MUSEU DE LAMEGO | apontamentos agosto 2015

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[1917-2017]

100 ANOS

APONTAMENTOS

agosto 2015

CATÁLOGO DE EXPOSIÇÃO



destaque

Oito séculos de História em “Cister no Douro” Tudo começou com uma exposição que queria ser única e que pretendia dar voz à vontade de chamar a atenção para a importância da Ordem de Cister no Douro. Em 2014, uma instalação multimédia, totalmente sustentada por som e imagem, instalava-se na estação de Metro do Porto da Casa da Música. Em 2015 a opção de divulgar o património cisterciense duriense e de contribuir para a consolidação da sua investigação materializa-se no catálogo “Cister no Douro”, apresentado este sábado, 25 de julho, na Biblioteca do Museu dos Transportes e Comunicações, na Alfândega do Porto. Durante a sessão, Luís Sebastian, diretor do Museu de Lamego e coordenador do projeto, lembrou que sem Cister o Douro não teria a excelência, reconhecida pela UNESCO enquanto Património da Humanidade, que hoje lhe é atribuída, recordando que a influência das sucessivas comunidades de cistercienses não se fica pela produção vitivinícola, mas se estende pela cultura, pela arte, pela religião, pela arquitetura, pela imaterialidade da herança monástica. Esta herança de 800 anos, contada em oito minutos de filme interativo da exposição que dá forma a este catálogo, é agora transposta para cerca de 200 páginas, numa abordagem nova que recai sobre os objetos – um anel, um prato, um capitel, uma escultura, duas pinturas, entre temas mais abrangentes num total de 21 entradas de catálogo –, enquanto símbolos de persistência e de ausência, como assinalou o comissário científico da exposição, o docente e investigador Nuno Resende. Numa obra que vem dar voz a um conjunto notável de edifícios cistercienses erguidos ainda durante a Idade Média – Santa Maria de Aguiar, São Pedro das Águias, Santa Maria de Salzedas, São João de Tarouca e Santa Maria de Arouca – ou, como no caso de Tabosa, 3 | APONTAMENTOS


erguido durante a época Moderna, a escolha do espaço para a apresentação deste catálogo não poderia ser mais oportuna, como, aliás, salientou Carlos Brito em representação do Museu dos Transportes e Comunicações, ao recordar que alfândega, vocábulo de origem árabe, é o oposto do silêncio, por remeter para um lugar movimentado e de barulho. E é exatamente para divulgar a herança material e imaterial legada pela presença da Ordem de Cister na região que este catálogo nasce, com Douro e Cister a cruzarem-se para narrar um percurso iniciado no século XII, com a chegada dos monges brancos à região. Treze investigadores aceitaram o desafio, construindo um diálogo com e entre os objetos, as ideias, as formas, os textos e contextos, no sentido de (re)construir ruínas e fragmentos, procurando desenhar uma imagem com maior definição do Passado, da Memória coletiva e do Património. 4 | APONTAMENTOS


COORDENAÇÃO EDITORIAL | Luís Sebastian, Nuno Resende COORDENAÇÃO CIENTÍFICA | Nuno Resende AUTORES DOS TEXTOS Ana Sampaio e Castro Ana Cristina Sousa Célia Taborda David Ferreira Hugo Barreira Lúcia Rosas Luís Corredoura Luís Sebastian Maria Leonor Botelho Manuel Pedro Ferreira Miguel Rodrigues Nuno Resende Salvador Magalhães Mota DESIGN GRÁFICO | Cristina Dórdio FOTOGRAFIA | Ana Sampaio e Castro; Biblioteca Nacional Digital; Bruno Marques. DCRN ©; Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa; Diocese de Lamego; Hugo Pereira. DRCN ©; Instituto Geográfico do Exército; José Pessoa. Museu de Lamego. DRCN ©; Luís Corredoura; Luís Sebastian. Museu de Lamego. DCRN ©; Nuno Resende; Pedro Martins. DRCN ©; Sofia Catalão. DRCN ©; PRODUÇÃO | Outros Mercadus EDIÇÃO | DCRN | Museu de Lamego | Vale do Varosa FINANCIAMENTO | DRCN / ON2, O Novo Norte | QREN | FEDER | UE ISBN | 978-989-98657-9-2

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conferências

Debate e partilha marcam as 3 Conferências do Museu de Lamego Foram muitos os contributos que esta segunda-feira, 20 de julho, ajudaram a compreender aquele que ficou conhecido como o Motim de Lamego. Foi há 100 anos e nele morreram 12 pessoas entre as mais de 5 mil que se uniram junto da Câmara Municipal de Lamego em sinal de revolta e de defesa da denominação de origem do vinho do Porto, contra as imitações que o Tratado luso-britânico de 1914 facilitava, ao considerar como vinho do Porto qualquer vinho oriundo de Portugal e não apenas do Douro. Foi este o tema que dominou as 3ªs Conferências do Museu de Lamego/CITCEM, sem nunca esquecer que o Douro foi palco de muitos outros movimentos políticos e sociais. Foram muitos os contributos que esta segunda-feira, 20 de julho, ajudaram a compreender aquele que ficou conhecido como o Motim de Lamego. Foi há 100 anos e nele morreram 12 pessoas entre as mais de 5 mil que se uniram junto da Câmara Municipal de Lamego em sinal de revolta e de defesa da denominação de origem do vinho do Porto, contra as imitações que o Tratado luso-britânico de 1914 facilitava, ao considerar como vinho do Porto qualquer vinho oriundo de Portugal e não apenas do Douro. Foi este o tema que dominou as 3ªs Conferências do Museu de Lamego/CITCEM, sem nunca esquecer que o Douro foi palco de muitos outros movimentos políticos e sociais.

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Entre o Liberalismo e a Democracia foram cerca de

Esses olhares passaram pela visão do então jovem

uma dezena as intervenções que ao longo do dia foram

jornalista que trouxe a debate fragmentos de abril no

dando nota do papel dos “Gigantes do Douro”, título

Douro. Augusto Macedo recordou momentos de grande

da comunicação de Otília Lage, recordando o

tensão, equivalentes aos do Motim de Lamego, mas

homónimo filme que Manuel de Oliveira deixou por

agora em 1975, com os lavradores a manifestarem-se

realizar em homenagem à região.

na Casa do Douro, no Peso da Régua.

E terão sido gigantes os durienses que ao longo do

As Invasões Francesas e o seu impacto no Norte de

último século foram enfrentando as diversas crises

Portugal e região de Trás-os-Montes, a revolução

económicas e sociais que se foram impondo, como

liberal e a ação coletiva no Douro a propósito das

ficou bem patente ao longo de todo o dia. Vários foram

movimentações da «Maria da Fonte» foram temas em

os olhares que se cruzaram, com o contributo de uma

cima da mesa, com o investigador António Monteiro

audiência de mais de meia centena de participantes,

Cardoso, da Universidade Nova de Lisboa, a afirmar,

que não se privou de dar um contributo importante ao

por exemplo, que “não há um Douro, há Douros”.

debate.

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EMas o Motim de Lamego seria de facto o tema que

um momento histórico de consagração da

dominaria todo o debate, arrancando logo ao início da

denominação de origem «Porto» para os vinhos

manhã com a comunicação do norte-americano Shawn

generosos da Região Demarcada do Douro,

Parkhurst. Professor da Universidade de Louisville,

constituindo o culminar do movimento de contestação

antropólogo e apaixonado pelo Douro, chegou à região

duriense ao Tratado luso-britânico de 1914.

no início da década de 90 do século passado para

Num contexto de crise comercial do vinho do Porto, em

estudar uma pequena aldeia e desde aí nunca mais

que proliferavam falsificações baratas, os durienses

deixou de regressar.

reagiram com um vasto conjunto de movimentações,

O investigador fez uma abordagem multidisciplinar do

tanto das elites vinhateiras como das camadas

que teria acontecido no dia 20 de julho de 1915, para

populares. O desfecho sangrento do motim de Lamego

que a manifestação dos agricultores tivesse terminado

transformou esse acontecimento num momento

com 12 mortes e chegou à conclusão que as diversas

histórico de consagração da denominação de origem,

visões não explicam por si só os acontecimento e que

elevando os seus atores à condição de heróis-mártires

ainda haverá muito para descobrir. Deixou, no

da causa regional. Quanto a responsabilidade, estas

entanto, uma proposta de casamento entre disciplinas

foram descartadas quer pela Câmara de Lamego, quer

há muito divorciadas no Douro. Para Parkhurst, a

pela Guarda. A versão oficial acusa o povo de ter

História, a Antropologia e a Literatura, e porque não a

provocado as forças militares. A perceção popular, essa

Geografia também, como assinalou, deveriam voltar a

seria muito diferente e foi muito discutida durante o

unir-se e assim poderem dar uma visão de conjunto ao

tempo de debate que se seguiu às comunicações.

Motim de Lamego.

As 3as Conferências do Museu de Lamego/CITCEM são

A Literatura foi, aliás, tema da comunicação de João

assim e cada vez mais uma plataforma de divulgação,

Luís Sequeira, com uma abordagem à vida e obra de

promovendo a partilha de conhecimento. Até ao final

Pina de Morais, autor de “Sangue Plebeu”, baseado em

do ano estarão disponíveis estas e outras conclusões

gentes e acontecimentos reais, em particular o Motim

nas Atas das Conferências, online e de acesso livre.

de Lamego, lembrando que por detrás da paisagem, hoje classificada de Património da Humanidade, há o trabalho e o sacrifício de muitos homens e mulheres. A finalizar as 3as Conferências do Museu de Lamego, a comunicação de Carla Sequeira sobre o ação de Antão de Carvalho enquanto líder do movimento regional, na defesa da denominação de origem «Porto» e de Gaspar Martins Pereira que classificou o Motim de Lamego como “o acontecimento de maior impacto no Douro”, 8 | APONTAMENTOS


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museu em imagens

Museu em Imagens em agosto Até ao final do mês de agosto, o Museu de Lamego traz até ao Pátio a rubrica “Museu em Imagens”. Sempre aos fins de semana, sob a forma de projeção multimédia, revela-se a riqueza das coleções, apelando à curiosidade, deixando o convite à visita, divulgando o património do Museu de Lamego. A mulher, a fauna e a flora, o traje e as joias e o Oriente foram os temas em destaque durante o mês de julho. Em agosto, o Museu em Imagens revela a paisagem, o restauro, a criança, o Vale do Varosa e a escrita nas coleções do Museu. ENTRADA LIVRE | 21h30

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um ano.um tema

UM ANO. UM TEMA | agosto A frase latina “Restituet omnia” foi utlizada como divisa da Academia Real de História Portuguesa (1720-1776), traduzindo o seu objetivo de escrever a História de Portugal e assim restituir ao mundo o conjunto de ações gloriosas dos portugueses. Restituet omnia" é também o título da gravura que em agosto está em destaque na rubrica “Um Ano. Um Tema”. Trata-se de uma portada alegórica gravada a partir do desenho de Vieira Lusitano e aberta por Pedro Rochefort, um dos mais conceituados gravadores estrangeirosl, que vieram para Portugal durante o reinado de D. João V.

Datada do século XVIII, a estampa é dominada pela figura feminina que personifica a História, segurando numa mão uma romã, símbolo do conjunto de indivíduos que formam a sociedade humana e na outra uma lima, sinal do apuro e sentido crítico das pesquisas históricas. O dramaturgo, historiador e memorialista Júlio Castilho, que no seu Amores de Vieira Lusitano (1901) nos oferece uma das melhores descrições desta alegoria, admite que a figura feminina em primeiro plano poderá ter tido como o modelo Dona Inês Helena de Lima e Melo, com quem Vieira Lusitano viveu uma muito conturbada, mas com um final feliz, história de amor contrariado. Castilho observa na lima uma clara reminiscência do apelido de Inês e na romã uma alusão iconográfica a Prosepina, separada de Plutão e só passados seis meses restituída. O mesmo autor refere ainda ver o nome de Inês inscrito na placa pendente do pescoço desta figura, em carateres possivelmente hebraicos. Esta gravura foi aberta por três artistas, surgindo com três subscrições diferentes, conforme os gravadores que a

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um ano.um tema

abriram (Vieira Lusitano, François Harrewyn e Pedro Rochefort) em diversas obras saídas dos prelos da tipografia da Academia Real de História Portuguesa. A "História Genealógica da Casa Real", de António Caetano de Sousa, de que foram publicados 19 volumes de 1735 até 1748, é a principal. Com a fundação da Academia Real de História Portuguesa, em 8 de dezembro de 1720, por D. João V, estabelece-se a primeira oficina de gravura conhecida, onde trabalharam importantes artistas nacionais e estrangeiros. Para além do pintor e ilustrador português, Vieira Lusitano, a Academia contratou burilistas franceses e flamengos, LEGENDA

"Restituet omnia"

entre os quais François Harrewyn e Pedro Rochefort, que estabelecido em Paris, na rua de St. Jacques au Palmier,

Pedro Rochefort (a partir de) Vieira Lusitano;

veio para Portugal em 1728. É possível que esta gravura

José António da Silva (editor)

tenha sido adquirida na década de 1930 pelo Grupo de

Lisboa

Amigos do Museu Regional de Lamego, numa altura em que

1739 Tinta e papel

exemplares desta gravura eram relativamente comuns no

Museu de Lamego, inv. 934

mercado embora, por vezes, atingindo preços

Compra: Grupo de Amigos do Museu Regional de Lamego

exorbitantes.

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loja do museu

SUGESTÕES De terça a domingo, das 9h30 às 18h00.

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Museu de Lamego Largo de Camões 5100-147 Lamego

Tel: (+351) 254600230 E-mail: mlamego@culturanorte.pt Site: www.museudelamego.pt Facebook: www.facebok.com/museu.de.lamego

Horário De terça-feira a domingo, das 9h30 às 18h00. Encerra às segundas-feiras. Gratuito no primeiro domingo do mês.

Serviço Educativo Visitas orientadas/comentadas à exposição permanente e exposições temporárias, mediante marcação prévia.

Biblioteca De terça a sexta-feira, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00, mediante contacto prévio.

Auditório 100 lugares

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