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Procuro anjos
Procuro os anjos que habitavam as nuvens regando floradas, cores vivas para desmaiadas estações, tardes encantadas com duendes e fadas distraindo as horas, contrariando a solidão, fantasiando nulas histórias.
Que me emprestem asas para ensaiar outros voos na direção de céus em tingidos tons, para planar nas alturas em brisa suave acariciando o rosto como mãos delicadas.
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O que me resta? Forças poucas de corpo sofrido querendo parar, a dor dos pés pedindo descanso, suave beijo marcante no rosto rosado, um esboço tatuado para desencorajar esquecimento.
O palavreado tímido de lábios esperançosos e ouvidos atentos para o amém das preces, abraços depositados em calor, amor o diferenciado amor despretensioso, que só o necessário almeja.
Reflexos do espelho em imagem fosca de face jovial, o mal rancoroso para libertar e enfeitar em nova estampa de sutil traçado.
E na brincadeira em que o destino fingiu parcialidade e livre escolha, alastrou saudades enquanto cegamente direcionava caminhos indelicados.
Algumas palavras para serem ditas que simplifiquem miragens, mensagens não entregues de rispidez.
Procuro anjos que guardam poções com ingredientes adocicados, com perfumes entorpecentes apaziguando todos os anseios, os fracassos e desesperanças.
Clarice Lispector
Talvez só um querer, na ingenuidade de quem ainda ouve voz suave de canção de ninar e brinca livremente nas estrelas.
Em meio à treva da noite um luar entrega remendos de sonhos, hoje na descoberta para que outras vidas descrevam suas histórias com final feliz.
Procuro anjos que guardam promessas para entrega dos pedidos tantos que eu fiz e observar nos rostos envelhecidos por marcas do tempo e o alento nas faces jovens que agora afloram em vida.
Outra vez um só momento ou uma eternidade deles e na presente ingenuidade soprar recado para não mais sofrer.
Na profunda prece aquele instante de encorajamento, um dia de garoa retrucando o sol de imponente mormaço.
Um espaço alastrado do nada e de meu tudo, para brincar na chuva e a sensação do corpo leve e puro de lama desgarrada.
Aqui fantasio céu cobrindo campo, instigado em tanta beleza, embevecido de perfumes e cores por momento adormeço, logo desperto e por entre nuvens...
Procuro anjos.