06 Contribuições da gente negra na formação cultural do Brasil Por Augusto Neves da Silva
14 Culturas negras entre nação e diáspora Por Matthias Röhrig Assunção
22 As Origens Africanas do Samba Por Nei Lopes
29 O samba no Rio de Janeiro Por Rachel Valença
35 Para compreender o carnaval Por Felipe Ferreira
40 A história na boca do povo Por Haroldo Costa
Samba em revista é uma publicação do Centro Cultural Cartola Rua Visconde de Niterói, 1.296 – Mangueira Edição Centro Cultural Cartola Conselho Editorial Nilcemar Nogueira, Aloy Jupiara e Desirree Reis Jornalista Responsável Nogueira Registro nº 24992-RJ
45 Atividades Pedagógicas Por Lília Gutman, Desirree Reis e Rondelly Cavulla
Projeto Gráfico & Diagramação Marcos Corrêa/Ato Gráfico Publicação disponível on line no site www.museudosamba.org.br
O batuque do Samba fortalece em nós a ancestralidade africana que pulsa nas veias do povo brasileiro. Os elementos musicais e cênicos que o compõe evidenciam a perpetuação das tradições afro-brasileiras, reforçando a importância da contribuição negra para a formação cultural do país. A análise do Samba, como um traço vivo e marcante da diáspora negra, proposto pelo Centro Cultural Cartola nas edições da Samba em Revista, está ligada a necessidade da produção e difusão de informação para reflexão sobre a cultura de matriz africana. Premiada na terceira edição do Edital Ideias Criativas, lançado em 2013, esta iniciativa se enquadra na busca da Fundação Cultural Palmares/MinC pela valorização das manifestações culturais negras brasileiras. Com este apoio pretendemos, portanto, dar vazão à produção intelectual negra que tem a manutenção das tradições culturais afro como ponto de partida, pois consideramos que esses debates validam a necessidade, mais que urgente, da construção de políticas públicas especificas para a manutenção da cultura e da arte produzida pelos negros no Brasil. Hilton Cobra
Presidente da Fundação Cultural Palmares Ministério da Cultura
As matrizes do samba do Rio de Janeiro foram registradas em outubro de 2007 como Patrimônio Cultural Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), uma iniciativa do Centro Cultural Cartola que desde então busca salvaguardar este bem cultural de natureza imaterial e promover o reconhecimento da contribuição da matriz africana na formação da cultura brasileira. O fato de a música negra ter atravessado o Atlântico foi um acontecimento da maior importância para a manutenção e sobrevivência do conjunto de práticas entendido como cultura negra nas Américas. No caso do Brasil, a música rítmica, inseparável da dança, teve um papel preponderante no contexto de resistência à tentativa de “apagamento cultural” que os negros e as negras foram submetidos desde o período da escravidão. A África se fez presente em cada roda de samba que se abria do lado de cá do Atlântico Sul. E os diálogos culturais travados entre diferentes povos que habitavam o Brasil resultaram em sincretismos musicais fabulosos. Este projeto faz parte das ações educativas praticadas pelo Centro Cultural Cartola e tem como meta gerar material didático que sirva para fazer conhecer nossa produção simbólica e valorizar a principal referência cultural brasileira. Nilcemar Nogueira Doutoranda em Psicologia Social (UERJ) Mestra em Bens Culturais e Projetos Sociais (FGV) Coordenadora de Projetos do Centro Cultural Cartola (CCC)
Samba
em revista
Contribuições da gente negra na formação cultural do Brasil 6
Augusto Neves da Silva Doutorando em História pela Universidade Federal Fluminense, mestre e graduado (licenciatura e bacharelado) em História pela Universidade Federal de Pernambuco. Seus temas de pesquisa estão ligados a cultura negra, cultura popular, carnaval e escolas de samba, esses últimos com ênfase em Recife.
7
Q
uando se pensa em Brasil, comumente surge uma série de imagens que, de certa forma, funcionam
como signos identitários do (nosso) país. Falar de Brasil, entre outras coisas, é falar de samba, de carnaval, de capoeira, de futebol. E todos esses elementos possuem inegável contribuição dos negros em sua história. Diante disso, discutir o que é cultura brasileira passa fundamentalmente por compreender a força da experiência dos negros e negras neste lado do Atlântico. Ao longo de nossa história, buscou-se invisualizar1 o legado do povo negro nas bases da cultura brasileira. Um dos motivos é a existência, inegável, do racismo
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em nossa sociedade. Entretanto, mesmo diante das perseguições e intolerâncias, os negros e as negras deixaram sua marca, moldando, transformando e recriando as bases do que é entendido como Brasil. A religião dos negros é um campo privilegiado para compreender o preconceito e as lutas enfrentadas por essa gente. Entre as suas diversas formas de
1 Ao utilizar o termo “invisualizar”, busco evidenciar que as práticas negras não deixaram de existir, nem tampouco foram silenciadas, mas enfrentaram um processo que tentou torná-las não visíveis.
(...) discutir o que é cultura brasileira, passa fundamentalmente por compreender a força da experiência dos negros e negras nesse lado do Atlântico.
Samba
em revista
(...) o preconceito e a discriminação operavam (e operam), muitas vezes, nos indivíduos, de maneira inconsciente e nem sempre possíveis de serem identificados.
Os cultos da religião da gente negra só passaram a ser “tolerados” quando os orixás começaram a ser associados aos santos católicos, ou seja, foram sincretizados.
8
manifestação, pode-se citar a prática do candomblé,2
sincretização as astúcias4 do povo negro – que diante da
tema da mestiçagem7 ganhou, sem sombra de dúvida,
A ideia de democracia racial contribui muito para
que, durante longo período da história do Brasil, teve
dominação evidente cria mecanismos para driblar uma
maior destaque nas discussões sobre a ideia de nação
difundir a concepção de uma aparente cordialidade
suas divindades religiosas “camufladas” em torno da
situação aparentemente de desvantagem, já que mesmo
no Brasil. Em seu livro Casa grande & senzala, Freyre
entre as raças, o que levou a um distanciamento
concepção do sincretismo.3
associados a santos católicos os orixás foram, de certa
abordou questões referentes às interações entre
da população brasileira das discussões em torno da
Os cultos da religião da gente negra só passaram
forma, adorados, venerados e cultuados pelo seu povo
europeus (brancos), africanos (negros) e índios desde
discriminação racial, acreditando, diante disso, inexistir
a ser “tolerados” quando os orixás começaram a
– , esse fenômeno pode ser interpretado também como
os primeiros passos da colonização, “destacando as
conflitos raciais no Brasil. Sendo assim, o preconceito
ser associados aos santos católicos, ou seja, foram
mais uma tentativa de invisualizar a cultura dos negros
condições de reconhecimento social dos mestiços no
e a discriminação operavam (e operam), muitas vezes,
sincretizados. Diante disso, foi que a imagem de Iansã
no Brasil.
mundo criado pelos portugueses e a suposta tolerância
nos indivíduos, de maneira inconsciente e nem sempre
racial que marcaria o caráter da nação”.
passíveis de serem identificados.11
passou a ser associada a Santa Bárbara e a de Oxossi a São Sebastião, entre outras associações.
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Mesmo
interpretando
nesse
processo
de
2 Utilizo aqui a expressão candomblé, mas tenho a consciência que o conjunto de práticas religiosas da gente negra – mesmo diante de inúmeras similaridades – pode ser nomeado de forma diferente, dependendo da localidade do Brasil. Ou seja, o que é nomeado de candomblé na Bahia, em Pernambuco é chamado de catimbó ou xangô, e no Rio Grande do Sul é entendido como batuque. Essas diferenciações estão intimamente associadas às tradições a que as casas estão ligadas. “Em linhas gerais, podemos discriminar o candomblé em três grandes tradições: nagô, onde predomina a cultura dos povos de língua ioruba; angola, onde predomina a cultura dos povos de língua banto; jeje, onde predomina a cultura dos povos de língua jeje.”. MELO, A. V. Reafricanização e dessincretização do candomblé: movimentos de um mesmo processo. Revista Anthropológica, v. 1, 2008, p. 158. 3 De acordo com Leonardo Boff, “sincretismo significa fazer como os cretenses, que, entre si divididos, se uniam para combater o inimigo comum (Plutarco, De Fraterno Amore). Na Reforma, o termo foi usado por Erasmo para significar a união dos reformadores protestantes com os humanistas. [...] No século XVII se tentou derivar ‘sincretismo’ de syn-ker-annymi, palavra do grego arcaico para designar mescla, mistura, harmonizando (doutrinas, filosofias etc.).”. BOFF, Leonardo. Igreja, carisma e poder. Petrópolis: Vozes, 1981. p. 146. Apud FERRETTI, Sérgio Figueiredo. Repensando o sincretismo. 2. ed. São Paulo: EDUSC; Arché Editora, 2013. p. 99.
Entretanto, com isso não desejo criar uma
8
9
imagem negativa do sincretismo. Ao contrário, ele
Essa concepção freiriana tornou-se conhecida no
O pensamento de Gilberto Freyre possui dupla
deve ser situado como algo legítimo de um dado
Brasil e internacionalmente, suscitando debates e dando
projeção, pois, ao mesmo tempo que tornou visível a
momento histórico e como “fenômeno constitutivo
os contornos da ideia de uma “democracia racial”
influência dos negros nas bases do que é entendido como
de toda a expressão religiosa”. Mesmo diante de
brasileira, o que resultou numa falsa impressão de que
cultura brasileira, pode-se dizer também que houve uma
termos pejorativos atribuídos, o sincretismo deve ser
em nossa sociedade imperava a inexistência do racismo.10
tentativa de invisualizar as práticas dessa gente, haja
5
compreendido como “um fenômeno que existe em todas as religiões, está presente na sociedade brasileira e deve ser analisado, quer gostemos ou não”.
6
Um momento relevante na compreensão do papel dos negros na sociedade brasileira se deu com Gilberto Freyre, durante os anos de 1930, quando o 4 Entendo “astúcias” como as artes de driblar uma situação evidente de dominação. São as táticas de luta dos “fracos” contra os fortes. Cf. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. Artes de fazer. 14. ed. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 2008. 5
BOFF, Leonardo. Op. cit., p. 151.
6 FERRETTI, Sérgio Figueiredo. Repensando o sincretismo. 2. ed. São Paulo: EDUSC; Arché Editora, 2013. p. 99-100.
7 “A mestiçagem é um tema recorrente no pensamento social brasileiro desde o século XIX, período em que se tornaram mais acalorados os debates sobre a construção da nação em meio a um intenso diálogo com teorias e visões importadas da Europa, profundamente ligadas à noção de diferenças baseadas na raça.” VIANA, L. M. Mestiçagem e cultura histórica: debates. In: ABREU, Martha; GONTIJO, Rebeca; SOIHET, Rachel (Org.). Cultura política e leituras do passado: historiografia e ensino de História. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. p. 269. 8 FREYRE, Gilberto. Casa grande & senzala. 50. ed. São Paulo: Ed. Global, 2005. 9
VIANA, L. M. Op. cit.
10 Durante as décadas de 1950 e 1960, análises sociológicas, especialmente os trabalhos de Fernando Henrique Cardoso e Otávio Ianni, emergiram com fortes críticas ao pensamento de Gilberto Freyre. Esses estudos denunciaram o tema da democracia racial brasileira como um mecanismo de dissimular a violência do racismo em nossa sociedade. VIANA, L. M. Op. cit., p. 270.
vista que os costumes, as crenças, as manifestações do povo negro enfrentaram, durante o processo histórico no Brasil, uma espécie de “apagamento”. Dito de outra forma, a partir dos estudos de Freyre, na sociedade brasileira não mais havia lugar para uma cultura negra ou uma cultura dos negros, mas sim esta cederia espaço à “cultura mestiça”, fruto do processo de união das três raças. Entretanto essa “cultura mestiça”, na verdade, 11 SOUZA, M. A. O. Os movimentos negros e a construção das identidades. In: GUILLEN, Isabel Cristina Martins; GRILLO, Maria Ângela de Faria (Org.). Cultura, cidadania e violência: VII Encontro Estadual de História da ANPUH de Pernambuco. 2. ed. Recife: Universitária da UFPE, 2009, v. 1, p. 4.
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Samba
em revista
(...) pode-se dizer também que houve uma tentativa de invisualizar as práticas dessa gente, haja vista que os costumes, as crenças, as manifestações do povo negro enfrentaram, durante o processo histórico no Brasil, uma espécie de “apagamento”.
10
tem suas bases numa cultura produzida e legitimada por
seu papel, busca o seu lugar dentro da cultura e da
práticas dos negros a marca da incivilidade, do atraso
prática da capoeira. Por isso, é costume associarem-se
uma elite branca.
sociedade brasileira. Os negros e as negras sendo vistos
e da barbárie.
alguns passos da capoeira à dança do frevo (passo).
Número 6 Ano 7
15
No Brasil, a valorização da cultura negra e de uma
como sujeitos ativos dentro do processo histórico,
Outro exemplo interessante das contribuições da
Samba – Esta é uma manifestação cultural de
identidade associada às práticas desse povo ocorreu,
como agentes que por meio de suas ações modificaram
gente negra é o carnaval, festa de sentido marcadamente
inegáveis ligações com a gente negra. A palavra “samba”
fundamentalmente, com a emergência do Movimento
o iminente cenário de condenação. É um processo que
popular.14 Em diferentes localidades do Brasil esse
possui vários significados, a maioria deles associados a
Negro Unificado (MNU) em finais da década de 1970.
tem por base a luta pela conquista dos direitos sociais,
festejo apresenta-se de forma variada; entretanto, em
alguma prática dos negros. De acordo com Nei Lopes,
Este acontecimento fortaleceu e deu maior visibilidade
historicamente negados á gente negra do/no Brasil.
todas elas o povo negro deixou suas contribuições.
o samba moderno e urbano do Rio de Janeiro nasceu
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E as manifestações culturais tem sido um campo privilegiado para que a gente negra conquiste seu espaço na sociedade brasileira e intensifique a luta em defesa de uma cidadania plena.
à proposta de uma luta em torno da conscientização
E as manifestações culturais têm sido um campo
Os dias de folia do Recife e de Olinda, por exemplo,
“negro, novo e carioca”.16 E foi esse samba, com suas
da população negra e da sociedade brasileira sobre as
privilegiado para que a gente negra conquiste seu espaço
são celebrações marcadas pela presença do frevo. Já
peculiaridades, que ascendeu ao posto de símbolo da
13
ideologias de dominação racial e a falsa democracia racial.
na sociedade brasileira e intensifique a luta em defesa de
no carnaval do Rio de Janeiro quem comanda a festa
brasilidade. Assim, aquilo que tipifica a cultura nacional
Diante disso, emergem discussões em torno
uma cidadania plena. Dentro desse campo, a capoeira
é o samba, e consequentemente, as escolas de samba.
é um produto gestado pela gente negra. Como produto
da dessincretização das práticas religiosas negras e
ocupa um lugar de destaque. Como bem diz a letra do
E todas essas manifestações possuem irrevogáveis
de forte identidade negra, os sambistas enfrentaram
discursos que buscam conscientizar a população em
samba da Caprichosos de Pilares (1998): “A capoeira
contribuições negras.
intensa perseguição para que sua prática pudesse ter o
torno do debate da discriminação racial. A comunidade
não é brincadeira, o som do negro é universal...”, ou
Frevo – É uma dança e ritmo brasileiro com fortes
direito de existir. E foi em meio às lutas que os sambistas
negra, articulada politicamente e consciente do
seja, capoeira, som do negro. Foi majoritariamente com
ligações com o estado de Pernambuco, que teria surgido
retiraram o samba da marginalidade, contribuindo para
esse sentido que a prática da capoeira foi construída,
em finais do século XIX. Caracteriza-se como uma
que ele ascendesse ao estrelato nacional.
como os sentidos de uma luta, dança e arte marcial
manifestação que foi gestada em meio às disputas de
Escolas de samba – São práticas culturais que
fabricada por negros. E a capoeira, hoje presente em
blocos carnavalescos. A gente negra, que participava
assumiram gradativamente a condição de símbolo da
muitas localidades do Brasil, resistiu (e transformou-se)
desse evento, envolvia-se constantemente em conflitos
como marca da gente negra, como expressão da cultura
uns com os outros, e uma das armas utilizadas era a
15 ARAÚJO, Rita de Cássia Barbosa de. Festas: máscaras do tempo. Entrudo, mascarada e frevo no carnaval do Recife. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 1996.
14 Popular compreendido como um acontecimento que possui relevante atratividade entre os mais variados sujeitos; como um fenômeno que congrega as mais diferentes classes e categorias sociais.
16 LOPES, Nei. O negro no Rio de Janeiro e sua tradição musical. Partido-Alto, calango, chula e outras cantorias. Rio de Janeiro: Pallas, 1992. p. 61.
12 Com isso não quero afirmar que as lutas e reivindicações da gente negra só passaram a ocorrer com o surgimento do Movimento Negro Unificado, haja vista que outras ações e manifestações ocorridas na história do Brasil, tiveram também o caráter de defender as práticas do povo negro. Entretanto, foi com o MNU que a luta contra a violência racial ganhou mais visibilidade e estereótipos associados aos negros foram denunciados e combatidos com mais vigor, entre outras questões de valorização de uma identidade negra como algo constituinte da identidade nacional. 13
SOUZA, M. A. O. Op. cit., p. 4.
dos negros, muitos deles marginalizados e segregados por uma elite branca preconceituosa que via nas
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Samba
em revista
nacionalidade. Foram consideradas manifestações que
De esporte considerado próprio da elite, que pelo exercício
pelo direito à memória de seu povo e à reescrita da sua
debate que as políticas públicas voltadas ao patrimônio
representam e tipificam a alma nacional. As primeiras
aproximar-se-ia do modelo “civilizado” europeu, passa, na década
história, e consequentemente, da história do Brasil.
cultural têm oportunizado uma rica discussão a
escolas de samba remontam aos anos de 1920 e à
de 1930, a ser valorizado pela influência negra, que teria dado
Um claro exemplo disso é a Lei 10.639/2003, que,
respeito da história e da memória de grupos culturais
cidade do Rio de Janeiro. Entre as pioneiras dos desfiles
ao futebol brasileiro um estilo nacional e uma maestria que, de
além da inclusão de conteúdos que versem sobre história
formados pela gente negra, como as comunidades de
temos a Portela e a Mangueira. Contar a história dessas
longe, o fizeram superar aquele próprio dos seus locais de origem.
da África e da cultura afro-brasileira, evidencia também
maracatuzeiros e de jongueiros.
18
agremiações é narrar a história da gente negra, que por
12
Alguns atletas negros do futebol passaram a ser
agora servem como ponto de partida para uma discussão
para a gente negra, tais como a conquista da posse
prática visível e aceita na sociedade. Esse processo de
protagonistas dessa história. Ascenderam a lugar de
mais ampla a respeito de temas como identidade,
de terras de comunidades quilombolas, além do
conversão de símbolos étnicos em símbolos nacionais
destaque, receberam – mesmo em meio a críticas de
cultura e memória.
reconhecimento do jongo, do samba de roda, do
contou, fundamentalmente, com a ação dos sujeitos que
alguns – honras e louvações por seus feitos. “Domingos
Diante disso, têm aflorado nas universidades de
frevo e, mais recentemente, do Maracatu Nação como
faziam e significavam a prática, como Cartola e Paulo da
Antônio da Guia e Leônidas da Silva, jogadores negros
todo o Brasil pesquisas que repensam o papel dos
Patrimônio Imaterial do Brasil. Essas são políticas
Portela. Foi a atuação de agentes sociais como estes que
que alcançaram enorme admiração, são um exemplo
negros em nossa sociedade, buscando assim reescrever
que visam a reparar, valorizar, promover e reconhecer a
retiraram essas práticas da invisibilidade e por meio delas
dessa mudança que se aprofunda na década de 1930.”
19
uma história que, anteriormente, dava a esses sujeitos o
cultura da gente negra como um elemento integrante da
os seus praticantes alcançaram uma cidadania que lhes
A partir dessas transformações, foi na esteira
lugar “apenas” de vencidos. Foi também na esteira desse
sociedade e da cultura brasileira.
fora outrora negada. Independentemente dos sentidos
desses homens negros que outros negros ascenderam
que as escolas de samba assumiram no cenário cultural
também. Foi assim que o futebol ganhou os contornos
brasileiro, faz-se importante compreender nesse processo
de um estilo “tipicamente” brasileiro, marcado pela
“o movimento dos populares a fim de garantir o acesso a
experiência da gente negra, gente de “magia no pé”,
sua prática e o significado assumido pela mesma”.
como Pelé, Garrincha, Jairzinho e tantos outros que
O futebol, tão identificado com os contornos do que é o Brasil, recebeu também fortes contribuições da
Pode-se falar ainda de uma série de outros
gente negra. Esporte de fortes ligações com a Inglaterra,
acontecimentos e outras práticas para se destacar as
foi trazido ao nosso país em finais do século XIX para
contribuições da gente negra no Brasil, mas acredito
ser praticado por uma elite. No entanto, com o passar
que esses exemplos foram suficientes para demonstrar
de alguns anos, os atletas negros começaram a se
quão inegáveis são as contribuições desse povo no
destacar, quando criaram uma tática específica para o
escopo do que é entendido como Brasil.
Número 6
invisibilidade imposta e desejada pelas elites.
Os últimos anos têm sido de relevantes modificações em nossa sociedade, até pouco tempo atrás ainda marcada pela ideia de democracia racial. Após os anos
17 SOIHET, R. O povo na rua: manifestações populares como expressão de cidadania. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida Neves (Org.). O Brasil republicano. O tempo do nacional-estatismo (do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo). Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2003, v. 2, p. 290.
*
enormes contribuições deram ao futebol nacional.
jogo e por meio de suas experiências romperam com a
Ano 7
Esse debate tem suscitado conquistas importantes
meio de sua experiência venceu obstáculos e tornou sua
17
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acontecimentos antes relegados ao esquecimento, que
2000 emergiram movimentos sociais negros que clamam 18
SOIHET, R. Op. cit., p. 290.
19
SOIHET, R. Op. cit. p. 297.
(...) a Lei 10.639/2003, que além da inclusão de conteúdos que versem sobre História da África e da Cultura Afro Brasileira, evidencia também acontecimentos antes relegados ao esquecimento que agora servem como ponto de partida para uma discussão mais ampla a respeito de temas como identidade, cultura e memória.
13
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Culturas negras entre nação e diáspora
14
Matthias Röhrig Assunção Estudou história e estudos latino-americanos nas Universidades de Paris VII e VIII, fez doutorado na Universidade Livre de Berlim. Atualmente é professor titular da Universidade de Essex.
A
o chamarmos uma forma cultural de afrobrasileira, reconhecemos suas raízes africanas.
Isso é importante porque a contribuição africana para a cultura brasileira tem sido bastante silenciada, ou diminuída, no discurso das elites que se identificavam, e ainda se definem, em grande medida, como de cultura ocidental ou mesmo de ascendência europeia. Ao mesmo tempo, o termo afro-brasileiro pode ser contraprodutivo na medida em que rotular dessa maneira apenas algumas manifestações pode levar a subestimar a contribuição mais ampla das culturas africanas para muitas outras formas culturais em que
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essa influência não é tão aparente. Além do mais, ao usarmos esse termo, ainda não refletimos sobre o complexo processo através do qual formas culturais africanas foram incorporadas em manifestações novas. O pensamento dominante no Brasil, e mais geralmente no Ocidente, por muito tempo negou a história dos povos africanos. Assim, criaram-se estereótipos tenazes sobre a África, que seria povoada por “tribos” falando “dialetos” – tribo implicando uma organização social “primitiva” e dialeto insinuando
15
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um falar que ainda não teria chegado ao patamar de
engenhos e fazendas das Américas. O Reino do Congo
brasileiro e a costa da África ocidental (atuais Nigéria
do final do tráfico transatlântico, em 1850. Ou seja, a
uma língua culta. A verdade é que, desde o tempo em
afundou em guerras civis intermináveis e grande parte
e Benim) e centro-ocidental (atuais Gabão, Congo-
África do tempo do tráfico é muito diferente da África
que os portugueses começaram a explorar as costas da
de sua população foi reduzida à escravidão. O Reino de
Brazzaville, Congo-Kinshasa e Angola). Degredados do
de hoje. Isso não se aplica apenas às economias ou às
África, no século XV, existiam ali estados soberanos
Oyo, na atual Nigéria, sofreu destino parecido no início
Brasil (como Gregório de Matos, inconfidentes mineiros
estruturas sociais, mas também às identidades étnicas.
com hierarquias sociais complexas e até impérios
do século XIX. Novos estados surgiram, baseados no
ou praieiros pernambucanos) foram mandados para
Não existiam, por exemplo, iorubás ou ovimbundos
multiétnicos.
tráfico negreiro, como por exemplo o Reino de Daomé.
Angola, alguns deles estabelecendo-se aí como colonos.
na época do tráfico, mas apenas quetos, ijexás ou
O manicongo, chamado pelos portugueses de “rei”
No Brasil, é comum pensarmos essa história apenas
Africanos libertos no Brasil voltaram e estabeleceram-
n’dombes. Iorubá e ovimbundo são identidades que se
do Congo, por exemplo, controlava uma área extensa
como uma continuada vinda da África, sem volta. Cabe
se nos portos da África Ocidental, onde constituíram
desenvolveram no bojo de transformações profundas
na África centro-ocidental e lidava com os europeus de
lembrar, em primeiro lugar, que o conceito de tráfico
comunidades “brasileiras” que existem até hoje (como
das sociedades africanas locais no período pós-tráfico,
igual para igual, a ponto de mandar embaixadores para
triangular (europeus levando mercadorias para a África
os chamados agudás). “Panos da Costa” [da África] eram
aglomerando identidades menores. O fascinante é
o Vaticano. Como os soberanos africanos dispunham
em troca de escravos, depois vendendo os escravizados
vendidos no Brasil. Produtos brasileiros como a farinha
que esses processos de etnogênese ocorrem também
de prisioneiros de guerra e dependentes de outras
nas Américas, e finalmente trazendo produtos comerciais
de mandioca foram adotados pelos povos africanos. A
na diáspora, do outro lado do Atlântico. Por exemplo,
etnias, vendê-los aos traficantes europeus parecia a
de volta para a Europa) não se aplica muito bem ao
ponto de historiadores como Felipe Alencastro falarem
os quetos, ijexás, ijebus e outros do território da atual
melhor maneira de conseguir produtos europeus em
Brasil. Tanto Salvador da Bahia quanto o Rio de Janeiro
de um espaço sul-atlântico para enfatizar a interação e
Nigéria e Benim serão identificados como nagôs
troca. Como armas, por exemplo, que aumentavam a
estabeleceram vínculos diretos com os portos africanos,
interdependência de Angola e Brasil na época colonial.1
no Brasil ou lucumis em Cuba, porque suas falas e
capacidade bélica e ajudavam a impor-se sobre estados
levando cachaça ou tabaco para os negreiros nos portos
Em resumo, os fluxos transatlânticos de pessoas e
culturas eram muito parecidas. E os rebolos, caçanjes,
ou populações vizinhas. Assim, o infame tráfico trouxe
africanos. Graças aos homens de grosso trato estabelecidos
culturas nunca foram unilateriais, mas aconteceram em
n’dombes, humbes e muitos outros viraram “angolas”
algo como catorze milhões de escravizados para as
no Rio de Janeiro, a cidade tornou-se o segundo maior
várias direções.
ou “benguelas” no Brasil. Esses rótulos, originalmente
Américas. E acabou transformando não somente o
porto armador de viagens negreiras no Atlântico,
É importante lembrar também que a África
marcas dos negociantes para qualificar (e melhor
Brasil mas também as sociedades e os estados africanos.
perdendo apenas para Liverpool, na Inglaterra. Isso
continuou a mudar tanto quanto as Américas depois
vender) sua mercadoria humana, foram reapropriadas
Cativos domésticos africanos viraram mercadorias
teve consequências importantes: fortaleceu os vínculos
que acabaram labutando como escravos do eito nos
comerciais, políticos, sociais e culturais entre o litoral
pelos escravizados, que passaram a reivindicar sua 1 ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes. Formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
“nação” como nova identidade em uma situação nova.
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Dessa maneira, a emergência dos iorubás e ovimbundos
é importante distinguirmos esses ideais, importantes
para entendermos o processo formativo das culturas
Para superar o essencialismo fundamentalista ao
na África é paralela à formação das identidades lucumi,
para a legitimação e a autoestima da nação imaginada,
populares. O duplo pertencimento gera o que W.E.B.
pensarmos a formação de cultura, Paul Gilroy propôs
nagô, angola ou benguela no Brasil e no Caribe.
do processo histórico concreto. Assim toda ideia de
Du Bois chamou de ‘dupla consciência’ (de pertencer ao
a noção de “Atlântico negro” em seu livro seminal do
Essas nações neoafricanas formaram-se na diáspora
pureza absoluta e tradição inalterada é complicada,
Ocidente e ser negro).
mesmo título. Para ele o Atlântico negro é o espaço
ao mesmo tempo que se consolida a ideia do Brasil não
porque tende a negar a historicidade do processo de
Outro exemplo que ilustra bem a complexidade
privilegiado para a emergência de uma contracultura
como mero território geográfico dentro do império luso,
constituição das nações. Ao pensarmos uma identidade
das relações diaspóricas é a história do semba. ‘Semba’
da modernidade.5 Isso é importante na medida em que
mas como povo independente e distinto da metrópole.
brasileira imutável ou uma África eterna, caímos no
é uma palavra quimbundo que significa umbigada, e a
algumas pessoas insistem em ver as manifestações de
Destarte, o período 1750-1870, sempre caracterizado
essencialismo e perdemos o sentido das mudanças
denominação brasileira samba é provavelmente derivada
cultura negra nas Américas como meras “sobrevivências”,
como o período de emergência das nacionalidades
radicais pelas quais passaram os territórios que hoje se
dela.3 Mas semba também designa um estilo musical
quando elas, de fato, sempre interagiram tanto com a
(na Europa e nas Américas), é também o momento
denominam Angola, Brasil ou Nigéria.
angolano. Por isso, já ouvi muita gente afirmar que o
diáspora quanto com a modernidade, da qual são parte
de constituição paralela de diásporas – de africanos e
Assim, as manifestações culturais que hoje figuram
samba brasileiro seria derivado do semba angolano,
constitutiva. Essa interação entre tradição africana
de outros povos do Atlântico. De fato as nações que
como expressões máximas de identidades nacionais
reafirmando assim que tudo se origina da matriz africana.
e contextos das Américas é também chamada de
emergem no mundo atlântico nos Oitocentos o fazem
latino-americanas, desde o merengue caribenho ao tango
A verdade, no entanto, é mais complexa. O semba surgiu
crioulização.6 Mas recentemente esse conceito tem sido
em interação permanente com as diásporas. Se a
argentino, são ao mesmo tempo expressões culturais
na década de 1950 em Angola com o grupo N’gola
ampliado para sociedades coloniais no litoral africano.7
construção de identidades se apoia em ancestralidade
derivadas em grande medida da diáspora africana.2 No
Ritmos, e se inspirou muito no samba brasileiro, pois
Um dos melhores exemplos da modernidade da
e história compartilhada, ela necessita, além do mais,
caso do Brasil, como explica Nei Lopes no próximo
almejava conseguir igual consagração internacional.
demarcar-se de outras comunidades, de outros grupos
artigo, o samba pode assim ser um símbolo da identidade
étnicos ou nações. O apelo à pureza é frequente recurso
nacional, ao mesmo tempo que é uma expressão da
na constituição dessas comunidades imaginadas.
cultura diaspórica dos povos bantos. Essa tensão é crucial
Rituais de purificação ou atos solenes de juramento, por exemplo, reforçam experiências compartilhadas. Mas
2 CHASTEEN, John Charles. National Rhythms, African Roots: The Deep History of Latin American Popular Dance. Albuquerque: University of New Mexico Press, 2004.
4
3 LOPES, Nei. Dicionário banto do Brasil. Verbete “semba”. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1996. p. 235. 4 CASTRO, Maurício Barros de. Do Samba ao Semba: travessias atlânticas entre Brasil e Angola. In: Maria Alice Resende Gonçalves e Ana Paula Alves Ribeiro (orgs.). História e cultura africana e afro-brasileira na escola. Rio de Janeiro: Outras Letras, 2012. p. 68-79.
5 GILROY, Paul. O Atlântico Negro. Modernidade e dupla consciência. Rio de Janeiro: Editora 34, 2001. 6 Para uma discussão do conceito e sua aplicação, ver Robin Cohin & Paolo Toninato, The Creolization Reader. Studies in Mixed Identities and Cultures. London: Routledge, 2010. 7 Linda M. Heywood & John K Thornton. Central Africans, Atlantic Creoles, and the Foundation of the Americas, 1585–1660. New York: Cambridge University Press, 2007.
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Samba
em revista
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Número 6
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contracultura negra é o reggae. Sua história ilustra os
Costa de Marfim, sendo Alpha Blondy o cantor mais
XX, mas também pode encerrar nosso pensamento em
múltiplos caminhos que cruzavam o Atlântico negro.
conhecido. A reivindicação da diáspora é explicita no
chavões simplistas. A cultura viva é híbrida, alimenta-
Na Jamaica pré-Independência tocava-se muito uma
reggae, sua pátria imaginada é a Etiópia, único país
se permanentemente de aportes de fora, se apropria
música chamada de ‘mento’, que era como um samba
africano que escapou do colonialismo na época clássica
e se enriquece deles. Por isso o Caribe e o Brasil, que
rural, música derivada dos cantos dos escravizados nas
do imperialismo, quando a África foi dividida entre as
viveram crioulizações desde o século XVI, foram
fazendas. Na década de 1950, o Rythm & Blues dos
potências europeias.
precursores da globalização contemporânea. Pensar
Estados Unidos virou moda na Jamaica. O R&B já era
A consciência de pertencer ao Atlântico negro é
então a cultura popular afro-brasileira como parte de
um ritmo crioulizado, pois integrava a cultura musical
forte também em algumas vertentes da cultura brasileira
uma (ou várias) diásporas, como parte de um diálogo
da Louisiana, ex-colônia francesa, com as tradições
contemporânea, como se pode ver pelo sucesso do reggae,
transatlântico, pode aprofundar a nossa compreensão da
musicais dos negros norte-americanos e a contradança
do rap e do hip-hop, obviamente na religião dos orixás
própria brasilidade e enriquecer o diálogo com outras
cubana (também conhecida como habanera), muito
e inquices e também na capoeira. Por que o discurso
culturas irmãs. Quem acha que comer feijão preto é algo
divulgada nos Estados Unidos nos Oitocentos.
dominante na mídia continua tendo problemas com a
exclusivamente brasileiro nunca comeu PF no Caribe.
O reggae surgiu assim na época da Independência
terra ancestral da maioria dos brasileiros, a África, a ponto
(1962), como uma forma que incorporou o mento
de ser necessária lei, mais de cem anos depois da Abolição,
jamaicano, o R&B e o contexto político da luta pela
para tentar mudar a maneira como se ensina a história da
emancipação política do Reino Unido. Ao mesmo
África, dos afrodescendentes e da cultura afro-brasileira?
tempo, Londres, a capital metropolitana, virou um
Acredito que há várias razões. A primeira, claro, é
lugar importante para o desenvolvimento do reggae,
o racismo que ainda existe. Outra razão importante,
pois aí viviam e produziam muitos músicos, inclusive
acredito, é a força da ideologia nacionalista no Brasil. Sem
Bob Marley. A partir da década de 1970, o reggae
dúvida o nacionalismo foi necessário para consolidar
conquistou o mundo e também voltou para a África,
um novo estado-nação na luta anticolonial do século
a ponto de se falar hoje de um reggae nigeriano ou da
XIX, ou mesmo resistir às pressões imperialistas no
*
21 A cultura viva é híbrida, alimenta-se permanentemente de aportes de fora, se apropria e se enriquece deles.
Samba
em revista
As Origens Africanas do Samba 22
23 Nei Lopes É autor, em parceria com Luiz Antonio Simas, do Dicionário da História Social do Samba (Ed. Civilização Brasileira, no prelo), fonte principal deste artigo.
O
samba é um produto cultural brasileiro, de indiscutíveis raízes africanas. Durante algum
tempo, buscou-se uma origem indígena para o termo ‘samba’. A razão é a existência nas línguas tupi e guarani de um vocábulo idêntico, significando ‘corda’ ou ‘cordão’. Daí, num momento em que se teimava em apagar a presença negra da vida brasileira, tentar-se comprovar essa origem; o que não se sustentou.
O continente africano se constitui de várias regiões distintas, cada uma com suas características, físicas
Ano 7
e culturais. Ao norte, dominam o Saara, o maior deserto do mundo, e o Mar Mediterrâneo; a leste e ao
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Número 6
O berço africano
Índico; a sudoeste, as estepes, desérticas ou de vegetação
sul, regiões montanhosas e o vasto litoral do Oceano rala; ao centro e a oeste, as florestas, a área das savanas e o litoral do Oceano Atlântico. Dessa parte, e através
Iniciada a dança, ao som dos instrumentos e ritmada por palmas, um ou uma dançante solista entra na roda, executa sua parte e chama outro (a), geralmente do sexo oposto, para dançar consigo ou substituí-lo. E assim, sucessivamente.
Samba
em revista
O mais importante desse momento é que, nele, o que eram apenas “corinhos”, refrões destinados a animar as danças, foram se estendendo, abordando temas, contando casos, expressando juras de amor.
24
desse oceano, é que vieram os africanos que, com
Os bantos do Congo e de Angola foram os africanos
seu trabalho e suas culturas, ajudaram a construir a
que trouxeram para o Brasil a dança do samba. Dança que,
civilização brasileira.
em contato com outras, provenientes de diversas regiões
A maior parte desses africanos veio do centro-oeste do continente, de onde hoje se situam as repúblicas de
Número 6
nascimento do samba brasileiro.
No início, as várias danças do tipo banto eram
Esse
padrão
coreográfico
caracteriza-se
no Brasil chamadas de ‘batuque’ ou ‘samba’, palavras
africanas, e até mesmo das Américas, foi, ao longo do
formação de uma roda em torno da qual se colocam
de comprovada origem africana. Isso já vinha pelo
tempo, tomando as variadas formas que hoje apresenta.
o solista da música, os músicos acompanhantes e os
menos da primeira metade dos anos 1800. E ocorria
Angola, Congo-Kinshasa, Congo-Brazzaville, Gabão e
Falamos ‘dança’ porque, na tradição dos africanos
dançantes, encarregados do coro. Iniciada a dança, ao
principalmente no ambiente rural, nos momentos de
Camarões. Boa parte veio também de um pouco mais
bantos, como entre grande parte dos povos tradicionais
som dos instrumentos e ritmada por palmas, um ou
lazer e festejos dos trabalhadores escravizados. Assim,
acima, do chamado Sudão Ocidental, dos atuais Nigéria,
– aqueles em que os conhecimentos se transmitem
uma dançante solista entra na roda, executa sua parte e
sambas e batuques eram, entre outros: o cateretê goiano,
Benim, Togo, Gana, Guiné-Bissau e vizinhanças. Em
oralmente –, a música nasce para acompanhar a dança,
chama outro(a), geralmente do sexo oposto, para dançar
o coco alagoano e pernambucano, o caxambu mineiro,
menor quantidade, mas também importantes, foram os
a qual precisa da música para existir.
ou substituí-lo. E assim, sucessivamente.
o tambor-de-crioula maranhense, o lundu baiano e as
O gesto de chamada consiste em uma umbigada
várias formas de samba de roda ainda praticadas, de
O padrão banto
ou entrechoque de peitos; ou um toque com a perna;
E são assim chamados pela mesma razão que nós
As músicas e danças tradicionais africanas refletem as
ou, ainda, um simples gesto cortês de convite à dança.
Com as migrações internas da população negra,
chamamos “latinos” a argentinos, uruguaios, paraguaios,
características das regiões, áreas e zonas onde surgiram e
Embora no ambiente banto também se registrem outras
escrava, liberta ou livre, os sambas rurais chegaram
chilenos, mexicanos, etc. Latinos são os povos que falam
se desenvolveram. Nas porções norte, noroeste e oeste do
formas de dança (imitando movimentos de animais, por
ao ambiente urbano, no qual foram incorporando
línguas originadas do latim (da Roma antiga), como
continente, a influência árabe muçulmana é marcante;
exemplo), essa é a destacada por diversos observadores
elementos e ganhando corpo.
português, espanhol, italiano, francês. E bantos são todos
assim como na Etiópia (nordeste), um dos mais antigos
estrangeiros, desde os primeiros que chegaram aos
Interessante registrar, num parêntesis, a localização,
os que falam línguas originadas de uma antiga língua
redutos do cristianismo no mundo, a influência dessa
territórios bantos, nos anos de 1500 e 1600. E seus
na atual República do Benim, na região do antigo Sudão
chamada Ur-Bantu ou Protobanto. Acrescentamos que
religião é definitiva. E no amplo território em que se
traços permanecem até hoje em danças de origem
Ocidental, de ritmos musicais semelhantes ao samba
os africanos falam línguas e não apenas dialetos. Dialeto
localizam os povos bantos, quase toda a África ao sul
africana desenvolvidas em vários países das Américas,
brasileiro. E isso levou o pesquisador Marcos Branda
é apenas uma forma simplificada de determinada língua,
da linha do equador (linha imaginária que divide ao
como Bolívia, Colômbia, Cuba, Peru, Venezuela... E
Lacerda a concluir que essa música tinha chegado lá
usada em determinada região.
meio, horizontalmente, o planeta Terra), predomina
principalmente no Brasil.
por obra de “retornados”, como foram chamados os
Os do centro-oeste eram majoritariamente “bantos”.
Ano 7
Do rural ao urbano
pela
que vieram de Moçambique e arredores.
Janeiro de 2015
um tipo de música e dança que foi fundamental para o
norte a sul do país.
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Samba
em revista
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oeste-africanos que migraram de volta para a África no
parte fixa, cantada em coro, para motivar as intervenções
mãos fechadas) na altura do peito, à moda africana – é
século XIX, constituindo comunidades de descendentes
improvisadas dos cantores solistas. E esse modelo, ainda
a “evolução” tradicional das escolas de samba; o bailado
de brasileiros (cf. CD/Encarte Drama e fetiche: vodum,
bem próximo do que alguns viajantes europeus viram
de mestre-sala e porta-bandeira, remotamente originário
bumba-meu-boi e samba no Benim. Rio, Funarte, Centro
e ouviram, outrora, na África e registraram em seus
de danças aristocráticas europeias; e, finalmente, o
Nacional de Cultura Popular, 1998).
apontamentos, resultou no que conhecemos hoje como
desempenho livre dos passistas solistas, desenvolvido a
partido-alto.
partir da dança do samba de roda baiano.
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Ano 7
Número 6
Feito o parêntesis, observemos que, na passagem para o século XX, na cidade do Rio de Janeiro, então
Além dessa forma ancestral e resistente que é o
Em qualquer desses subgêneros, estilos ou formas
Capital Federal, sob a influência da indústria fonográfica
partido-alto, o samba, na atualidade, é efetivamente um
de música e dança, o DNA africano está presente,
(a das “gravadoras”, produtoras e vendedoras de discos
gênero musical que se ramifica em vários subgêneros
principalmente na composição rítmica, seja na lentidão
com músicas gravadas), e do advento e expansão das
ou estilos, como o pagode dos anos 80, o pagode-
sofisticada da bossa nova, na pulsação do tantã nos
emissoras de rádio, o samba começou a ganhar a forma
pop, o samba-enredo, o samba de terreiro ou de
pagodes ou na riquíssima polirritmia das boas baterias
com que hoje o conhecemos.
quadra... E até mesmo o estilo bossa nova, prestigiado
de nossas agremiações carnavalescas.
O mais importante desse momento é que, nele,
internacionalmente, que, quando nasceu, na passagem
Isto é o que caracteriza a africanidade do samba e
o que eram apenas “corinhos”, refrões destinados a
para a década de 1960, era chamado “samba moderno”.
sua importância como patrimônio inalienável do povo
animar as danças, foram se estendendo, abordando
Além disso, o samba continuou sendo, também,
temas, contando casos, expressando juras de amor. E,
dança, com vários tipos de coreografias, como as
aí, o simples ‘batuque’ toma a forma de canção, que é a
seguintes: a do samba de salão, de par enlaçado, originada
poesia lírica ou satírica, apoiada em uma melodia e feita
da dança do maxixe (antigo gênero, variante da polca) e
para ser cantada.
incorporando figurações do tango argentino e de outras
Durante algum tempo, o samba ainda hesitou em
danças; a do samba de rua, dançado em cortejo, com os
assumir-se como canção. Resumia-se em apenas uma
braços flexionados e em movimento alternado (com as
brasileiro.
*
(...) o DNA africano está presente, principalmente na composição rítmica, seja na lentidão sofisticada da bossanova, na pulsação do tantã nos pagodes, ou na riquíssima polirritmia das boas baterias de nossas agremiações carnavalescas.
27
Samba
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“A força que faz O samba no a vida valer a pena” Rio de Janeiro
Rachel Valença integrou a equipe que elaborou o dossiê entregue ao IPHAN para embasar o registro do samba como patrimônio cultural do Brasil, em 2007. É autora de livros e artigos sobre carnaval e escolas de samba.
D
esde sua origem, o samba carioca é um elemento de expressão da identidade da população negra,
resultado da miscigenação cultural das várias etnias africanas que vieram para o Rio de Janeiro. Com a drástica intervenção urbanística realizada pelo prefeito Pereira Passos na primeira década do século XX, promovida com o intuito confesso de limpar a cidade de tudo que significasse pobreza, doença e atraso, essa população negra e marginalizada acabou por se concentrar na região conhecida como Cidade Nova, formando-se ali, em torno da casa de matriarcas negras, as ‘tias’ baianas – das quais Tia Ciata se tornou
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Número 6
símbolo –, um poderoso núcleo de resistência cultural. No início do século XX, o samba era praticado o ano inteiro em rodas nas casas e nos terreiros da população negra do Rio de Janeiro. Encarado com desconfiança pela sociedade preconceituosa, que o reprimia, usando inclusive a força policial, sobreviveu valentemente. Passado um século, o samba é hoje um dos símbolos da nação brasileira, sua mais forte manifestação cultural, conhecida e apreciada pelo mundo afora. Vale a pena observar como se deu esta mudança radical.
29
Samba
em revista
30
Sua integração definitiva à sociedade se deu, entre
conquistar sua aceitação social; do outro lado, havia um
É também nesse momento, no Centro, mais
sociedades, ranchos e até fantasias de luxo mostradas nos
outros fatores, por intermédio das escolas de samba, que
Estado disposto a disciplinar as manifestações culturais
exatamente na já mencionada região da Cidade Nova,
grandes bailes têm sua continuação nessa manifestação
aparecem no final da década de 1920. As agremiações
dos descendentes de escravos, vistos constantemente
que vai ser cunhada a expressão escola de samba. O
de cultura popular carioca que em nossos dias atrai
pioneiras se formam a partir de inúmeras referências:
como membros de “classes perigosas” que precisavam
grupo que faz uso dessa expressão para se definir não
turistas do mundo inteiro e movimenta milhões de
os sons das macumbas e batuques cariocas; a tradição
ser controladas. É deste encontro entre o desejo de
se diferencia em nada de outros blocos carnavalescos
reais, representando um dado bastante considerável na
carnavalesca de ranchos, blocos e cordões; e a herança dos
aceitação social das camadas populares urbanas e
que adotaram, na década de 1920, uma maneira
economia do Rio de Janeiro.
cortejos processionais, tais como os festejos da Senhora
o interesse disciplinador do Estado que surgirão as
estruturada de brincar o carnaval, sem o tumulto e a
Tentar entender as razões que motivaram os pioneiros
do Rosário, os ternos de Reis, os afoxés vinculados aos
primeiras escolas de samba cariocas.
arruaça típicos do entrudo e dos primeiros cordões. E é
sambistas a adotar atitudes e até mesmo palavras que
justamente nas estruturas já existentes, principalmente
dessem a sua atividade um caráter inofensivo pode ser
do rancho, que se baseiam.
uma tarefa facilitada por uma consulta aos jornais da
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Número 6
candomblés e as procissões religiosas católicas.
Mais do que manifestações explícitas de resistência,
A cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro era
as escolas de samba inserem-se em um contexto das
um lugar propício para abrigar as escolas que nasciam:
tradições estabelecidas pelos ranchos. Inovam, porém,
A escola de samba é uma associação popular,
época. Eles nos mostram o quanto despertava temor e
a geografia que mistura morro e asfalto, as tensões
em aspectos fundamentais: a dança espontânea do
recreativa e musical que tem como finalidade precípua
insegurança na população e nas autoridades esse tal de
entre uma cidade negra – porto de entrada de milhares
samba substitui a coreografia rígida dos ranchos. O
a participação no carnaval. Popular desde sua origem
samba, nascido entre a população marginalizada, que
de escravos vindos da África e ponto de atração para
samba já existia como gênero musical, influenciado pelo
– enquanto as grandes sociedades reuniam a classe
almejava a transmissão de uma cultura esmagada e via
milhares de libertos que chegam ao Rio nos anos
maxixe, mas ainda não tinha um ritmo capaz de ajudar
média, comerciantes, intelectuais, artistas, e enquanto os
no carnaval a oportunidade de afirmar-se. Então, dá
imediatamente posteriores à abolição da escravatura,
os foliões que quisessem cantar, dançar e deslocar-se ao
ranchos contavam com a participação de operários fabris
para entender que os sambistas do Estácio se revelassem
em 1888 – e o desejo de se europeizar possibilitaram que
mesmo tempo. Coube a um grupo de jovens talentosos
–, as escolas de samba se formaram no seio da população
preocupados em adotar padrões de comportamento
informações culturais de diversos matizes circulassem e
do bairro do Estácio de Sá, todos negros, liderados
marginalizada, composta de pessoas sem profissão
da sociedade que os reprimia e discriminava, numa
produzissem uma mescla cultural única.
pelo grande Ismael Silva, fazer do samba efetivamente
definida, quase todos remanescentes da desordenada
tentativa de se verem aceitos.
No caso específico das escolas de samba, há que se
música de carnaval. A harmonia e a cadência do samba
migração rural que sucedeu a abolição da escravidão, em
considerar ainda que elas surgem num período marcado
urbano carioca, codificado pelos bambas do Estácio de
busca de melhores oportunidades de sobrevivência.
por um dilema: de um lado, os negros esforçavam-se por
Sá, se consolida como a trilha sonora das agremiações.
Procissões religiosas, cordões, blocos, grandes
Em 1932 o jornal Mundo Sportivo organiza e patrocina o primeiro desfile de escolas de samba. Até então as escolas se apresentavam espontaneamente,
31
Samba
em revista
32
ou na Praça Onze ou em visitas às suas coirmãs: era
centro da cidade, foi-lhes sutilmente imposta a condição
escolas pelo desfile que apresentam uma vez por ano,
O valor do samba como patrimônio está no seu
prática comuníssima na época homenagear com uma
de que esse desfile fosse regulamentado, o que vale dizer
no carnaval, e que lhe vale uma classificação, corre
papel fundamental na tradição do Rio de Janeiro e
visita outra escola, que ficava devendo à visitante a
organizado, contido.
o risco de incorrer em grave distorção. As escolas
como referência cultural do país. É um importante fator
retribuição da homenagem. Foi também na Praça Onze
O fato de os sambistas terem sido, nesse
de samba tinham em sua origem – e têm até hoje –
de afirmação da identidade brasileira, servindo como
que se realizou o desfile de 1933, sob o patrocínio do
momento, obrigados a aceitar um regulamento
uma vida própria que fervilha durante o ano inteiro.
fonte de inspiração e de troca de cultura.
jornal O Globo.
em troca da oficialização de seu desfile, medida
Apesar de uma legítima preocupação com seu destino,
Ao longo do século passado, o samba no Rio ganhou
No ano de 1934, em janeiro, o jornal O Paiz
que, superficialmente, parecia apenas reconhecer e
ameaçado por inúmeros fatores de descaracterização,
muitas denominações: samba urbano, samba carioca,
promoveu um desfile de grandes sociedades, ranchos,
reverenciar o valor da manifestação cultural popular, foi
elas apresentam o vigor típico do que emana do
samba de morro, e depois apenas samba. Atualmente
blocos e escolas de samba no Campo de Santana, em
o início de um processo de concessões e de decorrentes
povo: sempre encontrará estratégias de sobrevivência
os sambistas das velhas guardas, os baluartes das
homenagem ao prefeito Pedro Ernesto. Pela primeira
transformações, que é, ainda hoje, objeto de acirrados
surpreendentes e criativas e conseguirá adaptar-se para
escolas, falam muitas vezes em samba de raiz e samba
vez foram cobrados ingressos para assistir ao desfile,
debates entre os que se interessam pelo assunto.
continuar a existir. Na definição do sambista Nelson
tradicional, mas estão falando do mesmo samba, o
Sargento: “Samba... agoniza mas não morre”.
samba que cresceu no Rio de Janeiro.
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Número 6
aberto pelas escolas de samba.
A verdade é que ao longo dos anos as escolas de
Em 1935, o desfile das escolas de samba é oficializado.
samba vêm pagando o preço de sua aceitação. Às vezes
E uma das razões de sua permanência é a transmissão
Suas matrizes, representadas pelo partido-alto,
Não é difícil imaginar o que isso significou para o samba,
um alto preço. Por exemplo, o abandono de formas de
pela oralidade e pela vivência. As crianças das
pelo samba de terreiro e pelo samba-enredo, são um
cujo universo era composto, como já se disse, de uma
criação espontâneas como o partido-alto e o samba de
comunidades acompanham seus pais, irmãos e vizinhos
patrimônio popular e cultural não só do Rio de Janeiro,
população à margem. O reconhecimento oficial da sua
terreiro, depois chamado samba de quadra, ao longo
às quadras das escolas de samba. Lá, brincam com as
mas de todo o Brasil.
manifestação cultural significava o fim de uma época de
do ano, para adoção exclusiva do samba de enredo, que
peças da bateria antes do início do ensaio, tocando a
humilhação e repressão. Podemos, porém, ver facilmente,
adquiriu aspectos comerciais decorrentes da exposição
seu modo. Sambam ao lado de seus avós, mães e tias,
por trás dessa medida, a clara intenção das autoridades de
à mídia, é uma grave consequência disso.
imitando os passos e as coreografias, mostrando uma total integração da criança no universo do samba.
controlar uma manifestação espontânea do povo, tentando
A perda do caráter comunitário e artesanal da
torná-la inofensiva. Oficializado e subvencionado o
criação carnavalesca é outro fato a lamentar. Mas
A observação da constante transmissão de
desfile, estaria afastado o suposto “perigo” oferecido por
as escolas de samba ainda representam para seus
conhecimento, em que o sambista ensina a seu filho
elementos suspeitos, que representavam uma ameaça à
componentes uma forma de lazer, de reunião, de
o que aprendeu de seu pai, é exatamente um dos mais
sociedade. Assim, enquanto as autoridades “permitiram”
associação, de atividade comunitária que transcende
importantes traços da permanência do samba como
que a gente do samba desfilasse nas ruas nobres do
sua mera participação no carnaval. Quem julgar as
valor cultural de grande importância na população.
*
33
Samba
em revista
Para compreender o carnaval
34
Felipe Ferreira Coordenador do Centro de Referência do Carnaval, professor do Instituto de Artes da Uerj e autor de diversos livros sobre o tema carnavalesco.
O
entrudo As primeiras manifestações carnavalescas no
Brasil foram trazidas pelos colonizadores portugueses que começavam a chegar ao país já na primeira metade do século XVI. As brincadeiras aconteciam nos dias que antecediam a “entrada” da Quaresma e, por causa disso, ficaram conhecidos pelo nome de Entrudo. Durante
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trezentos anos, cada cidade brasileira tinha sua forma
O carnaval mostra que está vivo como nunca, respondendo a novos anseios e novas tecnologias
de comemorar esse período. Festas, danças nas ruas e encenações populares, organizadas pelas autoridades, pelas corporações de ofício ou pelo próprio povo ocupavam as praças dos centros urbanos do país. Mas o maior divertimento era mesmo as pessoas pregarem todo tipo de peças umas nas outras. A coisa chegou a tal ponto que, nos primeiros anos do século XIX, a cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, se tornou conhecida mundialmente pela bagunça que ocupava suas ruas durante os dias de folia. “Nesses dias”, comentavam os viajantes que por aqui passavam, “uma pessoa não pode passear pelas estreitas ruas da cidade sem levar baldes de água sobre a cabeça ou receber esguichos das grandes seringas cheias de líquidos de proveniência duvidosa”.
35
Samba
em revista
36
A partir daí, o Entrudo – que acontecia de forma
resultado é que os deslocamentos dos foliões de sua
existindo sob a forma dos antigos foliões avulsos, com
em manifestações carnavalescas que associavam a
diferente dentro e fora das casas e ruas das cidades
casa para os bailes, geralmente realizados em carruagens
suas seringas e baldes de água, e dos grupos populares
sofisticação e beleza do carnaval dos bailes e passeios à
brasileiras – passou a ser descrito como uma festa “suja
abertas lotadas de pessoas fantasiadas, se tornariam
semiorganizados,
sujos”,
espontaneidade e descontração da folia popular. É dessa
e brutal” pela imprensa da época. O resultado disso foi
uma diversão em si. Foi então que, no carnaval de 1855,
conhecidos então como zé-pereiras. Juntavam-se a isto
rica mistura que, pouco a pouco, seriam identificadas as
que logo após a independência do país já havia uma
foliões elegantes decidiu organizar um grupo de dezenas
os grupos negros, conhecidos como cucumbis, que
formas carnavalescas que marcaram os antigos carnavais
verdadeira campanha contra essa diversão. “Precisamos
de carruagens, juntar uma banda de música e turmas de
se aproveitavam da liberalidade das autoridades para
cariocas e fariam dela a maior festa popular do mundo.
acabar com essa imundície”, comentavam os jornais.
rapazes a cavalo abrindo e fechando o cortejo e realizar
desfilar nos dias de carnaval. O resultado do encontro
Ranchos, blocos, cordões e sociedades, categorias que
“Temos que exterminar o Entrudo”, conclamava parte
um verdadeiro desfile pelas principais ruas da cidade.
de toda essa gente pelas ruas do Rio de Janeiro durante
dominariam o carnaval da primeira metade do século
da burguesia brasileira. “O governo precisa inventar
O desfile desse grupo, chamado de Congresso das
os três dias de carnaval seria o surgimento de grupos
XX, são todos provenientes dessa “confusão” original
uma nova diversão carnavalesca”, bradavam os políticos.
Sumidades Carnavalescas, teve um sucesso tão grande
misturando as diferentes formas de brincadeira num
gerada nas ruas do Rio de Janeiro. O interesse dos
que acabou inspirando outras turmas a se organizar
verdadeira “confusão carnavalesca” composta dos mais
jornais, do turismo, dos políticos e da intelectualidade
Os passeios
para passear pelo Rio de Janeiro durante o carnaval,
diferentes tipos de associações. Na passagem do século
de então incentivaria a divulgação desses grupos, as
A solução e a resposta para esse problema estavam
surgindo assim as Sociedades Carnavalescas.
XIX para o XX, a variedade de formas e organizações
disputas entre eles determinando as características de
criadas para a folia era tanta que ficava impossível para
cada um, suas “origens” e peculiaridades. O carnaval
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bem longe do Brasil, mais precisamente em Paris,
verdadeiros
“blocos
de
cidade que, já naquela época, lançava modas copiadas
A confusão
um observador entender as diferenças entre cada grupo.
carioca se organizava, assumindo a primazia da festa
em todo o mundo ocidental. E a moda do carnaval
Em poucos anos, dezenas de Sociedades já
A sensação daquela elite que havia importado para o
brasileira e atraindo os olhares do mundo.
parisiense, o mais famoso do mundo a partir da década
desfilavam pelas ruas do centro da cidade, disputando
Brasil a festa parisiense era que o novo carnaval tinha
de 1830, eram os bailes mascarados e os passeios de
entre si o exíguo espaço urbano carioca e inspirando
sucumbido ao entrudo e que tudo estava perdido.
carruagem, ambos devidamente importados para
outros centros urbanos Brasil afora. “O carnaval está
cá com o nome de carnaval pra não se confundir
vencendo o entrudo”, proclamava a elite nos estandartes
A organização
cordões, blocos e sociedades para a organização
com o indesejado Entrudo. Se no frio carnaval de
montados sobre suas carruagens e sobre os carros
A riqueza da folia carioca nas duas primeiras
e divulgação do carnaval brasileiro. Entretanto,
Paris os bailes realizados em grandes salões acabavam
alegóricos que começavam a aparecer em alguns grupos.
décadas do século XX nunca mais foi igualada. A
já nos anos 1920, muitos intelectuais começavam
superando os passeios de carruagem pelas ruas, muitas
Apesar disso, o povo das ruas e boa parte da própria
aparente “confusão carnavalesca” era, na verdade,
a criticar o excesso de “espetacularidade” das
vezes cobertas de neve ou gelo, na capital brasileira o
elite não abria mão das brincadeiras menos sofisticadas
um grande caldeirão que reunia povo, elite, brancos,
principais brincadeiras carnavalescas cariocas. As
calor de fevereiro incentivava os eventos externos. O
e a bagunça “entrudística” teimava em continuar
negros, mulatos, homens, mulheres e crianças
antigas sociedades se transformaram nas grandes
O samba Nunca será suficiente louvar o papel dos ranchos,
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Samba
em revista
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sociedades, com suas gigantescas alegorias. Os cordões,
do apoio de intelectuais encarregados de julgar as
intocáveis da cultura popular, as escolas passam a
respondendo a novos anseios e novas tecnologias. O
eminentemente negros, nunca tiveram boa reputação.
apresentações. Nesse período a questão mais importante
incorporar a ideia de espetáculo em suas apresentações,
Rio de Janeiro reafirma sua centralidade carnavalesca,
Os ranchos e os blocos se sofisticavam, apresentando
para as escolas de samba era a afirmação de sua tradição
conquistando, com isso, um novo público. Com o
propondo, mais uma vez, novos formatos de diversão.
enredos mirabolantes e fantasias ricas e grandiosas,
(característica que as diferenciava dos outros grupos
advento do televisionamento, na década de 1970, essa
O futuro está nas nossas mãos, mas não estamos
ao som de melodias que lembravam as marchas
carnavalescos). A raiz negra e popular era a base que
fama torna-se cada vez mais planetária, impondo novos
sozinhos. Junto conosco encontram-se todos aqueles
portuguesas. Era preciso valorizar o que fosse “nosso”,
sustentava as escolas, o que explica a obrigatoriedade da
padrões estéticos e organizacionais que se refletem na
foliões do passado que nos ensinaram que o carnaval é
afastando-se o mais possível das raízes carnavalescas
ala de baianas e a proibição de instrumentos de sopro
criação da LIESA e na construção do Sambódromo e,
nossa maior herança cultural.
europeias. É nesse momento que a “descoberta” do
nas baterias, já presentes no primeiro regulamento
mais tarde, da Cidade do Samba.
samba como novo ritmo brasileiro vai chamar a atenção
conhecido dos desfiles, de 1933.
Mais confusão
da intelectualidade para os grupos de “samba de morro”
Durante as primeiras décadas de sua existência,
que começavam a aparecer nas favelas cariocas. Atraídos
as escolas vão reafirmar seu caráter “tradicional” sem
Com a chegada do século XXI e a expansão da
para o “asfalto”, esses grupos musicais chamavam a
abrir mão, entretanto, da incorporação de novidades
internet, com os grupos de discussão, fóruns e mídias
atenção pelo novo estilo de samba “batucado”, diferente
capazes de criar as identidades de cada agremiação.
sociais, o carnaval adquire novas faces, traduzidas pela
do samba “maxixado” que fazia sucesso na época, e pela
É essa capacidade de responder de forma prática aos
facilidade de organização de grupos de foliões e das
harmonia das vozes das pastoras. Em pouco tempo
desafios que se apresentavam que fará que as escolas
análises críticas dos desfiles das escolas. O resultado é,
esses grupos começaram a ser chamados de “escolas do
de samba assimilem a participação da intelectualidade
de um lado, o questionamento constante do formato
samba”, uma referência ao nome “rancho-escola” pelo
de esquerda em seu processo criativo abrindo as portas
dos desfiles e da organização das escolas de samba e,
qual muitos ranchos eram conhecidos. Nos primeiros
das quadras e dos próprios desfiles aos diferentes
de outro, o surgimento de uma nova “onda” de grupos
anos da década de 1930, esses grupos, já conhecidos
grupos sociais da cidade a partir dos anos 50. As
populares, caracterizada pela formação de diferentes
como “escolas de samba”, participavam de concursos
transformações decorrentes desse movimento se
blocos com formatos e interesses diferentes que
promovidos pelos jornais, atraindo para a Praça Onze,
refletirão na organização das agremiações e em sua
passaram a ocupar as ruas do Rio de Janeiro e do Brasil.
local das disputas, uma grande massa popular, além
forma de desfilar. Deixando de ser vistas como espaços
O carnaval mostra que está vivo como nunca,
*
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Samba
em revista
A história na boca do povo
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Haroldo Costa Autor de diversas obras sobre o carnaval e as escolas de samba do Rio de Janeiro, em especial o GRES Acadêmicos do Salgueiro.
D
o que não há dúvida, e temos que ter consciência disso, é que a escola de samba, invenção dos
negros cariocas, vem cumprindo um importante papel na educação e na cultura do povo brasileiro: sua interpretação de nossa história, a valorização dos heróis que ficaram à margem dela, os valores culturais, religiosos e filosóficos, que vieram nos navios negreiros e aqui tomaram vários caminhos. No início os enredos eram ingênuos, poéticos, ou focalizavam episódios da história oficial do Brasil, aquela que constava nos livros didáticos, fonte para muitos compositores. No final da década de 1950, o Salgueiro
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começou a apresentar enredos diferentes e ousados. Assim foi em 1959, quando o enredo escolhido foi Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, baseado no livro do mesmo nome, de autoria do francês Jean-Baptiste Debret, trazido por D. João VI como participante de missão artística. O samba escolhido foi o da autoria de Duduca e Djalma Sabiá, hoje presidente de honra da escola, e narrava de maneira enxuta, sintética, o deslumbramento pela natureza brasileira, com fantasias de incrível beleza criadas por Dirceu Nery e Marie-
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Samba
em revista
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Louise Nery. Foi um momento marcante na história do
sim os vencidos, como: Frei Caneca, Manuel Bequimão
carnaval carioca, mas o ano seguinte foi ainda melhor
e Zumbi dos Palmares, entre tantos outros.
e mais desafiante. Fernando Pamplona, que tinha
Em 1972 a Portela saiu com Ilu Ayê, a terra da
assumido o posto de carnavalesco da escola, apresentou
vida, samba de Cabana e Norival Reis. A Beija-Flor
o enredo Quilombo dos Palmares, que trazia à tona um
tambem navegou nessas águas. Em 1978, Joãozinho
grande herói brasileiro: Zumbi dos Palmares.
Trinta extasiou os desfilantes e o público com o enredo
Ali começou a grande virada. O Salgueiro adotou
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aquele caminho e outros enredos vieram na mesma
A criação do mundo na tradição nagô, com samba de Neguinho da Beija-Flor, Gilson, Di e Mazinho.
linha: Vida e obra de Aleijadinho (1961), que revelou
A presença do negro como personagem passou a
para o Brasil e para o mundo o talento e as criações
ser um elemento indispensável nos enredos de escola
do gênio do barroco brasileiro, um mulato chamado
de samba, não só no Rio de Janeiro como em outras
Antônio Francisco Lisboa, que neste ano completa 200
cidades. Foi uma posição conquistada com a força
anos de falecido.
de um destino histórico. Muitos são os sambas que
Em 1963, outra personagem negra sacode o
abordaram o tema, mas, a meu ver, dois são verdadeiros
Salgueiro e o carnaval: Chica da Silva, que consagrou
hinos: Kizomba, a festa de uma raça, que a Vila Isabel
definivamente a mulata Isabel Valença, que a reviveu
apresentou no desfile de 1988, ano do centenário da
na Avenida. Outras escolas aderiram ao tipo de enredo
Abolição da Escravatura, da autoria de Luís Carlos
que o Salgueiro tinha inaugurado e foi assim que a
da Vila, Rodolfo e Jonas; e Cem anos de liberdade:
Mangueira, em 1964, saiu com Histórias de um preto
realidade ou ilusão, samba de Hélio Turco, Jurandir e
velho, samba de Hélio Turco, Pelado e Comprido. O
Alvinho, apresentado pela Mangueira no mesmo ano.
Império Serrano, em 1969, cantou Heróis da liberdade, exaltando exatamente os que não foram os vencedores e
Finalmente, o negro, que foi quem inventou a brincadeira, encontrou seu lugar no samba.
*
Atividades Pedagógicas
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Samba
em revista
Lília Gutman Mestre em Letras pela UERJ Desirree Reis Mestranda em História pela PUC-Rio Rondelly Cavulla Mestranda em Museologia pela UNIRIO
Recado ao Professor As atividades aqui apresentadas foram criadas a partir de experiências bem-sucedidas com grupos visitantes no Centro Cultural Cartola. Todas as atividades têm a indicação de áreas do conhecimento que são contempladas mais diretamente pela temática ou pela metodologia proposta, embora os desdobramentos sejam possíveis numa perspectiva transdisciplinar. Cada professor poderá seguir a proposta e adaptá-la de acordo com sua experiência com o grupo. As atividades pedagógicas visam contribuir para a formação de um cidadão consciente e sensível à sua trajetória, considerando que a habilidade de interpretação de objetos e manifestações culturais aumenta a nossa capacidade de leitura, de compreensão do mundo. Tais atividades são um exercício lúdico e prazeroso da História e Cultura Afro-brasileira e Africana, que, por sua vez, contemplam a Lei 10.639/03, tornando obrigatório seu ensino em escolas públicas e particulares do nível fundamental ao médio.
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Parte das atividades propostas tem como referência o Dossiê encaminhado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para o registro do Samba Carioca como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Esse documento considera como matrizes desse gênero musical três tipos de práticas socioculturais: Partido-alto, Samba de Terreiro e Sambaenredo. De acordo com o pesquisador (sambista e partideiro) Nei Lopes, partido-alto é “uma espécie de samba cantado em forma de desafio por dois ou mais contendores e que se compõe de uma parte coral (refrão ou “primeira”) e uma parte solada com versos improvisados ou do repertório tradicional, os quais podem ou não se referir ao assunto do refrão”. Samba de terreiro, também denominado Samba de Quadra, é aquele criado e cantado, durante o ano nas rodas que acontecem nos terreiros das escolas. Já o Samba-enredo, que é o mais conhecido quando se fala em carnaval e escolas de samba, é aquele composto para os desfiles anuais e que descreve uma história: o enredo.
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Para facilitar o planejamento das atividades, há indicação da duração das mesmas, podendo variar conforme a faixa etária e particularidades do grupo, além da indicação de complexidade: “baixa”, “média”, “alta”. Os recursos necessários à realização das atividades são, na maioria dos casos, os já disponíveis nas escolas. Alguns textos de apoio, figuras ou esquemas são apresentados junto à ficha da atividade, para facilitar o trabalho do professor ou monitor quando for necessária utilização de material específico. Caso você tenha alguma sugestão ou queira relatar sua experiência na realização das atividades com seus alunos, fique à vontade para compartilhar conosco fotos ou materiais produzidos através do e-mail cartola@cartola.org.br . Bom trabalho!
Equipe Caderno Pedagógico.
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Samba
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Atividade “De olho no retalho”
Atividade “Calculando a Bateria”
Objetivo - Sensibilizar os alunos para a observação dos elementos que compõem a fantasia das baianas: tecidos, en-
Objetivo - Relacionar a Matemática com a organização da ala de ritmistas de uma escola de samba, enfatizando a im-
feites, tamanho, corte, cor etc.
portância da Matemática em diferentes situações. Promover a reflexão acerca da noção de conjunto e de harmonia, tão
Desenvolvimento - A partir de um conjunto de amostras de elementos que compõem as fantasias das alas das baianas
necessários à evolução da bateria durante o desfile de carnaval.
de diferentes escolas, chamar a atenção para suas características e estimular associações. Exemplo: Predomínio de de-
Desenvolvimento - Elaborar questões matemáticas envolvendo elementos relacionados à ala de ritmistas, a bateria.
terminada cor referente a uma Escola “x”, tipo de material mais característico da ala, entre outras relações.
Alguns exemplos de instrumentos usados na bateria de uma escola de samba: surdo, tamborim, prato, repique, chocal-
Recursos - Caixa com diversos materiais: pluma, paetês, retalho do tecido, etc.
ho, caixa de guerra, cuíca, agogô, reco-reco, pandeiro e triângulo.
Complexidade - Baixa.
Complexidade - Baixa.
Indicação - Arte.
Indicação - Matemática.
Atividade “Pesquisa de campo”
Atividade “Chega de lágrimas”
Objetivo - Reforçar a identificação de elementos relacionados ao Samba Carioca.
Objetivo - Dramatizar a narrativa poética contada pela música de Cartola.
Desenvolvimento - Pedir que os alunos preencham a tabela abaixo, pesquisando em casa, com a família, os amigos, em
Desenvolvimento 1 - Ouvir a música “O Sol Nascerá”, de Cartola. Dividir o grupo em dois subgrupos. Propor a dra-
jornais, revistas e internet, elemento e principais características:
matização da letra, pedindo aos alunos para fazerem gestos que melhor se encaixem à ideia. Uma vez escolhidos gestos
Elemento
Imagem
Descrição
(recorte e ou desenho)
(definição, o que é)
Referência (quem o ajudou, e onde tirou isso?)
e coreografia, apresentar para outro grupo o resultado. Desenvolvimento 2 - Após ouvir a música, propor que sejam criadas possibilidades poéticas para completar a frase: “Eu pretendo levar a vida.................”. Cada aluno fala a sua “proposta de vida” e os demais a repetem.
Surdo
O Sol Nascerá (Cartola)
Tamborim Chocalho
A sorrir
Finda esta saudade
Caixa
Eu pretendo levar a vida
Hei de ter outro alguém para amar
Cuíca
Pois chorando
A sorrir
Agogô
Eu vi a mocidade
Eu pretendo levar a vida
Reco-reco
Perdida
Pois chorando
Pandeiro
Finda a tempestade
Eu vi a mocidade
O sol nascerá
Perdida
Turbante
Ex:
Ex.: Adereço, enfeite de cabeça
Ex.: Perguntei para minha tia.
Duração - 50 min cada. Complexidade – Baixa.
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Indicação - Ed. Física, Dança, Língua Portuguesa. Cocada
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Repique
Cavaquinho
Feijoada
Duração - 2 dias Complexidade - Média Indicação - Geografia, História, Artes, Língua Portuguesa, Informática.
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Samba
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Atividade “Meu dicionário”
Atividade “O que é que a baiana tem?”
Objetivo - Elaborar um pequeníssimo dicionário sobre elementos do samba.
Objetivo - Identificar elementos que caracterizam o traje da ala das baianas, a partir de observação de foto, ilustração
Desenvolvimento - Apresentar aos alunos a definição de SAMBA, na forma de verbete, impresso em banner ou cartaz
ou peça do acervo do CCC.
de bom tamanho (ou escrito num quadro disponível).
Desenvolvimento - Mostrar uma ilustração do traje de baiana do carnaval e pedir ao aluno que relacione o elemento característico da vestimenta. É fundamental que o aluno perceba a questão da ancestralidade afro-brasileira represen-
samba1 sam.ba1
tada pelas baianas e a função estética dos seus trajes carnavalescos - a de retratar visualmente o enredo proposto pela escola de samba. Exemplo:
sm (quimbundo semba) 1 Dança popular brasileira, de origem africana, com variedades urbana e rural, cantada e muito saracotea-
Tente descobrir:
da, compasso binário e acompanhamento obrigatoriamente sincopado, que se tornou dança de salão universalmente conhecida e adotada. 2 Composição musical própria para essa dança. 3 Espécie de dança
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de roda com características de batuque. http://michaelis.uol.com.br/
Pedir que cada aluno escreva seu verbete para: “Mangueira”, “bateria”, “escola de samba”, entre outras do mesmo campo semântico. Os alunos falarão para os colegas e professores a sua definição. Se os visitantes forem alfabetizados, redigirão em papel para, posteriormente, a escola montar o seu “pequeno dicionário do samba”. Duração - 50 min.
De que material é feito?
Recursos - Cartaz ou quadro com marcador, papel e lápis.
Esse traje representa qual estado brasileiro?
Complexidade - Baixa.
A fantasia parece leve ou pesada? Por quê?
Indicação - Língua Portuguesa.
Quantas baianas têm numa ala de escola de samba do Grupo Especial? ... (continue)
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Duração - 50 min. Complexidade - Média. Indicação - História, Geografia e Artes.
Samba
em revista
Atividade “Aqui é o meu lugar”
Atividade “Casa de bamba”
Objetivo - Montar um quebra-cabeça de uma foto da Mangueira na exposição, incentivando o raciocínio lógico e
Objetivo - Estimular que os alunos reflitam sobre a contribuição sociocultural de determinada personalidade para um
resgatando brincadeiras do passado.
grupo específico ou até mesmo para a história do Brasil.
Desenvolvimento – Disponibilizar mapa da região da Mangueira, impresso em papel colado em cartolina, podendo ser
Desenvolvimento - Pedir que em trio, os alunos desenhem uma casa e convidem 10 bambas do universo do Samba
um grande ou vários menores, tantos quantos forem os grupos. Após identificarem os locais representativos – quadra,
para morarem nela. Cada convidado deve ser apresentado à turma junto com uma justificativa relacionada à sua con-
ladeira, Buraco Quente, Centro Cultural Cartola, a casa de cada um, a escola, a venda do sr. Tal, a lojinha da sra. Tal,
tribuição para o samba.
etc., farão a marcação desses locais com fuxicos feitos com retalhos de tecidos de fantasia, escrevendo os nomes no
Recursos - Papel, caneta, lápis de cor, tesoura e cola.
mapa ou criando legenda (Comércio, residência, escola, clube, quadra, Museu, etc.)
Duração - 1h
Duração - 50 min.
Complexidade - Baixa.
Recursos - Mapa da Mangueira impresso, cartolina, retalhos de tecido, fuxicos prontos ou para serem feitos (com
Indicação - Língua Portuguesa, História, Geografia e Arte.
agulha e linha ou cola de contato), caneta para tecido.
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Complexidade - Baixa.
Atividade “Turbante”
Indicação - Geografia e Artes.
Objetivo - Promover conversa sobre a estética dos traços africanos: cabelo e nariz. Valorização do cabelo cacheado, crespo e liso, a partir de um artigo de beleza muito usado por mulheres em diferentes países, principalmente do continente
Atividade “Minha Abayomi”
africano e também, pelas “tias” baianas: o turbante.
Objetivo - Conhecer um pouco da estética e cultura africana através das bonecas Abayomis (feitas de pano com nós,
Desenvolvimento - Iniciar conversa sobre as características da população africana relacionando com o ambiente quente
sem costura).
e úmido. Em seguida, disponibilizar ou pedir que os alunos levem de casa, qualquer tecido com aproximadamente 150
Desenvolvimento - No navio negreiro, durante a escravidão, era comum mães confeccionarem para seus filhos bonecas
cm (comprimento) x 50 (largura) cm.
de pano (abayomis), usando retalhos que rasgavam de suas roupas. Em sala de aula, pode-se explicar o cotidiano do
Recursos - tecido para turbante, na proporção de 150 cm (comprimento) x 50 cm (largura) para cada turbante; tesoura.
transporte de escravos da África e os costumes dessas mulheres para tornar o ambiente do navio negreiro menos hostil
Complexidade - Média.
para seus filhos. Apresentar uma boneca já confeccionada. Em seguida, disponibilizar ou pedir que os alunos levem de
Indicação - Geografia.
casa retalhos de tecidos para que criem suas próprias abayomis.
Duração - 1h30min.
Recursos - Retalhos de tecido e tesoura.
Tutorial - http://migre.me/jeDjH ; http://migre.me/jeDl2 ; http://migre.me/jeDlz
Duração - 50 min. Complexidade - Baixa.
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Indicação - Artes. Tutorial - http://migre.me/o2O3i
Atividade “Um gosto, um rosto” Objetivo - Compor personagem a partir de máscara com inspiração africana. Desenvolvimento - Debater sobre a máscara como elemento de diferentes culturas e de sua permanência nos dias de hoje. Dispor materiais diversos além de lápis de cor e canetas para a pintura das máscaras com inspiração africana. Recursos - Máscaras africanas impressas, lápis de cor, canetas, etc. Duração - 50 min. Complexidade - Baixa. Indicação - História, Arte e Geografia.
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Samba
em revista
Atividade “Símbolos africanos ao meu redor”
Atividade “Defendendo seu samba”
Objetivo - Estimular a percepção de elementos da cultura africana na realidade que nos cerca - arquitetura, arte, ves-
Objetivo - Chamar a atenção para os argumentos e interpretações em relação às letras de Samba.
timenta, etc.; Perceber linguagem de ideogramas em diferentes expressões culturais (Pesquisar com o grupo exemplos
Desenvolvimento - Pedir que cada aluno (a) escolha um samba e com cuidado prepare sua defesa, desenvolvendo ex-
da simbologia - Adinkra, por exemplo*)
plicações do por que aquele samba é muito bom ou até mesmo o melhor. Cada aluno (a) deve levar a música e ou letra
Desenvolvimento - apresentar ao grupo elementos da simbologia africana e seus significados; observar a área do entor-
escolhida para a sala de aula. Por meio de sorteio três sambas entram na disputa e o aluno deve argumentar o porquê
no da escola ou na própria comunidade, identificando esses símbolos em gradis, estamparias de roupas e tecidos de
o seu respectivo samba é melhor que o do outro. A turma escolhe o melhor argumento e canta o samba no final.
decoração, quadros, grafites, entre outros; compartilhar com o grupo sua investigação.
Recursos - Papel, caneta e som.
Recursos - Papel; caneta; (pode ser usada câmera/celular se houver recursos).
Complexidade - Média.
Complexidade - Média
Duração - 50 min.
Duração - 2h + 2h
Indicação - Artes, Língua Portuguesa, Geografia, História.
Indicação - Artes, História e Geografia.
Atividade “Nossa Bandeira” Objetivo - Desenvolver a criatividade e a construção de um objeto a partir da reflexão em relação às próprias escolhas.
Exemplo:
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Desenvolvimento - Iniciar em sala de aula conversa sobre o carnaval no que se refere às bandeiras das escolas de samba. Em seguida, propor que os alunos criem suas próprias bandeiras. Todas as escolhas devem ser justificadas: formato, tamanho, cor, símbolos utilizados, escrita etc. Recursos - Papel, caneta, tesoura escolar, lápis de cor, purpurina, cola, paête, papéis diversos, etc. PODER DO AMOR
FORÇA
AMOR E SEGURANÇA
ESPERANÇA
Duração - 50 min. Complexidade - Baixa.
Atividade “A infância em outros tempos” Objetivo - Estimular a criatividade e a reflexão em relação à herança africana nas brincadeiras de crianças. Desenvolvimento - Pedir que cada aluno (a) pergunte em casa e tome nota de quais as principais brincadeiras da infância de seus pais, avós e ou tios. Em seguida, pesquisar se essas brincadeiras têm origem ou influência africana, escolher uma e apresentar para turma sua investigação. Para finalizar, a turma pode escolher e experimentar duas ou mais brincadeiras.
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Recursos - Papel e caneta. Complexidade - Média Duração - 2h Indicação - Educação Física, História e Geografia.
Indicação - Filosofia e Artes.
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Samba
em revista
Sugestões para turmas do Ensino Médio Atividade “História do Negro no Samba: É a Kizomba no Carnaval1” Objetivo - Estudar e problematizar a história do negro no Brasil, dando enfoque a questões relacionadas à resistência sociocultural durante a escravidão. Desenvolvimento - Um dos sambas de grande referência sobre a importância dos negros na cultura brasileira é “Kizomba, a Festa da Raça” (Unidos de Vila Isabel/1988) de Luiz Carlos da Vila, Rodolfo de Souza e Jonas Rodrigues. Na sinopse desse carnaval da Vila, exalta-se Kizomba como uma festa de confraternização de pessoas que se identificam e refletem sobre problemas comuns. No caso do Brasil de 1988, discutia-se o centenário da abolição da escravatura do país e, como ressaltou Martinho da Vila (idealizador do enredo e então diretor de carnaval da agremiação), o desfile conclamava a uma meditação sobre a influência do negro na cultura universal, a situação dos negros no mundo e a reafirmação de Zumbi como símbolo de liberdade do Brasil. A partir da letra desse samba-enredo, propomos que o
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professor dialogue com os alunos questões levantadas pela canção e as formas de resistência sociocultural dos negros durante a escravidão no cenário brasileiro. Duração - 50 min. Complexidade - Alta. Indicação - História, Filosofia e Geografia.
Atividade “Ser Negro no Brasil, hoje” Objetivo - Refletir e dissertar sobre a história do negro e sua vivência nos dias atuais no Brasil. Desenvolvimento - Em 1988, o Brasil comemorava o centenário da abolição da escravatura. Naquele ano, a Estação Primeira de Mangueira questionava a noção de liberdade com relação aos negros que, segundo o samba-enredo da verde-e-rosa, viviam “livre do açoite da senzala”, mas presos “na miséria da favela”. O próprio título do samba – composto por Hélio Turco, Jurandir e Alvinho – era questionador: “Cem anos de liberdade – realidade ou ilusão?”. E hoje? Como é a realidade do negro no Brasil? O negro é livre? Há novas prisões? A partir de questionamentos como esses, pedir que os alunos desenvolvam um texto argumentativo-dissertativo com mínimo de 20 e máximo de 30 linhas sobre o que é ser negro no Brasil atualmente. Sugerimos o uso do samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira, de 1988, como texto-base para a atividade. Após ouvir a canção ou ler a letra desse samba, os alunos redigem individualmente suas redações. Texto de Apoio: Trecho do Samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira “100 anos de liberdade - realidade ou ilusão” (Hélio Turco, Jurandir e Alvinho) Será... Que já raiou a liberdade Ou se foi tudo ilusão Será... Que a lei Áurea tão sonhada Há tanto tempo assinada Não foi o fim da escravidão Hoje dentro da realidade Onde está a liberdade
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Onde está que ninguém viu
Moço...
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Também construiu
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Não se esqueça que o negro
Duração: 50 min.
As riquezas do nosso Brasil (...)
1
“É a Kizomba no Carnaval”, expressão de Martinho da Vila em VILA, Martinho. Kizombas, andanças e festanças. Rio de Janeiro: Record, 1998, p.114.
Indicação: Língua Portuguesa, História e Filosofia. Complexidade – Alta.
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Samba
em revista
Atividade “O Samba”
Duração - 50 minutos.
Objetivo - Analisar as composições de samba através de exercícios de gramática e propor que os alunos produzam
Complexidade - Alta.
versos, como num partido-alto.
Indicação - Língua Portuguesa.
Cada qual com suas especificidades, podemos perceber tanto no partido-alto, como no samba de terreiro e no sam-
Exemplos de Samba de Terreiro: Samba Velho Amigo, de Monarco, e Luz da Inspiração, de Candeia.
ba-enredo uma característica em comum: a criatividade dos compositores. A criação de palavras para enriquecer suas composições, as temáticas abordadas nas músicas são marcas do talento desses sambistas e podem ser utilizadas em salas
Desenvolvimento 3 - Atividade intitulada “Seja um partideiro!”. Seguindo a definição de Nei Lopes sobre Partido-alto,
de aula para trabalhar aspectos relevantes de diversas disciplinas. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais
propomos que os alunos também possam criar seus versos. As criações deles devem estar de acordo com a matéria
(1997), em que os estudos interdisciplinares são valorizados, buscamos atentar para exercícios que contemplem mais de
estudada em Língua Portuguesa sobre modos verbais. Sendo assim, os elementos versados devem ser finalizados por
uma disciplina, enriquecendo, assim, o processo de ensino-aprendizagem. A seguir, propomos três atividades utilizando
verbos no Particípio, Gerúndio ou no Infinitivo. Cabe ao professor escolher quais modos verbais serão seguidos. Essa
como fonte as matrizes do samba carioca contempladas no Dossiê Matrizes do Samba no Rio de Janeiro (IPHAN).
proposta didática pode ser utilizada também nas aulas de música. Duração - 50 min.
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Desenvolvimento 1 - As figuras de linguagem são utilizadas com frequência por sambistas na composição das canções.
Complexidade - Alta.
Em 1998, a Estação Primeira de Mangueira consagrou-se campeã do carnaval (junto com a Beija-Flor de Nilópolis)
Indicação - Língua Portuguesa, Música e Artes.
com o samba-enredo “Chico Buarque da Mangueira”. Para homenagear Chico Buarque, os compositores Nelson D. Rosa, Vilas Boas, Nelson Cispai e Carlinhos das Camisas utilizam de metáforas, onomatopeias, neologismos, entre
Atividade “Conhecendo Comunidades Quilombolas”
outras figuras de linguagem. Exalta-se o poeta por meio da criação de um verbo com seu nome, já que “seu canto de
Objetivo - Aprender sobre as comunidades quilombolas existentes no Brasil e o processo de certificação dessas
fé vai buarqueando com muito axé”. O samba-enredo da Mangueira de 1998 é um exemplo de texto para trabalhar fig-
propriedades.
uras de linguagem. Propomos, então, que os alunos façam um levantamento de sambas-enredo a partir das figuras de
Desenvolvimento - Quilombolas são descendentes dos negros escravizados que mantiveram por séculos e ainda man-
linguagem (classificando-as) estudadas em sala de aula e que constam no livro didático. Este trabalho pode ser feito
tém as tradições de seus ancestrais, culturalmente, nas formas de subsistência e na religião. Em 2014, foram contabili-
individualmente ou em grupo. A pesquisa será realizada tendo como referência as diferentes escolas de samba do Rio
zadas mais de 2 mil comunidades quilombolas existentes no país. As dificuldades de conseguirem o reconhecimento
de Janeiro (grupo especial e da série A). Sendo assim, cada grupo – ou cada aluno – buscará os sambas de uma determi-
de suas terras, a discriminação racial e a violação de direitos fazem parte da história e do cotidiano de muitas dessas
nada agremiação, analisando as figuras de linguagem utilizadas nas composições. Cabe ao professor estabelecer quais
comunidades. Em sala de aula, temáticas como essas podem ser levantadas, pontuando ainda as políticas públicas
escolas de samba serão abordadas nesse exercício. Essa atividade fica restrita à análise de sambas-enredo.
e os órgãos envolvidos para o reconhecimento de uma Comunidade Remanescente de Quilombo e os direitos que
Duração - Indeterminada
essa certificação possibilita. Para isso, peça aos alunos que pesquisem sobre as dificuldades enfrentadas e a legislação
Complexidade - Baixa.
que regulamenta a titulação do direito de propriedade a essas comunidades (DECRETO Nº 4.887/2003). Na aula
Indicação - Língua Portuguesa.
seguinte, promover uma roda de conversa em que os alunos levantem questões sobre o que pesquisaram.
Janeiro de 2015
Ano 7
Número 6
Duração - 2 aulas. Desenvolvimento 2 - Exercícios gramaticais também são interessantes para explorar os sambas em sala de aula. Nesse
Complexidade – Média.
sentido, propomos que os professores levem para sala de aula alguns sambas de terreiro de diferentes agremiações. As
Indicação – Geografia.
características desse gênero musical bem como alguns exemplos de “sambas de quadra” podem ser vistos no Dossiê das
Sugestão de fonte de pesquisa - Website da Fundação Cultural Palmares (http://www.palmares.gov.br/)
Matrizes do Samba no Rio de Janeiro, sendo este uma boa fonte de pesquisa para estudar sobre o samba carioca no planejamento das aulas sobre o tema. Após apresentar o que é samba de terreiro e relacioná-lo à história do samba, o professor pode trabalhar aspectos gramaticais em cada verso.
57
Atividade “Mapeando” Objetivo - Difundir e valorizar as expressões culturais negras do Brasil. Desenvolvimento - Jongo, Samba de Roda do Recôncavo Baiano, Maracatu, Tambor de Crioula, Samba Carioca, Folia de Reis, entre outras manifestações artístico-culturais e religiosas são marcas da reafirmação e valorização da identidade negra no Brasil. Propomos que os alunos mapeiem essas expressões culturais do território brasileiro, através de pesquisas em livros, revistas e sites da internet. Para isso, divida a turma em subgrupos de 3 a 4 alunos e apresente uma lista de expressões culturais negras. Cada grupo escolhe duas opções para realizar a atividade. Em seguida, peça aos alunos que pesquisem essas manifestações culturais para realizar uma apresentação ao restante da turma, atentando para as
Presidenta da República Dilma Vana Rousseff Ministro da Cultura Juca Ferreira Presidente da Fundação Cultural Palmares Hilton Cobra
Coordenação Geral Nilcemar Nogueira Regina Glória Nunes de Andrade Coordenação Administrativa Janaina Reis Pinheiro Pesquisa Desirree Reis
diferentes regiões do Brasil. Por fim, com o auxílio do professor, a turma cria uma ilustração do Mapa do Brasil pontuando as regiões das manifestações pesquisadas, inserindo imagens das mesmas. Estimular a criatividade dos alunos na elaboração do mapa. Recursos - Cartolina ou TNT, ilustração do Mapa do Brasil, papel crepon, tesoura, hidrocor. Duração - Indeterminado.
58
Complexidade - Alta.
LOPES, Nei. Partido Alto: Samba de bamba. Rio de Janeiro:
Cartola, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, 2007.
Pallas, 2005.
ANDRADE, Regina e MACEDO, Cibele (org.). Território
MANGUEIRA (Revista), 1988. Acervo: Centro Cultural
Verde e Rosa; Construções psicossociais no Centro Cultural Carto-
Cartola.
Ilustrações Fábio Borges
MOURA, Roberto. Tia Ciata e a Pequena África no Rio de
(Artista Plástico, carnavalesco) Nasceu em Nova Aurora, Goiás. Artista plástico e carnavalesco, frequentou cursos de Comunicação Visual na Univercidade, no Rio de janeiro, e Pintura na École Nationale Súpérieure des Beaux-Arts, em Paris. Mas se considera autodidata, tendo “bebido na fonte” dos grandes mestres expostos nos museus franceses. Como carnavalesco, fez sua estréia em 1990, na Estação Primeira de Mangueira. Assinou carnavais também no Leão de Nova Iguaçu, Acadêmicos do Salgueiro, no Rio, e Peruche, Rosas de Ouro, Tucuruvi, Vila Maria e Pérola Negra, em São Paulo.
BRASIL, Processo n° 01450.011404/2004-25. Dossiê das
Janeiro. Rio de Janeiro: FUNARTE/INM/Divisão de Música
Matrizes do Samba no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2006.
Popular, 1983.
Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=771
Número 6
Design Gráfico Marcos Corrêa/Ato Gráfico
A Força Feminina do Samba. Rio de Janeiro: Centro Cultural
la. Rio de Janeiro: Companhia de Freud: FAPERJ, 2010.
Ano 7
Consultoria Pedagógica Lilia Gutman Realização Centro Cultural Cartola
Indicação - Artes, Geografia. Referências bibliográficas - Atividades pedagógicas:
Janeiro de 2015
Assistente de Pesquisa Rondelly Cavulla
NOGUEIRA, Nilcemar. D. Zica, tempero, amor e arte. Rio de Janeiro: Mauad, 2004.
CATÁLOGO da exposição Samba: Patrimônio Cultural do Brasil (Centro Cultural Cartola/Museu do Samba Carioca)
SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRASIL, Érico. Mulheres Negras do Brasil. Rio de Janeiro: SENAC Nacional, 2007.
FARIAS, Julio Cesar. Aprendendo Português com Samba-Enredo. Rio de Janeiro: Litteris Ed., 2004.
SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.
HORTA, Maria de Lourdes; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane. Guia Básico de Educação Patrimonial.
VILA, Martinho da. Kizombas, Andanças e Festanças. Rio de
Brasília: IPHAN, Museu Imperial, 1999.
Janeiro: Record, 1998.
Desenho artístico de Cartola (capa) Cadu Mendonça
Janeiro de 2015
Ano 7
NĂşmero 6
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