Uma breve historia de um profissional de sucesso

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3ª Edição Dezembro de 2009


Marcelo Augusto Prado Sant’Anna

UMA BREVE HISTÓRIA DE UM PROFISSIONAL DE SUCESSO!

Marcelo Sant’Anna Caçapava – SP 2009-07-01


Uma breve hist贸ria de um profissional de sucesso!

Digitally signed by Marcelo DN: cn=Marcelo, c=US, o=4B Reason: Eu sou o autor dessa obra. Location: Ca莽apava Date: 2009.12.20 16:52:14 -02'00'

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Uma breve hist贸ria de um profissional de sucesso!

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Sumário

Prefácio do Autor .................................................................... 7 Dos 7 aos 10 anos – 1974 a 1977 ............................................ 9 Dos 11 aos 14 anos – 1978 a 1981 ........................................ 14 Dos 15 aos 17 anos – 1982 a 1984 ........................................ 20 Aos 18 anos – 1985 ............................................................... 25 Dos 19 aos 23 anos – 1986 a 1990 ........................................ 28 Dos 23 aos 26 anos – 1990 a 1993 ........................................ 35 Aos 27 anos – 1994 ............................................................... 41 Dos 27 aos 31 anos – 1995 a 1998 ........................................ 45 Dos 31 aos 33 anos – 1998 a 1999 ........................................ 50 Dos 33 aos 35 anos – 1999 a 2002 ........................................ 54 Dos 35 aos 36 anos – 2002 a 2003 ........................................ 59 Dos 36 aos 38 anos – 2003 a 2005 ........................................ 63 Dos 38 aos 42 anos – 2005 a 2009 ........................................ 68 Sucesso finalmente!............................................................... 71 Triângulo do Sucesso da 4B .............................................. 72

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Prefácio do Autor

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esde muito jovens, as pessoas são direcionadas para o sucesso, principalmente os integrantes das classes C, B e A de nossa sociedade. Aprendemos sempre que o importante é ter dinheiro e fama, mesmo que o reconhecimento seja menor. Ganhar dinheiro na verdade é extremamente fácil, gastar o que se ganha é que requer inteligência. E essa também é fundamental para uma boa vida, cheia de prazeres e lucros. Os lucros hoje, principalmente dos investimentos em mercados financeiros são enormes, tanto os positivos quanto os negativos. Esse último é exatamente a causa primeira das crises mundiais. Tudo em nossa vida é passado, até mesmo o que enxergamos, por isso, viver o máximo do presente é fundamental para o real sucesso. As oportunidades batem à sua porta a todo tempo, e muitas vezes sequer olhamos para elas. Mude seu foco, pense em ter sucesso e você terá! Esqueça se alguma coisa ruim acontece no momento ou aconteceu no passado. Viver agora é o importante e planejar seu futuro é fundamental. Espero que possam de alguma forma, perceber os nuances do desenvolvimento profissional de um executivo de sucesso! Marcelo Sant’Anna

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Dos 7 aos 10 anos – 1974 a 1977

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os sete anos eu ainda era um analfabeto, ao contrário de meus filhos que, aos cinco de idade, já praticamente liam e escreviam. Mas pelos idos de 1974 penso que isso era normal, pelo menos entre meus amigos de primeira série primária, se bem que me lembro que alguns tinham um desenvolvimento bem melhor que o meu. Provavelmente por terem freqüentado o jardim de infância, coisa que eu detestava. Odiava comer as merendas e dormir após as brincadeiras era um tormento, pois sempre urinava quando dormia. Talvez por isso eu tenha fugido tantas vezes de lá que meus pais simplesmente desistiram e deixaram para mais tarde meu início nos estudos. Sempre fui muito falante o que talvez justifique minha tendência a ser palestrante nos dias de hoje, o que também gerou alguns problemas disciplinares quando criança. Minha mãe era também alfabetizadora, como minha tia, e se orgulhava de ter seu filho a estudar em um colégio estadual, coisa que à época era sinal de ensino de qualidade. Lamentavelmente eu tinha que freqüentar um colégio diferente de onde ela lecionava, o que me deixava constrangido, pois ser filho de professora era motivo de vantagens para alguns colegas, menos para mim e muitos de meus aliados amiguinhos. Tia Leda foi minha professora e sempre elogiava minha letra, que garanto ainda continua bem legível, mas normalmente reclamava da quantidade de palavras por segundo que eu pronunciava durante as aulas. O garoto com certeza seria de alguma profissão que usava bem as palavras,

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como professor mesmo, advogado, pedagogo, vendedor entre outras tantas, mas a escolha foi um pouco diferente, vocês verão. Na segunda série, tive como professora tia Lourdes que da mesma forma elogiava minha caligrafia e se preocupava com minha locução desvairada, mais um sinal de que o profissional do futuro teria muito sucesso. Além do mais, minha capacidade de resolver meus problemas só, era impressionante. Algumas vezes bem resolvidos, outras nem tanto. Mamãe tentou fazer lições de casa comigo por duas ou três vezes nesse período, e as respostas prepotentes sempre foram: “não é dessa forma que tia Lourdes ensina!” Pronto! Estava criado o monstrinho que de tudo saberia alguma coisa e que jamais aceitaria ser recriminado pela forma de fazer as tarefas, mas apenas pelos resultados. Os pobres viventes com esse pequeno gênio, em sua percepção obviamente, sofreriam com isso para os restos de suas vidas. Saía de casa sem avisar ninguém para recolher doações para o Sanatorinhos, e deixava todos em polvorosa. E assim foi a vida da EEPG1 Lindolpho Machado em Caçapava, cidade do interior de São Paulo cuja única coisa que evoluiu foi o atraso. Fiz muitos amigos, fiéis até hoje, durante esses quatro anos de primário. Os que ainda encontro, são pessoas de sucesso e têm suas vidas equilibradas e felizes, como deveria ser com todos os alunos das escolas estaduais daquele tempo delicioso e saudoso. Sempre íamos para a escola com a perua do seu Liquito, que carregava um amontoado de crianças, muito mais que a 1

EEPG – Escola Estadual de Primeiro Grau

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capacidade do automóvel, sem cintos de segurança, sem air-bags e com portas que amassavam os dedos das pobres crianças distraídas durante a entrada ou saída. Ele estaria preso hoje pelo estatuto da criança e do adolescente, e seu ganha-pão provavelmente estaria em um pátio do departamento de trânsito, interditado. Mas isso se estende para o carro de meus pais também, dormíamos durante as viagens noturnas totalmente amontoados e os cintos ficavam embaixo dos bancos, para desobstruírem nossos assentos. Impressionante como ainda estamos vivos após todos esses criminosos disparates de segurança. Além disso, na merenda, comíamos em pratos e com talheres de alumínio, bebíamos em canecas do mesmo metal, que eram lavados em bacias também estampadas com palhas de aço, nada inoxidáveis, e com água da torneira. Apesar disso, me lembro apenas da catapora que peguei aos oito anos. Nada comia, mas mantinha uma saúde de ferro. Corria o tempo todo, tanto em casa quanto na escola. Jogava futebol com pedaço de tijolo, retirado nem me lembro de onde, que às vezes retirava um belo pedaço de nosso dedão do pé. Jogávamos bolinhas de gude no pátio todo de terra do colégio, onde fazíamos as birés 2 com os calcanhares mesmo. Passava as manhãs e noites totalmente perdido pela Vila Militar, ou no campinho jogando futebol ou no clube do Círculo Militar, atormentando o seu Hamilton e algumas vezes furtando alguns refrigerantes e salgados com meu quase inseparável amigo Claudinho. Quase até que tentei dar

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Buracos na terra, alguns chamam de casas.

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uma de canibal e comer parte de sua perna, cicatriz que até hoje ele leva consigo de lembrança. Foi mal! Assistimos a Copa do Mundo de 1974, da Alemanha, em uma TV colorida colocada no salão do Círculo. Todos da vila reunidos para o tão sonhado tetra-campeonato, que só viria muitos anos depois da era Pelé. Durante as noites, na segurança de uma área até então respeitada por todos, onde meu pai era Tenente, tínhamos serestas, íamos às casas dos amiguinhos para atormentar as mães, corríamos pelas ruas, comprávamos chiclete no bar da Vila São João. Vi chegar os primeiros telefones com DDD à cidade, onde roubávamos os fios coloridos dos cabos para fazer pulseiras e tentar vender para alguém, e essa foi minha primeira experiência como profissional de vendas: um verdadeiro fracasso. E eu também fingia que o telefone de minha casa funcionava para os amigos, só que ele apenas foi ativado dois meses depois de sua instalação. Tive minha primeira briga com meu pai, pois fui roubado de suas moedas colecionadas aos longos de muitos anos e fiquei amedrontado de apontar os culpados, assumindo que eu tinha trocado por balas. Hoje essas moedas pertencem a meu filho, pelo menos as que sobraram. Ser falante em nada me ajudou, talvez pela timidez que era enorme e para a qual nada solucionava, tanto quanto me fazer comer alguma coisa que prestasse. Sempre estava metido em alguma encrenca, mesmo que pequena, e até mesmo conheci meu primeiro amor, uma flor de laranjeira, mas carioca. Já viu né? Caipira só se dá mal nessas situações! Quebrava alguns

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vidros do hotel de trânsito de vez em quando, até que fui proibido de freqüentar a rua do famigerado. Até que alguns amigos colocaram fogo no matagal, perto da casa do general e eu fui imediatamente acusado, sem julgamento. Foi a primeira vez que minha mãe saiu furiosa em minha defesa com os militares, já que eu nem estava na cidade. Meu pai, Ten. Dyno, como subalterno totalmente dedicado ficou calado, apenas a concordar com a Dona Anita. Isso deixava claro para eles que jamais eu poderia ser um homem da caserna de sucesso, ao menos que me colocassem imediatamente como coronel ou coisas do tipo. Simplesmente impossível! Foram anos de muito aprendizado e de muitos amigos que jamais esqueço, apesar do poucos contatos com eles, mas sempre que nos encontramos, recordamos esses momentos tão alegres de nossas vidas. Alguns permanecem freqüentes em minha maturidade, mas alguns até faleceram, o que muito lamento pela tão breve passagem nesse mundo e de tão pouco conhecer de seus legados.

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Dos 11 aos 14 anos – 1978 a 1981

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os onze anos tive minha primeira experiência fora de meu reinado. Fui estudar na cidade vizinha de São José dos Campos no colégio dos ricos e bem aventurados. O Instituto São José! Colégio preparado para formar os melhores alunos do Vale do Paraíba, orgulho para todos os pais uma vez que o ensino público começava a declinar. Muitos de meus amigos do primário estavam no mesmo barco, mas eu acordava muito cedo e isso me deixava meio irritado. Além disso, estudar de manhã me fazia perder quase todos os desenhos animados que eu gostava de ver na TV. Viajávamos de ônibus fretado, com um tanto de gente da quinta a oitava série, além dos já no colegial. Eram umas delícias as badernas que fazíamos durante as viagens e realmente era a única coisa boa que guardo dessa época. Foi lá que primeiramente tive contato com o voleibol, e isso me ajudou bastante, apesar de eu sempre me achar melhor do que realmente era. Nunca mais retornei ao instituto só para me manter puro de pensamento. Nem fui tão mal assim nessa segunda metade do primeiro grau, mas estudar inglês e francês era simplesmente insuportável. Que futuro eu teria se falasse uma língua que eu nem entendia caramba? Lembro-me de ganhar até mesmo um dicionário de expressões idiomáticas de um tio, e outro de sinônimos. Os dois em inglês! Eles queriam que eu repetisse o ano para perder a pompa de gênio, com certeza! Eu nem de longe percebia o esforço financeiro de meus pais para me manter nesse jardim da fantasia dos estudiosos.

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Minha irmã mais velha já estava na faculdade e apenas minha irmã do meio ainda estudava em colégio estadual, muito pela escolha dela, mas eles jamais teriam fundos suficientes para três pagantes em escolas particulares. Quando passei de ano ganhei até uma bicicleta, enquanto minha irmã do meio ganhava uma moto de cinqüenta cilindradas, “cinquentinha”, provavelmente para suprir os gastos com meus estudos. Minha BMX custou quatro mil cruzeiros, e eu a vendi, um ou dois anos mais tarde por fantásticos setecentos cruzeiros. Segundo fracasso como profissional de vendas. Parece que as preces de minhas professoras, de eu ser um vendedor de sucesso, só se concretizariam com um milagre. Imagine com uma inflação de setenta por cento ao mês o quanto os quatro mil reais valiam dois anos depois. Pura genialidade! Três anos de colégio de freiras, dos onze aos treze anos, muito me ensinaram. Jamais mostre a língua para a madre superiora, principalmente se ela for a irmã Zélia, guardem bem esse nome, ou diga à irmã Margarida, de ensino religioso, que cristandade é uma grande bobagem ou passe a mão na menina mais bonita do colégio chamada Ana Lia, mesmo que seja no cabelo ou ainda, tente beijar a sobrinha do prefeito da cidade. Isso pode gerar grandes problemas para seus pais e idas freqüentes à sala da diretoria, para tomar muita bronca. Sorte que madres e irmãs deixam os palavrões apenas em pensamentos. Como é muito claro perceber, muitos profissionais de sucesso começaram suas vidas de negócios aos onze, doze anos de idade, alguns até já tinham feito fortuna aos dezoito. Eu nem de longe

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sonhava em ser outra coisa além de Astrofísico. Meu pai começou a trabalhar aos doze e até tentava me pagar alguma coisa para ajudá-lo a engraxar os sapatos e botinas do Exército. Totalmente sem sucesso! Ganhar dinheiro era uma coisa muito sem importância e apenas me lembrava que ele existia quando estava de férias na casa de alguns tios, com meus primos, pois eles pediam e juntavam tanta grana que eu pensava ter que ser igual. Até pedia para meu tio trocar as notas grandes por trocados, de forma a ter um bolo maior de notas para preencher o enorme grampo de metal que ele comprou para mim. Lembrome de um natal onde as meninas da casa, as sobrinhas, ganharam mil e quinhentos cruzeiros, embrulhados em pacotes de sutiãs e os meninos apena mil cruzeiros. Revoltei-me profundamente com isso e jamais me esqueço de Tio Dalton, completar com um cheque a diferença. Aliás, querer ser Físico foi influência direta desse meu tio. Esse de verdade um gênio, arquiteto, engenheiro civil, músico, inventor, poliglota entre outras coisas. Criou até mesmo o que hoje conhecemos como computador de bolso, em um tempo que nem computador pessoal existia, mas para ajudar surdos mudos. Perdeu a patente por falta de tecnologia no Brasil para a construção de um protótipo. Trabalhava como arquiteto no instituto de previdência de São Paulo, onde vistoriava obras financiadas pelo governo do estado e foi dele também a influência pela minha falta de intimidade com o dinheiro. Por devorar livros sobre ciências, principalmente física, enciclopédias, livros de história entre outras coisas, passei a falar menos, principalmente em família. À exceção de quando estava com papai, tio Dalton e o tio Ewaldo.

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Era para mim de impressionar a falta de conhecimento dos outros sobre os assuntos que gostava de falar e escutar. Como eu jamais escutava os outros, sendo já o pequeno dono da verdade, passaram a me ver como um pouco diferente, da mesma forma que minha irmã Rita, a mais velha. Ela mesma, estudante de psicologia, fez alguns testes de QI comigo e deixou-me tranqüilo. Eu era anormal, mas muito longe de genial. Começava o estreitamento das profissões de sucesso que eu poderia galgar no futuro e começa o drama de querer ser físico a todo custo. Passei ileso pelo Instituto São José. Minhas crenças permaneciam as mesmas apesar de ter pais totalmente católicos, um tio mais ou menos qualquer coisa entre católico e gnóstico e outro tio, totalmente ateu. Nossos encontros eram uma delícia e eu ficava estupefato com as discussões políticas, religiosas e futebolísticas dos três, exatamente as três coisas que nunca se discutem. Santíssima trindade! Passei a adorar filosofia, argumentações, divagações e algumas loucuras. Tinha uma teoria sobre a origem do universo e das coisas e sempre tentava, em vão, entrar para um grupo de astrônomos amadores de minha cidade. Eles tinham discussões ótimas sobre os assuntos que adorava, mas jamais fui aceito, apesar de ainda ser colega de todos eles. Passei a ganhar e comprar livros e mais livros sobre ciências e me aprofundar cada vez mais no conhecimento da filosofia. Estava traçado o caminho para o profissional de sucesso: físico, filósofo, professor ou advogado? Mas ainda faltavam anos para os vestibulares da universidade, e antes, eu teria que provar mais

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uma vez minha capacidade intelectual passando no que chamavam de vestibulinho, para entrar ou na ESPCEX3, ou EPCAR4 ou ainda a ETEP5, para somente depois pensar em minha profissão para o resto de minha vida. Dureza para um garoto de treze anos estudar para esses testes, ainda mais que meus conhecimentos e minhas vontades de aprender nada tinham a ver com as matérias do ginasial, tampouco do colegial. De qualquer forma, consegui algumas provas anteriores e fui me preparar para as escolas militares, que eu nem de longe queria ingressar. Lembro-me de ter sido o penúltimo colocado! Entre os classificados? Triste sonho. Fui penúltimo mesmo... Caía mais uma vez por terra o sonho de ser um general genial. Ter passado no vestibular do colégio de caserna seria o maior orgulho para meus pais, principalmente para o velho Dyno, que via cada dia mais seu filho intransigente e dono de seus pensamentos e atitudes, muitas equivocadas obviamente. Mas nem tudo estava perdido. Fiquei na turma de reforço da Everardo Passos, também em São José dos Campos, um semi internato de pré-engenheiros mecânicos ou eletricistas, onde se passa todo o dia entre aulas, laboratórios, educação física e aulas de fortalecimento de conhecimentos esquecidos durante o colégio. Apesar de meus hercúleos esforços para cair fora da ETEP, fui obrigado por meus pais a ingressar na escola, pois era motivo de orgulho um filho ter passado numa entidade dessa fama e ter praticamente garantido seu emprego depois de 3

ESPCEX – Escola Preparatória de Cadetes do Exército EPCAR – Escola Preparatório de Cadetes da Aeronáutica 5 ETEP – Escola Técnica Professor Everardo Passos 4

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formado, como um técnico. No meu caso, técnico em mecânica! Como ferramenteiro de uma GM, Ford ou Volkswagen, eu teria finalmente uma carreira profissional assegurada e ganharia muito dinheiro além de ter de aprender a obedecer a ordens, trabalhar em equipe e a acalmar meus ímpetos de cientista maluco.

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Dos 15 aos 17 anos – 1982 a 1984

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ara todos eu contava com orgulho meu ingresso na Escola Técnica Professor Everardo Passos, sem jamais comentar sobre as aulas de reforço obviamente. Isso feria demais minha consciência tranqüila de ser “quase” um gênio. Ganhei uma bicicleta nova que usava durante os períodos que conseguia ficar em Caçapava e podia treinar basquete e voleibol. Mas após o início real das aulas, começava o inferno novamente. Além de freqüentar as aulas regulares, ainda tinha que fazer as aulas de reforços que eram cassete, muito chatas mesmo. Os professores eram mal humorados de terem que tratar com alunos inferiores aos superdotados das outras turmas. Mamãe Anita me acordava às quatro horas da manhã e trazia leite quentinho na cama. Que dificuldade para levantar! Ela me levou à rodoviária para pegar o ônibus durante as primeiras semanas, mas depois, era a caminhada do dia. Durante o verão até que era gostoso, mas no inverno as coisas complicavam muito. Saia de casa e mal enxergava a esquina. Além do mais, a falta de grana complicava ainda mais para meus pais, minha irmã do meio também entrara na faculdade. Dessa forma, todas as coisas que usava para as aulas eram de algum ex-aluno, e isso me deixava constrangido. Minha régua T era de tamanho inferior a dos outros, meu compasso era de uma marca inferior e o preço da mensalidade eu considerava abusivo. Papai e mamãe deveriam dar essa grana para mim que eu faria coisas muito melhores, como comprar livros instrutivos para o que decidira ser anos

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antes. Certos dias da semana eu retornava depois das vinte horas para casa, e nada das delícias de bagunças dos ônibus fretados. Era ônibus de frota mesmo. Andar a pé de casa à rodoviária, rodoviária quase dois quilômetros para a escola, isso para deixar de usar o circular, que eu considerava muito pobre e impróprio, além de ser de péssima qualidade de conforto. Mostrava-se claro que dureza nunca seria meu forte. Eu gostava de pensar nas coisas, mas fazer era outro departamento. Adorava jogar voleibol e curtir esses novos amigos, que ainda conservo após tantos anos de ausência dos jogos. O esporte me ensinou muitas coisas, mas eu também passei a jogar melhor que muitos outros atletas, e dessa forma, substituí o gênio que deveria ser profissionalmente pelo que seria nas quadras. Planejei até mesmo ganhar dinheiro com isso, fazendo peneiras em times que tinham equipes quase amadoras, patrocinadas por grandes empresas e cujos jogos eram transmitidos pela televisão. Sucesso na certa! Só que parei de crescer. Meus incríveis um metro e oitenta e cinco centímetros, fantásticos para a época e aos quatorze anos, permaneceram os mesmos, até hoje. Um pouco menos agora. E como eu queria ser atacante, nada de levantador que era coisa de baixinhos, fiquei meio sem meios de prosseguir com o sonho, mas nutria-o todos os dias. Isso passou a me fazer displicente com os estudos e passei a ter dificuldades e, quando percebi que a vaca iria para o brejo, decidi deixar a ETEP. Meu mundo caiu! Meu pai ficou louco e pela primeira vez eu vi o Dyno pronto a me dar uma surra, após quatorze anos de vida! Anitinha chorou

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quase que uma semana inteira, mas por fim, sem muitas opções e certo que perderia o ano, consegui convencê-los a colocar-me de volta nos colégios estaduais de Caçapava, só que com uma condição: eu faria o colégio regular durante as manhãs e faria o técnico de mecânica à noite. Beleza pura, os treinos de voleibol sempre eram durante as tardes. Muito mais tranqüilo o ensino público. Nada de pressões estratosféricas por notas, nem a competição de ser melhor que seu colega de classe, que poderia tirar seu emprego na Embraer. A competição se mantinha dentro das quadras de vôlei, onde eu melhorava a cada treinamento e até já fazia parte do time da cidade. Jogos regionais à vista! No primeiro ano de competições oficiais, fora os jogos entre as escolas do município, já ficamos em quarto lugar nos JICS – Jogos de Inverno da Cidade Simpatia. Isso era impressionante para um grupo de moleques. Os jogos de inverno movimentavam praticamente toda a cidade durante o mês de julho de cada ano. Os ginásios lotavam para ver as oito equipes competir em cada uma das muitas modalidades esportivas como voleibol masculino e feminino, basquetebol, futebol de campo, futsal, atletismo, natação, malha, bocha entre outros. Muitos atletas destes dois últimos esportes tinham idade para ser meu avô. Eu prosseguia a melhorar meu desempenho e meu condicionamento físico, e passei a me achar importante para o time. Começava o período de sonhar com a genialidade novamente e isso traz muita prepotência para um garoto tão jovem. Nos jogos regionais desse ano, ficamos fora logo no primeiro turno da competição, mas só fazer parte de uma festa de todas as cidades vizinhas já era ótimo, além do mais, isso

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poderia trazer uma oportunidade com os olheiros dos times amadores, mas profissionais da capital e alguns mesmo do interior. No ano seguinte, um convite inesperado para integrar o time de veteranos para os jogos de inverno e abandonar os antigos colegas. Com certo peso na consciência, mas nem tanto, quis ser vencedor logo em meu segundo ano, e isso veio de fato. E para completar, ganhei medalha de jogador revelação. Ego no infinito obviamente! As notas iam bem no ginásio, nas duas escolas, eu era porta-bandeira durante os desfiles de sete de setembro, nada mais perfeito. Repara-se que nunca gostei muito de dureza e trabalho pesado, só no esporte mesmo. Minha irmã Rita chamava isso de economia de capacidade, eu queria pouco desperdiçar minha inteligência agora para sobrar mais para depois, e nisso eu era mestre. E assim foram por mais dois anos, até que novamente o estresse de um vestibular se aproximava. Eu precisava me preparar para os testes novamente e ingressar em uma faculdade que me desse um futuro garantido. Como estudava em dois períodos, pensei que seria uma moleza passar em pelo menos uma das minhas investidas. Dulcíssima ilusão! FUVEST para física na USP, USP São Carlos e UNICAMP, bomba... Fiquei entre os primeiros, dos desclassificados! Onde estava a minha genialidade? Com certeza se perdera entre a falta de comprometimento e a prepotência. Mas ainda restava uma esperança. Direito na UNITAU6! Cheguei atrasado ao segundo dia de provas devido a uma quebra do ônibus entre minha cidade e Taubaté, e como resultado: fora da faculdade! Como podia 6

UNITAU – Universidade de Taubaté

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ser? Esse intelectual perdera praticamente um ano de sua vida profissional. Um desastre! Eu e meus pais e meus familiares jamais suportaríamos outro fracasso como esse, afinal, eu era uma cara tão inteligente, saudável, amado e participante na sociedade, teria que ter sucesso além do esporte. Meu pai ainda insistiu para que eu tentasse a AMAN7, que refutei imediatamente. Eu nem conseguia ver-me subordinado a um cadete. Isso seria meu fim e com certeza eu passaria grande parte de meus dias preso, apesar dos militares valorizarem muito os atletas, e isso eu sairia em vantagem com relação aos outros calouros. Mas de qualquer forma, isso me arrepiava a alma, muito por ter convivido com militares a vida inteira de criança e grande parte da adolescência, que em meu caso foi “aborrecência” mesmo. Eu deveria me reforçar nos estudos, e focar nos vestibulares do próximo ano, pois esse estava totalmente perdido. Ingressaria em um cursinho em uma das cidades vizinhas, já que eram inexistentes em Caçapava, e como havia economizado para meus pais as mensalidades escolares de dois anos e meio da ETEP, eles talvez se convencessem do sucesso certo da empreitada. Após muito tempo, retorno para São José dos Campos para a preparação para os vestibulares. Muitos amigos da época de primário e ginásio juntos. Já mais velhos, fazíamos bagunça nos ônibus de linha mesmo e aprontávamos todas nas caminhadas entre as rodoviárias.

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AMAN – Academia Militar das Agulhas Negras

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Aos 18 anos – 1985

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elícia levantar de manhã e assistir aulas de cursinho. Mundo totalmente distinto do ambiente escolar, onde os professores sisudos e donos da verdade cospem seus conhecimentos e você que se vire para entendê-los. Tudo claríssimo! As apostilas bem feitas, com exercícios, tudo mastigadinho. “Estou novamente no paraíso, vai ser moleza passar no vestibular...” Os mestres pareciam conhecer tão profundamente as matérias, que eu me sentia contagiado e pasmo com tamanha inteligência. E logo eu que me achava genial queria ser como eles quando crescesse. Queria ser um professor de cursinho. Mas para isso, eu teria que ser primeiro físico caramba, senão jamais teria alguma chance. Só que o final do ano e os vestibulares ainda estavam longe e eu passava a maior parte de meu tempo em treinamentos de vôlei, agora em dois períodos. À tarde a auxiliar o técnico e a noite com o time da cidade. Isso em quase nada me atrapalhava os estudos, pois meu fascínio pela forma de ensinar dos profs. de cursinho, que eram chamados pelo nome próprio, me faziam entender tudo com muita facilidade, até o primeiro simulado. Nóssinhora!!! Fui muito mal e pensei: “você tem que se preparar de verdade, ou vai passar outra vergonha no final do ano”. Eu de namorada nova fazia alguns meses nem queria me imaginar saindo da mordomia em que vivia. Eu me preparava para mais um ano sossegado e, ao final dele, estaria ingressando em uma grande escola de física ou matemática, pois já haviam 25


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ampliados meus leques de opções. Só que no meio do ano, ingressei em Engenharia de Telecomunicações em Santa Rita do Sapucaí, no INATEL8. Lá conheci, durante o vestibular, pessoas amigas até hoje, tomamos o primeiro porre da faculdade juntos e comemoramos nossa aprovação. Pessoas de Caçapava já estudavam no instituto. Um deles amigo de infância na Vila Militar e outro bastante conhecido, que se tornaria meu cunhado anos depois, casando-se com minha irmã Cristiane. Mas eu queria ficar em minha cidade e continuar a jogar no time, continuar o cursinho e ir para a capital ou Campinas, jamais para Santa Rita nem sei de onde... Nesse momento de dúvidas o capitão Dyno deu o golpe de misericórdia: “Ou entra no Inatel ou vai trabalhar! Você escolhe?” Imediatamente fiz minhas malas e fui para a cidadezinha do sul de Minas Gerais para ser engenheiro. Ao chegar em agosto, faltavam vagas nas repúblicas e alguns calouros, eu no meio, tivemos que montar a nossa própria. Que dificuldade! Encontramos uma casa que nos cobrava muito caro para a época de aluguel, mil cruzados por mês. E isso preocupou todos os outros estudantes, pois poderia inflacionar o mercado imobiliário da cidade. Beleza! Nem bem chegados, nada sabendo fazer sozinhos e ainda mal vistos por toda a comunidade acadêmica. Que começo espetacular! Nós éramos sete calouros e totalmente diferentes um do outro. Dois caipiras de Caçapava, um mais nobre e experiente de São José dos Campos, dois baianos de Salvador, um mineiro de Pouso Alegre e outro de Cataguazes, um de São 8

Instituto Nacional de Telecomunicações

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Luiz do Maranhão e assim fizemos o nosso pardieiro. O duro foi aprender, além da convivência em grupo, ter responsabilidades. Minha cabeça permanecia com vontade de ficar em Kansaspava, mas meu ego me dizia que eu me sairia muito bem como engenheiro, nem me perguntem o porquê. O primeiro semestre foi bem tranqüilo e eu imediatamente procurei o time de vôlei da faculdade para continuar meus treinamentos. Além disso, jogava também com os nativos, como eram chamados os moradores de Santa Rita: nós estudantes, eles nativos! As aulas de período integral me lembravam a Everardo Passos, mas as dificuldades eram bem menores. Caminhava todo dia da república para a faculdade, e isso levava uns dez a quinze minutos, dependendo da preguiça do dia. Só os horários quebrados e morar com doze pessoas é que era meio estranho, além da comida obviamente. Acostumado a comer somente arroz, feijão, bife de filé mignon e batata frita, ter que enfrentar a comida da Dona Maria era outra experiência que eu deveria ter para crescer um pouco mais. Outra coisa bastante dura era enfrentar os ônibus de linha até chegar à cidade simpatia. No mínimo quatro horas de viagem quando vínhamos por Itajubá, ou muito mais de seis, quando “cortávamos” caminho por Paraisópolis. Nesse ano fiz a meu alistamento militar e tinha certeza da dispensa por estar em uma faculdade, fora de minha cidade de residência, mas de qualquer forma, a convocação viria somente no próximo ano e eu pouco me preocupei com isso. E a falta desse pensamento antecipado me gerou problemas

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Dos 19 aos 23 anos – 1986 a 1990

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pós o primeiro semestre concluído, consegui uma vaga na república Dinossaurus, dos outros taiadas e deixei a Gambiarra, dos calouros. Eles conseguiram outros estudantes e tudo ficou em paz, mas lembro que gerei um mal estar com minha saída, e também fiquei meio chateado, afinal de contas, era o segundo time que eu abandonava para ter mais facilidades de atingir meus objetivos em outro lugar. Só que mesmo antes de voltar, a lembrança e a surpresa! Eu fui convocado para servir no Regimento Ipiranga, o 6º Batalhão de Infantaria do Exército, onde meu pai servira com orgulho por mais de dezoito anos. Um desespero generalizado me bateu: “Perdi um ano pelo falta de foco nos estudos e agora mais um como “réco”, que falta de sorte!” Com muito jeito e da forma mais humilde que eu podia me expressar, fui solicitar ao amado papai, Capitão Dyno, que interferisse para minha dispensa, devido ao curso de engenharia. Só que eu sabia ter comido bola, pois deveria ter pensado nisso antes... A fúria do homem foi incontestável, ele odiou o pedido: “Onde já se viu pedir dispensa de servir ao seu país! Isso é um orgulho para qualquer cidadão brasileiro além de ser a melhor escola do mundo para tornar-se um homem. Que absurdo! Que cara eu tenho, eu que servi esse batalhão com todo meu amor pedir a dispensa de meu próprio filho?” Confesso que pela primeira vez na vida me arrependi de fazer um pedido a meu pai

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e decidi que enfrentaria a infantaria com a mesma postura e honestidade que ele. Qual foi minha surpresa quando recebi a notícia de minha dispensa por “ter sido enquadrado no excesso do contingente”, depois de freqüentar assiduamente o batalhão por quase duas semanas. Tudo estava acertado desde o princípio pelos amigos de caserna do capitão, que esconderam até o último instante os detalhes. Estava eu quite com meu país e com meus pais, por enquanto! Em Santa Rita sempre freqüentávamos o bar dos estudantes alguns dias da semana, onde encontrávamos iguais e nos divertíamos bastante, até que isso passou a virar rotina. As notas despencaram e passei a ter a necessidade de alguns exames finais, e isso prosseguiu no segundo semestre, após as férias de final de ano de 1985. Acabei por ficar em dependência em Cálculo Diferencial e Integral e resolvi essa pendência durante o segundo período a P29. Mas pelo menos o Xando (aquele que casou com minha irmã!) já tinha seu automóvel. Ele cursava a P4 e isso lhe deu direito a um presente de seu pai. Os nossos fins de semana, com retorno para nossa terrinha animavam a outra inteira de aulas, até que comecei a ter aulas aos sábados na P3! Isso foi realmente de matar. Algumas vezes, sábados até cinco horas da tarde, um crime com certeza. Mas novamente tudo em paz, mais uma dificuldade a ser superada. Meu amigo Binho 9

Cada semestre de aulas no Inatel é chamado de Período. P2 (segundo período)

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(aquele de infância), um semestre a minha frente, ficava alguns domingos em Santa Rita mesmo, estudando e acabou conhecendo muito mais a cidade que eu. As matérias já nem eram mais tanta novidade, mesmo assim, ainda tive várias dificuldades com exames finais devido à falta de foco nos estudos durante a semana e o anseio de retornar para casa todo sábado e domingo, para de novo enfrentar a estrada na segunda-feira. A vida na rep. Dino´s era bem mais regrada que na Gambiarra, o próprio nome explica (os moradores tinham milhões de anos). Sempre precisávamos fazer as compras um dia da semana, no meu caso às terças-feiras, coisa que nem de longe eu já fizera em minha vida. E pior que sempre tínhamos que ter uma carne, legumes e verduras e eu deveria escolher. Para quem nunca tinha visto uma peça de contrafilé, uma batata com casca, uma beterraba entre outras coisas, foi um excelente aprendizado. Apesar de mamãe Anita continuar a enviar meus leites de caixinha, meu achocolatado preferido além de bananas, aveias e mel para minhas vitaminas. Eu era um privilegiado mesmo! Encarei a primeira oportunidade realmente profissional de minha vida. O monitor de voleibol da faculdade se formaria nesse período e estaria vaga essa posição. Sopa no mel! Além de ser o “chefe” do time, eu treinaria as meninas e ainda ganharia metade da mensalidade da faculdade, dinheiro que dava para tomar um montão de cervejas no Buffonete10. Mas precisava fazer lobby se quisesse ter alguma chance, e passei a conversar 10

Bar dos estudantes. Os donos eram o Buffa e o Cotonete

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muita mais com os outros jogadores para descobrir os possíveis concorrentes à monitoria e também o professor, para saber como seria o processo seletivo. A descoberta foi maravilhosa. Ao final do semestre haveria uma prova para a escolha, pelo menos a confirmação, do novo monitor e qualquer um do time poderia participar. Minhas notas ainda eram meio capengas na P2, mas isso era requisito sem avaliação na escolha. Eu me empenhei ainda mais nos treinamentos e, como jogava todos os finais de semana em Caçapava e ainda fazia parte do time da cidade, provei tecnicamente que estava pronto, só faltava a parte teórica. Orgulhei-me em saber, após a prova que seria eu o novo monitor, com todos os méritos segundo os professores. Além de ser um excelente atleta (sorte que eles nem sabiam de minhas idas ao Buffa) fez uma prova nota 10, irrepreensível. Era tudo que eu precisava escutar. Dediquei-me durante a P3 (terceiro período) aos estudos, aos treinamentos dos times de vôlei masculino e feminino e ainda por cima melhorei consideravelmente minhas notas. Esse período passou totalmente sem sustos e fiquei de fora de todos os exames finais, passando em todas as matérias com média superior a 80 em 100 possíveis. Mudava meu foco para realmente me formar engenheiro, mas em nada mudava a minha prepotência. Na P4 consegui ainda a monitoria de Física, após também uma prova e passei a ter toda a mensalidade paga apenas com meu trabalho, mas a humildade continuava meio esquecida e acabei perdendo a de vôlei na P6, devido a ajuda que dei para os

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veteranos que precisavam de presença em Educação Física. Passei todo mundo, mas deixei os professores furiosos. Quase perdi a de Física também, o que ocorreu mais tarde na P8 devido a um teste prova de laboratório, onde todos os alunos foram muito mal e eu, com pena de reprovar tanta gente, revisei as notas de todos que eram de minha responsabilidade. O professor da matéria nem furioso ficou apenas manteve as notas e me despediu. Sem problemas pensei, eu já era oitenta por cento engenheiro e em breve estaria a ganhar uma grana muito maior. Pobre tolo! Nas férias de 1988, eu então na P7, fiz uma viagem para conhecer Macchu Picchu no Peru, passando pela Bolívia para conhecer Santa Cruz, Cochabamba, La Paz, Tiahuanaco, Puno, Cuzco entre outras. Tudo de trem e ônibus. Dias sem tomar banho, trem descarrilado, pernilongos, mosquitos, comidas esquisitas, gente estranha. Foram duas a três semanas de uma das aventuras mais bacanas de minha vida. Mochila nas costas e pouco dinheiro levaram, eu e um grande amigo, a caminho da cordilheira dos Andes. Nossa passagem pela cidade na divisa com o Peru, chamada Copacabana, as margens do lago Titicaca foi hilariante. Nós estávamos eu, que só falava português, Sérgio11 que falava português, espanhol (pois tinha nascido na Bolívia) e inglês (pois estudava na faculdade), um alemão chamado Andy, que falava apenas alemão mesmo e inglês, outro boliviano que apenas pronunciava-se em espanhol e francês e mais dois brasileiros na mesma situação que a minha. Quando 11

Ser poliglota como Sérgio eu chamo de ter “foco” na vida profissional!

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nos conhecemos, apenas meu amigo falava com o alemão em inglês e o boliviano em espanhol, mas após a terceira garrafa de Singani, todos nós conversávamos tranquilamente. E isso foi o grande toque que eu tive: precisava aprender línguas com urgência e fui aprender alemão já no Brasil. E foi um pouco através dessas aulas que conheci e conquistei a que veio a tornar-se minha primeira esposa alguns anos mais tarde. Obviamente, meus jogo de cintura e prepotência fizeram postergar o aprendizado de outras línguas para apenas depois de formado, mas a experiência de conhecer outras culturas, outros povos, outros lugares realmente me encantaram e eu retornei bem mais amadurecido. E graças aos meus pais e tios, que pagaram minha passagem de retorno, pois quando cheguei ao aeroporto de saída na Bolívia, nem dinheiro para a taxa de embarque eu tinha. Sorte que o pessoal da VASP viu o desespero estampado em meu rosto quando soube que essa tal cobrança existia. E essa foi a minha primeira experiência com avião! Tremenda bronca de meus pais pela irresponsabilidade de ficar sem um centavo para retornar, o que se tornaria uma coisa comum em minha vida. Passado a P8, comecei a pensar no estágio obrigatório que deveria fazer para concluir o curso de engenharia e, se possível, fazer uma graninha. Minha primeira tentativa de contato para tal foi com uma empresa alemã (obviamente, pois estudar alemão de alguma coisa me serviria lá), e onde descobri para minha surpresa que eles davam muito mais importância ao inglês, o

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que também se tornou uma coisa sem problemas para mim, já que durante meu teste de ingresso no estágio eu queimei um osciloscópio e perdi a vaga. Um quase engenheiro formado ligar um equipamento de 110 volts em 220 volts é simplesmente inaceitável. Mas isso nem abalou minha confiança, pois eu seria técnico por pouco tempo, em breve seria executivo e usaria paletó e gravata ao invés de botas de segurança e capacetes, pensava. Depois de quase seis meses de busca, consegui estagiar em uma empresa brasileira de lançamento de fibras ópticas em São Paulo, onde passava todas as madrugadas acordado, tomando chuva, entrando em caixas subterrâneas, exatamente de botas de segurança e capacete e pior, sem ganhar um centavo sequer. Um verdadeiro gênio do planejamento de carreira! Eu sequer pensava que em meses estaria em busca de emprego e nem sabia que ganharia em Cruzados Novos! Na verdade, quadriculados segundo um comentarista, pois eram cruzados duas vezes. Uma pelo nome e outra pelo governo que estampou os valores reais em cada uma das notas. Os mais novos que me acreditem, isso realmente aconteceu...

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Dos 23 aos 26 anos – 1990 a 1993

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olei grau em julho de 1990 e a festa de formatura estava marcada já para agosto, Jubileu de Prata do INATEL e pensei: “Agora vou descansar até a formatura, tirar umas pequenas férias e depois vou buscar uma colocação no mercado de trabalho!” Qual foi minha surpresa quando, assim que cheguei em Caçapava, tudo já havia sido armado para eu ir para Sampa buscar emprego. Impressionante como os pais querem tanto que a gente fique com eles quando estamos de saída para a faculdade, mas como querem que saiamos quando retornamos dela. Eles tinham toda a razão. Eu precisava fazer jus ao investimento feito por eles e jamais poderia descansar sem sequer ter labutado pelo menos por um ano em minha vida. Deixei os treinos de vôlei e fui correr atrás do prejuízo. Pesava então 86 kg. E lá fomos nós! Antigo chefe do ex-estagiário: “Estamos sem vaga no momento, você pode nos procurar daqui a alguns meses?” Com certeza meu período de quase contratado agradou pouco ao pessoal das fibras ópticas, mas vamos em frente. Currículo para cá, currículo para lá e, de repente, grande notícia. Xando, quase já cunhado e Binho estavam na mesma empresa japonesa, um em Guarulhos e outro em São Paulo, já estavam alocados na capital e iam de ônibus ou metrô ao emprego. Bão dimai da conta, diriam os mineiros. O meio parente levou o CV e fui eu para uma entrevista na empresa. Vaga: Engenheiro de Implantação Rádio. Excelente, pensei! Nem sabia o que 35


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significava, mas pelo menos era algo relacionado com a minha área, uma vez que a empresa era de telecomunicações e computação. Aceitei na hora e comecei a trabalhar na semana imediatamente seguinte à conversa. Primeiro dia, um pequenino susto. Logo que fui apresentado ao departamento, fizeram uma pequena explanação de como as coisas funcionavam por ali e alguém foi levar-me ao meu novo departamento. Aquilo tudo era enorme e estranho. Só havia um pequeno aquário, onde sentava o gerente geral do departamento e pensei, uai sô, cadê minha sala! Descubro então que trabalharei em um amontoado de mesas, postas lado a lado de dois em dois, com seu chefe direto e sua mesa, perpendiculares às outras mesas dos subalternos. Havia ali técnicos, desenhistas, engenheiros juniores, seniores e plenos. Eu era Jr I e ainda deveria passar pelo II, III e IV, ou seja, ficaria o resto de minha última fase de ex-estudante como engenheiro! “E usar terno e gravata, é desnecessário nesse lugar?” para a resposta imediata de um dos colegas: “Aqui você vai usar capacete e bota de segurança, além de cinto guia entre outras coisas de EPI”. Vixe Maria eu nasci para esse troço. Lá se foi, a camisa novinha que tinha comprado para começar, minha calça social, meu sapato lustrado, tudo isso ficaria guardado para o futuro. Uma semana depois, fui fazer a confraternização dos novos entrantes na fábrica. Mostram alguns vídeos, fizeram algumas palestras e uma tentativa de dinâmica em grupo, onde fui perguntado onde eu imaginava estar daqui a dez anos, que para gargalhada geral dos participantes, a resposta foi: “Quero ser presidente da empresa!” Fui até mesmo elogiado pela ousadia, mas a arrogância eu tenho minhas dúvidas! Fiz

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maravilhosos amigos nesse departamento, alguns que até considero irmãos, mas também alguns meio amigos e até mesmo desafetos. Permaneci por dois anos, até metade de 1992, viajando pelo Brasil e vistoriando, projetando e instalando sistemas rádio e satélite. Como viajava demais e tinha comprado meu primeiro carro, o Espada Justiceira I, voltei a morar em Caçapava para juntar mais dinheiro e poder casar. Passei a jogar Squash quase todas as noites e pesava então 88 kg. As raríssimas vezes que estava na fábrica, almoçava no refeitório especial de engenheiros, separado dos outros funcionários. Chique! Tinha um computador AT 386 novinho para usar e uma impressora matricial de última geração. Ainda me recordo até mesmo do primeiro dia que me deparei com um desses, cheguei a perguntar onde ligava. Eu apenas conhecia os CP200, CP500 e TK90X, de fantásticos 48 quilo bytes de memória. HD? Nunca ouvira falar! Aprendi alguma coisa de japonês e gostei da comida, menos de polvo cru. Progredi e recebi promoções de Jr para Pleno, que pensei fossem méritos, mas era política da empresa mesmo para animar os recém-chegados. Passei meu primeiro apuro, quando tive que participar de um treinamento, em importantíssimo cliente no Rio de Janeiro e deveria receber e tratar do instrutor, um hindu que só falava inglês e indiano. Lembrei-me imediatamente da falta que as aulas do Fisk em Caçapava, tantas vezes abandonadas, fariam naquelas duas semanas. Mas me saí super bem, todos no cliente falavam e se comunicavam com o professor e eu apenas olhava e dizia: “Ok! It is fine!” Frase aprendida durante a preparação da viagem desde Guarulhos.

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Trabalhava duro, honestamente e com muita rapidez, resolvi sempre os problemas da melhor maneira possível, mas como era de se esperar, solicitava pouco a opinião de meu superior. Fui taxado de “ingerenciável12”, rótulo que levei comigo até meus últimos dias nessa empresa e consegui, por conta disso e após um pequeno desentendimento com meu gerente, ser transferido para a matriz em São Paulo, para o departamento comercial e junto com a presidência e diretoria. Esta era minha chance! “Se conseguir ficar aqui dez anos, serei presidente com certeza” pensava. A transferência foi uma confusão danada, pois me avisaram em cima da hora, nada comentaram com meu chefe direto e, após muita choradeira, cheguei ao paraíso. Nem mesa eu tinha para sentar e me enfiaram em um lugar qualquer, também em um tremendo amontoado de mesas e cadeiras. Pelo menos o telefone era moderninho e eu possuía um ramal só para mim. Muito chique! Ao segundo dia encontro um senhor muito distinto, apesar de meio sério, na porta do elevador do subsolo, onde prepotente parei meu camelo, junto com o carro dos gerentes, afinal eu morava duas quadras do edifício, e todo dia chegava atrasado. Junto com outras quatro pessoas, entramos e apertei o número de meu novo lar, sétimo andar. Cumprimentei mui distintamente o senhor pela sua maravilhosa camisa de puro linho e sua gravata de seda, além de seu alinhadíssimo terno. Ele agradeceu, apertou o botão do décimo andar e um silêncio mortal pairou na pequena caixa que subia. Fiquei conhecido como amigo do presidente pelo resto de meus dias. Sorte que ele 12

Palavra criada por algum gênio dos meus ex-chefes.

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jamais se lembrou disso em nossos encontros futuros, pois meu constrangimento seria enorme, mas que gostei do apelido, a isso eu gostei! Mas para compensar, passei a ser, além de ingerenciável, louco! Ganhava para sobreviver em São Paulo, mas trabalhar num edifico de escritórios, todos de uma empresa era muito charmoso. Trabalhar de gravatinha, camisa social, calça de pregas, sapato engraxado. Muito bom! Praticava algum esporte de vez em quando. Entrei e saí de academias por umas doze vezes e pesava 94 kg. Mas percebi que a área comercial tinha uma diferença bem grande em relação ao clima de uma fábrica. A energia das pessoas era estonteante. Trabalhavam até tarde, saiam somente após o gerente, falavam com o Japão durante as noites e passei a adorar essa vida dentro, sem vida fora. Primeiro porque tinha pouco dinheiro, segundo que mal conseguia sair da empresa. Passei a me apresentar como Marcelo Sant’Anna da empresa tal! Ainda mais, as pessoas se preocupavam com o quanto os outros ganhavam. Quem estava a sair da empresa e quem chegava. Desconfiavam de tudo e de todos, mas eu tinha a sorte de trabalhar com ex-alunos da faculdade, e isso me tranqüilizava um pouco, mas era incrível como quem melhor me considerava eram os que fizeram graduações em outras escolas. Em compensação, eu trabalhava no centro comercial, almoçava no shopping de terno e gravata, e ainda tinha meu próprio computador e acabara de comprar meu primeiro celular. Mas foi muito pouco de dias tranqüilos, pois nesse meio de tantos comentários, descobri o salário de alguns amigos superiores ao

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meu, e eles tinham muito menos tempo de empresa. Foi então que percebi que realmente havia méritos nas promoções, mas eu tinha mérito nenhum para mudar de faixa, sempre era promovido pelo tempo de casa dentro do mínimo referente ao cargo. Fiquei possesso e fui reclamar ao gerente, afinal de contas eu era um gênio, como poderia ganhar menos que um cara com menos tempo de casa? Resposta direta: “Ele merece mais que você na opinião do gerente dele! Na minha você merece isso ai mesmo que ganha...” Bem feito para mim, ficar a escutar a conversa dos outros. E a diferença nem era tão grande e o cara merecia mais mesmo. Sorte minha eu ter tido contato com algumas outras empresas durante a minha estadia na fábrica, e, durante uma debandada de muitos profissionais do Inatel para uma empresa americana que chegava ao Brasil, eu me aproveitei e aceitei um convite para ser Engenheiro de Exportações de uma empresa alemã. Essa sim era minha grande chance! A anterior era apenas ilusão de recémformado. Mas imagine, eu trabalharei com toda a América Latina, que honra! Que visibilidade! Caramba, e o espanhol? E o inglês, tão importante para as empresas alemãs? Que falta de planejamento, me amaldiçoei. Mas fui aprender na marra, afinal de contas, ainda tinha umas duas semanas antes de minha saída do Japão para a Alemanha.

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Aos 27 anos – 1994

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pós intensos estudos e uma oferta para ganhar quase um quarto a mais que o salário anterior, ingressei em meu novo emprego. Saíra por livre e espontânea vontade, e recebi um recado bem claro desde o Japão: “Quem sai daqui jamais retorna...” E sai com essa que realmente fechou definitivamente a porta de retorno: “Se a empresa pensa assim, então aqui eu que jamais trabalharei novamente!” Alguém deve ter escutado! Mas sem problemas, começava tudo novo. Troquei de carro por um mais novo, o Espada Justiceira II. Pesava então 96 kg. Minhas avaliações pelos psicólogos nos testes de QI e MBTI foram excelentes e até mesmo ouvi comentários de pessoas ligadas ao RH que jamais alguém da empresa tinha ido tão bem. Ora pensei! Isso é óbvio, eu sou muito bom mesmo. Comprei meu primeiro Palm Top, usava terno e gravata, tinha uma caneta tinteiro Waterman, um celular P600 com tela de cristal líquido e um relógio EcoDrive, o kit babaca estava pronto, e só me faltava o carro luxuoso, que em breve compraria ou viria através de uma promoção na empresa. Eu me casei então com a flor de formosura de Santa Rita do Sapucaí e passamos a pensar as carreiras juntos. Ela também seria engenheira do Inatel em mais um ano e já trabalhava em uma empresa que tinha filial na capital. Em breve estaríamos a ganhar rodos de dinheiro, para comprar tudo que quiséssemos. Chefe novo, de costumes antigos, autoritários e comportamento pouco ético, eu diria. Só que começo tudo é maravilha, a gente

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fica se estudando e nem percebe que os funcionários estão infelizes. Móveis antigos. Pessoal de vendas sem automóvel. Sem comissões. Horas de trânsito para ir e voltar. Sem computador para o trabalho diário. Apenas um computador para todos os vendedores, e sem qualquer pacote de programas, lista de preços impressa e encadernada com espiral de plástico e pedidos de compra feitos todos à mão, com cópia em papel carbono. Voltava eu para a idade da pedra? E logo eu que até palmtop tinha, é mole?! Além do mais, a empresa havia sido comprada por um grupo francês. Pensei imediatamente: “Desde quando francês gosta de alemão?” Com certeza teríamos problemas em muito breve. Pior que ainda indiquei um amigo para trabalhar na mesma empresa e disse em claro e bom som que lá sim teríamos futuro. Futuro incerto obviamente! Mal sabíamos das maravilhas que tínhamos e perdemos quando deixamos os japas. Que belíssima avaliação eu fiz de minhas oportunidades, capacidades e da leitura delas que poderia ser feita pelos outros! Fiz algumas viagens e pouquíssimos resultados vieram, além de uma política de vendas totalmente estapafúrdia em relação a outras filiais da empresa em outros países, também compradas pela francesa. E os problemas vieram, só que antes dos problemas com as vendas, com meu próprio gerente. Discutimos coisas que discordávamos e eis que ele solicitou, após um ano, que eu me demitisse ou ele faria isso. Fiquei amedrontado. Como assim ser despedido? Isso vai manchar minha carteira de trabalho para sempre. Absurdo, vou agir antes! O gerente esperto conseguiu me enganar direitinho, e eu que me achava muito genial estava saindo com o rabo entre

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as pernas. Pior é que pouco tempo depois parece que algumas coisas foram descobertas sobre os comportamentos desse gerente e ele acabou tendo que sair também da empresa, coisa que deixou em seu lugar o cara muito bacana que havia me convidado para mudar de vida. Pelo menos durante esse ano, passei a falar fluentemente o inglês e o espanhol com as aulas praticamente diárias que tinha durante os primeiros três meses, e semanais após isso. E com as aulas continuei durante muitos anos, até ficar tranqüilo que conseguiria me virar em quaisquer situações pessoais e profissionais, e nas duas línguas. Só que para manter tinha que praticar diariamente, então passei a assistir aos filmes sem legenda ou dublados em uma delas para aprimorar cada vez mais o entendimento e passei a ler somente livros estrangeiros em sua língua original. Pesava eu então 100 kg, três dígitos. Minha jovem esposa estava por se formar na faculdade e eu a perder o emprego, que lindo e romântico isso. Mas de qualquer forma, nem concordávamos muito com minha transferência da empresa anterior para essa mesmo. E um dezembro tenebroso passou, com as graças de um casamento recém-começado e quase três meses sem emprego vieram. Mas eu estava confiante, pois tinha algumas propostas, que foram imediatamente rechaçadas pelos mais próximos. Aliás, quem assumiu meu lugar em uma delas hoje está milionário de verdade. O kit babaca desse cara inclui casas na praia e na montanha, e uns pequenos luxos mais. Só que, afinal de contas, eu era bom demais e deveria arrumar uma empresa que fosse grande, globalizada, sólida e garantisse o sustento de minha nova família, investindo minhas capacidades excepcionais de

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gênio e criando todas as oportunidades possíveis para meu enriquecimento pessoal e crescimento profissional. Incrível como pensamos bobagens quando mais jovens e só aprendemos quando é tarde! Mas somente vim a descobrir que empresa assim inexiste quando sai de meu terceiro emprego, que foi onde mais gostei de trabalhar até hoje e de onde eu tiro os maiores exemplos de profissionalismo desde que me formei engenheiro. Ah! E ainda tem o meu gerente anterior, aquele de hábitos duvidosos, que disse que eu traí a empresa “franlemã” para ir trabalhar na concorrente dela. Pior é que algumas pessoas, que realmente desconsidero, ainda acreditaram nele. Absurdo! Anos mais tarde nos encontramos, mas falarei disso mais adiante. Nutri por anos um desprezo imenso por essa pessoa, hoje tenho muita pena dela, apesar de estar, provavelmente, milionário...

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Dos 27 aos 31 anos – 1995 a 1998

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mpresa americana era outra coisa. Foco no cliente. Computador para todos. Planejamentos e orçamentos disso e daquilo, produtos excelentes e reconhecidos, fornecedora confiável de várias multinacionais globalizadas, chefes bacanas e conhecidos de longa data, essa sim era a minha empresa. Aqui sim eu teria a chance de desenvolver todo o meu potencial, seria um raio! Aprendia a cada dia com meu chefe direto e meu diretor, fazia treinamentos, exercitava o inglês e até mesmo o espanhol, tinha meu primeiro Lap Top (complemento do meu kit babaca) e celular da empresa. Continuava sem comissão ou bônus e sem automóvel (chamado de viatura por lá), mas até um aumento de salário eu tive para aceitar o convite. Só um probleminha! Duzentos quilômetros de ida e volta todos os dias da semana e um trânsito infernal principalmente no retorno para casa. Mas tudo valeria à pena! Já era mais reconhecido como profissional, conhecia bem a parte técnica e me aprofundava cada vez mais nos conceitos comerciais e negociais. Fazia todas as noites, durante dois anos, a especialização em marketing tão necessária para quem quer crescer na carreira. Viajei pela primeira vez aos Estados Unidos para uma reunião global de vendas, onde troquei meu palmtop por um muito mais moderno que até acessava a internet e com tela sensível ao toque. Impressionante aonde ia parar a tecnologia e eu estava no meio dos negócios dela. Cuidava de uma linha de produtos só minha e até vendia bem, apesar de

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muito menos do que eu queria. Depois passei a gerenciar algumas contas consideradas chaves para a empresa. Recebi outros aumentos e realmente progredia. O presidente, chefe de todos, e os outros diretores eram extremamente acessíveis a todos os funcionários, mesmo os de hierarquia inferior. Era realmente um lugar delicioso de se trabalhar. Participava como representante da empresa perante associações patronais, participava de feiras e convenções nacionais e internacionais, eu me achava o máximo. Falava quase todo dia ao telefone com a América (como se aqui fosse outro continente) e era requisitado a dar opiniões em alguns assuntos e até mesmo participava de algumas estratégias. Conhecia a todos desde o departamento de RH até a produção. Indiquei pessoas para serem contratadas, mas dessa com certeza de sucesso para elas e para mim mesmo. Até secretária nós tínhamos, e muito aprendia com as pessoas mais experientes na empresa. A cada dia eu estava mais confiante do meu trabalho e já planejava me preparar ainda mais para assumir novas posições, responsabilidades e cargos. Ano após ano a empresa se modernizava, veio o SAP, o instituto de competência em instalação para clientes e terceiros, catálogos eletrônicos, email remoto, controle de vendas e agendamentos. Cara de americano, tudo moderno e funcionava, ainda que muitas falhas ocorressem. Um exemplo de empresa, mas com uma clara certeza: enquanto os mais velhos continuassem na ativa, eu continuaria a ser um chefe de vendas. E na verdade, apesar de adorar as pessoas e a empresa em si, eu tinha projetado coisas no futuro, e esperava que dessa vez isso ocorresse mesmo. Meu casamento se estabilizou de certa forma,

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até que minha mulher perdeu o emprego na empresa filial, mas logo conseguiu outro em uma multinacional francesa, onde cresceu de forma meteórica, ou melhor, foguetórica, pois meteoro cai ao invés de subir. Passou a ganhar muito respeito interno dos chefes e pares e externo. Até mais dinheiro que eu ela ganhava e achávamos isso ótimo. Trocamos de carros e agora ambos tinham modelos mais novos, luxuosos e invejados. Que delícia! E eu pesava então 106 kg, quase saindo do dial de FM que vai de 88 a 108. Mudamos de apartamento, encontrávamos com amigos, fazíamos e participávamos de jantares de empresas. Íamos a feiras, convenções, painéis e apresentações em todos os lugares. E quantos mais reconhecimentos nós tínhamos, mais forte trabalhávamos para crescer profissionalmente e monetariamente. Ela tornou-se gerente e respondia diretamente ao diretor geral da unidade de negócios e tinha sua própria sala, chique mesmo. Eu continuava somente com minha mesa, mas isso pouco me incomodava já que tinha bastante espaço em nosso ambiente comercial. Na minha empresa somente três pessoas tinham salas, e todas estavam com as portas sempre abertas para receber quem fosse. Mas eu queria crescer mais, sempre mais. Apesar da vida confortável, precisava de mais posse para estar feliz. Isso sim era sinal de sucesso, apesar de que ser reconhecido pelos pares, chefes, colegas e concorrentes já era uma grande coisa. Comecei a fazer o trajeto de ida e volta cada vez mais rápido. A potência dos novos automóveis adquiridos pela família Sant’Anna permitiam isso e andava, algumas vezes, nos limites do próprio motor. Voa pela estrada na verdade, sempre querendo chegar e

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voltar cada vez mais rápido e investir esse tempo extra em coisas interessantes que sonhava anteriormente, como um MBA, estudar física, participar de grupos de network entre outras coisas, sempre visando o aprofundamento das relações profissionais. As oportunidades aumentaram em muito com a venda das autorizações da chamada banda B de telefonia celular, empresas que seriam criadas para competir com as concessionárias dos serviços celulares, e muitas usariam os produtos de nossa empresa o que alavancaria oportunidades de vendas espetaculares. Com certeza mais contas viriam para minha chefia e talvez eu pudesse estar mais bem fundamentado para meus futuros vôos, que podiam ser dentro ou fora de onde eu estava. Veio então a maravilhosa notícia da gravidez de meu primeiro filho e tudo ficou ainda melhor. Falávamos das mesmas coisas e tínhamos somente amigos em comum, inclusive nossos chefes. Descobri que era menino e decidi que seu nome seria Jota enquanto ainda namorávamos. Incrível, mas o apelido veio antes do nome e assim foi. Podia ser João, José, Joaquim, Juvenal, Juvêncio, pouco importava, apesar de minha preferência pelo primeiro que era o nome do meu avô e do avô do Jota também. Nasceria em 07 de fevereiro de 1998 com muito amor. E tudo nós preparamos para sua vinda. Somente quem tem sabe ao que me refiro agora. Os que pretendem ter filhos saberão um dia! Programei que compraria um carro novo de presente para a mamãe fresca.

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Foi então que decidi mudar! Agora pai, devia fazer com que meu filho se orgulhasse de mim, que me visse como um cara extremamente capaz, super herói, respeitado e elogiado por todos. Fui indicado para trabalhar na empresa de minha esposa, com um cargo de extrema importância, em minha visão obviamente para reportar-se diretamente ao vice-presidente e, muito melhor, para ganhar muito mais dinheiro. Sempre lembro que isso só me tiraria de onde estava somente se fosse realmente muito bom e com mais oportunidades. E nesse caso específico era! Além de ficar mais perto de casa e de poder ir e voltar com minha mulher. Ficaria bem mais próximo de meu serzinho mais amado. Mas nada poderia ser mais perfeito pensava só, até com um pouco de arrogância. Como poderia dar errado? Tudo se encaixa! Só que como diria Mané Garrincha, você combinou com os adversários todas essas jogadas? Oras bolas, claro que eu jamais faria isso uma vez que nem para meus chefes eu perguntava as coisas. Aliás, poucas vezes eu o fiz para meu pai. Tomei a decisão e pronto. Apesar das tentativas improdutivas de meus chefes tentarem me manter na America, eu decidi ir para a França e fosse o que Deus quisesse. Pedi minhas desculpas e toquei o carro para São Paulo novamente. Aliás, essas minhas idas e vindas já começavam e me enjoar. Instalou-se um pouco de temor na família, apesar de controlável. Mas o salário e as facilidades valiam a pena, além de que, havia uma oportunidade de carreira internacional para ambos. Era o que faltava para o salto definitivo para meu objetivo principal. Ser presidente de uma empresa!

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Dos 31 aos 33 anos – 1998 a 1999

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m fevereiro de 1998 deixei o certo pelo duvidoso e assumi todos os riscos, como sempre fiz. Eu apenas imaginava as conseqüências boas e nem sonhava com as ruins. E tudo foi realmente dentro da normalidade, mas o medo ainda permanecia de alguma coisa acontecer com a empresa e os dois perderem seus empregos, nunca por minha parte, já que eu era bom demais para ser demitido, e o único que ameaçara isso até aquele dia de minha vida tinha sido uma pessoa insignificante, e que ainda me enganara na ocasião. Nada poderia impedir nosso sucesso como casal de executivos. E assim foi... Passei a freqüentar as reuniões de diretoria com os gerentes de contas chaves, tinha acesso direto ao presidente e vice no Brasil e a todos os diretores de unidades de negócios. E ganhava mais que minha mulher novamente! Só que passamos a ter tantas coisas em comum em relação ao nosso ambiente de trabalho que saturamos definitivamente as relações com muitos dos antigos amigos, e novos vieram. Uns sábios, outros excêntricos, mas todos muito bons, só que totalmente desconhecidos antes de eu entrar naquela empresa, e isso pode ter gerado alguns constrangimentos, nunca em mim que sempre me achava acima disso, mas em outros. Eu queria ser diretor e minha mulher também e outro dilema surgiu. Será que a empresa permitiria isso? Já havia autorizado o trabalho em unidades de negócios separadas, só que um deles trabalhava com todas as unidades de negócios, que era meu caso. Agora

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começava a compreender por que tanto medo quando uma proposta que parecia perfeita em todos os aspectos gerou quando foi colocada. Eu pesava então 108 kg. Perdi meu pai, o capitão Dyno, nessa época, quando o Jota nem um ano tinha. Alguns meses se passaram e, apesar de poucas empresas terem se preparado para o tal, o setor de telecomunicações brasileiro seria privatizado em mais alguns meses. Isso caiu como uma bomba para os planos de muitas companhias e executivos. Trabalhávamos muito para tentar adivinhar o que aconteceria com o leilão das empresas do antigo sistema Telebrás. Fazíamos lobby, especulações, cálculos, reuniões com todos, reuniões a sós, três a três e assim até que concluímos como ficaria, supostamente, a nova composição das concessionárias de telecomunicações. Que eu me lembre, erramos todas sem exceção! Mas pelo menos as que compraram as concessões estavam dentro do portfólio de clientes, e isso geraria negócios com toda certeza num futuro próximo. E eu cuidava de um setor que tinha grandes oportunidades devido ao certo aumento do transporte de sinais de telecomunicações com a privatização, pois o número de telefones aumentaria consideravelmente, como ocorrera anteriormente, após a venda da banda B de telefonia celular. Meu relacionamento era muito bom com meus pares e chefes, apesar de achar que pouco de minha capacidade era usada pela empresa. Fiz relacionamentos com muitos clientes, mas poucos negócios foram concretizados, e isso passou a me incomodar profundamente. Das duas uma: ou me deram um mercado sem

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nenhum potencial ou sou incompetente mesmo? Novamente equivocado, pois nenhuma das duas estava correta. A verdade era que o mercado em que eu atuava retrairia um pouco mesmo com a privatização da Telebrás, e a empresa estava totalmente focada em atender a esse mercado especificamente, que é onde os grandes negócios seriam concretizados e sustentariam a empresa nos próximos anos. Passei então a me relacionar mais com alguns diretores das unidades de negócios para verificar se em alguma delas haveria interesse em meus potenciais clientes, mesmo que em projetos menores e a resposta foi positiva. Após essa aproximação e a saída de um dos diretores de marketing e vendas de uma dessas áreas, eu fui convidado para assumir seu lugar, e aceitei, com a autorização de meu chefe, diretor e presidência. Só que seria chamado de gerente ao invés de diretor. Caramba, o sonho de diretor escapava novamente, mas por quê? Decidi aceitar e verificar o que acontecia do mesmo jeito da época da monitoria de vôlei na faculdade. Tanta coisa bloqueava que fiquei até mesmo impressionado. Uma área com recônditos escondidos, relacionamentos secretos, círculos de amizade muito diferentes de círculos de hierarquia e comando, uma verdadeira loucura. Além de que, nesse clima e sem qualquer poder de decisão, fiz um horroroso trabalho final, em minha avaliação pessoal, e considero um grande fracasso. Poucos eu consegui convencer de minha capacidade e vontade de fazer as coisas se movimentarem melhor para todos, mas segurei para ver se algo se alterava nos meses seguintes. Acredito verdadeiramente que todos queriam que isso acontecesse, mas tudo permaneceu o mesmo. Uma empresa

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desse tamanho tem sérias dificuldades de alterar seu rumo, como se fosse um transatlântico fazendo curva, derrapar nem pensar. E veio outra notícia fantástica. A segunda mais maravilhosa e amada de minha vida, mas nunca em segundo lugar. Estava a caminho mais um bebê. Dessa vez, uma menina a quem eu queria chamar de Anninha. Eu sou Sant’Anna, minha mãe chama-se Anna e minha esposa se chamava anananananana, ou seja, poli anas. Ela deveria ter esse nome. Nasceu deslumbrante, pequenina como deveria ser e era esperada, e assim continua. Repito! Ter uma filha requer um sentimento que somente os que têm sabem. E os que terão também sentirão! Mas eu me encontrava meio depressivo com a situação profissional incerta, sem ser diretor e sem ter a credibilidade que achava necessária. E minha mulher também se encontrava em momento delicado de sua carreira. Nesses momentos mais difíceis é que temos a verdadeira noção de quem realmente nos respeita e quer bem. Vinha o primeiro milagre profissional! Após exatos dez anos formado engenheiro... Eu pesava então 110 kg.

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Dos 33 aos 35 anos – 1999 a 2002

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o ser convidado para participar a concorrer a uma vaga de diretor geral para a América Latina de uma empresa que atuava na área de telecomunicações, tecnologia da informação e banda larga, coisa que nem se comentava muito naquele tempo. Para termos uma idéia, ainda tentavam vender um produto chamado redes integradas de serviços integrados, RDSI que nem de longe caracterizam uma rede de múltiplos serviços. Um amigo se apresentou. Ele tinha sido altamente recomendado por outro conhecido, que cobria vagamente as qualificações e se apresentou. Explanado sobre os conhecimentos e experiências necessárias para necessidade do cliente, se posicionou da seguinte forma: “E realmente sou menos indicado para sua necessidade imediata, mas conheço uma pessoa que é. Quer o telefone dele?” E esse era eu! Impressionante a conspiração do universo em meu favor, tinha que ser dessa vez... E fui entusiasmado com a possibilidade de me tornar o diretor geral de uma empresa globalizada aqui na América do Sul. México estava fora, mas grande parte da Central ainda podia ser gerenciada. Aceitei sem pestanejar o convite, convencido de que desta vez estaria totalmente no topo dos executivos de sucesso. Deveria eu ter uma entrevista com meu novo chefe e me preparei para isso durante alguns dias. De repente, uma mulher aparece e se apresenta com a diretora mundial de marketing e vendas, para quem eu responderia diretamente em minha nova 54


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função. E eu que pensava falar inglês fluente tive uma surpresa! A mulher mal me entendia, e eu muito menos a ela. Dizia a mim mesmo, ela deve ser da Austrália, ou Nova Zelândia, mas ao contrário, era americana mesmo. Seu irmão general do pentágono. Seu chefe israelense. Cada subordinado a trabalhar em alguma parte do mundo remotamente. Pronto, acabo de encontrar uma empresa terrorista em pleno Brasil, que quer transformar nosso país em uma base de ataques contra todos os inimigos da America, que são os mesmos de Israel. Mas ela mostrava-se calma e serena. Loira de olhos cintilantes de tão azuis e com uma paciência para me entender fora do normal. Foi o segundo melhor chefe que já tive em toda minha existência como executivo de telecomunicações, e coincidência ou não, em uma empresa americana, de donos israelenses. Acertamos o salário, anual obviamente, pois mensal só no Brasil mesmo. Rita, minha irmã especialista nessas coisas chama isso de “total cash”. Incluído estavam um aumento substancioso em meu salário, automóvel e todos os benefícios imagináveis para um alto executivo, representante da empresa no país. “Que honra!” E assim foi fechado. A alegria na residência foi enorme pela desvinculação de laços empregatícios com a antiga empresa. Mas conseguir informar isso claramente ao chefe seria outro drama. Confirmada e recebida a proposta em papel, claro e legível, coisa incomum aqui em nosso país, fui ao meu diretor direto, pois tinha vários dentro da hierarquia matricial criada tão genialmente pelos acionistas e conselheiros da empresa. Apresentei meu pedido de

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demissão e pedi para que fosse demitido e pudesse receber meus benefícios de um funcionário CLT. Obviamente foi negado por diretrizes diretas da empresa, e que sei foram usadas somente para funcionários questionadores e “ingerenciáveis” como eu. Outros conseguiram isso sem o menor estresse. Os comentários que foram feitos com relação a essa nova empreitada vou omitir desse livro, muito por respeito ao recíproco recebido de meu exchefe, que até mesmo me presenteou com uma gravata no amigo secreto de final de ano. Dura coincidência, muito mais para mim que para ele podem acreditar! Eu pesava então 115 kg. Até então, minha experiência sempre fora com chefes, gerentes e diretores que ditavam todas as regras. Já na nova companhia as regras eram: faça! E se der errado, faça de novo! Novidade pura para um executivo que se achava o máximo e jamais tinha ouvido algo parecido com isso. Lembrei-me muito da outra empresa americana onde trabalhei que o diretor sempre dizia, bate depois deixa comigo! Isso sim eu considerava liderança... Poucos meses se passaram até que o governo autorizou o uso das redes de cabos de TV por assinatura a usarem os serviços da chamada banda larga. Trabalhava com isso desde a empresa anterior, e acreditava sem dúvidas, o que é redundante, que essa seria realmente a telecomunicação do futuro, com ainda creio. Todos os serviços possíveis chegando ao usuário final por um único meio. Multimídia! Isso era o futuro, múltiplos serviços sobre múltiplos meios, sem distinção. A verdadeira convergência de serviços e meios.

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Imediatamente comecei a alterar algumas coisas, comprei o meu carro funcional e passei a negociar com potenciais clientes e fornecedores. Grandes eram os dois lados e nós, aqui no Brasil, ainda uma empresa totalmente dependente de tudo que era imaginável da matriz. Mas se isso precisava mudar, eu era o responsável, e tinha a meu ver, todos os créditos necessários para isso. Comecei por associar a empresa a todas as entidades de classe relacionadas ao novo serviço, onde bati de frente, imediatamente, com duas das maiores interessadas no assunto. Falta de experiência? Certamente que menos que a vontade de ver o negócio realmente se expandir e consolidar meus sonhos de ser executivo de primeira linha. Pela ousadia ou mesmo estupidez, apenas o futuro dirá, três associações, totalmente e mutuamente excludentes, eram minhas áreas de atuação, além de um poderoso e único cliente até os primeiros meses de “presidência”, como eu chamava é claro! De qualquer jeito, era eu que pensava que mandava na estratégia, e isso foi muito importante. Passei a fazer o MBA, totalmente em inglês com especialização em marketing globalizado no Canadá, que acreditava me daria uma tremenda alavancada na carreira. Achava absurdas algumas alegações de todas as partes relacionadas ao desenvolvimento dos sistemas de banda larga. Uns diziam que feria a lei em vigência. Outros que o provedor de conteúdo deveria ser o comandante, e os opositores, que os donos das redes seriam os responsáveis, ou “dignotários” como eu os chamava. Lutei muito para o crescimento da empresa e desse mercado tão complicado e cheio de regras manipuladas no

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Brasil. Perdi quase todas elas. Até mesmo surpreendentes idéias, que nem sempre foram minhas, mas totalmente viáveis, causaram algum espanto até mesmo nos clientes, como por exemplo, dar o modem (modulador e demodulador de banda larga) sem custos para os usuários finais, o que se faz hoje amplamente. Outro era além do modem, a instalação dos serviços sem custos para experimentação. O concorrente direto do sistema usado em televisão por cabo venceu praticamente a guerra. A demora na ação criou uma ferrenha disputa pelas então privatizadas concessionárias de telefonia, que praticamente dominaram todas as possibilidades de expansão dos serviços. Méritos intelectuais aos diretores da antiga empresa francesa que diziam que eu sequer passava de um tolo. “Redes de TV por assinatura continuarão limitadas, pois isso é o desejo de grandes grupos de investidores no Brasil.” Diziam, e estavam totalmente corretos. Dois anos depois, após o sistema aberto de banda larga através de redes de televisão a cabo finalmente decolou no mundo. Após uma concordata e a perda de milhões na NASDAQ, minha empresa perdeu o sentido de existência no país e decidiu que eu seria um encargo a menos. De pleno acordo, retirei meu nome e fui buscar outra colocação! Eu pesava então 110 kg. Mais uma barreira a ser vencida nessa já atribulada vida profissional. Mas os problemas sempre aumentam...

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Dos 35 aos 36 anos – 2002 a 2003

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ecidi que criaria minha própria companhia empenhada na evolução das comunicações no Brasil ao invés de procurar outro emprego, o que tentei durante alguns meses sem sucesso. Mas sequer percebi que, sem um cargo, consideração e “amigos” influentes, isso seria uma tarefa praticamente falida de saída! Procurei um sócio, também desempregado, montei, contratei contador, aluguel imóvel e investi nesse sonho de ser empreendedor e empresário. Afinal, precisávamos de coisas novas no mercado e tudo estava muito lento para meu gosto. Em poucos meses perdi o sócio e ainda tive que pagar para ele o dinheiro que ele colocou no negócio para evitar problemas mais futuros. Perdi os amigos influentes. O cargo já nem tinha e consideração vinha apenas de poucos que ousavam desafiar as dificuldades de acreditar em uma cara que já fora chamado de ingerenciável e louco, além de impertinente pelos poderosos das associações contra as quais lutei. Mas continuei e conheci outras pessoas visionárias, com excelentes idéias e para as quais eu tinha muito a acrescentar, principalmente pelos meus conhecimentos de tecnologia. Passei a me dedicar em projetos de comunicações sem fio e na interatividade com a televisão, tanto digital quanto analógica. Isso parecia ser realmente o futuro e penso que estava correto, pois as tendências levam para esse caminho sem volta no momento. Só que o dinheiro passava a ficar cada vez mais curto, e eu tinha que decidir que rumo tomar na carreira profissional.

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Ou voltar e implorar por um novo emprego, ou arriscar tudo e seguir em frente com a visão e o sonho. Vocês já devem saber a resposta! Eu começava a pensar menos em dinheiro e passava a buscar a auto-realização de alguns sonhos. Passei a pensar e planejar melhor as coisas e a ficar mais calmo. Comecei a emagrecer e pesava então 100 kg. Meu casamento acabou, mas eu ainda morava em casa. Cuidava ao máximo de meus filhos, mas me perdia a tarde em devaneios sem fim sobre os milhões que faríamos com as novas idéias. Primeiro foi a consultoria sem resultado algum de expressão. Diziam que eu era muito jovem para ser consultor, e alguns até que eu era demasiadamente inovador para tal. E o MBA de nada me serviu. Respeito a todos! Mas ainda assim consegui algumas coisas que me ensinaram demasiadamente, convivendo com pessoas realmente lindas que influenciaram minha vida desde então. Um deles é meu guru até hoje e me ensinou que as perdas são realmente necessárias e que devemos nos preparar para elas. Perder meu pai e meu casamento, e ter que pensar em assumir o papel de vencedor a todos os custos foi que me influenciaram a tentar um vôo solo para ganhar mais dinheiro e amparar a todos. Mas a verdade é que essa perda foi muito mal trabalhada e acabou culminando em muitos outros problemas. Depois veio o sistema de interatividade com a TV, tanto analógica como digital. Esse sim um belo projeto, apesar de ainda muito inovador para o período. Ele ainda é totalmente atual e pouca coisa existe no mundo que se pareça com ele. Faz mais de doze anos que foi criado por um sócio e até hoje poucos

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testes foram feitos efetivamente, apesar da consistência dos resultados obtidos. Todos ainda hoje acreditam que a televisão digital é interativa por natureza, e isso é um engano, ou melhor, um engodo dos manipuladores governamentais para escolher entre sistemas de diversos países e regiões, o que seria mais adequado para nós brasileiros. Apesar do segredo da sensação de interação estar no formato criado para os programas televisivos, o funcionamento é extremamente simples e engloba todas as tecnologias hoje existentes de comunicação digital. E foi criada em 2002, quando ainda tínhamos menos de vinte milhões celulares, nem cinco milhões internautas e alguns milhares de usuários de sistemas de banda larga, via quaisquer meios. Outro fracasso contumaz de minha parte, pois convencer as pessoas da viabilidade, tanto técnica quanto financeira, era minha parte na sociedade. Por sorte muito grande, os parceiros antigos me perdoaram e continuam meus amigos até a presente data. Depois veio o sistema de vídeo para os celulares, usando uma tecnologia japonesa, desenvolvida em um laboratório independente. Chegamos até mesmo a testar o sistema em uma operadora de telefonia celular que surgia, quase sem retorno de resultados. Quem hoje tenta enviar uma mensagem MMS, ou ver um vídeo em seu celular, sabe que é praticamente um parto de quíntuplos! Esse sistema tornava as coisas bem mais simples, mas nossa capacidade de convencimento novamente nos abandonou. Hoje poderíamos estar a assistir muita coisa em nossos aparelhos celulares se tivéssemos melhorado nosso poder de relacionamento e lobby com as operadoras, Foi exatamente

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nesse momento que encontrei meu antigo gerente na empresa franlemã em cena. Obviamente que pelas circunstâncias anteriores de nossos desentendimentos, os resultados nem poderiam ser diferentes. Apesar de meu estágio muito mais focado em ter paz, desqualifiquei erroneamente o cidadão, e ele deve ter feito o mesmo comigo. De qualquer forma, a culpa pelo insucesso foi minha, e ninguém deve levar o peso disso... Aí veio a TV no PDV – Ponto de Venda, que hoje é amplamente utilizada, mas que jamais saiu de uma sociedade sem fins lucrativos entre alguns conhecidos que achavam conhecer muito bem o mercado. Nem saímos da planilha eletrônica com o plano de negócios e algumas apresentações eletrônicas.

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Dos 36 aos 38 anos – 2003 a 2005

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pós inúmeras tentativas em vários campos de atividade, até mesmo consultor de uma empresa de tintas em plena decadência eu tentei, cedi ao convite de assumir a direção geral de uma empresa no Rio de Janeiro. Afinal de contas, meu casamento já tinha ido para o espaço e eu nada mais tinha para prover para São Paulo. Empresa fantástica! Meu chefe direto era Astrofísico e o presidente um ex-astronauta da NASA. Fazia parte da indústria aeroespacial e se preparava para lançar um satélite para o Brasil. Foram muitos meses de negociações e vídeos conferências sem fim, mas tudo se acertou e em abril, fiz minhas malas. Pensei: “Agora sim estou em um lugar bacana, com pessoas visionárias. Tudo vai dar certo!” Como toda chegada de alguém estranho, ela foi meio conturbada no início, mas depois de perceberem que eu vinha somente para ajudar, as coisas ficaram mais fáceis. Morar em outra cidade era totalmente novo para mim, ainda mais se tratando de uma capital como a carioca. Foram dezoito anos de Caçapava, mais cinco e alguns quebrados de Santa Rita do Sapucaí, outros praticamente treze de São Paulo e agora, a cidade maravilhosa, que é mesmo, em todos os aspectos menos a violência, e quero, se Deus me permitir, ainda voltar e viver por lá alguns anos de minha velhice com saúde. Para minha surpresa, encontrei muitos antigos conhecidos, alguns até mesmo se tornaram amigos, nesse meu retorno às

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atividades voltadas para esse mercado. Sempre fui considerado meio em órbita por minhas idéias, assim, estava em casa novamente. Nessa indústria, tudo atrasa. Impressiona como os prazos e datas se alteram a cada semana sobre eventos quase futuros. Além do mais, eu estava em outro estágio de minha vida pessoal, longe de meus amados filhos e de meus familiares, o que me fazia meditar demasiadamente sobre a vida e sobre a necessidade de realmente ganhar muito dinheiro, logo eu, que em nada me preocupava com ele já fazia algum tempo. Mas continuei firme na tentativa de obter realizações pessoais que satisfizessem meus anseios de auto-realização. Fiz um treinamento chamado Leader Training através de dois padrinhos maravilhosos que considero amigos até hoje, e isso alterou ainda mais minha vida e me fez perceber o que realmente tinha importância para ela. Ainda entrei em algumas confusões durante minha estada no Rio, como diretor geral, mas eu resolvia todas elas com serenidade e calma, apesar de manter minha mente inovadora e visionária. Foram alguns meses de espera até o lançamento do foguete, mas durante esse tempo revi os conceitos do mercado, fiz alguns planejamentos, pensei em várias estratégias e partimos para algumas ações. Como era uma empresa globalizada, mas totalmente enxuta em todos os aspectos, pensei que tudo seria muito fácil, afinal de contas, conversava diretamente com quem decidia as coisas. Foi então que empresa também entrou em concordata. Segunda vez em menos de três anos que sou diretor geral de um negócio nessa situação. Sorte minha que todos os

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investidores estavam fora do país e tudo era resolvida na America, caso contrário, eu teria um grande dor de cabeça aqui. A única real dor que tive foi ter que resolver algumas coisas sobre uma propaganda veiculada em uma revista sobre o lançamento de nossos produtos no Brasil. O concorrente se irritou profundamente com algumas frases que coloquei e tivemos que nos defender na justiça, mas vi que o problema nem era com o presidente da rival, que também me pareceu bem sereno para solucionar as diferenças. Era com a pessoa de marketing! Eu já o conhecia de outras oportunidades e percebi claramente que eu fazia as mesmas coisas quando tinha a posição dele. Lembrei de como eu era arrogante e prepotente, além de dono da verdade e acabei logo com assunto. Ambos gastaram com advogados, investimento horas em vão em reuniões e ao telefone e ninguém ganhou coisa alguma. Todos perdem em uma briga. Mas esse pensamento competitivo do executivo só veio à tona em minha mente quando decidi realmente mudar. Que estranho é fazer sempre do seu adversário, seu inimigo. Isso são egoísmo e egocentrismo puro, mas é a realidade do mundo dos negócios. Eu dificilmente voltaria a me adaptar a esse tipo de comportamento novamente. Queria paz! Sorte que dentro da organização em que eu trabalhava os relacionamentos, com raríssimas exceções, era de cordialidade e colaboração, nada de luta. Só que como tudo na vida muda, nossa companhia também mudou logo que saiu da concordata. Em pouco tempo o antigo

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presidente estava aposentado, o novo presidente era um “animal” de vendas, os acionistas pressionavam demasiadamente por resultados, meu chefe físico foi substituído pelo diretor mundial de vendas, e este colocou uma gerente de vendas como minha nova chefe. Em pouquíssimos meses, passei de direto responsável pelas negociações com a presidência para um chefe de vendas, com cargo e salário de diretor geral. Totalmente insustentável. Foi então que joguei a toalha definitivamente para o mundo executivo. Passara a minha ânsia de resultados a qualquer custo, vendas, lucros, dinheiro, dinheiro e mais dinheiro. E aos 38 anos eu era um cara esgotado, triste, em depressão e pesava 90 kg. Descobri que estava diabético, justamente quando me preparava para doar meus rins para minha irmã Cristiane (aquela casada com o Xando). Passei a me tratar e a controlo como posso desde então. Mas sei que devagar ela vai destruir cada pedaço de meus rins, fígado e coração. Pouco me preocupo com ela, confesso! Sofri tantas vezes com o passado e planejei tantas vezes o futuro que me esqueci de viver o presente. E pensando exatamente nisso, concordei com a extinção do cargo de diretor geral para América Latina e decidi ser consultor novamente. Digo que concordei uma vez que nem tive como opinar sobre o caso, agora se eles me perguntassem, eu teria a mesma posição. Eu achava injusto com todos que trabalhavam lá, eu ganhar tanto para fazer tão pouco.

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Em janeiro de 2005 assinei minha demissão. Estranho você mandar você mesmo embora, mas foi o que aconteceu. Isso só me fortaleceu...

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Uma breve história de um profissional de sucesso!

Dos 38 aos 42 anos – 2005 a 2009

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inda mantive um apartamento no Rio por seis meses após minha saída, mas as contas começavam a apertar bastante e decidi retornar para o interior. Devido à posição geográfica em relação ao Rio de Janeiro, São Paulo, São José dos Campos, Guarulhos e sul de Minas Gerais, eu voltei para Caçapava. Uma fracassada investida, em negócios de varejo de celulares e clínica odontológica, quebraram definitivamente as contas, e eu precisava criar alguma coisa com urgência para sobreviver. Pensei em retornar à vida de executivo e fiz várias tentativas, com muitos amigos e alguns conhecidos, mas tudo em vão. Analisei uma empresa de relacionamento com clientes via Internet que até foi montada, mas meu sócio queria que ela fosse de cobrança. “Oras bolas” pensei, “Se eu detesto ser cobrado pelos outros, como passarei a fazer exatamente isso?” E ela ficou no passado! Mas com dívidas certamente. Assim, juntavam-se as dívidas das lojas de celulares, da clínica, da empresa de Internet e a coisa ficava a cada dia, mais feia. Entrei para trabalhar em uma grande empresa brasileira globalizada por alguns meses para tentar reiniciar minha carreira como empregado. Só que minha esposa teve um problema de saúde, graças ao universo já curado, e logo em seguida minha mamãe, que veio faleceu alguns meses depois. Perdas necessárias, mas bem dolorosas!

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“Consultoria!” imaginei. Após alguns contatos me tornei consultor terceirizado de conteúdo de uma empresa americana de treinamento e aconselhamento em atendimento e vendas para instituições financeiras. Esse sim foi aprendizado e até admiro e uso muito das ferramentas que aprendi com eles. Sempre é muito bom e agora foi decidido que eles precisam de mais clientes aqui no Brasil, e eu passei a buscar novas oportunidades. Sei que será um parto de quadrigêmeos, mas vamos em frente. A dificuldade de aceitar que sempre precisamos melhorar nosso atendimento e nossas vendas aos clientes, é impressionante no nosso país. Por exemplo, apesar de serem campeãs, junto com os bancos, de reclamações dos consumidores, as telefônicas se recusam a melhorar se atendimento, pois isso é responsabilidade dos terceirizados. Pense comigo, você terceiriza exatamente o que deveria ser o seu foco, a sua razão de existir. Isso me parece meio incorreto, senão imprudente! Acabei por perceber que isso acontece com todo tipo de comércio nas capitais e no interior. Raras são as empresas que realmente tratam seu cliente de uma forma que ele se torne fiel. A maioria trabalha somente o preço de seus produtos para ser atrativo, apesar das promoções serem dificílimas de compreender. Esse sim é o foco do que faço hoje! Atendimento e Vendas de verdade, com qualidade e reais benefícios para todos ao contrário de apenas cumprimento de metas comerciais e financeiras. Muitos dirão que vivo em outro mundo, como disseram no passado, mas pouco me importo. Permaneço a lutar para termos um mundo realmente mais justo.

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Uma breve história de um profissional de sucesso!

Passei a fazer treinamentos para ensinar aos futuros executivos como devem se comportar da maneira correta, como fazer seu planejamento de carreira, de que forma administrar seu tempo, ética e comprometimentos, a ter sucesso! Ainda hoje faço isso e é realmente o que me dá mais prazer. Ensinar os outros nos ensina muito! E se pretendemos ter resultados diferentes, precisamos fazer coisas diferentes. Eu talvez ainda seja diferente demais para ser aceito imediatamente como um consultor de empresas, mas de pessoas eu sou, e muito bom, mesmo que eu saiba que estou muito longe de ser o melhor. Mostrar aos outros que ninguém realmente inteligente cria conflitos é complicado, mas me esforço todos os dias para isso. Muito empresários, empreendedores, executivos e funcionários têm os mapas mentais totalmente fundamentados em coisas do passado, aprendidas pelos ancestrais do ser humano e perpetuadas pelas sociedades, mas esses mapas estão errados e novos precisam vir. Em breve eu terei seguidores sobre isso e estarei mais feliz. Procuro ao máximo acalmar os desempregados e aposentados. Existe vida inteligente fora das organizações. Sempre lembro que, em um mundo como o nosso, até fazer filantropia é complicado, pois muitos usam essa maravilha como trampolim político ou comercial. Passei a escrever mais sobre isso e o eco ainda é muito pequeno, mas crescerá. E eu sei por que é o correto! Todos nós somos feitos do mesmo e pouco importa o que seja. Somos iguais a tudo que existe.

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Sucesso finalmente!

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arece que, até agora, apenas falei das lamúrias de minha vida profissional e absolutamente nada sobre meu sucesso, correto? O problema é que muitos consideram milhões de dólares em contas bancárias, jantares com presidentes de empresas, reuniões em associações de classe, casas nas praias, casas nas montanhas, carros luxuosos, jóias raras e caras, roupas de grife internacional, acessórios de última geração como o verdadeiro demonstrativo de sucesso, só que estão errados! Sucesso é fazer algo, conforme o triângulo criado a seguir:

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Uma breve hist贸ria de um profissional de sucesso!

Tri芒ngulo do Sucesso da 4B

Fazer Sempre Mais Fazer Hoje Melhor que Ontem Fazer Todo DIA Fazer

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Cada passo que damos em nossas vidas é sucesso. Cada dia que acordamos é milagre. Cada sorriso que damos é lucro. Todas as outras coisas são apenas necessárias para alguns, mas nada importantes. Se eu considero que tive ou tenho realmente sucesso? Vou dizer para vocês: 

João Otávio Teles Sant’Anna, meu amado filho Jota, hoje com onze anos e Anna Marcela Teles Sant’Anna, meu amor lindo, hoje com oito anos, são crianças maravilhosas, inteligentes, bons alunos, excelentes amigos, caridosos, desconsideram preconceitos, são companheiros, respeitam os idosos, amam os avós (os vivos e os mortos) e muito disso aprenderam comigo. Sucesso? O amor que tenho e recebo de minhas irmãs, Rita e Cristiane, que continuamos unidos mesmo depois da perda de nossos pais, brigamos cada dia menos e nos ajudamos cada dia mais. Sucesso? O reconhecimento que recebo dos mais próximos de ser uma pessoa boa, com bons pensamentos, que só quero ajudar, com quem eles podem contar e para quem dôo todo o tempo necessário e amizade. Sucesso? O respeito e compreensão que recebo e que tenho com a mãe de meus filhos, Poliana e seu atual marido Alberto, segundo pai de meus filhos, e suas respectivas famílias. Sucesso?

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O amor que recebo e que nada pede em troca, e que retribuo da melhor maneira que consigo, de minha esposa Sandra, segunda mãe dos meus filhos e o respeito com meus outros dois filhos postiços Ricardo e Bruna. Sucesso? A amizade e amor que mantenho com muitos de meus ex-colegas, alguns deles a mais de 38 anos, além dos novos que faço a cada dia. Sucesso? As avaliações sempre positivas e caridosas que recebo de minhas palestras e treinamentos para jovens nas universidades e colégios. Sucesso? E o mais relevante: VOCÊ! Que leu esse livro até o final e ajudou, sem saber, muita gente com parte da renda arrecadada por ele.

S

ucesso?

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im, eu sou um profissional de SUCESSO! Até a próxima...

Jota, Sandra e Anninha no escritório em Caçapava 2009

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Sobre o Autor Marcelo Sant’Anna é engenheiro de telecomunicações e eletrônico, pelo Instituto Nacional de Telecomunicações INATEL, especialista em marketing pelo Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa - IPEP e tem MBA pela Business School São Paulo - BSP e Rotman School of Management da Universidade de Toronto - Canadá. Foi presidente da Loral Skynet do Brasil, presidente da Terayon do Brasil, diretor de marketing e vendas da Alcatel, gerente de vendas e exportações da Andrew e da RFS e gerente de projetos da NEC do Brasil. É consultor e fundador da 4B – Brain Builders for Business, professor dos cursos de extensão da FGV e do INATEL. Quaisquer comentários sobre esse texto serão muito bem vindos! livros@evolcomm.com. Caso o conhecimento aqui adquirido seja válido para sua vida pessoal e profissional, você pode pagar pelo livro o valor indicado através do link: http://www.evolcomm.com/Livros/default.shtml

Muito obrigado por seu tempo e atenção!

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