CAMPESINATO NEGRO NO PERÍODO PÓS-ABOLIÇÃO: REPENSANDO CORONELISMO, ENXADA E VOTO Ana Maria Lugão Rios
Introdução A proposta de repensar aspectos da obra de Vitor Nunes Leal Coronelismo, enxada e voto pareceu-me oportuna para um seminário que pretende exatamente discutir as interpretações clássicas sobre Brasil e, ao mesmo tempo, destacar as novas abordagens. A obra de Leal é, sem dúvida, um clássico da história política da Primeira República que, quando de sua publicação, representou um avanço significativo frente aos estudos até então existentes. Minha proposta neste artigo é discutir alguns pressupostos desta obra da perspectiva de sua caracterização da população rural na Primeira República. Pretendo repensar este aspecto da obra à luz da discussão corrente sobre o período pós-abolição nas Américas e no Brasil, e avançar algumas sugestões sobre caminhos que me parecem profícuos para a pesquisa sobre campesinato negro e liberto no Brasil dos anos 1888-1930. Discussão historiográfica Desde os anos 1970, quando preocupações macroeconômicas constituíam o principal aspecto, analisado em termos comparativos, das sociedades pós-emancipação, muito se avançou nas discussões historiográficas sobre o tema. O acentuado declínio da produção açucareira da Jamaica após a abolição da escravidão, em contraste com continuidade sem quebras expressivas desta indústria em Barbados, chamava a atenção para as diferentes atitudes dos libertos quando da emancipação do trabalho no Caribe Britânico. As diferenças foram explicadas enfatizando a existência de uma fronteira agrária aberta na Jamaica, com espaços montanhosos e inúteis para os canaviais, contraposta a uma fronteira agrícola fechada, como em Barbados, por exemplo. A existência ou não de uma fronteira agrícola aberta seria o elemento determinante para o entendimento da diferença do comportamento dos libertos nas duas ilhas, o que seria