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Saboroso mergulho nos vinhos e na história
Porto se revela um destino com muito potencial de aguçar sentidos e propõe uma imersão etílica e gastronômica por dentro de suas antigas construções
ALGUMAS CIDADES EUROPEIAS são capazes de produzir uma pergunta que ressoa dentro de nós: “Devo me mudar para cá?”. Porto, na região costeira no noroeste de Portugal, é certamente uma delas. Conhecida por suas grandiosas pontes, pelas casas de construção histórica às margens do rio Douro – como o Cais da Ribeira do Porto – pelas caves de vinho do Porto, mas também por um contraste interessantíssimo de uma vida jovem e noturna que ocupa suas ruas, a cidade cativa pela atmosfera singular, gastronomia saborosa e diversão para todos os gostos.
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Com sapatos confortáveis e pernas alongadas para enfrentar as ladeiras do município – que, junto a seus satélites, compreende um dos mais populosos do país europeu, com quase um milhão e meio de habitantes – o roteiro que mais encanta é aquele despretensioso, capaz de nos levar para dentro de pequenas vitrines e desaguar no sabor produzido por mordidas nada contidas. É pelos pastéis de nata, então, que começo a escrever sobre esse destino.
Inúmeros cafés e restaurantes do Porto oferecem o tradicional doce português, mas a busca pela massa levemente crocante e creme de gemas tem parada certa na Confeitaria do Bolhão, em frente ao Mercado do Bolhão. A confeitaria foi fundada em 1896 e está localizada em uma das principais ruas da cidade, a Formosa – no centro histórico. Por ali, encontra-se também uma oferta muito rica de mini queijos curados, que vale experimentar em geração, conquistou espaço cativo nas pausas diárias dos portuenses.
Já a Nata Lisboa possui filiais em outras cidades portuguesas e europeias e, no Porto, se situa na conhecida Rua das Flores – pode ser, inclusive, um ponto de descanso na tradicional travessa – que é um dos pontos turísticos mais conhecidos da cidade. Na rua, a Mercearia das Flores chama a atenção por seus deliciosos queijos, e a elegante Ourivesaria Alliança reserva duas salas de chá nos pisos térreos e a loja fica no terceiro piso com um ambiente com estilo vintage, ideal para um mergulho em joias.
E por falar em lembranças especiais, outra loja rica em história – como muitos locais deste tesouro de Portugal – é a Claus Porto, ainda na Rua das Flores. Durante mais de 133 anos e quatro gerações, o lugar desenvolveu a tradição de produzir sabonetes, perfumes, velas, difusores e produtos para barbear, sob uma filosofia de autenticidade e respeito pelo colorido portfólio de rótulos desenhados à mão, cada um com uma personalidade única. O local dispõe os itens no primeiro andar e, subindo as escadas, fica um pequeno museu da marca, com embalagens antigas e retratos com a cronologia dos fundadores.
Há ainda a Livraria Lello, na rua das Carmelitas. Com fachada neogótica, uma icônica escadaria vermelha, o emblemático vitral e as estantes repletas de livros das mais diversas épocas e em diferentes idiomas, o edifício atrai milhares de visitantes do mundo todo. A livraria preserva a arquitetura original e convida importantes escritores e acadêmicos para palestras e lançamentos. Para entrar, é necessário enfrentar uma pequena fila e comprar um ingresso para visitação pelo valor de 5 euros, que pode ser adquirido com antecedência no site (www.livrarialello.pt/).
At Altas Horas
A poucos metros da Rua das Carmelitas, a Rua das Galerias de Paris reúne muitos restaurantes, bares e baladas. São muitas as opções, como um bar que já foi também uma livraria. A Casa do Livro herdou o nome da antiga livraria e manteve os livros como elemento central da decoração. A escolha musical é muito eclética e por vezes há pequenos shows por ali.
É notável que não apenas os doces saborosos fazem o gosto de quem vive no Porto. A coquetelaria da cidade toma conta de diferentes lugares e agrada públicos bastante diversificados. Um exemplo é o Royal Club Porto, na Rua da Fábrica, talvez a opção mais sofisticada e charmosa. Lugar ideal para aqueles que buscam qualidade no copo, o ambiente conta com um enorme balcão e garante um ar genuíno de speakeasy. No menu de drinques, destaque para o Lady D – a base de tequila e infusão de laranja –, e ao Renovatio, com rum e vinho da Madeira.
Se a vontade for beber um bom whisky e até fumar charutos, o Eddie’s Klub oferece uma prateleiras com 100 referências da bebida, entre escoceses, irlandeses, estadunidenses e japoneses. Mas, se o desejo for pedir um drinque e dançar, o bar Torto traz DJs (músicas brasileiras sempre tem sua vez!) para animar o público. Além da música, o lugar se propõe a exaltar a arte e traz quadros e grafites em suas paredes.
Para virar as taças e se alimentar bem, o japonês Takkotai, na simpática Rua (ladeira) do Comércio, prepara deliciosos sashimis de polvo trufado e de vieiras, e um especial nigiri de atum, além da inusitada costelinha servida em uma cama de purê de abóbora japonesa e vegetais. Para bebericar, folheie a vasta carta de vinhos e espumantes.
Relaxamento E Descoberta Entre Caves
É necessário descansar, mesmo que as ruas do Porto demorem a ficar vazias. Uma alternativa interessante à hospedagem é Vila Nova de Gaia – do outro lado do Douro. A região é o centro da indústria do vinho do Porto no país e suas ruelas transmitem sossego na maior parte do dia.
Deste lado do rio, a maior e mais completa atração é, certamente, o complexo WOW (World Of Wine) – um quarteirão cultural com sete museus, seis restaurantes e uma escola de vinho na Rua do Choupelo, praticamente às margens do Douro, e junto às caves Taylor's e ao hotel The Yeatman. Tudo ali respira vinho!
Para não apenas inalar, mas de fato beber interessantes rótulos, o restaurante T&C apresenta garrafas e pratos genuinamente portugueses e, arrisco dizer, oferece uma das melhores francesinhas que se pode comer na região. A iguaria tradicional é uma espécie de sanduíche feito com dois pães de forma, recheado com bife bovino, linguiça, salsicha fresca, fiambre (uma espécie de presunto) e queijo, e coberto pelo famoso molho quente e um pouco picante à base de tomate, cerveja preta e vinho do Porto.
Entre os museus, o Wine Experience propõe uma contextualização geral, de forma bastante tecnológica e interativa, pelo mundo do vinho. São várias as salas que explicam o que distingue as diferentes castas, como se processa o desenvolvimento da uva e como nascem os diferentes tipos de vinho. Ao final do passeio, tem degustação!
À direita, balcão do The Royal Cocktail Club e, abaixo, fachada e escadaria da livraria Lello
Já o pequeno The Bridge Collection é imperdível. O lugar revela uma paixão pessoal do colecionador inglês Adrian Bridge, em uma coleção de copos, taças e outros recipientes históricos, sendo que os mais antigos remontam ao ano 7.000 a.C. São cerca de 200 peças, que foram propriedade de imperadores, magnatas, papas e príncipes. É uma imersão profunda na história mundial, contada através do ritual da bebida.
E essa mesma influência inglesa tão presente no norte de Portugal se percebe no hotel The Yeatman – nome de uma distinta família ligada ao vinho do Porto. Detentor de duas estrelas Michelin, o hotel traz produtores de vinhos portugueses para dentro – são eles que nomeiam os quartos e estão presentes na especial garrafeira (grande adega) do local, que abriga uma incomparável seleção de vinho do Porto Vintage e vinho do Porto envelhecido em madeira, das mais notáveis casas e quintas.
Entre as caves e em frente ao hotel, o mergulho vínico por uvas portuguesas com selos ingleses está, ainda, na casa Taylor's – uma das mais antigas casas de vinho do Porto, datada de 1692, que se dedica exclusivamente à produção desse tipo de vinho. Por ali, a visita inclui um tour audioguiado pela história da marca e a prova de uma série de vinhos, incluindo uma seleção do Porto Tawny e do clássico vinho do Porto Vintage Taylor’s. Entre goles, mordidas e garfadas, prepare os sentidos e mergulhe nos sabores portuenses!
Rua do Choupelo, 4400-088
Vila Nova de Gaia, Portugal Diárias: A partir de R$ 1522.