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Hora livre

texto Luiz Toledo yestoledo@gmail.com arte André Hellmeister andre@collages.com.br

O Outro

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Eu já tinha recusado em outras oportunidades, mas desta vez, por alguma razão que desconheço, aceitei. Bruxas jovens têm esse poder. Aceitei o lugar do Assento Preferencial que ela ocupava no Metrô e me sentei. Sentei e fiquei velho. Simples assim, em segundos fiquei velho. Essa coisa que a gente envelhece é conversa mole. A dura realidade é que a gente fica velho de repente, de uma hora para outra. Pode ser fazendo a barba, tomando banho, lendo um livro ou voltando para casa de Metrô. A sensação é estranha, porque é desconhecida. Você sente uma espécie de apunhalada nas costas, mas a lâmina é de luz. Não dói. Sente também um tiro de grosso calibre de tempo e de gente no peito. Dói um pouco. Mas tudo é muito rápido. Ficar velho é igual nascer: de repente, a gente nasce. E a vida continua. Enquanto o trem cortava as entranhas da cidade em alta velocidade, observo um senhor na janela escura à minha frente. Ele também está me observando. Somos muito parecidos. Reconheço os seus óculos, os meus são iguaizinhos. Sorrio ao pensar que foi para ele que a bruxa ofereceu o seu lugar. Ele também sorri – acho que temos o mesmo senso de humor. Ele repete todos os meus gestos. Eu vejo nele o que sou. Ele deve ver em mim o que eu imagino ou imaginava ser. Rimos juntos de piadas diferentes. Ao chegar à estação, levantamos ao mesmo tempo, como dois velhos amigos que vão se abraçar. Mas só um desceu do trem. O outro seguiu viagem.

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