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O FEMINISMO OU OS FEMINISMOS: Uma leitura das produções teóricas Drª Edla Eggert

O SERVIÇO SOCIAL JUNTO AO FÓRUM DE MULHERES EM SÃO LEOPOLDO MS. Clair Ribeiro Ziebell Anemarie Kirsch Deutrich Magali Beatriz Strauss ano 1 - nº 2 - 2003 - ISSN 1679-0316

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS Reitor Aloysio Bohnen, SJ Vice-reitor Marcelo Fernandes de Aquino, SJ Centro de Ciências Humanas Diretor José Ivo Follmann, SJ Instituto Humanitas Unisinos Coordenador Inácio Neutzling, SJ

Cadernos IHU Ideias Ano 1 – Nº 2 – 2003 ISSN: 1679-0316 Editor Inácio Neutzling, SJ Conselho editorial Dárnis Corbellini Laurício Neumann Rosa Maria Serra Bavaresco Vera Regina Schmitz Responsável técnico Telmo Adams Editoração e impressão Gráfica da Unisinos

Universidade do Vale do Rio dos Sinos Instituto Humanitas Unisinos Av. Unisinos, 950, 93022-000 São Leopoldo RS Brasil Tel.: 51.35908223 – Fax: 51.35908467 www.unisinos.br/ihu

O FEMINISMO OU OS FEMINISMOS: Uma leitura das produções teóricas

Drª Edla Eggert1

A contribuição teórica das feministas é vasta, por isso não vou limitar a compreensão do feminismo a apenas um exemplo, mas sim trago a experiência de leituras que me surpreenderam com a sua multiplicidade de enfoques.

Sandra Duarte de Souza (1999) utiliza uma divisão histórica do feminismo, desdobrando o tema em feminismos: liberal, cultural, liberal contemporâneo, socialista e radical. Além destes, ela aponta uma tendência mundial, dentro de uma conjuntura mais atual, o ecofeminismo2.

1. Feminismo liberal

O feminismo liberal construiu sua luta por igualdade de direitos por intermédio dos movimentos da busca pelos direitos das mulheres no final do século XVIII e início do séc. XIX, em especial nos EUA e na Europa. A luta pelo sufrágio envolve mulheres como Olympe de Gouges, Mary Wollstonecraft, Juan Stuart MiII, Elizabeth Cady Stanton. A lógica dos seus argumentos era que as mulheres tinham tanta capacidade quanto os homens. E, por isso, deveriam ser incluídas no mundo dos homens, na realidade pública da compreensão da cidadania, possibilitando que as mulheres tivessem os mesmos direitos que os homens (Souza, 1999, p. 50).

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Professora do Centro de Ciências Humanas da Unisinos, mestre em Educação pela UFRGS e doutora em Teologia pela Escola Superior de Teologia, EST – São Leopoldo.

Cf. Sandra Duarte de SOUZA, Teo(a)logia, ética e espiritualidade ecoteminista: uma análise do discurso. 1999.

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Edla Eggert

2. Feminismo cultural

O feminismo cultural, por sua vez, procura mostrar que o ambiente vivido pela mulher era diferente e possuía conhecimentos que poderiam ser paradigmáticos na transformação social. As mulheres envolvidas com essa perspectiva cultural advogavam que as feministas liberais não tocavam em aspectos centrais da opressão das mulheres: a religião e o casamento. Segundo Souza (1999), Margareth Fuller é uma representante desse grupo. Ela escreveu Woman in the nineteenth century (1845).

Essa tendência colocou-a de tal forma preocupada em apontar as coisas boas que vinham da experiência das mulheres nos seus mundos privados, que chegou a exaltar as qualidades intuitivas em contraponto à racionalidade iluminista da época. Segundo Souza (1999), Fuller apreendeu a idéia romântica do crescimento orgânico do indivíduo, incentivando as mulheres a se autoconhecerem fazendo com que desenvolvessem ainda mais suas capacidades intuitivas. “Em Fuller, teremos a primeira sistematização da idéia de diferença da mulher e de como tal diferença apresenta-se como um trunfo para as mulheres provocarem mudanças sociais de fundo.”3 Outra mulher que se destacou nessa tendência foi Matilda Gage, que publicou, em 1893, a obra Woman, Church and State. Neste texto, ela aponta para a doutrina cristã como sendo a responsável pela construção social da qual a mulher era inferior ao homem. A dependência econômica da mulher seria o grande fator da subjugação feminina.

A exaltação das virtudes femininas, em especial o altruísmo, reforça nessa tendência a grande importância das mulheres na mudança de paradigmas.

3. Feminismo liberal contemporâneo

O feminismo liberal contemporâneo vai reaparecer somente na década de 1960 do século XX, quando são retomadas as agendas sobre os direitos das mulheres. E nesse contexto é que encontraremos as representantes do feminismo liberal contemporâneo em mulheres como Betty Friedan. Segundo Souza (1999), Friedan rediscute os papéis das instituições. Já na década de 1980, ela defenderá que a participação na esfera pública não garante os direitos das mulheres. Segundo Friedan, não basta querer se igualar ao homem negando características cul3

Ibidem, p. 54.

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turais femininas, e sim utilizá-Ias para uma outra forma de lidar com o mundo sociopolítico-econômico. Ou seja, de certa forma, as feministas liberais retomam o discurso das culturais e enfatizam o aspecto jurídico para o pleno progresso da mulher na sociedade.

4. Feminismo socialista

O feminismo socialista questiona o sistema social e advoga que este precisa ser transformado, pois existe uma profunda relação entre a opressão da mulher e a opressão econômica. Esta corrente se baseia na análise marxista explicando a subordinação da mulher a partir das relações sociais de classe e da estrutura familiar. Nesse contexto, o sexismo é visto como necessário para o bom funcionamento do capitalismo, que é sustentado pelo trabalho gratuito da mulher em casa. Para cada operário explorado existe uma mulher operária duplamente explorada, pelo trabalho que ela realiza em casa sem a participação do homem na maioria dos casos. Algumas socialistas fazem um debate bastante interessante sobre a originalidade do trabalho doméstico como não-alienante, já que as mulheres produzem nesses espaços e, ao produzirem, possibilitam relações subjetivas. Outras correntes divergem dessa visão, apontando justamente o contrário – que as mulheres não têm a possibilidade do trabalho coletivo e da visualização (reconhecimento) do produto de seu trabalho. A família será alvo de críticas e indicação para novas posturas. Nancy Hartsock (1983) e Mary O’Brien (1981) apontam para o rompimento da condição das mulheres por meio da consciência da opressão vivida de maneira comum entre todas.

5. Feminismo radical

Dentro desse quadro, o feminismo radical insiste na crítica ao patriarcalismo. Este feminismo propõe uma postura radical perante o casamento entendido como responsável pela manutenção da opressão feminina. Segundo Souza (1999), feministas como Shulamiht Firestone, Anne Koedt, Diane Crother argumentavam pelas políticas do ego, esclarecendo que a opressão psicológica era mais eficaz que a econômica. Para elas, mesmo se a opressão econômica desaparecesse, a opressão psicológica faria estragos irreparáveis no cotidiano da vida das mulheres.

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Para Firestone, segundo Souza, a idéia do amor romântico anestesia a ação política da mulher. O amor romântico mantém a mulher em função do homem. “Enquanto este se dedica à criação intelectual, a mulher se dedica a ele para que sua criação seja possível, pois ela se vê com uma extensão do mesmo.”4 Essa mesma autora apresenta uma teoria da “dialética da história cultural”, segundo a qual o estético está centrado na mulher e o tecnológico está centrado no homem. Para Firestone, os dois modelos devem fundir-se para buscar o ideal possível.

Outra mulher definida por Souza como sendo feminista radical é Mary Daly, que entende o feminismo radical como o" processo de tornar-se mulher por meio da descoberta e criação de um novo mundo, numa viagem ao ‘Outro mundo’ através dos guardiões dos portões do patriarcado". Esta viagem demandaria três etapas: a primeira é o processo de desmistificação do patriarcado; a segunda seria o assassinato da Deusa – o marco do estabelecimento do patriarcado; e a terceira etapa seria a criação de um novo mundo, um mundo feminino. Essa autora tem sido referência para o ecofeminismo.

6. Ecofeminismo

Rosa Maria Trapasso considera que o feminismo teve que evoluir em direção ao ecofeminismo na medida em que colocou em “evidência as vinculações de todas as formas de opressão e violência, desde a opressão no interior da família até a destruição do planeta”5.

Ivone Gebara escreveu um livro chamado Teologia Ecofeminista e concorda com a visão de Trapasso de que o ecofeminismo aponta para uma conexão das opressões. Não se pode generalizar essa posição em relação a todas as ecofeministas, mas, de acordo com Souza, o consenso diz que não é mais possível falar em dominação da mulher sem discutir a dominação da natureza.

Citando textualmente Sandra Souza: Esses indicadores nos chamam a atenção para um certo entendimento por parte das ecofeministas de que estaríamos diante de um novo momento do feminismo, momento este que não se pretende apenas mais como uma tendên-

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Firestone apud SOUZA. Teo(a)logia, ética e espiritualidade ecofeminista.

1999. p. 71.

Trapasso apud SOUZA. 1999, p. 75. Religiosa católica co-fundadora do Círculo de Feministas Talitha Cumi – Peru.

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cia feminista, mas como um novo marco para a reflexão fe minista. (. .. ) O ecofeminismo critica o racionalismo e o dualismo di Descartes, as teorias liberais do direito e o patriarcalismo Também critica o feminismo igua/itarista e humanista, pai este implicaria uma negação da feminilidade e da naturalidade em favor de um modelo de liberdade tipicamente, masculino.6

O termo ecofemismo foi usado pela primeira vez por Françoise d’Eaubonne, em 1974, quando fez a ligação direta entre, que Ruther e outras certificam mais tarde, ou seja: a opressão, das mulheres e a opressão da natureza.

Não possuímos a total dimensão do que decorre a partir disso. Existem muitas pesquisas e obras já publicadas e outra tantas em andamento. Karen Warren é uma filósofa norte-americana cana que insiste na tese de que “a teoria e a prática feminista devem incluir uma perspectiva ecológica; e que as soluções propostas para os problemas ecológicos devem incluir uma perspectiva feminista”7.

7. Algumas questões comuns

Desse quadro múltiplo, uma coisa é comum em todas a concepções teóricas feministas: a crítica à concepção de que ha possibilidade da universalização do Homem(sic), do conhecimento e da palavra tal como sendo uma verdade a ser seguida dada. Isso foi definido ideologicamente pelos teóricos com raízes marcadamente patriarcais. O movimento feminista vem denunciar que não há e nunca houve homens genéricos. O que existe, segundo Sandra Harding, é a classificação de homem mulher por intermédio do gênero. “Uma vez que se tenha disse vindo a idéia de um homem essencial e universal, também desaparece a idéia de sua companheira oculta. Temos uma infinidade de mulheres que vivem em intrincados complexos histórico de classe, raça e cultura.”8 Nos textos de Guacira Lopes Loro, visibilidade da mulher é apresentada pela autora como uma de rupturas feitas pelo movimento feminista na visualização

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Sandra Duarte de SOUZA. Teo(la)ogia, ética e espiritualidade ecofeminista.

1999, p. 77.

Ibidem. 1999, p. 78.

Sandra HARDING. A instabilidade das categorias analíticas na teoria feminista. p. 9.

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de trabalhos de pesquisa no espaço público. E, com isso, estabelece o caráter político do feminismo.

Objetividade e neutralidade, distanciamento e isenção, que haviam se constituído, convencionalmente, em condições indispensáveis para o fazer acadêmico, eram problematizados, subvertidos, transgredidos. Pesquisas passavam a lançar mão, cada vez com mais desembaraço, de lembranças e de histórias de vida; de fontes iconográficas, de registros pessoais, de diários, cartas e romances. Pesquisadoras escreviam na primeira pessoa. Assumia-se, com ousadia, que as questões eram interessadas, que elas tinham origem numa trajetória histórica específica, que construiu o lugar social das mulheres e que o estudo de tais questões tinha (e tem) pretensões de mudança.9

8. Por uma metodologia de pesquisa feminista

O feminismo vem com desejos de mudança, tanto na teoria microssociológica, como fundamenta Annette Triebel, quanto na teologia, educação e demais ciências. A contribuição das mulheres para a produção de palavras e saberes tem seu marco inicial mais coletivo a partir de 1960, segundo Descarries10. O compromisso de uma metodologia de pesquisa feminista é conseguir perceber na “outra” pesquisada uma cúmplice da descoberta de nós mesmas. Somos sujeitos capazes de transformar determinada realidade/pesquisa e nos transformarmos. A pesquisa feminista identifica propositalmente a relação sujeito-sujeito como sendo o elo diferencial das demais posturas neutralizantes na pesquisa.

Porque pesquisar é antes de tudo compreender a própria vida, seus sofrimentos e, através dessa pesquisa, questionar o porquê de tudo isso e criar condições para a transformação do cotidiano e do futuro. Reinventamos, assim, a pesquisa através daquilo que sempre nos foi apontado como característica feminina, de forma negativa - com os sentimentos, com o bate-papo entre as mulheres como forma de conhecimento de vida.11

O reconhecimento da importância da subjetividade de quem pesquisa em todos os momentos da investigação passa a ter visibilidade. Na metodologia da teologia feminista, a expe9 Guacira Lopes lORO. Gênero, sexualidade e educação, p. 19.

10 Francine DESCARRIES, A contribuição da mulher à produção de palavras e saberes.

11 Leila de Andrade Unhares BASTERD. Feminismo e pesquisa social, p. 23.

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riência é critério para que aconteça a consciência da exclusão, a busca pela própria tradição e o reconhecimento de tradições alternativas. O mesmo ocorre com a pesquisa nas ciências sociais, pois revela um recorte semelhante12. Segundo Maria Mies, “é preciso que as mulheres feministas integrem, deliberada e corajosamente, sua subjetividade feminina reprimida e inconsciente, sua própria experiência de opressão e discriminação, ao processo de pesquisa”13.

Referências bibliográficas

BASTERD, Leila de Andrade Unhares. Feminismo e pesquisa social: repensando a relação observadora-observada. (Polígrafo). 1992.

DEIFELT, Wanda.Teoría feminista y metodologia teológica. Revista Vida y Pensamiento. Costa Rica: Seminário Bíblico Latinoamericano, v.

14, n. 1, 1994.

HARDING, Sandra. A instabilidade das categorias analíticas na teoria feminista. Revista Estudos Feministas. Rio de Janeiro: CIEC/ECO/ UFRJ, v. 1, n.1, 1993.

LORO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação. Petrópolis: Vozes, 1997.

MIES, Maria. Por uma metodologia de pesquisa feminista (Polígrafo traduzido por Haide Jarschel). PPL, 1992.

SOUZA, Sandra Duarte de. Teo(a)logia, ética e espiritualidade ecofeminista: uma análise do discurso. (tese) São Bernardo do Campo: UNIMEP, 1999.

12 Wanda DEIFElT, Teoria feminista y metodologia teológica, p. 9-14.

13 Maria MIES, Por uma metodologia de pesquisa feminista, p. 4.

O SERVIÇO SOCIAL JUNTO AO FÓRUM DE MULHERES EM SÃO LEOPOLDO

Ms. Clair Ribeiro Ziebel1 Anemarie Kirsch Deutrich e Magali Beatriz Strauss2

1. Situando a inserção doServiço Social

Na atuação do Serviço Social junto a mulheres em São Leopoldo percebemos a desigualdade social, política, econômica e cultural vivenciada pelas mulheres, que se manifesta de forma imediata pela ausência elou ineficácia das políticas sociais públicas, o que nos remete à reflexão sobre a desigualdade no conjunto da sociedade brasileira. Somos uma das dez primeiras economias do mundo, mas em desenvolvimento humano já ocupamos melhores lugares. Pelo IDH (índice de Desenvolvimento Humano), que leva em conta os indicadores de saúde, educação e renda, somos, pela reclassificação da ONU, o 79º entre os 174 países pesquisados. Nosso índice caiu de alto desenvolvimento para médio em 1999. Ostentamos o titulo de país com pior distribuição de renda do planeta3. É uma desigualdade que tem raízes na história das relações sociais de dominação e exploração de classe e que resulta das contradições sociais próprias do modo de produção capitalista e de suas peculiaridades na sociedade brasileira (atraso e subordinação).

Nesse sentido, o serviço social aponta para a questão social como objeto. que, além da dominação e exploração de classe, tem como agravantes as discriminações, dominação e exploração de gênero, raça e etnia. As mulheres, enquanto sujeitos individuais e coletivos, atuam e refletem sobre essa realidade, objeti-

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Assistente Social, Coordenadora do Serviço Social – Extensão à Comunidade: Assessoria a Movimentos de Mulheres e Organizações Comunitárias e prolessora do Centro de Ciências Humanas da Unisinos.

Acadêmicas do Curso de Serviço Social – Unisinos.

Fonte: Jornal Folha de São Paulo. 11/07/99.

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Clair Ziebel; Anemarie Kirsch e Magali Strauss

vando a defesa dos direitos e, em alguns casos, o direito a ter direitos. Como cidadãs vão decodificando a realidade e encaminhando propostas articuladas na perspectiva da cidadania.

Buscamos reconstruir o objeto de investigação-ação do Serviço Social, tentando apreender as realidades locais em que se movem as mulheres em São Leopoldo como parte da totalidade social, econômica, política e cultural, que remete à sociedade brasileira numa visão de conjunto, enfocando as contradições do capitalismo monopolista4 e as desigualdades de gênero.

Em São Leopoldo, a realidade social na ótica das mulheres é negadora da cidadania e tem se constituído em desafios do cotidiano para a atuação profissional do serviço social, que tem como objetivo atual: a assessoria, na perspectiva dos movimentos sociais populares, almejando contribuir na construção de um projeto ético-político profissional sintonizado com a utopia de um projeto societário sem exploração/dominação de classe, gênero e etnia.5 Como profissão, apostamos nos movimentos sociais e, particularmente, nos movimentos de mulheres, por acreditar na construção de uma nova cidadania, que, segundo Evelina Dagnino (1994), é nova por ultrapassar a visão liberal de cidadania.

Para a autora, o novo conceito implica “estratégia política”, entendendo-a como construção histórica, devendo o seu conteúdo e significado serem buscados nos conflitos de determinado contexto histórico, dependendo sempre da luta política. É uma compreensão ampliada de cidadania, que ultrapassa a conquista formal e legal dos direitos, constituindo-se numa proposta de sociabilidade, construída de baixo para cima, sendo uma estratégia dos não-cidadãos, dos excluídos. Concordamos com a autora também quando ela diz que essa ampliação do conceito implica, igualmente, uma reforma intelectual e moral e, portanto, construção de nova hegemonia.

Para construir nova hegemonia, há que apostar na força da sociedade civil organizada (Gramsci), buscando a constituição de um novo bloco histórico.

Conforme Faleiros(1996), os sujeitos com quem o Serviço Social historicamente tem atuado está mudando.

Em São Leopoldo, temos o prazer de ter acompanhado muitas mudanças no fazer das mulheres na defesa dos direitos sociais e acreditamos ter contribuído de alguma forma para

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Sobre Capital Monopolista e Serviço Social, vide NEnO, José Paulo. São Paulo: Cortez,1992.

Serviço Social – Extensão à Comunidade, Planejamento 2000/2003, p. 3 e 17.

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isso.6 O movimento vem crescendo de baixo para cima, ou seja, a partir da organização dos grupos da periferia, que, buscando apoio em organizações sociais e outros movimentos populares, construiu uma estratégia de atuação que tem a defesa das políticas sociais públicas como principal alvo. Em nosso caso, “os sujeitos” de que falamos são mulheres, em sua maioria pertencentes às classes subalternas, que buscaram no Vale do Rio dos Sinos superar a exclusão vivida no campo, o que motivou a vinda da maioria de suas famílias para a cidade. Aqui, porém, cedo perceberam que a realidade social, embora diferente em muitos aspectos, não era menos excludente.

Elas representam-se via pastorais populares, associação de moradores, grupos de pais e mestres, organizam atividades de geração de renda e educação de base nas comunidades, nos bairros, nas vilas e nos loteamentos em que moram. Por meio desses grupos estabelecem relações com outras mulheres da vila e também com outros grupos e ONGs, com objetivos afins, localizados em outras áreas de São Leopoldo e região.

Dessa forma estão, neste momento, articuladas no Fórum de Mulheres em São Leopoldo (FMSL), cujo objetivo é manter um permanente movimento de denúncia dessa desigualdade e de reivindicações em torno dos direitos como um todo, mas em especial os direitos sociais, destacando interesses específicos das mulheres. Isto exige mobilização permanente em torno da defesa e proteção contra violência, educação não-sexista, igualdade de gênero no trabalho e na família e demais instâncias sociais, direito à participação e um novo exercício do poder e quem sabe uma nova hegemonia?

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Nosso conhecimento da realidade das mulheres e aportes sobre o Fórum de Mulheres provém da inserção do serviço social, via um dos serviços de extensão universitária da Unisinos por meio do qual prestamos assessoria a movimentos sociais. Conforme produções anteriores: ZIEBELL, Clair Ribeiro. Gênero e Direitos Humanos. In: PIRES, Cecília Pinto: KEIL, Ivete Manetzeder; ALBUOUEROUE, Paulo Peixoto de; VIOLA, Solon Eduardo Annes. (Orgs.). Direitos Humanos Pobreza e Exclusão. São Leopoldo: ADUNISINOS, 2000. p. 135-142.

ZIEBELL, Clair Ribeiro; CONSUL, Wladinéia Freitas. A práxis do Serviço Social da UNISINOS junto a mulheres em São Leopoldo.ln: BEMVENUTI, Vera Lúcia. (org.) Cadernos de Extensão I. São Leopoldo: UNISINOS, 2000. p. 29-36.

ZIEBELL, Clair. R. Mulheres na luta por educação: desvendando o protagonismo. In: STREY, Marlene Neves; MAnOS, Flora; FENSTERSEIFER, Gilda; WERBA, Graziela. (Orgs.) Construções e perspectivas em gênero. 1. ed. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2000. p. 207 -226.

ZIEBELL, Clair R. Mulheres e Educação: Saberes da Práxis, 24ª Reunião da ANPED, CD-Rom Anais 2001.

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Clair Ziebel; Anemarie Kirsch e Magali Strauss

Por um desejo de ir além, sem perder de vista. esperança ativa de uma outra sociedade, ampliam a participação no âmbito do município, região e estado7.

Em geral, contam com a mediação de assessorias, onde ao longo da caminhada vão buscando o fortalecimento da organização, ou seja, recorrem a várias organizações que incluem ou têm como prioridade em seus programas a organização popular na defesa dos direitos sociais e de gênero.

Na Universidade atuamos com assessoria técnica e teórica e buscamos como intelectuais organicamente vinculadas aos movimentos sociais populares o que Faleiros (1989) denomina a mediação da representação articulada à reprodução. O autor diz que é o assistente social que trabalha essa mediação e que uma de suas tarefas é desafiar e retraduzir a representação do dominado na visibilidade do dominante.

As mulheres, por outro lado, buscam permanentemente em nosso serviço subsídios para: a) sua formação e instrumentalização; b) organizar e trabalhar as demandas e tensões delineadas no item 2; c) apoio logístico para a viabilização da organização; d) sistematização e pesquisa sobre políticas públicas de gênero.

Respondemos a essa demanda respeitando as decisões desse coletivo de mulheres e procurando, enquanto profissionais, otimizar os recursos humanos, técnicos e teórico-práticos, transformando-os em instrumentos que alavanquem seus projetos de emancipação e que indiretamente, via participação feminina, possamos incidir em outras práticas sociais que também almejem a construção de um projeto societário humanizado, onde possamos viver com dignidade e esperança no futuro das novas gerações, hoje bastante ameaçado.

A seguir, adentramos no protagonismo social das mulheres em São Leopoldo, objetivo deste artigo, onde, por demanda do coletivo e, também, por compromisso com a sistematização e a investigação permanente da realidade, ousamos elaborar essas notas em torno da trajetória ainda recente, porém muito rica, do Fórum de Mulheres de São Leopoldo (FMSL).

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Debates temáticos, realizados no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, nos dias 14, 15 e 16 de abril de 2000; Pré conferência Regional dos Direitos da Mulher (vale do Sinos, Vale do Taquari, Vale do Caí e Paranhana), realizada no Parque do Trabalhador dia 18 de junho de 2000.

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2. Breve histórico da criação do Fórum de Mulheres de São Leopoldo (FMSL) A criação do FMSL vem de um processo de quase dez anos e tem relação direta com nosso objetivo geral e nossas prioridades8 Temos, juntamente com outras entidades parceiras, trabalhado incansavelmente no sentido de que as mulheres construam sua organização autônoma.

As programações do Serviço Social sempre foram no sentido de perseguir esse objetivo e foram ganhando forma a partir dos encontros de mulheres e dos outros espaços de formação e reflexão que fomos construindo nesses anos, como o Espaço Cultural (Re) pensando a Prática e Cursos de Liderança de Gênero. Outras entidades também contribuíram com cursos, como o de Promotoras Legais Populares (CECA), Pastoral Social e CEBs , Cáritas da Paróquia Santo lnácio, só para citar os de maior impacto.

Cabe aqui ressaltar a importância que os chamados encontros de mulheres tiveram na construção do Fórum. Inicialmente, caracterizados como “encontrão” de mulheres, que, com o apoio da Cáritas da Paróquia Santo Inácio, organizavam-se nas CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), no âmbito de ação já referido.

Eram momentos fortes, aconteciam duas vezes por ano e caracterizavam-se por aliar reflexão, socialização de experiências entre os grupos e as mulheres, além de momentos de expressão lúdica muito ricos.

A partir de 1992, tendo o ENCONTRÃO como referência positiva e por avaliações e reflexões em torno da realidade das mulheres da periferia de São Leopoldo, advindas da assessoria prestada pelo Serviço Social e de aportes do grupo denominado Coletivo de Mulheres, em fase de dissolução na época, ousamos dar outro passo para uma maior visibilidade desse segmento tão importante na comunidade. Surgem os ENCONTROS ANUAIS DE MULHERES, sob coordenação do Serviço Social e em parceria com diversas entidades, sendo pioneiras: Grupos das Comunidades de Base (CEBs); Cáritas da Paróquia Santo Inácio; Apoio, Solidariedade e Prevenção à AIDS (ASPA); Centro Ecumênico de Capacitação, Evangelização e Assessoria (CECA); Círculo Operário Leopoldense (COL); Programa de Apoio a Meninos e Meninas (PROAME). A esse esforço de ação articulada somaram-se outras organizações, entre elas o Grupo

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Nossas prioridades, reafirmadas no Planejamento 2002/2003 do Serviço Social de Extensão à Comunidade (p.17), são: formação de educadores(as); discussão e proposição em torno das políticas sociais públicas na ótica de gênero e produção de conhecimento, aprofundando a compreensão da relação entre ensino, pesquisa e extensão.

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de Incentivo ao Aleitamento Materno (GIAM), o Centro Comunitário Infantil Talitha Kumi; Pastoral Social, Pastoral Universitária/ NUTTI/CEDOPE (Unisinos), Serviço Social da Indústria (SESI), Serviço Social do Comércio (SESC), Promotoras Legais Populares, mulheres com vinculação a partidos políticos, inicialmente PTe PDT. Participavam e ainda participam, em eventos e momentos específicos, mulheres de movimentos e organizações não-governamentais de outras cidades do Vale do Rio dos Sinos e pessoas ligadas a outros setores e núcleos da UNISINOS, atualmente NUIEG, PIPAS e UNITRABALHO. Desses movimentos, de tanta imaginação e de tanto sonho que sonhamos juntas, no VII Encontro de Mulheres, em março de 1999, vimos surgir com alegria e esperança um dos encaminhamentos concretos do evento: a constituição do Fórum de Mulheres de São Leopoldo, que, a partir do mês de maio de 2000, passam a assumir a coordenação das ações em torno das políticas públicas e das reivindicações específicas das mulheres. Durante esse primeiro ano, a pauta girou em torno da organização interna, objetivos, critérios de pertencimento, prioridades e troca de experiências com outras organizações afins como: Fórum da Criança e Adolescente de São Leopoldo, Fórum de Mulheres e Conselho de Defesa dos Direitos das Mulheres de Porto Alegre, objetivando a capacitação das componentes para uma ação efetiva, que leve em conta, também, o acúmulo do campo democrático e popular.

No curto período de existência do Fórum, as mulheres vêm sendo “chamadas” a opinar, propor, tomar parte em vários projetos de seu interesse, destacando-se em 2001 e 2002: s O Projeto de Lei que criaria o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher; s O Projeto de Lei que instituiria o Programa Municipal de Albergues para a Mulher Vítima de Violência e, relacionado com este, a institucionalização do próprio Fórum de Mulheres ainda em discussão no movimento.

Esses projetos ainda em pauta na Câmara de Vereadores e Executivo têm sido discutidos pelas mulheres em seus aspectos sociais e políticos. Aos poucos estão se apropriando das propostas, avaliando seus impactos e os desafios que são postos para o Fórum enquanto protagonista importante na criação das instâncias de deliberação e controle em torno das políticas públicas e na proposição de políticas. projetos e ações afirmativas de direitos das mulheres. s O Comitê Leopoldense de Ação e Cidadania é outra organização que envolveu as mulheres e que buscou junto ao Fórum encaminhamentos para definir seus rumos. Vinha enfrentando uma crise de identidade. Criado no iní-

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cio dos anos 1990, no embalo da campanha mais ampla motivada pela proposta do memorável Betinho de “ação da cidadania contra a fome, a miséria e pela vida”, o comitê, na conjuntura de crise atual, foi se desgastando e perdendo adeptos e, de certa forma, os rumos.

Na avaliação do ano 2000, iniciada pela coordenação do grupo (representante do gabinete do vereador Prof. Krause) e com a nossa assessoria técnica, já se delineava a necessidade de novos contornos para a ação do Comitê. Idealmente, o grupo apontava para a cidadania, porém, na prática dos últimos tempos, preocupava-se com o número reduzido de participantes e com o tempo insuficiente para a formação e reflexão em torno da ação, o que poderia levar ao assistencialismo.

Com o final da referida coordenação (final de mandato), três mulheres representantes dos grupos das vilas assumiram a responsabilidade de, em 2001, levar para o Fórum a discussão do que fazer, uma vez que nos últimos anos eram as mulheres que garantiam a existência do grupo. Deliberaram, após alguns encontros, que cessariam em 2001 as atividades do Comitê e constituiu-se uma comissão junto ao Fórum, responsável por ações emergenciais de assistência que surgissem nos grupos e comunidades de origem das pessoas envolvidas e que não tivessem cobertura de política pública. O Fórum, ao abrir espaço para pensar esta realidade concreta da pobreza de grande parte das mulheres, o faz tendo claro que a assistência social não é sua atribuição, que deve ser enfrentada com uma política social pública de assistência social, direito constitucional assegurado em 1988 (artigos 203 e 204) e conquista dos movimentos sociais organizados, onde a participação feminina e feminista foi fundamental. O Fórum é uma das formas de continuação das reivindicações das mulheres pelo cumprimento da Constituição, constantemente ameaçada e aviltada pela conjuntura neoliberal. s Outro aspecto a destacar é a ocupação de espaços, pois as mulheres são chamadas a participar de reuniões, eventos e a tomar posição em debates em relação a políticas públicas e outros temas de interesse da comunidade. Para ocupar esses espaços de forma competente têm participado de cursos de formação e atualização em defesa dos direitos, gênero, violência. Exemplos desse tipo é o curso e reuniões das PLPs e capacitação via Oficinas Gênero, Desenvolvimento e Saúde (CECA), curso de Liderança de gênero e grupo de sistematização em torno das histórias de vida e formação em políticas sociais públicas na perspectiva de gênero (Serviço Social de Extensão/Unisinos).

As reuniões do Fórum ocorrem mensalmente na última quarta-feira e, extraordinariamente, sempre que necessário, na

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Clair Ziebel; Anemarie Kirsch e Magali Strauss

sede antiga da Unisinos, sala 06. A coordenação colegiada prepara antecipadamente uma proposta de agenda que é posteriormente revisada pela assembléia. São pautas abertas, onde se priorizam os assuntos a serem tratados a cada reunião. Há sempre um momento de informes, relato de algum acontecimento que tenha importância para alguém das participantes ou para o grupo ou comunidade/sociedade. Enfim, ensaia-se uma análise de conjuntura, como, por exemplo, no contexto eleitoral, reservavam um tempo para avaliar o processo e pensar das mulheres nesse contexto.

São destaques na agenda do movimento o dia 08 de março – dia internacional da mulher – e dia 25 de novembro – dia mundial de combate à violência contra a mulher.

As demandas giram em torno de políticas sociais públicas que contemplem a perspectiva de gênero, com ênfase para questões relativas à saúde, educação e trabalho.

3. Tensões e desafios que se colocam atualmente para o movimento

3.1 – Dinâmica interna A partir da prática social concreta e da reflexão permanente sobre ela, constatamos, como parte integrante do Fórum e por meio da assessoria, alguns desafios. Os primeiros, de ordem mais interna e que nem sempre são explicitados claramente, embora alguns aspectos já chamem a atenção. Registramos aqui alguns aspectos observados e que já se anunciavam em momentos de avaliação e em reuniões que ocorrem entre a assessoria do Serviço Social e a coordenação do Fórum.

Num primeiro momento, temos a composição do Fórum marcada pela presença efetiva de mulheres “representantes” de grupos de mulheres, entidades não-governamentais, setor de mulheres ligados a partidos políticos, movimentos motivados pelas igrejas e outros. Aqui elencamos os mais engajados no primeiro e segundo ano de existência da organização. São eles: s Grupo de Mulheres Santo Antônio – Bairro Campina; s Grupo de Mulheres Herval – Vila Antônio Leite; s Grupo de Mulheres Adventistas – Vila Glória; s Casa da Criança e do Adolescente – COL (Círculo Operário Leopoldense) Paim; s Promotoras Legais Populares – CECA (Centro Ecumênico de Capacitação, Evangelização e Assessoria/SL); s Coofeitoria – São Leopoldo – B. Feitoria;

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Cáritas Paróquia Santo Inácio; Movimento Negro; ASPA (Apoio e Solidariedade a Portadores de AIOS); UNISINOS – Serviço Social de Extensão – Assessoria Movimentos de Mulheres e Organizações Comunitária; Pastoral Universitária; PROAME ( Programa de Apoio a Meninos e Meninas/SL) GIAM (Grupo de Incentivo ao Aleitamento Materno); CECA (Centro Ecumênico de Evangelização, Capacita ção e Assessoria); Mulheres sem representação de grupos/entidades; Mulheres representantes de setores ligados a partido políticos (PT e POT).

Como vemos, é uma composição plural, mas que ainda necessita ser ampliada, repensada e deve envolver um maior número de militantes que possam fortalecer a organização e contribuir para que se mantenha e amplie a base de representação ou participação direta, bem como sua legitimidade enquanto entidade de defesa dos direitos das mulheres em São Leopoldo Além da composição e dos aspectos relativos à representação/participação (que necessitam maior atenção), percebemos que há uma heterogeneidade de expectativas e de representações em relação ao que seja ou desejam que venha a ser o Fórum.

Embora predomine a compreensão de uma organização popular de defesa dos direitos das mulheres, há representações ainda marcadas pelo assistencialismo, outras mais volta das para interesses localizados, imediatos, faltando ainda uma visão de conjunto da realidade do Fórum, da sociedade e di conjuntura atual.

3.2 – Dinâmica externa Dada a importância do Fórum como interlocutor social e no veiculação das demandas sociais concretas das mulheres, em nosso entendimento ele deveria: a) encetar esforços no sentido de definir uma estratégia mais efetiva de discussão e proposição de políticas públicas na perspectiva de gênero, reivindicando a inserção das demandas atuais na agenda política institucional do município e a conseqüente implantação daquelas políticas que o movimento julgar prioritárias; b) para tanto, o “documento proposta para a implantação de políticas públicas” de 1999 deveria, em nosso entender, ser retomado para apreciação e atualização junte ao Fórum, uma vez que na sessão especial da Câmara

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Clair Ziebel; Anemarie Kirsch e Magali Strauss

Municipal de Vereadores, alusiva ao dia 08 de março de 2001, muitas das reivindicações feitas ao legislativo e ao executivo ainda constam daquele documento, que foi entregue ao Sr. Prefeito municipal em exercício na época, Ronaldo Ribas. O prefeito afirmou o compromisso com as mulheres na viabilização daquelas propostas, mas daquela data em diante não mais recebeu o movimento para negociação. O atual prefeito, por ocasião do debate entre os candidatos à prefeitura em 2000, organizado pelo Fórum, embora não tenha comparecido, enviou carta compromisso com o diálogo permanente em relação às reivindicações das mulheres. É hora de retomar a negociação, mas com “diagnóstico” atualizado, pois algumas reivindicações específicas, por vilas, talvez não sejam mais atuais; c) articulação em rede com outros movimentos e organizações populares afins.

Para enfrentamento destas questões, levantamos alguns pontos que consideramos importantes: a) Que no cotidiano dos grupos, dos encontros das mulheres e das reuniões do Fórum as várias idéias em movimento devem ser pautadas e discutidas com transparência, respeito às diferenças e paciência com aquelas companheiras que ainda estão construindo e definindo suas identidades, sua forma de participação e compromisso. Isso se dá no processo, na caminhada, nas lutas e depende também de tempo e de espaço para que as idéias se aprofundem, as estratégias sejam desenhadas e as propostas concretizadas. b) Que se pense e se execute uma proposta de formação9 que leve em conta: liderança de gênero, relações de poder, gestão popular, elaboração de projetos, defesa de direitos, análise de conjuntura e outros conteúdos que se venha a julgar pertinentes. c) Que as mulheres descubram sua mística, sua simbologia, que tenham seus espaços de lazer, cultura e confraternização. d) Que a coordenação tenha também seus espaços de formação, avaliação. e) Que o Fórum aposte na informação, no debate e na participação direta das mulheres por região, bairro. f) Que se reflita sobre a estrutura e formas de participação das mulheres, que até o momento vem se dando informalmente, mas que necessita ser redefinida, clareando 9

Como já está sendo implantado o primeiro módulo do Programa de Capacitação de Mulheres e Lideranças Femininas no Vale do Sinos (CECA/CAMP), sugerimos a inserção do maior número de mulheres neste.

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questões como representação, participação direta, relação com as entidades e grupos envolvidos no processo.

Enfim, estas são algumas reflexões iniciais, a partir da assessoria prestada ao Fórum nesses três anos, fruto do caminhar juntas que iniciamos há mais tempo, quando o Fórum era um sonho, uma utopia que nos alimentava na caminhada e nos mantinha na luta. Hoje é uma realidade, um movimento que tende a crescer. Em maio, teremos mais um encontro cuja pauta ainda está indefinida, mas que já se anuncia como celebrativa desse terceiro aniversário e como redefinidora do protagonismo. O mês de março foi de formação e discussão de estratégias concretas.

Haja movimento e esperança ativa, benditas as mulheres que ainda sonham, imaginam e desenham novos caminhos e novas relações sociais para elas e para o conjunto da humanidade.

Bibliografia

DAGNINO, Evelina (Org.). Os movimentos sociais e a emergência de uma nova cidadania. In: Os Anos 90: política e sociedade no Brasil.

São Paulo: Brasiliense, 1994.

FALEIROS, Vicente de Pau Ia. A questão da Metodologia em Serviço Social: Re-produzir-se e re-presentar-se, A Metodologia no Serviço Social. In: Cadernos ABESS nº 3, São Paulo: Editora Cortez, 1989. _______ . Serviço Social: questões presentes para o Muro. In: Revista Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, nº 50, p. 9-39, abril, 1996.

SERVIÇO SOCIAL – Extensão à Comunidade, Unisinos, Planejamento 2000/2003.

Os temas deste caderno foram apresentados no IHU Ideias do dia 6 de março de 2003.

TEMA DO PRIMEIRO CADERNO IHU IDÉIAS: N. 01 – A teoria da justiça de Johs Rawls – Dr. José Nedel.