Histórias [im]prováveis | Concurso Escolar | Textos Vencedores

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TEXTOS VENCEDORES organização

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ÍNDICE [03]_APRESENTAÇÃO [05]_PRÉMIOS [06]_“A sege mágica” Juliana Gouveia [10]_“Um segredo para a vida toda” Carolina Gonçalves Ribeiro [14]_“Faz o bem sem saber a quem” Luís Pedro da Cunha Martins [17]_MENÇÕES HONROSAS [18]_“A Camponesa” Leonarda Rosa Rebelo [20]_“Vou p'ró mar, meu amor” Ana Isabel Fernandes Rodrigues


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[im[ PROVÁVEIS Inserido na programação da Semana da Leitura, em março passado, o Museu de Lamego e a Rede de Bibliotecas de Lamego lançavam a 1.ª edição de um concurso de escrita criativa, destinado às escolas do concelho de Lamego. Com o objetivo de incentivar a criatividade e de sensibilizar para as coleções do Museu de Lamego e, por essa via, para a importância do património, o concurso teve como ponto de partida as obras de arte do museu, para o desenvolvimento de um texto narrativo ou poético. Terminado o prazo para a entrega dos trabalhos, o júri, constituído por seis elementos representantes das entidades promotoras e pela Embaixadora do Museu para a Educação, Marina Valle, reuniu no passado dia 2 de julho, no Museu de Lamego, para proceder à seleção das cinco melhores composições e à atribuição dos prémios, que ficaram assim distribuídos: 1.º Prémio – “A SEGE MÁGICA”, Juliana Gouveia [Escola de Latino Coelho, 9.º ano B] 2.º Prémio – “UM SEGREDO PARA A VIDA TODA”, Carolina Gonçalves Ribeiro [Escola de Latino Coelho, 9.º ano B] 3.º Prémio – “FAZ O BEM SEM SABER A QUEM”, Luís Pedro da Cunha Martins [Escola de Latino Coelho, 9.º ano B] Menções honrosas: - “A CAMPONESA”, Leonarda Rosa Rebelo [Escola de Latino Coelho, 9.º ano B] - “VOU P'RÓ MAR, MEU AMOR”, Ana Isabel Fernandes Rodrigues [Escola de Latino Coelho, 9.º ano B] A cerimónia de entrega dos prémios, oferta do Continente Modelo -Lamego®, terá lugar, em novembro, no âmbito das Jornadas da Rede de Bibliotecas de Lamego. Alexandra Falcão Diretora do Museu de Lamego


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“A SEGE MÁGICA” 1.º PRÉMIO JULIANA GOUVEIA ESCOLA LATINO COELHO, 9.º ANO B

SEGE Finais do século XVIII Madeira, couro, ferro, linho e seda Proveniente do antigo paço episcopal de Lamego Inv. ML 335 © Museu de Lamego

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Num dia normal no Museu de Lamego preparava-se tudo para a primeira visita escolar, que passaria pelos meios de transporte antigos. A primeira turma chegou, preparada e ansiosa pela sua visita. Patrícia observou, curiosa, a sege em exposição, e escolheu-a como tema para o seu trabalho.

- Onde me levas? - Vamos apenas dar um passeio. Olha ali, por aquela janela. Vês aquela menina acordada a meio da noite, a chorar na almofada? - Sim, mas e daí? - Eu sei que sofres muito pela tua aparência, estou aqui para te provar que não és a única que sofre com esse tipo de problemas.

Nessa noite, Patrícia dormia tranquilamente, depois de um dia inteiro lidando com o preconceito das pessoas devido à sua estrutura corporal quando, de repente, a janela se abriu e surgiu uma corrente de ar que fez a menina despertar. Algo de estranho se passava.

- Como é que vou saber se esse é o verdadeiro motivo? Podem ser problemas de família, ou amigos.

- Onde está a minha mesinha de cabeceira? A minha cama? O meu quarto? Estou a voar?

- Patrícia, olha para a menina, achas que são problemas familiares? Pois bem, seguiremos.

De facto não estava a voar, mas a percorrer a cidade na sege, durante a noite.

Patrícia passou a noite toda a visitar casas como a daquela menina. Até que surgiu uma diferente.

- Onde estou? Como está isto a acontecer?

- Patrícia, vês aquela?

- Calma, estás segura. Nada de mal te irá acontecer – disse uma voz vinda da sege.

- Sim vejo, mas não tem nada de parecido com o meu problema. E não estou a ver como esta viagem me irá ajudar!

- Quem és tu? Porque estou eu aqui contigo?

-Tem mais do que tu pensas! Mas sabes qual a grande diferença entre ti e ela? Ela aceita-se e luta todos os dias para que, por ser diferente, não ser discriminada! Tem objetivos! É uma ótima aluna. E tem amigos que, por ser tão determinada e corajosa, estão ao seu lado para a apoiar sempre.

A menina estava realmente apavorada. - Sou eu, a sege. Talvez estivesses à espera de uma fada ou de um génio, mas quem te irá ajudar sou eu! - Como será isso possível? As seges não andam sozinhas! Nem muito menos falam! Eu devo estar a sonhar! Decerto que estou! - Nada disso, mas acalma-te que logo estarás de volta a casa.

A partir dessa noite, Patrícia e a sua nova melhor amiga, a sege do museu, depois dos pais da menina adormecerem, saíam e deixavam em cada casa uma mensagem de motivação para cada menina ou menino que passasse pela mesma situação de Patrícia. Até ao dia em que a sege teve de voltar para o museu.

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- Hoje vim para me despedir, tenho de voltar para o museu. - Como assim? Não podes ir, tens de ficar comigo. Ainda há muitas pessoas que precisam da nossa motivação. - Desculpa, mas tem de ser, no museu precisam de mim. - Eu entendo, mas irei ter muitas saudades dos nossos passeios. - Eu também, mas a minha porta estará sempre aberta para ti, nas tuas visitas ao museu que, espero agora, sejam mais regulares. - Irão ser, com certeza. No dia seguinte, Patrícia apresentou à turma o seu trabalho sobre a sege, onde acrescentou uma última frase: “Transportou muita gente, agora é a minha vez”, apesar de só ela saber o seu significado verdadeiro. Muitos foram os comentários sobre ela: - Vais transportar as pessoas às costas? - Que burra! - Respeitem a apresentação da vossa colega! – exclamou a professora. Nessa tarde, Patrícia voltou ao museu e contou tudo à sege. Muitos diziam que era maluca por estar a conversar com um objeto, mas ela sabia que não e o que importava era o que ela pensava.

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“UM SEGREDO PARA A VIDA TODA” 2.º PRÉMIO CAROLINA GONÇALVES RIBEIRO ESCOLA LATINO COELHO, 9.º ANO B

SANTA LUZIA André Reinoso (atrib.) 1630-1640 Óleo sobre madeira de castanho Proveniente da Sé de Lamego Inv. ML 113 © Museu de Lamego

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Ainda não sei como tudo isto aconteceu. E vocês também não vão acreditar. Mas nada acontece por acaso e o motivo, esse, irão descobrir mais à frente. Era uma linda tarde de verão e eu estava no museu. Mas quem vai para o museu numa linda tarde? Só eu. Já tinha visto o que lá havia para ver. Conhecia todos os cantos daquele maravilhoso edifício. Mas nunca tal coisa me tinha acontecido. Estava eu na zona dos quadros, a contemplar o mini retrato de Santa Luzia, quando ela apareceu mesmo ao meu lado. Saltei de susto. Como poderia estar aquilo a acontecer? Mas era mesmo ela… Como viu que fiquei assutada e imóvel, tomou-me pela mão e, puxandome levemente, levou-me a passear por aqueles longos e esplendorosos corredores. Disse: - Minha querida, não te assustes, eu não te vou fazer mal. Vou apenas contar-te a minha história. Vivia numa família rica e prestigiada. Vivia feliz, naqueles recantos da cidade. Só não gostava do facto de me nomearem como a jovem mais bonita, pois acho que a beleza vem de dentro e não é apenas o exterior que conta. A sua voz era calma e doce. Eu, ainda incrédula, apenas a fitava sem conseguir desvirar os olhos, sem dizer uma única palavra. Consegui então atravessar aquela imensa confusão e perguntei: - Como é que tu nos estás a guiar se nem tens olhos? - Bonita, perspicaz e observadora, não podia ter escolhido melhor pessoa a quem passar o testemunho. Sim, minha querida, não tenho olhos, pois mos arrancaram, mas isso agora é uma história muito longa que ficará

para outra altura. Mas não é o facto de não ter olhos que me impede de ver. Interrompi-a logo. Acho que já não era essa parte que me mais interessava. Não me saía da cabeça a parte de “passar o testemunho”. O que quereria ela dizer com aquilo? Perguntei-lhe e ela respondeu: - Tem calma, meu anjo, não te assustes. Vamos diretas ao assunto que me trouxe aqui. Sabes a história dos três meninos que viram a Nossa Senhora de Fátima? - Claro, uma história linda. Não posso acreditar! – exclamei eu chocada – também estou a ver uma santa? Como pode isto acontecer? - Acalma-te! – disse abraçando-me levemente – Sim, pequenina, eu estou aqui mesmo à tua frente. Tu até podes ir lá para fora contar que me viste, mas ninguém vai acreditar em ti. Mas vou direta ao assunto para te acalmares. Então: cada santo pode escolher uma pessoa à qual vai aparecer e proteger até ao fim. E eu escolhi-te. - A mim? Mas porquê? - Eu já te tinha visto inúmeras vezes neste museu, e mal te vi, percebi que eras uma menina sensível. Então, segui todos os teus passos e apercebime de que carregas um passado doloroso que nem todas as jovens com a tua idade conseguem suportar. E agora aqui estou eu para te dizer que te vou seguir para o resto da tua vida. Vou ser como um anjinho da guarda, pode ser? - Claro que pode, mas eu já cometi pecados… - Sim. Mas não há ninguém que não os cometa. Mas tu, ao contrário de todos os outros, cometes os pecados, mas logo a seguir fazes todos os

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possíveis para os emendar. Por isso, vou-te ajudar em tudo o que tu precisares e, sempre que sentires que estás sozinha, ou indecisa, chamame e eu logo nesse preciso momento irei aparecer e ajudar-te. - Muito obrigado – disse eu abraçando-a com toda a força que tinha. E lá ficamos naquele mágico museu a conversar. E podem não acreditar, mas o meu anjinho da guarda está aqui ao pé de mim, e eu vou fazer todos os possíveis e os impossíveis para que nunca saia da minha vida.

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“FAZ O BEM SEM SABER A QUEM” 3.º PRÉMIO LUÍS PEDRO DA CUNHA MARTINS ESCOLA LATINO COELHO, 9.º ANO B

SÃO FRANCISCO E SÃO BENTO André Reinoso (atrib.) 1630-1640 Óleo sobre madeira de castanho Proveniente da Sé de Lamego Inv. 67 © Museu de Lamego

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Numa noite de inverno, Francisco convidou S. Bento para jantar lá em casa. Preparou um frango assado para o jantar. Ele não tinha muito, mas preparou tudo para lhe agradar. Estava tudo pronto e a mesa posta, quando alguém bateu à porta. Francisco foi abrir. Era um pedinte, estava faminto e pediu alguma coisa para comer. Como Francisco só tinha o frango preparado pensou: - E agora, o que é que eu faço? Se tirar alguma coisa do frango, S. Bento vai dar conta que eu mexi nele. Mas, com pena do pedinte, tirou uma coxa e deu-lhe para ele comer. O mendigo agradeceu muito e foi embora. Voltaram a bater à porta e Francisco interrogou-se: - Quem será agora, será que é S. Bento?

começou a falar: - Estou satisfeito com as duas coxas que me preparaste. Hoje sem saberes bati à tua porta duas vezes, estava com fome e tu alimentaste-me. Tudo o que fizeste aos pobres, às crianças e aos animais, farás a Deus. Já tinha ouvido falar de ti e da tua bondade. Hoje consegui ver que é tudo verdade, e é feliz aquele que traz o amor e a bondade no seu coração. A partir de hoje deixarás de ser o Francisco e passarás a ser S. Francisco. A bondade de Francisco correu o mundo e hoje é venerado por milhares de pessoas. Assim foi o encontro improvável entre S. Francisco e S. Bento, agora dois dos maiores santos.

Quando abriu a porta, viu uma criança toda mal vestida e descalça. Os seus olhos pediam comida e um pouco de atenção. Francisco foi até à mesa e com muito jeito deu a outra coxa à criança para ela comer. Muito depressa, a criança comeu e um belo sorriso se abriu no seu rosto, para agradecer. Passou algum tempo e voltaram a bater à porta. Era S. Bento que tinha acabado de chegar. Sentou-se à mesa para a refeição. Olhou para o frango e Francisco disse-lhe: - Coma! E espantou-se quando S. Bento lhe respondeu: - Não. Ainda confuso, tentou-lhe explicar o que tinha acontecido. S. Bento interrompeu-o e antes que Francisco lhe explicasse, olhou-o nos olhos e

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“A CAMPONESA” MENÇÃO HONROSA LEONARDA ROSA REBELO ESCOLA LATINO COELHO, 9.º ANO B

VISITAÇÃO Vasco Fernandes 1506-1511 Óleo sobre madeira de castanho Proveniente da Sé de Lamego Inv. 16 © Museu de Lamego

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A mulher camponesa vai andando pelo bosque com vários pensamentos a percorrerem-lhe a mente. Ela pensa na vida que tem hoje em dia. É casada, tem três filhos e uma casa para sustentar.

Ela podia olhar nos olhos de qualquer pessoa, fosse ela sua conhecida ou não, e dizer se ela era ou não pura, e, se fosse o caso, o seu desejo mais profundo seria realizado.

Ela pensa que, quando era jovem, não tinha grandes preocupações. Aquela mentalidade de adolescente só lhe permitia pensar em coisas próprias da idade: “Como iria estar o tempo amanhã?”, ou “O que irei vestir?”. Esses pensamentos, essa vida que era vista como uma vida banal, era agora uma memória distante e difícil de alcançar. Agora esses pensamentos deram lugar a outros, a mentalidade era outra. Agora pensa como estará a correr o dia dos filhos na escola e se o marido chegará a tempo do jantar. Agora não passa as tardes no parque a ver o tempo a passar como fazia nos tempos de escola antes de ir para a casa. Hoje, tal como ontem, e amanhã, desde que se casou, tem que ficar em casa a tratar das refeições e das tarefas, já não pode ver o tempo a passar. Agora, pelo contrário, até lhe falta tempo.

Aquele dom desde muito cedo começou a ser encarado mais como um mito do que uma realidade, no entanto a mulher estava bastante determinada. Ela queria mudar a vida da família, por isso não podia acreditar no que vozes alheias diziam sobre a veracidade daquele dom. Ela teria que descobrir sozinha.

Então o que esta mulher andará a fazer de manhã no bosque? Porque caminha tão lentamente, focada, numa manhã de primavera, aparentemente uma manhã como as outras, onde, por essa altura, deveria estar a preparar o pequeno-almoço à família? Bem, é muito simples: ela ama a família mais do que tudo e algo que se encontra para além do bosque pode muito bem tirá-la a si e à sua família da miséria. Há poucos dias, a mulher ouviu falar de uma pequena aldeia que era conhecida por esconder um grande segredo, segredo esse que atraiu a sua atenção. Era uma aldeia pequena, quase desabitada, mas os poucos que lá viviam eram muito unidos. Um casal que ainda hoje vive nessa aldeia, há uns anos atrás, teve uma filha, uma menina que, mal nasceu, encantou todos com a sua beleza e inocência. Essa menina tinha um dom.

Já conseguia avistar a aldeia e, embora estivesse um pouco cansada do tanto que andou, continuou. Tinha apenas o número de uma porta e o nome da menina como referência: porta número 12, não tinha como enganar, pois, era a única com aquele número. Bateu suavemente três vezes na porta e, de imediato, apareceu alguém para a atender. Era uma mulher alta, elegante, muito bonita para a idade que já deveria ter. Era a menina que ela procurava. O final agora fica nas mãos do leitor, nas mãos da pessoa que estiver diante do quadro. Nele, podemos ver a suposta menina já numa idade mais avançada, permanecendo ainda muito bonita e inocente. Vemos uma mulher debruçada no seu colo à espera que algo de milagroso aconteça. Será que aquele dom não passaria mesmo de um mero mito?

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“VOU P'RÓ MAR MEU AMOR” MENÇÃO HONROSA ANA ISABEL FERNANDES RODRIGUES ESCOLA LATINO COELHO, 9.º ANO B

PINTURAS DO SALÃO NOBRE Coleção de pintura estrangeira, sobretudo flamenga e holandesa, datada do século XVII ao XIX, com diversos temas, desde histórias inspiradas na Bíblia ou na mitologia clássica até às naturezas-mortas, paisagens, marinhas e cenas de costumes.

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Quando dou por mim estou no escuro, ouço o meu coração e a minha respiração descompassados. De repente, as luzes se acendem, uma por uma em cada um dos quadros dispostos pela sala. Mesmo assim a luz é tímida. Encontro-me num grande compartimento escuro e pouco iluminado com um grande teto, escuro com vidro branco, a cobri-lo do céu. É medonho. Levanto-me sem pressa, percorro o recinto devagar analisando cada quadro dos 5 à minha volta, um mais desesperante que o outro. Num, um pássaro repousa, morto, nas mãos de alguém que está a sorrir. A loucura de um psicopata. Uma pessoa nua apenas com um lençol transparente no corpo a segurar o próprio coração nas mãos com o sangue a escorrer pelos braços. Desespero.

Observo tudo com cuidado, todos eles com uma figura feminina, começo a rir-me, a rir como nunca ri antes, vendo a figura o pássaro, do lençol, da vela, da fita e do fio a saírem dos quadros. Todas elas antes sem cara tinham agora a minha. Continuo a rir-me, caio de joelhos no chão e quando já estão próximas eu grito o mais alto que posso. Paro, olho e vejo-as a apontarem para algo atrás de mim, eu viro-me e vi. Estava deitada no chão. Mataram-me. Levanto-me e corro rápido, estava assustada, foi uma imagem sombria. Quando olhei para aquilo não respirava e o coração parecia que já não batia. Corro para a porta de madeira maciça escura e uma grande luz me ataca os olhos. Continuei. Estava fora dali, sentia os pés descalços na relva com um largo rio na minha frente. Refletia todas as boas memórias. Vejo alegria e sinto tristeza.

Na tela a personagem está por trás de uma janela partida, de noite a segurar uma vela.

Vejo amor e sinto-me sozinha.

Raiva e fúria.

Vejo sorrisos e choro.

Neste, uma fita vermelha, presa num pulso de uma das duas pessoas, rasgada ao meio, enquanto na outra figura, a masculina, a fita está a cair.

Vejo a entrega do meu coração e uma facada no mesmo.

A desilusão.

Em puras lágrimas olho para o Céu, respiro fundo e viro-me em direção à porta devagar e entro.

E no último quadro mostra-se uma pessoa pendurada por um fio de prata numa alta arriba e no cimo da mesma está um rapaz à espera.

Acordo. 3:30 da manhã, estou no quarto, olho para o meu lado, sorrio e choro.

O medo, a tristeza e isolamento.

Descalça saio de casa e está ali, o grande rio.

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Volto a sentir a relva, entro no barco e remo. Quando me sinto longe da margem pego nas duas rosas que tinha na mesinha ao lado da cama, deixando uma com um bilhete e a coloquei ao lado do remo, a outra coloco-a no coração, olho para a Lua, sorrio mais uma vez e digo apenas “Obrigado e perdoa-me”. Inclino-me para trás e…. acabou. Foi tudo lento sem pressa. O corpo gelado, o coração sempre quente, uma flor na mão e é só fechar os olhos. “Libertai-me para não o fazeres Magoas e não curas Flutuei como a pedra dura Dei amor, não retribuído Esquecido Sem força no ar Vou p'ró mar, meu amor Vou p'ró mar”

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FICHA TÉCNICA Edição de texto Eduardo Monteiro Conceção e composição gráfica Paula Pinto

© Museu de Lamego | 2019


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