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C A inclusão digital é um debate que, seguidamente, ressurge no nosso País. Nesse contexto, ocupa um lugar importante a discussão sobre a TV digital brasileira. No mundo, existem atualmente três tipos de TV digital, sendo um produzido nos Estados Unidos, outro, no Japão e um terceiro, na União Européia. Assim como a TV analógica convencional, o sinal digital trafega por diferentes meios - que deverão continuar coexistindo após a adoção do padrão digital. Participam do debate sobre o tema da presente edição pesquisadores que levantam vários desafios. Todos concordam, porém, que não basta termos uma ampliação do espectro eletromagnético, é preciso que ele seja ocupado por emissoras que atendam às reais necessidades de cultura do País e que não terminem nas mãos dos grupos midiáticos hegemônicos. Agradecemos a assessoria da Dra. Cosette Espíndola de Castro, Coordenadora de Estágio e Pesquisa/TV Digital da TV Unisinos, na preparação da pauta. Continuando com os diversos olhares sobre a crise política brasileira, a série Brasil em foco traz a entrevista com o candidato à presidência do Partido dos Trabalhadores, Plínio de Arruda Sampaio, e o professor Aloísio Ruscheinsky, do PPG em Ciências Sociais Aplicadas da Unisinos. No artigo da semana, retomamos a publicação de Os cristãos e a política. A visão idílica e ingênua de Leonardo Boff e Frei Betto é analisada por Cesar Sanson, pesquisador do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – Cepat. Pedro Ribeiro de Oliveira e Ivo Lesbaupin comentam o artigo. Nesta semana, estará, aqui, na Unisinos, a Prof.ª Dr.ª An Vranckx, pesquisadora belga, proferindo a conferência Vamos construir uma cultura da paz, na qual dará um destaque especial para o tema do desarmamento. Dessa maneira, a Unisinos participa do debate do assunto que será objeto do plebiscito de outubro. A todas e todos uma boa leitura e uma ótima semana!
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“O Brasil ainda está indefinido em relação à sua TV Digital, e isso não vai ser tão rápido quanto tem sido vendido para a sociedade”, disse o Prof. Dr. Valério Cruz Brittos em entrevista concedida pessoalmente à IHU OnLine. Ele é professor nas Ciências da Comunicação da Unisinos. Graduado em Jornalismo e Direito pela UCPEL e especialista em ciência política pela UFPEL é mestre em Comunicação pela PUCRS e doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea pela UFBA, com a tese Capitalismo contemporâneo, mercado brasileiro de televisão por assinatura e expansão. Atualmente, pesquisa sobre Televisão, mercado e sociedade: televisão e política pública no Governo Lula. É editor do periódico acadêmico Eptic On line-Revista Electrónica Internacional de Economía Política de las Tecnologías de la Información y de la Comunicación (www.eptic.com.br) e presidente do Capítulo Brasil da Unión Latina de Economia Política de la Información, la Comunicación y la Cultura (ULEPICC-BR). De sua produção bibliográfica, destacamos a obra organizada em parceria com o pesquisador César Ricardo Siqueira Bolaño, Rede Globo: 40 anos de poder e hegemonia. São Paulo: Paulus, 2005, Recepção e TV a cabo: a força da cultura local. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2001 e organizador de Comunicação, informação e espaço público: exclusão no mundo globalizado. Rio de Janeiro: Papel & Virtual, 2002. Valério apresentou o primeiro livro citado no evento Sala de Leitura, do IHU, em 20 de junho deste ano, sobre o qual escreveu um artigo, que foi publicado na edição 146 da revista IHU On-Line, de 20 de junho de 2005. Ele apresentou também o IHU Idéias de 30 de outubro de 2003, com o tema Produção regulamentação: as barreiras da televisão. Sobre ele, concedeu a entrevista TV digital mais governo Lula pode resultar em democratização, publicada na 81ª edição do IHU On-Line, de 27 de outubro de 2004 Valério Brittos – A TV digital, com a mudança do ministro, recentemente pelo Hélio Costa, sofreu um período de
IHU On-Line - Qual é a situação da TV Digital no Brasil? Quais suas perspectivas e como se dará o acesso?
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turbulência pelos anúncios, dizendo que o Brasil não faria um padrão digital próprio. Mas isso eu sempre tenho dito: o Brasil não terá um padrão próprio, o Brasil está desenvolvendo, e a própria TV Unisinos está fazendo isso, o que eu chamo de uma solução nacional, elementos que incorporam parte de tecnologia estrangeira e parte de tecnologia brasileira, formando uma solução mais de acordo com as necessidades do nosso país, mas não vai ser um padrão próprio brasileiro. Por que um outro padrão se já há três outros padrões consagrados? Um quarto padrão demandaria muito tempo e dinheiro, e acho que esse não é o caso do Brasil no momento. O que é fundamental para o Brasil neste estudo, nessa solução, é muito mais do que tecnologia, é saber o que ele quer. E isso não fica bem claro – saber o que nosso país quer da TV Digital. Vemos anúncios, movimentos destoantes que vêm e voltam, ou seja, é preciso uma definição antes, e discutida com a sociedade. O que o Brasil quer? O Brasil quer fazer inclusão digital1? Essa me parece a tendência principal, de usar a televisão como possibilidade de agregar milhões e milhões de brasileiros que não sabem o que é internet, o que é computador, e que têm a possibilidade de ter acesso a esse mundo, potencializando pequenos negócios por meio de sua própria televisão. Acho que, se o Brasil puder fazer isso, vai ser um grande mérito e um grande avanço, mais isso também não está definido. Existem pesquisas com alguma coordenação, mas que poderia ser maior do que verdadeiramente é. O Brasil ainda está indefinido em relação à sua TV Digital e eu volto a dizer que isso não vai ser tão rápido quanto tem sido vendido para a sociedade.
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3 ## / (%!%"# %" ) ! 0!/ < 2 ;+" #" $% #" ! 0 1$0 < E Eu não acredito que ele seja por si só mais crítico por ter uma quantidade maior de canais, pois, com a própria TV por assinatura, que, num primeiro momento, pode ser uma maravilha pela oportunidade que oferece de programação, a lógica tende a ser a mesma, não só porque segue a mesma proposta comercial, isto é, uma enxurrada de canais comerciais. Os canais que fogem disso são mínimos e ficam quase que desaparecidos, subsumidos naqueles movimentos, como todos que tendem a seguir um mecanismo de assimilação muito rápida do receptor, tanto que hoje há uma quantidade muito grande de reality shows2 nos canais de TV por assinatura. Então, não acredito que alguém, porque possa ver mais canais, porque possa ver reality show em horários variados, ou que possa assistir a filmes mais recentes ou clips3, possa, por si só, ser mais crítico. Há sim, um movimento próprio da contemporaneidade em que os processos, os gêneros, as formas de fazer quase que se esgotaram. Disso o receptor está cansado, porque o gênero chegou quase ao seu limite. O receptor conhece muito bem o gênero e está cansado, porque, nessa dialética homogeneizaçãodiferenciação das indústrias culturais, o grau da homogeneização é muito grande, mesmo tendo muitos canais, e disso o telespectador está cansado, mas, não necessariamente, ele é mais crítico, e não se pode fazer uma relação (
2
Reality show: Tipo de programa televisivo apoiado na vida real. Exemplo deste programa é o mundialmente conhecido Big Brother criado em 1999 por John de Mol e inspirado no livro de George Orwell, 1984. (Nota da IHU On-Line)
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Clip: Sinônimo de Videoclip, anglicismo que designa um filme curto, em suporte digital. Devido à preponderância quase total dos vídeos musicais e publicitários na produção mundial de vídeos curtos, os vídeos publicitários têm uma designação própria. Durante algum tempo videoclip foi quase sinônimo de vídeo musical. (Nota da IHU On-Line)
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Inclusão digital: Projetos e ações que facilitam o acesso de pessoas de baixa renda às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Dessa forma, essa camada da população também pode ter acesso a informações disponíveis na Internet, além de poder produzir conteúdo. Um dos grandes desafios dos governos de países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, pois requer grandes investimentos. (Nota da IHU On-Line)
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de causa e efeito por ter uma quantidade enorme de canais.
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comunidade poder se expressar e, se houver algum retorno comercial, que seja um retorno para ela própria, para o seu próprio bem.
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( E A tendência é que sim, porque a TV Digital, nos países desenvolvidos, vem cumprindo um período muito longo, chamado simul casting, ou seja, de transmissão simultânea, o que no Brasil deveria ser igual. Embora isso venha acontecendo, a TV analógica terá que acabar e nós vamos ter uma nova televisão, e há várias possibilidades: pode ser uma televisão com muito recurso da internet, pode ser uma televisão com qualidade de imagem melhor, pode ser uma televisão com mais canais. Agora, só isso é muito pouco. É nisso que eu insisto. Se for para entregar uma quantidade de canais para os mesmos grupos de comunicação que atualmente dominam, vai representar muito pouco. Imagine um grupo como a CNT, para não falar da Globo, que tem uma rede de televisão no Paraná e que usa o seu canal para transmitir basicamente programas de televendas e vendas para programas religiosos, imagina seu dono possuindo muito mais canais. Para quê? Para fazer isso? Então, acima de tudo, o Brasil precisa pensar esse momento para se reposicionar ante esse processo de comunicação e pensar em democracia comunicacional, em novos acessos, em acessos para pessoas que nunca tiveram possibilidade de levar suas demandas à comunicação, pensar na produção regional, local, terceirizada e disseminar esse conhecimento quase nato que o brasileiro tem de fazer cultura e que a gente vê até nas localidades mais pobres. Esse conhecimento deve ser disseminado, e não aproveitado no sentido de apropriação privada, que é o que normalmente acontece pelos grandes grupos de comunicação, que pegam o que há numa comunidade e aproveitam isso, privatizando um bem simbólico que vai ser comercializado no mercado. Esse conhecimento deve ser disseminado no sentido da própria
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( E A idéia de que a TV brasileira é uma das melhores do mundo tem que ser repensada. A Globo faz uma grande televisão, em termos de mercado, mas é um conhecimento que está muito centrado nessa emissora. Nos últimos dez, quinze anos, é que se vê um movimento de espalhar esse conhecimento do “fazer televisão“ por outros grupos de comunicação. Mas tradicionalmente não é isso que ocorre, quando se fala em exportação de televisão, é basicamente na Globo que se pensa. Esse conhecimento deve, primeiro, ser pulverizado entre as demais redes, o que vem acontecendo paulatinamente, mas deve ser pulverizado entre tantos e tantos grupamentos sociais que podem, eles próprios, construir a sua história. E à academia cabe um processo importante nessa interação, e nesse sentido tem havido, embora sempre haja, em alguns momentos, deslocamentos entre o que academia propõe e o que a academia pesquisa, e efetivamente aquilo que a sociedade está esperando. É evidente que esses descompassos existem, o que acontece em todas as áreas do conhecimento, mas, em linhas gerais, o que tem havido de conhecimento em termos de televisão, da comunicação, tem sido a partir de várias entradas. Com base no que eu trabalho, a chamada economia política da comunicação, da semiótica, com base na filosofia da comunicação, na ética, em várias abordagens, como a recepção, tem se visto um conhecimento bastante grande. Talvez se os próprios grandes grupos de comunicação se voltassem para um diálogo com a academia, tentando enxergar de outra forma esse conhecimento que tem sido produzido, aí sim, essa seja a entrada melhor para a
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superação dos dramas históricos da TV brasileira.
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8 2 %"( 2 % =$0 !/ " 2 " 0!% #< ( E Eu acredito que isso possa vir a ocorrer se acontecer o modelo efetivo. O que eu falo de repensar os processos como um todo, democratizar a comunicação, abrir canais para a sociedade, abrir espaços dentro desses canais para que a sociedade ocupe, para que se tenham conselhos de programação, tornar público aquilo que deveria ser público de per si, os atos de mediatização. Se tudo isso for feito, e muito mais, abrir-se para produção terceirizada, por exemplo, certamente vai gerar quantidade de emprego, possibilidade de expressão, enriquecimento cultural e até econômico por parte da sociedade. Agora, se for unicamente dar mais canais, mais possibilidades para esses grupos que estão aí, não vai haver muita coisa, porque eles já têm produção suficiente, já têm estoque. E o que eles fazem? O que a Globo faz? Ela coloca no ar o mesmo programa que ela produz, por exemplo, o Bom Dia Brasil. Ele é produzido para ir ao ar na TV Globo, vai ao ar nela, em todas as afiliadas, na Globo News, na Globo Internacional, e parte daquelas notícias ainda é desmembrada em outros programas. O mesmo vale para as telenovelas. Ou seja, muito pelo contrário, o que o processo de concentração tem feito é limitar, tanto que vemos que a mão-de-obra nos lugares formais de comunicação acaba sendo reduzida. O que existe é uma enorme potencialidade em outros campos de trabalho para comunicação, em outros lugares que vêm sendo desbravados por organizações públicas e privadas. Se forem unicamente esses grupos, vai haver um aumento da concentração e pouca mudança.
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( E O nosso modelo trabalha com a inclusão para todos na qualidade de receptores, e não de produtores. O que se fala é com um prazo muito longo de transmissão simultânea. Isso pode levar dez anos, mas, no Brasil, acredito que isso não vá acontecer em menos de vinte anos de transmissão simultânea dessas duas possibilidades de transmissão televisiva. Esse é um caminho. Outra possibilidade, e que o Brasil já está pensando, é a set box4, ou seja, a caixa que vai converter o sinal que vem digital para que cada um possa receber na sua velha TV analógica, seja feita a preços acessíveis. E, ao mesmo tempo, que haja financiamento por parte de bancos públicos, viabilizando esse acesso. O que é preciso se pensar, também, é no acesso amplo. Em primeiro lugar, se houver possibilidade, e haja Internet junto, que ele seja um pleno fruidor e com capacidade plena para usar aqueles recursos em sua totalidade, e não unicamente para assistir, via internet, aos mesmos conteúdos ou ao mesmo tipo de conteúdos que ele assistiria na televisão. Isso passa, a priori, pela educação formal, por vários fatores, e, ao mesmo tempo, que ele possa levar suas demandas para os canais convencionais. Nesse sentido, o processo de inclusão é muito mais complexo e ainda não foi feito na outra mídia, quanto mais nesta.
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Set-top-box: Aparelho conversor de sinal que permite acesso através da Internet a serviços de telefonia, vídeo mensagem, jogos on-line, áudio e vídeo sob demanda, na tela da TV. (Nota da IHU On-Line)
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TV digital. Acho que, quando o governo FHC estava decidido que ia adotar unicamente um outro padrão, o governo Lula partiu para outras pesquisas, envolvendo universidades, embora devesse avançar bem mais, definindo, previamente, o que o Brasil quer em termos de TV digital e avançando na questão dos conteúdos, sobre o que há pouca pesquisa e investigação. Em geral, o governo Lula tem sido um governo hesitante com relação à comunicação em geral, assim como em outras áreas. Ele propôs uma lei avançada de audiovisual – houve uma “grita” por parte dos próprios empresários, que acabaram envolvendo parte da sociedade nos seus telejornais e espaços editoriais. E, com isso, o governo Lula recuou. Neste ano, houve a expectativa de se fazer uma lei de comunicação eletrônica de massa, que vem sendo aguardada por mais de dez anos e até hoje não se saiu. Essa lei dificilmente vai sair, porque, se o governo anterior já era refém das forças que o apoiavam, este tem mais dificuldade de fazer qualquer coisa que desagrade a mídia, uma vez que existe a possibilidade de impeachment. Isso dificulta muito e, se não houve avanço até agora, muito menos vai haver daqui para a frente, porque, certamente, esse governo não vai querer comprar briga com ninguém, muito menos com a mídia.
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( E As perspectivas são das mais animadoras. A própria Globo é líder em televisão, jornal, rádio... e tinha um grande temor em relação à TV por assinatura imaginando que ela ia desbancar, ou pelo menos fragilizar, o seu lugar. O que ela fez quando isso seria inevitável? Criou movimentos e se tornou líder na TV por assinatura, e é isso que esses conglomerados vão fazer. Para eles não há um grande problema em seguirem ocupando seus lugares, e isso é o que vem ocorrendo em todo o mundo, em processos de fusões, de sinergias.
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( E Avanço efetivo desde o governo Lula, assim como desde o governo anterior, não poderia enumerar nenhum, exceto a possibilidade das pesquisas sobre a
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Assim o Prof Dr Laurindo Leal Filho, da Escola de Comunicação e Artes (ECA/USP), Departamento de Jornalismo e Editoração, define um dos maiores benefícios da TV Digital em nosso país na entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line. Entretanto,
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ele destaca que não basta haver apenas “uma ampliação do espectro eletromagnético. É preciso que ele seja ocupado por emissoras que atendam as reais necessidades de cultura, lazer e informação existentes na sociedade”. Além disso, é necessário evitar que ocorra com a TV Digital o que houve com a TV por assinatura: “os mesmos grupos nacionais e internacionais ocuparam, praticamente, todo o espaço, reproduzindo o modelo da TV aberta”. Laurindo é graduado em Ciências Sociais pela USP, mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP e doutor em Ciências da Comunicação pela USP com pósdoutorado na University of London, Inglaterra. É livre-docente pela USP com a tese O modelo britânico de rádio e televisão: a convivência entre o público e o privado. Publicou os livros Atrás das Câmeras – Relações entre Cultura, Estado e Televisão. 2. ed. São Paulo: Summus, 1988 e A melhor TV do mundo. O modelo britânico de televisão. São Paulo: Summus, 1997. "
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/ / > Continuo considerando a televisão britânica a melhor do mundo. Em primeiro lugar, tal afirmação é corrente entre todos os que conhecem diferentes televisões ao redor do mundo. Depois, porque basta ver a procedência da maioria dos programas de alta qualidade exibidos por nossas TVs fechadas, TVs públicas e até pelo Fantástico da Globo: são programas da BBC ou do Channel 4 do Reino Unido. Essa qualidade é garantida pelo modelo público a que está submetida a televisão naquele país.
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/ / > Acredito que, antes de mais nada, é necessária uma distribuição equilibrada dessas novas freqüências. As emissoras públicas devem ter um espaço garantido e o oligópolio das comerciais deve ser combatido. Só assim poderemos falar na possibilidade de uma televisão digital comprometida com valores éticos.
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"0"/ % #< / / > Só se houver diversidade. Se isso ocorrer, o telespectador passará a ser mais exigente, uma vez que ele conhecerá modelos de programação alternativos aos da
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TV comercial. Senão, tudo ficará na mesma. Apenas a imagem será um pouco mais nítida.
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tarde jamais seriam exibidos na TV daquele país. Lá é inadmissível que a TV acuse, julgue e condene pessoas como se faz por aqui, e tudo em meio a um grande espetáculo. O outro exemplo é o dos editoriais, como emissoras e jornalistas tomando partido em diferentes casos, não permitindo versões diferenciadas, usando dessa forma uma concessão pública para defesa de interesses privados e os comerciais, até para crianças, inseridos no meio dos programas. Isso não existe por lá.
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3! ! #+! 2 3("2 " $!&' < / / > Acho que a TV digital não pode ser conduzida de forma separada a todo o modelo de radiodifusão existente no Brasil. Ela é apenas uma nova plataforma cujo funcionamento deve ser regulada pela Lei de Comunicação Eletrônica de Massa, tantas vezes prometida e até hoje não elaborada.
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/ / > A TV digital poderá ser um grande passo na direção da inclusão digital. Há projetos do governo nesse sentido. A idéia é transformar o receptor de televisão num computador pessoal. Mas os atuais concessionários nem querem ouvir falar disso. Para eles, televisão digital é aumentar o número de canais sob seu controle e apresentar uma imagem mais nítida. A disputa é feroz.
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/ !# (" ! #" !3 "#" $! "2 $" 2 # *$0 #< / / > Muito distante dos padrões britânicos. Há cenas em nossa TV impensáveis de serem vistas na BBC ou nas demais emissoras do Reino Unido. Dou apenas três exemplos: os programas sensacionalistas policialescos do final de
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“Inclusão digital é mais do que a oportunidade de acesso aos meios informatizados e à Internet. Vai, inclusive, além da capacitação para o uso das ferramentas digitais. É a possibilidade de, através do domínio das técnicas e da linguagem deste novo alfabeto digital, resgatar, em grande parte da população dos países não desenvolvidos ou em desenvolvimento, a dignidade do indivíduo, obtendo sua colaboração efetiva para a melhoria da qualidade vida do meio social em que vive”, afirma o Prof. Dr. André Barbosa Filho, assessor especial da Ministra Chefe da Casa Civil da Presidência da República para Políticas Públicas de Comunicação, em entrevista concedida, por e-mail, à IHU On-Line. É membro titular do Comitê de Desenvolvimento e do Grupo Gestor
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do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBDTV) e coordenador do subgrupo de conteúdo do SBDTV. Atua como Pesquisador Associado do Centro de Estudos de Economia da Comunicação da Universidade de Brasília (UnB). É graduado em Direito pela USP, mestre em Comunicação Científica e Tecnológica pela UMESP e doutor na mesma área pela ECA/USP, com a tese Redes Radiofônicas: Conflitos e convivência entre as emissoras num cenário em transformação. De suas publicações, destacamos Os gêneros radiofônicos – os formatos e os programas em áudio. São Paulo: Paulinas, 2003; Rádio: sintonia do futuro. São Paulo: Paulinas, 2004, organizado com Ângelo Piovesan e Rosana Beneton; e Mídias digitais. Convergência tecnológica e inclusão social. São Paulo, Paulinas, 2005, escrito junto de Cosette Castro e Takashi Tome. " 6 8" %"
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“Casas Brasil”, conectados à Internet por rede – STFC6 ou por satélite, como no caso do GSAC7, com seus 4.200 pontos espalhados pelo país. Falta ainda utilizar os recursos do FUST8, para o qual se propõe o SCD9. Mas, hoje, está
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espace numérisé, Telestuben, centros de acesso comunitário, etc. No Brasil, se adota o termo "telecentro" como denominação genérica para abarcar toda essa gama de experiências. Do ponto de vista do público atingido diretamente por iniciativas como as dos telecentros, parece ser inegável que eles têm tido um papel de destaque no processo de universalização do acesso à Internet. E, mais ainda, se forem analisados os perfis dos diferentes públicos que deles se utilizam, não parece haver dúvida de que suas experiências têm agregado segmentos sociais que, dificilmente, teriam acesso à rede sem telecentros. (Nota da IHU On-Line) 6 STFC: Serviço de Telefonia Fixa Comutada. (Nota da IHU On-Line) 7 GSAC: Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão. Programa de inclusão social do Governo Federal, coordenado pelo Ministério das Comunicações, que utiliza ferramentas de tecnologia da informação para promover inclusão digital em todos os estados brasileiros. A base de trabalho do Gesac foi desenvolvida a partir de uma cesta de serviços em software livre que complementa a conectividade via satélite. (Nota da IHU On-Line) 8 FUST: Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações. Fundo composto por 1% da receita bruta operacional anual das empresas de telecomunicações. Tem a função de possibilitar investimentos sociais nas áreas de educação e saúde, além de realimentar e estimular as atividades das indústrias de telecomunicações e informática. Criado em 17 de agosto de 2000 pela Lei nº 9.998. (Nota da IHU On-Line) 9 SCD: Serviço de Comunicações Digitais, criado em 2003, por consulta pública, pelo ex-ministro Miro Teixeira para interesses coletivos, prestados em regime público, para permitir o acesso a redes digitais de informações, inclusive à Internet. A solução do sem fio e
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+(! ! = "! %" $"0 ( 6 ! %! 2 !&' < " ( F 1 > O Governo do Presidente Lula tem se esforçado para que não faltem recursos para que o programa brasileiro de inclusão digital seja cada vez mais um processo exitoso. Hoje, 27 projetos, distribuídos em diversos Ministérios permitem que, nas cinco regiões brasileiras, o acesso ao mundo digital seja uma realidade. São os programas de telecentros5, como as 5
Telecentros: O termo tem sido utilizado genericamente para denominar as instalações que prestam serviços de comunicações eletrônicas para camadas menos favorecidas, especialmente nas periferias dos grandes centros urbanos ou mesmo em áreas mais distantes. Essa experiência tem sido utilizada em iniciativas que vão desde a prestação de serviços de telefonia e fax em escritórios espalhados no Senegal até centros associados a projetos de telecomutação e teletrabalho na Europa e Austrália. Outros termos usados como sinônimos ou como designações em outros idiomas têm sido: telecottage, centro comunitário de tecnologia, teletienda, oficina comunitária de comunicação, centro de aprendizagem em rede, telecentro comunitário de uso múltiplo, clube digital, cabine pública, infocentro,
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prosperando uma idéia mais simples e de grande repercussão social: a do “telefone para todos”, no qual se promoverá um ato de cidadania ao conectar escolas públicas e centros de saúde em todo o Brasil, conforme prevê a lei que criou o fundo. Esta idéia deve ser aplicada em curto prazo, sob os auspícios do Ministério das Comunicações.
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" ( F 1 > O desafio que temos pela frente é muito grande. O atraso, gerado por dezenas de anos de descaso com a educação e com a oferta de serviços básicos à população neste país, gerou problemas de difícil, mas não de impossível, resolução. Projetos como o “Luz para todos”10, levando eletricidade às localidades sem energia elétrica, o já mencionado uso do FUST para a oferta de conexão nas escolas públicas e centros de saúde devem ocorrer paralelamente, como já acontece, à oferta de projetos de inclusão digital para os outros setores da sociedade já usuárias destes benefícios. Gostaríamos de avançar mais rapidamente, pois sabemos que, a cada dia que passa, mais aumenta a brecha entre os que detêm conhecimento e os que dele estão afastados.
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" ;+" 2 ! " ! "( "(! "#$=
#" % " $" % %!< " ( F 1 > Inclusão digital é mais do que a oportunidade de acesso aos meios informatizados e à internet. Vai, inclusive, além da capacitação para o uso das ferramentas digitais. É possibilidade de, através do domínio das técnicas e da linguagem deste novo alfabeto digital, resgatar, em grande parte da população dos países não desenvolvidos ou em desenvolvimento, a dignidade do indivíduo, obtendo sua colaboração efetiva para a melhoria da qualidade de vida do meio social em que vive. É, na verdade, a restituição da cidadania a milhões de pessoas que poderão, pelo contato com este novo ferramental, instruir-se, apoderando-se do uso da tecnologia para construir e reconstruir conteúdos e produzir ações e produtos que permitam acelerar a integração de mais indivíduos ao mundo do conhecimento e da informação. Portanto, além de saber como usar o ferramental digital, deve-se capacitar os grupos humanos para saber como usá-lo. A exclusão digital também significa, portanto, não apenas a obstrução ao acesso aos meios digitais, mas ao afastamento destas camadas sociais da real condição de progresso individual, vivenciado no comprometimento com o desenvolvimento dos padrões de existência de sua comunidade.
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" ( F 1 > O projeto Power Line Communication (PLC11) é uma forma barata de se obter conexão com a internet, utilizando-se para isso dos pulsos da corrente elétrica. Esta técnica ainda está em fase experimental e será de grande valia para países como o Brasil onde há oferta de energia elétrica, tornando, por sua vez mais acessível, o ingresso das pessoas na rede mundial. O Brasil 10 Luz para Todos: Programa do Governo Federal iniciado em 2005 para acabar com a exclusão elétrica no País, levando energia elétrica para mais de 12 milhões de pessoas até 2008. (Nota da IHU On-Line) 11 PLC: Power Line Communications. Tecnologia que utiliza uma das redes mais comuns em todo o mundo, a de energia elétrica. A idéia desta tecnologia não é nova, entretanto apenas agora, com novos equipamentos de conectividade a tecnologia, está sendo avaliada por algumas empresas. Ela consiste em transmitir dados e voz em banda larga pela rede de energia elétrica. Utilizando uma infra-estrutura já disponível, não necessita de obras em uma edificação para ser implantada. (Nota da IHU On-Line)
do uso de satélites para o SCD (há 11 locais de cobertura previstos) vai ser validada, já havendo consultoria estudando o assunto. Até 2009, todas as escolas públicas e bibliotecas deverão estar habilitadas para o SCD. (Nota da IHU On-Line)
*
tem pesquisas importantes na área, principalmente nas Universidades e no CPqD12 de Campinas. O Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD13) é uma realidade auspiciosa. Reunindo mais de 1500 pesquisadores, entre mestres e doutores, de 76 universidades e centros de pesquisa brasileiros, integrados em 22 consórcios inter-regionais, inicia seus testes de conceito, a partir de setembro de 2005. O prazo para a entrega final de protótipos e d e todo o sistema está previsto para dezembro deste ano, com a decisão, a cargo do Presidente Lula, em fevereiro de 2006. O projeto tem muitas inovações e estas criações originais – middleware14 -, terminal de acesso, sincronismo de vídeo são propostas criadas nos laboratórios acadêmicos e devem virar verdadeiras commodities para uso por diversos sistemas existentes no mundo. Isso deve tornar o Brasil centro exportador de tecnologia, além de permitir que a população tenha acesso à transmissão digital audiovisual. Na verdade, o Brasil escolheu como objetivos principais para o desenvolvimento de seu sistema de televisão
digital, a universalização dos serviços, pelo Super High Definition (SDTV15) mais simples e barato e que permite a oferta a todos os portadores de aparelho de TV analógico em cores, mesmo que conectado por antena interna. Por outro lado, não se esqueceu de oferecer a quem tem recursos, a opção de acesso ao High Definition Television (HDTV16), que permite a interatividade, grande diferencial da TV digital, ao lado das novas possibilidades de captação de imagens e sons em 3D17 e áudio sourround 5.118.
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" ( F 1 > O rádio pode ir mais rápido. Não se tem em mente o desenvolvimento, como no caso da TV, de um sistema brasileiro. Será possível utilizar, no Brasil, modelos internacionais. Entre os que são oferecidos estão o I-BOC19, norte15
SDTV: Standard Definition TV, ou Televisão com Definição Normal. Em TV digital também existe a possibilidade de transmissão de SDTV: é um sistema com 525 linhas/quadro, com varredura intercalada, 30 quadros e com relação de aspecto de 16:9. O sistema SDTV possui 483 linhas ativas por quadro. (Nota da IHU On-Line) 16 HDTV: High Definition Television, sigla para Televisão Digital ou Digital TV. Sistema que usa uma forma de modulação e compressão digital para enviar vídeo, áudio e sinais de dados aos aparelhos compatíveis com a teconologia, proporcionando, assim, transmissão e recepção de maior quantidade de conteúdo por uma mesma freqüência (canal). (Nota da IHU On-Line) 17 Som em 3D: Também conhecido como som binaural, o som 3D tem o objetivo de proporcionar uma sensação de imersão. (Nota da IHU On-Line) 18 Áudio surround 5.1: A palavra surround denomina o efeito “tridimensional”, que dá a impressão de estarmos no meio da ação do filme. Os formatos de áudio surround são classificados por números, que representam os diferentes canais, ou número de caixas, que o home theater possui. O 5.1 é o mais comum e define o sistema surround típico, formado por cinco caixas acústicas (central, frontal e traseiras), além do subwoofer. Todos os equipamentos de home theater e softwares do mercado são configurados para operar em 5.1. (Nota da IHU OnLine) 19 Rádio I-BOC: In-Band-On-Channel. Tecnologia para o rádio digital adotada nos Estados Unidos. Ao contrário dos demais sistemas, o I-BOC foi concebido para possibilitar a transmissão simultânea dos sinais digitais
12
CPqD: Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações. Ao longo de sua trajetória, o CPqD desempenhou um papel estratégico no setor das telecomunicações. Nos primeiros anos de sua existência, voltou-se prioritariamente para as tecnologias emergentes, pesquisando, desenvolvendo e transferindo para a indústria diversos produtos com tecnologias de ponta. Em 2000, o CPqD passou a participar mais fortemente do mercado internacional, estabelecendo-se no Vale do Silício (EUA), com uma estrutura operacional independente da brasileira, sendo um dos principais provedores de soluções de tecnologia de convergência, ocupando uma posição de destaque no cenário global das inovações tecnológicas. (Nota da IHU On-Line) 13 SBTVD: Sistema Brasileiro de Televisão Digital. Criado pelo Presidente Lula através do Decreto 4.901, de 26 de novembro de 2003. Busca criar uma rede universal de educação à distância e estimular a pesquisa e o desenvolvimento, bem como a expansão de tecnologias nacional, ligada à tecnologia da informação e comunicação são outras de suas metas. O SBTV quer ainda tornar possível a transição do sistema analógico de TV para o digital. (Nota da IHU On-Line) 14 Middleware: Infra-estrutura que visa a interoperabilidade de aplicações de forma transparente, por meio de redes, arquiteturas de sistemas, sistemas operacionais, bases de dados e outro serviços de aplicação. (Nota da IHU On-Line)
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americano, os europeus DAB20 (utilizável em espectro diferenciado) e o DRM21, além do sistema japonês, que trafega no canal 06 VHF de TV. Devemos terminar os testes dentro de alguns meses e nossa opinião é que a digitalização das transmissões devem começar pela AM, que , por certo, deve ganhar muito em qualidade com esta transformação. A rádio deve também ser um instrumento de multisserviços, com a oferta de som digital com qualidade de DVD22, transmissão de dados no display de cristal líquido dos receptores, além de permitir a memorização de programações, sua edição, conexão com a internet, uso de caixa postal eletrônica e emissão de cupons. E quem sabe, muito mais. É só desenvolver. Você não se habilita?
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estudos que estamos iniciando, tendo em vista a implantação do GTI23 referente à Lei geral de Comunicação de Massa. Este processo atende a decreto do Presidente Lula. Nesse sentido, devemos ouvir e construir com os atores diferenciados, os novos cenários negociais e as regras de convivência que permitirão a convergência. Esta é uma tendência mundial, e o Brasil não poderia esperar. Temos prazo de 180 dias para encerrar os trabalhos com uma proposta de anteprojeto de lei a ser encaminhado ao Presidente Lula. Questões como as novas possibilidades de conexão, como o já mencionado PLC, ou mesmo o WIFI24 ou WI-MAX25 ou o sistema – Voz por IP Voip26, as transmissões de conteúdo por celulares, o triple play27 nas transmissões a 23 GTI: Grupo de Trabalho Interministerial. (Nota da IHU On-Line)
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WI-FI: Wireless (sem fio) ou Wi-fi (Wireless Fidelity) é um termo usado para receptores de rádios que começou a ser empregado no Reino Unido logo depois que uma rádio passou a transmitir para outros sinais. Um protocolo de comunicação sem fios desenhado com o objetivo de criar redes wireless de alta velocidade e que não faz mais do que transferir dados por ondas de rádio em freqüências não-licenciadas. É precisamente pelo fato de serem freqüências abertas, que não necessitam de qualquer tipo de licença ou autorização do regulador das comunicações para operar, ao contrário das demais áreas de negócio, o que as torna tão atrativas. (Nota da IHU On-Line) 25 WI-MAX: Norma técnica baseada no padrão de transmissão rádio 802.16, validado em 2001 pelo organismo internacional de normalização IEEE. É desenvolvida pelo consórcio Wimax Fórum. Permite emitir e receber dados nas bandas de freqüências de rádios de 2 para 11 GHz. Teoricamente, o 802.16 oferece um débito máximo de 70 megabits por segundo num alcance de 50 Km. Na prática, isso permite atingir 12 megabits por segundo sobre um alcance de 20 Km. (Nota da IHU On-Line) 26 VoIP: Voz sobre Protocolo de Internet. Telefone por IP, VoIP ou Voz sobre uma infra-estrutura IP é a tecnologia que torna possível estabelecer conversações telefônicas na Internet ou uma rede IP em vez de uma linha dedicada à transmissão de voz, prescindindo da comutação de circuitos e o seu conseqüente desperdício de largura de banda. Esta capacidade permite a redução dos custos de telefone e fax das empresas, pois convergem serviços de dados, voz, fax, e vídeo e também constrói novas infraestruturas para aplicações avançadas de e-commerce (ex., Call center Web). Os programas mais utilizados no Brasil são o Skype e o VoxFone. (Nota da IHU On-Line) 27 Triple play: Solução de convergência entre voz, dados e imagem, em um ambiente de televisão por assinatura,
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" ( F 1 > A questão da convergência de mídias está mais ligada aos dentro da mesma banda, alocada para o sinal analógico da emissora. No modo híbrido, ambos os sinais – o analógico e o digital – convivem dentro do mesmo canal. Na etapa posterior, o sinal analógico seria desativado, tendo-se uma transmissão totalmente digital, ocupando todo o canal. (Nota da IHU On-Line) 20 Rádio DAB: Digital Audio Broadcasting, nomenclatura européia para a tecnologia de rádio digital adotada dos Estados Unidos e conhecida como In-BandOn-Channel (I-BOC). (Nota da IHU On-Line) 21 Rádio DRM: Digital Radio Mondiale. Padrão de transmissão digital, já utilizada na Europa, que amplia as possibilidades de interatividade no rádio. (Nota da IHU On-Line) 22 DVD: Digital Versatile Disc (antes denominado Digital Video Disc). Contém informações digitais, tendo uma maior capacidade de armazenamento que o CD áudio ou CD-ROM, devido a uma tecnologia de compressão de dados. Os DVDs possuem, por padrão, a capacidade armazenar 4.7 Gigabyte (Gb) de dados, enquanto um CD armazena.,em média, 700 Mb. Os chamados DVDs de Dupla Camada podem armazenar o dobro da capacidade de um DVD comum, ou seja, 9.4 Gb. (Nota da IHU On-Line)
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cabo e radiodifundidas e as transmissões por satélite serão alvo destes trabalhos.
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informações e a multiprogramação, as garantias efetivas para que o conhecimento seja um bem universal, a concentração de propriedade dos meios gera um poder inaceitável e, portanto, desequilibra as relações sociais. Estamos atentos a que estas regras possam garantir, como já o preconiza os artigos 221 a 225 da Constituição Federal, a livre expressão do pensamento e o acesso do indivíduo à informação.
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" ( F 1 > A questão da propriedade cruzada é um dos pontos mais importantes a ser discutida na Nova Lei Geral de Comunicação Eletrônica de Massa. Não se pode conceber como igualmente se entende, na maioria dos países desenvolvidos, que um grupo seja detentor de um número excessivo de meios de informação. Além de ferir o senso comum que determina ser o fluxo de principal possibilidade de crescimento para o setor. (Nota da IHU On-Line)
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Para Ricardo Benetton Martins, coordenador de pesquisa sobre TV digital na Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqd), o início da TV digital no Brasil pode demorar ainda algum tempo. Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, ele afirma que “a análise da experiência internacional mostra que são necessários mais de dez anos para que, a partir das primeiras transmissões digitais, ocorra uma implantação completa. Isso em países com poder de investimento e de compra muito maiores que o Brasil”. Benetton é graduado e mestre em Física pela Unicamp e doutor em Física pela Université de Paris XI (Paris-Sud), França. O tema de sua tese é Ciência dos materiais. É organizador do livro Estudo de dispositivos semicondutores por catodoluminescência. Campinas: Unicamp, 1989. frentes e de forma simultânea: uma holística, abrangente, procurando responder às questões não-tecnológicas, como, por exemplo, o modelo de serviços e negócios associado à implantação da TV digital no Brasil e os impactos que esses podem trazer à sociedade; a outra, focada nas provas de conceito de diferentes tecnologias habilitadoras desses serviços. Tanto as tecnologias habilitadoras quanto as formas de exploração dos serviços e negócios têm como base os modelos e sistemas internacionais, respeitando-se as particularidades do Brasil.. Uma visão do trabalho de levantamento das experiências internacionais pode ser obtida no documento Panorama Mundial da Implantação da TV Digital Terrestre, elaborado pelo CPqD, homologado pelo Grupo Gestor e disponibilizado no site do SBTVD (www.mc.gov.br). Quanto à
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8 > O Projeto do Sistema Brasileiro de TV Digital SBTVD - visa a discutir, em sua fase inicial (até fevereiro de 2006), as alternativas de exploração – e seus respectivos impactos de ordem tecnológica, econômica, social e regulatória para inserir a televisão digital terrestre no País. A proposta de desenvolvimento tecnológico pretende avançar com base nos sistemas e padrões já existentes, buscando aperfeiçoar ou customizar os sistemas que estão em operação ou pré-operação comercial. O SBTVD atua, portanto, em duas grandes
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situação do projeto SBTVD, entre 10 de dezembro de 2005 e 10 de janeiro de 2006, as respostas tecnológicas serão confrontadas com as necessidades advindas da análise cultural, social e econômica, em fase de consolidação pelo Grupo Gestor, para que seja elaborado o chamado Modelo de Referência para o Sistema Brasileiro de TV Digital. "
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tanto das produtoras de conteúdo e emissoras quanto dos cidadãos. Nesse último caso, em especial, o projeto SBTVD é citado pela Comunidade Européia como uma abordagem a ser observada, pois trata a interatividade e a inclusão social como elementos importantes no processo de difusão dessa nova tecnologia. A viabilidade tecnológica pode ser analisada sobre dois aspectos: a viabilidade de se desenvolver as tecnologias no Brasil e a viabilidade de se ofertar essas tecnologias. Ambas as questões, a exemplo da implementação, fazem parte dos estudos que compõem o Modelo de Referência, ou seja, só se pretende encaminhar ao governo, na figura do Comitê de Desenvolvimento, tecnologias que se mostrem viáveis tanto do ponto de vista da produção industrial quanto da comercialização, envolvendo, nesse estudo de viabilidade, os aspectos logísticos em toda a cadeia produtiva, desde os fornecedores de insumos até a distribuição e manutenção dos produtos e serviços ofertados.
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8 > A implantação da TV digital no Brasil é parte do Modelo de Referência. Estamos trabalhando com cenários que consideram uma variação de um a três anos para o desenvolvimento e adaptação das tecnologias habilitadoras e dos serviços e mais de uma década para se completar a implantação. Ou seja, pode-se iniciar a transmissão digital já no final de 2006 ou em 2008, dependendo do que será desenvolvido no Brasil e da estratégia para o plano de implantação. Esperamos que, nos próximos meses, o governo, na figura do Comitê de Desenvolvimento do SBTVD, defina valores e prazos para que o desenvolvimento e a implantação alcancem os objetivos explicitados no Decreto 4.901, de 23 de novembro de 2003. De qualquer forma, a análise da experiência internacional mostra que são necessários mais de dez anos para que, a partir das primeiras transmissões digitais, ocorra uma implantação completa. Isso em países com poder de investimento e de compra muito maiores que o Brasil. Nos países do leste europeu, por exemplo, a implantação da TV digital terrestre está em um estágio inicial, pois há muita dificuldade em se imaginar como viabilizar os investimentos necessários,
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8 > No caminho para democratização da informação, o Sistema de Televisão Digital Terrestre Brasileiro, de acordo com o decreto 4.901, deverá permitir ao cidadão, independente de sua condição socioeconômica, o acesso à tecnologia digital e aos serviços a ela associados, a partir do sinal de tevê aberta. Assim, mesmo que o mercado siga o seu caminho, digamos natural, iniciando a transição pelos cidadãos de maior poder aquisitivo e pelas emissoras das cidades com maior índice de poder de compra, o governo, ao definir os modelos de exploração e de implantação, pretende favorecer a oferta de serviços que incluam *B
a cultura digital, naquele que é o maior veículo de informação desse país, bem como a implantação nas classes de menor poder aquisitivo e nas regiões menos atraentes para as emissoras comerciais. Para tanto, é importante que o usuário final dos serviços possa dispor de um terminal simples e de baixo custo para estimular a adesão aos serviços. Assim, a introdução da TV Digital no País não deve ferir os princípios de acessibilidade e universalização, que já se consolidaram nos serviços de radiodifusão, cabendo aos receptores digitais (Unidades Conversoras) preços compatíveis e aplicações atinentes com a realidade socioeconômica da população que tem a televisão como principal meio de informação e entretenimento. " B+!# #'
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8 > Os serviços podem ser separados em distribuição e interativos. Os serviços de distribuição seriam os programas em alta definição e em formato 16:9, ou em definição standard e em formato 16:9 ou definição standard e em formato 4:3, o último muito parecido com o que já possuímos hoje a menos da qualidade de recepção, que, se bem trabalhada, vai melhorar muito, e da possibilidade de se oferecer até quatro programas diferentes em um mesmo canal. Esses serviços mudariam muito pouco o hábito de se ver televisão, mesmo que a melhoria na qualidade de imagem seja sensível, o ato de ver televisão continuará, em essência, a ser o mesmo. Além desses serviços, as aplicações que usariam a interatividade local - sem necessidade de um canal de interatividade - como informações extras sobre o programa que está sendo distribuído ou escolha de um ângulo de câmera, acrescentariam novas possibilidades, mas ainda mudando muito pouco o ambiente de fruição. A situação começa a ficar um pouco mais sofisticada e diferente quando se inserem os serviços que fazem uso do chamado canal de interatividade. Esses serviços, por sua vez, podem ser separados em comunicação, como mensagens e correio eletrônico;
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trazer consigo a filosofia da Internet e seu uso no computador pessoal, mas, sim, serem compatíveis com um ambiente de fruição em grupo (familiar), uso de controle remoto e uma tela de menor resolução que a de um computador.
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8 > Para que se possa usufruir os serviços e aplicações de TV digital, é necessário um terminal compatível com a informação digitalizada, ou seja, um televisor completamente digital, ou uma unidade conversora que a transforme em analógica para poder ser usufruída em um televisor comum. Quem possui TV por assinatura em casa já sabe o que é um equipamento conversor dessa natureza. A sua arquitetura é muito próxima a de um computador bastante simples, acrescido de um receptor de sinal digital e de saídas analógicas de áudio e vídeo. Há nele um hardware e um software para o processamento dos sinais e informação digitais, possibilitando o seu uso pelo espectador. Esse software é um dos requisitos fundamentais para a fruição dos serviços digitais. Esses serviços e aplicações devem ser adaptados ao ambiente televisivo, ou seja, não devem *7
entretenimento e informação, como participação em programas e jogos online; e transação, como t-commerce, tbanking, apostas, jogos ou demanda por evento. Nesse caso, os investimentos, seja pelo lado das emissoras e provedores de conteúdo, como pelo lado dos cidadãos aumentariam, pois os equipamentos e softwares necessários terão que ser mais sofisticados, se bem que o ambiente de fruição se tornaria uma nova experiência. Imagine, por exemplo, uma votação ou aposta. Os espectadores terão que negociar em que, ou em quem votar ou apostar, exercitando uma mediação familiar que pode agregar novos conceitos na experiência de se “assistir”a televisão. Nessa nova configuração, acredito que a experiência televisiva possa ser, realmente, inovadora em sua essência. "
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decide”, mas não somente o final, toda uma nova trama se desenrolando a partir de escolhas feitas ao longo do programa. Ou ainda, tramas observadas por diferentes protagonistas, citando apenas algumas das idéias que já vi ou ouvi a respeito. É claro que algumas condições do modelo de negócio atual teriam que ser alteradas para dar vazão a estas alternativas. É difícil imaginar como pagar alguns atores de grande popularidade para realizar duas ou mais versões de um mesmo programa, ainda mais se a receita para o programa não for maior graças a essas possibilidades. Apesar disso, é fato que a produção de conteúdo fica mais accessível, dependendo muito mais das possibilidades de escoamento que de produção. O conteúdo digital viabiliza conceitos totalmente inovadores, trazendo possibilidades para a chamada mídia participativa, como, por exemplo, o eyepod. Ou seja, o uso do ipod para troca e envio de vídeos além de mensagens, músicas ou fotos. (http://www.technologyreview.com/articl es/05/08/wo/wo_080505hellweg.asp). O importante é que todas essas possibilidades têm forte relação com a efetiva apropriação das tecnologias habilitadoras. Cabe a nós, brasileiros, decidirmos se seremos seguidores ou líderes nessa nova possibilidade de mudança cultural e tecnológica.
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8 > A questão da produção de conteúdo digital. Esse aspecto é tão ou mais relevante que todos os demais que discutimos acima. É difícil imaginar as possibilidades e os novos conceitos que podem ser explorados pelos produtores de conteúdo quando pensamos em conteúdo interativo ou não-linear, por exemplo. Programas com diferentes evoluções, em função das escolhas dos espectadores, algo como um “você
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9 Candidato à presidência nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) Plínio de Arruda Sampaio questiona a maneira de o Presidente Lula governar o País. Em entrevista por telefone à IHU On-Line desta semana, o advogado e economista fala sobre conjuntura política, sem poupar críticas ao governo federal e ao atual comando do PT. A respeito da recente reforma ministerial é direto: “Ministro tem de ser uma liderança, uma referência, não simplesmente uma forma de
conseguir votos no Congresso”. Sampaio é um dos fundadores do partido e ex-deputado federal constituinte. Especialista na questão fundiária no Brasil, participou, antes de 1965, da construção do Partido Democrata Cristão (PDC). Trabalhou durante 30 anos na FAO (órgão da ONU voltado para a agricultura e a alimentação). IHU On-Line entrevistou Plínio de Arruda Sampaio nas edições número 70, de 11 de agosto de 2003, e 79, de 13 de outubro de 2003. Dele, também publicamos e uma entrevista na 150ª edição, de 8 de agosto de 2005. Confira, a seguir, a entrevista concedida por ele.
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parlamentares e até ministros do governo, é de muita gravidade mesmo. A raiz dela é uma enorme decepção política, uma enorme surpresa política decorrente do fato de que você tem um presidente e um partido que sobem ao governo com uma história e um programa que representam 25 anos de trajetória. E esse governo
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) " 9 – É uma crise política que está adquirindo contornos de crise grave, institucional. Estão sendo publicados atos de irregularidades muito fortes, atingindo
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executa uma política completamente distinta dessa história. Isso provocou uma ruptura grande na unidade do partido. Isso se reflete nessa dificuldade atual. "M 3"% %
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) " 9 E O pedido foi fraco, não esclareceu muita coisa. Foi um pouco retórico, sem convicção. Eu acho que o Lula não está se posicionando bem. Deveria ser mais firme, ter tomado providências mais severas. É onde está o erro. A idéia dele de defender o governo e sua política econômica a qualquer custo é um erro gravíssimo. As irregularidades que vemos hoje são decorrentes da política econômica adotada pelo governo. Essa política que exige uma governabilidade baseada no Congresso Nacional, na qual tem que se entender com esses partidos que vieram a contaminar o próprio Partido dos Trabalhadores (PT). " M B+!# #" !2
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) " 9 E A experiência não é bem essa. Os argentinos acabam de fazer isso. Desvalorizaram a dívida em 80%, só começaram a pagar depois do acordo e estão crescendo mais do que o Brasil. Não consigo pensar em uma represália que seja tão devastadora a ponto de impedir essa suspensão. Por outro lado, tem também o aspecto da soberania da nação. Não se pode viver sob ameaça. Assim o Brasil não é uma nação, é uma colônia.
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) " 9 E Lula deveria ter modificado o governo já na época do escândalo do Valdomiro Diniz. Mas, sobretudo, deveria ter modificado a política econômica. Essa política dá como resultado esse tipo de quadro político e seu sistema de alianças. Agora acabou de fazer uma reforma ministerial. Só que tenho certeza que ninguém sabe o nome dos novos ministros. Figuras absolutamente opacas, indicadas pelos partidos sem qualquer referencia na sociedade. Não é possível, ministro tem de ser uma liderança, uma referência. Não
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) " 9 E Vai depender do andar das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). Até agora, não tem nada de concreto nessa linha. Se houver indício da participação do Presidente em qualquer ilegalidade, vai estar configurada a situação do impeachment. Isso depende das investigações. " M O+ $ (2 3",!
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) " 9 E Eu defendo a tese de que a maioria do diretório, os dirigentes da chapa majoritária, não tem condições políticas de dirigir o partido. Demonstraram enorme incompetência. Deveriam sair todos. Com isso, seria possível reconstruir penosamente uma imagem construída em 25 anos e arrebentada em menos de 15 dias.
) " 9 E É uma tragédia. Até certo ponto da vida do PT, até 1995, o partido polarizou a luta de classes. Eram todos e o PT. Depois, com a ampliação de alianças, com o programa mais adocicado, aconteceu essa confusão. Hoje é difícil dizer que o PT polarize a defesa dos trabalhadores.
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) " 9 E A palavra refundação virou uma espécie de panacéia. Tarso Genro fala em refundação, Cristovam [Buarque] fala em refundação. Eu não estou pensando em refundar o PT , mas quero, sim, trazer o partido para ser o que era antes. O que precisamos é voltar à proposta original do partido que foi distorcida pelo grupo que tomou conta do PT há dez anos. " M !(! %
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) " 9 – O desempregado é um trabalhador na condição presente da falta de emprego. Não é um comerciante, um empresário. A denominação é muito correta. Indica claramente a natureza do partido, que busca polarizar a luta de classes contra o pólo capital. " M #" .
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) " 9 E Tenho uma posição de oposição a essa direção há mais de dez anos. Declarei que isso iria acontecer em 1998. Sou contra a campanha feita por meio do marketing político. É um expediente para dourar a pílula. E a pílula do PT não é fácil de ser dourada. Se você oferece a pílula dourada e, depois, demonstra o que é, acontece um choque violentíssimo. Para não haver esse choque, a pílula acabou, na verdade, sendo modificada. O exemplo mais típico é a reforma agrária. Na cabeça de todo mundo, até dos adversários, estava a idéia de que o PT faria a reforma agrária. A minha proposta de Plano Nacional de Reforma Agrária (em 2003) foi entregue ao Presidente e ele cortou-a pela metade com a alegação de falta de recursos. A proposta era de assentarmos um milhão de famílias em quatro anos. Essa meta foi reduzida pela metade e nem isso está sendo cumprido. Hoje, temos ainda 130 mil famílias acampadas na beira de estradas e em terras ocupadas. "M # 3 #0
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precisam de tempo para perceber que realmente houve uma mudança completa de rumos. Todo mundo quer salvar a figura da liderança porque tem uma afeição grande por ela.
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A série Brasil em Foco traz, nesta edição, uma entrevista com o professor Aloísio Ruscheinsky, do PPG em Ciências Sociais Aplicadas da Unisinos. Na conversa que teve com a redação da IHU On-Line, em seu gabinete, na última semana, o professor fez uma breve análise sobre a crise política brasileira. Graduado em Filosofia e em Ciências Sociais, Ruscheinsky é mestre em Ciências Sociais, pela PUC-SP e doutor em Sociologia pela USP, tendo sua tese o título Partido político e movimentos sociais. O professor é autor, entre outros, dos livros Metamorfoses da cidadania. São Leopoldo: Unisinos, 1999; Atores sociais e lutas políticas. Porto Alegre: Edipucrs, 1999; Associativismo na invenção da modernidade. Rio Grande: Editora da FURG, 2000. É também organizador de Educação Ambiental: múltiplas abordagens. Porto Alegre: Artmed, 2003; Sustentabilidade: uma paixão em movimento. Porto Alegre: Sulina, 2004. O professor também é autor do artigo Os novos movimentos sociais na luta pela água como direito humano universal, publicado no livro Água: bem público universal, organizado por Inácio Neutzling. São Leopoldo: Unisinos, 2004.
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" ) 8 1 GH E Existem fatores e sintomas pelos quais podemos inferir que há uma outra crise política no País, para além de outros problemas históricos de nossa frágil democracia: que democracia se estabelece quando,
aproximadamente, metade de população se situa na condição de vulnerabilidade social? Para a análise da conjuntura, devo fazer duas interrogações: Que democracia é esta que converge para o empobrecimento da maioria da população e, ao mesmo tempo, gera uma acumulação de capital ou uma ímpar concentração de renda? A quem serve a análise que faço da conjuntura nacional? Sendo assim, em primeiro lugar, não imagino que essa crise em curso no
cenário nacional seja somente pertinente a questões relacionadas ao governo federal atual. Considero que o sistema eleitoral possui sintomas, que caracterizam uma crise de legitimidade, de longa data e que não foram resolvidos devido a interesses obscuros e por uma série de remendos procedimentais que têm sido realizados. Em segundo lugar, o fato de se atrelar o atual governo a uma política econômica sem sintonia com as questões sociais também é fator da crise política existente e que, por sua vez, sua origem é concomitante com o início da gestão. A terceira questão refere-se a um fenômeno recente e que classifico como a transformação de procedimentos políticos em espetáculo, para não dizer um cenário circense. No caso, trata-se de compreender a forma como a oposição e os meios de comunicação conseguem fazer da política um espetáculo, no qual se entrelaçam as linhas do poder e, portanto, constrói-se um palanque para a soberba de muitos. A quarta questão: imagino que a crise política que desemboca e leva ao despencar da legitimidade do governo começou nesse momento de denúncias de corrupção eleitoral. Nessa perspectiva, fatores preponderantes quanto à origem dos vícios: desde o início do seu mandato ou até antes da sua eleição, em relação ao que diz respeito a alianças cujo custo simbólico, ideológico, político e econômico que agora é desvelado. A quinta questão diz respeito à continuidade da política econômica do governo anterior, considerada perversa para a resolução de problemas sociais agravados, orgulhando-se de superávit primário na economia e déficit social, lucros fantásticos aos banqueiros e subserviência ao capital financeiro nacional e internacional. Em suma, poderíamos afirmar que existem duas grandes perversidades em questão: a
ausência de uma gestão ousada, forjando um projeto diferenciado do ponto de vista do combate ao desemprego, à pobreza e à exclusão, bem como uma pequena parcela de contraventores na base de sustentação de um governo. Esses são fatores importantes para analisar o quadro nacional e perceber como se situa uma das faces das muitas crises que assolam a nação. "
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" ) 8 1 GH E Considero que esse pedido de desculpas aparece como um tropeço no percurso. É claro que condenar um aliado sempre é algo penoso, se bem que, no próprio governo, há dificuldades para dimensionar essa questão. Até porque apenas uma fatia do quadro partidário está no governo e envolvida com essas questões à margem da lei, e o Presidente tenta manter uma certa distância para se preservar. Imaginar que todo o PT tenha rompido com princípios éticos seria um equívoco de análise. Não só a direção nacional está envolvida, mas, ainda assim, é um setor que está contaminado, pervertido, pela lógica de tomar o poder a qualquer custo. Parece que o Lula ainda está aguardando o desfecho de todas as denúncias que virão à tona. De outro lado, há denúncias diante das quais o cidadão comum não sabe exatamente se tem algum fundamento ou se somente integram parte do espetáculo. Essa é uma questão difícil de avaliar em toda a sua extensão, todavia é evidente que há casos de rompimento com a questão legal, por meio de financiamentos ilícitos. Creio que a oposição, além de condenar a corrupção, pretende, efetivamente, derrubar o
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palanque de um presidente e de suas possibilidades para as próximas eleições. Isso integra o pano de fundo das suas iniciativas e a amplitude do espetáculo armado. Tanto que a maioria dos possíveis candidatos à presidência não está nos holofotes das denúncias. " "# %" $"
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divergências têm se manifestado claramente. Por outro lado, muito se tem dito em análises pelos meios de comunicação sobre a estabilidade e a maturidade da nossa democracia. Todavia, em países como a Argentina e o Equador foram derrubados dois presidentes sem alterar regras do jogo e, em outros países, também um, como no Brasil, porém pouco se alterou o descontentamento como os parâmetros da estabilidade liberal vigente, especialmente porque não se verificaram mudanças na qualidade de vida. É necessário enfatizar a urgência de dar um basta à impunidade, tanto quanto reconhecer que isso é apenas uma parte do caminho ou ainda é insuficiente para uma democracia social, com mudanças na cultura política.
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2 3"!0.2 3"!0.2 " $< ) 8 1 GH E A situação poderá se tornar insustentável, na medida em que a oposição se convencer de que o afastamento do cargo é uma melhor alternativa do que ter um presidente ainda que enfraquecido. Neste momento, os setores de oposição dos partidos políticos e da sociedade, ainda imaginam que é melhor um presidente enfraquecido do que um presidente afastado, pelos tumultos que isso poderá provocar na sociedade e na economia. Não vejo uma oposição firmemente convencida de que, mesmo tendo suposições e dados dos correligionários do Presidente, o impeachment seja uma melhor alternativa para seus interesses políticos, até porque pretende também preservar o seu espaço político e garantir certa credibilidade diante do eleitorado. Fato interessante se manifesta no Congresso onde os setores mais a esquerda e da direita parecem afinar discursos. A insustentabilidade do governo pode vir mais das ruas do que do Congresso Nacional e é preciso saber se setores sociais de perfil ideológico mais conservador se dispõem a ir para uma manifestação de rua. Por enquanto, das ruas ainda não se tem visto uma lógica predominante de consenso. Pelo contrário, as contradições e as
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3 %" ! + %"8" ! 0."6! < " ) 8 1 GH E Em toda a sociedade democrática, a presença da corrupção se dá justamente pelas múltiplas injunções e conexão entre sociedade e Estado. Se há corrupção na iniciativa privada, ela também vai se transferindo, pelas diversas vias, como em uma rede, para as esferas do Estado, ou vice-versa. A corrupção no interior do Estado não é isolada, jamais se sustenta somente nas suas entranhas. Existem tantas formas de corrupção vigentes na sociedade, na iniciativa privada, como é a sonegação de impostos, o contrabando, as diversas formas de contravenção que também corroem a legitimidade, a democracia e a cidadania no Brasil. A questão consiste não somente em constatar que existe corrupção, mas também em tentar compreender por que existe e subsiste, para além das questões
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de procedimentos e regras. Quando falamos de limpeza interna, temos a impressão de que existe um produto que asseie um ambiente infectado ou um paradigma ético predeterminado para a ação de limpeza. Esse é um maniqueísmo difícil de ser implementado, por mais que seja importante realizar a defesa de regras do jogo. De qualquer forma, existem setores no governo que têm contato com a ilegalidade, que desonram a maioria dos seus eleitores. A dita limpeza interna é um processo complexo, mas efetivamente necessário e urgente. Para começar, ela deveria atingir aqueles que foram indicados como tendo utilizado de forma irregular recursos para suprir débitos com campanhas eleitorais. Pelo que eu saiba, em todas as democracias atuais, vige o problema do financiamento eleitoral ou, mais ou menos presente, a pressão da iniciativa privada para garantir fatias nas decisões governamentais. Outro mecanismo interessante seria a possibilidade de modificar os procedimentos e a cultura política também de tantos outros setores do interior do Estado, mesmo os não-eleitos como funcionários de carreira entre outros. Mas é difícil traçar a lógica desta via ou como se faria essa tarefa gigantesca, porque não seria só no Executivo, mas também no Judiciário e no Legislativo onde tantas vezes a lógica privada ou a omissão se sobrepõe à dimensão pública. Se bem que estou sendo perguntado sobre o ponto inicial e a abrangência de uma limpeza e, por isso, mencionei o conjunto da esfera pública e meus desapontamentos quanto às analises que consideram suficiente a obediência às regras procedimentais e a estabilidade sem justiça social.
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história do século XX, a esquerda tem cometido diversos equívocos, quanto à relevância da democracia interna dos grupos organizados, à confluência de atores para implementar uma agenda cultural e política alternativa, às formas de consolidar hegemonia e legitimidade no regime democrático. No início do governo Lula, eu temia que o seu desempenho pudesse vir a ser similar a governos na América Latina nas duas últimas décadas, que também se afirmavam de esquerda, com amplo respaldo popular, mas que tiveram um triste fim quanto aos seus propósitos contidos em suas plataformas eleitorais. Isso porque não conseguiram traduzir, na prática política, uma agenda alternativa em relação àquilo que os governos liberais ou conservadores já haviam demonstrado. Temos que nos perguntar quais seriam os parâmetros para uma suposta refundação da esquerda. Seria mais democrática, social, cultural, ecológica, anti-sistêmica? Existem muitas possibilidades e alternativas cuja viabilidade a prática haverá de provar. Toda a esquerda, na medida em que não se renova, se fossiliza. Os pontos para sua refundação poderiam ainda se ater à questão ambiental ou ao desfio de equilibrar acesso ao consumo sem degradação ambiental, à ampliação da
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cidadania, à mudança na cultura política, à política de distribuição de renda e à questão de como, efetivamente aliar os trabalhadores do mercado formal e informal. O senador tem razão ao afirmar que hoje nenhum partido político tem o monopólio das bandeiras da justiça social, da ética na política, das alternativas viáveis às desigualdades sociais vigentes. De siglas que se consideram à esquerda do PT, dificilmente, poderá sair algo de novo no horizonte político devido a velhos vícios que estes carregam, entre os quais citaria a ortodoxia, o autoritarismo e o sectarismo. Portanto, está aberto o dilema de onde poderia brotar um novo sonho que acalenta o empenho dos cidadãos, se este não vai sair de nenhum dos partidos de esquerda que hoje existem. " 3
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muito expressivo. Outro ponto seria incorporar a dimensão ambiental nessa perspectiva, porque não é possível produzir progresso a qualquer custo ou a inserção no mercado com a degradação progressiva e irreversível dos recursos naturais, porque o preço que hoje já estamos pagando pela degradação ambiental é muito elevado, sinceramente é uma irracionalidade cultural e será tanto mais elevado quanto mais insistirmos na satisfação com o superávit primário. E este é outro grande equívoco do governo atual. Então, diria que as prioridades ainda seriam a educação, a prática política mais adequada para o meio ambiente e o combate à pobreza com geração de trabalho.
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" ) 8 1 GH E Nos movimentos sociais, a pluralidade política se manifesta claramente na atual conjuntura. Parte do MST, do sindicalismo, como a CUT, está apostando que a alternativa vigente no governo federal ainda é a melhor alternativa entre as outras possíveis. Por isso, ocorrem as manifestações de rua e um parcial apoio do MST ao governo federal. Por outra, ainda permanece de pé a mágica de um operário na Presidência da República.
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" ) 8 1 GH E Nessa plataforma de prioridades, precisamos ainda de uma revolução no que diz respeito à qualidade da educação do ensino fundamental e alargamento do acesso ao universitário. Embora nossa economia tenha ainda um bom desempenho quanto aos índices de desigualdade social, do ponto de vista da preparação da mão-de-obra, especialmente de quem está na informalidade, temos um déficit social
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Publicamos novamente o artigo de autoria de Cesar Sanson, pesquisador do CEPAT e da coordenação da Escola de Formação Fé e Política no Paraná, uma parceria do Regional Sul II da CNBB e do CEPAT. Na última edição, em função de uma falha interna, o artigo foi publicado sem as notas de rodapé. IHU On-Line reconhece a importância da discussão trazida por Cesar Sanson e repercute o artigo com a publicação de mais dois textos que dialogam com o primeiro. O primeiro foi escrito pelo sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para o Setor Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e professor na Universidade Católica de Brasília. Ele fala dos assuntos de análise de conjuntura na CNBB. Graduado em Sociologia, Pedro Ribeiro obteve mestrado e doutorado em Sociologia pela Université Catholique de Louvain, na Bélgica. É autor de, entre outros, Religião e dominação de classe. Petrópolis: Vozes, 1985; Reforçando a rede de uma Igreja missionária. São Paulo: Paulinas, 1997; Fé e Política: fundamentos. Aparecida: Idéias & Letras, 2004. O segundo artigo é de autoria Ivo Lesbaupin, sociólogo e professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Graduado em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, é mestre em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e doutor em Sociologia pela Université de Toulouse-Le-Mirail, da França, com a tese intitulada Movimento popular, Igreja Católica e Política no Brasil: aporte das Comunidades Eclesiais Urbanas de Base aos Movimentos Populares. Lesbaupin é autor e organizador de diversos livros, entre os quais citamos Igreja, Movimentos Populares, Política no Brasil. São Paulo: Loyola, 1983; As Classes Populares e Os Direitos Humanos. Petrópolis: Vozes, 1984; Igreja: Comunidade e Massa. São Paulo: Paulinas, 1996; O Desmonte da nação: balanço do governo FHC. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. Leia, a seguir, os três artigos:
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estamos nós, a base, os oprimidos, os justos, os éticos, os bons. Será que a Igreja da Libertação não errou ao fazer análises políticas por demais simplistas, transpondo categorias bíblicas sem nenhuma mediação sociológica? Será que não faltou uma exegese mais apurada e rigorosa dos textos bíblicos, capaz de dar conta da complexidade da sociedade contemporânea? A impressão que se tem, lendo alguns teólogos quando falam de política, é que basta ser cristão para se estar livre dos perigos mundanos, do lado sujo da política. O fato de ser originário das CEBs, de uma pastoral, parece conferir a virtude da ética como um atributo natural, inquestionável. E agora que militantes cristãos, originários de grupos de base da Igreja, das CEBs, das pastorais, aparecem envolvidos em denúncias que causam mal-estar, como ficam as virtudes “naturais” dos cristãos, particularmente da mística e da ética, de que fala Boff?
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A afirmação de Leonardo Boff de que “os igrejeiros constituem hoje uma fonte onde o PT renovado poderá e deverá beber”28, precisa ser discutida. Por “igrejeiros”, entendam-se os cristãos, os quais, como afirma Boff em seu artigo, foram uma das forças que estiveram na origem do PT junto com os que vieram da luta armada e os sindicalistas -, e ajudaram a fundá-lo, porque viram nele um poderoso instrumento de transformação social. Os cristãos deram, na opinião de Boff, duas contribuições notáveis ao PT: a mística e a ética e, segundo ele, “estas duas contribuições são fundamentais nesse momento crítico em que quadros do PT, em face da corrupção de vários de seus dirigentes, pensam em refundar o partido”. Será que insinuar, como o faz Boff, que os cristãos se constituem hoje em reserva ética do PT é correto? Será que nós, os cristãos que atuávamos, e, muitos continuam atuando, não precisamos realizar também uma duríssima autocrítica? " '
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5 ) $ Será que a Igreja da Libertação não falhou na contribuição de uma formação política que desse conta da complexidade do mundo da política? A Igreja da Libertação sempre motivou os cristãos para que assumissem a política, porém quantos não são os cristãos que se perderam no pesado jogo da política por falta de clareza teórica e compreensão da sua complexidade? A capitulação de muitos diante da lógica do poder e mesmo da lógica do modelo econômico, não traduz a ausência de um projeto político? Por que tantos, ao chegarem ao poder, aceitaram passivamente o programa neoliberal, fazendo com que o neoliberalismo seja hoje o arrimo de Lula, que o mantém no poder? O Brasil de Lula se converteu em
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Comecemos pela Igreja da Libertação de que fala Boff. A iniciação dos cristãos no mundo da política se fez por meio das CEBs, dos círculos bíblicos, das pastorais, como bem lembra Boff. Mas será que essa iniciação não foi insuficiente, redutora? Será que também ela não tem a sua parcela de responsabilidade, na medida em que ela se contentou em oferecer uma iniciação simplista e maniqueísta? De um lado, estão os maus, os opressores, os patrões, os poderosos, os corruptos. De outro lado, 28
Leonardo Boff, PT, religião e ética, Jornal do Brasil, 12-8-05. (Nota da IHU On-Line)
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Protagonistas29. Foi um processo riquíssimo que envolveu milhares de pessoas, com uma metodologia inovadora. Foi uma aposta corajosa para se pensar novos caminhos para o País num período de crise de projetos. A 2ª Semana Social Brasileira, uma iniciativa dos cristãos, com suas centenas de propostas e idéias para o Brasil, abriu a possibilidade de uma efetiva contribuição ao debate. Infelizmente, porém, não tivemos capacidade de dar continuidade a esse debate. O resultado mais concreto da Semana Social foi o surgimento do “Grito dos Excluídos”, que se realiza anualmente. Quem “assumiu a bandeira da Semana Social, que levou adiante, que entendeu o que estava em jogo na Semana, o que estava sendo discutido, foi o MST, que vai liderar uma série de movimentos sociais com a idéia da “consulta popular”30. As pastorais sociais não se deram conta de que essa iniciativa era extremamente inovadora, exatamente porque se tratava de contribuir com o conteúdo político de um projeto, de adensar o PT. O que se vê hoje é a rendição ao pensamento único. Também é pertinente a seguinte indagação: Por que os teólogos da libertação, os assessores, as lideranças de ponta do mundo da Igreja da Libertação não assumiram essa proposta? Por que não jogaram pesado, para que, de fato, a participação dos cristãos no debate político fosse mais efetiva e eficaz? Depois chamamos os cristãos petistas de “militontos”, como o faz costumeiramente Frei Betto, de “carregadores de piano”. Mas é evidente
um terreno sem debates, afirma Cristovam Buarque . Os poucos que ousaram criticar foram afastados. Essa ausência de debate manifesta algo mais grave. Na verdade, há muito tempo o PT abdicou do debate político. Nesse contexto, cabem duas perguntas para nós, cristãos: Qual foi a verdadeira contribuição que demos ao debate na formulação de um projeto político de nação? Qual foi a verdadeira contribuição da Igreja da Libertação, de que fala Boff, para responder aos desafios e à complexidade da realidade nacional? A ética e a mística não se constituem em um projeto político, auxiliam, mas são insuficientes. O projeto político de nação exige estudo da realidade, conhecimento, debate, elaboração teórica, formulação de idéias. No entanto, para nós, muitas vezes, caricaturizando, bastou ler o livro do Êxodo. Moisés, libertando o povo das mãos do faraó, parecia nos dispensar de uma análise que desse conta da complexidade da política. Assim, emerge a pergunta que nos incomoda: Será que nós, cristãos, também não trocamos um projeto de nação por um projeto de poder? " Precisamos assumir a nossa incapacidade de, como cristãos, contribuir para que o PT avance verdadeiramente num projeto de país, de nação. Não é apenas com a mística e com a ética que isso se faz possível. Essa possibilidade existiu, mas abdicamos, interrompemos um rico processo. Em 1992, as pastorais sociais iniciaram uma fantástica experiência, a organização de um grande debate sobre o Brasil que a gente quer. Essa iniciativa culminou, em 1994, com a 2ª Semana Social Brasileira - Brasil: Alternativas e
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Sobre a 4ª Semana Social Brasileira conferir o Boletim CEPAT Informa n. 111, jul. 2004, p.322 (2ª Semana Social Brasileira. Um projeto para o Brasil). (Nota do autor) 30 Conferir entrevista com Inácio Neutzling no Boletim CEPAT Informa n. 111, jul. 2004, p.322. (Nota do autor)
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que, quem não contribui e não se impõe com o debate, com qualidade e conteúdo, fica na esfera do serviço, tarefa digna, porém insuficiente na verdadeira ótica libertadora. A incapacidade dos cristãos em participar, efetivamente, do debate político do País é notória. Basta perguntar qual é a liderança cristã que, nesses últimos dez, quinze anos, emergiu da Igreja da Libertação com capacidade de enfrentar o debate político? Quando se fala em cristãos e a contribuição no debate político, um dos poucos nomes que surge é o de Plinio de Arruda Sampaio. Mas, Plinio é da geração anterior de cristãos, da geração dos anos 50, 60, do século passado. ' /
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O problema da fragilidade dos cristãos no debate de conteúdo do projeto político está relacionado à iniciação que receberam da Igreja da Libertação de que falávamos no início. O discurso religioso da Igreja da Libertação tem algo de demasiado messiânico, na medida em que coloca como horizonte o Reino de Deus, a busca de uma terra sem males. Sendo assim, todo caminho que aponta para a redenção final leva a uma atitude, “é por aqui que vamos”, sem pestanejar. Foi assim com o PT. Todos embarcamos com enorme boa vontade. Não está em discussão essa opção. O problema é que apenas a boa vontade não basta. A boa vontade é edificante, mas insuficiente. Os cristãos sempre foram reconhecidos por sua abnegação, pelo seu espírito de sacrifício, por sua impressionante disponibilidade em contribuir nas tarefas, por sua perseverança, tenacidade, humildade – o poder é para os outros, os mais bem preparados intelectualmente. No que deu isso? Numa relação de
subserviência às orientações que vêm dos estrategistas, dos que pensam e formulam. O discurso do Reino de Deus, da redenção final a que estamos predestinados, tão forte nas CEBs e pastorais, necessita de uma formulação crítica. Esse discurso empobreceu as mediações necessárias, tornou menos importante a reflexão no que concerne à complexidade social. O importante passou a ser a ação. Essa, sim, é eficaz, é transformadora, é libertadora. O importante é o agir. O cristão que não milita, não é um cristão eficaz. É a ação, o fazer que levará à construção do “Reino” aqui e agora. K O problema é que, como alerta Edgar Morin31, toda ação escapa à vontade do seu autor, na medida em que entra no jogo das retro/interações do meio onde intervém. Assim, a ação corre o risco não somente de fracassar, mas também de sofrer desvio ou distorção de sentido. Morin diz que os efeitos da ação dependem não apenas das intenções do autor, ou seja, não basta a boa vontade. É preciso muito mais do que isso, é preciso clareza de objetivos, de conteúdo e conhecer o meio em que a ação se realiza, sempre consciente que ela é uma aposta, isto é, a incerteza e o jogo são inerentes à ética complexa. Há uma ecologia da ação que não soubemos entender e implementar. A questão que fica é exatamente esta: será que o discurso religioso da Igreja da Libertação, com suas metáforas bíblicas, não foi por demais simplificador e empobreceu a nossa ação política? Ele 31
Edgar MORIN. O método 6. Ética. Porto Alegre: Sulina. 2005. Este livro foi apresentado e comentado no Ciclo de Estudos sobre O Método de Edgar Morin, promovido pelo IHU na Livraria Cultura de Porto Alegre no dia 10 de agosto de 2005. (Nota da IHU On-Line)
não soube ser capaz de dar conta da ecologia de toda e qualquer ação. Assim, a ética se transformou num discurso simplificador e simplista. É uma questão a ser problematizada. 2 ) Sobre a mística, logo emerge uma pergunta: Apenas os cristãos são portadores da mística? É evidente que não. Isso já o sabemos e faz tempo. Por que, então, a nossa mística seria melhor do que a dos outros para que Leonardo Boff afirme que a mística cristã pode vir ser fonte de renovação do PT? E a mística dos nossos companheiros que não são cristãos. Não pode ela também ser fonte de renovação? Outras questões: Será que a mística cristã, praticada pelos militantes que assumiram o mundo da política, é verdadeiramente radical, que leva na acepção da palavra, a raiz de uma ação transformadora? Será que a nossa mística, ultimamente, não tem privilegiado apenas a luta e deixado de lado uma espiritualidade mais totalizante? Poder-se-ia falar de uma mística de consumo para a luta social? Uma mística da produtividade? Uma mística self service? Mística esta que está a serviço, e reforça as bandeiras de luta pré-definidas, os objetivos mais imediatos das organizações. Uma mística, portanto, pragmática. A mística perdeu, em grande parte, a sua dimensão de gratuidade. Ela foi subordinada pela eficácia e, assim, esvaziada. A ação cristã, afirma Gustavo Gutierrez32, refletindo sobre Mateus 25, 31s, se caracteriza pela eficácia envolta pela gratuidade. Podemos, assim, afirmar que não soubemos manter a tensão 32
Gustavo Gutierrez, pai da teologia da libertação, reflete sobre este tema no seu livro Beber no próprio poço, publicado no Brasil pela Editora Vozes. (Nota da IHU On-Line)
dialética da eficácia e da gratuidade, característica do agir cristão. Dessa maneira, a mística deixou de jogar luzes e inspirar a ação social e política. Foi a luta que passou a definir a mística. Enfim, não estaríamos precisando cultivar uma mística da gratuidade, do dom, da tolerância? Por que tantos cristãos são irmãos e companheiros nos momentos de oração, de mística, e depois se tornam inimigos na luta política? L $ Não podemos escamotear e é preciso afirmar claramente que os vários dirigentes e parlamentares do PT, agora envolvidos nas denúncias não são acasos fortuitos, que surgiram do nada. Eles são resultado de um longo processo, e as suas posições de destaque no partido foram sustentadas por uma maioria, o chamado “campo majoritário”. Ora, entre os petistas que compõem o “campo majoritário”, que deram sustentação e legitimidade a esses dirigentes, muitos são cristãos. É preciso também que se diga que na chamada “esquerda do PT”, em que estão muitos cristãos, práticas questionáveis acontecem. Também a esquerda do PT precisa fazer uma autocrítica. Dos métodos que tanto condenam, também se valeram em disputas internas. ! )
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Já faz tempo que os “vícios” do PT entraram com força na militância cristã e foram incorporadas por parcela significativa dela. Quem acompanha o partido e as suas campanhas políticas sabe disso. Há mais de 20 anos, o PT abriu a possibilidade de um novo
protagonismo político: a possibilidade de as camadas populares “fazerem” política, de os pobres participarem da política, inclusive disputando eleições. Vinte anos depois, o mesmo PT começou a fechar essa porta, na medida em que foi tornando a política coisa para profissionais, em que só se dá bem que tem estrutura. Mesmo dentro do PT, a política foi sendo feita, cada vez mais, pelos mais endinheirados e, pior, servindo como “escada” para ascensão social, prestígio e poder e não como “serviço” de organização do povo, e isso vale para nós, cristãos. Onde estava a indignação ética e a mística dos cristãos contra esse estado de coisas? Também os cristãos foram aceitando essa lógica em nome da grande causa da libertação.
não deixou os cristãos imunes. Muito pelo contrário. A lógica de “passar o trator” também foi e é utilizada por muitos cristãos. Se é verdade que, no PT, as estratégias passaram a ser definidas “por cima”, é preciso também reconhecer que “mesmo em baixo”, a verticalidade e o autoritarismo se manifestam. Na última campanha, e mesmo na de Lula em 2002, lideranças populares cristãs - da periferia, das CEBs – brigavam por verbas para a campanha. Ter recursos significava ter o poder de decidir contratações para a campanha nos bairros, ter o poder de dar ordens, de decidir, de tornar-se o centro de um micropoder. Ainda mais grave, há casos de cristãos em posição privilegiada de poder na estrutura partidária que se valem dessa posição para se beneficiarem, fazendo uma verdadeira confusão entre o público e o privado. Não é isso que está acontecendo? Não sejamos ingênuos. Isso acontece nacional e localmente.
# # O projeto de permanência no poder, de continuar sendo vereador, deputado, assessor, foi ganhando centralidade. Assessores contratados e militantes que recebem ajuda de custo, têm como referência primeira o parlamentar. A relação com a luta social, a comunidade, o povo, passa primeiro pela lógica do “coletivo” do parlamentar, de como angariar mais apoios para o “meu deputado”, o “meu vereador”, a “minha corrente ou agrupamento político”. E aqui, sejamos sinceros, quantas comunidades já não se viram envolvidas em disputas mesquinhas, em função dos militantes cristãos que levam as disputas do partido e do interesse do seu parlamentar para a comunidade? Quantos cristãos não passaram a falar mal um do outro, a adotar práticas sórdidas na tentativa de aniquilamento do outro?
( É duro e triste, mas não dá para afirmar peremptoriamente que os cristãos se constituem em reserva ética do PT. São muitos, mas muitos mesmo, os cristãos que, hoje, em milhares de municípios, disputam a presidência do PT e, em muitos lugares, uns contra os outros. E quem acompanha as desavenças, e conhece bem, sabe que a disputa é a do jogo pesado, em que a tese do “fim justifica os meios” é largamente praticada. É evidente que não podemos generalizar, mas para daí considerar que os cristãos podem salvar o PT vai muita distância. Não somos melhores que os outros, precisamos ter humildade e reconhecer os nossos erros.
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( ! 3 % É preciso reconhecer que o fortalecimento do verticalismo e do autoritarismo no PT
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Poderíamos ainda perguntar: E os cristãos que estão no governo e no parlamento? Frei Betto, em um artigo escrito logo após a posse do governo Lula33, fala com entusiasmo da participação dos cristãos no governo e cita vários nomes, entre eles, Benedita da Silva (da comunidade do Morro Chapéu Mangueira e do Movimento Fé e Política), José Fritsch (integrante das CEBs de Chapecó), Henrique Meirelles, (militante da Juventude Estudantil Católica (JEC)), José Graziano da Silva (também da JEC), Olívio Dutra e Gilberto Carvalho (da Pastoral Operária), entre outros. É preciso reconhecer, apenas lendo esses nomes citados por Betto, que a participação dos cristãos no governo se dá entre virtudes e falhas. A condição de cristão não nos torna, definitivamente, imunes ao complicado jogo da política. Agora mesmo, acompanhamos tristemente a história de pessoas importantes dentro do PT, dirigentes e parlamentares, envolvidos em corrupção, que começaram sua trajetória política em grupos de base da Igreja da Libertação. Deixaram de ser cristãos?
a auto-análise deve ser praticada em permanência e deve ser concebida como estado de vigilância sobre si mesmo. Por outro lado, Morin disse que a autoanálise só acontece por meio de um olhar capaz de autocrítica. Para ele, a autocrítica é o melhor auxiliar contra a ilusão egocêntrica e em favor da abertura ao outro. Morin insiste que o problema chave da ética para si é o da relação com o nosso egocentrismo. É contra o fechamento, a cegueira, a petrificação, que o espírito deve, intelectual e eticamente, resistir. A luta fundamental da autocrítica é contra a autojustificação, afirma Morin. Não é a autojustificação o meio mais usado por aqueles que, de repente, se vêem envolvidos no ilícito? Logo, segundo Morin, a autocrítica faz parte constitutiva de uma cultura psíquica cotidiana mais necessária que a cultura física, uma higiene existencial que alimenta uma consciência em permanente vigilância. Então, é de se perguntar se a Igreja da Libertação contribuiu, de fato, para uma verdadeira prática de auto-análise e autocrítica que dão a temperança para a ética. A Ação Católica Operária (ACO) exercitava a chamada revisão de vida, mas isso foi se perdendo com o tempo, pois o ativismo já não permitia tempo.
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3 > # ) Morin nos lembra que a ética exige uma permanente auto-análise e autocrítica sem a qual se torna fraca. Para ele, a autoanálise se faz pelo exercício permanente da auto-observação. É preciso que se busque uma consciência de si que permita nos descentrar em relação a nós mesmos, de reconhecer o nosso egocentrismo, de medir o grau das nossas carências, lacunas, fraquezas. Portanto, para Morin, 33
Artigo publicado na Rede ALAI Latina en Movimiento, 23-01-03. também foi publicado no boletim Informa, n. 94, fev. 2003, p. 64-66. autor)
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A falta de autocrítica se manifestou de maneira clarividente na atitude de muitos militantes cristãos que estão, ou estiveram, no governo, e mesmo militantes de base, que, quando ouviam qualquer crítica ao governo Lula, até há pouco tempo, taxavam-nas de inimigas e adversárias do projeto popular, constrangendo quem as fazia. Não vai longe o tempo em que qualquer questionamento sobre a política econômica era censurada dura e
América O artigo CEPAT (Nota do
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publicamente. O próprio Frei Betto, hoje um duro crítico da política econômica, adotou essa postura. No 4º Encontro Nacional do Movimento Fé e Política, em dezembro de 2004, na cidade de Londrina (PR), falando a milhares de cristãos sobre Espiritualidade e Política fez veemente defesa do governo e disse que a crítica reservava apenas aos amigos. Mas ele não estava entre amigos? Perdeu uma ótima oportunidade de politizar o debate. Ainda pior, Betto se declarou, por várias vezes Lulista, fato que tem reiterado, e não petista. Afirmação profundamente despolitizada e ingênua, por dois motivos. Primeiro, Lula é fruto de uma longa caminhada das lutas sociais do povo brasileiro. As pessoas passam, os instrumentos de luta permanecem. Segundo, quando o critério de avaliação política é personalizado e blindado, tornase acrítico.
pela contribuição e elaboração teórica que fundamenta a luta pela justiça social. Porém, as reflexões que fazem sobre os cristãos e a política, particularmente a partir do governo Lula, não têm ajudado para uma leitura mais crítica. Está mais do que na hora de uma reflexão autocrítica sobre o papel exercido pela Igreja da Libertação e a participação dos cristãos na política, particularmente dentro do PT. Assim como reconhecemos a valiosa e inestimável contribuição dos cristãos na política, precisamos, com coragem, reconhecer a nossa parcela de responsabilidade, os erros cometidos, as práticas viciadas reproduzidas, a omissão de quando percebíamos algo condenável e preferíamos ficar calados, a ausência de projeto, o discurso messiânico. Os militantes cristãos têm um peso decisivo e importante na política, mas a mística e a ética de que fala Boff, se não vierem acompanhadas de uma radical mudança de comportamento e atitude, não são um salvo-conduto para refundar o partido como deseja Boff.
" ) # Leonardo Boff e Frei Betto são formadores de opinião. Admirados pelos cristãos por suas histórias de vida e compromisso com a causa dos pobres,
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Penso que o artigo deve ser lido como autocrítico, isto é, escrito por alguém que, tendo assumido a fé cristã numa perspectiva de Libertação, está politicamente comprometido com o PT e, por isso mesmo, decepcionado por sua submissão às imposições econômicas dos grandes bancos. Ao aflorarem, agora, também casos de corrupção, cabe perguntar onde foi que erramos. Leonardo Boff e Frei Betto entram apenas como exemplos da ingenuidade política que acomete a maioria dos cristãos. Por isso,
minha reação ao artigo é de quem aceita essas críticas, fazendo, porém, algumas ponderações, para que elas não nos desqualifiquem perante os adversários, nem abatam o ânimo de levar em frente o projeto de construir um Brasil justo, democrático, pacífico e respeitoso da vida e da natureza. Dito isso, vamos a alguns pontos-chaves. 1. Com freqüência, o discurso da Teologia da Libertação tem sido criticado como se fosse maniqueísta, colocando os pobres como bons e os ricos como maus. De fato, +
embora todos saibamos (graças a Gustavo Gutiérrez34) que Jesus optou pelos pobres não por serem virtuosos, mas por serem vítimas de um sistema opressor, nossos documentos em final de encontro incorrem nesse erro teórico. Pergunto, porém, se cada documento, traçando linhas para a ação, devesse assinalar todas as nuances, acabaríamos, como no poema de Pedro Casaldáliga, no “reino do limbo”35... A prática é o terreno das simplificações e, principalmente, das contradições. Não busquemos pureza e rigor científico em textos militantes, porque só no pensamento cartesiano as idéias são claras e distintas. Outro problema é que teólogo, quando diz “é” quer dizer “deve ser”. A teologia não é descritiva, mas prescritiva. Um teólogo nunca será bem interpretado quando lido em chave sociológica. 2. As mediações são, efetivamente, nosso ponto mais fraco. Falamos de Utopias e de Reinado de Deus, por um lado, e da realidade, por outro. Mas na hora de falarmos de projetos políticos, isto é, das mediações entre o real e o utópico, somos muito fraquinhos. Mas não podemos renunciar ao messianismo: ele é intrínseco ao cristianismo. Se negássemos que Jesus de Nazaré é o Messias e que o Reino por ele anunciado já está na história, vã seria a nossa fé. Aqui entra o essencial da minha reação ao texto de Sanson: o lugar da mística na política. Não há, como sugere Sanson, uma “mística pragmática”. Isso é fruto do mau uso da
palavra pelo MST: não querendo fazer “celebração” nem “liturgia” ele promove “místicas” que não passam de encenações artísticas (algumas, nem tanto) destinadas a animar a militância. Sanson tem toda a razão ao insistir na gratuidade, no dom e na tolerância, mas deveria falar de espiritualidade, para não confundir os conceitos. A mística é a capacidade de ver o outro lado da realidade aparente e contemplar o mistério. É ver no pobre, na pessoa excluída, lascada e desprezada, os “bem-aventurados” a quem pertence o Reino de Deus. As consequências políticas dessa percepção são enormes. Eu penso que a mensagem política mais forte da Igreja é cantar eu acredito que o mundo será melhor, quando o menor que padece acreditar no menor. Ao contrário dos dirigentes petistas que, para conquistar a governabilidade, se apoiaram – pragmaticamente – nos ricos e poderosos, as bases “igrejeiras” teimam em afirmar que nossa força está nos fracos. Isso não se prova cientificamente, embora Marx nos ajude um pouco. Isso se afirma por uma convicção que só a mística pode dar. Penso que o mais grave erro dos dirigentes do PT e do governo Lula foi ter desprezado a mística e confiado cegamente no cientificismo pragmático dos economistas. A contribuição específica dos cristãos na política é portanto alimentar a mística da luta. Não somos santos nem melhores que os outros, mas cremos que Jesus de Nazaré, morto de morte infamante, foi ressuscitado por Deus para garantir a autenticidade de seu anúncio do Reino. Isso não nos preserva dos erros tão bem apontados por Sanson. Aliás, quem faz, erra. E na política, quem faz erra muito mais, porque é dificílimo distinguir o que é o nosso bem e o bem comum. Apesar de tudo, sem querer desculpar nem justificar os erros e omissões dos cristãos na política, é preciso ter em mente a conjuntura religiosa e eclesial das três últimas
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Cfr. “Pobres y liberación en Puebla”: La fuerza histórica de los pobres, CEP, Lima, 1979. 35 “Bem-aventurados os ricos, porque são pobres de espírito. / Bem-aventurados os Pobres, porque são ricos da Graça. / Bem-aventurados os ricos e os Pobres porque uns e outros são pobres e ricos. / Bem-aventurados todos os Homens porque, no fundo, são todos iguais... / Enfim, bemaventurados os bem-aventurados que, pensando assim, conseguem viver tranqüilos, porque deles é o Reino do Limbo!”: A cuia de Gedeão, Vozes, 1982, p. 33-34.
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décadas. O longo pontificado de João Paulo II em nada favoreceu os cristãos de esquerda, mormente com uma opção socialista fundamentada na Teologia da Libertação. Para piorar, nossos companheiros evangélicos também se retraíram, acuados pelo pentecostalismo dentro e fora das igrejas clássicas, e deixaram esmorecer sua teologia revolucionária. Apesar de tudo, tivemos uma grande vitória na Constituição de 1988, que só teve um caráter cidadão por causa da mobilização da sociedade civil, onde as Igrejas tiveram papel destacado. Enfim, continuamos sendo um terreno propício à formação de lideranças políticas populares, como se pode comprovar nos
Movimentos Sociais, no PT autêntico e nos partidos de esquerda. Concluindo, concordo com Sanson: é hora dos cristãos que estamos na política fazermos uma boa e profunda autocrítica. Dedicamos 25 anos de nossa vida à construção do Partido dos Trabalhadores, e de repente, conquistada a Presidência da República, o vemos recorrer a meios ilícitos para aprovar reformas forjadas pelo Banco Mundial, defender interesses de banqueiros e especuladores, e aplicar o maior programa de transferência de renda que já houve neste país: um superávit primário que em apenas dois anos fez o número de milionários passar de 70 para 97 mil... Onde foi que erramos? A reflexão está apenas começando.
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conseguiu eleger candidatos a vereador, a deputado estadual, a deputado federal. Estes tempos foram passando e o partido cresceu, conquistou muitas prefeituras, alguns governos estaduais, bancadas representativas. Conseguir um mandato (legislativo ou executivo) era um meio para fazer avançar as conquistas favoráveis aos trabalhadores, à maioria da população brasileira. No entanto, pouco a pouco, este meio foi se transformando em um fim. Era preciso ganhar a eleição, a qualquer preço. Para ganhar, era preciso aceitar até alianças espúrias; para ganhar, era preciso obter muitos recursos, inclusive por meios espúrios. Na luta interna, era preciso vencer a resistência dos que mantinham as exigências éticas como princípio fundamental. Correntes foram afastadas, grupos foram
C O que estamos vendo revelado diante de nossos olhos nas últimas semanas não é algo que começou no dia da posse do novo governo. Começou bem antes. São práticas que tinham como objetivo conquistar a vitória eleitoral: a eleição – de um parlamentar, de um governante (prefeito, governador, presidente) – deixou de ser um meio para se chegar a um fim, tornou-se um fim em si mesmo. Os que lutam pela transformação da sociedade brasileira na direção da justiça e da solidariedade chegaram à conclusão, em determinado momento, que o engajamento político-partidário – especialmente no PT – era um meio importante para contribuir para este objetivo. Enfrentando inúmeras dificuldades, com o tempo, o PT
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marginalizados. No decorrer dos últimos dez anos – pelo menos -, o partido foi transformado numa máquina eleitoralista, em função do objetivo máximo: vencer as eleições presidenciais. E a razão pela qual se queria chegar ao poder – a transformação da sociedade – se perdeu no meio do caminho. Trocou-se um projeto de nação por um projeto de poder. Foram esquecidos os trabalhadores, foi esquecida a desigualdade social, foi esquecida a injustiça. Hoje, olhando para trás, somos obrigados a constatar que o PT, quando era oposição, conseguiu, com bastante sucesso, barrar certos avanços do neoliberalismo. É provável que, se não tivesse o apoio de alguns banqueiros e empresários, se não tivesse feito certas alianças, se não tivesse abandonado algumas idéias fundamentais, o PT teria perdido a eleição presidencial. E teria sido melhor para o povo brasileiro, teria sido melhor para a defesa dos direitos dos trabalhadores. Depois desta amarga experiência, podemos concluir, com segurança, que a eleição não é uma condição indispensável para construir uma sociedade justa e solidária. A eleição só contribui para avançar quando se respeitam os princípios pelos quais se luta. Fora destas condições, é mais importante fazer avançar a luta nos movimentos sociais, nas organizações da sociedade civil e no parlamento.
foram tratados como “traidores” do partido, inclusive aqueles que, desde o primeiro momento, assinaram o pedido da CPI dos Correios. Algumas vezes, eles tiveram de escolher entre a disciplina partidária e a fidelidade aos ideais, aos objetivos originais do partido. É preciso dizer que eles tinham razão: se a disciplina partidária se opõe aos princípios fundamentais pelos quais se luta, ela deve ser rejeitada. Por quê? Porque o governo decidiu pela política neoliberal; a direção do partido apoiou esta política – contrária ao programa partidário – e a disciplina, neste caso, só servia a este objetivo espúrio. Só agora, depois de dois anos e meio de marginalização e difamação no partido e na sociedade, se está reconhecendo a justeza das posições deste pequeno grupo de resistentes. É preciso observar que, neste pequeno grupo, há tanto cristãos como não-cristãos. É a mística que, a meu ver, sustenta o posicionamento destes parlamentares, mística cristã para uns, mística do compromisso para outros. " : $ Outro problema discutido no artigo de Sanson é como garantir a coerência dos militantes, dos políticos (de esquerda). Ele aponta para a questão do conhecimento – a necessidade de conhecer os problemas com toda a sua complexidade, sem simplismos, a necessidade de se ter um projeto de sociedade. Sem negar a importância destes elementos, a meu ver, mais importante que isto é o controle por parte da cidadania. Nós vivemos numa democracia extremamente limitada: temos eleições regulares, voto livre, imprensa livre. No entanto, as eleições não garantem que o programa pelo qual o candidato foi eleito seja implementado. O eleito tem o direito de cumpri-lo ou não. Nós temos de ter instrumentos pelos quais
" 5 Quando o governo Lula começou a abandonar as idéias pelas quais o PT sempre lutara, dentre os parlamentares, apenas um pequeno grupo se insurgiu em nome dos ideais originais. Este pequeno grupo sofreu toda sorte de massacre moral da parte do governo, da direção do PT e da mídia – defensora da nova política do governo. Alguns foram expulsos, outros suspensos, mas todos &
um candidato que não cumpre as promessas pelas quais foi eleito seja destituído do poder. Temos de ter meios pelos quais os cidadãos possam controlar os governos (municipais, estaduais, nacional). Em primeiro lugar, é preciso transparência e publicidade: tudo que é público, a cidadania tem o direito de conhecer. O SIAFI – Sistema de Acompanhamento Financeiro da União – tem de estar disponível ao público, para que saibamos onde estão sendo aplicados os recursos obtidos dos contribuintes. O financiamento de campanhas deve ser fundamentalmente público. Deve haver um Conselho de Cidadãos – representantes da sociedade civil – que controle o Banco Central (Chico de Oliveira). Deve haver um Comitê de Cidadãos para acompanhar o cumprimento das promessas do candidato eleito: e seu relatório deve ser anual,
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público, com ampla divulgação (Oded Grajew). Deve haver plebiscitos ou referendos para decisões fundamentais que afetem a vida dos cidadãos (inclusive no que diz respeito à política econômica) (Fabio Comparato). Os mandatos de parlamentares não podem ser realizações individuais: os mandatos devem ser participativos, isto é, em cada localidade devem ser constituídos núcleos, com representantes que acompanhem regularmente o mandato, discutam com o eleito as opções a serem implementadas, inclusive o orçamento (uma idéia posta em prática pelo deputado estadual por Minas Gerais, Durval Ângelo e, certamente, por alguns outros parlamentares). Assim, este parlamentar recebe apoio e, ao mesmo tempo, fica vinculado a suas bases, percebendo seu mandato como um serviço, e não como uma propriedade particular.
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Traduzimos e reproduzimos o artigo que segue, de autoria do jornalista e vaticanista francês Henri Tincq, publicado no jornal Le Monde, em 18 de agosto de 2005. O texto faz a memória do irmão Roger Schutz, assassinado na última terçafeira, dia 16 de agosto. Henri Tincq é editor, desde 1985, das informações religiosas publicadas pelo Le Monde. Irmão Roger, fundador da comunidade ecumênica de Taizé (Saône-et-Loire), foi morto a golpes de faca na terça-feira, 16
de agosto, durante a prece da tarde. Ele tinha 90 anos de idade. @0
Embora ele estivesse vestido com a túnica branca dos ofícios ou com seu eterno pulôver de malha grossa, era seu rosto enrugado, com um permanente sorriso que primeiro impressionava. Não havia como escapar daquele olhar azul, profundo, doce como a modulação das colinas dos arredores. O olhar de um homem, ao mesmo tempo, obstinado e humilde, místico e realista. Terá havido tão grande correspondência entre um homem, um lugar e um projeto? Foi no dia 20 de agosto de 1940 que Roger Schutz, um jovem pastor protestante da Suíça, desembarcou pela primeira vez na Borgonha, em Taizé (Saône-et-Loire). Andarilho solitário em busca de Deus e de um lugar onde, com alguns “irmãos”, pudesse fundar uma comunidade que expressasse unidade entre os cristãos divididos. Ele nasceu na Suíça, aos 12 de maio de 1915, em Provença, perto de Neuchâtel, filho do pastor Charles Schutz e de Amélia Marsauche, borgonhesa também de família protestante. Ele era o caçula de uma família de sete irmãos e irmãs que o chamaram Roger. Em casa, a avó materna o ensinou a gostar dos grandes espaços e do silêncio interior. Também se lia, em voz alta, Blaise Pascal e Angélica Arnauld, superiora de Port-Royal. Roger devorava o Pascal dos Pensamentos36. Ele descobriu no escritor o infortúnio de viver afastado de Deus e a felicidade de se aproximar dele. O adolescente foi educado segundo as regras de um protestantismo rigoroso, mas respeitando os “papistas”. Ele freqüentou, por vezes, às escondidas, as igrejas paroquiais onde gostava de orar e refletir. Ele era fascinado pela liturgia romana. Aos 13 anos, para fazer seus estudos na cidade, seus pais o autorizaram a
hospedar-se na casa de uma católica, Mme. Biolley. Suas conversações o despertaram rapidamente para a vocação ecumênica. Entretanto, para o jovem Roger, o período do colégio foi também o das interrogações espirituais. O adolescente quase perdeu a fé e também a vida: ele foi acometido por uma tuberculose pulmonar. Mais tarde, ele contou aos jovens de Taizé que seu itinerário nada tinha de excepcional, que, também ele, viveu todos os seus tormentos. Roger Schutz sonhou tornar-se camponês ou poeta. Seu pai, pastor, porém o orientou para estudos de teologia que o conduziram à Universidade de Lausanne, onde demonstrou seu carisma entre os jovens, pois foi escolhido, para sua grande surpresa, presidente da Associação dos Estudantes Cristãos. Ao mesmo tempo, ele preparou sua tese sobre O ideal da vida monástica até São Bento e sua conformidade com o Evangelho. Ecumenismo, juventude, vida e preces regulares: as grandes inspirações estão aí. A aventura de Taizé já estava delineada. Quando ele chegou, em 1940, aos 25 anos, na aldeia borgonhesa, próxima da linha de demarcação, sua casa se tornou seu refúgio. Ela acolheu, sem distinção, judeus, refugiados políticos e resistentes. Irmão Roger se lembrou, por muito tempo, da sopa de urtigas, da colheita de escargots, dos invernos frios e solitários dos primeiros anos de guerra e de miséria em Taizé. Em 11 de novembro de 1942, após uma denúncia, sua casa foi vasculhada, de ponta a ponta, pela Gestapo. Foi a primeira experiência cruel de sua vida. Roger Schutz foi obrigado a deixar Taizé, a ultrapassar a fronteira, e seu projeto comunitário amadureceu no afastamento forçado de Genebra. E lá se juntaram a ele seus primeiros companheiros de rota, suíços como ele. Max, um teólogo, Pierre, um agrônomo, e
PASCAL, Blaise. Pensamentos. São Paulo: Martins Fontes, 2001. (Nota da IHU On-Line)
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Daniel. Neste local, ele escreveu os primeiros elementos do que se tornou a Regra de Taizé: “Mantém em tudo o silêncio interior para permanecer em Cristo. Compenetra-te do espírito das bem-aventuranças: alegria, simplicidade, misericórdia”.
amizade. João XXIII foi um dos homens que teve mais importância para o prior de Taizé. De 1962 a 1965, Irmão Roger foi um dos observadores mais atentos do Concílio Vaticano II. " 3 Em 1941, Irmão Roger recebeu em Taizé o abade Couturier, pioneiro francês da luta pela reunificação das igrejas que, na época, é uma causa revolucionária. Mais tarde, ela será colocada no coração da Regra de Taizé: Tenha a paixão pela unidade do corpo de Cristo. Em 1960, entrou na comunidade um irmão anglicano. Em 1969, foi a vez de Ghislain, um jovem médico belga católico. Outros sacerdotes os seguiram. Eles eram doze no início dos anos 1970. Taizé não tinha nenhuma característica confessional. A comunidade não possuía nem estatuto nem constituição jurídica. Era uma comunidade ecumênica em sentido estrito, que se via como figura antecipadora da unidade cristã. Este protestante teve ótimas relações com todos os papas. João XXIII acolhia Irmão Roger com estes termos: Ah! Taizé, esta pequena primavera. Os encontros com Paulo VI foram igualmente confiantes. Durante sua viagem a Lion, aos 5 de outubro de 1986, João Paulo II atravessou a soleira da comunidade: Eu me senti impelido por uma necessidade interior, dirá o Papa, acrescentando esta outra fórmula tornada célebre: A gente passa em Taizé como se passa perto de uma fonte.
De volta à Borgonha, em outubro de 1944, o ar de Cluny ou de Clairvaux poderia terlhe virado a cabeça. Ele poderia ter sonhado em criar ou restaurar uma ordem cristã. Ao mesmo tempo autoritário e doce, Roger Schutz tinha força de um “fundador”. No entanto, em toda a sua vida, nada lhe foi mais estranho do que o fato de “se instalar”, de fixar programas, de constituir em torno de si um movimento, uma estrutura, uma ordem. Todo o seu projeto se inscreveu, ao contrário, nessa dinâmica do provisório, título de um de seus livros. Os “irmãos” chegavam um por um. Eles faziam os votos monásticos de pobreza, de castidade, de obediência, consagravam sua vida a Deus, à liturgia, ao trabalho, ao silêncio. O primeiro irmão de nacionalidade francesa entrou na comunidade de Taizé, em 1948. Nós não queremos ser mais do que quinze, disse, muitas vezes, Irmão Roger. Cinqüenta anos depois, eles eram noventa, originários de uma vintena de países de diversas tradições cristãs. A comunidade de Taizé enxameou em pequenas fraternidades provisórias, na Índia, em Bangladesh, no Brasil, na África, na Coréia, em Nova Iorque, etc. Em 1948, o jovem prior solicitou ao bispo de Autun para cantar os ofícios cotidianos na igreja paroquial de Taizé, uma jóia de arte romana e teve a surpresa de receber uma resposta positiva, não do bispo local, mas do núncio apostólico em pessoa, representante do Papa na França, que não é outro senão Ângelo Roncalli, o futuro João XXIII. Foi o começo de uma longa
Karol Wojtyla amava Irmão Roger que ele convidara para pregar em sua antiga diocese de Cracóvia, diante de 200.000 mineiros. O prior de Taizé foi também hóspede regular do arcebispo anglicano de Canterbury, do patriarca de Constantinopla e dos responsáveis pelo Conselho Ecumênico das Igrejas.
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A virada foi o “concílio dos jovens”, que o prior de Taizé convocou em plena tempestade do pós-1968. Ele compreendeu que as energias então em obra na juventude ocidental não cobririam, infelizmente, suas expectativas espirituais e que as igrejas, apesar do aggiornamento do Vaticano II, não estariam equipadas para acolher os jovens que fugiam das instituições, desertavam das paróquias e dos movimentos. O desejo de Deus, a sede de amizade e de absoluto, a busca de um sentido a dar à vida foram outras tantas aspirações que atravessaram todas as gerações e ultrapassaram todas as crises. Antes de 1970, já vinham jovens passar a Páscoa na colina. Seu número aumentou continuamente: eles eram 2.500 em 1970, quando Roger Schutz anunciou a alegre novidade desse concílio inédito. Nos anos seguintes, eles eram 7.500, depois 16.000, 18.000, 20.000 na Páscoa de 1974. Em 30 de agosto de 1975, eram 50.000 na abertura do “concílio dos jovens”.
Barcelona, em Munique, em Wroclaw, em Praga, em Paris (100 000 em 1995), mesmo em Madras, na Índia, por vezes também, mais discretamente, atrás da cortina de ferro que os irmãos de Taizé, antes de muitos outros, atravessaram. Irmão Roger comparava esses encontros de jovens a uma peregrinação da reconciliação e da confiança sobre a terra. Elas eram ritmadas pelas urgências da época: a construção da Europa, a defesa do meio ambiente, a queda do muro, o pós-comunismo. Depende dos jovens a saída da grande família européia da era da desconfiança, disse Irmão Roger na Unesco, em 1989. Ele também escreveu que uma das urgências dos próximos anos é pôr a reconciliação lá onde há a ferida do ódio. Atualmente, Taizé continua mais bela. A gente sobe a colina para orar, não para se embriagar de palavras. Para ler as Escrituras, encontrar outros jovens dos lugares mais remotos do mundo, portadores dos mesmos valores e de uma igual sede de solidariedade, uma comunidade monástica, que soube resistir às ondas – ontem a dúvida e a contestação, hoje a afirmação identitária – e à tentação de fazer de Taizé um gueto. Hubert Beuve-Méry, fundador do Monde, era um grande amigo de Irmão Roger e um visitante assíduo de Taizé. Sessenta anos após a chegada de Roger Schutz a Taizé, a primeira instituição não mudou. E, no entanto, o homem que acaba de morrer foi sempre obsedado pela amplidão da tarefa a cumprir. Cheguei eu a expressar suficientemente que Deus não quer o sofrimento e não se impõe por vontades ameaçadoras, mas que ele ama todo ser humano sem exceção? A confiança está no ponto de partida de tudo, escrevia Irmão Roger num de seus textos. E, como para se reconfortar, uma vez mais ele repetia: Nós estamos ainda no ponto de partida.
MN M Aos milhares cada ano, e de toda parte, os jovens não cessaram de afluir a Taizé: alegria de se encontrarem diferentes, vontade de ultrapassar as barreiras ideológicas e confessionais, precisão de solidariedade em atos e de comunhão, gosto pela festa, pelo silêncio, pelas liturgias despojadas, desejo de uma formação bíblica que permita um melhor enraizamento da fé. É sobre este terreno que prosperam todas essas formas de reunião de jovens crentes nas quais eles anseiam por expandir sua sede de emoção e de experiência. Taizé prepara as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), cuja vigésima edição ocorreu, na semana passada, em Colônia. A partir de 1978, entre Natal e Ano Novo, encontros internacionais atraem jovens de todas as confissões e do mundo inteiro. Eles têm lugar em Roma, em Colônia, em @
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I Dia 18 de agosto, aconteceu mais uma edição do evento IHU Idéias, quando foi abordado o tema A Geologia Arqueológica da Unisinos na região missioneira do Rio Grande do Sul pelo Prof. MS Carlos Henrique Nowatzki, das Ciências Exatas e Tecnológicas da Unisinos. Carlos iniciou sua explanação, resgatando a história da ocupação de índios e jesuítas na região das Missões. Em seguida, falou sobre o projeto de pesquisa que desenvolve no local, por meio do qual conseguiu descobrir, entre outras coisas, de onde foram extraídas as rochas usadas para a construção da ex-Igreja de São Miguel Arcanjo. O professor concedeu uma entrevista à IHU On-Line, na 151ª edição, de 15 de agosto de 2005, sobre o assunto abordado no evento da última quintafeira.
C “Acho muito importante a divulgação dessa pesquisa. O professor Carlos é pioneiro nessa iniciativa de pesquisa em uma região tão pouco explorada e com um potencial turístico enorme. Faltam investimentos para pesquisas que também auxiliam nessa divulgação”. -!/ ! "
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“Foi uma palestra excelente sobre um projeto que apresenta essa nova utilidade da geologia na arqueologia. O professor Carlos abriu um novo campo na geologia, que mostra sua aplicação em outras áreas, até na história. Os resultados da pesquisa foram muito bons até agora. Falta somente a arqueologia entrar em ação para fazer a sua parte com base no que já foi descoberto”. " !$
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Essa pergunta será respondida na próxima palestra do evento IHU Idéias, dia 25 de agosto, quando o professor Dr. Fernando Althoff, do PPG em Geologia da Unisinos, abordará o tema Desastres naturais: o que a Terra nos reserva. Graduado em Geologia e mestre em Geologia e Geoquímica, Fernando Althoff é doutor em Física e Química da Terra, pela Université de Nancy I, da França. Ele contribuiu para a elaboração da edição número 139 da IHU On-Line, de 2 de maio de 2005, que teve o jazz como tema de capa. O professor apresentou o livro A arte de amar a ciência, de Pascal Nouvel, no evento IHU Idéias, promovido pelo IHU, em 6 de junho de 2002.. O evento, que se realiza na sala 1G119 do IHU, das 17h30min às 19h, é gratuito e aberto à comunidade.
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Confira, a seguir, uma entrevista exclusiva com o professor Fernando sobre o assunto, concedida por e-mail, na última semana.
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" 1 – Ao longo da história da Terra, muitos animais e plantas tornaram-se forças geológicas. Atualmente, os humanos são a espécie geológica mais significativa. Movemos mais material na superfície da Terra do que qualquer agente natural de erosão. Além disso, estamos “depletando”37 o planeta em vários recursos energéticos e água e produzindo lixo e o efeito estufa. Em muitos casos, a atividade humana funciona como “gatilho” para disparar um evento que resulta em desastre. Entretanto, é preciso lembrar que, nos últimos dois milhões de anos, a Terra passou por várias glaciações e episódios de aquecimento, que aconteceram sem a influência humana. A glaciação mais recente ocorreu há 21.000 anos, cobrindo extensas áreas da América do Norte, do Norte da Europa e regiões de altas montanhas.
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“risco geológico” qualquer processo da Terra que ponha em risco a vida humana. Aí estão incluídos desde eventos locais, como uma queda de barreira em uma rodovia, até eventos em escala global, que podem alterar a existência da nossa espécie, como um impacto com um grande asteróide ou a erupção de supervulcões, passando por enchentes, terremotos e tsunamis. Todos os anos, estes eventos são responsáveis por milhares de mortes e por milhares de feridos e pela devastação de casas e outros locais onde as pessoas vivem. "
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F " 1 E Os maiores impactos ocorrem nos países em desenvolvimento. À medida que a população aumenta, mais pessoas habitam em áreas de risco geológico e, assim, o impacto cresce. Além disso, as edificações nestas regiões também são menos preparadas para enfrentar estes fenômenos. Mas os danos podem ser causados de diversas maneiras, e atingir a todos. Uma grande erupção vulcânica, por exemplo, dependendo da quantidade de cinzas que for lançada na atmosfera, pode interromper os serviços de transporte aéreo em um país, porque as cinzas são aspiradas pelas turbinas das aeronaves.
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E Sim. Grande parte
dos riscos geológicos está diretamente ligada à estrutura interna do nosso planeta e à maneira como ele evolui. O Brasil não ter vulcões nem grandes abalos sísmicos não resulta do fato de “Deus ser brasileiro”, e sim da posição que o País ocupa sobre uma placa tectônica.
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Depleção, segundo o Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, é a “diminuição da quantidade dos humores no organismo”. (Nota da IHU On-Line)
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4 01 de setembro - "A escola da biomassa e o capitalismo videofinanceiro colonial" - Prof. Dr. Gilberto Vasconcellos – UFJF/MG 08 de setembro - "Inteligência Artificial: desafios contemporâneos da robótica" – Prof. MS Farlei Jose Heinen - Unisinos 15 de setembro - "Novos serviços utilizando tecnologias da informação: oportunidades para o Brasil" - Prof. Dr. Paulo Bastos Tigre - UFRJ/RJ 22 de setembro - “Ética e sentimentos morais” - Prof. Dr. Thomas Kesselring Universidade de Berna – Suíça 29 de setembro - “Religião e Juventude”- Prof.ª Dr.ª Léa Freitas Perez UFMG
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O comportamento jovem e o shopping center foi o tema da edição de 15 de agosto do evento Encontros de Ética. A Profª. Dr.ª Ana Elisabeth Iwancow, da Unisinos, foi a responsável pela explanação. Mais informações sobre o tema e sobre a professora Ana podem ser consultadas na matéria de capa da 151ª edição, de 15 de agosto de 2005. C “Eu tinha imaginado que fosse enfocada a questão da juventude, e foi trabalhado o conceito de juventude em pessoas mais velhas. De qualquer forma, achei a palestra muito interessante”. T+! ",
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“O tema me chamou a atenção, porque trabalho no Shopping Total e achei interessante essa relação do jovem com o shopping center. Gostei bastante da palestra”. !( 2 ! B+"8"% %" U8 (! !(+ !
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L A discussão sobre a ética na propaganda será o tema de debate da próxima edição do evento Encontros de Ética, que acontecerá dia 29 de agosto, das 17h30min às 19h, na sala 1G119 do IHU. O Prof. MS Jairo Ângelo Grisa, das Ciências da Comunicação da Unisinos, falará sobre o assunto. Graduado em Publicidade e Propaganda pela UFRGS, Grisa é mestre em Comunicação e
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Informação pela mesma universidade com a dissertação Os sentidos culturais da escuta: rádio e audiência popular, que originou o livro Histórias de ouvinte. A audiência popular no rádio. Itajaí: Univali, 2003. O professor adianta o tema de sua palestra na entrevista que segue, concedida por e-mail, à IHU On-Line, na última semana. Confira e compareça no evento, que é gratuito e aberto à comunidade acadêmica da Unisinos. " B+!# # 3
têm a responsabilidade da conduta ética. E sabemos que isso, muitas vezes, não ocorre. O próprio mercado das agências, das empresas de publicidade e propaganda, é usado como instrumento para ações anti-éticas. Temos inúmeros registros de empresas que se dizem da área e, muitas vezes, não servem mais do que para fazer a chamada “lavagem de dinheiro” ou outras atividades ilícitas. Hoje, estamos assistindo a um escândalo nacional que envolve justamente esta questão. Alguém acredita que o “publicitário” Marcos Valério tenha se valido apenas da atividade da propaganda para fazer com que uma de suas agências, a DNA Propaganda, completa desconhecida no mercado, se tornasse a 21ª em faturamento nacional? Ainda no processo de comunicação publicitária, além do emissor e da mensagem produzida, temos que considerar também aquele que a recebe. Os receptores do discurso publicitário, o público-alvo das campanhas, têm, e muito, que assumir a sua responsabilidade no processo da comunicação. A eles cabe denunciar, reclamar, exigir respeito da propaganda. A ética na propaganda, assim, se perfaz, com base nestes três elementos do processo comunicativo: emissão, mensagem e recepção.
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E Vale começar dizendo que
ética não é algo abstrato. Está nas relações humanas, na política e nas técnicas profissionais, entre as quais se encontra a propaganda. Neste nível profissional, quando falamos em “ética”, não podemos pensar que exista uma ética específica para a atividade da propaganda. O que existe é uma conduta ética do cidadão, responsável por seu comportamento, compromissado com seus pares sociais. Provavelmente, só age eticamente na propaganda aquele que tem o mesmo tipo de ação ante outras instâncias: família, sociedade, Estado. Qualquer instância da vida em sociedade requer a realização da ética, como permanente prática cotidiana. Uma questão relevante, ao se tratar sobre ética na propaganda, é saber que ela pode acontecer não só no âmbito da mensagem veiculada – e a opinião pública normalmente se posiciona em relação a este nível: “este comercial está mentindo’, “este anúncio é preconceituoso”. Contudo, temos que enxergar a ética no processo de comunicação publicitária. Ela depende, pois, além da mensagem, da etapa anterior a essa: a emissão da mensagem, o nível da criação e da produção das campanhas. Aqui, as agências e seus profissionais, aqueles que são a essência do “mercado publicitário”,
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legislação específica, complementada por resoluções do Tribunal Superior Eleitoral. Há ainda outras legislações que não tratam diretamente de propaganda, mas que são importantes para a área. Uma delas é a Lei dos Direitos Autorais. Para aqueles profissionais que trabalham com produção – a utilização de uma música do Latino em um comercial de TV, por exemplo - é também uma referência importante.
E Quando falamos em ética,
estamos falando daquilo que “devemos” e do que “não devemos” fazer. Já se o assunto recai na questão do que “podemos” e do que “não podemos” fazer, estamos falando do plano legal. Na propaganda, temos os dois níveis, reunidos em um conjunto de leis e códigos. A chamada “legislação da propaganda” é bastante plural. O Conar é o que temos de mais específico para punir desvios éticos. Não tem força de lei, mas, por meio dele, é possível alterar comerciais e anúncios ou, até mesmo, suspender a veiculação de campanhas. O Conar, como a própria nomenclatura aponta, tem a função de auto-regular a mensagem publicitária. É um conselho mantido por agências, veículos e anunciantes que buscam estabelecer um determinado “padrão ético” para as mensagens veiculadas. Contudo, o CONAR pode servir como um indicativo para punições mais severas de um anúncio antiético. Pode haver outras conseqüências legais. Se for considerado abusivo – um conceito que se aproxima da idéia de antiético - pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC), podemos ter como resultado multa e, até mesmo, prisão de quem o patrocinou. Um consumidor que se sinta lesado por um anúncio, que o ofenda, que incite a violência, que o agrida moralmente pode acionar o Conar e, aliado a este, lançar mão do CDC, para que sua ação tenha efeito legal. Além desses mecanismos, temos ainda, na área, o Código de Ética dos Publicitários, de 1957, que necessitaria de uma reformulação urgente, a Lei 4.680, que trata do exercício da profissão de publicitário, e as NormasPadrão da Atividade Publicitária, editadas pelo CENP, um conselho executivo que busca regular as relações entre clientes, agências e veículos. Para regular a propaganda eleitoral, existe uma
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#" % Q*$0!Q< O E O Conar discorre, ao longo de quase 50 artigos, o que se pode entender por uma propaganda ética, ou o contrário dessa. Como princípios gerais a serem observados, os anúncios publicitários devem sempre respeitar a dignidade da pessoa humana, não podem discriminar ou ofender, devem ser “decentes”, honestos, não devem incitar o medo, a superstição e a violência, se comparativos, não podem denegrir a imagem do concorrente, não podem sugerir agressões ao meio ambiente, enfim, uma série de preceitos que, dificilmente, negaríamos como éticos. Percebemos que essa ética do anúncio é, por vezes, bastante subjetiva, tornando difícil o estabelecimento de critérios técnicos para realmente classificar um anúncio como ético ou antiético.
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(2 $!&' *$0! I (/" %!%" %" "?3 "##' < O E Quando falamos em criação na propaganda, estamos diante de um processo diverso da criação artística, por exemplo. Ainda que muitos
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publicitários, na tentativa de manter o charme da profissão e o seu próprio, recorram ao mito do artista, do gênio, do criador indomável, a criação publicitária está inserida em um processo de comunicação. Há um problema a ser resolvido. Há um contexto mercadológico que funda e ampara a necessidade desta criação. A criação em propaganda depende de uma fase de preparação, quando são buscadas informações sobre o produto ou serviço a ser trabalhado, uma fase de incubação, quando o responsável pela criação procura “relaxar”, afastar-se do problema para que, finalmente surja a idéia, momento em que se dá a criação propriamente dita. Só que há ainda uma quarta fase, que, no processo de criação artística, não existe. É a fase da verificação. É nesse momento que o publicitário deve avaliar se aquilo que criou é pertinente ao produto ou serviço em questão, bem como deve observar se é adequado não só para o público-alvo da campanha, mas para todo o contexto da sociedade. A campanha que criei causa algum prejuízo para o social? Ofende? Agride? É danosa para algum grupo, seja ele minoritário ou não? Tais perguntas devem fazer parte deste momento, a fim de que a campanha não transgrida o código cultural vigente em determinada sociedade. Não é a observação aos preceitos éticos que vai tolher a liberdade de expressão. É justamente o respeito à ética que vai tornar viável a existência da sociedade. É aquela velha história: minha liberdade vai até o limite em que se inicia a liberdade do outro. "
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social. Ela não seria nada mais do que aquilo que existe na realidade. Contudo, essa idéia é bastante discutível, uma vez que a mídia pode, efetivamente, criar realidades. A propaganda, por exemplo, durante muito tempo, não conheceu outra coisa senão prometer o paraíso, a satisfação completa das necessidades e desejos, promovendo exageradamente o hedonismo. O mundo da propaganda sempre foi considerado idealizado, uma realidade criada em que não existe a dor, o sofrimento, o feio, o sujo, o pobre. Contudo, tal cenário vem mudando. O processo comunicativo tem como parte fundamental o receptor da mensagem. Como seria possível continuar acreditando em tais promessas se, ao receber a mensagem, o consumidor a confronta diretamente com a sua realidade? Nesse sentido, cabe à propaganda adequar-se a estas realidades múltiplas e, porque não, antecipar-se a elas. É importante que outros valores ganhem visibilidade no mundo da propaganda. Claro, há um produto/serviço a ser comunicado, mas é, sim, possível divulgá-lo, dizendo a verdade. Qualquer homem de marketing sabe que se a propaganda não disser a verdade, a compra só se dará uma única vez. A propaganda precisa ter responsabilidade social. Precisa se preocupar não só com o produto/serviço oferecido e seu público, mas com todo o seu entorno, o contexto cultural, o meio ambiente, as relações não hegemônicas que se dão no espaço social. "
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M O E A sociedade pode, e isso é bastante incomum aos brasileiros, protestar. Qualquer cidadão, ao sentir-se lesado, enganado, ofendido, pode tanto “boicotar” o produto/serviço em questão,
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deixando efetivamente de comprá-lo, como acionar os órgãos competentes. O Conar, por exemplo, está à espera de reclamações. O Código de Defesa do Consumidor, que trata a propaganda como elemento concreto do contrato comercial – ela “vale” tanto quanto o produto/serviço ao qual se vincula -, está aí para ser usado. Enfim, temos instrumentos para agir. Talvez nos falte consciência de que somos a parte principal do processo de comunicação e do consumo.
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Mostrar que é viável um outro mundo para a propaganda. Temos que parar de demonizá-la. Ela é só um instrumento. Causará prejuízo se for dirigida a isso. A disciplina de Ética e Legislação da Comunicação Publicitária que ministro no curso de Publicidade e Propaganda, aqui da Unisinos, é o espaço para esse tipo de discussão. Contudo, não basta a disciplina, pois reiterando o que falei anteriormente, não existe uma ética na propaganda. Ética é ética. O curso, a Universidade, a sociedade como um todo devem estar comprometidos com a vontade de fazer do mundo um lugar melhor para vivermos e sermos felizes, como sempre prometeu a propaganda.
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Depois da abertura do Ciclo de Estudos Concílio Vaticano II, no último dia 11 de agosto de 2005, mais uma edição do evento que busca celebrar os 40 anos desse acontecimento, já tem data marcada. No próximo dia 25 de agosto, o padre Cleto Caliman estará na sala 1G119 do IHU, das 19h30min às 22h, falando sobre os avanços e impasses atuais da eclesiologia do Concílio Vaticano II. Ele analisará um dos grandes documentos emanados do Concílio Vaticano II, a Lumen Gentium (Luz dos Povos). Sobre os 40 anos desse documento, IHU On-Line entrevistou, na matéria de capa da 124ª edição, de 22 de novembro de 2004, Dom Aloísio Lorscheider, Dom Boaventura Kloppenburg, Álvaro Barreiro, Ronaldo Muñoz e o próprio Caliman. Cleto Caliman, padre salesiano, é professor no Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus, de Belo Horizonte. Graduado em Teologia e em Filosofia, é mestre em Teologia pela Universidade Pontifícia Salesiana, da Itália, e doutor em Teologia pelo Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus. É organizador dos livros Teologia e devoção mariana no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1989; O Evangelho nas culturas. América Latina em missão. Petrópolis: Vozes, 1996; A Sedução do Sagrado. O fenômeno religioso na virada do milênio. Petrópolis: Vozes, 1998. Cleto Caliman foi entrevistado pela revista IHU On-Line na 124ª edição, de 22 de novembro de 2004, sobre os 40 anos da Lumen Gentium. Leia, a seguir, a entrevista que Caliman concedeu à IHU On-Line por e-mail, sobre o tema do evento que apresentará nesta semana.
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aspecto de importância é a renovação litúrgica40 iniciada pelo Concílio. A importância da liturgia vem do fato de que nela se trabalha a consciência dos fiéis na Palavra de Deus, da sua inserção na Igreja e no mundo.
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#+! "!(,!&' < D E A universidade é o lugar do saber “aberto”, não imediatamente, digamos, “dogmatizado”. Ela é um espaço de discussão das grandes questões que dizem respeito ao ser humano no mundo. Se a questão da religião é importante para o ser humano em todos os tempos e lugares, não pode ficar fora da universidade. E, aqui no Brasil, de maioria católica, o que constitui um marco importante da vida da Igreja Católica não poderia, certamente, ficar fora do horizonte de interesse da universidade. Vamos dizer ainda mais. É reconhecido que a Igreja Católica no Brasil, por meio, sobretudo, da CNBB, foi uma das que mais, profundamente, assimilou o espírito renovador do Concílio. Esse tema não poderia ficar de fora do interesse da Universidade.
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Dei Verbum é um dos grandes documentos emanados do Concílio Vaticano II. Ele trata da revelação da Palavra de Deus. Esta constituição conciliar será estudada e debatida no dia 15 de setembro, pela Profa. Dra. Lúcia Weiler, dentro da programação do Ciclo de Estudos Concílio Vaticano II. Marcos, trajetórias e prospectivas. (Nota da IHU On-Line) 39 Juntamente com a Lumen Gentium e a Dei Verbum, supracitados, a Gaudium et Spes é uma outra constituição do Concílio Vaticano II. Ela será debatida no dia 29 de setembro no Ciclo de Estudos Concílio Vaticano II. Marcos, trajetórias e prospectivas. (Nota da IHU OnLine)
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A renovação litúrgica foi tema da Sacrosanctum Concilium, que, com a Lumen Gentium, a Dei Verbum e a Gaudium et Spes, são as quatro grandes constituições do Concílio Vaticano II. (Nota da IHU On-Line)
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batismo nos faz todos filhos de Deus, povo de iguais. A categoria “povo de Deus” quer afirmar a igualdade radical de todos os batizados. Na Igreja, todos somos iguais. A diferenciação provém da ação do Espírito que chama alguns irmãos na fé para o serviço, conforme a diversidade de dons, carismas e ministério. Esses dons, carismas e ministérios é que são diferentes. Não as pessoas que servem! Mas, convenhamos, falta muito para que as relações entre hierarquia e fiéis sejam realmente transformadas. Ainda temos medo de alguns termos como “participação”, “democracia” etc.
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2 ##' %! 6 "H!< D E Primeiro, creio que essa perspectiva “reinocêntrica” foi, mais explicitamente, assumida pela teologia latino-americana. Na minha percepção, essa perspectiva expressa a dimensão do mistério¸ que o Concílio usou para falar da Igreja e do mundo. Abre caminho para compreender o mundo como lugar teológico do diálogo de Deus com o ser humano e para compreender a Igreja como Povo de Deus no mundo. Assim se reconhece a plena historicidade da Igreja, baseada no mistério de Deus, e possibilita o diálogo da Igreja com o mundo. Tanto o mundo como a Igreja estão sob a Palavra de Deus, em relação de autonomia, de modo que tanto a Igreja pode e deve aprender do mundo, da história, quanto o mundo tem algo a receber da Igreja, que é o Evangelho, como oferta de sentido.
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D E O Concílio levantou grandes expectativas nesse ponto, mas a sua implementação, a meu ver, ficou a meio caminho por dois motivos. Primeiro, que a doutrina do Concílio sobre o laicato ficou ainda devedora da compreensão da Igreja da nova cristandade. Basta ver Lumen Gentium 31. Aí o âmbito da Igreja fica para o clero e o do mundo fica para o leigo. Essa compreensão dos dois âmbitos, um para o leigo, outro para o clero é típico do tempo anterior ao Concílio. Logo depois, o próprio Congar41, que é o pai dessa teologia do
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O Concílio, certamente, visou a transformar as relações entre as igrejas locais e a Igreja de Roma. Por isso, ele valorizou o episcopado para equilibrar a eclesiologia centralizadora do Vaticano I. Valorizando o episcopado e a Igreja local, pôs em andamento um dinamismo descentralizador. Hoje, 40 anos depois, a Igreja Católica é uma realidade diferente, mesmo admitindo que haja tendências restauradoras em ação. Outro aspecto também querido pelo Concílio foi colocar sob outros pressupostos a relação entre hierarquia e fiéis. A virada eclesiológica do Concílio, antepondo o capítulo sobre o Povo de Deus ao da hierarquia é emblemático. No fundo, a idéia é essa. O D
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Yves Marie-Joseph Congar (1904-1995): frei dominicano e teólogo francês conhecido por sua participação no Concílio Vaticano II. Dedicamos a editoria Memória da IHU On-Line número 150, de 8 de agosto de 2005, aos 10 anos de sua morte, publicando um artigo de autoria de Rosino Gibellini. (Nota da IHU On-Line)
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laicato, supera essa teologia e começa a pensar uma “teologia da Igreja Povo de Deus”. Aí ministros e fiéis estão no mundo e na Igreja, cada qual com o seu dom, chamados a construir a Igreja, “comunhão de vocações, carismas e ministérios”. Perspectivas para os próximos anos? Não é preciso ser profeta para perceber que a Igreja Católica está, neste momento, num caminho neoconservador. Não creio que esse caminho seja propício para o aprofundamento dessa orientação do Concílio. Nas Igrejas locais, há, certamente, muita participação dos leigos. Mas é preciso perguntar se essa participação vai na direção querida pelo Concílio ou na direção querida pelos que atualmente orientam as grandes opções da Igreja. " B+! # #' %"#!
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responsabilidade missionária. Hoje, porém, se percebe a implementação de um projeto de evangelização que privilegia os novos movimentos eclesiais e sua capacidade de oferecer à Igreja uma nova visibilidade, digamos, até midiática. Quanto a “novas eclesiologias”, a essa altura, 40 anos depois do Concílio, prefiro falar em retornar à eclesiologia do Vaticano II. Ele visava à superação da estrutura tradicional da Igreja pela valorização da colegialidade episcopal e das Igrejas locais, num sadio movimento de descentralização. Colocou como chave de leitura a categoria “povo de Deus”, valorizando uma eclesiologia a partir do batismo. Ai também se baseia num primeiro nível a comunhão eclesial como modo próprio de ser Igreja no mundo. Só num segundo nível é que pode falar de comunhão hierárquica, que vem do sacramento da Ordem, necessária para garantir que toda a Igreja como comunidade de fiéis seja fiel à sua missão.
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D E Não é fácil identificar quais seriam os principais desafios para a Igreja hoje. Vou tentar. Primeiro, em relação à realidade do mundo de hoje, “pós-moderno”, reafirmar seu compromisso pela transformação do mundo, numa cultura individualista, que cultiva o “esquecimento” do conflito social, conseqüentemente dos pobres. Estamos em tempos de “despolitização” da Igreja. Segundo, em relação à sua estrutura, reafirmar a vontade do Concílio de transformar a estrutura arcaica da Igreja, ainda medieval, com as marcas evidentes da cristandade, num momento em que parece prevalecer uma certa nostalgia do passado. Terceiro, em relação à missão da Igreja no mundo, o Concílio se encaminhou na direção de um processo de evangelização, ancorado numa nova consciência e no dinamismo das Igrejas locais e de sua
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teólogo, Joseph Ratzinger escreveu um belo livro: Das neue Volk Gottes (O novo Povo de Deus), 1969. Tempos depois, ele se liga à Revista Communio. Na perspectiva do grupo Communio, a eclesiologia do Concílio precisava de uma espécie de “releitura”, para não dizer “corretivo”. Por trás dessa tendência, estava uma avaliação de que a categoria “povo de Deus” estaria levando a uma “sociologização” da visão de Igreja. A categoria “comunhão” é legítima, vem do
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primeiro milênio do cristianismo, mas ela também pode levar a uma visão de Igreja mais voltada sobre si e a um uso interno para sublinhar a comunhão hierárquica. De qualquer modo, o Cardeal prefeito da Congregação para a Doutrina da fé está explicitamente ligado a essa tendência. Basta lembrar o Sínodo Extraordinário de 1985, em comemoração aos 20 anos do término do Concílio. A Relatio Finalis praticamente esquece a categoria “povo de Deus”. Como chave de leitura da
eclesiologia conciliar ficou apenas a categoria “comunhão”. Mais tarde, em 1988, ele mandou às Conferências Episcopais de todo o mundo um esboço de documento sobre elas, dizendo que elas não teriam fundamento teológico, mas simplesmente escopo pastoral. O objetivo é evidente: diminuir a importância das Conferências Episcopais. Não creio que o Papa Bento XVI vá se distanciar dessa linha.
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Os participantes e demais interessados pelo Ciclo de Estudos Desafios da Física para o Século XXI podem se agendar para a próxima palestra do evento. Será dia 24 de agosto, das 17h30min às 19h, na sala 1G119 do IHU. Na ocasião, o tema Da caricatura empirista a uma outra história: Galileu e os experimentos de Pisa no plano inclinado; Einstein e os experimentos de Michelson-Morley; Bohr e os espectros de emissão atômica será apresentado pelo Prof. Dr. Fernando Lang da Silveira, do Departamento de Física da UFRGS. O professor Fernando é graduado e mestre em Física pela UFRGS e é doutor em Educação pela PUCRS, com a tese intitulada Uma epistemologia racional-realista e o ensino da Física. O Ciclo de Estudos Desafios da Física para o século XXI: uma aventura de Copérnico a Einstein é um evento que tem o intuito de discutir a importância das descobertas que viabilizaram o desenvolvimento e aprofundamento do conhecimento da Física e sua aplicação em diferentes áreas e quais os desafios que se lançam para o século XXI. Neste ciclo de seminários, serão apresentadas as vidas e as obras científicas dos personagens que influenciaram o trabalho, a vida e a obra de Einstein. Além disso, será aberto um debate sobre o futuro da humanidade, tendo como base as novas descobertas físicas, principalmente a Computação Quântica. O Ciclo e o Simpósio Internacional Terra Habitável, realizado no mês de maio, marcam a participação da Unisinos no Ano Internacional da Física. O tema da primeira palestra, que aconteceu dia 3 de agosto de 2005, foi Copérnico e Kepler: Como a Terra saiu do centro do Universo. O responsável foi o Prof. Dr. Geraldo Monteiro Sigaud, do Departamento de Física da PUC-Rio. Uma entrevista concedida por ele pode ser consultada na 149ª edição de IHU On-Line, de 1º de agosto de 2005.
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IHU On-Line entrevistou, por e-mail, o professor Fernando Lang, que adianta aos leitores os caminhos que vai percorrer no evento da próxima quarta-feira. Leia a seguir.
das revoluções científicas modernas (Galileu) e do século XX (Einstein e Bohr)42 e depois contarei uma outra história sobre a Teoria da Queda dos Graves, a Teoria da Relatividade Restrita e a Teoria do Átomo de Bohr. Mostrarei que a gênese das suas teorias é diferente e muito mais interessante do que a versão conhecida por meio dos livros-texto de Física. Os três episódios considerados na palestra exemplificam que “a epistemologia sem contato com a ciência se torna um esquema vazio. A ciência sem epistemologia – até o ponto em que se pode pensar em tal possibilidade – é primitiva e paralisada” (Einstein).
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E O objetivo principal
da minha palestra é mostrar que a "história da ciência" que encontramos nos livros-texto de Física é uma caricatura de uma história muito rica e complexa. Esta caricatura está baseada na epistemologia empirista. O empirismo, como concepção sobre o conhecimento científico, afirma que os cientistas obtêm as teorias científicas (leis, princípios, etc.), baseados na observação, na experimentação, em medidas. Ao relatar um episódio de descoberta científica, a história da ciência empirista apresenta os dados, os resultados observacionais/experimentais com base nos quais o cientista, aplicando as regras do método científico, produziu conhecimento. A caricatura empirista distorce e supersimplifica a história da ciência, omitindo os pressupostos extracientíficos, metafísicos sempre presentes na real atividade científica. Por não reconhecer que os cientistas inventam e especulam, a história empirista se cala sobre as idéias que não se mostraram bem sucedidas. Somente as idéias corretas merecem um lugar nesta história, pois, para quem segue o método científico, como poderia incorrer em erro? Na palestra, apresentarei a caricatura empirista de três grandes protagonistas
" B+!# # 2 3!0$ # ! . #$: ! % 0 ."0 2 " $ " %! .+2 ! %!%" %!# %"#0 /" $!# %! 1# 0! ;+> $0!< F / E Do ponto de vista epistemológico e ontológico, a física quântica se constitui em uma revolução, revelando que o mundo microscópico possui propriedades surpreendentes, contra-intuitivas. A nossa intuição macroscópica atribui aos corpos determinadas propriedades que não são aplicáveis aos entes quânticos, pois eles parecem não possuir posição e momentum definidos, além de exibir comportamentos ondulatórios. Assim também a energia de um elétron ligado a um átomo não pode variar de maneira contínua, mas de forma discreta, quantizada. Estes são alguns exemplos do que aprendemos com a física quântica. As aplicações práticas, tecnológicas da física quântica estão 42 Sobre Einstein e Bohr, conferir a IHU On-Line número 135, de 4 de abril de 2005. (Nota da IHU On-Line)
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(defendida por Bohr, Born, Heisenberg43, ...), que está lastreada em uma filosofia idealista subjetiva, mais especificamente, positivista. A interpretação da Escola de Copenhagen, forjada no final da década de vinte do século passado, coincide e se alimenta da filosofia da ciência que então era predominante: a filosofia positivista do Círculo de Viena44. O mais impressionante é que os representantes das ciências sociais e humanas que se aventuram nessa tarefa de extrapolar os conceitos da física quântica para outros domínios acreditam que a interpretação de Copenhagen” seja um rompimento com o positivismo!!
incorporadas ao cotidiano sem que a maioria das pessoas tenha consciência disso. Ao utilizarmos qualquer tecnologia eletrônica, como, por exemplo, um aparelho de telefonia celular, estamos nos valendo da física quântica. Ou seja, sob qualquer ângulo, a física quântica tem um enorme impacto no mundo atual. "
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3 ##18"(+2 %"/!$" $ ! #% #0 3( ! # / " ! 1# 0!< / E Apesar de todo o sucesso tecnológico da física quântica, nem os físicos convergem quanto às questões de interpretação e significado desta nova teoria. É paradigmático o debate sobre a mecânica quântica entre os dois grandes cientistas Einstein e Bohr, somente encerrado com a morte do primeiro. Bohr defendia uma interpretação idealista subjetiva, enquanto Einstein era um realista. Atualmente, há diversas interpretações para a física quântica e ninguém pode dizer que possui a interpretação correta. No domínio das ciências humanas e sociais, prolifera literatura que tenta extrapolar os conceitos da física quântica para outros domínios. Ora, qualquer tentativa de fazer isso é, no mínimo, problemática, já que nem os físicos possuem um consenso sobre tais conceitos, sobre as questões de interpretação e significado. Essa literatura, de um modo geral, peca porque tenta passar a idéia de que, no âmbito da física, existe uma única interpretação; a interpretação adotada nesses textos é a interpretação da Escola de Copenhagen
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para os seus problemas, deixem de acreditar que a última teoria física
iluminará os seus caminhos.
C O Ciclo de Estudos Repensando os Clássicos da Economia, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos, começou suas atividades neste semestre com a palestra Entendendo o pensamento de Veblen, ministrada pelo Prof. Dr. Leonardo Monteiro Monasterio, do Departamento de Geografia e Economia da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), dia 17 de agosto, na Livraria Cultura, em Porto Alegre, e no dia 18 de agosto, na Unisinos. O ciclo tem periodicidade mensal e encerra em 10 de novembro de 2005. Ele acontece paralelamente em dois locais: na Unisinos, na sala 1G119 do IHU, e na Livraria Cultura, no Bourbon Shopping Country, em Porto Alegre. Confira na 151ª edição da IHU On-Line uma entrevista com o professor Leonardo, e um artigo traduzido sobre o economista Veblen e sua obra.
C “Achei interessante, porque Veblen é um autor pouco explorado nas cadeiras convencionais, e a palestra foi bastante esclarecedora”. ("? !#3! "$$
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“Gostei muito, porque Veblen é um autor que, no curso de Economia, não se estuda muito. Só achei a palestra um pouco mais voltada para áreas como sociologia e psicologia”. )! "##! W+!H! ! "#$+%! $" %" 0
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A terceira edição do Ciclo de Estudos sobre o Brasil continua no segundo semestre de 2005, enfatizando a discussão sobre a questão da escravidão no Brasil e suas implicações na cultura, na sociedade e na economia do País. O evento tem como objetivo estudar, de maneira interdisciplinar, textos clássicos escolhidos que analisam a formação histórica, social, econômica, política e cultural do Brasil. O módulo deste semestre iniciará no próximo dia 24 de agosto de 2005, na Livraria Cultura, em Porto Alegre, das 19h30min às 21h30min, quando a professora Dr.ª Márcia Lopes Duarte, das Ciências da Comunicação da Unisinos, doutora e mestre em Letras pela UFRGS, conduzirá um debate sobre o livro Os sertões, de Euclides da Cunha. A Profª. Márcia já apresentou essa obra no Ciclo de Estudos sobre Brasil, dia 5
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de junho de 2003. Na ocasião e sobre o tema, ela concedeu entrevista à IHU On-Line, nº. 62, de 2 de junho de 2003. No dia 4 de setembro de 2003, Simões Lopes Neto e a invenção do gaúcho foi o tema em debate no evento IHU Idéias, apresentado pela Profª. Drª. Márcia Lopes Duarte, que originou a publicação do Cadernos IHU Idéias nº 8, intitulada Simões Lopes Neto e a Invenção do Gaúcho. Sobre o assunto, a professora também concedeu uma entrevista na edição número 73 da IHU On-Line, de 1º de setembro de 2003. A programação completa do III Ciclo de Estudos sobre o Brasil está disponível no sítio www.unisinos.br/ihu. Acesse e confira. A seguir, publicamos um artigo sobre a obra Os sertões, elaborado pela professora Márcia Lopes Duarte especialmente para a IHU On-Line.
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!# ( 2 #$ ! $+! 0! ! X X Em um momento como o que vivenciamos hoje, no qual a utopia redentora de um governo que se preocupasse com a maioria silenciosa e carente começa a se transfigurar na certeza de uma política que repete os mesmos erros do passado, faz sentido, ainda uma vez, relembrarmos as páginas amargas do texto escrito por Euclides da Cunha em 1902. Em primeiro lugar, porque o referido texto nos mostra que, em se tratando da sociedade brasileira, as disparidades são tantas, e tão profundas, que a verdadeira solução para minimizar o descompasso existente entre ricos e pobres só poderia ser buscada em uma mudança simbólica, que desentranhasse de nosso imaginário coletivo as mazelas econômicas, políticas e sociais vigentes. Além disso, o ensaio de Euclides, publicado há mais de cem anos, foi, desde o seu surgimento, um catalisador para as discussões cujo tema centra-se na condução que se dá ao país nos momentos de crise.
Quanto à questão das diferenças estruturais que compõem, desde a sua origem, a sociedade brasileira, Euclides da Cunha aponta, em Os sertões, a contradição na qual está alicerçado o modelo econômico brasileiro, oriundo do colonialismo, perpetrado pela república nascente. Republicano convicto, Euclides soube, mesmo assim, reconhecer a ineficácia de uma proposta desenvolvimentista que deixava de fora uma considerável parcela da população economicamente ativa, em prol da manutenção dos privilégios de uma determinada casta que se perpetuava no poder. Os sertanejos sitiados em Canudos representavam, na visão positivista de Euclides, um mundo bárbaro e sem possibilidades de perpetuação. Entretanto, e esse é um dos grandes méritos do livro, o próprio narrador consegue reconhecer a legitimidade das reivindicações feitas
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pelos seguidores de Antônio Conselheiro. É assim que, demonstrando uma visão perspicaz, Euclides da Cunha revela, nas páginas finais de Os sertões, o quanto as idéias difundidas, pelos governantes, acerca do Conselheiro e de seus fiéis é equivocada, para não dizer intencionalmente falaciosa. A população de Canudos não teve, segundo tal perspectiva, em momento algum, a intenção, ou a mais remota possibilidade de modificar, pelas armas, a estrutura política, econômica e social constituída no Brasil. A problemática era mais complexa, visto que o que realmente preocupava os poderosos da época era o fato de Canudos se transformar em um referencial simbólico cujo poder de persuasão poderia vir a ser mais significativo que o poderio do armamento bélico que sustentava a República. Símbolo da resistência sertaneja, a população de Canudos teve que ser destruída, a fim de que sua memória não se efetivasse, possibilitando novos e recorrentes movimentos, nos mais variados locais do País. O exemplo de Canudos, que Euclides leu pelo seu avesso, pode ser comparado à trajetória da fênix, ave lendária que renasce de suas próprias cinzas. Euclides da Cunha, em Os sertões, criou a possibilidade de o homem sertanejo, aniquilado em Canudos, e nos demais levantes ocorridos no Brasil ao longo dos séculos, perpetuar-se a partir de sua própria derrota. Tal fato se deve à concepção lúcida de Euclides, que conseguiu captar, de dentro do próprio cerne da luta empreendida naquele episódio, as discrepâncias existentes na realidade social brasileira. No que concerne à crise, novamente o texto de Euclides da Cunha serve para demonstrar o modo como o governo se comporta em relação a situações que lhe fogem do controle. Há inúmeros exemplos, em Os sertões, de desmandos e aberrações gerados pela falta de habilidade, por parte
dos oficiais do Exército brasileiro e de seus superiores, em conduzir a campanha militar de Canudos. Em face de um inimigo que possuía uma identidade, visto que se estruturava na figura de Antônio Conselheiro, o exército oficial, cujo contingente humano e bélico era infinitamente superior, comportou-se, por vezes, como um gigante acéfalo, que avançava às cegas, debelando tudo o que estivesse a sua volta. Do mesmo modo, a condução final do episódio, no qual nem as crianças, as mulheres e os velhos foram poupados da chacina, reafirma a falta de tato que as autoridades tiveram ao tratar do episódio. É a partir daí, do momento derradeiro, que Euclides revê sua posição em relação ao povo confinado em Canudos. Ao dar-se conta da bestialidade desse último momento, o narrador afirma: “Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma perspectiva maior, a vertigem”. A vertigem de Euclides foi, justamente, a visão das discrepâncias da sociedade brasileira, que se mutila a si mesma, com o intuito de perpetuar benesses àqueles que não cumprem, efetivamente, o seu papel na engrenagem econômica, mas se mantêm graças à força coletiva dos grupos à margem, sempre pertinentes, sempre confiantes, sempre prontos a se deixarem aniquilar, concreta ou simbolicamente, na tentativa de buscar um país mais justo, menos segregado. A realidade brasileira atual, em que esquemas de corrupção, sonegação e deturpação do processo político estão vindo à tona, demonstra que o livro Os sertões, escrito por Euclides da Cunha em 1902, acerca de um episódio ocorrido no final do século XIX, infelizmente, é uma leitura atualíssima, uma vez que as dissonâncias apontadas no texto são perceptíveis, na condução do processo
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econômico, político e social do Brasil, até
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hoje.
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O tema desarmamento estará em debate na Unisinos, no próximo dia 24 de agosto, às 20h, no Auditório das Ciências Jurídicas, na conferência Vamos construir uma cultura da paz, ministrada pela Profª Drª An Vranckx, da Bélgica. An Vrank é cidadã belga, pesquisadora no Serviço Internacional de Informação sobre a Paz [International Peace Information Service] e professora na Universidade de Antuérpia. A palestra gratuita, que será proferida também no Colégio Anchieta, no dia 23 de agosto, às 19h30min, em Porto Alegre, tem apoio da Fundação Konrad Adenauer e é promovida pelo Instituto Humanitas Unisinos, pela Unisinos e pelo Colégio Anchieta. Publicamos um artigo da professora An Vranckx, que nos foi enviado por ela, para aproximar os leitores da discussão desta semana. Ainda nesta edição, IHU On-Line entrevistou o doutor em Educação e membro da Organização não-governamental Educadores Para Paz, Lúcio Jorge Hammes, sobre as conseqüências de uma possível aprovação da proibição da venda de armas e munições no Brasil, que será questionada no referendo do dia 23 de outubro. Lúcio Hammes acaba de defender sua tese de doutorado no PPG em Educação da Unisinos, intitulada Aprendizados de Convivência e a Formação de Capital Social: um estudo sobre os grupos juvenis.
Reduzir o abuso das armas de fogo é um empenho para o qual se apela em muitas regiões do globo. Há esforços nesse sentido em algumas dessas regiões. Estes esforços não podem deixar de dar certo. Observa-se que alguns dos países mais afetados pela violência armada são os maiores produtores de armas destinadas a causar tal violência. Estas armas, muitas vezes, provêm do exterior. Uma questão a ser levantada nesse contexto é como se manifesta a reduzida proliferação de armas em regiões problemáticas, quando isso é observado em um país onde estas armas são mais produzidas do que usadas?
sobre armas no Brasil, a conferencista oferece para discussão os modos pelos quais são reguladas as exportações de armas da Europa. Por estes regulamentos, inscritos em leis e códigos de conduta, são feitos esforços para prevenir que essas armas acabem nas mãos daqueles dispostos a usá-las para um ganho privado (queremos referir-nos a todo o registro desde a atividade criminal em escala restrita até os amplamente organizados sindicatos do crime, exércitos irregulares privados, associados com o comércio ilegal de drogas, e grupos armados que continuam a clamar por legitimidade por razões ideológicas), antes de assegurar a segurança pública (isto é, o monopólio legal no uso de violência, que corresponde às regulares forças de segurança de um Estado). O
Considerando que a perspectiva de um “país produtor” pode contribuir, de maneira relevante, para o reduzido debate +*
foco da discussão é saber o que grupos da sociedade civil podem fazer, e fazem atualmente, em regiões onde os suprimentos de armas são fornecidos (como na Europa, tida como sendo “a vanguarda” na regulamentação do comércio de armas de uma “forma humana”) e em outras regiões, onde “a comunidade internacional” procura direcionar o problema (global) do abuso de armas de fogo. O objetivo da discussão é, então, evitar que o potencial para tal ação da sociedade civil seja superestimado ou passe desapercebido.
podem ser tidos como legalmente responsáveis pelo modo como exercem este poder (nem pelo “estado” do país onde operam, nem pelos arranjos da Lei Pública Internacional que só reconhecem estados como sujeitos). Os mais bem conhecidos exemplos latino-americanos sobre isso são os grupos colombianos de insurreição transformados em organizações terroristas, e as bem organizadas gangues de comercialização de drogas em cidades brasileiras e ao longo da fronteira México-EUA, os quais solapam a segurança humana em extensão considerável.
Menos prolíficas em produzir equipamentos militares de alta tecnologia e alto custo, como outrora os Cold War Powers [Potências da Guerra Fria], diversas empresas armamentistas européias são vistas como tendo uma longa tradição na fabricação de armas pequenas e leves (SALW). Mais do que armas altamente estratégicas, estas SALW têm sido, atualmente, usadas antes para atirar do que para simplesmente “desencorajar”. Muitas dessas SALW de fabricação européia jamais foram usadas na Europa nos dias atuais e também não têm sido usadas em “guerras reais entre estados” em qualquer parte, onde somente soldados regulares usariam as armas para defender seu monopólio legitimado de violência em face de outros atores armados. Grandes quantidades de armas pequenas e leves, todavia, estão hoje nas mãos de atores não-estatais que não
A investigação mostra como esses atores não-estatais eventualmente, ultimamente, apontam na direção dos produtores europeus, violando as leis européias e os códigos de conduta que procuram prevenir tal comércio de armas. Está disponível um amplo material de estudo de casos que confirmam esta conclusão. Aparentemente, os cidadãos e servidores civis na Europa ainda precisam fazer um esforço maior para ajudar a garantir que as leis de estrita exportação de armas européias sejam atualmente cumpridas. Notícias sobre o referendum no Brasil podem contribuir para tal esforço. Do processo brasileiro em favor de um controle mais estrito de armas, pode-se esperar beneficio, num quadro realista, sobre o que as leis estritas sobre exportação de armas podem ou não obter.
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pessoas e depois são vendidas ou roubadas. Há muitas armas ilegais vindas pelo contrabando de outros países. Mas isso também pode ser recolhido pelo exército e pela polícia na medida em que exista um Estado que possa intervir. O Estado nos protegerá, não serei eu que irei me proteger.
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A > Em primeiro lugar, é sempre bom termos a participação das pessoas em um assunto como este. Isso é vital para construirmos uma sociedade mais pacífica, com outros valores. Realmente, deve haver um controle das armas que estão por aí. Acredito que o novo estatuto vai ajudar a diminuir a violência. Teremos menos armas e um controle maior. Por exemplo, a proibição de armas para as pessoas que não sabem lidar com elas. Se uma pessoa, com menos de 25 anos, for flagrada com uma arma, estará cometendo um crime. O estado vai poder pegar essa arma. E a pessoa poderá ser presa.
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> Esse é um processo que se faz, reunindo diversos fatores. Um deles seria a conscientização, o outro, a educação. Incutir outros valores às pessoas. Não se constrói uma sociedade assim com injustiça social. Temos de formar pessoas que tenham condições de exercer sua cidadania. Estamos em um processo muito bom, porque diversas coisas surgiram nos últimos anos. Campanha da fraternidade, a questão do desarmamento, o pessoal está se capacitando, porque está vendo que alguma coisa tem de ser feita. O referendo faz as pessoas pensarem nesse assunto.
!# ! 2 !# ("6!#< > IsTo é um
problema muito sério no Brasil. Muitas armas nas mãos das pessoas que cometem crimes, quase que formando milícias. No Brasil, as armas apreendidas são, na maioria, legais. São compradas pelas
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“O debate sobre os Cristãos e a Política é necessário sim, mas este não é o momento adequado. Quando a mãe está com o filho doente, não fica lembrando todas as falhas e pecados dele. Neste momento dá ânimo e apoio. Vocês podem não gostar dos textos do Boff e do Betto, que são o bálsamo que ainda nos dá um pouco de alento neste momento da crise. O texto do César (escrevi isso a ele) é pessimista, sem propostas, sem esperança... Mil cristãos da base vão ler e mil vão ficar tristes, desanimados... Não é a hora dos Profetas da Desgraça. É a hora da esperança, ainda, espero! Ou não foi o que me ensinaram na Casa do Trabalhador e do CEPAT? Existe um golpe da direita, cada dia gota a gota, e nós vamos ficar nos digladiando, enquanto a direita desestabiliza e conspira livremente? Que país é este onde bandido, ladrão, doleiro safado, chantagistas, e uma laia como Jefferson, ACM Neto, FHC, Alvaro Dias, etc. e tal, passam por atores de um processo? Ocupam TVs, jornais, etc. E nós ficamos acreditando neles? Achamos que os culpados são o Boff e o Betto? O que é isso companheiros? Esqueceram o que ensinaram? Neste momento, prefiro dar apoio e ânimo a quem está mantendo o pavio que ainda fumega (Is 42,3), ainda que sirva de escárnio todo dia e todos zombem de mim (Jr 20,7). - " (%
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“Lembro do meu pai contando as histórias do Saci Pererê, Pedro Malazarte e acho que isso foi o que me fez gostar de ler, me tornei mais estudiosa”. Esta foi a primeira influência da paleontóloga e professora da Unisinos, Tânia Lindner Dutra. Graduada em História Natural, mestre e doutora em Geociências, Tânia Dutra traz consigo inúmeras conquistas profissionais, resultado de uma combinação perfeita entre uma dose de dedicação, um punhado generoso de talento e um tanto de espírito aventureiro. Mas o que mais ama, realmente, são seus três filhos. Conheça, na entrevista a seguir, um pouco mais da trajetória pessoal e profissional desta professora. E Sou natural de Santiago, interior do RS. Com cinco anos, já morava em Porto Alegre. Na época, meu pai era promotor, e moramos em algumas cidades pelo interior, antes de virmos para a capital. Meu pai, Paulo, aposentou-se como procurador, e minha mãe é dona de casa. Tenho uma irmã psicóloga e um irmão médico. F $ E Minha formação foi em escolas públicas. Estudei no Instituto de Educação e depois fiz a graduação em História Natural na UFRGS. O mestrado e o doutorado em Geociências, também foram concluídos na Universidade Federal. Quando estava acabando o mestrado, em 1977, vim para a Unisinos. Estava grávida do segundo filho. E Na verdade, a primeira paixão foi biologia e surgiu quando eu ainda estava no “cursinho”. Havia um professor de que eu gostava muito, o Clóvis Duarte, que hoje apresenta o Câmera Dois, na TV Guaíba. Ele me influenciou bastante, e pouca gente sabe que ele era um excelente professor de Biologia. Sempre tive paixão pela história das ciências humanas. A opção pela “paleonto” surgiu quando eu estava no mestrado. Na faculdade, tínhamos que escolher entre genética ou paleontologia. Fiquei na paleontologia de vertebrados. Fui para a Antártica e quando cheguei lá, pela primeira vez, só encontrei vegetais, fui atrás da botânica. " # E Fui dez vezes à Antártica, a primeira em 1982. As expedições, além de representarem uma oportunidade muito interessante profissionalmente, também propiciam vivências fantásticas. Vivemos aqui, numa sociedade de consumo, e lá não havia nenhum tipo de atividades comerciais. Hoje há TV a cabo na estação, o
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que, na época, não havia. Eu tinha três filhos pequenos e não podia telefonar para a família, nos comunicávamos por rádio. Na volta o navio atrasou 15 dias. Estava tudo congelado, não dava para passar e, depois de 45 dias, minha filha menor não me reconheceu. Nunca havia acampado no Brasil e não conhecia a neve. Acampei pela vez lá e longe da estação. Tínhamos que caminhar o dia inteiro na neve. Eu tinha espírito aventureiro, mas não imaginava que fosse tão difícil. O lado humano é muito interessante. Algumas pessoas choravam porque tinham deixado o travesseiro e o chinelo em casa. Chega uma hora em que elas externam tudo, não há como vestir máscaras. Podíamos levar alunos de iniciação cientifica. Hoje não podemos mais porque o projeto se tornou muito caro. Era muito bom, porque podíamos ver quem realmente tinha nascido para aquilo e que outros não tinham a menor vocação; passavam o dia todo encolhidos de frio. Hoje a Unisinos é o único lugar que tem fósseis vegetais da Antártica, graças à coleção que foi feita durante dez anos. " E Meu marido foi muito solidário, ele atuava em literatura, ficava mais em casa e no escritório. Fizemos um acordo e ele cuidava de tudo enquanto eu não estava. Normalmente, o período que eu ficava fora era o mesmo das férias escolares aqui, só podíamos ir no verão em função do degelo, e isso também ajudou. Durante esses anos, aprendi que o que incomoda as crianças não é o fato de os pais terem atividades, e sim eles não as terem. Morávamos em um bairro familiar, onde, em geral, as mães ficavam full time em casa e muitas delas tiveram problemas com filhos envolvidos com droga e coisas assim. Dependi muito da sorte, precisava confiar que também era para o bem deles. Tinha que dizer: “A mãe está longe, se vocês precisarem avaliem se a mãe poderá chegar a tempo hábil para atendê-los”. Acho que a criança cria um mecanismo para poder sobreviver, inconscientemente sabe que a mãe não está por perto o tempo todo. É difícil que três crianças entendam isso. O Pedro está com trinta anos e trabalha na editora com o pai, o Lucas, 26, formou-se em Publicidade e trabalha em São Paulo e a Joana está com 23 anos e optou por Educação Física. Nenhum escolheu Biologia, talvez aí tenham manifestado algum protesto. N E O nascimento dos filhos. Lembro que não queria casar, queria determinar os destinos da minha vida. Quando casei, já tinha mestrado e muitos projetos profissionais. Depois de um ano de casada, nasceu o Pedrão. Lembro de ter pensado: “Puxa, agora, além de casada, vou ter que me preocupar com um filho e com tudo o que quero fazer”. Hoje eu penso que foi a coisa mais espetacular da minha vida. Sento com três adultos na mesa, converso com eles. Sei que eu sou o esteio deles e que eles são as pessoas que mais me querem bem. Nessa vida aventureira, estamos muito acostumados a ficar sozinhos. Se há alguma coisa do saldo da minha vida, que não me deixa nenhuma angústia, são esses três. Outra experiência fundamental é o contato com os alunos. Se eu tivesse escolhido outra profissão, não sei se seria tão feliz. Eles me renovam, surgem cabeças novas todos os
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anos e, de certa forma, não me deixam envelhecer totalmente porque me obrigam a manter a linguagem deles. Essa troca é essencial. /
E Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez.
F E Um sonho de liberdade, de Frank Darabont. Acho que é um filme muito geológico. E Flores E Gosto de ir para lugares onde se possa conviver com a natureza, principalmente lugares montanhosos. Gosto dos Aparados da Serra, do Chile... 9 1 E Está se aproximando o momento de eu deixar a Universidade. Quero cuidar da minha saúde, ver os netos crescerem. Não sei ao certo o que vou fazer, mas será alguma coisa ligada ao fazer intelectual. 2
E A Unisinos mudou bastante, se profissionalizou, mas
ficou mais desumana. Quando vim para cá, foi muito gratificante, havia profissionais jovens com vontade de fazer. Hoje não há quase consultas sobre as decisões, o que é compreensível, pois o grupo é maior. Nós tínhamos potencial para construir e, de fato, criamos o Pós-Graduação. Hoje, acho que os alunos se sentem menos autônomos para tomar as decisões. A Unisinos sempre foi muito respeitada. Pude notar isso quando visitei outras universidades ou em congressos. A Universidade sempre se destacou pela seriedade. Eu não sei como está isso hoje. E Gosto muito de todo o ' A 2 trabalho que é feito no Humanitas. É um lugar que expõe a Universidade, os valores que existem aqui dentro. Sentimos que o que estamos fazendo tem gerado bons frutos. Hoje, principalmente na fase atual de organização, ele é fundamental.
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