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BESTAS QUADRADAS AUGUSTO SANCHES 20.11 31.12 2020
A obra apresenta-se da seguinte forma: existe a imagem de um rosto enclausurado. Essa clausura é um quadrado, mas o quadrado é o mundo. E o mundo actua sobre o rosto, atingindo a sua definição. É o que acontece sempre com os rostos. Estes rostos não encontram um lugar onde se fixar. Porque o mundo, ou o quadrado, é apenas a morada da sua transformação, nunca da sua estadia. Não há dois rostos iguais no mundo. Não há um rosto igual a si mesmo. São antes uma malha de coordenadas que definem as regras de uma distorção. Tentam procurar uma identidade que está sempre em fuga. Na maior parte dos casos, não conseguimos perceber se o rosto se forma ou se está em fase de extinção; se estamos a assistir ao seu começo ou ao seu fim.
Reparamos nas perturbações: crateras, cumes invertidos, fossos por onde o rosto escapa. E estes lugares impõem-se a modo de ralo, vórtice que escoa os últimos indícios daquilo que parecia querer ser um rosto. E o rosto não consegue fugir da sua condição desfigurada. A sua identidade é o processo contínuo da decadência da imagem ou da ideia de um rosto. Então surge a besta nos limites do quadrado como único rosto possível. Cabeças que espasmam no ringue simbólico que é o mundo. Contorcem-se, são como panos sujos de tinta torcidos por uma mão omnipresente. E é aí que parecem retaliar. Enfrentam-nos, como nesses retratos ou espelhos onde não nos acabamos de reconhecer, para nos demonstrar o quão próximos estamos dessas bestas metidas em quadrados. Miguel Royo
BESTAS QUADRADAS AUGUSTO SANCHES
FICHA TÉCNICA Curadoria Fernando Gaspar Francisco Providência Paulo Neves Mário Marnoto Design Providência Design Fotografia Fernando Gaspar Impressão Oficina Digital, Aveiro © 2020, Aveiro 200 exemplares
CATÁLOGO 25 peças em acrílico sobre madeira com 20 x 20 cm
AUGUSTO SANCHES Obteve, em 2020, o grau de Mestre em Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP) e participou anualmente nas exposições da “Anuária” daquela Faculdade com trabalhos selecionados, de âmbito colectivo e/ou individual. Em 2014, é-lhe atribuído um prémio de desenho pela mesma instituição. Ainda na FAUP integrou, em 2015, a Direcção da Associação de Estudantes e fez parte do grupo de trabalho para a organização de um fórum de discussão com plenário em 2015 (Quinzena’ 15) que veio a dar origem a uma plataforma de discussão na escola, seguida de uma votação estudantil de um conjunto de reformas propostas ao Conselho Científico da instituição nas mais diversas frentes. No mesmo ano seria, ainda, convidado a integrar um projecto colectivo artístico ex-curso, “Sabatina”, desta vez ocupando espaços comuns da faculdade, fora da área expositiva. Ao abrigo do programa Erasmus (2016) frequentou uma disciplina de escultura em madeira na Escuela de Arte de la Pontifícia Universidad Católica de Chile, Santiago. Em 2016, em Santiago do Chile integra 2 exposições de arte colectivas, uma na Escuela de Arquitectura e uma segunda nas Bellas Artes, da mesma Pintifícia Universidad Católica de Chile (PUCC). Sob o pretexto da tese de mestrado, projecta e constrói a reconversão de uma cave com
espaço de banhos em residência artística com atelier de escultura, onde actualmente trabalha. Terminada a tese de mestrado em Portugal, regressa ao Chile, em 2019, aquando do início do actual estalido (não sei o que queres dizer com “estalido”) social, tendo nessa altura integrado uma exposição colectiva denominada “Arte e Revolução”. Na sua formação destaca-se ainda, o Curso de Fotografia Digital ministrado pelo Instituto Português de Fotografia do Porto (2015), o Curso Intensivo de Retrato no Atelier de Arte Realista do Porto com Glenn Vilppu (2015) e o estágio no atelier Paulo Neves (2017). A sua obra compreende actos artísticos de vária ordem, da arquitectura à pintura, passando pelo desenho, escultura, som, imagem, performance, fotografia, instalação e cenografia, tendo também operado em diferentes formatos, desde festivais como o Ignition (Penafiel, 2015) ou o Apura (Coimbra, 2018), a exposições com grupos de teatro como o GrETUA (Aveiro, 2016), eventos gourmet como o Vagos Sensacion Gourmet 2017 (Praia da Vagueira) ou o “São 7 na Eira” na Eira do Pato Ougado (Oiã), exposições em galeria com formatos inovadores, como seja os “15 minutos de fama” – 7ª edição na galeria EXTÉRIL (Porto, 2015), ou mesmo murais de rua (Santiago do Chile, 2019). De entre os diferentes exercícios expositivos, destaca-se a exposição individual “Ancient Revisited” na Biblioteca Municipal de Vagos, que passou a integrar, com a aquisição de uma das esculturas, a coleção pública da Câmara Municipal de Vagos, actualmente em exibição permanente ao público no átrio da Biblioteca.