INTERVALO ANALÍTICO - SBPRJ - ANO XVI - Nº 1 - Fevereiro de 2015

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Ano XVI No 1 Janeiro - Fevereiro 2015

INTERVALO ANALITICO

Foto: Flávia Palazzo

MATÉRIA DA CAPA

TRIBUTO À MARIALZIRA PERESTRELLO

TRIEB

FAZENDO PARTE DA NOSSA HISTÓRIA

“A nova sala de reuniões Dr. José Cândido Bastos desenha letras do passado e do presente pelas homenagens, pelos gestos afetivos que materializam lembranças de trabalho e dedicação.” Eloá Bittencourt Nóbrega

Homenagens à última dos pioneiros vivos da Psicanálise no Brasil. Fundadora da SBPRJ e primeira médica brasileira a tornar-se psicanalista, faleceu dia 27 de Janeiro, aos 98 anos. Sergio Paulo Rouanet, Celmy Quilelli Corrêa e Ney Marinho

“Queremos que a Trieb articule e capture espaços, dentro e fora de nossa Sociedade, ...” Bernard Miodownik, Maria do Carmo Andrade Palhares, Maria de Fátima Amim e Munira Aiex Proença

Entrevista com Miguel Calmon, novo Presidente para o biênio de 2015-16. Mônica Aguiar

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EDITORIAL

MATÉRIA DA CAPA

O que será que será? Inauguramos, com esta edição, uma nova gestão do Conselho Diretor da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, ao mesmo tempo, preservamos as tradições de uma instituição comprometida com o saber psicanalítico, a sua prática e a sua transmissão. O Intervalo Analítico, tradicionalmente, apresenta-se como veículo de integração, informação e reflexão a partir da vida institucional, e com a nova gestão tem a pretensão de circulação e abertura para além do corpo societário. Com essa perspectiva firmada pelo presidente, Miguel Calmon, a equipe do Departamento de Publicação e Divulgação criou uma proposta editorial, um formato e uma estética, que aposte no intercâmbio de ideias. Com algumas colunas fixas, com espaços de diálogo, novidades no campo da cultura, e o anseio de ser instigante nas reflexões que albergar, o IA irá construindo sua cara e forma, como um rio que passa num espelhamento transitório, repensando o passado e fazendo do presente a inspiração para o futuro. Como diz a canção: “Nada do que foi será...”. Essa é a única certeza. Influenciada por algumas reflexões com o início da leitura do livro do cientista político e economista, Thomas Piketty, “O Capital no século XXI”, tracei um paralelo,

certamente reduzido neste contexto de publicação, entre a contradição e o acelerado rendimento do capital que supera cada vez mais o ritmo do crescimento econômico pela força de trabalho, gerando concentração de riqueza e desigualdade social; e o pensamento psicanalítico cristalizado em ilhas narcísicas de suposto saber. Da mesma forma que tendências econômicas caminham conforme as forças da

“Repensando o passado e fazendo do presente a inspiração para o futuro.” natureza, as forças políticas e as forças da cultura, a psicanálise também caminha de acordo com as diversas forças, datadas historicamente, e implicadas na estruturação do psiquismo dentro de cada cultura. É com esse espírito de se deixar atravessar pelas forças dos pensamentos que nos tocarem, pelas transformações do caminhar do tempo - que iremos construindo a história que aqui será contada.

A medida Formamos um corpo de colaboradores e editores das colunas permanentes, conforme poderão ler nesse primeiro número: Revista Trieb da SBPRJ; Fazendo Parte da Nossa História - entrevistas com analistas; Psicanálise e Cinema; Psicanálise e Arte Em que ponto você está?; Divagar é Preciso - dicas literárias; Notícias do Conselho Científico; Notícias do Instituto de Ensino e Formação Psicanalítica; Espaço dos Membros Provisórios do Instituto; Notícias do Site e informações de outros departamentos; Vai acontecer - agenda de eventos; Notas do Conselho Diretor; Carta do leitor - para receber sugestões, críticas ou troca de ideias. O jornal poderá ser lido, também, no site da Sociedade. Finalmente, tenho muito a agradecer a todos os colegas, e à Equipe do Departamento de Publicação e Divulgação que acreditaram no nosso projeto e sonham conosco o futuro incerto, porém potencialmente criativo na voz e na escrita ética de uma psicanálise que se aproxima do vigor inconsciente de cada um de nós. Desejamos arriscar fazer e pulsar a alma da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Lúcia Palazzo Editora

CONSELHO DIRETOR 2015-2016 Presidente: Miguel Calmon du Pin e Almeida; Vice-Presidente: Fernanda de Medeiros Arruda Marinho; 1º Secretário: Carlos Alberto Quilelli Ambrosio; 2ª Secretária: Maria Elisa Alvarenga; 1º Tesoureiro: Cláudio Frankenthal; 2ª Tesoureira: Cristiane Paracampo Blaha Rangel / Conselho Científico: Wania Maria Coelho Ferreira Cidade (Diretora), Sandra Maria de M. Gonzaga e Silva (Secretária) / Conselho Profissional: Margaret Rose C. Waddington Binder (Diretora), Sonia Cecília Bromberger (Secretária) / Clínica Social e Centro de Estudos Psicanalíticos: Maria Teresa Naylor Rocha (Diretora), Maria Teresa Silva Lopes (Secretária) / Departamento de Publicação, Biblioteca, Arquivo e Divulgação: Lúcia Maria de Almeida Palazzo (Diretora), Eloá Bittencourt Nóbrega (Secretária) / Departamento de Difusão da Formação Psicanalítica: Simone Wenkert Rothstein (Diretora), Sônia Eva Tucherman (Secretária) / Instituto de Ensino e Formação Psicanalítica: Celmy de A. A. Quilelli Corrêa (Diretora), Ruth Lerner Froimtchuk (Vice-Diretora), Maria Cristina Brandão Lobato Cunha (Secretária) / Site: Luciana Carvalho INTERVALO ANALÍTICO Editoras: Lúcia Maria de Almeida Palazzo, Eloá Bittencourt Nóbrega / Colaboradores do Departamento de Publicação, Biblioteca, Arquivo e Divulgação: Cláudio Frankenthal, Cristiane Rangel, Fernanda Lorenzon, Lúcia Moret, Luciana Carvalho, Magda Costa, Marina Tavares, Mônica Aguiar, Roberto Franco e Samantha Nigri / Secretária: Celyne Maués / Projeto Gráfico e Editoração: Fantastico Studio di Design

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“Tudo começa num ponto”, são os dizeres de Kandinsky em exposição no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, cidade de maravilhas e mazelas, que está comemorando 450 anos. A sede da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro - SBPRJ é o ponto em que tudo começa. No google.maps somos um ponto no mapa. Vistos de dentro, somos humanos interessados na psicanálise, encontramos no espaço físico um lugar para aprender, conversar, discutir, expandir. Apresentamos os novos membros que ingressam, como também, as mudanças nas etapas até as qualificações, com a psicanálise a ondular estes tempos, diferentes tempos de seus membros. A nossa sala de reuniões poderia ser uma inspiração para Kandinsky, pela cor verde das paredes e das cadeiras. Ele que gostava tanto das cores, as cores da emoção, do volume, do trabalho, dos sons e das palavras. A nova sala Dr. José Cândido Bastos desenha letras do passado e do presente pelas homenagens, pelos gestos afetivos que materializam lembranças de trabalho e dedicação. Convidados e membros da sociedade, a prata-da-casa, passaram e passarão para engrandecer as nossas reuniões e a cada um de nós em nossa singularidade e desta língua singular a outra. Tempo e espaço se cruzam e neste ponto crescemos. O tempo que agora começa, com a nova gestão, para o biênio de 2015-2016, exige ritmo, cadência e participação, o que convoca a todos. Maurice Blanchot em “A medida, o suplicante”, no livro A Conversa Infinita, diz que o suplicante é um personagem da poesia gre-

Conselho Diretor 2015-2016

ga. Desenrola-se um jogo entre o suplicante e o suplicado, em que o primeiro exalta o segundo, deixando clara a desigualdade. Mas, não somente, aponta por sua postura, que está fora do poder que rege o suplicado, pertencendo à outra lei, que o outorga à sua verdadeira condição, o de estrangeiro. Suplicante em grego quer dizer “aquele que vem, ...é o homem da vinda, sempre a caminho porque sem lugar”. Assim, este estrangeiro que vem precisa encontrar a medida, a súplica requer uma medida. Este texto de Blanchot é primoroso, coloca as tensões do homem com o divino e consigo mesmo pelo olhar do mundo grego, em que “cabe ao homem igualar de início o pró e o contra, à espera de que o céu faça pender a balança; e o céu aguarda, para fazê-la pender, que o homem a tenha equilibrado”.

Foto: Arquivo SBPRJ

A partir daí, não há mais certezas e nem garantias, o que há como oportunidade é a fala, nos diz Blanchot. O suplicante é o falante. A “palavra é a medida”, pois convoca seu interlocutor para um espaço entre ambos: “esse entre-dois (vazio e sagrado) é o lugar mesmo do meio”. A palavra organiza e mesmo na ausência de uma linguagem comum, ela é a única forma de se fazer presente. Assim, caros colegas, sintamo-nos convocados a vir e nos colocarmos neste lugar entre nós, entre-dois, falantes na sala de reuniões. A súplica torna o dilema mais essencial, a palavra-presença para que a vida seja possível: “ou a fala ou a morte”. Eloá Bittencourt Nóbrega eloa_bittencourt@hotmail.com

NOTAS DO CONSELHO DIRETOR Homologações da AGO de 15/12/2014 Qualificação como membro Efetivo: Psic. José Francisco da Gama e Silva Junior; Psic. Wania Maria Coelho Ferreira Cidade / Qualificação como membro Associado: Psic. Karla Cristina Ramos Loyo; Psic. Magda Rodrigues Costa; Psic. Samantha Nigri / Pedido de passagem para membro Extra-quorum: Psic. Vanessa Montenegro Carvalho da Fontoura; Psic. Vania Maria Vaz Fidalgo Nascimento / Pedido de desligamento do membro Associado: Dra. Jane Vaissman / Departamento de Crianças e Adolescentes da Federação Psicanalítica da América Latina - Fepal: Ana Maria Sabrosa.

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FAZENDO PARTE DA NOSSA HISTÓRIA

Entrevista com

Miguel Calmon Pensando estimular a aproximação dos membros da nossa sociedade, através de entrevistas que divulguem suas ideias e seus interesses, para que possam ser conhecidos ou reconhecidos através de novos ou antigos ângulos, contamos aqui com a participação de Miguel Calmon, nosso novo Presidente para o biênio de 2015-16. Para compor esta entrevista, solicitamos aos ex-presidentes e membros do Conselho Diretor que enviassem perguntas ao Presidente. Mônica Aguiar monaguiar@aol.com Sônia Eva: Qual será o maior desafio a ser enfrentado por você como presidente da SBPRJ? Abrir a Sociedade para as questões da sociedade, Sonia. Mas, por favor, não me tome como alguém que chega para “inventar a roda”. Na nossa plataforma, deixo claro que o desafio é levar à frente o que vem sendo discutido e proposto pelas gestões que nos antecederam. Você sabe tão bem quanto eu como é próprio de todos nós o desejo de se fechar para garantir as eventuais conquistas que tenhamos feito. Com o passar do tempo, o feitiço vira contra o feiticeiro. Reproduzi na plataforma um diálogo com Emmanuel Carneiro Leão onde ele provocativamente nos adverte da tarefa de estarmos constantemente tendo que “livrar a psicanálise da psicanálise para a psicanálise”. Eu acredito que o mesmo processo se repete nas instituições e nos vemos diante do mesmo desafio: abrirmo-nos para sermos visitados pelos nossos estranhos. Portanto trata-se de um desafio incessante e que não tem outro destino que não o de se repetir. Ney Marinho: O ponto central da sua plataforma é uma ampla abertura (científica, cultural e política) da SBPRJ para a sociedade geral. Levando em conta a posição privilegiada da psicanálise, que não tem qualquer compromisso étnico, religioso ou ideológico e também a tradição da SBPRJ de participação nos movimentos pela paz (desde as propostas de Paulo Marchon, até a filiação de Helena Vianna, Geny Talberg, Rosa Beatriz e outros na CONDEPAZ), não seria o caso de propor à SBPRJ um amplo debate quanto à adoção como política societária, de um compromisso com a luta pela paz e convivência pacífica dos povos e cultu-

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ras, inclusive frente às nossas entidades maiores: FEBRAPSI, FEPAL e IPA? Sem dúvida alguma. O encaminhamento que procurei dar à pergunta da Sonia Eva desemboca no que você me pergunta, Ney. A abertura que leva à adoção de tal política indica um crescimento da Sociedade. Sair do próprio umbigo e se abrir para o contato sempre conflitivo e perturbador com o estranho. É curiosa a atitude de alguns intelectuais de toda sorte que muitas vezes procuram se alienar em lógicas bem complicadas para escapar deste diálogo difícil e de consequências concretas sobre nossas vidas.

“Eu acredito que o mesmo processo se repete nas instituições e nos vemos diante do mesmo desafio: abrirmo-nos para sermos visitados pelos nossos estranhos.” O que não me iludo é quanto à função da liderança que este processo requer. Isto não se dá gratuitamente. Para que o compromisso com a luta pela paz e pela convivência pacífica entre os povos e culturas, assim como a política de responsabilidade social, se institua como parte da política da Sociedade, precisamos de lideranças capazes de mobilizar seus membros, apontando os riscos que estamos correndo constantemente caso decidamos nos manter

alienados. Precisamos de você, da Geny, daqueles que nos inspiraram em nossa trajetória, e das novas lideranças que estejam surgindo. Paulo Marchon: Em Fortaleza, contamos com uma Escola de Psicoterapia Psicanalítica que tem rendido grandes benefícios à Formação Psicanalítica e Difusão da Psicanálise na cidade e no Estado. Os alunos não são obrigados a se analisar, mas um número razoável se submete à psicoterapia ou análise e cerca de 90% completam os três anos da Escola. O que você acharia de implementar essa ideia na SBPRJ, considerando que o benefício alcançaria, inclusive, a população geral que passa a contar com um maior número de pessoas que além de divulgarem a psicanálise, se submetem ao tratamento e podem posteriormente procurar a formação? Paulo gostaria de responder a sua pergunta no contexto das dificuldades que temos enfrentado para sobreviver como instituição. Enfrentar sua pergunta como dizendo respeito à questão de sobrevivência. Acredito que toda e qualquer iniciativa que traga a sociedade para dentro das Sociedades, estará contribuindo para nossa sobrevivência como instituição. Evidentemente que não estou me referindo a ações que são sejam passíveis de revisões e críticas. Não estou defendendo uma política kamikaze, mas partindo da constatação que perdemos em algum ponto o bonde da história. Não existem mais candidatos como um dia nós o fomos. Nem a psicanálise nem as instituições psicanalíticas tampouco são as mesmas de outros tempos. As ilusões iluministas de que o conhecimento traz inexoravelmente consigo a felicidade, ficaram para trás. O que move o desejo não se abastece mais deste combustível.

Miguel Calmon Apesar de continuar acreditando que a psicanálise permanece como a melhor ferramenta para tratar o sofrimento psíquico, percebo que suas estratégias foram modificadas pela história. Considero a iniciativa de vocês muito interessante e merece ser estudada para implementação nas demais sociedades. Ruth Lerner: A partir do reconhecimento da pouca procura pela formação em nosso Instituto, com um número de postulantes (que atendem aos pré-requisitos estabelecidos) inferior à possibilidade de constituição de uma nova turma, como você pensaria em formas de estimular ou possibilitar o acesso à nossa Instituição, considerando que essa é uma medida importante da vitalidade de uma Sociedade de Psicanálise? Abrindo a Sociedade às críticas da sociedade e esperando que isso nos transforme. Temos que pensar outros modelos de formação, Ruth. O Paulo Marchon encaminha uma alternativa que me parece interessante. Temos que ouvir não apenas da IPA, mas da sociedade a qual nos referimos o que eles têm a dizer sobre nosso desempenho, sobre o que estamos oferecendo. No ambiente universitário o que se escuta é que a “Brasileira é a mais fechada das Sociedades do Rio”. Não me importa debater se isso é verdadeiro ou falso. Se nós ou eles estão errados. Interessa-me tomar esta anedota como um sintoma que me permite olhar para dentro de mim com um olhar estranho a mim mesmo. Se é a eles que me dirijo, é importante considerar o que me dizem. Li uma pesquisa recente da IPA onde era mostrado que 70% dos analistas da IPA tem mais de 60 anos! Isso é preocupante. Onde perdemos o bonde? Todos nós fomos seduzidos pelo discurso

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da psicanálise nos anos 60/70 e um pouquinho dos anos 80. De lá para cá o que aconteceu? Crise na psicanálise? Crise da psicanálise? Crise dos psicanalistas? Até onde consigo enxergar, a psicanálise continua despertando bastante interesse em todo o mundo. As críticas que nos tem sido dirigidas pelos intelectuais de outros saberes e por nossos pacientes, têm produzido resultados importantes para a teoria e práticas psicanalíticas. Pergunto: o modelo de formação que foi pensado nos anos 80, que exige um período de dois anos de análise com um didata da Sociedade para início dos seminários, continua com o mesmo vigor de quando foi pensado? Eu ajudei a debater este modelo. Hoje eu o considero anacrônico e uma das principais fontes de afastamento de colegas que de outro modo se aproximariam da SBPRJ. Simone Wenkert: O que você compreende como difusão da formação psicanalítica? De que forma você considera que a difusão da formação psicanalítica contribui para a SBPRJ? Como questão de sobrevivência, Simone, se eu não for capaz de sensibilizar a sociedade com os conceitos da psicanálise e assim encontrar quem queira levá-los à frente, morreremos. Difundir a formação significa estar antenado ao tempo de modo a encontrar formas criativas de transmitir a psicanálise. Não se trata de uma militância cuja finalidade é converter “infiéis ao meu credo”. Mas de apresentar saídas criativas que deem a quem as escuta a sensação de poder compreender e se relacionar melhor com o mundo e seus conflitos. Por esta razão considero fundamental o apoio aos grupos que são supervisionados pela SBPRJ.

Foto: Wania Cidade

Lúcia Palazzo: Você foi editor da Revista Trieb, da SBPRJ, por 8 anos, qual é a importância das publicações psicanalíticas? A experiência psicanalítica do psicanalista se realiza no momento que ele a escreve e a dirige a um outro. O momento da escrita é o momento de apropriação subjetiva de tudo o que foi vivido em dada situação. As revistas são veículos desta comunicação e que acabam definindo o perfil da sociedade da qual é veículo. A experiência que tive com a TRIEB foi fundamental em minha vida na SBPRJ. A convivência próxima a todos os colegas e amigos com quem ao longo dos anos dividi esta responsabilidade estão na base de muitas das propostas que levantei em nossa plataforma. Acho fundamental que a TRIEB seja a revista da SBPRJ e por ela seja subvencionada, mesmo tomando em consideração os esforços necessários para vendermos assinaturas. Bernard Miodownik: Em anos recentes a nossa Sociedade organizou simpósios bianuais Psicanálise-Psiquiatria muito proveitosos. O que o motivou a incluir no programa do Conselho a proposta de uma frequência maior para esses encontros? O isolamento a que a psicanálise tem se condenado. Temos que reaprender a dialogar. A psicanálise nasce no embate com as ciências da natureza e jamais deixou de ter que pensar qual a sua natureza. Ciência ou arte? Tampouco os psicanalistas jamais deixaram de ter que pensar as definições de sua identidade. Freud debateu com a psiquiatria para se diferenciar dela. A impressão que tenho é que depois de um período de certa hegemonia da psicanálise, os ataques se intensificaram e nós nos de-

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FAZENDO PARTE DA NOSSA HISTÓRIA

fendemos entrando em nossas trincheiras. E “eles” nas deles. Como se o que fazemos não tivesse áreas de contato assim como diferenças. Temos que aprender de novo a dialogar com a psiquiatria. Esta me parece mais uma daquelas questões que se destinam a se repetir incessantemente. Joaquim Couto Rosa: Durante alguns anos, a Sociedade ofereceu um curso sobre desenvolvimento emocional da criança aberto e direcionado a qualquer tipo de profissional, tal como professor, enfermeiro e outros. Foi uma experiência proveitosa para todos os participantes: alunos e professores, assim como para a Sociedade, já que alguns desses alunos vieram nos procurar para a formação regular no nosso Instituto. Será que esse projeto poderia ser retomado? Propostas como estas são e serão muito bem vindas Joaquim. A Sociedade não vive apenas de seu Instituto de formação estrito senso. As considerações que fiz ao responder ao Paulo, servem para o diálogo que você propõe. Gostaria muito que todos aqueles que tenham interesse em promover grupos de estudos como o curso que você coordenou, que se apresentem. Pro-

ponham suas idéias, divulguem seus grupos. Se possível, que possam inclusive fazer parte do Instituto. Para mim, Joaquim, me repito, isto é questão de sobrevivência.

“Nem a psicanálise nem as instituições psicanalíticas tampouco são as mesmas de outros tempos.” IA: Pode nos contar um pouco da trajetória na sua formação. Um histórico de minha formação se constrói em torno dos lugares que frequentei e das amizades que fiz ao longo da vida. Devo a eles minha formação. Nasci no Rio em 1953. Estudei de 1956 a 1971 no Colégio Brasileiro de Almeida. Tenho amigos de lá até hoje: por exemplo, nossos colegas Guilherme Franco de Toledo e Arnaldo Goldenberg. Passei no vestibular para Psicologia na PUC em 1972 e me formei em julho de 1976.

Milú Byington, Patricia Simões, Ionete Passos, Pedro Pellegrino, Octávio de Souza, dentre tantos, obrigado. Fiz o curso de Especialização em Psicoterapia Psicanalítica na Santa Úrsula, coordenado por Samuel Faro e Ângela Coutinho. Em 1978, fundei com colegas e amigos, dentre os quais nossas colegas Eleonora Nascimento Silva e Sherrine Borges, o Instituto de Formação Freudiana – IFP -, grupo de autogestão que abriu o estudo de Freud e Lacan com força e vigor. Em 1980, fiz entrevistas para a SBPRJ. Obrigado Júlio de Melo Filho, Neilton Dias da Silva, Helena Vianna, Celmy e Roberto Quilleli, Fernanda e Ney Marinho, Sérgio Almeida, Fernando Coutinho, Fernando Rocha, Anna Maria Bittencourt, Nilde Ribeiro, Waldemar Zusman, Marci Passos, Admar Horn, Margaret Binder, Sonia Bromberger, tantos outros, tanta gente presente na minha formação. Chaim Katz, Carlos Augusto Nicéas, Octávio de Souza .... IA: O que te deixaria satisfeito em termos de realizações em dezembro de 2016, na entrega do seu cargo? Ter discutido de forma consistente a formação analítica na SBPRJ de maneira a termos turmas novas de membros provisórios.

OBITUÁRIO

Marialzira Perestrello 05.03.1916 – 27.01.2015 Última dos pioneiros vivos da Psicanálise no Brasil, fundadora da SBPRJ (Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro), primeira médica brasileira a tornar-se psicanalista e primeira carioca a filiar-se à Associação Psicanalítica Internacional, faleceu terça-feira à noite, 27 de Janeiro, aos 98 anos, Marialzira Perestrello. Formada pela Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, em 1939, era viúva de Danilo Perestrello, também psicanalista e introdutor da Medicina Psicossomática no Brasil, com quem foi, juntamente com Walderedo Ismael de Oliveira e Alcyon Baer Bahia, os quatro então jovens psiquiatras, fazer formação psicanalítica em Buenos Aires, na segunda metade dos anos 40. Ao retornarem, participaram da fundação da SBPRJ e tiveram grande influência no movimento psicanalítico brasileiro.

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Filha do Acadêmico e jurista Pontes de Miranda, dedicou sua vida à psicanálise, a seus pacientes e alunos; às artes, sobretudo, à poesia, assim como aos inúmeros amigos no campo da cultura brasileira. De um deles, Sergio Paulo Rouanet, retiramos de um belo texto em sua homenagem, a poesia da amiga: Prece: “Ó Pai nosso se estás no céu/ e se santo é teu nome... / Por que não dás a todos / seu pão de cada dia? ... / Por que em tentações de ódio ainda caímos? / Se estás nos céus, Ó Pai nosso, / por que não nos livras deste mal / Para dizermos, então, Amén?” Estudiosa incansável (iniciou seus estudos de alemão aos 80 anos!), da mesma forma que foi pioneira em levar a psicanálise ao atendimento de crianças, no Instituto de Psiquiatria da atual UFRJ, nos anos 50,

estimulou em seus últimos anos a atividade clínica da psicanálise para pacientes idosos. Dentre seus principais livros estão: História da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro – suas origens e fundação; A Formação Cultural de Freud; Cartas a um jovem psicanalista; Há um quadrado de céu que não viram (primeiro de uma série de nove outros livros de poesia). Ocupou os mais importantes postos na SBPRJ, além de constante participação em congressos nacionais e internacionais de psicanálise. Marialzira faleceu por falência múltipla dos órgãos e foi enterrada na última quarta-feira, dia 28, no Cemitério São João Batista. deixa um filho, o psicanalista Sigmund Perestrello, nora, neta e bisneto. Ney Marinho

Tributo a Marialzira Ainda sob o impacto da morte de minha inesquecível amiga, Marialzira Perestrello, transcrevo abaixo as palavras que pronunciei em sua homenagem, em setembro de 2009, na sede da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Estava eu tomando posse em minha cadeira no Instituto Histórico e Geográfico, há alguns anos, quando uma senhora, sentada no saguão, foi abordada por outra senhora, uns quinze anos mais jovem, que lhe dirigiu a palavra em francês, dizendo coisas esotéricas que pareciam a senha de uma sociedade secreta: Ce fut pendant l´horreur d´une profonde nuit - era durante o horror de uma noite profunda. A senhora mais velha também devia fazer parte da mesma sociedade secreta, porque sem hesitar disse uma frase igualmente misteriosa: Ma mère Jézabel devant moi s´est montrée - Minha mãe Jezabel diante de mim se mostrou. A senhora mais jovem continuou: Comme au jour de sa mort pompeusement parée – como no dia de sua morte,

pomposamente adornada. Ao que a outra retrucou imediatamente: Même elle avait encore cet éclat emprunté – ela tinha mesmo aquele brilho artificial. E a mais jovem: dont elle eut soin de peindre et d´orner son visage – com que ela pintava e ornava seu rosto. E a mais idosa, encerrando enfim a cerimônia de reconhecimento mútuo: pour réparer des ans l´irréparable outrage para reparar dos anos o irreparável ultraje. A senhora mais velha era minha mãe. A mais jovem era Marialzira Perestrello. As palavras enigmáticas vinham de uma tragédia de Racine, Athalie. E como infelizmente a realidade não é um folhetim de Alexandre Dumas, não havia nenhuma sociedade secreta. O que aconteceu foi que Marialzira quis conhecer minha mãe, e não havendo por perto ninguém que a apresentasse, resolveu apresentar-se a si mesma, valendo-se para isso da tragédia de Racine, pois ela sabia, graças ao meu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, que minha mãe, ex-aluna do

Quando a conheci, em 1964, na comemoração dos 10 anos de fundação do COI, no Instituto de Psiquiatria, apresentava trabalho sobre uma relação mãe e filha em que tinha avaliado a criança e analisado a mãe. Fiquei imediatamente encantada com aquela mulher de 48 anos, bonita, inteligente, de voz clara e vocabulário sofisticado, que sedutoramente desdobrava a nossos olhos a dinâmica daquela relação precoce e tão comprometida. Intimamente a escolhi como minha futura analista. Depois de minha primeira análise, naquele tempo concluída, dizia-me que precisava de “uma psicanalista mulher”. O que descobri anos depois em análise, com ela mesma, foi de que tinha sido capturada pela rede da transferência em extensão que o conteúdo do artigo revelava. Pela primeira vez tinha entrado em contato com o conceito de identificação projetiva, sem que dele sequer tivesse notícia... Quando finalmente a procurei cedeu-me uma das poucas horas que reservava para trabalhar. Disso se orgulhava muito:

trabalhava pouco, descansava sistematicamente após o almoço, tinha suas horas de leitura e compartilhava com muito prazer “com Danilo” de um círculo social muito cultivado. A casa de Paquetá era seu refúgio. Sua formação humanística clássica lhe permitia uma elasticidade no enquadre que a fazia ultrapassar os rituais menores da prática psicanalítica. Também por isso tivemos canais de comunicação que nos permitiram atenuar nossas diferenças de temperamento e origem social. Amávamos as letras, a cultura clássica, e tínhamos em comum a influência que absorvêramos da cultura positivista. Manteve-se ateísta tal como sua mãe. Encontrar numa analista esse campo de comunicação, sem que isso significasse, ou fosse interpretado como intelectualização, foi um privilégio num momento em que as “me-interpretations” eram tidas como o veículo princeps de acesso ao Inconsciente. Viajar através dos personagens míticos, históricos e românticos, suavizou

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Marialzira Perestrello Foto: Arquivo SBPRJ

Sion, conhecia de cór trechos inteiros dessa peça. Achou que o meio mais prático de estabelecer um contato era declamar o primeiro verso do episódio mais famoso da tragédia, “O sonho de Athalie”. O resto, pensava ela, viria naturalmente. (continua) Sergio Paulo Rouanet

Para ler o texto completo, acesse nosso site (www.sbprj.org.br) ou nosso Facebook.

enormemente minha travessia interna, assim como os próprios encontros com ela. Ainda estava em análise didática, um percurso de 10 anos, quando a doença de Danilo abateu-a. Sua dor foi muito evidente. Ficou mais silenciosa, sim. Reduzimos a frequência de 5 para 3 sessões, sim. Nessa época, no entanto, pude aproveitá-la mais intimamente. Outras circunstâncias nos aproximavam. Depois chegaram os tempos conhecidos mais publicamente: a poeta que se desvelou, a pesquisadora da vida cultural de Freud que a tornou mestra para todos. Seu renascimento. Em memória de Marie Langer, sua Tiresias mujer, escreveu: Noche de niebla y tiniebla Siente frío la gente. Un frío más allá del frío: Ella se murió. Em 27 de janeiro desse ano Marialzira também morreu. Celmy de A.A.Quilelli Corrêa

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PSICANÁLISE E CINEMA

NOTÍCIAS DO INSTITUTO É com muita satisfação que anunciamos, a partir desse número, a coluna “Notícias do Instituto“. O espaço é para que vocês - direção, didatas, membros provisórios e colaboradores - tragam notícias, registros, mas também, por quê não? polêmicas e discussões. Para aqueles, como eu, que já não fazem mais parte do Instituto, pode ser a oportunidade de re-conhecê-lo, renovando as questões de uma formação que se quer permanente. Para a SBPRJ como um todo, a chance de abertura de mais um canal de comunicação. Muitas vezes pensamos na difusão como algo “’para fora”, e esquecemos de conversar entre nós... Aliás, esta questão tem me ocupado ultimamente : cada vez mais percebo que em nosso tempo “ tecnológico”, atitudes como conversar, ouvir o outro, ficar em silêncio, caíram em desuso, mas são raridades preciosas que a psicanálise tão bem cultiva. Vamos conversar então, aqui com a escrita, diferente, sem dúvida, mas tão importante quanto a fala. A seguir, os textos de Celmy Quilelli Corrêa, Diretora do Instituo, e Fernanda Monteiro Lorenzon, inaugurando o Espaço dos Membros Provisórios.

Cristiane Rangel cblaharangel@gmail.com

Umwegen, können wir nicht erraten. Unterdes dürfen wir uns sagen: Alles, was die Kulturentwicklung fördert, arbeitet auch gegen den

Iniciamos as atividades do Instituto no atual Conselho Diretor, de 2015-2016, no dia 26 de janeiro, depois de um bom período de férias necessário para a retomada dos trabalhos. De imediato, temos a informar uma mudança no Comitê de Formação: nossa colega Eliane Pessoa, inicialmente anunciada como Coordenadora do Departamento dos GAACs, enviou-nos uma carta renunciando ao cargo. Essa intercorrência já estava prevista e, apesar de muito lamentada, só podemos agradecer à generosidade de Eliane que tinha se prontificado a compor o Comitê. Temos, no entanto, uma boa notícia a oferecer: Sonia Eva Tucherman, colega de grande experiência em funções institucionais, aceitou ocupar esta função tão delicada de coordenar os grupos que acompanham os alunos do Instituto. Assim, com o tecido institucional já recomposto, poderemos nos debruçar sobre os projetos anunciados previamente no programa do atual Conselho Diretor. Sem mais, Celmy Quilelli Corrêa Diretora do Instituto

Krieg. Ich grüße Sie herzlich und bitte Sie um Verzeihung, wenn meine Ausführungen Sie enttäuscht haben. ESPAÇO DOS MEMBROS PROVISÓRIOS Ihr

Mudaram as estações “Mudaram as estações, nada mudou, mas eu sei que alguma coisa aconteceu, tá tudo assim, tão diferente...” Estamos iniciando um novo ano e, como tradição, muitas pessoas costumam fazer nessas passagens uma retrospectiva do ano que passou além de depositar expectativas e esperanças no ano que virá. Nesta primeira coluna de 2015, gostaríamos de fazer algo semelhante. Em primeiro lugar, lembramos carinhosamente dos Membros Provisórios que concluíram sua formação em 2014. “Se lembra

Novos representantes dos Membros Provisórios

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Foto: Arquivo SBPRJ

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Sigm. Freud

quando a gente chegou um dia a acreditar, que tudo era pra sempre, sem saber, que o pra sempre... sempre acaba.” Nossas felicitações aos colegas Karla Cristiane Ramos Loyo, Magda Rodrigues Costa, Maria Elisa Alvarenga, Mirian Cezar Carneiro da Cunha, Paulo José Torres da Silva e Samantha Nigri pelo empenho e dedicação à Psicanálise ao longo de todos os anos da formação. Que vocês continuem o trabalho psicanalítico com o mesmo investimento e amor à profissão! Dando boas vindas a 2015, aproveitamos para anunciar com muito entusiasmo a nova chapa de Representação dos Membros Provisórios, que é composta por Gilberto Bruzzi Desiderio (Representante Geral dos Membros Provisórios), Monique Ribeiro Assis (Vice Representante), Adriana Guimarães Lasalvia, Ana Carolina Costa Bastos Vieira, Felipe Feldman, Fernanda Monteiro Lorenzon, Indira Siqueira Stevanato e Maria Luiza Bertino Guimarães. Assumimos o compromisso de representar os membros provisórios com disposição e a convicção de que o trabalho coletivo será fundamental para que possamos oferecer uma gestão efetivamente e afetivamente representativa aos nossos pares.

IDA

Continuando no clima das boas expectativas para 2015, anunciamos aqui uma novidade: em todas as publicações do Intervalo Analítico teremos um espaço destinado aos Membros Provisórios. Nesta coluna, poderemos trazer assuntos relacionados ao Instituto, à Formação Psicanalítica, bem como qualquer discussão relacionada à Psicanálise. Ficamos muito orgulhosos e honrados de sermos contemplados com essa coluna periódica e agradecemos aos responsáveis pela edição do jornal por essa oportunidade. Também aproveitamos para enfatizar a importância de ocuparmos mais este espaço, e deixamos o convite a participarem dessa empreitada! Como bem cantava Cássia Eller no auge de sua sensibilidade: “eu só queria te contar, que eu fui lá fora e vi dois sóis num dia, e a vida que ardia sem explicação. Não tem explicação, explicação, não tem explicação, não tem, não tem...” Um brinde a 2015 e que ele seja simples, sensível, verdadeiro e pulsante como uma boa música. Fernanda Monteiro Lorenzon fernandabmonteiro@yahoo.com.br

Na quinta parte de seu texto “Psicologia das Massas e análise do Eu”, Freud trata dos Exércitos e das Igrejas como dois grupos artificiais - porque “exigem uma força externa para mantê-los reunidos”. Em uma passagem, ele escreve que “via de regra a pessoa não é consultada, ou não tem escolha, sobre se deseja ou não ingressar em tal grupo; e qualquer tentativa de abandoná-lo, se defronta com perseguição (...)”. Acrescento eu que, por vezes a “perseguição” já está internalizada, e pode ser até mais potente do que as “severas punições” externas às quais Freud também faz alusão. Vale muito ler ou reler esse texto e, no caso ao qual vou me referir, o filme polonês “IDA”, essa releitura pode ser esclarecedora. O filme vem despertando muitos elogios e alguns questionamentos. Muitas pessoas estranharam o desfecho (e aqui vai uma ADVERTÊNCIA: se quem está nos lendo ainda não viu o filme, talvez não goste de saber de antemão o desenrolar da história e muito menos a sua conclusão). A história começa de modo muito parecido com um clássico do cinema, “Viridiana”, de 1961, uma das obras mais irreverentes do grande artista surrealista espanhol, Luís Buñuel: uma noviça, prestes a receber o hábito de freira recebe recomendação da superiora do convento onde foi criada no sentido de visitar seu único parente vivo antes de se recolher definitivamente à vida monástica. No filme de Buñuel, a jovem tem um tio que perdera a mulher na noite de núpcias e que vai vestir a sobrinha com a roupa de noiva da falecida e tentar possui-la. O tio se enforca depois dessa tentativa frustrada. Na sequência, Viridiana não volta ao convento, tenta fazer caridade acolhendo mendigos miseráveis na fazenda do falecido tio, mas quase (?) é estuprada por um deles e acaba jogando cartas com um primo distante (que aparecera como herdeiro legal do tio) e com uma criada da fazenda. A sugestão de um ménage à trois ficava evidente.

Janeiro - Fevereiro 2015

Em “IDA”, que é um filme atual, de 2013, mas que se passa na mesma época em que “Viridiana” foi realizado (início dos anos 1960), a noviça polonesa vai visitar uma tia que lhe conta que de fato é judia, que seu nome real é “Ida”, e que seus pais foram mortos durante a ocupação nazista. Ida quer visitar o túmulo de seus pais e elas saem em viagem para tentar encontrar onde eles teriam sido sepultados. O filme toca num tema melindroso para poloneses: não só nazistas alemães perseguiram e mataram judeus naquela época: pessoas comuns também manifestaram seu forte antissemitismo de modo bastante cruel. A tia de Ida, Wanda, é uma mulher amargurada que havia lutado na resistência polonesa contra os nazistas e, como era comum nesses casos, tinha ideais opostos aos da direita nazi-fascista, aderindo à esquerda. Com a derrocada do nazismo, a Polônia passou ao domínio comunista da então URSS stalinista, e Wanda (conhecida como “a vermelha”) se transformara em juíza, tendo condenado “inimigos do povo” à morte, muitas vezes por coisas tão banais como a destruição de um jardim de flores... vermelhas: a cor da bandeira da URSS, associada ao comunismo. Wanda perdera um filho no mesmo assassinato dos pais de Ida. Um luto tardio associado à sua descrença nos rumos do comunismo “oficial” a levam ao suicídio (talvez também para induzir Ida, sua herdeira, a não tomar o hábito). A noviça, que já havia postergado sua participação na cerimônia em que passaria definitivamente a ser freira, volta à vida laica por um período: seu luto pela tia passa por uma identificação com a morta. Usa seus vestidos, seus sapatos, escuta seus discos e até tem uma aventura com um jovem saxofonista que quer viver com ela. Mas, surpreendendo o que o espectador esperaria, a personagem retorna ao convento. Muita gente ficou decepcionada com esse desfecho como se fosse “conformista”; e se a opção da personagem fosse a “ideologia”

do cineasta Pawel Pawlikowski - que pela primeira vez na vida filma em sua terra natal. Mas se nos colocarmos de fato no lugar da personagem (empatia com o diferente de nós mesmos) e não de acordo com nossas idealizações e possíveis preferências pessoais, o que em 1960 seria a melhor estratégia de sobrevivência para: a) uma judia que de repente apreendeu o que foi (e o que é) o antissemitismo? b) uma noviça católica que vive em um regime comunista fechado e que constatou a frustração dos ideais da tia e sua descrença em tudo pelo qual dedicara sua juventude? c) lembrando que a URSS teve que ser mais tolerante com o catolicismo na Polônia (por ser tão arraigado nos poloneses) do que havia sido em outros países-satélites da Rússia de então, a vida monástica parece à jovem “menos ruim” do que o que o jovem amante podia lhe prometer: “e depois?”, ela pergunta a toda proposta idílica que o rapaz lhe faz... Talvez se possa pensar também em uma “identificação com o agressor”, já que a Igreja católica, através das freiras que a criaram também lhe roubaram sua verdadeira identidade judaica, ainda que, inicialmente isso possa ter sido para proteger a menininha-bebê que ela era quando foi recolhida pelas freiras. Afinal, ser judeu não era sinônimo de sobrevivência, fosse na Polônia sob o nazismo, fosse depois da derrocada do nazismo... Acho que lendo as especulações de Freud sobre as Igrejas poderemos compreender melhor a personagem, ou seja, “compreender coisas que são inerentemente estranhas a nosso próprio Eu” - conceito de Freud sobre empatia neste mesmo livro, e que ele diz – sem desenvolver mais - que se trata de uma forma superior de identificação - ideia fundamental nos desenvolvimentos do psicanalista austríaco, posteriormente naturalizado norteamericano, Heinz Kohut, já de 1957 em diante. Luiz Fernando Gallego luizgallego@gmail.com

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PSICANÁLISE E ARTE

DIVAGAR É PRECISO

Três novelas femininas.

Em que ponto você está? A iniciativa, confiante, partiu de Lúcia Palazzo. Desde então um turbilhão de ideias procurou dar sentido e forma à empreitada. Não somos jornalistas, nem especialistas nos campos da arte. Ainda assim era irresistível dar conta do recado. Partindo dos acontecimentos mais recentes, lembramos a nossa parceria com o MAR, o museu que está bombando, Paulo Herkenhoff na direção, não podia ser mais respeitado. Estamos envolvidíssimos com a Calibán, sinônimo de psicanálise, cultura, arte. Nos deslocamos, faz já um bom tempo, para intercâmbios no Centro Cultural Midrash. A tradição da nossa psicanálise de “abrir passagem” para as artes e a cultura de modo geral é antiga e em progress: cinema, Trieb, café literário, escritos de valor sobre os campos. Outro viés. Diàriamente acordo e vou atrás do Globo, meu noticiário principal. Vou apreensiva: qual será o horror do dia? Uma lida às manchetes da capa só confirmam as expectativas: horror. Horror pela violência, por tanta corrupção. Horror e mais horror! É com o verso da primeira página que me surpreendo. A coluna: “Diga algo que não sei”, coloca o leitor em pelo menos dois lu-

Medo. Carta de uma desconhecida. 24h na vida de uma mulher. De Stefan Zweig / 173 pág. / Ed.: Zahar

gares revigorantes para as ideias: “não saber” estimulando “querer saber”. Mas o efeito “surpresa” que a coluna provoca creio está ligado a um “corte”, aquele que rompe com a mesmice, com o já esperado. De volta à Calibán. Lançamento do primeiro número no MAR: surpreendente. Seja pelo museu, outro espaço cultural, o Curador nos recepcionando, outros colegas, outra língua! Durante dias, circularam na internet os comentários criativos e gratos de todos nós. Lançamento do segundo número: surpreendente! O espaço já era conhecido. As palestras brilhantes, já eram esperadas. Já “escucharíamos” o espanhol dos nossos colegas latinos com mais fluência. Eis que “....entre uma conferência e outra, o inusitado. ....a arte entrava sem pedir licença. Uma armadura de ossos se instalava pesadamente ao pé da mesa e aos poucos se autodestruía. Da plateia, pessoas se desnudavam e se sangravam com pequenas giletes. Era aterrador....” (Sonia Iszecksohn, Intervalo Analítico, Ano 15, N.2, 2014). O setting tradicional formado pelos especialistas e pela plateia é, dessa forma “inusitada”, “aterradora”, atravessado pela performance. Provocando uma discussão veemente, a favor ou contra, aquela noite ficou presente até hoje!

Nova surpresa: a discussão não se restringir apenas às críticas aos artistas performáticos, mas também estimular um retorno reflexivo às conferencias, trazendo-as de volta para o centro da cena: a psicanálise consistente de Celmy, a cultura artística do Paulo, os conhecimentos do Luis Alberto, entre outros. A presença da arte provocou um “corte” e potencializou o debate. Destacando: é projeto da nova gestão o seu propósito de abrir as portas da Sociedade ou mesmo de escancará-las para o outro. Outro colega, outro campo, outra formação. A gente vem trilhando esse caminho de abertura há tempos. Já participamos de um momento histórico, quando propusemos às Sociedades da IPA no Rio, como também às Sociedades “amigas”, trabalho em parceria. E assim la nave va, abrindo-se a novos encontros e riscos de possíveis “efeitos Calibán de turbulência”, mas apostando na renovação criativa! “Em que ponto você está?“, serão entrevistas, “pequenos cortes”, com representantes do campo das artes: plásticas, das charges, do design, da moda, entre outros. Marina Tavares marinatavares@terra.com.br

Enquanto os termômetros gritam em terras de um árido São Sebastião, escrevo a primeira coluna Divagar é Preciso da nova gestão do nosso Intervalo Analítico. O excesso da temperatura sugere o nada a fazer e o nada a pensar. Mas eis que a literatura pode nos salvar do fervor reinante, oferecendo alguma possibilidade de conjugação entre a arte de viver, o ser psicanalista e habitante deste planeta. Vaguear, caminhar ao acaso, andar errante são alguns dos significados do verbo intransitivo divagar. No sentido figurado, divagar significa afastar-se do assunto, fantasiar. Como psicanalistas, precisamos nos afastar do discurso consciente, soltar os pensamentos mais amarrados e enveredar ao acaso por um universo desconhecido e povoado de intensidades. Por isso, divagar é preciso! Com o intuito de compartilhar viagens errantes ao mundo literário, escolhi um escritor e amigo de Freud, que tocou com maestria aquilo que é inquietantemente excessivo. Três novelas femininas, editado no ano passado, com tradução de Adriana Lisboa e Raquel Abi-Sâmara, conta com comentários geniais de Alberto Dines, jornalista e biógrafo de Zweig. Dines nos informa

NOTÍCIAS DO SITE

Luciana Carvalho lucianac@globo.com

www.sbprj.org.br

CARTA DO LEITOR

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Este espaço é para você participar do Intervalo Analítico! Por favor, envie a sua opinião, sugestão ou contribuição para o e-mail: sbprj@sbprj.org.br

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sexualidade e a frágil corda bamba entre os desejos e as renúncias que nosso psiquismo precisa atravessar de forma dinâmica e singular diante de nossas recônditas e intensas temperaturas... Samantha Nigri sanigri@uol.com.br

VAI ACONTECER

Formamos um grupo de trabalho onde, além da secretaria da Sociedade, fazem parte as colegas Adriana Lasalvia e Renata Martinelli, com a finalidade de avaliar quais mudanças são necessárias para que o nosso site possa ser atualizado, tanto com relação ao seu layout, quanto com relação à inserção de novos recursos com a finalidade de informar, agilizar e facilitar a relação da Sociedade e do Instituto para com seus membros. Agora, responda a uma pergunta: Você costuma entrar no site da Sociedade? Tem alguma ideia que queira nos oferecer? Escreva para nós através do e-mail, lucianac@globo.com, estamos aguardando sua sugestão.

as circunstâncias em que essas três novelas foram concebidas, a recepção do público na época e as adaptações para cinema e TV que as seguiram. São três pequenas e contagiantes histórias, uma delas (Medo, 1913) escrita há cem anos, mas todas atemporais como são os textos que falam do universo humano em sua essência. Caímos no mundo de três mulheres inesquecíveis, daquelas que nos invadem e ali permanecem, sejamos homens ou mulheres. Na época, Zweig chegou a ser considerado um escritor para mulheres, mas no fundo, esse homem fértil e intenso até seu atormentado fim em Petrópolis (1942), é um escritor para aqueles que se interessam pela condição humana e a forte trama que a atravessa no interjogo complexo da sexualidade em sua conceituação inaugurada por Freud com a psicanálise. Vale a pena o encontro com Irene, a desconhecida e Mrs. C, que junto a outros personagens, nos oferecem um belo e perturbador contato com a condição feminina e seu contraponto masculino. Outro lucro é a possibilidade de ler o texto (24h na vida de uma mulher, 1927) que suscitou comentários de Freud em Dostoievski e o parricídio (1928), texto primoroso sobre a teoria da

12.03 Aula Inaugural, 21:15h “Liberdade, humor e fé: o muro que separa e a ponte que une”, Convidados: Chico Caruso e Luiz Fernando Duarte

23.03 Homenagem à Marialzira Perestrello, 21:15h “Há um quadrado de céu que não viram.” Participação de Henrique Honigsztejn e Paulo Rouanet

27.03 Psicanálise e Cinema, 19:00h Filme: Pais e Filhos Debate após exibição do filme Coordenador: Luiz Fernando Gallego

13.03 Café Literário, 18:00h Coordenação: Sandra Gonzaga e Silva

26.03 Reunião Científica, 21:15h “Subjetividade e Afeto em Vizek e Johmston: controvérsias em torno da relação da psicanálise-neurociência” Apresentador: Jairo Roberto Almeida Gama Comentador: Benilton Bezerra Junior

30.04 Reunião Científica, 21:15h “Sobre o processo psicanalítico” Apresentadora: Teresa Rocha Comentadora: Claudia Garcia

19.03 Fórum de Psicanálise “Discussão de artigos com temas da psicanálise contemporânea.” Coordenador: Bernard Miodownik

Janeiro - Fevereiro 2015

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REVISTA TRIEB Atendendo ao convite de Lúcia Palazzo, atual diretora do Departamento de Publicações, estamos inaugurando um espaço permanente (enquanto dure) da Trieb aqui no Intervalo. Sobre sua história e evolução, desde os seus primórdios até a atual Nova Série, estas mesmas páginas do Intervalo abrigaram diversos informes e depoimentos dos seus ex-editores. Então, a nossa proposta será falar do dia-a-dia do trabalho editorial, projetos, perspectivas e questões relacionadas à publicação de artigos. A respeito de projetos, o Conselho Diretor anterior aprovou, a pedido dos editores, a reformulação do padrão gráfico da Trieb (capa e interior) que já se encontra em andamento. Os próximos números, referidos ainda ao ano de 2014, Psicanálise Extensa e Narcisismo, em fase final de edição, já deverão estar neste novo padrão. Esta reforma alicerça outro projeto, que é ampliação do índice de leitura e de citações dos artigos publicados, visando também, a uma maior distribuição e venda da revista. Sabemos, através de reuniões com editores de revistas afins, que os problemas envolvidos não são exclusividade da nossa. Aos poucos, agora que estaremos em contato mais frequente neste espaço, exporemos e conversaremos mais sobre essas questões.

Fiquem atentos para a próxima convocação para o envio de artigos para o primeiro número de 2015. A colaboração autoral e a divulgação são fundamentais para a revista. Creditamos na conta da Trieb, a nossa expectativa de que as idéias, conceitos e articulações propostas pelos autores promovam o desejo de inclusão daqueles, que através de sua leitura se sintam estimulados a participarem de seu processo. A nós, editores, interessa muitíssimo que a revista seja viva, e possa representar um vértice criativo de produções significativas. Queremos que a Trieb articule e capture espaços, dentro e fora de nossa Sociedade, mantendo, assim, as portas sempre abertas a profícuos diálogos que promovam e incrementem a expansão do pensamento psicanalítico. Sabemos que para isso precisamos do interesse e cooperação senão de todos, mas de muitos. No próximo Intervalo falaremos sobre os temores freqüentes ao se enviar artigos para publicação, dando assim continuidade a nossa proposta de colocarmos em discussão, nesse espaço, as questões que o compromisso com a revista, nos remete, todo tempo, ao nosso desejo de realizações. Dentro dessas perspectivas, indagamos: Você lê a TRIEB? Qual o papel e o lugar que ela

ocupa na Sociedade? Seus temas e conteúdo científico estão acompanhando as transformações do mundo contemporâneo? Questões para refletir e agir sobre a expansão da leitura e escrita em psicanálise. Editores: Bernard Miodownik, Maria do Carmo Andrade Palhares e Maria de Fátima Amim Consultora Editorial: Munira Aiex Proença revistatrieb@sbprj.org.br

REVISTA CALIBÁN Mas não foram cruzados que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos comendo, porque somos fortes e vingativos como o Jabuti (Manifesto Antropofágico - Oswald de Andrade, maio de 1928) Os psicanalistas da América Latina constituem o maior grupo de filiados à IPA, abarcando uma grande extensão territorial de diversidade e singularidades culturais. O que poderia nos aproximar para além do lugar de excluídos da fala hegemônica de nossos mestres do norte? A aposta do corpo editorial, encarnada no título Calibán da nova Revista Latino Americana de Psicanálise, de afirmar e sustentar a originalidade e potência da produção psicanalítica latino-americana e promover o diálogo com as disciplinas humanas e a arte pode ser conferida em suas primeiras edições: ”Tradição e Invenção”, “Tempo” e “Excesso”. Calibán é apresentada em duas versões impressas, espanhol e português, e em breve teremos a versão digital, em inglês. A ideia é que nossa produção possa ultrapassar fronteiras, num alargamento auspicioso da realidade atual. Lemos os autores estrangeiros, de uma maneira geral desvalorizamos o que é publicado em nossas terras e somos ignorados internacionalmente.

Hugo Achugar ensaísta uruguaio entrevistado no primeiro número de Calibán fala sobre a questão do Balbucio teórico do discurso latino-americano positivando – o em seu diálogo com o norte, aí compreendido não como referência geográfica, e sim, como um discurso dominante que diz respeito tanto à Europa como aos EE.UU. Há vários discursos e há outras línguas, há muitos pensadores diversos no Brasil, no Paraguai, no Chile, no Peru que têm outra discursividade que não é a discursividade hegemônica, então o feito de fazer os dois, tem a ver com a nossa situação, que é uma situação muito interessante. Ao estar na periferia você é obrigado a conhecer toda a tradição ocidental além da sua. Quando você está no centro, não. Conhecem o que lhes é próprio, e tudo o mais entra parcialmente. Em consonância com o pensamento de Achugar de “fazer os dois”, Calibán abriga em suas várias seções estruturadas em torno de um tema central, o discurso psicanalítico e os diversos discursos de outras áreas do saber. À guisa de exemplo e seguindo a tradição modernista de Oswald de Andrade, no número da revista que versa sobre o Tempo, canibalizamos Walter Benjamin a partir dos densos ensaios de intelectuais

e psicanalistas sul americanos. A solidez conceitual dos artigos e a pluralidade de vozes apresentada nas entrevistas, ensaios, resenhas e crônicas é oferecida ao leitor com margens para comentários e espaço para notas, num convite ao manuseio íntimo e participativo. Em novembro passado, o Museu de Arte do Rio – MAR realizou o lançamento dos dois números sobre “Realidades e Ficções” num Simpósio especial em parceria com a Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. No segundo semestre de 2015, será realizado o Simpósio do lançamento da revista, “Ferramentas do Psicanalista”. Aguardem a programação! Sandra Gonzaga e Silva

As revistas Trieb e Calibán podem ser adquiridas na sede da SBPRJ.

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