundo, brincar nos combros, brincar de se esconder com a turma toda.” (Antônio dos Santos, 66 anos) “A tal de Ré, né? Se escondia, aqui sempre houve casas vazias direto, e a gente se escondia e o outro ia procurar.” (José Vital Estácio, 62 anos) “Ré, uma turma de amigos, daí eu vou achar eles, eles vão lá no meio do matinho, atrás de uma casa, se esconder .” (Terezinha Magé Machado, 58 anos) “Nós brincava de esconder varinha, escondia varinha lá no canto. O cara ia lá e escondia e depois pra aquela turma ir lá procurar. Procurar aquela varinha, aí dizia: Ah... tá longe! Ah... tá queimando!” (Clésio Vargas, 59 anos) “Escondia, às vezes pegava uma bola, uma coisa, uma bolinha e escondia pro outro ir procurar.” (Maria Salete da Rosa Fernandes, 71 anos) “Ré era se esconder. Primeiro tirava par e escolhia um que ir pegar os outros. A Ré era escondida, então marcava um ponto pra bater, o que ficasse por último era o vencedor da brincadeira. Então, aquele que ficava pra pegar, não podia deixar os outros chegar e bater. Bater ré era um ponto fixo em uma parede.” (Pedro Antônio Rodrigues, 67 anos)
Tabela – Brincadeiras identificadas por época Década Brincadeiras 1940 Batizado de boneca, Boizinho (folha de bananeira e de sabugo de milho), Bola de bexiga de porco, Bola de borracha, Bola de pau/bocha, Bolinha de gude, Boneca de pano, Cantigas de roda, Carretinha, Carrinho de boi, Carretilha, Cozinhadinho/Comadre/Casinha/, Cavalinho, Ré, Ficha, Funda, Ovo choco, Pata cega, Pegar, Peteca, Pião, Pipa, Uga. 1950 Amarelinha, Balanço, Bate/Cinco Marias, Batizado de boneca, Bicicleta, Biloquê, Boi de mamão, Bola de bexiga, Bola de borracha, Bola de pau, Bolinha de gude, Boneca de mamoneira, Boneca de pano, Canoa/Escorregar nos combros, Carretilha, Carretinha, Carrinho de lata, Cavalinho, Cozinhadinho /Comadre, Entrude, Estradinha, Ficha, Funda, Futebol, Jogo do palitinho de fósforo (adivinhação), Mata-mata, Ourinho, Ovo choco, Passar anel, Pata cega, Pé na lata, Pegar, Peteca, Pião, Pipa, Ré/Esconder varinha, Roda, Uga. 1960 Amarelinha, Apito(Feito com espinho) Balanço, Bambole, Bate, Batizado de boneca, Bilboquê, Boi de mamão, Boizinho de sabugo, Bola de bexiga de porco, Bolinha de gude, Boneca de mamoneira, Boneca de milho, Boneca de pano, Calmon, Canoa/ Combros, Casinha, Castelinho na areia, Cavalinho, Carrinho de fósforo, Carrinho de boi, Cozinhadinho, Entrude, Futebol, Figurinha, Galinha qué pô/ovo choco, Médico, Ourinho, Passar anel, Pata cega, Pegar, Pular corda, Queimada, Ré/ Esconder varinha, Roda, Rolhada, Telefone, Uga. 1970 Amarelinha, Bang-bang, Bate, Bicicleta, Biloquê, Boi de mamão, Boizinho de sabugo, Bolinha de vidro/Bolita, Bola de pano, Boneca de pano, Boneca de mamoneira, Calmon, Cantiga de roda/roda, Canoa/Combros, Carretilha, Carrinho/rolete (carrinho lata), Carrinho de plástico, Casinha, Cavalinho, Entrude, Esconde-esconde, Figurinha, Futebol, Galinha qué pô, Matar/queimado, Mestre ajuda, Morto e vivo, Ourinho, Passar anel, Patarata/lanterna, Pega-pega, Perna de pau, Peteca, Pião, Pular corda, Stop, Taco, Telefone, Tria, Uga/Aro de bicicleta e pauzinho.
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Posfácio Visitar o passado para construir no presente o futuro que queremos é uma das condições que nos permite replicar valores vinculados ao bem comum e evitar os equívocos que acentuam práticas excludentes. Vivemos uma época de extremas mudanças e, quando nos deparamos com atos de barbárie contra pessoas, animais... Catástrofes cometidas pelo individualismo e a negação de condições básicas para a vida de um contingente extremamente expressivo da população mundial, nos convencemos cada vez mais que em âmbito local e global precisamos retomar atitudes de solidariedade e de compaixão tão presentes na confecção e no uso de brinquedos e brincadeiras do passado. A simplicidade, o prazer, a capacidade de compartilhar brinquedos e brincadeiras ocupavam os finais de semana, os feriados... Uma visita aos vizinhos, o encontro nas ruas, em meio às plantações, nos fazia perceber o quanto aquela boneca confeccionada com espiga de milho ou aquele carrinho confeccionado com carretel de linha era suficiente para criar um cenário que nos tornava, de fato, humanos. A leitura desta obra se constitui em uma viagem pela capacidade de criar, de compartilhar, de ser feliz. Além de se compor por um itinerário constituído pela diversidade cultural presente nas especificidades dos brinquedos e brincadeiras, sua importância vai além deles, pois envolve um processo de constituição de identidades e de dinamização de valores que se tornam cada vez mais emergenciais. Nesse sentido, a obra converge com a proposta das Escolas Criativas quando nos fazer transitar pelo passado, nos dando condições para confronta-lo com o presente para (re)dimensionar o futuro. As Escolas Criativas constituem uma proposta educacional estimulada pelo Grupo Giad da Universidade de Barcelona e impulsionada por profissionais, instituições e sistemas de ensino brasileiros, comprometidos com as deman-
das do presente e com as incertezas em relação ao futuro. Ao propor uma educação partir da vida e para a vida, as Escolas Criativas nos estimulam, tal como faz esta obra e como tem feito o desenvolvimento o Programa de Formação-Ação em Escolas Criativas na Rede Municipal de Balneário Rincão desde o ano de 2013, a reconhecer o valor daquilo que solidariamente somos capazes de planejar, construir e compartilhar.
Marlene Zwierewicz, setembro de 2016. Pró-Reitora de Ensino de Graduação e professora de Currículo e Metodologia Científica do Unibave, Coordenadora da Rede Internacional de Escolas Criativas - RIEC Brasil. Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado de Santa Catarina (1990), Mestre em Educação pela Universidade do Contestado (2002), Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC (2013) e Doutora em Educação pela Universidade de Jaén - UJA - Espanha (2012).
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Entrevistas BARROS, Lucinda Custódio Rebello de. (Jaguaruna, 04 jun.1947)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 21 jul.2016. BEM, Joaquim Arantes de. (Joinville, 01 nov.1943.)* Entrevista concedida a Elisangela da Silva Machieski e Clarice Evaristo Vieira. Balneário Rincão, 21 jul.2016. CRISPIN, Soely Arduino. (Jaguaruna, 10 out.1926.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 01 abr.2016.
ESTÁCIO, Ataíde Vital. (Balneário Rincão, 12 set.1941.)* Entrevista concedida a Clarice Evaristo Vieira. Balneário Rincão, 08 abr.2016. ESTÁCIO, José Vital. (Balneário Rincão, 16 mar.2016.)* Entrevista concedida a Clarice Evaristo Vieira. Balneário Rincão, 16 mar.2016. ESTÁCIO, Pedro Vital. (Balneário Rincão, 22 out.1947.)* Entrevista concedida a Clarice Evaristo Vieira. Balneário Rincão, 7 abri.2016. FERNANDES, Edite. (Balneário Rincão, 22 ago.1955.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 29 abr.2016. FERNANDES, Edith Pagani. (Criciúma, 16 ago.1931.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 11 mar.2016. FERNANDES, Maria Salete da Rosa. (Criciúma, 08 jan.1945.)* Entrevista concedida a Elisangela da Silva Machieski e Clarice Evaristo Vieira. Balneário Rincão, 23 mar.2016. FERNANDES, Pedro Luiz. (Araranguá, 30 dez.1934.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 11 mar.2016. FERREIRA, Carolina Estácio. (Balneário Rincão, 23 out.1939.)* Entrevista concedida a Clarice Evaristo Vieira. Balneário Rincão, 7 abri.2016. GALDINO, Maria Terezinha Dagostim. (Içara, 15 jun.1957.)* Entrevista concedida a Clarice Evaristo Vieira e Jéssica Ramos Ferreira. Balneário Rincão, 19 ago.2016. KAWABATA, João Gilberto Freitas. (São Paulo, 24 jun.1962.)* Entrevista concedida a Clarice Evaristo Vieira. Balneário Rincão, 19 ago.2016. LIMA, Maria do Carmo Vargas. (Criciúma, 18 set.1958.)* Entrevista concedida a Elisangela da Silva Machieski e Clarice Evaristo Vieira. Balneário Rincão, 22 mar.2016. LINO, Franki. (Criciúma. 17 jun.1967.)* Entrevista concedida a Jéssica Ramos Ferreira. Balneário Rincão, 22 ago.2016. LINO, Reginaldo. (Criciúma, 14 ago.1968.)* Entrevista concedida a Jéssica Ramos Ferreira. Balneário Rincão, 22 ago.2016 LUZ. José Luiz da. (Balneário Rincão, 12 nov. 1948.)* Entrevista concedida a Elisangela da Silva Machieski. Balneário Rincão, 09 mar.2016 MACHADO, Nicolau José. (Balneário Rincão, 07 jul.1949.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 27 jul.2016. MACHADO, Terezinha Magé. (Balneário Rincão, 20 out.1957.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 27 jul.2016.
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MARTINHAGO, Dalila Viscardi. (Içara, 12 mai.1931.)* Entrevista concedida a Elisangela da Silva Machieski e Clarice Evaristo Vieira. Içara, 22 mai.2016. MARTINHAGO, Sônia. (Criciúma, 07 nov. 1955.)* Entrevista concedida a Elisangela da Silva Machieski e Clarice Evaristo Vieira. Içara, 22 mai.2016. MOTTA, Everton Aurélio. (Criciúma, 07 jul.1970.)* Entrevista concedida a Jéssica Ramos Ferreira. Balneário Rincão, 22.ago.2016. ORIGE, Wilmar Valdemar. (Criciúma, 27 mar.1942.)* Entrevista concedida a Elisangela da Silva Machieski e Clarice Evaristo Vieira. Balneário Rincão, 21 jul.2016. PARADELA, Jucileni Borges José. (Balneário Rincão, 26 jul.1971.)* Entrevista concedida a Clarice Evaristo Vieira. Balneário Rincão, 18 ago.2016. PEREIRA, Donato. (Balneário Rincão, 07 ago.1964.)* Entrevista concedida a Elisangela da Silva Machieski. Balneário Rincão, 09 mar 2016. PEREIRA, Maria da Rosa. (Balneário Rincão, 14 jun.1946.)* Entrevista concedida a Elisangela da Silva Machieski. Balneário Rincão, 9 mar.2016. PINTO, Luiz Carlos. (Criciúma, 16 ago.1964.)* Entrevista concedida a Elisangela da Silva Machieski e Clarice Evaristo Vieira. Balneário Rincão, 20 abr.2016. REBELLO, Suelli Pacheco. (Balneário Rincão, 15 jan.1956.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 23 mar.2016. RODRIGUES, Idenir Cardoso. (Balneário Rincão, 04 mai.1952.)* Entrevista concedida a Clarice Evaristo Vieira e Jéssica Ramos Ferreira. Balneário Rincão, 13 abr.2016. RODRIGUES, Manoel Carlos. (Içara, 13 fev. 1959.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 21 jul.2016. RODRIGUES, Maria José Fernandes. (Araranguá, 19 mar.1958.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 4 ago.2016. RODRIGUES, Pedro Antônio. (Siderópolis, 27 abr.1949.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 4 ago.2016. SANTIAGO, Patricia. (Criciúma, 18 jan.1957.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 22 jul.2016. SANTOS, Antônio dos. (Içara, 24 fev.1950.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 13 mai.2016. SANTOS, Gelson dos. (Balneário Rincão, 19 abr.1964.)* Entrevista concedida a Clarice Evaristo Vieira. Balneário Rincão, 23 ago.2016.
SANTOS, José Geraldo dos. (Criciúma, 03 mar.1948.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 17 mai.2016. SANTOS. Erotides Maria Cardoso dos. (Içara, 24 jan.1945.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 13 mai.2016. SILVA, Ilda Fernandes. (Içara, 23 fev.1942.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 19 jul.2016. SILVA, Neri da. (Criciúma, 07 mar.1937.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 26 jul.2016. SILVA, Terezinha Fernandes da. (Cocal do Sul, 06 set.1946.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 26 jul.2016. SILVEIRA, Marlene Adílio da. (Balneário Rincão, 15 set.1954.)* Entrevista concedida a Clarice Evaristo Vieira e Jéssica Ramos Ferreira. Balneário Rincão, 23 mar.2016. SOUZA, Danúsia de. (Içara, 26 abr.1970.)* Entrevista concedida a Ana Maria Manaus Teixeira. Balneário Rincão, 21 jul.2016. SOUZA, Neli Estácio de. (Balneário Rincão, 04 mai.1933.)* Entrevista concedida a Elisangela da Silva Machieski e Clarice Evaristo Vieira. Balneário Rincão, 20 abr.2016. VARGAS, Clésio. (Balneário Rincão, 22 mar.2016.)* Entrevista concedida a Elisangela da Silva Machieski e Clarice Evaristo Vieira. Balneário Rincão, 22 mar.2016. VIEIRA, Sônia Maria Estácio. (Balneário Rincão, 05 dez.1956.)* Entrevista concedida a Clarice Evaristo Vieira e Jéssica Ramos Ferreira. Balneário Rincão, 13 abr.2016.
*(Local e data de Nascimento)
Sites www.nepsid.com.br
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avós av como
nossos sos
brinquedos e brincadeiras
O Projeto ‘Como nossos avós? O encanto e a criatividade de jogos e brincadeiras infantis de outrora (Balneário Rincão, 1940 – 1950)’ nasceu da iniciativa de um grupo de pessoas que, preocupadas com o registro de memórias da infância, principalmente no quesito brinquedos e brincadeiras, resolveram apresentá-lo, em nome de Ana Maria Manaus Teixeira, ao Prêmio de Cultura Popular do Edital Elisabete Anderle/2014. Além de contar, desde o início com total apoio do Governo Municipal.
Projeto realizado com o apoio do Estado de Santa Catarina, Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte, Fundação Catarinense de Cultura, FUNCULTURAL e Edital Elisabete Atnderle/2014.