MOSTEIRO de SÃO JOÃO de
TAROUCA História, arquitetura e quotidiano
Mosteiro de São João de Tarouca História, Arquitetura e Quotidiano
1. Igreja 2. Capela-mor 3. Capela lateral (consagração desconhecida) 4. Capela lateral (consagração a S. Miguel) 5. Porta dos mortos 6. Porta dos monges 7. Nartex 8. Porta dos conversos 9. Sacristia 10. Armarium 11. Sala do capítulo 12. Armário 13. Escada de acesso ao dormitório 14. Locutório (ou auditório) dos monges 15. Corredor de acesso ao exterior 16. Sala dos monges (scriptorium) 17. Latrinas do piso inferior 18. Latrinas do piso superior 19. Calefactorium 20. Lareira 21. Refeitório dos monges 22. Púlpito 23. Cozinha 24. “Roda” 25. Lareira 26. Pátio do claustro 27. Lavabo 28. Locutório ou auditório dos conversos 29. Corredor dos conversos 30. Tulha 31. Corredor de acesso ao exterior (“porta do carro”) 32. Refeitório dos conversos 33. Cemitério 34. Ponte (?) 35. Tulha (?) 36. Igreja de S. Brás 37. Sacristia 38. Fonte 39. Moinho de rodízio 40. Portaria 41. Noviciaria 42. Púlpito 43. Dormitório 44. Tulha (?) 45. Tulha 46. Ponte 47. Altar lateral (consagração a S. Bento) 48. Altar lateral (consagração a S. Bernardo) 49. Altar lateral (do Cristo morto) 50. Altar lateral (de S. João Baptista) 51. Altar lateral (do Arcanjo S. Miguel) 52. Altar lateral (Nossa Senhora em glória) 53. Altar lateral (da Virgem com o menino) 54. Altar lateral (de S. Pedro) 55. Cadeiral 56. Capela de S.to António 57. Escadório 58. Lagar vinícula 59. Eira 60. Espelho de água 61. Fonte 62. Capela de S.ta Umbelina 63. Cerca de clausura 64. Latrinas 65. Torre sineira 66. Adega
FICHA TÉCNICA Título Mosteiro de São João de Tarouca: História, Arquitetura e Quotidiano Textos SEBASTIAN, Luís BRÁS, Patrícia Investigação Luís Sebastian Ana Sampaio e Castro Ilustração Luís Sebastian Registo Gráfico Luís Sebastian Hugo Pereira Sílvia Pereira Reconstituição 3D e Rendering Paulo Bernardes (Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho) Clara Rodrigues (Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho) Editor Direção Regional de Cultura do Norte / Museu de Lamego / Vale do Varosa Local Lamego Ano 2015 Design Companhia das Cores, Design e comunicação Empresarial Impressão Alves & Albuquerque Tiragem 500 Exemplares ISBN 978-989-98708-7-1
Museu de Lamego Largo de Camões, 5100-147 Lamego, PORTUGAL TEL + 351 254 600 230 www.museudelamego.pt www.facebook.com/museu.de.lamego
MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA
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ÍNDICE
HISTÓRIA, ARQUITETURA E QUOTIDIANO
ÍNDICE
Introdução
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I. A Ordem de Cister
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II. A fundação
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III. O couto monástico
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IV. A comunidade monástica
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V. A arquitetura
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VI. Espaços, funções e quotidiano
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6.1. Ala dos monges conversos
6.1.1. Celeiro
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6.1.2. Cozinha
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6.1.3. Dormitório e Latrinas dos Monges Conversos
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6.1.4. O Refeitório dos Monges Conversos
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6.2. Claustro
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6.3. Refeitório
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6.4. Calefactorium
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29
6.5. Ala dos Monges Professos
6.5.1 Scriptorium
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6.5.2 Latrinas
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6.5.3 Locutorium
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6.5.4 Dormitório dos Monges Professos
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6.5.5 Sala do Capítulo
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6.6 Igreja
Bibliografia
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ÍNDICE
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MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA
INTRODUÇÃO
Fundado em 1140, o Mosteiro de S. João de Tarouca teve o início da sua edificação em 1154. Sendo a sua igreja sagrada em 1169, a construção da totalidade do complexo monástico encontrava-se então ainda longe de estar completa, o que apenas viria a acontecer já no início da centúria seguinte, com a conclusão da ala dos monges conversos. Apesar de comummente apontado como o primeiro mosteiro cisterciense a ser fundado em Portugal, a investigação histórica mais recente tende a contrariar esta ideia, sendo precedido, ainda que por apenas dois anos, pelo Mosteiro de São Cristóvão de Lafões. Ainda assim, o início da sua construção em 1154, reforçado pela sua rápida conclusão no início da centúria seguinte, coloca-o indubitavelmente como a primeira construção cisterciense em território português. Esta primazia vem a ser reforçada pelo papel de referência espiritual que sempre teve dentro da Ordem, entendido que sempre foi como primacial e exemplar no cumprimento da Regra. Causa e consequência deste lugar de destaque, esteve sempre o seu papel na formação de novos monges, especialmente reforçado aquando da desagregação da Ordem a nível europeu e a constituição de congregações nacionais, cabendo a Portugal a formação da Congregação Cisterciense de Santa Maria de Alcobaça em 1567. Esta restruturação da Ordem veio trazer um novo e renovado fôlego, bem traduzido na ampliação do mosteiro, com destaque para a substituição do Claustro medieval por um novo de dois pisos ao gosto maneirista, e, sobretudo, pela construção de uma noviciaria de três alas, destinada à formação de noviços que, uma vez monges professos, seriam em grande parte distribuídos pelos diversos mosteiros da Ordem. Já no século XVIII temos uma nova fase de grande ampliação, com destaque para a construção de um monumental Dormitório dos monges de dois pisos e a reformulação da cerca de clausura. Com a extinção em 1834 das Ordens Religiosas em Portugal, em consequência da vitória dos Liberais sobre os Absolutistas na guerra civil, o destino do Mosteiro de São João de Tarouca foi similar a tantos outros, sendo a sua igreja convertida em paroquial e os edifícios correspondentes às dependências monásticas e respetivo recheio vendidos em hasta pública. 6
Introdução
HISTÓRIA, ARQUITETURA E QUOTIDIANO
Neste caso específico, o comprador dos edifícios destinou-os ao desmantelamento para venda e reaproveitamento da pedra, processo que só terminaria já nos primeiros anos do século XX, com o total desaparecimento das dependências medievais e a profunda ruína das restantes ampliações mais tardias. O seu elevado interesse histórico leva a que o edifício da igreja seja classificado como Monumento Nacional em 1956, proteção estendida a todo o conjunto monástico em 1978. Em 1996 o Estado Português decide-se pela reaquisição das diversas parcelas pelas quais o mosteiro se encontrava dividido, em consequência das múltiplas vendas e heranças decorridas desde 1834, com o objetivo de proceder ao seu restauro e abertura ao público. Com este objetivo, em 1998, iniciou-se a escavação arqueológica do conjunto, processo que decorreria até 2007, paralelamente a múltiplos trabalhos de restauro no edifício da igreja. Por fim, em 2009, o Mosteiro de São João de Tarouca é inserido no projeto Vale do Varosa, no âmbito do qual é completado o restauro da igreja (2009-2010), a musealização da área arqueológica, correspondente à totalidade das dependências monásticas medievais (2011-2012), e a recuperação parcial da cerca de clausura e instalação de um centro interpretativo no antigo Celeiro de século XVIII (2014-2015). Com a atual publicação pretende-se disponibilizar de forma acessível uma apresentação geral do conhecimento reunido ao longo de 17 anos de investigação histórico-arqueológica, com o principal objetivo de dar apoio a quem visita o Mosteiro de São João de Tarouca.
INTRODUÇÃO
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MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA
I. A Ordem de Cister
As primeiras manifestações de uma vida de contemplação e isolamento registam-se no Médio Oriente. Será, no entanto, no seio do Ocidente Católico que no século VI serão sedimentadas, com São Bento de Núrsia (480-543) a fixar, pela primeira vez, as regras de vivência monástica. Insatisfeito com a corrupção de Roma, São Bento, depois de viver como ermita durante três anos, funda o mosteiro do monte Cassino (Itália) e, em 529, redige a sua Regra que, doravante, influenciará todos os mosteiros europeus. A Regula Benedicti impõe a obrigatoriedade de residência no mosteiro, o voto de pobreza e castidade, numa comunidade que tem no topo a figura do Abade a quem deve obediência. Divididos entre a oração e o trabalho da terra - ora et labora -, o movimento beneditino vai-se impondo um pouco por toda a Europa, mas o mesmo fenómeno que levou ao seu surgimento, dará origem à sua reforma, com a crescente acumulação de riquezas a decretar a sua decadência espiritual. E assim como se assistiu com São Bento no século VI a uma reação ao decair dos costumes clericais de Roma, um novo movimento no século X insurge-se contra o agora empobrecimento espiritual beneditino, tendo nas Abadias de Gorze e Cluny (França) o seu alicerce. A Regra Cluniacense emerge, voltando à pureza e determinação iniciais da Regra de São Bento, e vai registar uma extraordinária expansão, com o Abade de Cluny a responsabilizar-se por mais de mil e quinhentos mosteiros e priorados por toda a Europa. O crescimento da Ordem e da sua influência vai ser, no entanto, inversamente proporcional à razão inicial da sua existência. Mais uma vez, este processo cíclico de decadência no respeito pelo dogma a que assistimos no seio do fenómeno monástico, vai conhecer uma nova reação e, apesar do ímpeto reformista e do reforço da disciplina tão cultivados pela Ordem de Cluny, o declínio vai impor-se, abrindo portas a um novo movimento de reforma iniciado na fundação do Mosteiro de Citeaux (Cister) em 1098, na atual França, por Roberto de Molesmes, e no posterior surgimento da incontornável figura de São Bernardo (1090-1153 ) que, com apenas 25 anos, funda o Mosteiro de Clairvaux (Claraval), igualmente em França, e a partir daqui irradia toda a sua influência, sendo este o maior responsável pela expansão da Ordem de Cister. Cister vem no século XII, à semelhança do movimento anterior, reafirmar a já longínqua Regra de São Bento e fá-lo com a consciência de que é necessário desenvolver um sistema de normas e controlo, fundado numa relação estreita entre “abadia-mãe” e “abadia-filha”, de forma a evitar os desvios à Regra a que beneditinos e cluniacenses não conseguiram resistir. Alicerçados na Regra Beneditina, serão os princípios bernardinos aqueles que o Mosteiro de São João de Tarouca tão bem irá interpretar, sendo este o primeiro mosteiro cisterciense construído em território português. No então reino em formação, a jovem Ordem será uma importante aliada do Conde, e depois Rei, D. Afonso Henriques, na defesa do território reconquistado através da sua ocupação e repovoamento, mas igualmente no reconhecimento do Reino de Portugal junto da Roma Papal. 8
A ORDEM DE CISTER
HISTÓRIA, ARQUITETURA E QUOTIDIANO
A ORDEM DE CISTER
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MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA
II. A fundação Fundado em 1140 com a doação e delimitação do seu couto pelo ainda Conde Afonso Henriques, a construção do Mosteiro de São João de Tarouca arrancou em 1154 no auge do ideal bernardino. Antes, a escolha do local respondeu a requisitos específicos, sendo esta uma das preocupações mais exigentes no momento da criação de uma nova abadia. Os cistercienses privilegiavam a localização dos mosteiros em vales férteis, amplamente irrigados, junto a linhas de água e afastados dos aglomerados urbanos, indo ao encontro dos princípios de recolhimento espiritual e austeridade, como forma de louvor a Deus. Este isolamento obriga, por si só, à autossuficiência, idealmente o único meio de suporte da vida em comunidade, que tem no cultivo da terra a sua principal fonte de subsistência. No entanto, e apesar de estas serem premissas comuns a todos os mosteiros cistercienses no momento da fundação, nem sempre foram totalmente cumpridas. No caso do Mosteiro de São João de Tarouca, apesar de afastado dos grandes aglomerados populacionais, não evitou a proximidade à já então povoação de São João de Tarouca. Localizada na margem esquerda do rio Varosa, garantiu no período inicial a preciosa mão de obra externa necessária ao apoio à exploração agrícola das propriedades sob gestão direta do mosteiro, à qual viria quase de imediato juntar-se a aldeia do Couto, formada pela gradual fixação de novos trabalhadores. O grande crescimento económico no período medieval e a inerente expansão viriam consequentemente limitar a máxima ora et labora, sobrepondo-se-lhe progressivamente a lógica de arrendamento, como resposta ao crescente número e dispersão de propriedades acumuladas por doação, troca ou compra. Mas se o afastamento dos aglomerados populacionais parece não ter sido cumprido na íntegra, o mesmo não se verifica no que se refere à escolha de um vale de terrenos férteis. O Mosteiro de São João de Tarouca situa-se no vale do rio Varosa (afluente da margem esquerda do rio Douro). No seu espaço de implantação correm as ribeiras do Corgo da Cerca (ou da Aveleira) e do Corgo do Pinheiro (ou da Fraga ou da Frágua), duas linhas de água que se unem já no interior do espaço monástico, formando aí uma só ribeira, popularmente designada apenas por Corgo, que desagua diretamente no rio Varosa. Satisfeitos os requisitos espaciais para a fundação de um novo mosteiro cisterciense, esta é sempre feita em regime de filiação, sob o controlo de uma “casa-mãe”, o que no caso do Mosteiro de São João de Tarouca coube a Claraval, tendo à altura como Abade Bernardo, que viria a afirmar-se como a maior figura da Ordem, posteriormente santificado e tornado seu padroeiro. Desta “casa-mãe”, doze monges foram enviados para São João de Tarouca, como preconizado pelos princípios da Ordem, trazendo consigo o conhecimento e o hábito da prática diária da Regra e constituindo desta forma o núcleo inicial da comunidade monástica que aí se fundou. Neste contexto, e apesar de não existirem quaisquer dados que provem a existência de uma comunidade anterior, sabe-se que vários mosteiros foram fundados em locais onde já viviam pequenas comunidades religiosas ermíticas, tendo assimilado devoções previamente existentes. Poderá ter sido o caso de São João de Tarouca, o que justificaria a sua fundação em honra de São João Batista, quando, na vertente espiritual, os princípios da Ordem de Cister estabeleciam que os mosteiros deveriam ser consagrados à Virgem.
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A FUNDAÇÃO
HISTÓRIA, ARQUITETURA E QUOTIDIANO
Independentemente desta questão, estavam finalmente criadas as condições para que aquele que constituiu a primeira construção cisterciense em território português se afirmasse nos séculos XII e XIII como um dos principais símbolos da Ordem em Portugal, tendo sido mesmo da sua responsabilidade a filiação dos Mosteiros de São Pedro das Águias e de Santa Maria de Aguiar. Sem nunca perder a sua importância simbólica, São João de Tarouca tornou-se uma referência no contexto da expansão cisterciense, ao mesmo tempo que, com o seu saber e conhecimento introduzidos na prática agrícola, contribuía e determinava a excelência hoje reconhecida ao Douro vinhateiro enquanto Património da Humanidade.
A Lenda da Fundação do Mosteiro de São João de Tarouca Muito alimentada pelo fervor popular, a lenda da fundação do Mosteiro de São João de Tarouca, num misto de fantasia e realidade, foi passando de geração em geração. No século XVIII, a renovada capela-mor da Igreja do mosteiro recebe um conjunto de painéis de azulejos figurados das Olarias de Lisboa que fixam a narrativa até aos nossos dias. Reza a lenda que São Bernardo teve uma visão. Nela, São João Batista ter-lhe-á pedido que fundasse no jovem reino ainda em formação uma comunidade cisterciense. São Bernardo apressou-se a dar resposta, enviando a partir da “casa-mãe” de Claraval doze monges que fundariam o Mosteiro de São João de Tarouca. Aqui, o local para a construção do mosteiro foi indicado aos cistercienses através de um raio divino que noite após noite caiu no mesmo lugar. Neste ponto ter-se-á erguido o altar, em torno deste a igreja, em torno desta o Mosteiro de São João de Tarouca. O último painel de azulejos marca o início da construção do mosteiro, estando simbolicamente presentes a coroa, através de D. Afonso Henriques, o poder secular, através da presença do Bispo, e o regular, através da presença dos monges de Cister.
A FUNDAÇÃO
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MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA
O anel de oração do Mosteiro de São João de Tarouca Achado único no mundo, o “anel de oração”, encontrado no decorrer da escavação arqueológica do Mosteiro de São João de Tarouca, reveste-se de uma importância ainda maior a partir do momento em que contribui para o conhecimento dos rituais de sagração e esconjuro de espaços sagrados no período medieval. Provavelmente datado já do início do século XIII, o anel foi encontrado entre as argamassas da parede Norte da Sala do Capítulo (espaço mais importante do complexo monástico logo depois da igreja), podendo-se afirmar simbolicamente que sobre ele foi edificado todo o mosteiro. Podemos apenas supor que a deposição deste “anel de oração” tenha sido acompanhada pela realização de um ritual de esconjuração, sagrando o espaço de construção do mosteiro, antes profano. Em prata, o anel apresenta um conjunto de dezoito letras maiúsculas, cada uma correspondente ao início de um verso completo. Fazendo conjunto com este “anel de oração” e opondo-se-lhe simbolicamente, na parede oposta da Sala do Capítulo foi ainda enterrada uma simples e modesta panela de barro preto. Anel e panela parecem assim simbolizar o diálogo entre o sagrado e o profano, constituindo a descoberta de São João de Tarouca o primeiro caso comprovado arqueologicamente.
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A FUNDAÇÃO
HISTÓRIA, ARQUITETURA E QUOTIDIANO
III. o COUTO MONÁSTICO Em 1140, D. Afonso Henriques atribuía carta de couto aos monges do Mosteiro de São João de Tarouca. Os limites do território monástico ficavam estabelecidos e com eles todos os deveres, privilégios e encargos, que de então em diante transitavam para o poder monástico. A jurisdição do couto ficaria doravante sob o domínio dos cistercienses que a partir de São João de Tarouca irão reorganizar todo o território. Insuficiente, contudo, para garantir por si só a sobrevivência da comunidade monástica, os limites do couto monástico inicial viriam a ser alargados pela coroa já na segunda metade de século XIII. Será também no interior do couto primitivo que o Mosteiro de São João de Tarouca sediará as suas primeiras três granjas - São Salvador (ou Quinta do Granjão), Souto Redondo e Brufe -, unidades agrícolas cistercienses inicialmente concebidas para a exploração direta pelos monges conversos. No entanto, rapidamente os cistercienses recorrerão à mão de obra assalariada, essencialmente a partir do momento em que as granjas ultrapassam os limites do couto, chegando mesmo até ao mar. No plano económico, o Mosteiro de São João de Tarouca será detentor de um vasto património reunido através de doações, permutas e aquisições, as duas últimas estrategicamente pensadas com a finalidade de ampliar áreas de propriedade e assim constituir unidades agrícolas de grande produção e, consequentemente, dilatar as rendas do mosteiro. Durante todo o período medieval, as propriedades dos cistercienses de São João de Tarouca vão crescer na mesma medida da política de expansão da Ordem, confirmando a sua implantação na região e contribuindo para a consolidação do entretanto jovem reino de Portugal. Nesta altura, não é de todo a subsistência que está em causa, mas o desenvolvimento agrícola, baseado no crescimento económico e posterior comercialização, principalmente quando se fala de explorações mais afastadas do couto, como são, a nível regional, os casos de Serra (Tarouca), Cerdeira (Vila Nova de Paiva), Leomil (Moimenta da Beira), Alvelos, Figueira e Mosteirô (Lamego), Ovadas e Nogueira (Resende), Covelinhas (Régua) e Oliveira (Mesão Frio) ou, a nível nacional, do Porto, Aveiro, Sever do Vouga, Trancoso, Aguiar da Beira, Celorico da Beira, Guarda, Vila Nova de Foz Coa e Figueira de Castelo Rodrigo. A dispersão geográfica das granjas é justificada pelas sucessivas doações de que o Mosteiro de São João de Tarouca foi alvo, determinantes no desenvolvimento económico monástico. A existência de granjas junto à costa, como é o caso de Aveiro, está mesmo relacionada com a obtenção de peixe e sal, sendo a exploração de salinas uma atividade que assume grande importância durante a Idade Média. Mais próximo dos limites do couto original, o cultivo da vinha parece ser a maior aposta, havendo ainda referência ao cultivo de cereais, oliveiras, castanheiros, carvalhos, cerejeiras, figueiras, entre outras árvores de fruto. Aliás, na área circundante ao mosteiro, a exploração da vinha foi mesmo introduzida pelos próprios monges brancos, quando antes da implantação monástica a paisagem era dominada por pastagens, onde, esporadicamente, se erguiam manchas florestais de carvalhos e, especialmente, de castanheiros e, mais raramente, de aveleiras, amieiros e salgueiros. No caso dos cereais, a existência de inúmeros moinhos nas propriedades monásticas pertencentes ao mosteiro tarouquense ao longo do rio Varosa comprovam a importância e o cultivo em grande escala deste alimento. O COUTO MONÁSTICO
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MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA
Numa época em que a propriedade é fundamental, e tenhamos em conta que aos mosteiros cistercienses era proibido viver de esmolas e por isso obrigatória a autossuficiência, o modelo económico implantado, tendo por base as granjas monásticas, consegue alcançar mais rendimentos que as explorações agrícolas laicas. Cister foi capaz, a partir de um pólo religioso que efetivamente o é desde o seu início, de criar um modelo de produção massiva e regular quer dentro do couto, quer para lá das suas fronteiras. Não é por isso por acaso que o Douro deve grande parte do seu reconhecido valor como Património da Humanidade às sucessivas comunidades de cistercienses que colocaram o seu saber ao serviço da paisagem e do território, um legado que começou a desenhar-se em 1140 com a delimitação do couto e depois com as três primeiras granjas que, rapidamente e ao longo de toda a Idade Média, através de doações, permutas ou compras, extrapolaram os limites do couto e possibilitaram o avanço de novas técnicas e novos instrumentos, fundidos na criação de novos conhecimentos. Hoje é certo que, à semelhança da arquitetura, a economia cisterciense modelou o espaço de acordo com os seus princípios de organização, dominando a paisagem conforme as necessidades agrícolas da comunidade, com reflexos na topografia, hidrografia e cobertura vegetal, a que se associa a elevação de cercas e a construção de vias.
Delimitação do couto Os limites do couto de São João de Tarouca encontram-se definidos pela carta régia de 1140: ao Oriente, pela fonte e, daí, pela estrada de Paredes Secas, conforme correm as águas do monte do Souto Redondo e conforme divide com Vila Chã, água corrente para o couto; e daí à foz de Tranvita e daí, pelo cume do monte Fifineira e pelo Carvalho da Prova; daí, por onde entra o fontão no Barosa e, daí, pelo outeiro da Armada; e daí pelo monte de Pinheiro, até à fonte onde principiamos. Durante a segunda metade de século XIII foi ampliado, abarcando as povoações de Mondim da Beira, Vilarinho, Almofala, Vila Chã do Monte, Alvite, Sever, Arcas e Sanfins, estando a linha do limite Norte anexa ao do término Sul do couto de Santa Maria de Salzedas. Para assinalar os limites físicos do couto monástico eram usados os padrões, ou marcos de pedra, sendo os mais comuns os de secção circular fixados verticalmente no solo, com a inscrição simbólica do seu proprietário no topo.
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O COUTO MONÁSTICO
Cruz no topo
Esculpido em granito e cravado no solo
HISTÓRIA, ARQUITETURA E QUOTIDIANO
IV. A COMUNIDADE MONÁSTICA
Na base da organização e hierarquia monásticas estão o trabalho e a oração, no retorno à mais estrita observância da Regra Beneditina. A máxima Ora et Labora vai neste contexto determinar a existência de uma lógica de vivência específica no espaço monástico, num quotidiano onde o espiritual e o material se corporalizam na unidade da comunidade, mas que, ao mesmo tempo, evidenciam uma manifesta hierarquização entre dois grupos de monges que vivem com funções e ritmos integralmente distintos. Encontrando-se a comunidade monástica cisterciense dividida entre monges professos e monges conversos, cabe a estes libertar os primeiros da maior parte das tarefas quotidianas, de modo a que possam cumprir a totalidade dos ritos religiosos diários e a obrigação de clausura. Esta necessidade de retorno ao trabalho da terra, sem nunca negligenciar a vertente da espiritualidade, levou as comunidades cistercienses a admitir no seu seio monges conversos, na sua maioria camponeses convertidos à Ordem, que se revelaram de extrema importância no sucesso da economia cisterciense. Sob a mesma disciplina, os conversos vão ocupar-se dos assuntos materiais da abadia, após um ano de noviciado. Embora vocacionados para as tarefas domésticas e para o trabalho da terra, estes monges também participavam da espiritualidade do mosteiro, mas através de orações simples que de memória ficavam a saber durante o noviciado. A estes jamais era permitido serem monges professos, estando-lhes vedada a alfabetização. De fora ficava ainda qualquer função na administração monástica. Parcialmente libertos do trabalho, os monges professos, normalmente oriundos de classes mais privilegiadas, podiam assim converter a Regra professada em realidade vivida, dedicando-se a uma existência despojada, de rigor e de penitência, ainda que não fosse de todo impossível encontrá-los no Celeiro ou na horta. A necessidade cada vez maior de mão de obra leva durante a expansão da Ordem ao aumento do número de conversos que, em algumas abadias, chega a ser superior ao número de monges professos. A coexistência entre estes e os primeiros, que vivem com horários e funções muito distintas, revela uma clara hierarquização que tomará forma também na construção dos próprios mosteiros, que vão organizar-se em duas metades opostas: a ala dos monges professos e a ala dos monges conversos. Nos mosteiros cistercienses medievais conversos e professos vão ter Dormitórios e Refeitórios distintos. Na Igreja vai manter-se a distinção, com cada grupo a ocupar o seu lugar, professos junto à Capela-mor e conversos aos pés. As portas de acesso à Igreja vão ser igualmente diferentes e por isso designadas, respetivamente, de Porta dos Monges e Porta dos Conversos. À Sala do Capítulo, um dos espaços mais importantes do mosteiro, apenas os monges professos poderão aceder, enquanto os conversos assistirão à reunião diária capitular a partir do exterior, no Claustro. Por fim, uma Cozinha comum serve o Refeitório das duas alas, mas onde apenas os monges conversos se encarregam de todo o trabalho. A COMUNIDADE MONÁSTICA
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MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA
O hábito cisterciense Em oposição aos “monges negros” de Cluny, o hábito base cisterciense era manufaturado em lã sem tintura, tal como saía da oficina de tecelagem. Desta uniformização e do facto de os tecidos não serem tingidos resulta a denominação de “monges brancos” de Cister. A túnica, a cogula e o escapulário são as peças que constituem o hábito do monge professo cisterciense. A primeira consiste num vestido branco, até meia perna, com mangas compridas, usado diretamente sobre o corpo; a segunda é um amplo vestido branco de mangas largas e com capuz, comprido até aos pés, que usado sobre a túnica era destinado aos ofícios solenes no coro; o último substitui a cogula sempre que os monges se dedicam ao trabalho manual, mantendo o capuz e o comprimento até meia perna, mas sendo de cor preta e aberto nos lados, o que obrigava normalmente ao uso de cinto, de modo a manter o escapulário justo ao corpo. Ao monge professo é ainda imposta a tonsura - corte que consiste em rapar todo o cabelo, deixando apenas uma estreita coroa que circula a toda a volta da cabeça. Os monges conversos usavam sempre e apenas a túnica branca coberta com o escapulário preto, mas não contando este com capuz. Em dias de frio ou chuva podiam ainda colocar sobre o escapulário o capuchão – capuz de lã grossa de cor branca, cobrindo ainda os ombros e o peito. Desobrigados de usar tonsura, era-lhes permitido usar barba, pelo que também eram chamados de barbati. Monge Professo (ou “de Coro”)
Túnica
Usada directamente sobre o corpo
Com capuz Escapulário
Usado sobre a túnica
Podendo ser usado com cinto ou corda
Com capuz
Podendo ser usado com cinto ou corda
Com capuz
Cogula
Usada sobre a túnica e destinada aos ofícios solenes no Coro da Igreja
Monge Converso (ou “Barbati”)
Túnica
Usada directamente sobre o corpo
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A COMUNIDADE MONÁSTICA
Sem capuz Escapulário
Usado sobre a túnica
Capuchão
Usado sobre o Escapulário
HISTÓRIA, ARQUITETURA E QUOTIDIANO
V. ARQUITETURA
Expressão de uma simplicidade intensa e de um desejo de despojamento, a arquitetura cisterciense vai aliar o valor funcional do espaço ao valor espiritual, no desejo de regresso à pureza inicial da Regra de São Bento. Por este motivo também, a depuração e austeridade bem visíveis nos edifícios vai estender-se ao interior monástico com a supressão de imagens e a renúncia aos elementos decorativos, tidos como fatores de distração na oração e no encontro com Deus. Principal ideólogo do movimento cisterciense, São Bernardo respondia desta forma à monumentalidade dos templos cluniacenses que pelo luxo se haviam desviado dos princípios basilares da Regra. A busca intencional do excesso era por isso, e de acordo com os princípios bernardinos, contraindicada em casa de monges que buscam uma vida de interioridade e austeridade. Tendo-se pronunciado sobre quase todos os aspetos da vida monástica, São Bernardo não descurou a vertente arquitetónica. Impôs regras de ordem estética, registadas essencialmente nas suas cartas denominadas “Apologia a Guilherme” (1123-1125), na questão que o opôs à ostentação da Ordem de Cluny. Responsável pela fase de grande expansão da Ordem, percebeu a importância de criar mecanismos de controlo para a coesão entre as comunidades monásticas cistercienses, cada vez mais dispersas um pouco por toda a Europa. O grande crescimento num curto espaço de tempo por si só obrigou à uniformização de formas e conteúdos, que viriam a ditar o sucesso e afirmação da Ordem. O edifício será assim a imagem do ideal de Cister, primeira forma de dizer Deus. Neste contexto, não é possível desligar o facto de, obrigatoriamente, a fundação de um novo mosteiro acontecer sob a orientação de uma “casa-mãe”. Necessariamente, nasce uma rede de interdependências que começa desde logo a desenhar-se com o envio dos 12 monges que constituiriam o núcleo inicial da “casa-filha”. No plano do conteúdo, o grupo trazia consigo o conhecimento e a vivência da Regra Cisterciense, que tão bem soube impor às novas comunidades. No plano formal, trazia o desenho da nova construção que expressaria a vontade da “casa-mãe” e recriaria soluções já observadas em mosteiros anteriores, ainda que com naturais adaptações face às contingências locais. Pode-se assim reconhecer para o período de maior influência bernardina um conjunto de imóveis de destacada uniformização, nos quais se encaixa o Mosteiro de São João de Tarouca. A isto não é alheio, por um lado, o facto de a “casa-mãe” ser precisamente Claraval, dirigida então por São Bernardo, e, por outro, o início da construção do complexo monástico tarouquense (1154) acontecer apenas um ano depois da morte do Santo, no auge, portanto, da influência das suas ideias. ARQUITETURA
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MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA
São João de Tarouca vai, desta forma, corresponder ao ideal arquitetónico original de Cister – despojamento e simplicidade –, constituindo-se como um dos melhores exemplos da arquitetura cisterciense em território português. A vontade da “casa-mãe” e o traço bernardino encontram expressividade no edifício primitivo do mosteiro, enquadrado no período de ascensão da Ordem e, naturalmente, num período de grande respeito pela uniformização do todo, baseada na dicotomia entre monges professos e monges conversos, os dois grandes motores da comunidade monástica, em torno dos quais se esquematiza todo o universo bernardino. Na organização do complexo monástico, a máxima ora et labora irá determinar a disposição do espaço, dividido entre monges professos e monges conversos. Duas alas desenvolvem-se em duas metades opostas, como hierarquicamente opostos estão professos e conversos. A ala dos monges professos desenvolve-se perpendicularmente à cabeceira da Igreja, naturalmente pela facilidade de acesso na hora dos ofícios litúrgicos. Já a ala dos conversos é perpendicular aos pés da Igreja. O Claustro une estes dois mundos que se encaixam no plano ideal do mosteiro cisterciense, um espaço fechado sobre si mesmo, onde a Igreja assume o papel principal. Os monges de São João de Tarouca tiveram ao seu dispor um edifício que cumpria todos os desígnios de São Bernardo. No seu conjunto, o complexo monástico constituía a expressão material da Regra, mas a sua importância está muito para além do visível, procurando antes de mais, através da arquitetura, expressar a espiritualidade cisterciense nos seus pilares fundamentais: o trabalho, o silêncio, a oração e a contemplação. 18
ARQUITETURA
HISTÓRIA, ARQUITETURA E QUOTIDIANO
Marcas de Canteiro Anomalamente célere, o início da construção do Mosteiro de São João de Tarouca aconteceu catorze anos depois da sua fundação (1140-1154). O elevado ritmo a que decorreram as obras ter-se-á ficado a dever desde logo a um grande fluxo de doações, mas também, como era prática comum na Ordem, a uma gestão eficaz das suas propriedades, juntando às aquisições por doação uma estratégia de compras e trocas, tentando assim constituir unidades de produção agrícola de grande dimensão – as granjas cistercienses. Terá sido colossal o esforço na construção do complexo monástico no século XII, corroborado pela igualmente célere sagração da Igreja, em 1169, e comprovado pelas mais de 360 marcas de canteiro observáveis nos diversos edifícios. Estas mesmas marcas indicam ainda uma ordem construtiva horizontalmente uniforme a toda a planta da Igreja, o primeiro espaço a ser construído, pela pertinência da sua entrega à comunidade monástica, seguindo-se provavelmente o Claustro, a Ala dos Monges Professos, o Calefatório, o Refeitório, a Cozinha e, por fim, a Ala dos Monges Conversos. Enquanto decorriam os trabalhos, as comunidades assentavam provisoriamente em edificações de madeira. Já no que se refere à construção definitiva, o traço seria de um monge arquiteto, como o definia o plano cisterciense, mas a construção propriamente dita era assumida por mão de obra assalariada, cujo cunho acabou por ficar registado nas marcas de canteiro um pouco por todo o mosteiro. A análise levada a efeito no decorrer dos trabalhos de recuperação do imóvel revelou em São João de Tarouca os vários intervenientes nas obras de edificação em contexto de estaleiro, os seus modos de organização e associação e os métodos construtivos aplicados. As marcas de canteiro estudadas sugerem hierarquias da mão de obra, revelando que, não raras vezes, os elementos arquitetónicos mais elaborados eram da responsabilidade de mestres canteiros especializados. Por outro lado, a repetição e distribuição de algumas destas marcas permite perceber que canteiros houve que permaneceram longos anos a trabalhar no estaleiro, enquanto outros tiveram uma participação breve, consequência do cariz iti-
nerante desta profissão, pelo qual vamos encontrar algumas dessas marcas em outros monumentos medievais da região, incluindo o mosteiro cisterciense de Santa Maria de Salzedas. Por outro lado, é possível ainda inferir a existência de marcas oriundas de uma mesma família, natural tratando-se de uma profissão por tradição passada de pai para filho. O cinzelamento de marcas de canteiro é por isso uma fonte de informação privilegiada para o conhecimento da arquitetura medieval e especificamente da arquitetura cisterciense, apresentando, além das marcas de identidade, marcas utilitárias que se dividem em marcas de posição (setas ou algarismos), marcas de aparelhagem (indicam quais as pedras a colocar adjacentemente), marcas de altura (indicam a última fiada de uma parede) e marcas de origem (identificam a pedreira de onde foram extraídas). Praticamente todas elas são ainda hoje visíveis no Mosteiro de São João de Tarouca, mas que ainda assim não espelham de todo o volume da mão de obra envolvida na sua construção, tendo em conta que cada mestre canteiro contava com uma equipa de vários elementos, aos quais temos ainda que juntar cabouqueiros, oleiros, vidreiros, marceneiros e muitas outras especialidades, essenciais à construção de um complexo de tão grande envergadura.
ARQUITETURA
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VI. Espaços, funções e quotidiano
A planta medieval do Mosteiro de São João de Tarouca é um exemplo perfeito da arquitetura cisterciense dos séculos XII-XIII, muito próximo de mosteiros que são referência nesta matéria, como Fontenay ou Silvacane. Como exceção à planta tipo, vamos encontrar na ala dos monges conversos uma ligeira rotação e na ala dos monges professos a ausência do espaço da Noviciaria entre a Sala dos Monges e as Latrinas. Em contrapartida, São João de Tarouca foge à solução mais corrente na instalação destas últimas, possuindo umas segundas Latrinas no piso térreo, que se juntam às existentes no piso superior da ala dos monges professos, com ligação direta ao Dormitório. Por outro lado, no complexo monástico tarouquense toda a construção vai ser condicionada pela forte inclinação do terreno. Da Igreja para o Claustro cinco degraus vão vencer a diferença de cota, sendo que na ala dos monges professos, de sala para sala, esta inclinação natural é compensada por outros tantos degraus. Certa é a extraordinária conceção pragmática do espaço do Mosteiro de São João de Tarouca, bem ao jeito do seu ideólogo, fazendo deste complexo um dos que melhor espelha o ideal bernardino.
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VI - I. Ala dos monges conversos
De cariz iminentemente funcional, a edificação da ala dos monges conversos foi relegada para último na ordem de prioridades construtivas como, aliás, normalmente acontecia com todos os complexos monásticos. Enquanto os trabalhos na Igreja e na ala dos monges professos decorriam praticamente em simultâneo, a construção da ala dos monges conversos era mais tardia. Talvez por isso, a edificação desta ala no Mosteiro de São João de Tarouca tenha sacrificado a harmonia arquitetónica em prol de soluções mais práticas e menos dispendiosas. No momento de decidir o assentamento da ala dos monges conversos, os construtores optaram por procurar alicerçar o edifício diretamente no afloramento rochoso, adaptando-se às contingências físicas locais. Pelo contrário, o investimento na ala dos monges professos foi bem mais elevado, com a construção de um possante alicerce de suporte ao edificado. Neste contexto, não é inocente o facto de a função da ala dos monges conversos ser considerada menos nobre no conjunto do complexo monástico, dominada por zonas de trabalho e associada ao sustento dos monges, em contraste com a intensidade mística vivida no espaço da ala dos monges professos, sobretudo na Igreja. Será, no entanto, a partir da ala dos monges conversos que o mosteiro se liga ao exterior. Primeiro através da portaria, onde o Monge Porteiro faz a ponte entre o mundo sagrado e o mundo profano, recebendo todos os que se dirigem ao mosteiro, depois a partir da Porta do Carro que se abre para a entrada dos carros de bois que assim transportavam os alimentos destinados ao armazenamento no Celeiro. A responsabilidade sobre a gestão dos meios de transporte da abadia recaía sobre o Mestre Carroceiro, cargo assumido por um monge converso. A ala dos monges conversos vai assim desenvolver-se a partir dos pés da Igreja, perpendicularmente a esta. Um corredor dá acesso à Igreja (através da Porta dos Conversos), ao Claustro e às restantes dependências.
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VI - I - I. Celeiro
O Celeiro, ou Tulha, que funcionava como armazém geral de alimentos e utensílios correntes do mosteiro, ocupava a metade Norte da ala Norte dos monges conversos. Associado ao Celeiro, vamos encontrar o Celeireiro, monge responsável pela gestão dos bens do mosteiro, homem sábio, sério, humilde, temente a Deus, com um dos cargos de maior responsabilidade dentro do mosteiro. Estrategicamente, além de se localizar logo após a Porta do Carro, o Celeiro fixava-se junto à Cozinha. O transporte dos alimentos exigia-o, tornando-se uma espécie de anexo a este espaço.
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VI - I - II. Cozinha A proximidade da Cozinha ao Celeiro facilitava o acesso aos alimentos provenientes das hortas e granjas monásticas. Aqui eram preparados os vegetais, os ovos, as carnes, os peixes e os doces num fogão em permanente funcionamento. Para a confeção eram utilizadas panelas de barro ou ferro que eram colocadas sobre as brasas ou suspensas sobre o fogo, através da lareira que se elevava a um canto da Cozinha. Aqui, as carnes eram fumadas, possibilitando o sua conservação mais prolongada. Ao centro, uma mesa em granito servia de apoio aos monges conversos na preparação das refeições. Como o fogão funcionava sem interrupções, também a água era presença obrigatória neste espaço. Imperativa ainda, por questões funcionais, era a ligação ao Refeitório dos monges professos, feita através de um vão na parede, que permitia a passagem de louças e alimentos. Virado para o exterior, especificamente para o rio, abria-se um novo vão, este para o escoamento de lixos que, pela natural inclinação do terreno, tenderiam a escorrer para a ribeira.
Estudo Arqueobotânico Os trabalhos de escavação arqueológica da lixeira da Cozinha do século XVII revelaram-se fundamentais para o conhecimento da utilização dos recursos vegetais pela comunidade monástica. A partir de um conjunto de amostras e do estudo arqueobotânico das mesmas foi possível identificar nos hábitos alimentares dos cistercienses a presença da castanha, da avelã, da noz, da azeitona, do pinhão, do pêssego, da cevada, da framboesa, da ameixa, do medronho ou da cereja.
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VI - I - III. Dormitório e Latrinas dos Monges Conversos O Dormitório vai ocupar todo o piso superior da ala dos monges conversos. Estranhamente, as escavações arqueológicas realizadas no Mosteiro de São João de Tarouca não revelaram quaisquer vestígios da presença das Latrinas dos monges conversos, que por regra se situariam no extremo da ala, à semelhança do que vai acontecer na ala dos monges professos. Esta é por isso uma questão ainda em aberto em termos de investigação.
VI - I - IV. O Refeitório dos Monges Conversos O Refeitório dos conversos localizava-se na metade anexa à Igreja, separado da Tulha pelo corredor da Porta do Carro. A distância à Cozinha era, quando comparado com o Refeitório dos monges professos, muito superior, obrigando a outro tipo de logística. Aqui não há possibilidade de existência de qualquer vão de ligação que possibilite a passagem de louças ou alimentos. Curioso será notar que habitualmente a localização do Celeiro e do Refeitório eram invertidas noutros mosteiros cistercienses, com o Celeiro a ocupar a ala junto à Igreja e o Refeitório ao lado da Cozinha, o que não se verifica em São João de Tarouca.
VI - II. Claustro O Claustro marca a separação entre as comunidades de monges professos e monges conversos e é o centro de toda a organização do complexo monástico. Composto por quatro galerias é a partir do Claustro que se distribuem os acessos aos diferentes espaços. Na sua construção foram usadas soluções simples. Uma cobertura de telha sobre madeira substitui uma abóbada de pedra e os pilares das arcadas reduzem-se ao seu volume modular, suprindo soluções mais complexas como a opção por duas colunas adossadas.
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Fechado ao exterior desenha-se no Claustro uma espécie de microcosmos, um lugar de silêncio absoluto, mas de passagem obrigatória. É a imagem de clausura, reforçada pelo espaço ajardinado ao centro, lugar de leitura e de meditação. Adossado à Igreja e virado para o Claustro, no Mandatum o Abade procedia ao lava-pés em sinal de humildade e caridade. Certo na construção original, o Mandatum seria constituído por uma estrutura simples em madeira em forma de banco corrido. Do Claustro acedia-se ainda à Porta dos Monges (professos) e consequentemente ao interior da Igreja. Cinco degraus venciam a diferença de cota entre estes dois espaços. No tímpano da Porta uma inscrição indicava o ano de 1154, data de início da edificação do complexo monástico.
Por fim, de presença obrigatória, virado para o Refeitório, localizava-se o Lavabo onde antes de cada refeição a comunidade cumpria a obrigação de lavar as mãos e a cara. Trata-se de uma pequena construção, de planta poligonal, a partir da qual a água é repartida para outras dependências do mosteiro.
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Claustro A reforma maneirista no século XVII vai levar ao total desmantelamento do Claustro medieval. Alguns dos seus elementos construtivos vão ser reaproveitados no novo Claustro, enquanto outros irão reforçar os alicerces da nova construção, agora de dois pisos. Durante os trabalhos de recuperação do edificado e musealização da área arqueológica do Mosteiro de São João de Tarouca foi possível recuperar parte dos elementos arquitetónicos originais. Alguns nas ruínas, outros depositados no rio e ainda outros reaproveitados pela população local para construção ou decoração das suas casas, possibilitaram a reconstituição do Claustro original, como tal, a mais antiga representação de um Claustro cisterciense em território português.
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Vista em Corte
Continua
Vista em Planta
Continua
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Porta dos Monges Em meados de século XVII a substituição do claustro original por um claustro de dois pisos, ao gosto maneirista, vai obrigar à remoção do tímpano original da Porta dos Monges, tapado pela sobreposição do novo piso superior. Substituído aí por uma pedra de tímpano simples, sem qualquer inscrição, o tímpano original foi retirado e deslocado para o interior da igreja, onde se manteve durante os séculos seguintes. A substituição do Mandatum medieval, ainda durante esta reforma maneirista, irá acabar mesmo por ditar o encerramento da Porta dos Monges e a eliminação dos degraus que a partir do claustro lhe davam acesso.
VI - III. Refeitório Os monges professos comiam juntos no Refeitório, estrategicamente colocado em frente ao Lavado localizado no Claustro. Por motivos funcionais, tinha comunicação com a Cozinha, através de um vão, para passagem dos alimentos e utensílios. O Refeitório era um espaço de silêncio, apenas interrompido pela contínua oração a partir do púlpito. Semanalmente, um monge, denominado de Leitor, era responsável pela leitura das Sagradas Escrituras.
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VI - IV. Calefactorium Única sala aquecida de todo o complexo, o Calefactorium vai buscar o seu nome à palavra latina para calor. Por possuir uma ampla lareira, era admitido aos enfermos pernoitarem no Calefactorium, começando aqui a desenhar-se a Botica do Mosteiro de São João de Tarouca. O Monge Boticário, conhecedor das ervas e da sua utilização, bem como das purgas e das sangrias, ocupava-se do cuidado dos doentes. No entanto, eram sobretudo os monges copistas que recorriam ao Calefactorium para o exercício do seu labor nos períodos mais frios do ano. Por isso também as portas do Calefactorium e do Scriptorium tendem a estar próximas, rompendo mesmo com o princípio base de simetria do edifício.
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VI - V. Ala dos Monges Professos A ala dos monges professos desenvolve-se paralelamente à ala dos conversos, mas no seguimento do transepto da Igreja. Espaço nobre no seio da comunidade monástica, vai conhecer um ritmo de construção paralelo à Igreja.
VI - V - I. Scriptorium Espaço de leitura e de labor dos monges copistas, o Scriptorium, ou Sala dos Monges, albergava a Biblioteca do mosteiro que os monges enriqueciam com o seu trabalho. Conhecedores da arte da escrita, dedicavam vários anos à produção de um só livro, sendo-lhes exigida uma extrema dedicação, dificultada pelos duros meses de frio. Era-lhes por isso admitido aceder ao espaço aquecido do Calefactorium, o que permitia minorar o rigor desta importante tarefa.
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Os monges copistas não se limitavam, no entanto, a copiar os textos sagrados, sendo-lhes ainda atribuída a tarefa da cozedura das obras, que deveria ser com fio resistente, assim como o acondicionamento em estantes no interior do próprio Scriptorium para que pudessem ser lidas e de novo copiadas. Ao Monge Bibliotecário cabia a responsabilidade de conservar a Biblioteca e o Arquivo do Mosteiro, assim como ordenar a execução dos livros aos monges copistas. No Scriptorium do Mosteiro de São João de Tarouca abre-se uma porta de acesso direto às Latrinas, o que vem reforçar a importância da função dos monges copistas. As longas horas passadas no espaço eram assim facilitadas, evitando que os monges se deslocassem ao Claustro e a partir deste ao Dormitório, onde finalmente acederiam às Latrinas que, de acordo com a planta tipo cisterciense, deveriam ser unicamente disponíveis a partir deste último.
VI - V - II. Latrinas Habilidosa obra de engenharia, as Latrinas eram construídas sobre um canal de água corrente que os monges desviavam da ribeira, de forma a possibilitar o saneamento. O fluxo constante de água era uma obrigatoriedade, mantendo limpo um lugar de difícil manutenção.
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No caso do Mosteiro de São João de Tarouca, a subdivisão do canal de passagem da água permitiu acrescentar umas segundas Latrinas no piso térreo, o que vem contrariar a solução habitual em cenóbios cistercienses. Os monges tarouquenses tinham duplo acesso às Latrinas, no piso térreo a partir do Scriptorium e no piso superior a partir do Dormitório.
VI - V - III. Locutorium Espaço onde os assuntos da gestão corrente do mosteiro são tratados, o Locutorium está muito associado ao papel do Prior. Nomeado pelo Abade, o Prior ocupa o segundo lugar na hierarquia da abadia e é responsável pelos assuntos administrativos da comunidade.
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Ao Locutorium, que deriva da palavra latina para falar, é comum atribuir-se também a denominação de Auditorium, que deriva de ouvir. Efetivamente, este era um espaço que contrariava a obrigação de manter o silêncio. Para a boa administração do mosteiro, de interesse para toda a comunidade, era fundamental comunicar verbalmente. A entrada no Locutorium era feita a partir do Claustro, junto às escadas para o Dormitório. Por baixo destas, o espaço era aproveitado como Armarium para armazenamento de documentação referente à administração do mosteiro e suas propriedades.
Documentação Após a extinção das Ordens Religiosas em 1834, todo o cartório do Mosteiro de São João de Tarouca foi deslocado para o Seminário de Viseu. Um incêndio em 1841 acabaria por destruir todos os dados documentais, de extrema importância para a história da Ordem de Cister em Portugal. Na ausência de praticamente toda a documentação, a arqueologia revelou-se de extrema importância, tendo em conta que o aproveitamento do mosteiro como pedreira levou ao total desmantelamento das suas dependências medievais. Desde 1998, a multidisciplinaridade, com expoente máximo na vertente arqueológica, tomou conta do Mosteiro de São João de Tarouca e possibilitou o seu estudo rigoroso nas mais diversas vertentes.
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VI - V - IV. Dormitório dos Monges Professos O Dormitório dos monges professos ocupava todo o piso superior daquela ala. As celas não eram individualizadas, mas apenas separadas com simples divisórias de madeira.
Além da escada de acesso a partir do Claustro, aos monges era-lhes permitido aceder ao Dormitório diretamente a partir da Igreja através de umas segundas escadas, com entrada ao lado da porta da sacristia e usadas apenas no fim do dia, após o último ofício divino. À semelhança do Scriptorium, também aqui existia uma porta de acesso direto às Latrinas.
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VI - v - v. sala do capítulo Tal como os assuntos de foro administrativo eram discutidos no Locutorium, para a Sala do Capítulo estavam reservados os assuntos religiosos. Assim denominada por diariamente ali ser lido um capítulo da Regra de São Bento, a Sala do Capítulo é o espaço mais importante do complexo monástico logo depois da Igreja, abrindo-se ao Claustro através de uma ampla porta ladeada por janelas geminadas.
No seu interior, para a reunião capitular, o Abade – derivado de abas em grego - , de quem partem todos os ensinamentos, um pai para a comunidade, senta-se centralmente, enquanto os monges professos se sentam ao longo de um banco que contorna toda a sala.
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Do fora ficam os monges conversos, habitualmente em grande número, impedidos de entrar no espaço e de participar na reunião capitular, mas ainda assim convidados a assistir a partir do Claustro. Por isso, não existem quaisquer mecanismos para encerrar a porta ou as janelas, possibilitando aos conversos o acompanhamento de tudo o que se passa no seu interior, assegurando a transparência do que é discutido. Privados do direito de voto, aos conversos era permitido aceder apenas duas vezes àquele espaço: a primeira aquando da entrada no noviciado, a segunda no dia em que professavam a Regra e se tornavam monges. Privilégio exclusivo dos Abades era o seu enterramento neste espaço.
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Os monges exumados na Sala do Capítulo Durante os trabalhos de escavação no Mosteiro de São João de Tarouca foi possível proceder ao estudo de sete enterramentos e de dois ossários exumados na Sala do Capítulo, representativos de nove Abades sepultados entre os séculos XVII e XVIII. Todos de meia-idade ou já idosos, apresentavam graves lesões ao nível do pescoço, coluna e membros inferiores. A explicação, além do normal processo degenerativo associado à idade, está no cumprimento da oração diária exigida pela Regra. As horas passadas em genuflexão tiveram consequências não só ao nível dos joelhos, mas também ao nível das lesões cervicais relacionadas com um maior desgaste quando associadas à postura da cabeça nos momentos de oração. Por outro lado, o estudo paleontológico permitiu também tirar algumas conclusões quanto ao tipo de alimentação dos monges. A ausência de cáries pode ser indicadora do fraco consumo de açúcares refinados, assim como a ausência de tártaro pode ser indicadora de uma dieta alimentar pobre em proteínas. No entanto, não significa que estas duas patologias não tenham ocorrido de todo, uma vez que, por exemplo, no caso das cáries, se verifica uma grande perda dentária nos corpos exumados, por deficiente higiene oral. Além disso, a ausência de tártaro como indicador da quase ausência de proteínas na alimentação dos Abades contraria a documentação disponível. De acordo com o regulamento de 1789 retirado das Definições Capitulares da Ordem de Cister, os cereais, o peixe ou a carne, o vinho e em pequena quantidade os legumes e a fruta, constituíam a base alimentar dos monges. De entre a carne, a de vaca, ovelha e porco eram mesmo as mais consumidas e que eram permitidas em 156 dias. Já o peixe era prato obrigatório nos restantes dias do ano. Neste contexto, a ausência de tártaro nos cadáveres exumados dever-se-á antes de mais à forte acidez do solo e, no caso dos ossários, à manipulação das ossadas pelos próprios monges, aquando de novos enterramentos na Sala do Capítulo. Laje sepulcral
integrado no lajeado da Sala do Capítulo
Pedra a servir de “almofada”
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Vestígios de cal usada para acelerar a decomposição
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VI - vI. igreja A dicotomia entre monges professos e monges conversos vai verificar-se também na Igreja, seja pelo espaço que ocupam no seu interior (professos junto ao transepto, conversos aos pés), seja pelo acesso feito por portas distintas: os professos a partir da Porta dos Monges, com acesso do Claustro, e conversos a partir da Porta dos Conversos situada no lado esquerdo da fachada da Igreja. Esta tinha adossado o nartex, um alpendre que cobria a fachada da igreja em toda a sua largura. À semelhança do Claustro, também no nartex a opção pela simplicidade vai impor-se através de uma cobertura de telha sobre madeira, sendo, no entanto, um dos locais mais pretendidos para enterramento de doadores, a par do interior da Igreja, seguindo-se as galerias claustrais.
Para vencer a diferença de cota, cinco degraus davam acesso à Igreja de planta cruciforme com três naves. Uma capela-mor e duas laterais de planta quadrangular compõem a cabeceira.
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No interior da Igreja acedia-se à Sacristia, de pequenas dimensões, junto da qual ficava o Armarium, com acesso apenas pelo Claustro, onde eram conservados os livros sagrados que serviam o ofício divino na Igreja, sendo mais uma vez reaproveitado um vão de escadas para o efeito, desta vez, de acesso da Igreja ao Dormitório dos monges professos. Do lado oposto à Porta dos Monges, do lado Sul do transepto, abre-se a Porta dos Mortos, assim denominada por ser de acesso ao cemitério dos monges. Simbolicamente, esta porta marca a transição entre a vida e a morte, com a Igreja no centro de todo o complexo monástico. A Igreja era palco de momentos de grande intensidade mística, sendo de uso exclusivo da comunidade monástica. Por isso, rapidamente se instalou no exterior de mosteiro a Igreja de São Brás, de acesso público. De grande austeridade quer ao nível da fachada quer no seu interior, como o exigia o plano cisterciense, a Igreja do Mosteiro de São João de Tarouca primava pela simplicidade e despojamento. Na Igreja o Sacristão vai marcar presença no quotidiano dos monges, por ser o responsável pela marcação do tempo, assegurando o cumprimento de todos os rituais, além da responsabilidade pela manutenção do espaço. Por seu lado, e também com presença obrigatória, o Chantre dirige o ofício coral e possui autoridade sobre as atividades litúrgicas.
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O tempo O ofício divino determinava o tempo nas comunidades cistercienses. Não um tempo secular, mas um tempo onde a oração se assumia como o momento estruturante do ritmo da vivência monástica. O quotidiano medieval dos monges de Cister é marcado pela santificação do tempo, rigorosamente marcado e sem lugar para a ociosidade. Entre a oração, os monges reconfortavam o estômago, primeiro com o almoço como refeição ligeira, depois com o jantar e ao final da tarde com a ceia. Ofício Noturno
Ofício Diurno
Vigílias
2h30
Matinas (Laudas)
5h00 (aurora)
Prima
6h00
Terças
9h00
Sexta
12h00
Noa
15h00
Vésperas
18h00
(quando aparecia a estrela Vesper)
(variável conforme a estação do ano)
Completas
Entre as 20h00 e as 20h30 (variável conforme a estação do ano)
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MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA
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PORTO
VALE VAROSA LISBOA Museu de Lamego Largo de CamĂľes 5100-147 Lamego Portugal (+351) 254 600 230 mlamego@culturanorte.pt www.museudelamego.pt /museu.de.lamego Vale Varosa (+351) 254 600 230 (Museu de Lamego) valedovarosa@culturanorte.pt valedovarosa.visitar@culturanorte.pt www.valedovarosa.pt /valedovarosa
R I O
D O U R O | Alto Douro Vinhateiro - Património da Humanidade Alto Douro Wine Region - World Heritage
N 41º 06’ 25” W 7º 46’ 59” Capela de São Pedro de Balsemão LAMEGO
N 41º 05’ 50” W 7º 48’ 22” Museu de Lamego RIO BALSEMÃO
Limites dos coutos monásticos dos mosteiros de São João de Tarouca e de Santa Maria de Salzedas
A 24
EN 226
EN 1171
EN 525
N 41º 03’ 10” W 7º 46’ 32” Convento de Santo António de Ferreirim
N 41º 03’ 18” W 7º 43’ 32” Mosteiro de Santa Maria de Salzedas
EN 526
N 41º 02’ 56” W 7º 44’ 48” Ponte Fortificada de Ucanha EN 520
Ribeira de Tarouca EN 226
Ribeira de Salzedas
TAROUCA EN 329
EN 1176
Rio Varosa
N 40º 59’ 41” W 7º 44’ 48” Mosteiro de São João de Tarouca