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concerto
mosteiro de são joão de tarouca
APONTAMENTOS
setembro|outubro 2016
destaque
CANTO CISTERCIENSE “ENCHEU” IGREJA DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA Mais de uma centena e meia de pessoas aceitou o desafio e no passado sábado, dia 10 de setembro, participou no concerto de Canto Cisterciense no Mosteiro de São João de Tarouca. Numa atmosfera intimista, foi recriado o ambiente sonoro e visual da oração cisterciense, sempre com a garantia da direção científica e artística de Manuel Pedro Ferreira, docente, investigador e diretor do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (CESEM) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Com base em investigação, este foi um evento que recuou ao tempo em que os monges ali viveram e quando a oração ainda ditava a organização do tempo no seio das comunidades monásticas. O cadeiral do século XVIII voltou a ser protagonista ao receber os “monges” e o Canto Cisterciense, num evento que, ao mesmo tempo, aposta na divulgação do património cultural da região. Por isso, o programa do dia arrancou bem antes, com uma visita especializada ao Mosteiro de São João de Tarouca e Horto Monástico, onde não faltou um chá gelado. Esta foi ainda uma oportunidade única de “entrar” no seio da vivência cisterciense, uma vez que os mosteiros cistercienses ainda em funcionamento continuam a cumprir todos os rituais, mas, de acordo com a Regra, à porta fechada. O concerto de Canto Cisterciense é uma iniciativa do Museu de Lamego, projeto Vale do Varosa e Município de Tarouca, com o apoio da Liga dos Amigos do Museu de Lamego, Associação Inovterra e FNAC. 3 | APONTAMENTOS
em exposição
FACES
São fisionomias, rostos, perfis, homens e mulheres, anónimos ou célebres, que marcam gestos e se ligam à cidade e ao Museu de Lamego. São doadores e legatários, são faces singulares que se unem na salvaguarda da memória individual e coletiva e que contribuem desde 1917 para o enriquecimento do acervo do Museu de Lamego. FACES é também o título da segunda exposição do centenário da Fundação do Museu (1917-2017). Patente até março de 2017. Entrada livre. Visite!
Exposição Retrato e identidade Portraits and identities in donations and legacies of the Lamego Museum Exhibition st
st
21 maioMay2016 | 31 marçoMarch2017 organização | organization
apoio | support
mecenato | sponsor
Beira Douro
Museu de Lamego Largo de Camões 5100-147 Lamego PORTUGAL . Tel +351 254 600 230 . mlamego@culturanorte.pt . www.museudelamego.pt . /museu.de.lamego
concerto
MÚSICA EM MOVIMENTO NO MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE SALZEDAS “Os Caminhos da Música Espiritual entre a Europa e a América do Sul” vão cruzar-se no próximo dia 21 de outubro, pelas 21h00, no Mosteiro de Santa Maria de Salzedas. O concerto, que traz ao espaço da sacristia o Ensemble Americantiga e o Quarteto Atégina, está integrado num ciclo de programação musical mais vasto, que vai ainda chegar às aldeias vinhateiras de Provesende e Trevões.
Construído em parceria com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, o Conservatório Regional de Música de Vila Real, a Douro Generation e a Rede de Aldeias Vinhateiras, o ciclo de música “Caminhos de Mateus” propõe um repertório de música antiga e barroca de compositores de Portugal e de países da América Latina. O Vale do Varosa associa-se à iniciativa, sendo o Mosteiro de Santa Maria de Salzedas o eleito para mais este evento cultural.
Mais informação em www.valedovarosa.pt
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edições
AUTO DE CONTAS DA MITRA DE LAMEGO DO SÉC. XVIII EM DESTAQUE NA INVENTA MUSEU 5 O “Auto de Contas da Mitra de Lamego: 1735-1736” é a peça em destaque no número 5 da revista “INventa Museu”, que volta a incidir sobre o espólio documental. Canal de comunicação privilegiado da secção de inventário do Museu de Lamego, o lançamento desta edição serve também de mote para relembrar o papel da Liga dos Amigos do Museu de Lamego (LAML) como um parceiro efetivo no enriquecimento das coleções do museu, materializado na oferta deste documento que agora dá forma a mais esta publicação online.
Leiloado em dezembro de 2011 no Palácio do Correio Velho, em Lisboa, o Auto faz parte de um dois lotes de documentos manuscritos, dos séculos XVII e XVIII, importantes fragmentos da história eclesiástica da Diocese de Lamego, adquiridos por um grupo de amigos da LAML. No número 5 da “INventa Museu” o documento merece um tratamento detalhado, que inclui a transcrição de quase 200 páginas e onde é feito o relato das contas pagas pela Mitra da Sé de Lamego entre 28 de Julho de 1735 e 26 de Setembro de 1736, num período em que a diocese se encontrava sem bispo. Tendo já passado pelo estudo de uma “Cruz relicário Indoportuguesa”, da “Bíblia de Lamego”, da fotografia com a ”A Criança, o Brinquedo e o Jogo” e dos medalhões de cera do retábulo relicário de São João Evangelista, a revista online INventa Museu tornou-se, desde janeiro de 2015, numa “montra” para o trabalho realizado em contínuo pela Secção de Inventário do Museu de Lamego, partilhando de forma aberta e abrangente, com investigadores e público em geral, não só as coleções do museu, mas igualmente o conhecimento produzido pelo seu estudo, como base fundamental para o seu inventário. Disponível no site do Museu de Lamego em www.museudelamego.pt 16 | APONTAMENTOS
INventa MUSEU | Revista da Secção de Inventário | n.º 05 DIREÇÃO EDITORIAL Luís Sebastian TEXTOS Georgina Pinto Pessoa Luís Sebastian Manuela Vaquero CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS José Pessoa Colaboração Helena Lemos DESIGN E COMPOSIÇÃO Paula Pinto COMUNICAÇÃO Patrícia Brás EDIÇÃO Museu de Lamego | Direção Regional de Cultura do Norte DATA DE EDIÇÃO setembro de 2016 ISSN 2183-4482 17 | APONTAMENTOS
um ano. um tema
UM ANO. UM TEMA Tumulária do Museu de Lamego e Vale do Varosa
Depois do túmulo tradicionalmente atribuído à fundadora do mosteiro, Dona Teresa Afonso, em destaque no mês de agosto, a rubrica UM ANO. UM TEMA permanece na Rede de Monumentos Vale do Varosa e no Mosteiro de Santa Maria de Salzedas e detém-se no panteão familiar dos Coutinho, titulares do condado de Marialva, através do estudo de dois túmulos que se encontram embutidos em cada uma das paredes da entrada lateral sul da igreja.
Tumulária dos Coutinho Do panteão familiar dos Coutinho, titulares do condado de Marialva, conservam-se no Mosteiro de Santa Maria de Salzedas dois túmulos, que se encontram embutidos em cada uma das paredes da entrada lateral sul da igreja, do lado oposto do muro para onde foi tresladado, no século XIX, o túmulo tradicionalmente atribuído à fundadora do mosteiro, Dona Teresa Afonso, em destaque no mês passado [http://bit.ly/UmAnoUmTema8]. Apeados do seu contexto original por sucessivas campanhas de obras ocorridas no interior da igreja a partir do século XVI, tal como no exemplar anterior, apenas uma das faces longas de cada um dos túmulos se encontra acessível, não sendo possível determinar, na ausência de um trabalho de prospeção arqueológica, se as respetivas arcas se conservam embutidas na parede. Ambas são encimadas por placas epigráficas, colocadas em data incerta, provavelmente no século XIX, reproduzindo antigos epitáfios, com a identificação dos tumulados. Nas placas da esquerda, podem ler-se os nomes de Dom Vasco Coutinho, 1.º Conde de Marialva (1401-1451) e de Dona Maria de Sousa, sua mulher, falecida em 1472. 18 | APONTAMENTOS
Fig. 1 | Túmulo de D. Vasco Coutinho, 1.º conde de Marialva (n. 1401-1451) e de sua mulher D. Maria de Sousa (f. 1472). Igreja do Mosteiro de Santa Maria de Salzedas © Museu de Lamego. José Pessoa
A face de sepultura conjugal correspondente (fig. 1) apresenta como tema decorativo um friso heráldico, comum nos monumentos funerários góticos, de modo a sublinhar a condição social dos tumulados e de imortalizar a sua memória de modo individualizado. A percorrer toda a superfície, a repetição de escudo de armas inserido em medalhão polilobado, entre cadernas de crescentes emolduradas por círculos e ramagem estilizada. O escudo, de tipo francês, partido, apresenta as armas dos Coutinho e dos Sousa (de Arronches): I de ouro, com cinco estrelas de cinco raios de vermelho, postos em sautor (Coutinho), II de prata, com cinco escudetes de azul em cruz, cada um carregado de cinco besantes do campo em aspa, cortado, de vermelho com uma caderna de crescentes de prata (Sousa) (ZUQUETE, 1961:184-185; 510511). Na parede oposta, a lápide identifica a sepultura de D. João Coutinho (n. 1450), neto dos anteriores e herdeiro do título de 3.º Conde de Marialva. Com casamento ajustado com Dona Catarina, filha de D. Fernando I de Bragança, este não se chegou a realizar por morte do noivo, em 1471 quando ainda não tinha completado 22 anos, ao serviço de D. Afonso, durante a conquista de Arzila (OLIVEIRA, 2004: 48).
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Fig. 2 | Túmulo de D. João Coutinho, 3.º conde de Marialva (n. 1449-1471). Igreja do Mosteiro de Santa Maria de Salzedas © Museu de Lamego. José Pessoa
Também neste sarcófago (fig. 2) se optou por iconografar a heráldica do tumulado, com a repetição do brasão de armas dos Coutinho ao longo da face, com escudo encimado por uma representação esquemática e fruste de um elmo, voltado à dextra, sobre o qual assenta virol, timbre (não identificado) e pluma flabeliforme (fig.3). Do escudo dimana profusa decoração formada por folhagem de acanto, ocupando todo o espaço disponível, que deriva de uma estilização do paquife, espécie de capelo ou véu usado pelos cavaleiros sobre o elmo, para se protegerem do sol (RIBEIRO, 1907: 121). Contrariamente aos dois escudos apostos lateralmente, que surgem representados na vertical, o brasão central surge ligeiramente inclinado para a esquerda do observador, em estilo “au ballon” (ao balão). Muitas vezes confundido, infundadamente, como sinónimo de bastardia, este tipo de representação, influenciado por modelos vindos da Alemanha e da Flandres, esteve muito em voga sobretudo entre os séculos XVI e XVIII, embora sejam conhecidos exemplares anteriores. Um dos modelos quinhentistas mais expressivos da sua aplicação é constituído por numerosas iluminuras incluídas na colectânea de armas heráldicas datada de 1509, Livro do Armeiro-Mor (fig. 4).
Fig. 3 - Armas dos Coutinho. Túmulo de D. João Coutinho, 3.º conde de Marialva © Museu de Lamego. José Pessoa
Fig. 4 - Armas do conde de Marialva. In Livro do Armeiro-Mór, 1509, fl. 48v. © ANTT
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Os túmulos armoriados de Salzedas traduzem de modo muito evidente a importância que tinha, para além da escolha do local da sepultura, o uso da heráldica, como principal sinal de identidade e de afirmação de poder, fenómeno a que os Coutinho estavam particularmente sensíveis, pelo menos desde a refundação da linhagem em finais do século XIV, até meados do seguinte, quando se consolida a sua posição no topo da pirâmide social nobiliárquica. Com efeito, os Coutinho descendem de um couteiro (funcionário administrativo), Estêvão Martins, que ascendeu à nobreza por casamento com uma dama da família Fonseca, D. Urraca Rodrigues, que era detentora do couto de Leomil. Dessa forma, Estêvão Martins tomou posse de algumas jurisdições nas terras do couto, cuja insignificância terá dado origem à alcunha “Coutinho”, com que passaram a ser conhecidos os seus descendentes. É a partir do neto, Vasco Fernandes Coutinho (f. 1384), escudeiro de D. Pedro I, que a família progressivamente ascende até conseguir um lugar entre as principais famílias do reino. É também muito provavelmente o mesmo Vasco Fernandes Coutinho, procurando talvez reatar a relação dos seus antepassados com o mosteiro de Salzedas - uma sua tia bisavô, Sancha Vicente, fora aí tumulada (FERNANDES, 1950 p. 10, n.4) –, o responsável por ter escolhido o esse espaço cisterciense para panteão da linhagem (OLIVEIRA, 1999: p.42), iniciando uma tradição familiar que perduraria no século XV. Assim sucedeu com a sua primeira mulher, Dona Beatriz Gonçalves de Moura, cujo funeral, em 1418, se transformou num verdadeiro acontecimento nacional, trazendo praticamente quase toda a corte ao mosteiro de Salzedas, testemunhando a importância social e política da linhagem. Ainda que frugalmente, e ofuscado por notícias do primeiro ataque pelos mouros a Ceuta, o episódio ficou documentado por Gomes Eannes de Zurara, na Chronica do Conde D. Pedro de Meneses:
Elrey estava indo nos Paços da Serra … e tanto que o recado passou per Lisboa, logo os Infantes forom com Elrey. E por quan// quanto naquelle encejo se finara Beatris Gonçalves de Moura, que fora mulher de grandes parentes, e criados, easy a mayor parte da corte forom com ella, até que a pozerom no mosteiro de Salzedas, onde tem sua sepultura (ZURARA, 1792: 461-462)
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Tal manifestação de solidariedade deve-se ao destaque que os Coutinho usufruíam na corte, com vários dos seus membros a ocupar cargos na casa da rainha: a própria Dona Beatriz fora aia de D. Filipa de Lencastre, tendo o filho, Gonçalo Vasques, ocupado o cargo de camareiro-mor, uma das filhas, Teresa, o de camareira-mor, encontrando-se outra das filhas, de nome Leonor, entre as cinco donzelas da rainha (OLIVEIRA, 1999: 39). Infelizmente que de antigas sepulturas dos Coutinho parece não restarem quaisquer vestígios materiais na igreja de Salzedas, onde estavão muitas sepulturas de pessoas nobres E fora della, das quais a maior parte desfizerão os Abbades biennais [sic] para despejarem a Igreja (REIS, 1936: 21), com excepção, por muitos óbvios, para além do túmulo [dito] Dona Teresa Afonso, as duas sepulturas que, como se viu, pertenceram aos primeiros e terceiro condes de Marialva, aí conservadas como marca inequívoca do poder e domínio que os Coutinho detiveram na região. Com a morte prematura de D. João Coutinho é Francisco Coutinho (c. 1452-1532), irmão do primeiro, a herdar o título de 4.º e último conde de Marialva, que embora se tenha feito enterrar no convento que funda em Ferreirim, mantém a ligação a Salzedas, onde manda instituir capela (OLIVEIRA, 1999: 49). O seu sepulcro, que analisaremos no próximo mês, corresponde a um tipo de monumento funerário saído dos estaleiros da Batalha, que teve larga aceitação em Portugal, com a arca feral integrada na parede, sobrepujada por arcossólio. Referências bibliográficas: CRÓ, João (1509) – Livro do Armeiro-Mor, 1509. Disponível em: http://digitarq.arquivos.pt/details?id=4162406. FERNANDES. A. Almeida (1950) – Os Bezerra e a Torre Senhorial de Ferreirim. Separata da revista «Acção Católica». Braga. OLIVEIRA, Luís Filipe (1999) – A casa dos Coutinho. Linhagem, Espaço e Poder (1360-1452). Cascais: Patrimonia. OLIVEIRA, Luís Filipe (2004) – Outro Venturoso de Finais do Século XV: Francisco Coutinho, Conde de Marialva e Loulé. Separata do livro «A alta nobreza e a fundação do Estado da Índia», Colóquio Internacional, Actas. Lisboa. REIS, Fr. Baltasar dos (1936) - Breve relação da fundação e antiguidade do Mosteiro de Santa Maria de Salzeda. Lisboa: Biblioteca Nacional de Lisboa. RIBEIRO, J. A. Corrêa Leite (1907) – Tratado de Armaria. Lisboa: Empreza da Historia de Portugal. Sociedade Editora. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins (dir. e coord.) (1961) – Armorial Lusitano, Lisboa: Editorial Enciclopédia, Lda. Disponível em: http://web.archive.org/web/20071014021738/http://armorial1.no.sapo.pt/c.htm ZURARA, Gomes Eannes de (1792) – Chronica do Conde D. Pedro de Menezes. In «Collecção de Livros Inéditos de Historia Portugueza», T. II. Lisboa: Officina da Academia Real das Sciencias de Lisboa.
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SUGESTÕES De terça a domingo, das 10h00 às 18h00.
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Biblioteca De terça a sexta-feira, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00, mediante contacto prévio.
Auditório 100 lugares
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Exposição Retrato e identidade Portraits and identities in donations and legacies of the Lamego Museum Exhibition st
st
21 maioMay2016 | 31 marçoMarch2017