Revista do Conselho Curador - 4ª edição

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Reportagem

REVOLUÇÃO DAS MÍDIAS

Edição nº 4 - Dezembro 2014

Como a EBC é vista em tempos de convergência digital

Vanguarda

#naprática

Fonte primária

A melhor dramaturgia pode estar na TV pública, por André Pellenz

Conselheira Evelin Maciel conta como ficou a integração de redações na Câmara dos Deputados

Akemi Nitahara, empregada da EBC, avalia o alcance da Agência Brasil em sites como Carta Capital, Veja e Uol


Revista do

Conselho Curador

Editora-executiva Priscila Crispi Editor Mariana Martins e Guilherme Strozi Reportagem e artigos Ana Fleck Anderson Ribeiro André Pellenz Akemi Nitahara Evelin Maciel Guilherme Strozi Iluska Coutinho Joseti Marques Mariana Martins Mário Jakobskind Priscila Crispi Fotografia Agência Brasil (Antonio Cruz, José Cruz), Ana Elisa Santana, Arquivo Marketing, Divulgação Câmara, Eduardo Castro, Guilherme Strozi, Jorge Felz, Marcus Vinicius Fraga, Raul de Lima e Istock . Ilustração e Infografia Antonio Trindade, Júlia Costa, Cadu Veloso e Lia Magalhães. Projeto gráfico e diagramação Luciana Durans CONSELHO CURADOR | EBC Ana Luiza Fleck Saibro (Presidente) Rita de Cássia Freire Rosa (vice-presidente) Ana Maria da Conceição Veloso Cláudio Salvador Lembo Clelio Campolina Diniz Daniel Aarão Reis Filho Eliane Gonçalves Evelin Maciel Heloisa Maria Murgel Starling Henrique Paim Ima Célia Guimarães Vieira João Jorge Santos Rodrigues José Antônio Fernandes Martins Maria da Penha Maia Fernandes Mário Augusto Jakobskind Marta Suplicy Murilo César Oliveira Ramos Paulo Ramos Derengoski Rosane Maria Bertotti Takashi Tome Thomas Traumann Wagner Tiso SECRETARIA EXECUTIVA DO CONSELHO CURADOR Guilherme Strozi Mariana Martins Priscila Crispi Raquel Fiquene DIRETORIA-EXECUTIVA | EBC Diretor-Presidente Nelson Breve Diretora Vice-Presidente de Gestão e Relacionamento Sylvio Andrade Diretor-Geral Eduardo Castro Procurador-Geral Marco Antônio Fioravante Diretora de Jornalismo Nereide Beirão Diretor de Produção Myriam Porto (Interina) Diretor de Conteúdo e Programação Eduardo Castro (responde pela Diretoria de Conteúdo e Programação) Diretor de Administração, Finanças e Pessoas Clóvis Curado Diretor de Negócios e Serviços Antonio Carlos Gonçalves Ouvidora-Geral Joseti Marques

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Secretária-Executiva Sílvia Sardinha

Empresa brasil de comunicação

editorial

Não é questão de escolha Um diagnóstico sobre o setor de Comunicações hoje, no Brasil, deve ser elaborado, forçosamente, à luz do cenário de convergência tecnológica. Com efeito, notáveis desenvolvimentos tecnológicos recentes fizeram convergir mídias clássicas de informação e entretenimento, como o rádio, a televisão e até mesmo o jornal, com as telecomunicações e a informática como suportes a um sem número de novas aplicações. Áudio, texto, imagem e dados transitam em profusão inédita, via cabos e satélites, subvertendo a separação convencional dos serviços e dos produtos de comunicação. Essas novas possibilidades de fluxos de conteúdos trazem desafios em diversos níveis. Por um lado, implicam alteração do modelo de negócios das empresas de radiodifusão e de telecomunicações, bem como a concepção, por reguladores e legisladores, de um quadro normativo adequado a esse novo ambiente. De outra parte, internamente às empresas de comunicação, essa nova atualidade está nos obrigando a repensar procedimentos e a redesenhar os processos produtivos, de modo a instaurar uma nova dinâmica de colaboração e compartilhamento de plataformas e conteúdos. Por seu impacto e consequência no ambiente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a 4ª edição da Revista do Conselho Curador dedica-se a discutir como a empresa tem se adequado a essas novas realidades. Em outras palavras, sua matéria de capa examina de que maneira a EBC tem integrado seus conteúdos e plataformas. Vamos falar sobre novas tecnologias, cultura digital, questões trabalhistas que afetam os jornalistas multimídias e trazer exemplos do mercado e de outras emissoras públicas. A Revista apresenta ainda uma análise do cineasta André Pellenz sobre a dramaturgia na TV pública; um artigo da Professora Iluska Coutinho sobre o jornalismo público pautando a mídia; um estudo sobre a Agência Brasil feita por Akemi Nitahara, funcionária da empresa e a colaboração de dois conselheiros, Evelin Maciel e Mário Jakobskind, abordando temas como a integração de conteúdos na Câmara dos Deputados e a importância da regulação da mídia. Por fim, uma retrospectiva das atividades do Conselho este ano e um artigo da ouvidora-geral da empresa, Joseti Marques, sobre a criação de uma ouvidoria interna na EBC. Esses os temas que o Conselho Curador traz à reflexão dos leitores, com foco especial na discussão sobre a cultura da convergência na EBC. Do tratamento que a empresa conferir a essa integração de plataformas e conteúdos parece depender o futuro de seu projeto de comunicação pública. Boa leitura! Ana Luiza Fleck Saibro


Índice

Dia a dia do Conselho

Trabalhadores e Trabalhadoras

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Notas do Conselho Curador

06 09

Critique, participe e opine! O Conselho Curador está nas redes sociais!

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Matéria de capa

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Coluna acadêmica

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Programação em debate

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Palavra da Ouvidoria

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Fala, conselheiro!

www.facebook.com/conselhocuradorebc twitter.com/ConselhoCurador

Fala, conselheira!

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Curadoria

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Arquivo Pessoal

Trabalhadores e Trabalhadoras

A Agência Brasil

como fonte de informação para outros veículos on-line

iStock

Por Akemi Nitahara, jornalista da EBC

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A

não a trata como agência de notícia. A repuAgência Brasil é uma blicação de textos, sob licença creative comfonte primordial de nomons, é muito grande em alguns veículos, tícias para muitos veícomo o Correio Braziliense, que chegou a culos on-line e também utilizar 82% das matérias da ABr em um dos impressos, além de chegar ao público geral. dias analisados. Enquanto agência pública de notícias, forAlém das pautas diferenciadas, há tamnece informações em primeira mão, de apubém muita procura por pautas chamadas de ração própria, em quantidade considerável e “serviço”, onde os veículos e o leitor busde qualidade cada vez menos questionável, cam informações práticas, como calendário com foco na cidadania e isenção governado Enem ou da restituição do Imposto de mental. Renda. Também há muita republicação de Com uma equipe que pode ser considetemas “oficiais”, como índices econômicos rada grande por alguns veículos, mas que do IBGE e FGV e notas da ANP e Anvisa. tem limitações de pessoal, de alcance terApesar de a comuritorial, e, principalmente, nicação pública ainda técnicas, a Agência Brasil ser um tema descomostra que é o veículo de nhecido da população maior audiência e visibilidabrasileira em geral, a de dentro da Empresa Brasil Para medir Agência Brasil cumpre de Comunicação, mesmo seu papel como veícua importância sem a tradição da Rádio lo público de comuniNacional ou a atenção que e o real cação e segue o que a TV Brasil tem. A pesquisa determina as diretrizes alcance da mensal de audiência do site impostas pela lei de mostra que a Agência Brasil Agência Brasil, criação da EBC e pelo tem ultrapassado 1 milhão Manual de Jornalismo. é necessário de visitantes únicos. Para medir a imPara se ter ideia do real que esse portância e o real alcance da ABr, dediquei alcance da Agência trabalho seja meu Trabalho de Conclusão Brasil, é necessário de Curso do MBA em TV feito com mais que esse trabalho seja Digital e Outras Mídias da feito com mais perioperiodicidade Universidade Federal Fludicidade. O ideal é que minense (UFF) a levantar a empresa decida os o aproveitamento das masites prioritários para térias. A pesquisa foi feita análise e dedique alnos sites Brasil 247, Carta guns funcionários para Capital, Correio Braziliense, fazer esse levantamento diariamente. EmboUol e Veja entre os dias 1º e 7 de setembro ra muito trabalhoso, o levantamento não é de 2013. impossível de ser feito e pode ser facilitado Foi observado que veículos mais alinhacom a criação de método e rotina específidos com o pensamento de esquerda, como o cos. Dessa forma, será possível ter material Brasil 247 e a Carta Capital, buscam mais consistente e constante sobre o aproveitana Agência Brasil temas econômicos e pomento do trabalho da Agência Brasil e o real líticos, portanto, ligados ao programa do alcance da agência pública de notícias, em atual governo de esquerda. Já a Veja, traum campo ainda com pouco estudo a respeidicional veículo de direita, cita a Agência to que é o conteúdo livre na internet. Brasil como uma fonte oficial do governo,

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Dia a dia do Conselho

Pelo fortalecimento da EBC e da

comunicação pública

Texto: Guilherme Strozi

O

José Cruz (ABr)

ano de 2014 teve dois grandes eventos que marcaram a cobertura jornalística no Brasil: a Copa do Mundo de futebol, que pela segunda vez foi realizada em solo brasileiro, e as eleições. O Conselho Curador da EBC, é claro, não passou ao largo destes dois fatos. No primeiro semestre, a cobertura esportiva dos canais EBC foi a reportagem de capa da 3ª edição da Revista do Conselho Curador, que analisou e

Conselho discute seriado “Vida de Estagiário” e novela angolana “Windeck”, produções da TV Brasil

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investigou qual é o papel do esporte na comuniOutras duas faixas de programação tamcação pública. E no mês de agosto, o colegiado bém tiveram atenção especial dos conselheiros: aprovou o Manual de Diretrizes para a coberaquela voltada para o público jovem e a teletura das eleições 2014, que orientou, inclusive, dramaturgia. O programa “Vida de Estagiário” a conduta jornalística para outras emissoras da terá a sua segunda temporada na TV Brasil adeRede Nacional de Comunicação Pública. quada a padrões mais sensíveis às demandas Além disso, o Conselho Curador apoiou do Conselho, que prioriza um conteúdo sem a realização de um debate entre os (as) canpreconceitos e com respeito à diversidade. Já didatos (as) à presidência da República pelos com relação a teledramaturgia, estreiou na TV veículos EBC. Apesar do Brasil a novela anapoio da Direção da empresa golana “Windeck”, e da FrentCom, o evento que recebeu elogios acabou não ocorrendo pelo do pleno por aprodesinteresse dos candidatos, ximar a sociedade O jornalismo fato que foi lamentado pelos brasileira à realidaconselheiros. de da população de continuou sendo um O jornalismo continuou Angola. Contudo, tema presente nas sendo um tema presente nas também recebeu reuniões do colegiado ao lonrecomendações do reuniões do colegiado go do ano com a aprovação de colegiado para que ao longo do ano com duas importantes ferramentas temas polêmicos e para orientação da cobertura esteriótipos veicua aprovação de duas nos veículos da EBC: o Colados nos capítulos importantes ferramentas sejam tratados em mitê Editorial de Jornalismo e o Plano Editorial da Agência programas de debapara orientação da Brasil. E para aproximar as tes nos canais EBC, cobertura nos veículos discussões feitas neste Comitê como forma de ofeda sociedade brasileira em gerecer um contraponda EBC: o Comitê ral, os conselheiros recomento a questões mais Editorial de Jornalismo daram que fossem publicadas delicadas exibidas atas das reuniões no site da na telenovela. e o Plano Editorial da EBC, o que, até o momento, Na reunião do Agência Brasil. ainda não ocorreu. Conselho, em noA programação em geral vembro, a pesquida TV Brasil e das Rádios sadora e professora EBC também foram alvo de da PUC do Rio de debates e deliberações do coJaneiro, Márcia legiado este ano. Em janeiro Stein, apresentou o foi anunciado pela Direção da EBC ao Conresultado de pesquisa encomendada pelo coselho a Linha de Produção de Conteúdos para legiado, intitulada “Panorama e parâmetros de TVs Públicas, que aportará 60 milhões de reais qualidade para a programação educativa na TV em conteúdo inédito para veiculação em emisBrasil”. Durante nove meses a pesquisadora soras públicas, educativas e comunitárias em avaliou diversos programas da emissora e apretodo Brasil. O projeto é uma parceria firmada sentou propostas para a integração dos progracom a Ancine, no âmbito do Fundo Setorial do mas em diversas plataformas, para uma melhor Audiovisual, para produção de 300 horas de apropriação por parte do público dos conteúdos conteúdo audiovisual, que serão selecionados educativos apresentados pela EBC. pela EBC para exibição em suas grades. Fechando as deliberações sobre a progra-

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Dia a dia do Conselho

votação de presidente e vice-presidente do órgão. As Câmaras Temáticas do colegiado, que antes giravam em torno de temas e veículos específicos, centralizaram suas atividades em três grupos: “Jornalismo e plataformas”; “Programação e plataformas”; e “Planejamento e processos produtivos”. Por fim, 2014 deverá se encerrar com renovações do colegiado. Em Consulta Pública realizada em abril, os conselheiros definiram lista com 15 nomes para que sejam designados pela Presidência da República, os cinco novos integrantes do Conselho Curador. O processo destina-se ao preenchimento das vagas em aberto devido à saída dos conselheiros Daniel Aarão, João Jorge, José Martins, Maria da Penha e Murilo Ramos. Até o fechamento desta edição, os novos nomes ainda não haviam sido designados pela Presidência.

Antonio Cruz (ABr)

mação, está prevista até o final do ano a tão aguardada Faixa da Diversidade Religiosa da TV Brasil, com a estreia de dois programas: “Entre o Céu e a Terra” e “Retratos de Fé”. O primeiro, abordará as religiões de maneira mais jornalística, e o segundo, de maneira mais ritualística e cultural. A data de estreia está marcada para o dia 10 de dezembro. O ano de 2015 vai começar com duas importantes alterações na rotina operacional do próprio Conselho. Foram aprovadas resoluções que alteram o Regimento Interno do órgão e outra que altera o funcionamento de suas Câmaras Temáticas. Entre os termos alterados no Regimento estão a garantia de um período de quarentena para relações institucionais dos conselheiros com a EBC após o término de seus mandatos, a coordenação, por parte do colegiado, de consulta pública para escolha de novos membros da sociedade civil e a formação de chapas para

Pesquisadora apresenta resultado de estudo sobre a programação educativa da TV Brasil

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Notas do Conselho Curador

Texto: Mariana Martins

Arquivo Marketing

A dimensão internacional da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) foi discutida durante o Roteiro de Debates organizado pelo Conselho Curador, no dia 12/08. A falta de uma política clara para a dimensão internacional da EBC foi o principal ponto de debate trazido pelos funcionários da Empresa. Convidados para debater o tema, os jornalistas Carlos Fino, Verónica Goyzueta e Beatriz Bissio trouxeram experiências diversas e ideias sobre o papel que deve cumprir uma empresa pública de comunicação no plano internacional de suas atividades. Apesar de existir a TV Brasil Internacional, editorias internacional na Agência e no TV Brasil, e uma coordenação de tradução, é difícil encontrar documentos e definições sobre o que a EBC espera de cada uma destas áreas. Questões como a definição de uma política de comunicação internacional que dure para além das gestões da EBC e a criação de dois canais, um em língua inglesa, para mostrar aos outros povos a visão brasileira do mundo, como faz, por exemplo, a Russian Today (RT) e um canal em português, que unifique os países de língua portuguesa, foram algumas das propostas que surgiram durante o debate. Os funcionários também reivindicaram, para além da consolidação da política internacional, melhores condições de trabalho e aumento das equipes.

o nicaçã comu unication m com unicación n com unikatio Kommnicazione comu ινωνία επικο 通信

Divulgação Câmara

Debate cobra política estruturada para a dimensão internacional da EBC

Fórum debate fortalecimento do campo público da comunicação Cinco anos depois da I Conferência Nacional de Comunicação, o campo que reúne emissoras educativas, universitárias, legislativas e comunitárias, além da EBC, voltou a se encontrar no Fórum Brasil de Comunicação Pública 2014, realizado entre os dias 13 e 14 de novembro, na Câmara dos Deputados. O encontro contou com a presença do Ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto de Carvalho, e de Fabrício Costa, Secretário-Executivo da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), representando o Ministro Thomas Traumann, que receberam, em nome do governo federal, a Plataforma Pelo Fortalecimento da Comunicação Pública no Brasil. O Conselho Curador da EBC, através da sua secretaria, acompanha as atividades da Frentecom e participou da Comissão Organizadora do Fórum com o intuito de fortalecer a pauta que trata da importância dos conselhos e das mais diversas formas de participação social na gestão das emissoras públicas. Para além da Plataforma entregue aos representantes do Governo Federal, o Fórum aprovou uma carta, a Carta de Brasília 2014, que renova os compromissos do setor com a Carta de Brasília de 2007, que saiu do I Fórum de TVS Públicas, e com as resoluções da I Conferência Nacional de Comunicação de 2009.

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Fora

matéria de capa

das

caixinhas

convergência na

comunicação pública Texto: Priscila Crispi

res individuais e em suas interações sociais com outros”, define Henry Jenkins, em seu livro Cultura da Convergência, de 2009. Para o autor, a convergência pode ser definida como o fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, a cooperação entre diferentes mercados de mídia e o comportamento migratório dos públicos, que selecionam em qualquer meio as experiências de entretenimento que desejam. Esse processo, segundo ele, não se iniciou com o advento da internet, mas se estabeleceu sem retornos com a sua popularização e o concomitante crescimento de conglomerados de mídia. “A digitalização estabeleceu as condições para a convergência; os conglomerados corporativos criaram seu imperativo”, define. Pollyana Ferrari, pesquisadora de multimeios, jornalismo digital e webativismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC -SP), concorda com a definição do teórico. “A multimídia é a disposição de áudios, vídeos, textos em um suporte, numa única plataforma, e tem mais de 25 anos de história. Ela já existia na década de 90 nos CDs das enciclopédias. Agora, quando a gente fala hoje de convergência, pressupõe uma convergência que passa pela internet: a hipermídia traz a rede”. Domínio Público

O

surgimento de um veículo de comunicação é sempre cercado de muitas incertezas, especialmente para o mercado de produção de conteúdo, que sobrevive da sua comercialização. Isso porque as mudanças que eles trazem não se restringem a novas formas de disponibilização desses conteúdos, mas dizem respeito, especialmente, à definição de novos protocolos sociais em torno da produção e do acesso ao conhecimento. É justo nessa reorganização social, a partir de suas ferramentas de conexão, que a internet guarda sua maior revolução. Enquanto jornais ainda pensam em como usar a web para o depósito de vídeos, áudios e textos, a convergência digital já alterou a maneira de se fazer comunicação, colocando o conteúdo e o público nos papéis de protagonistas. “A convergência não deve ser compreendida principalmente como um processo tecnológico que une múltiplas funções dentro dos mesmos aparelhos. Em vez disso, a convergência representa uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos midiáticos dispersos. A convergência não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumido-

A necessidade de

Central de mídia para o lançamento do novo carro da Ford, em 1987, concentra tecnologias multimídias Revista do Conselho Curador

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matéria de capa

Com um modelo inovador de financiamento – a sua formação crítica. E esse nosso entendimento e consequente liberdade editorial – no jornalismo do que as pessoas precisam consumir é construído brasileiro, a Agência Pública é um exemplo de vepor meio de uma discussão interna que tem instruículo que prescinde das ferramentas disponíveis na mentos para garantir o interesse público, garantir internet, segundo sua editora-chefe, Natália Viana. que estejamos no caminho certo, como o Conselho “Para mim, pessoalmente, a internet é uma revoCurador, a Ouvidoria, etc. Nossa estratégia precisa lução. A Pública não seria possível sem a internet passar por aí: o que as pessoas querem mais o que porque ela permite tanto novos modelos de orgaelas ainda não conhecem, não sabem se querem, nização da produção - ou seja, o trabalho dos jormas precisam ter acesso. Esse fluxo serve pra gente nalistas mesmo - no nosso caso permitindo a volta fazer o caminho inverso da produção”. a um processo mais inteiro, com mais tempo, profundidade e menos compartimentado - como novos Multiplataformas modelos de distribuição, Na medida em que a mais baratos, democráticos convergência tem cobrado e eficazes - uma vez que somudanças no sistema produmos uma agência de reportativo da comunicação – evigem e a distribuição é parte denciando mais os desejos Não imagino fundamental do nosso trabada sociedade – e o público a web como um lho”. A jornalista explica que adquire, pouco a pouco, a o uso de crowdfunding para autonomia para selecionar repositório, mas aquisição de verbas e das reseus próprios conteúdos, o como um ponto des sociais para divulgação consumo de mídia se torna das reportagens são essencada vez mais migratório e de encontro de ciais na produção jornalística em multiplataformas. “Quem conteúdos nossos e do veículo e não podem ser mudou em si foi a sociedissociados do modelo da dade, o consumidor. Você da sociedade. Isso Agência. não assiste novela sem estar já acontece, mas Para Ricardo Negrão, comentando no Twitter. A superintendente multimídia gente já acostumou com essa precisa ser discutido da Empresa Brasil de Coconvergência e, se você conde uma maneira municação (EBC), a maior tinuar propondo produtos espotencialidade da internet tanques, para um só suporte, mais madura. está mesmo na mudança do você vai morrer, porque essa processo produtivo de conão é mais nossa realidade”, municação – especialmente, diz Pollyana. em uma empresa que preza Uma pesquisa sobre conpela participação do público. sumo de mídia realizada pelo “Não imagino a web como Instituto Ibope em 2013, um repositório, mas como um ponto de encontro nos países da América Latina, confirma a fala da de conteúdos nossos e da sociedade. Isso já aconteprofessora: no Brasil, 55% da população declarou ce, mas precisa ser discutido de uma maneira mais utilizar dois ou mais meios de comunicação ao madura”, cobra. mesmo tempo. Entre eles, o que apresenta maior Negrão explica que no modelo tradicional de acesso simultâneo é a televisão consumida em conradiodifusão, o produtor trabalha com o que ele junto com a internet (30%). A estimativa se torna acha que o público quer. No meio digital, ele pasainda mais expressiva quando se sabe que apenas sa a trabalhar com o que sabe que o público está 56% da população brasileira tem acesso à internet. procurando. “Porém, eu não posso entregar só o “Simultaneidade e convergência são palavras-chaque o público está procurando, mas também o que ve no novo contexto midiático, no qual os meios entendemos que as pessoas precisam consumir para são consumidos nas mais variadas combinações e

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Raul de Lima

formas”, explica Juliana Sawaia, gerente responsável pelo estudo. Na segunda tela, o brasileiro está em busca de conteúdo extra, independente da sua embalagem, e, de preferência, através da interação social. Na pesquisa, a principal atividade que os consumidores multimídias afirmam estarem realizando enquanto consomem outros veículos é: checar seus e-mails, redes sociais ou aplicativos de mensagens instantâneas. André Deak, ex-editor da Agência Brasil, produtor multimídia e diretor do Liquid Media Laab, acredita que a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) tem a oportunidade de ser vanguarda na transição para uma produção convergente. “As pessoas entendem melhor a cultura digital do que as empresas. Nenhuma instituição jornalística no Brasil tem sido capaz de acompanhar o novo comportamento do cidadão, e arrisco dizer que sequer foram capazes de entendê-lo. O Huff Post - estrangeiro - veio com uma proposta um pouco mais acertada, mas a Abril parece ter fagocitado alguns processos, tornando o Brasil Post um veículo apenas um pouco diferente, mas não disruptivo, como poderia ser”, afirma.

André Deak, ex-editor da Agência Brasil e produtor multimídia, acredita que os veículos do país não estão preparados para a convergência

Hoje, a EBC possui uma agência e uma radioagência de notícias, sete emissoras de rádio, duas emissoras de televisão (uma nacional e uma internacional) e um portal de conteúdo, além de manter perfis em diversas redes sociais. A produção desses veículos migra entre as plataformas, diariamente e em momentos especiais, quando as programações se abrem para temas transversais. O Portal EBC, veículo da Superintendência de Comunicação Multimídia (Sucom), é responsável por disponibilizar, de maneira sistemática, toda produção da casa em um único repositório digital. Pollyana Ferrari lembra, porém, que a transposição de conteúdos para outros meios deve ser considerada, apenas, como presença digital: “convergência é você ter outros conteúdos, ampliar, adaptar na plataforma. Para ser transmídia, você precisa usar os recursos do meio para fazer outra leitura do conteúdo, em outra linguagem”. Nesse sentido, a Sucom realiza experiências convergentes quando da produção de conteúdo inédito pautado pela lógica dos fluxos de buscas sociais, na entrega de conteúdo por meio de novas plataformas, no diálogo com o público através das redes sociais e, eventualmente, quando desenvolve reportagens multimídias, normalmente realizadas por equipes de vários setores da empresa. O Portal já tem disponibilizados 16 especiais, que integram vídeos, imagens, textos, infografias e áudios para cobrir temas como o centenário de Lupicínio Rodrigues e Vinícius de Morais, o golpe de 1964, reforma política, tradições juninas e outros. Os conteúdos produzidos para os especiais, muitas vezes, foram também utilizados nas grades das emissoras de rádio e TVs da EBC, tanto no jornalismo como na programação. “Os especiais multimídia são um modelo em que a gente tem que se especializar. Nossa missão na Sucom é espalhar essa visão de produção para o resto da empresa. Não cabe a uma única área ter o poder de decisão sobre fazer isso. Cabe, no nascedouro da pauta, se ter a escolha de fazer multimídia ou não”, defende Negrão. Integração No jornalismo da EBC, a troca de informações entre veículos acontece por meio de reuniões diárias realizadas às 9h e às 11h, das quais participam profissionais das equipes de radiojornalismo, telejornalismo e agências de notícias. “Hoje, a gente já faz reunião de pauta juntos e há troca, intercâmbio sobre o que foi apurado. Temos uma central de pauta, mas ela ainda precisa me-

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matéria de capa

Guilherme Strozi

lhorar. A plataforma não conversa com nosso sistema de armazenamento interno de arquivos, nem com o programa usado para montar as matérias dos telejornais”, conta Nereide Beirão, diretora de Jornalismo da casa. Grandes reportagens jornalísticas recebem com frequência, segundo a diretora, tratamento multimídia dentro da casa. “Na cobertura cotidiana, é muito mais puxado para um repórter produzir para vários veículos. Sempre que possível, mandamos todas as equipes, o que não significa dizer também que não possa haver colaboração entre essas equipes. Agora, em uma coisa planejada, é possível fazer multimídia”.

Em 2013, Edifício Venâncio 2000, em Brasília, reuniu as redações jornalísticas da TV Brasil, Radiojornalismo e Agência Brasil

Outro ponto abordado pela diretora é com relação as especificidades entre a Agência Brasil e o Portal EBC, dois veículos da empresa. Para a diretora “tudo que é jornalismo deveria ser unificado em uma mesma área. Pode até ser veículos diferentes, mas em um mesmo núcleo. Estamos propondo que a Radioagência se una ao Radiojornalismo, por exemplo. A gente entende que quanto mais unir tudo que é jornalismo, melhor”. Para Ricardo Negrão, a Agência Brasil é uma fonte primária de informações para outros veículos, o que a di-

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Segundo Nereide, a criação de um servidor onde tudo que é feito na casa, inclusive a produção artística, fosse disponibilizado internamente iria ajudar muito no aproveitamento de conteúdos e evitaria que as equipes ficassem desinformadas sobre o que outras estão produzindo. “Mas a gente não pode pôr toda a conta na ferramenta. Para ser uma empresa mais convergente precisamos certamente melhorar a central de pautas, mas também acho que depende de postura e cultura organizacional”, pondera.

fere da vocação do Portal. “Enquanto na Agência eu trabalho o conceito de notícia, no Portal, eu trabalho o conceito de canal, ou seja, dentro daquela editoria de cultura, eu não tenho só informação sobre cultura, mas um programa que foi pro ar, a colaboração do público, etc.”, afirma. Apesar das explicações, a dinâmica entre estes veículos é confusa, na opinião de Marcus Vinícius. Para ele, há duas falhas na criação do Portal EBC: “uma, gerou um competidor de conteúdo


Ana Elisa Santana

para a Agência Brasil. Dois, acrescenta mais uma identidade visual à empresa. Qual é a nossa marca? Temos que fortalecer uma marca única”, diz o empregado. No caso das rádios, que intercambiam programas, mas contam com grades exclusivas, a integração também acontece por meio do planejamento de temas. Coordenadores e gerentes das rádios planejam suas grades em conjunto, respeitando as particularidades de cada uma. “As pautas podem ser recortadas por toda e qualquer emissora, mas o tratamento será sempre diferenciado de acordo com o eixo temático de cada uma delas. Por exemplo, a pauta eleições, na Rádio Nacional, teve uma cobertura mais informativa. Já na MEC AM, o recorte foi mais educativo. Todas recortam o mesmo tema, mas com abordagem

e plástica diferenciada”, explica Eliane Fernandes, gerente executiva das Rádios EBC. Em alguns momentos, as rádios também pisam no terreno da convergência, desenvolvendo projetos em parceria com a web. “Um bom exemplo foi o programa Caiu no Enem, especialmente produzido para comentar as provas do exame e veiculado simultaneamente, ao vivo, pelo Portal e na MEC AM, com a participação do público via redes sociais. Também temos na grade da MEC AM, Nacional da Amazônia e Nacional de Brasília - portanto um programa em Rede - o programa “Ponto Com Ponto BR” que é produzido pela equipe da web em parceria conosco”, explica Eliane.

Programa Caiu no Enem, produzido para comentar as provas do exame e veiculado simultaneamente, ao vivo, pelo Portal EBC, na Rádio MEC AM e nas redes sociais

Recentemente, a novela Windeck, produção angolana transmitida pela TV Brasil, tornou-se outro exemplo de tentativa de comunicação multimídia por parte da EBC. “Essa é a primeira vez que estamos fazendo isso com um conteúdo que nós não produzimos. Ele não foi pensado para ser multimídia. A gente pegou ele assim e estamos adaptando”, conta Eduardo Castro, diretor-geral da empresa. Segundo ele, a ideia de repercutir a novela em outros veículos da EBC surgiu da necessidade de contextualizar e ampliar a própria produção, que apresenta valores de Direitos Humanos questionados pelo Conselho Curador da empresa. “Essa é uma forma de fazer com que o conteúdo trafegue nas diferentes mídias cumprindo a missão da EBC. Nós não vamos fazer isso na busca de mais audiência. Acho que isso pode acontecer – uma vez

que você expõe mais seu conteúdo você tá fazendo propaganda dele. Porém, o objetivo é aprofundar o debate”, diz. Para isso, foi criada uma equipe inter setorizada para desdobrar e problematizar os assuntos surgidos a partir dos capítulos da novela na programação da emissora e fora dela. “Vamos colocar as redes sociais funcionando na hora da novela. Vamos ter hashtags na tela: a pessoa procura por expressões idiomáticas que aparecem durante o episódio e vai achar aquilo e mais uma série de coisas referentes à novela. Vamos usar interprogramas também. Vamos fazer programas na rádio, hangouts e trabalhar com o jornalismo. Na verdade, a novela é só o gancho, mas é jornalismo relevante, não estamos fazendo o que o Vídeo Show faz”, defende.

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Divulgação/EBC

matéria de capa

Novela angolana Windeck, licenciada pela TV Brasil, apresenta tentativa de comunicação integrada da casa

Pluralidade A estratégia adotada pela EBC para dar novos contornos e significação à novela Windeck é uma das muitas faces da convergência. Isso porque, segundo André Deak, se por um lado a convergência pode ser entendida como um canal para participação social e um gerador de pluralidade, por outro, pode concentrar discursos e poder nas mãos dos, cada vez mais, conglomerados de comunicação multimídia. “Se o cidadão mudou e faz tudo em vários suportes, então os conglomerados também foram com força para várias plataformas”, explica Pollyana Ferrari. Para ela e para Deak, a unificação de pautas e a convergência de meios podem apresentar uma ameaça à diversidade e pluralidade da informação se forem entendidas como fusão de empresas e fruição de conteúdos únicos, por vários canais. “Lógico que as empresas têm muito mais força, mas agora o cidadão tem algum espaço. Todo mundo foi pra convergência. O que é esperançoso é que – por mais que a gente esteja na mão do Facebook, do Google – também temos organizações comunitárias, abaixo-assinados,

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manifestações. A convergência tem essa tensão”, aponta a pesquisadora. Segundo Nereide Beirão, o jornalismo da EBC faz o exercício de nunca ser a reprodução da mesma matéria em vários meios, para não perder a pluralidade, com o desafio de passar a informação completa para cada público. “O interessante é que, na verdade, a linguagem de cada veículo muda tudo e, pelo olhar de cada repórter, a informação varia”, conta. “A produção transmídia convergente parte do pressuposto de que cada parte da informação deve ser compreendida, deve mostrar também o todo. Mas deve permitir que, caso a pessoa queira se aprofundar no tema, possa encontrar uma enciclopédia de informações a respeito”, define Deak. É justamente o que espera Alex Fontes, ouvinte da Rádio MEC FM do Rio de Janeiro. O estudante enviou uma mensagem para a Ouvidoria da EBC em julho deste ano para pedir a disponibilização dos programas gravados da emissora, que não estavam mais indo para a web. Entrevistado, porém, Alex revelou que seu interesse com o contato era inspirar melhorias no site da Rádio.


Divulgação/EBC

Ponto Com Ponto Br, programa produzido pelas equipes das Rádios e Portal EBC, vai ao ar simultaneamente nas duas plataformas

“Gostaria de ter acesso não somente ao conteúdo dos arquivos da rádio, mas tudo o mais que for possível disponibilizar no site, ou seja, notícias em geral e sobre o mundo da música, programação cultural, promoções, divulgação de artistas e músicos brasileiros, entrevistas, resenhas de lançamentos de CD’s, canais de interação com o ouvinte, informação sobre a rádio, uma seção infanto-juvenil, transmissões de programas ao vivo, em locais externos, festivais de música e poesia/literatura etc...”, elenca. A cobrança não é exclusiva – de todas as demandas recebidas pela Ouvidoria em 2014, quase 4% se tratavam exclusivamente de pedidos de disponibilização de conteúdos de outras plataformas na web. Se a conta for redirecionada para demandas exclusivas da TV Brasil, por exemplo, o número sobe para quase 7%. Um dos telespectadores insatisfeitos com a falta de convergência da emissora é Virgilio Neto. “Pra que serve o Jornal Repórter Brasil na internet se os vídeos não são postados a tempo?”, questionou. Segundo Virgílio, normalmente os vídeos são postados com 24 horas de atraso da exibição, mas já chegaram a demorar muito mais. “Isso deixa muito a desejar, pois seria bom que eles fossem postados no mesmo dia, logo após serem exibidos, como o fazem as emissoras comerciais, mas o que me irritou um tempo atrás é que eles chegaram a serem postados até com 72 horas depois e isso faz perder o sentido de se disponibilizar uma notícia envelhecida”. Alex afirma que esse diálogo entre plataformas e conteúdos já é feito em outras rádios públicas, como a Rádio Cultura FM de São Paulo, a Rádio BBC 3 - de Londres, e a Rádio France Musique - de Paris, por exemplo. Equipes Usadas como uma forma não institucionalizada de dialogar diretamente com essas demandas do público, as mídias sociais são um vetor impor-

tante no processo de convergência dos meios de comunicação. Cibele Tenório, editora de redes sociais e responsável pela alimentação dos perfis @ebcnarede, explica que esses veículos são tratados pela EBC principalmente como ponto de diálogo com a sociedade. “Nossas redes não são só um espaço unilateral de divulgação do que a gente produz, nós estamos atentos àquilo que as pessoas estão falando conosco”, diz. A jornalista defende que aquilo que faz parte dos valores da EBC, também deve ser o padrão para o que é veiculado nas redes sociais. “Nós sempre estamos aqui relembrando que fazemos comunicação pública também no Facebook, no Twitter, no Google Plus”. Pollyana Ferrari concorda: “a TV pública tem um compromisso com o cidadão, e quando você vai para as mídias sociais, você vai manter esse mesmo critério. O critério editorial permanece, onde a audiência não é o foco”. Cibele integra, com outros profissionais da casa, um grupo de trabalho sobre redes sociais, criado em 2014. “Em primeiro lugar, o GT serviu para que a gente desse adeus a uma gestão fragmentada e passasse a assumir a convergência de fato no trabalho das equipes responsáveis por redes sociais dentro da EBC. No GT nós podemos compartilhar o que temos feito e essa troca de experiências têm sido fundamentais no aprimoramento do nosso trabalho e para que nossos perfis sejam mais relevantes na rede”, conta. Para Negrão, o GT de mídias sociais é um bom exemplo dentro da empresa de integração de equipes. “Fizemos uma norma, um

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matéria de capa

A produção transmídia convergente parte do pressuposto de que cada parte da informação deve ser compreendida, deve mostrar também o todo. Mas deve permitir que, caso a pessoa queira se aprofundar no tema, possa encontrar uma enciclopédia de informações a respeito.

manual, e temos um grupo que se reúne semanalmente para discutir a política, padronizar ações e trocar experiências práticas. Isso mostra que a empresa tem uma estratégia para redes sociais definida”. Cibele afirma que essa experiência precisa se estender para todas redações para que a convergência seja, de fato, uma realidade na EBC. “As redações precisam ser integradas, não necessariamente no mesmo espaço físico, mas acredito que uma empresa de comunicação tem uma obrigação ainda maior de ser eficiente na sua comunicação interna”. Na visão do diretor-geral, Eduardo Castro, a empresa já caminha nessa direção desde 2012, quando foi remontada a partir de três grandes blocos interligados por veículos e mídias: a Diretoria de Jornalismo, a Diretoria de Produção e a Diretoria de Conteúdo e Programação.

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“A Diretoria de Produção cospe conteúdo pra todo lado. Ou seja, a ideia já nasce multimídia. E aí, além de especiais, as linhas de programa são pensadas dessa forma. As parcerias e co-produções também. O que não quer dizer que é o mesmo conteúdo que vai pra web, rádio, TV. Às vezes vai só pra um. Mas essa é a grande mudança: você começa a pensar o conteúdo como conteúdo, não como programa de rádio, programa de web, de TV”, defende. Porém, para sua colega, Nereide, algumas características específicas do jornalismo fazem com que a empresa mantenha suas equipes produzindo exclusivamente para cada veículo: “ter uma equipe que produz pra tudo traz problemas de gestão, de escala. Além disso, no jornalismo, é bom que a pessoa se especialize em uma linguagem, em um assunto, vá fazendo fontes...”. A diretora acredita, ainda, que não é bom manter uma equipe exclusiva para produção multimídia, mas sim, abrir a oportunidade para que todos os profissionais que queiram produzir dessa maneira, tenham a oportunidade. “É a mesma lógica do Caminhos da Reportagem não ter repórteres fixos. Se você tiver só uma equipe para multimídia, você limita a produção e faz com que ela fique mais demorada, pois é preciso fazer um especial de cada vez”, explica. Na visão de André Deak, a perda de recursos na produção está justamente na manutenção de equipes múltiplas para cobertura de uma mesma pauta é que atrasa o processo produtivo da notícia. “Vimos muitas vezes um entrevistado dizer que já tinha falado com a Radiobrás, então não falaria mais – mas, com qual veículo ele falou? Por que este veículo não fez foto, vídeo, texto, som, para distribuir em todas as mídias? Processos repetidos, atrasos, desperdício de recursos, muita coisa pode ser evitada com a convergência na EBC”. O empregado da EBC, Marcus Vinícius Fraga, reforça: multimídia é otimização de talentos e redução de custos operacionais. Ele realizou um curso multimídia na empresa pública de radiodifusão do Canadá, a Canada Broadcasting Company (CBC), durante um período de licença. “Em minha negociação com a EBC estava incluso fazer cursos de câmera, iluminação, áudio, vídeo, linguagens, além de passar uma semana na CBC, acompanhando a rotina produtiva de um repórter multimídia deles”.


Marcus Vinicius Fraga

Marcus conta que, quando voltou ao trabalho, procurou a EBC para oferecer um curso com os conhecimentos adquiridos com a experiência, mas teve seu pedido negado. “A resposta da EBC foi: não temos condições de fazer, não consigo a liberação dessas pessoas”. O repórter que Marcus acompanhou no Canadá passou três meses fazendo um curso antes de começar sua prática profissional na CBC. Para o jornalista, além da capacitação profissional é necessário que se dê aos profissionais tempo para digerirem a nova rotina produtiva. “A dinâmica do multimídia é uma dinâmica produtiva que você não tem a pressão do factual – esse não é o cerne da produção multimídia, porque ela reduz custos, mas aumenta tempo. É uma produção mais pensada, que funciona muito bem em ambientes controlados”, explica. Marcus ressalta também a importância da estrutura colaborativa entre as equipes na produção de informação multimídia. “A pauta já nascia transversal dentro da co-

Marcus Fraga, jornalista da EBC, acompanhou produção multimídia de repórter da CBC, empresa pública de comunicação do Canadá

ordenação de pauta da CBC, já chegava com a indicação do que outras equipes estavam fazendo. O repórter podia montar sua matéria com sonoras, informações, disponíveis no sistema da empresa”, lembra. Na CBC, a produção de conteúdo multimídia é feita por uma equipe transversal, que serve a todos os veículos. No modelo de produção da Agência Pública, o conteúdo é o norte fundamental das escolhas editoriais, não havendo pressão para produção em um tipo determinado de formato. “Acreditamos e promovemos o jornalismo investigativo e de qualidade para a melhoria do debate democrático no Brasil. Dito isso, valorizamos muito as experimentações e variações de formato - como especiais multimídia, vídeos, em HQ - desde que venham a melhorar a comunicação do conteúdo, que é o essencial. Quando um repórter da equipe da Pública sai pra apurar uma reportagem, não se sabe nem com que formato ele vai voltar, nem com qual história. Uma boa reportagem investigativa implica o repórter se perder para encontrar qual é a história de fato”, afirma Natália Viana.

A pauta já nascia transversal dentro da coordenação de pauta da CBC, já chegava com a indicação do que outras equipes estavam fazendo

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Printscreen da tela da Agência Pública em 24/11/14

matéria de capa

Agência Pública não cobra de seus repórteres produção de notícias em um formato específico

Questões trabalhistas Marcus Vinícius imputa a dois fatores a não implantação de dinâmicas produtivas mais modernas, como as da Pública e CBC, na EBC: os sindicatos, que consideram o multimídia como precarização do trabalho; e a direção da empresa, que se agarra a uma estrutura rígida de equipes. Segundo Jonas Valente, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, a produção de conteúdos convergentes é importante, pode abrir novos postos de trabalho e inaugurar novas rotinas produtivas, mas deve estar focada especialmente no empacotamento e edição do conteúdo. “O que não pode acontecer é usar a convergência como subterfúgio para a precarização do trabalho e acúmulo de funções, sem a capacitação necessária, com dano ao trabalhador e à qualidade do conteúdo produzido. No nosso entendimento, a gente deve ter pessoas produzindo para veículos específicos, mas dentro desses veículos e na Superintendência de Comunicação Multimídia, mais empacotadores e editores pra conseguir utilizar melhor os materiais produzidos por todas as redações”. Eduardo Castro, diretor-geral da EBC, pontua que o grau de especialização necessário para produção em comunicação, atualmente, é diferente de quando surgiram as legislações

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trabalhistas. “Não que os veículos tenham deixado de ser diferentes, mas hoje você já nasce multimídia. Hoje em dia todo mundo que tá saindo da faculdade é nativo digital. O que pesa é a cultura e resistência sindical. É necessário que essa adaptação não seja benéfica somente pra quem paga salário, para achatar direitos dos trabalhadores. Mas a discussão é facilitar a vida de quem quer trabalhar”. Ele acredita que a transição completa para produção completamente multimídia é uma troca cultural e não acontece por decreto. “A gente tem que ter o interesse dos profissionais em se preparar e a casa tem que oferecer cursos, não só tecnicamente sobre convergência, mas a comunicação pública na convergência, por isso, a Escola Nacional de Comunicação Pública”. A escola a qual o diretor se refere é uma parceria que a EBC está fazendo junto à Unesco para a implementação de um centro de pesquisas sobre o assunto no Brasil. Joseti Marques, coordenadora do projeto, informou que já conversou com os gerentes da Sucom afim de entender melhor as demandas deles para formatar um curso EAD na área de comunicação integrada e novas mídias. “Precisamos produzir conteúdo na área de convergência e oferecer soluções práticas formatadas para a comunicação pública”, diz. “O multimídia não é o cara que sai com câmera, ipad, câmera de TV, bloquinho, isso é acúmulo de função. Outra coisa é estar habilitado, preparado e ter mais que equipamento, mas ter a cabeça pronta pra capturar o material pensando nas formas diversas de distribuição. É esse profissional que queremos formar”, afirma Eduardo.


Eduardo Castro

Investimentos O orçamento destinado para cada veículo, dentro de uma empresa detentora de vários canais de comunicação, pode ser um termômetro para verificar a estratégia de convergência de conteúdos? A destinação de uma maior quantia de recursos para um único veículo pode significar a proeminência deste sobre os outros? Para Eduardo Castro, não necessariamente. “No caso da EBC, o orçamento da TV é maior porque é mais cara de fazê-la do que os outros veículos. Porém priorizá-la não é uma questão estratégica”, afirma. “Vai chegar o dia em que fazer internet vai ser mais caro que fazer televisão, porque vai aumentar o preço da internet e diminuir o da TV. Mas, nesse momento, ainda é mais caro TV”.

Modelo de equipamento para videoreportagem em exposição no National Association of Broadcasters, evento sobre tecnologia na comunicação realizado em abril de 2014, em Las Vegas, EUA

Andre Deak pondera que é possível realizar boas coberturas integradas, mesmo sem um grande orçamento, porque a estrutura mais importante de qualquer empresa, em primeiro lugar, são as pessoas. “Não importa se faltam cabos, equipamentos, cadeiras. Qualquer estrutura, com pessoas interessadas em produzir conteúdos multimídia, integrados, é capaz de produzi-los. A Radiobrás ganhou seu primeiro prêmio Vladimir Herzog na categoria internet com um produto (o web-documentário Nação Palmares) editado num Ipod, porque nenhum computador tinha hardisk capaz de suportar o

peso dos vídeos digitais”, lembra. Negrão acredita que dinheiro não é essencial para convergência, mas para melhorar alguns fluxos de trabalho – desde um computador, até um servidor. “Mas a tecnologia não depende disso. Você pode utilizar uma série de ações e produtos de distribuição grátis. A estratégia depende do tipo de conteúdo que você tem. Vai chegar o tempo em que teremos cada vez mais essa fluidez. Hoje as pessoas se limitam a Facebook e Twitter, mas não vai ser sempre assim”, diz.

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matéria de capa

Definições de convergência na EBC Em seus regramentos internos normativos, como o Manual de Jornalismo e o Plano Editorial da Agência Brasil, a EBC ressalta a intenção de realizar a atuação integrada de seus veículos. Os textos trazem conceitos como convergência, multiprogramação, interatividade, transdisciplinaridade e outros. As normas, porém, não entregam definições finais para os conceitos elencados acima. Já no documento Diretrizes de Conteúdo e Programação, orientador para produção e aquisição de novos conteúdos, a EBC define convergência como “a potencialidade que o conteúdo tem de ser trabalhado em suas possibilidades convergentes (trans, cross e multi) desde sua concepção, permitindo que o desenvolvimento do produto, e consequentemente sua produção, incorpore todas as possibilidades de distribuição, fruição e formatos, ampliado suas potencialidades de ser distribuído, exibido ou complementado em várias plataformas”. Confira abaixo o que significam cada um desses conceitos para convergência: - Multimídia: é a disposição de vários conteúdos (áudios, vídeos, textos e imagens) em um único suporte. Um exemplo são os especiais produzidos pelo Portal EBC, onde uma mesma reportagem é composta por entrevistas gravadas em áudio, vídeos de arquivos, fotografias e etc. A soma desses formatos compõem a informação total que os produtores do conteúdo querem passar sobre aquele assunto. - Crossmídia: é a migração de um conteúdo de uma mídia para outra. Nesse caso, os conteúdos são independentes e completos em cada mídia – o público tem acesso à história ou informação total ao consumir aquele produto, que, apesar de ter uma narrativa em comum, guarda características específicas de cada mídia para onde é transportado. Um exemplo clássico são as adaptações cinematográficas de livros. - Transmídia: é a possibilidade do público, se assim desejar, transpor a mídia original para o qual o conteúdo foi produzido, aprofundando e interagindo com essa narrativa em outras plataformas. Aqui, várias histórias compõem um único universo, mas cada uma é contada através de diferentes meios e de forma autônoma, se complementando para dar forma a uma só grande narrativa. As comunidades de fãs de séries de TV, franquias de filmes e jogos RPGs são um grande laboratório de como a transmídia funciona. FONTES: Henry Jenkins em Cultura da Convergência, Aleph, 2009; e Seven myths about transmedia storytelling debunked, acessado em http://www.fastcompany.com/1745746/seven-myths-abouttransmedia-storytelling-debunked Pollyana Ferrari – Pesquisadora e professora da PUC-SP Ricardo Negrão – Superintendente Multimídia da EBC

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Entenda o de A EBC está implantando seu novo modelo institucional desde fevereiro de 2014 – a previsão é que o novo organograma esteja 100% em funcionamento até abril de 2015. Segundo a Secretaria Executiva da empresa, a estrutura foi pensada para proporcionar um funcionamento convergente. Se antes havia apenas uma unidade para fazer integração de conteúdo – e somente para web (a Superintendência de Comunicação Multimídia, Sucom) – agora, toda a casa deve estar integrada no nível das diretorias. O objetivo é que, a partir do redesenho, as diretorias de Jornalismo, Produção Artística e de Programação – todas subordinadas à Diretoria-geral – passem a focar não mais a produção por veículos, mas por conteúdo. De maneira prática, todos os veículos foram realocados sob a supervisão da Diretoria de Conteúdo e Programação, que deve definir a linha editorial das produções, demandando das duas outras diretorias – de produção artística e de produção jornalística – o conteúdo necessário para compor as grades dos veículos EBC. Nessa lógica, os diretores farão a gestão de todo conteúdo ou programação sob sua responsabilidade, independente da decisão de veiculação em cada plataforma. O relacionamento entre a EBC e os órgãos públicos e a sociedade ficará sob a responsabilidade de uma área ainda a ser implantada. Esta unidade responderá também pela consolidação e expansão da Rede Nacional de Comunicação Pública.


projeto de integração COMITÊ DE PROGRAMAÇÃO

DIRETORIA-GERAL

Define linhas gerais e diretrizes para a produção de conteúdo

Aprova linhas gerais e diretrizes para a produção de conteúdo

DIRETORIA DE JORNALISMO

DIRETORIA DE PRODUÇÃO ARTÍSTICA

DIRETORIA DE PROGRAMAÇÃO

Planeja/recebe demandas da Diretoria de Programação e produz conteúdos jornalísticos

Planeja/demanda conteúdo e exibe a produção das outras diretorias.

Recebe demandas da Diretoria de Programação e produz conteúdos artísticos

PRAÇAS + ESPORTES

PLATAFORMAS

PLATAFORMAS

RJ

TV Rádios Agências

DF

Infografia: Lia Magalhães e Cadu Veloso

plataformas na EBC

ACERVO

SP

TV Agências

TV Rádios Agência Brasil Radioagência Nacional Praça do Maranhão (tv e agências)

TV RJ DF SP

WEB / NOVAS MÍDIAS TV

ESPORTES TV Rádios

Portal EBC Site Veículos

TV Brasil TV Brasil Internacional

RÁDIO

Nacional FM Brasília Nacional Rio AM Nacional Alto Solimões Nacional Brasília AM Nacional Amazônia MEC FM Rio MEC AM Rio

MÚSICA E ARTE RJ DF SP

RÁDIO RJ DF AM

WEB / NOVAS MÍDIAS Expansão para web Especiais para web

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A importância da na

dramaturgia

TV pública

Arquivo Pessoal

Programação em debate

André Pellenz, Autor e diretor-geral de “Natália” e diretor do longa-metragem “Minha Mãe é uma Peça”

U

Istock

ma jovem mulata, moradora do subúrbio e filha de um pastor evangélico tem a chance de mudar de vida ao receber uma proposta para iniciar uma carreira de modelo. Se hoje essa história poderia até ser tema de alguma série nas principais emissoras comerciais, em 2009 isso seria difícil. Cinco anos é muita coisa em televisão. Mas foi graças a um edital público que “Natália”, série de 13 episódios que acompanha a personagem descrita acima, foi produzida e exibida na TV Brasil com um tremendo sucesso e repercussão. Praticamente toda a crítica especializada (“O Globo”, “Folha de São Paulo”, “Correio Braziliense”, etc) teceu fartos elogios à trama, abrindo grande espaço em seu noticiário, inclusive para o “primeiro beijo gay masculino exibido em TV aberta no Brasil”, como destacou Patrícia Kogut, colunista de “O Globo”. O canal Sony exibiu a série, e até mesmo a TV Globo Internacional – sim, a TV Globo – adquiriu os direitos e exibiu em seu canal internacional. Nenhum deles se importou com a marca da EBC nos créditos, ou tiveram qualquer preconceito com tema ou origem do programa. Consideraram que era um produto bom, e pronto. Para mim, criador e diretor-geral da série, isso serve para algumas reflexões: 1) A TV pública deve ser a vanguarda em boa dramaturgia, atraindo autores e diretores para projetos que não encontram espaço em outros canais, já que seu descompromisso com anunciantes permite que se arrisque um pouco mais. 2) Mesmo buscando a vanguarda, é preciso produzir dramaturgia que seja palatável. A TV pública

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não pode virar um centro de experimentações sem sentido ou um dirigismo que resulte num celeiro de projetos de grande pegada social e nenhuma audiência. 3) Que se produza com verba para se contratar bons profissionais, bons atores, bons fornecedores, em pé de igualdade com os canais privados. “Natália” tem um alto padrão de qualidade porque os recursos eram adequados, e o resultado fala por si. 4) Não adianta produzir e exibir um ótimo trabalho se o público em geral não fica sabendo. O raciocínio é simples: se até mesmo a Rede Globo investe dinheiro em anúncios de seus programas, com toda a audiência residual que possui, quanto de divulgação é preciso para um programa novo na TV Brasil? 5) Televisão é hábito, ainda. É preciso estudar uma grade para a dramaturgia e boas opções de crossmedia. Em resumo, a TV pública é fundamental para a evolução da dramaturgia televisiva brasileira. Do lado de cá, dos autores e diretores, a torcida é grande.

A TV pública deve ser a vanguarda em boa dramaturgia, atraindo autores e diretores para projetos que não encontram espaço em outros canais

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Coluna acadêmica

do audiovisual

E

Iluska Coutinho

m uma sociedade como a brasileira, em que teria havido um salto na vivência cultural, passando-se da cultura oral para a audiovisual, as informações jornalísticas veiculadas por emissoras de rádio e televisão assumem uma centralidade no processo cotidiano de conhecimento, sobre o mundo e o país. A ausência da efetiva experimentação da cultura letrada por significativa parcela da população deveria fazer aumentar a responsabilidade do Jornalismo, de sua oferta em níveis de equilíbrio e qualidade que permitissem aos cidadãos não apenas informar-se, mas também compreender a realidade. Mas a ausência de mecanismos de regulamentação da mídia, ou de maior acompanhamento dos meios, por meio da participação de diferentes instâncias sociais, torna esses pressupostos apenas uma carta de intenções ou discurso entre teórico e retórico. A crítica da mídia, sistematizada em experiências como do Manchetômetro, dos Observatórios de Jornalismo (Rede Renói) ou percebida de forma espontânea em conversas e postagens também nas redes sociais, indica que sua prática é outra ausência percebida, sobretudo nas telas de emissoras de TV aberta no Brasil, notadamente naquelas de exploração comercial. Nesse cenário, ainda caracterizado por uma grande concentração dos meios, em que pesem os diversos tensionamentos e demandas sociais por maior democratização da comunicação, ganha ainda mais importância a avaliação continuada da qualidade do Telejornalismo Público. Nas pesquisas realizadas desde 2010 na UFJF sobre a informação na TV Pública defende-se que a produção e veiculação de informação por emissoras de exploração não comercial, vincu-

Arquivo Marketing

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Jorge Felz

O jornalismo público como parâmetro regulador

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ladas com o cidadão, especialmente, poderia atuar como uma espécie de monitor independente, de espaço para a prática e reflexão sobre um Jornalismo comprometido de fato com a cidadania. Pressupostos da TV Pública como Pluralismo, Diversidade e Independência, se tornados realidades nas matérias, entrevistas ou debates veiculados nos telejornais e demais programas de informação da TV Brasil, poderiam dessa forma funcionar também como um parâmetro normativo, a mostrar ser Conceitos possível o cumprimento das promessas como Pluralidade, do Jornalismo como Diversidade forma de desvelamento do mundo. A e Cidadania emissora já registra oferecem uma prêmios pela produção de reportagens espécie de base, e em alto nível, com identidade comum qualidade estética e de conteúdo, notadaa diferentes mente veiculadas no modelos de programa Caminhos da Reportagem, sendo televisão pública necessário, cada vez mais tornar público o alcance de suas produções, em diferentes plataformas. Esse (re)conhecimento é que permitiria ao telejornalismo público atuar, em certo sentido, como marcador de qualidade, a acentuar a exigência por uma conduta ética e responsável dos demais veículos de televisão, também na articulação do público, agora enquanto audiência televisiva, a demandar maior aprofundamento e equilíbrio. A produção de informação jornalística audiovisual de qualidade seria nesse sentido uma

forma de constituição de vínculos com o cidadão, e deste em exercer seus direitos à informação e comunicação e, assim, explicitar o retorno social da emissora. Das Diretrizes às Práticas Conceitos como Pluralidade, Diversidade e Cidadania oferecem uma espécie de base, e identidade comum a diferentes modelos de televisão pública. Sua compreensão e transformação em prática efetiva é um desafio que envolve diferentes atores da sociedade: emissoras públicas e seus profissionais, estudiosos, sociedade civil. Parcialmente englobado nos dois primeiros itens, o compromisso com a cidadania é uma das razões de ser das emissoras públicas. De forma mais concreta, nas pautas e conteúdos jornalísticos veiculados, ele poderia ser traduzido na preocupação em explicitar os contextos, problemáticas e busca por desdobramentos dos fatos que são objeto de cobertura, e num certo viés formativo ou educativo que também caracterizaria os canais de exploração não comercial. Além disso, a prática da cidadania como princípio do telejornalismo público envolveria a veiculação de estímulos à participação, por exemplo, pelo exercício de seu direito de expressar sua voz também nos canais midiáticos. Mais inclusivas, as edições dos programas informativos da TV pública ofereceriam ao cidadão mais protagonismo ao inserir suas produções, opiniões, conhecimentos.

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Coluna acadêmica

matos audiovisuais também inovadores. Resultado de um encontro com emissoras públicas de rádio e TV, realizado em abril de 2014, de uma audiência pública do Conselho Curador e de trabalhos desenvolvidos pela Câmara Temática de Jornalismo, as Diretrizes de Cobertura Jornalística Eleições 2014 buscam traduzir esses conceitos em recomendações e procedimentos. O documento propõe a construção de uma nova narrativa com destaque para a cidadania, que contrapõe à disputa partidária, uma contradição apenas aparente, mas que também tem marcado a cobertura jornalística da emissora. Essa nova forma de narrar, nos canais públicos da EBC, teria como diretrizes editoriais: cobertura temática, prestação de serviços; espaço para a prestação de serviços e protagonismo do cidadão. Em busca de um telejornalismo para chamar de nosso, o acompanhamento dessas diretrizes cabe também à sociedade, em particular aos grupos sociais organizados e à universidade que, em diálogo, ajudariam a construir sua TV pública.

Istock

Pluralidade e diversidade são outros conceitos-caminho a permitir que o Jornalismo na TV Brasil possa de fato ser considerado público, no sentido de um maior pertencimento com a sociedade. Se a Pluralidade em geral é associada à busca por equilíbrio na representação político-partidária, sobretudo, nas reportagens e outros formatos jornalísticos da TV pública ela também se expressaria nas temáticas e abordagens, na participação de diferentes setores sociais, com destaque para a sociedade civil organizada, e ainda de diferentes regiões e sotaques no caleidoscópio informativo. A questão do respeito e reflexão acerca das diferenças também relaciona-se de forma direta com a Diversidade, último aspecto a destacar. Para além de uma perspectiva mais inclusiva de diferentes etnias, gêneros, representações religiosas e culturais, ela envolve uma especial atenção no tratamento das fontes, na recusa aos estereótipos como mecanismo de tradução do mundo, e na busca por for-

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www.conselhocurador.ebc.com.br/

Conselho Curador

Todos as resoluções do Conselho estão disponíveis no site

Acesse e

saiba mais! Revista do Conselho Curador

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Palavra da Ouvidoria

Um

Arquivo Pessoal

Ouvidoria

interna

investimento

na

ética das relações Joseti Marques, ouvidora-geral da EBC

ArquivoMarketing

N

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o segundo semestre deste ano, a Ouvidoria deu início às atividades de Ouvidoria Interna. Mas o trabalho começou bem antes, ainda no primeiro semestre, quando formamos grupos de estudos e reflexões sobre os problemas que identificávamos superficialmente na empresa, no sentido de exercitar a construção de hipóteses sobre o processo de mediação que estávamos dispostos a assumir. Entendemos, com os estudiosos do tema, que a matéria-prima da ouvidoria interna é constituída em grande parte de problemas de relacionamento, conflitos interpessoais e distorções relacionadas aos processos de gestão de pessoas. E o que poderia fazer a ouvidoria interna diante de um desafio tão complexo quanto o próprio gênero humano? Trouxemos es-


pecialistas para nos abrir a compreensão, em uma conversa para a qual foram convidados todos os empregados – não vieram muitos, para aumentar nossa percepção da dificuldade que talvez viéssemos a enfrentar. Mas, em contrapartida, ampliamos os conhecimentos necessários à realização da tarefa. Maria Auxiliadora de Medeiros Valle, que implantou a Ouvidoria Interna do Serpro, nos falou das principais dificuldades e de como formou um acervo de conhecimentos e soluções a partir da experiência; a procuradora do Banco Central, Luciene Moessa de Souza, doutora em Direito do Estado e Sociedade, especialista em meios consensuais de soluções de conflitos envolvendo entes públicos e mediação de conflitos coletivos, apresentou estudos de casos e suas melhores soluções. Fomos também buscar a experiência em ouvidoria interna em uma das mais premiadas, a Ouvidoria Interna do Banco do Brasil. Amauri Machado, titular daquela unidade, nos apresentou todo o processo de implantação e desenvolvimento de uma das melhores práticas no setor e a forma como chegaram a normatizações importantes da atividade.

Uma ouvidoria interna não substitui ou interfere nas instâncias formais de solução de problemas, como o setor de Gestão de Pessoas, a Comissão de Ética, o Sindicato, a Justiça do Trabalho etc. A ouvidoria interna é um recurso ao entendimento e à recomposição das relações, através da mediação e da escuta qualificada, a partir do que se pode chegar ao entendimento e à observação de pontos frágeis na organização que merecem investimento e atenção. No cumprimento da missão, contamos com a competência da servidora Noemi Poconé que, por sua formação em Psicologia, já realizava a atividade de atendimento na Ouvidoria com um olhar diferenciado. Noemi abraçou o desafio com entusiasmo e propôs o tema “Ouvidoria Interna – lugar de comunicação” para ser debatido em um dos encontros do Grupo de Estudos promovidos regularmente pela Ouvidoria da EBC, envolvendo-se dedicadamente no processo de definições das normas e procedimentos que em breve estarão em vigor. Somando todas as experiências, recolhemos a certeza de que a ética é que demarca a fronteira da convivência equilibrada e contribui para a harmonização das relações, o que se traduz, certamente, em resultados positivos para as organizações. Estamos a caminho, ainda que nos primeiros passos. Sabemos que a jornada é longa e desafiadora, mas confiamos que a experiência que produz e consolida conhecimentos, também constrói e fortalece resultados.

E o que poderia fazer a ouvidoria interna diante de um desafio tão complexo quanto o próprio gênero humano?

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Fala, conselheirO!

para

aprofundar

democracia ganhar audiência

Arquivo EBC

Sugestão de pauta

a

e

Mário Augusto Jakobskind, conselheiro

N

a campanha eleitoral de 2014 um tema praticamente passou ao largo, perdendo a sociedade brasileira a oportunidade de conhecer, ao menos minimamente, o que venha a ser regulação da mídia. Nas poucas vezes em que um dos candidatos na campanha do primeiro turno referiu-se à questão, prevaleceu a desinformação, ou seja, a mentira de que a regulação da mídia significa censura. Regulação econômica da mídia não tem nada a ver com censura. Muito pelo contrário. É um tema que deveria ter entrado na pauta das discussões entre os candidatos e que merece toda a atenção da mídia pública, que poderá ser o espaço necessário para o debate do assunto. Será, sem dúvida, um ponto importante a ser conquistado, sobretudo pelo fato de as mídias convencionais praticamente se recusarem a promover o debate. Regulação da mídia em vários países Regulação da mídia existe no país que muitos consideram como exemplo de democracia, os Estados Unidos. Também em Portugal, França, Reino Unido, Espanha e muitos outros países onde a imprensa é absolutamente livre de censura. Nas raras vezes que o tema entrou em pauta, a própria Presidenta Dilma Rousseff, em um encontro com blogueiros independentes, admitiu que a mídia “é um setor que como qualquer outro tem que ser regulado como portos, como (o setor) elétrico, como petróleo”.

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Basta cumprir a Constituição da sociedade” para seus telespectadores e ouvintes. E a soPara começar a entender um pouco mais o tema que ciedade brasileira deve ser informada para que pressione os vem sendo escondido ou desvirtuado pelos setores que não canais privados no sentido de também divulgar o aviso. querem nenhum tipo de mudança, é necessário consultar a Em países como a Argentina, Uruguai, Equador e Veprópria Constituição Brasileira de 1988. nezuela, entre outros, o tema midiático tem sido priorizado, Muitos artigos na prática acabam se tornando letra morta. não só com o advento de novas legislações, como pelo O artigo 220, por exemplo, dispõe que não pode haver mofortalecimento de mídias públicas. Eis também uma pauta nopólio ou oligopólio na comunicação social eletrônica. E o que deve ser prioritária para ser apresentada aos ouvintes e que acontece na prática? Uma única emissora controla cerca telespectadores. Como dificilmente a mídia privada incende 70% do mercado de televisão aberta. tiva debates isentos sobre a matéria, a mídia pública tem O artigo 221 estimula a produção regional e indepentambém um importante papel a desempenhar e suprir uma dente, mas a maior parte de toda produção de TV no Brasil é lacuna. feita no eixo Rio-São Paulo pelas próprias emissoras de radiodifuDominação tecnológica são, e não por produtoras indeAlém desses temas para o pendentes. debate, é importante também que A maioria do espectro de raouvintes e telespectadores sejam E cabe então uma diodifusão é ocupada por canais lembrados que a tecnologia na privados que priorizam o lucro, área de comunicação é totalpergunta: por que embora o artigo 223 da Constimente dominada por empresas até hoje não foi feito tuição defina que o sistema de estrangeiras. E que na internet, um levantamento no comunicação no país deve respeipor exemplo, tudo passa por uma tar a complementaridade entre os central localizada nos Estados Congresso de quem setores de comunicação pública, Unidos. são os deputados e privada e estatal. Nesse sentido, é preciso disenadores que passam Caberia ao setor de jornalisvulgar o máximo possível que mo de rádios e televisão informar o Brasil e Uruguai assinaram por cima do artigo 54, aos seus ouvintes e telespectadoum convênio de que passa pelo que impede que eles res que a Constituição brasileira aprimoramento da fibra ótica sejam os responsáveis também não permite que parlano sentido de enfrentar essa dementares sejam proprietários de pendência, ou seja, para não ser por estas emissoras? concessionárias de serviço públinecessário que a comunicação co. E para complementar, publicar nesse caso dependa totalmente os nomes dos que cometem as de um país, no caso os Estados ilegalidades. Unidos, que tem o controle da E cabe então uma pergunta: tecnologia. por que até hoje não foi feito um levantamento no Congresso Vale como sugestão à EBC elaborar matérias aprode quem são os deputados e senadores que passam por cima fundadas sobre a questão midiática nos países da América do artigo 54, que impede que eles sejam os responsáveis por Latina e o que acontece nos Estados Unidos e nos países estas emissoras? europeus. A receita não requer maiores custos. Não pode, portanAviso importante to, ser colocado o orçamento como argumento impeditivo. Como reforço para o debate, a mídia pública deveria É apenas, vale sempre repetir, uma questão de vontade pocolocar em prática para seus telespectadores e ouvintes a lítica. sugestão do jornalista e professor Laurindo Leal Filho. Sem Espera-se que as sugestões sejam seguidas e postas em timidez e com o objetivo de cumprir um serviço de utilidade prática o quanto antes, porque se trata de um tema que a sopública deveria ser lembrado nos veículos da EBC que “esta ciedade brasileira de uma forma ou de outra está a exigir e é uma concessão pública outorgada pelo Estado em nome não tem encontrado os canais apropriados. A hora é esta!

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Fala, conselheirA!

Arquivo Pessoal

Integração de redações

uma experiência

A Secretaria de Comunicação da Câmara dos Deputados passou por grandes mudanças em sua organização. Após uma ampla discussão interna e seguindo uma tendência de convergência de mídias, foi consolidada uma nova rotina de trabalho Evelin Maciel, conselheira

E

ntender a produção de conteúdos para vários suportes midiáticos, sem que cada veículo perca suas especificidades, não é tarefa fácil nem tem fórmula pronta. Uma empresa de comunicação com vários veículos precisa alinhar orientações sobre coberturas, conteúdos, projetos e política de comunicação. Este foi o desafio encarado pela equipe da Secretaria de Comunicação da Câmara dos Deputados a partir de 2011, sob a liderança de Sueli Navarro, então diretora da SECOM. Foram construídas novas rotinas de trabalho a partir da integração das redações até então divididas em Televisão, Rádio, Agência de Notícias e Jornal. Foram levados em conta modelos adotados pela mídia comercial e formulações de teóricos, mas o modelo adotado surgiu de discussões de grupos de trabalho e da própria prática. E o mais importante, não está pronto. O desafio da integração não permite que se defina data para que o projeto se dê por encerrado. As narrativas e linguagens vão sendo aperfeiçoadas constantemente a partir desta reconstrução do modo de fazer. Cada veículo trabalhava com seus próprios processos produtivos — pauta, produção, reportagem e edição. Possuíam estruturas duplicadas ou mesmo triplicadas, em alguns casos. A consequência natural era a redundância de rotinas e a perda de informações que deveriam ser disseminadas para todos. Não havia um

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diálogo periódico entre os gestores dos veículos, o que gerava abordagens totalmente diferentes de um mesmo assunto e outros desencontros editoriais. Grupos de trabalho foram criados com o objetivo de conhecer e mapear as rotinas de cada veículo e propor mudanças visando otimizar o trabalho. Como resultado, cada grupo apresentou sugestões de novas rotinas, organograma e atribuições. Na busca por fundamentos para a decisão de integrar os processos produtivos, algumas metas foram definidas, como a de produzir mais e melhores conteúdos; dar instantaneidade ao compartilhamento de informações, de decisões e de produtos finais a serem utilizados pelos veículos; descobrir e estimular novos talentos para novas funções; permitir melhor especialização temática dos repórteres para gerar mais qualidade na cobertura; compartilhar o conhecimento de repórteres e editores por todos os veículos; formar equipes para novos serviços estratégicos; acelerar a convergência das mídias e a crescente interatividade com os usuários; dar unicidade à gestão de pessoas, treinamentos, afastamentos. No contato com o mercado de comunicação privado, os profissionais consultados trouxeram um panorama mais amplo, em escala global, das experiências de outras organizações e debateram com os profissionais da Câmara as dificuldades e sucessos de reestruturação. Com isto veio a certeza de que desconforto e relutância seriam naturais.


possível finalizar produtos distintos, em especial para rádio e Onde antes havia quatro veículos televisão. Em outros momentos, as produções são totalmente de comunicação, foi criado o departaintegradas, com o mesmo conteúdo para os dois veículos. Nesmento de Mídias Integradas. Nele, as tes casos, o ouvinte/telespectador tem que ter clareza de que redações foram definidas a partir do isto está acontecendo, que o produto é o mesmo, para entender tipo de conteúdo que é produzido. Uma eventuais falhas e limitações. redação de jornaFoi criada a área de Participação Polismo e outra de pular, onde ações e ferramentas interativas programas e do– como enquetes, bate-papos, comentários cumentários. em notícias, participações em programas No jornalisao vivo e perfis em redes sociais se concenO desafio da mo, uma nova tram. O objetivo é não apenas aprimorar dinâmica da reintegração não permite todas as interfaces de interação, mas tamportagem foi imque se defina data para bém entender o que a sociedade quer dizer plementada. Os e encaminhar essas manifestações de uma que o projeto se dê por repórteres passaram a responder encerrado. As narrativas forma simples e prática para os deputados, possibilitando o diálogo político com retora uma chefia únie linguagens vão no aos cidadãos. ca, serviços de O momento agora é de fazer ajustes pauta e produção sendo aperfeiçoadas nesta estrutura, melhorar a divulgação de foram unificados, constantemente a partir notícias nas redes sociais, aprofundar as coberturas para desta reconstrução do discussões sobre linguagem. Mas o passo TV, rádio, agênmais difícil foi dado. A reestruturação da cia e jornal são modo de fazer. Secretaria de Comunicação foi aprovada concebidas sob pela Mesa Diretora da Câmara da Câmara a mesma oriendos Deputados por meio do Ato 68/13. tação editorial. Editores chefes de cada veículo zelam pela linguagem e especificidade dos mesmos. Editores de texto, também divididos por veículo, dão suporte Para saber mais: aos repórteres no fechamento. Se um repórter fecha matéria para mais de “Convergência e Integração um veículo, tem mais de um editor. A na Comunicação Pública” – transmissão das sessões do plenário e um registro da integração de um jornal integrado diário, na hora do processos produtivos, organoalmoço, vão ao ar na TV, na rádio e no gramas e redações vivenciado portal da Câmara na internet ao mesmo na Secretaria de Comunicação tempo. Teve início uma série de treinada Câmara dos Deputados, em mentos dos repórteres para os diferenBrasília, a partir de 2011. tes formatos de mídia, como oficinas de telejornalismo, de radiojornalismo e de webjornalismo. Onde encontrar o livro: soliciA redação de programas e docutar para mentários também se adaptou à nova redelegislativa@camara.gov.br realidade. Ali, as discussões sobre Preço: gratuito linguagem foram mais profundas. RaEditora: Edições Câmara pidamente descobriu-se que a partir de uma mesma captação de conteúdo era

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Arquivo Pessoal

Curadoria

Anderson Ribeiro, jornalista da EBC

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As

Chamadas

Clamo por sua atenção Nos intervalos da minha programação. Você me ouve, fico feliz E volto mais duas vezes. E na ânsia de lhe dar notícias minhas, Regresso definitivamente no final do dia.

Meio e Mensagem.

Ou não são necessárias Não é preciso mais gritar para ser ouvido mais as romãs Há aqui amplitude de muitas vozes. Alto falante de minorias Expressão do falar livre de cortes.

Audiência I

Programo-me inteiro para lhe ter por perto por mais tempo. Faço-me muitos e diverso para pra chamar sua atenção. Vou seguindo seu olhar me vendo completo e desnudado Até parar na parte que mais lhe agrade.

Audiência II

Sei do que gosta em mim Porque meço seu olhar quando me flerta inteiro.

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