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Política econômica. Nada mudou! Perdemos a oportunidade histórica de mudá-la? Editorial Dois recentes fatos trouxeram à cena pública, ainda que timidamente, novos debates sobre a política econômica: a morte do economista Celso Furtado e a demissão de Carlos Lessa do BNDES. O primeiro, pela sua obra, representava o ideário desenvolvimentista. O segundo vinha implementando práticas bancárias indutoras do desenvolvimento. Sintomaticamente, os dois episódios, ocorridos quase simultaneamente, vêm sendo apontados como o símbolo do enterro, pelo atual governo, das políticas desenvolvimentistas e a confirmação do apego à ortodoxia econômica. Essa visão está presente nas entrevistas feitas por IHU On-Line com renomados pesquisadores, a propósito dos rumos da economia brasileira, abordada nas suas dimensões social e política. Para a professora da USP Leda Maria Paulani, o governo selou o seu destino ortodoxo, do qual somente se libertará se acontecer uma crise de grandes proporções. Tal crise não se desenha no cenário político sua ocorrência parece improvável, considerando que os movimentos sociais estão caudatários ao governo. Na opinião de Gentil Corazza, professor da UFRGS, o governo entregou o desenvolvimento nacional ao setor privado, abdicando do papel estratégico. Assim, tudo passa a ser regulado e resolvido pelo mercado – à exceção das políticas assistenciais, que não formam cidadãos. Gradativamente, os dirigentes nacionais parecem submeter a política à economia, embora devesse ocorrer o contrário, como assinala Tânia Bacelar de Araújo, professora da UFPE, especialista em planejamento. E, ao que tudo indica, o primeiro governo brasileiro de origem popular está deixando passar a oportunidade histórica de concretizar mudanças sociais. Ao mesmo tempo, como assinala Ricardo Carneiro, professor da Unicamp, o debate desenvolvimentista está sendo retomado internacionalmente, estimulado pelo fracasso dos modelos neoliberais. Lamentavelmente, como assevera, esse debate não tem o apoio do governo brasileiro. Essas inquietações estão expressas no Manifesto dos Economistas intitulado E nada mudou, que também publicamos nesta edição. Reforçando a reflexão sobre o destino das nações, apresentamos o livro Multitude: War and Democracy in the age of Empire (Multidão: Guerra e Democracia na era do Império) de Antonio Negri e Michael Hardt, como livro da semana. Continuando a celebração dos 40 anos da Lumen Gentium, entrevistamos o teólogo brasileiro Clodovis Boff e fazemos memória de D. Hélder Câmara, que participou ativamente dos trabalhos do Concílio Vaticano II. A todos e todas uma boa leitura e uma ótima semana!


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