No dia 23 de maio, quinta-feira, faleceu em Belo Horizonte, MG, o Pe. Henrique C. de Lima Vaz, humanista, filósofo e jesuíta. No texto fundador do Instituto Humanitas Unisinos, que todos e todas que aqui trabalham conhecem, lemos: “A revolução dos valores, na esteira da revolução tecnológica, está gerando uma transformação éticocultural que incide fortemente no domínio da cultura simbólica. Com as palavras de Henrique C. de Lima Vaz, “uma revolução profunda e silenciosa, cujos efeitos visíveis e ruidosos Henrique Cláudio de Lima Vaz acabam por ocultar sua verdadeira 1921-2002 natureza e seu alcance, está em curso (...) nas camadas elementares do psiquismo e nos fundamentos das estruturas mentais do indivíduo típico da civilização ocidental. Ela vem transformando num nível de radicalidade até hoje aparentemente desconhecido na história humana, as intenções, atitudes e padrões de conduta que tornaram possível historicamente nosso “ser-emcomum” e, portanto, as razões que asseguram a viabilidade das sociedades humanas e o próprio predicado da socialidade tal como tem sido vivida nesses pelo menos cinco milênios de história. Todos os grandes pensadores do nosso tempo, cientistas e filósofos, impressionados por algum efeito mais agressivamente visível e mais desafiador dessa revolução, vem tentando penetrar sua natureza, diagnosticar suas causas e analisar seus efeitos”(1). Sim, o Padre Vaz é parte integrante e constitutiva da inspiração do IHU. 1 .- Henrique C. de Lima Vaz, "Esquecimento e Memória do Ser: sobre o futuro da Metafísica", Síntese, 27/88, 2000, p. 149.
Biografia
Henrique Cláudio de Lima Vaz nasceu em 1921, em Ouro Preto (MG). Sacerdote jesuíta, graduou-se em Teologia e obteve o título de doutor em Filosofia pela Universidade Gregoriana de Roma. Foi professor do Instituto Santo Inácio, em Nova Friburgo (R]), até 1964, quando se retirou para Belo Horizonte (MG) e ingressou na Universidade Federal de Minas Gerais, da qual é professor titular aposentado. Era professor de filosofia no Instituto Santo Inácio – ISI, de Belo Horizonte, tendo sido colega e professor de muitos colaboradores e colaboradoras que trabalham, hoje, na UNISINOS. Era editor da revista Síntese.
Celebração Eucarística
O Instituto Humanitas Unisinos está organizando uma celebração litúrgica em memória da vida e obra do Padre Vaz. A celebração será presidida pelo Pe. Prof. Dr. Marcelo Fernandes de Aquino, vice-reitor e coordenador do PPG da Filosofia da UNISINOS. O prof. Marcelo antes de trabalhar aqui na UNISINOS, trabalhou e conviveu por longos anos com o Padre Vaz em Belo Horizonte. A Província Brasil Meridional da Companhia de Jesus e a Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS – pelos jornais de Porto Alegre, estão convidando para esta celebração todos e todas que quiserem fazer memória da vida e da obra do Padre Vaz. Data: 29 de maio, quarta-feira Horário: 18h30min Local: Capela da Universidade.
Sessão Acadêmica – Henrique C. de Lima Vaz – jesuíta, filósofo e humanista
O Instituto Humanitas Unisinos igualmente está organizando uma solene sessão acadêmica para celebrar a vida e a obra filosófica, política e humanista do Padre Vaz.. Esta homenagem realizar-se-á na vigília do Simpósio Nacional Bem Comum e Solidariedade. Por uma ética na economia e na política do Brasil. O pensamento, a vida e o testemunho de Henrique C. de Lima Vaz serão o estímulo para os trabalhos do Simpósio. Data: 24 de junho de 2002 Horário: 20h Local: Auditório Sérgio Concli Gomes, Centro de Ciências Tecnológicas.
Uma entrevista com o Pe. Vaz
A seguir reproduzimos trechos da entrevista de Henrique C. de Lima Vaz realizada em outubro de 1999 e publicada no livro de Marcos NOBRE e José Márcio REGO, Conversas com Filósofos Brasileiros, Editora 34, São Paulo, 2000, p. 29-44. No próximo número do IHU On-Line apresentaremos uma série de testemunhos da vida e obra do Padre Vaz.
O doutorado
“Minha tese de doutorado versou sobre a dialética e a intuição nos diálogos platônicos da maturidade. Foi escrita em latim, a língua que me era mais familiar entre as admitidas para a redação da tese. Permaneceu inédita, mesmo porque a sua publicação dificilmente encontraria editores no Brasil de 1954”.
Militante da JUC e perseguido político
“Minha saída de Nova Friburgo, em 1964, esteve ligada aos acontecimentos políticos daquele ano e aos contatos que então mantinha com a Juventude Universitária Católica (JUC) e, posteriormente, com a Ação Popular na sua primeira fase. Vim para Belo Horizonte, não só por ser a sede da província jesuítica à qual pertencia, mas também por encontrar aqui um ambiente favorável no Departamento de Filosofia da FAFICH [Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas] da UFMG, no qual fui acolhido pelo então diretor, professor Arthur Versiani Velloso. Homem independente e acima das conveniências políticas do momento, o professor Velloso recebeu-me não obstante as suspeitas que cercavam meu nome. De resto durante os 22 anos de permanência na UFMG meu trabalho intelectual não sofreu nenhuma restrição e, ao contrário, recebeu todos os estímulos. As convocações que recebi durante os primeiros anos para comparecer ao Dops, à Polícia Federal ou ao Comando Militar em nada interferiram na minha tarefa de professor”.
Referência para os militantes cristãos de esquerda
Pergunta: Num texto de 1984, o senhor afirma ter tido alguma participação "no que se poderia denominar a pré-história da Teologia da Libertação e que vai dos fins da década de 50 até Medellín (1968)". Em que medida a Teologia da Libertação significou uma ruptura em relação ao programa de ref1exão que o senhor propôs? Como o senhor a avalia hoje?
Padre Vaz: “Chamo de pré-história da Teologia da Libertação o período de polarização ideológica e engajamento político descrito até aqui e durante o qual as organizações da Igreja reunidas na Ação Católica, sobretudo a JUC, passaram a participar diretamente da atividade sócio-política e a definir-se em face das suas expressões ideológicas. Para essas organizações tratava-se, então, de uma atividade sob a responsabilidade imediata do laicato, embora ligada estruturalmente à hierarquia eclesiástica. Após 1964, no clima de repressão cada vez mais severa, esse tipo de atividade tornou-se inviável. Segundo uma análise que julgo plausível, uma das conseqüências da Conferência de Medellín, em 1968, foi a passagem de uma militância leiga relativamente independente, própria da Ação Católica, e que era alvo fácil da repressão política, para um tipo de atividade sob a tutela imediata da Igreja e sob sua responsabilidade, o que assegurava um espaço de segurança relativa ao trabalho que passou a denominar-se "pastoral". Do ponto de vista da minha análise, a Teologia da Libertação, que surge naqueles anos, veio oferecer a esse novo estilo de pastoral um horizonte teórico e, se assim se pode falar, um instrumento ideológico que se pretendia eficaz. Como o nome indica, teoria e ideologia permaneciam dentro do âmbito da reflexão eclesial: pretendiam ser uma teologia. Nesse sentido ela situava-se num plano distinto do que fora nossa reflexão pré-Medellín, que trabalhava com categorias filosóficas e, explicitamente, com análises sócio-econômicas. Na minha opinião, o problema inicial da Teologia da Libertação, e que permaneceu ao longo da sua história, formulava-se em termos de uma situação teórica ambígua: como fazer da
teologia o instrumento de uma práxis social e, eventualmente, política, cujo objeto exigia um tipo de análise econômica e sócio-política que a teologia, por definição, não pode fornecer? Foi a partir desse problema que, a meu ver, formaram-se diversas correntes dentro da Teologia da Libertação, tendo algumas delas optado por uma chamada "análise marxista" então vulgarizada na América Latina. Tratei desse tema num texto intitulado "Cristianismo e utopia" publicado como " Anexo V" no livro Escritos de Filosofia I (São Paulo, Loyola, 1986, pp. 291-302). No fundo, foi essa situação teórica ambígua que me manteve afastado da Teologia da Libertação”.
Razão e Fé – “Crê para entenderes e entende para creres!”
Pergunta: Como o senhor caracterizaria sua relação com a religião e a fé? Padre Vaz: “Permito-me observar que não se trata propriamente de relação, pois a religião e a fé não são para mim algo extrínseco, com o qual me relacione. Nelas vivo e delas me alimento espiritualmente. A pergunta tem em vista, naturalmente, a compatibilidade entre as minhas convicções religiosas e a minha profissão de filósofo e professor de i filosofia. Posso afirmar que não experimentei conflitos interiores a esse respeito, pois desde o início guiei-me pela diretriz de Santo Agostinho, que conheci ainda estudante de filosofia e que João Paulo II repete na sua encíclica Fides et Ratio: "crê para entenderes e entende para creres " .Essa dialética agostiniana entre fé e razão assegurou para mim uma convivência fecunda entre a fé que professava e a razão que praticava. Meu trabalho filosófico mantém-se rigorosamente dentro das exigências metódicas e dou- r trinais da razão e todas as vezes em que atinge as fronteiras onde a razão se encontra com a fé essa linha divisória é explicitamente traçada. Convém ainda acrescentar que, não obstante um estereótipo corrente, a liberdade intelectual dentro da Companhia de Jesus é, atualmente, bastante grande. Um exemplo é a encíclica Fides et Ratio, que veio atender a questões com as quais me ocupava recentemente, por exemplo quanto às relações entre fé e metafísica e que, no entanto, sofreu restrições por parte de outros jesuítas, entre eles o Padre Joseph Moingt, considerado o mais importante teólogo jesuíta francês atual. Essa temática guiou-me, de resto, na organização do meu livro Escritos de Filosofia I: problemas de fronteira (1 a ed., São Paulo, Loyola, 1986).
Sua obra
Algumas das principais publicações de Henrique C. de Lima Vaz: 1968 Ontologia e História (São Paulo: Duas Cidades); 1986 Escritos de Filosofia I: problemas de fronteira (São Paulo: Loyola); 1991 Antropologia filosófica I (São Paulo: Loyola); 1992 Antropologia filosófica II (São Paulo: Loyola); 1993 Escritos de Filosofia II: Ética e cultura (São Paulo: Loyola); 1997 Escritos de Filosofia III: filosofia e cultura (São Paulo: Loyola); 1999 Escritos de Filosofia IV: introdução à Ética filosófica I (São Paulo: Loyola); 2000 2000 Escritos de Filosofia V: introdução à Ética filosófica II (São Paulo: Loyola). 2001 Escritos de Filosofia VI: Ontologia e História (São Paulo: Loyola) – Este livro, que é a re-edição do que foi publicado em 1968, foi-nos enviado pelo autor com a seguinte dedicatória: ‘uma lembrança dos tempos de outrora. ‘São pensamentos idos e vividos”... seu em Cristo, Henrique de Lima Vaz, out. 01”
Segundo Vamireh Chacon, prof. da Universidade Nacional de Brasília – UnB – este livro “marcou mais de uma geração na direção do cristianismo mais participativo e mais corajoso, hoje assumido por movimentos cada vez mais numerosos em toda a América Latina e, naquele tempo, por pioneiros generosos e ousados. O tempo veio a dar razão a várias das suas posições” – discurso na sessão solene da Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais em homenagem aos 80 anos do Padre Vaz, no dia 8 de novembro de 2001. 2002 Raízes da Modernidade (São Paulo: Loyola).
DEPOIMENTO
A seguir publicamos o depoimento de Luiz Alberto Gómez de Souza, sociólogo, atualmente é diretor executivo do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais – CERIS, organismo da CNBB. Luiz Alberto foi pesquisador do IBRADES e assessor da FAO (Organização das Nações Unidas sobre a Agricultura e Alimentação). Luiz Alberto foi militante da Juventude Universitária Católica – JUC nos tempos do Padre Vaz. A tese doutoral de Luiz Alberto intitula-se A JUC: os estudantes católicos e a política, Editora Vozes, Petrópolis: 1984.
Padre Henrique de Lima Vaz, mestre e companheiro de nossa geração.
“Na celebração dos setenta anos do Padre Vaz comecei assim meu texto, retomado em outro do ano passado, por ocasião de seus oitenta anos: “o que levou, no começo dos anos 60, uma geração de estudantes católicos, sedentos de ação e de compromisso, presentes na política universitária e logo depois na educação popular e no cenário nacional, a procurar um filósofo difícil, denso e de altos vôos teóricos? ... o que levou aquele filósofo a gastar seu tempo cuidadosamente administrado e a munir-se de infinita paciência para ouvir e tratar de responder àqueles jovens?... Que solidariedades misteriosas e profundas se foram constituindo vitalmente, tecendo uma rede de fidelidades e de cumplicidades, criando laços não apenas intelectuais, mas também afetivos, que perduram até hoje, desafiando a contenção jesuítica e o pudor mineiro?” Um mestre é aquele que aponta direções, abre perspectivas. Padre Vaz nos lançou nos grandes horizontes da consciência histórica de nossos tempos. Graças a ele e a Emmanuel Mounier e Teilhard de Chardin, autores de nossa comum predileção, aprendemos a ter audácia e a afastar os “medos miúdos”. Pouco depois, quando chegou o soturno golpe militar, lá estava ele junto a seus amigos, solidário e valente. Nos anos seguintes afundou na reflexão de largo alcance e lançou a mais importante obra filosófica deste país, com sua erudição prodigiosa e capacidade analítica inigualável. Ficou talvez com o injustificado pesar de não ter conseguido colaborar para que muitos de minha geração permanecessem nos espaços eclesiais onde tinham iniciado sua militância. Mas o decisivo é que para todos nós, perseverantes ou não na Igreja, ele deu a chave para crer no compromisso e na prática criadora, assim como as ferramentas irrenunciáveis da ética e da alteridade. Ele nos descortinou o que deveria ser a comunicação das consciências na construção de um mundo justo e fraterno. Anos depois dos tempos fortes de nossa convivência, seguia indicando as pistas de uma utopia concreta: “reavivar nas mentes e nas consciências o grande élan para a liberdade que há dois séculos
levantou os homens do Ocidente ... como tarefa nunca acabada do consenso razoável, da comunhão na justiça, da participação responsável, da partilha de um bem viver simplesmente humano” (“ O destino da revolução”, Síntese nº 45, janeiro-abril 1989). Sempre tive a impressão de que nosso grupo ocupava um lugar muito especial em seu afeto. Assim como para nós, Padre Vaz - que nos últimos anos víamos relativamente pouco e que não compartia algumas de nossas opções - era alguém que tínhamos como referência, presença forte em nosso bem-querer. Como nas relações entre pai e filho, quando aquele parte, fica às vezes a sensação que nem tudo foi suficientemente verbalizado. Mas nos olhares trocados e nos pequenos gestos de alguns encontros, muita coisa se transmitiu. Quando vários de nós fomos voltando ao país, a partir de 1977, nos acolheu com um carinho pouco habitual em alguém normalmente reservado e discreto. Da mesma maneira como me recebeu de braços abertos no IBRADES, lembro o momento tocante de seu reencontro caloroso com Betinho, a quem abriu os espaços jesuítas da rua Bambina para o lançamento do IBASE. E agora, ao saber que acaba de partir, fica a dor funda da saudade, a sensação de um vazio em nossa retaguarda, a falta de um mestre e de um irmão mais velho muito querido, insuperável em sabedoria, discernimento e instigação crítica”. Duas observações do IHU: Quando Betinho voltou do exílio, Padre Vaz era superior da comunidade dos jesuítas residentes na Rua Bambina, então sede do IBRADES. Como superior ofereceu a Betinho uma casa dos jesuítas, contígua à residência, para que iniciasse o projeto do IBASE. Um depoimento histórico de Betinho sobre o Padre Vaz pode ser encontrado no livro Memórias do Exílio. Brasil 1964/19??, obra dirigida e coordenada por Pedro Celso Uchôa Cavalcanti e Jovelino Ramos, sob o patrocínio de Paulo Freire, Abdias do Nascimento e Nelson Werneck Sodré, Editora Livramento, São Paulo, 1976, p. 67-111.
CIÊNCIA E SANTIDADE O jornal Estado de Minas dedicou o Editorial de sábado, dia 25 de maio, ao Henrique Cláudio de Lima Vaz. Publicamos aqui o texto na íntegra. “Filósofos podem ser homens sábios. Podem também ser eruditos. Outros, ainda, possuirão a capacidade de transmitir seu conhecimento e pensar as questões do seu tempo. A muito poucos foi dada a graça de percorrer estas três colunas: a sabedoria, a erudição e a solidariedade com os homens. O ouro-pretano e Padre jesuíta Henrique Cláudio de Lima Vaz, que morreu anteontem, foi um homem que dignificou Minas, o Brasil e seu tempo. Considerado um dos maiores filósofos brasileiros, viveu com a simplicidade dos que sabem que somos todos iguais, filhos de Deus. Seu limite e inspiração estavam sempre no infinito. Uma vida de reflexão que atravessou o século XX, sempre ligada às questões mais candentes do nosso País, como a ausência de liberdade que ameaçou paralisar o pensamento na época da ditadura militar. Padre Vaz foi um mestre de gerações, que alimentou sua Igreja e o entendimento de todos os homens. Para o professor e ex-prefeito de Belo Horizonte, Patrus Ananias, “ele foi seguramente o maior filósofo do Brasil e um dos maiores da tradição cristã de todo o mundo”. A capacidade de aliar a vida do pensamento com a ação sobre a sociedade fez do
filósofo um exemplo de homem comprometido. Dele disse, ontem, dom Luciano Mendes de Almeida: “Ao mesmo tempo, conjugava exímia sabedoria e virtude com a simplicidade e despretensão. No Brasil, será difícil encontrar tão cedo um mestre de tão consumada ciência e santidade”. Padre Vaz percorreu, com sua missão intelectual e pastoral – algo que nele tinha a mesma inspiração – todas as dimensões da filosofia. Partiu da metafísica para chegar à ética, e, desta, para a pesquisa profunda do sentido do homem no mundo, tratado em sua obra maior, Antropologia Filosófica. Seu último livro foi uma guinada madura para a mística. O nosso maior filósofo soube pensar, fazer política com idéias e, próximo ao seu momento decisivo de se encontrar com Deus face a face, buscar de novo a aliança com o mistério. Ciência e santidade: os dois pólos da existência que este humilde mestre de Ouro Preto nos ajudou a entender melhor, por sua obra e exemplo de vida”.
No dia 22 de maio, quarta-feira, cerca de quatro mil estudantes lotaram as arquibancadas do Complexo Desportivo da UNISINOS, reunidos pela presença do candidato à Presidência da República pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva. O evento foi promovido pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) e pela Universidade. Lula expôs seus principais projetos, sustentado em quatro reformas: tributária, com aumento da arrecadação e diminuição de impostos; agrária, tentando reverter os 90 milhões de hectares ociosos no país; da Previdência, unificando o sistema para todos os trabalhadores (públicos e privados); sindical, fortalecendo os 'contratos coletivos'. O candidato contestou o ponto de vista exclusivamente comercial da Área de Livre de Comércio das Américas – Alca - , defendendo o envolvimento das universidades no processo e a valorização dos aspectos cultural, social e político. "É preciso discutir a ALCA, na medida em que ela não dá igualdade de competitividade entre seus integrantes", disse. No mesmo dia, pouco antes do encontro com os estudantes, Lula esteve com o Reitor da UNISINOS, Pe. Aloysio Bohnen. Ele quis saber mais informações sobre a UNISINOS, entre as quais o número de alunos na graduação e os programas que a instituição desenvolve. O Pe. Bohnen destacou a pesquisa feita pelo Curso de Geologia, sobre o Aqüífero Guarani. Lula se mostrou muito interessado e pediu que lhe fosse encaminhado as publicações sobre o tema, especialmente o mapa hidrogeológico elaborado pelo prof. Heraldo Campos e apresentado no dia 23 de maio no IHU Idéias, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos.
O Pe.Aloysio presenteou Lula com o livro O Solidarismo, escrito pelo próprio Pe. Bohnen em co-autoria com Reinholdo Ullmann, o Balanço Social de 2000, o álbum Missões JesuíticoGuaranis e o folder Fatos&Números, uma publicação com o perfil da UNISINOS e o folder do Simpósio Bem Comum e Solidariedade Por uma ética na economia e na política do Brasil, evento que acontecerá na Universidade, de 25 a 27 de junho e é organizado pelo Instituto Humanitas Uunisinos. Entre os membros da comitiva estava, entre outros, Tarso Genro, candidato ao Governo do Estado pelo PT.
“A atividade foi muito positiva. Muitos universitários acompanham o debate eleitoral, mas não têm oportunidade de conhecer o candidato, ouvir de viva voz suas propostas e ver como ele se apresenta. A idéia do DCE é poder fazer com todos os candidatos à Presidência e ao Governo do Estado o mesmo que aconteceu na quarta-feira e que foi tão bem sucedido. Lula expôs muito bem a necessidade de uma avaliação séria dos cursos universitários, abordou a política de bolsas de estudo e o ensino público. Falou sobre sua posição em relação à ALCA, sobre diversos temas relacionados à juventude e às minorias, todos assuntos que necessariamente devem ser discutidos pelos universitários. A participação do público superou todas as nossas expectativas”. Erick da Silva/ Coordenador do Diretório Central dos Estudantes (DCE/UNISINOS) “Em termos acadêmicos, o evento foi muito interessante. Esse tipo de debate é fundamental para criar essa ligação entre a universidade e os grandes assuntos de discussão da sociedade. Acho que mais seguidamente as propostas para os grandes problemas devem ser trazidos para dentro da Universidade. O DCE e a Diretoria de Assuntos Comunitários da PROCEX estão de parabéns pela organização e estrutura do evento. A Reitoria mostrou uma grande abertura para este tipo de acontecimento, que não é tão comum, e que enche de esperança e alimenta o sonho de uma universidade efetivamente universidade, ou seja, uma universidade formadora de cidadãos preocupados com o bem comum e com profundo espírito de solidariedade. Quanto ao encontro em si, acho que Lula soube se adaptar muito bem ao público. Ele foi muito feliz ao dizer que, como Governo Federal, ajudaria a resgatar a dignidade dos negros, índios, mulheres, crianças, beneficiando, assim, todas as pessoas que sofrem exclusão. O interesse do público foi muito grande. Criou-se um clima quase “sagrado”. Isso significa que ele tem personalidade e liderança. Os estudantes participaram com 120 perguntas escritas, o que demonstra o interesse que a palestra despertou”. Prof. Dr. José Ivo Follmann/ Diretor do Centro de Ciências Humanas.
No dia 23 de maio, das 8h30min às 11h, aconteceu o encontro com lideranças religiosas promovido pelo Grupo permanente de estudos e reflexões com lideranças e representantes religiosos locais. Participaram do evento representantes de diferentes religiões da região, professores da UNISINOS, integrantes da equipe de pesquisa e outros participantes do Programa Gestando o Diálogo Inter-Religioso e o Ecumenismo (GDIREC). No encontro, Rafael Gué Martini, membro da Igreja Culto Eclético Universal Fonte de Luz (Santo Daime), aluno e funcionário da UNISINOS, apresentou a história e os fundamentos da sua opção religiosa. Seguiu-se uma exposição feita
pelo Pr. Martin Dreher, professor da Universidade, sobre a questão dos fundamentalismos na história e na história das religiões. Depois de ouvir a palestra do Pr. Martin Dreher, pode-se concluir que, na atual sociedade, regida exclusivamente pela lógica do mercado, um grupo de diálogo entre diferentes religiões representa a gestação de novos caminhos, de certa forma inusitados, de relação entre a diversidade de crenças e a união de forças para contribuir na busca de saídas para os grandes desafios que a humanidade enfrenta.
O projeto Imagens de Esperança está em seu segundo ano e sua 11ª sessão. Desta vez será apresentado o vídeo ARAWETÉ. Documentário sobre um povo tupí da Amazônia, que vive às margens do igarapé Ipixuna, no médio Xingú, Pará. O Video aborda a visão de mundo, a vida na floresta e na aldeia, o contato com outras tribos, bem como as pressões sofridas pelos araweté com a invasão de seu território e a destruição dos recursos naturais por parte do homem branco. O documentário tem 28min de duração e foi realizado pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), SP. O roteiro é de Beto Ricardo e Eduardo Viveiros de Castro. A direção é de Murilo Santos, 1992. A apresentação estará a cargo do Prof. J. Luiz Bica de Mélo (PPGCSA) e a debatedora convidada é a Profª Paula Caleffi (PPG História). Vídeo: ARAWETÉ Dia 29 de maio - quarta-feira SALA 1C111 - 17H Promoção: PPGCSA em cooperação com o IHU Entrada franca
No dia 23 de maio, aconteceu o encontro semanal do comitê sobre a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Na reunião, foram modificadas algumas datas dos encontros previstos para discutir com a comunidade universitária o papel do Brasil e suas conseqüências em relação à implantação da ALCA. A palestra O papel do Brasil na ALCA, dirigida a professores e estudantes de todos os centros acontecerá nos seguintes dias e locais: 4 de junho, às 8h30min, no Auditório Central. 4 de junho, às 19h30min, no Auditório do centro 6. 5 de junho, às 19h30min, no Auditório do Centro 6. No mês de agosto acontecerão as seguintes palestras: 12 de agosto às 19h30min
ALCA e o papel do Estado.
Auditório Central
13 de agosto às 8h30min
ALCA e direitos humanos.
Auditório Central
14 de agosto às 8h30min
ALCA meio ambiente e Auditório do Centro 6 desenvolvimento sustentável ALCA, tecnologias e dependência Auditório do Centro 6
14 de agosto às 19h30min
15 de agosto às 19h30min
ALCA, mídia, cidadania
16 de agosto às 19h30min
ALCA e processos de integração e Auditório do Centro 4 comércio. Grande debate de encerramento Anfiteatro Pe. Werner
22 de agosto às 10h30min
informação
e Auditório do Centro 3
No dia 5 de junho, das 9h às 11h30min, acontece a Palestra Juventude Contemporânea: Políticas e Práticas Sociais. A palestrante será a Profª. Dra. Marilia Pontes Sposito, que é Licenciada em Pedagogia, 1976, pela FEUSP; Mestre em Educação, Área de Concentração História e Filosofia da Educação na Faculdade de Educação da USP, com o título "Expansão do ensino, política populista e movimentos sociais". Doutora em Educação, Área de Concentração História e Filosofia da Educação. Desde 2000 é Professora do Departamento de Filosofia da Educação. O evento é promovido pelo Instituto Humanitas, PPG em Ciências Sociais Aplicadas e PPG em Educação e é aberto a todos os interessados. No mesmo dia, das 14h às 17h, a profa. Marilia coordenará o debate sobre a pesquisa sobre Juventude. O evento é destina-se para professores/as envolvidos/as na temática, mestrandos/as, doutorandos/as e para alunos/as do curso de Especialização em Juventude da UNISINOS. Dia: 5/6 Palestra- Juventude Contemporânea: Políticas e Práticas Sociais. Hora: 9h às 11h30min Local: Auditório Central Debate- Pesquisa sobre juventude Hora: 14h às 17h Local: Sala 1C103
! No dia 5 de junho, das 8h30min às 19h, acontece o Fórum Regional de Solidariedade. O objetivo do evento é desenvolver análises e debates sobre as práticas sociais associativas, para uma maior compreensão sobre as ações cooperativas e seus desdobramentos. O curso é dirigido a líderes políticos, comunitários, religiosos e professores do ensino básico que, no seu cotidiano de trabalho, buscam formas de superar a pobreza. Haverá palestras, painéis, oficinas e apresentação de diversas experiências de superação da pobreza. Evento: Fórum Regional de solidariedade Dia: 5 de junho Hora: 8h30min às 19h Local: Anfiteatro Pe. Werner
" Recebemos da Profa. Dra. Cecília Pires, do PPG de Filosofia Unisinos, a nota que reproduzimos com o pedido que todos e todas se manifestem. O Movimento Nacional de Direitos Humanos/RS participou ativamente do processo de criação do Conselho Estadual de Direitos Humanos e vem informar através deste que, no dia 22 de maio, em sessão plenária da Assembléia Legislativa, foi solicitada a retirada do regime de urgência do Projeto de Lei 120/02, que institui o Conselho Estadual de Direitos Humanos, significando que o mesmo será colocado em votação sem a prioridade que necessita. Está situação é extremamente grave e reveladora! Diante disto, solicitamos que sua entidade se manifeste, enviando e-mail, fax ou telefonando para todos os deputados ou aos lideres de bancada, com o objetivo de manterem o regime de urgência e votem o mais breve possível este projeto. Para quem quiser ler o PROJETO DE LEI Nº 120/2002 e analisá-lo, o texto está disponível na secretaria do IHU.
Participe IHU Idéias. Toda quinta feira das 17h30min às 19h, na sala 1C103Centro 1. Dia
Assunto
6 de junho
Apresentação do livro: A Arte de amar a ciência de Pascal Nouvel- Editora Unisinos
13 de junho Lançamento do livro: Imagens femininas: contradições, ambivalências, violências de Cleci Eulalia Favaro. EDIPUC/RS Coleção Nova Et Vetera 3.
Palestrante Prof. Dr. Fernando Jacques Althoff. Profa. Dra. Cleci Eulalia Favaro.
20 de junho Apresentação do tema A nutrição como uma nova proposta no tratamento de doenças mentais
Profa.. Dra. Denise Righetto Ziegler
Nota: Lembramos que os livros editados pela Editora Unisinos e apresentados no IHU Idéias podem ser comprados, no dia, com 40% de desconto.
AQÜÍFERO GUARANI Com característico dinamismo e capacidade pedagógica, o professor Heraldo Campos, do PPG de Geologia Unisinos, abordou, no IHU Idéias do dia 23 de maio, o tema Aqüífero Guarani: o grande manancial do CONE SUL. Alunos/as e professores/as da Universidade e pessoas de outras instituições atraídas pelo assunto, tiveram acesso ao mapa hidrogeológico do aqüífero guarani.
e artesão
“Eu achei excelente! Eu já sou formado em Geologia e meu irmão, que trabalha na Universidade, me avisou. Valeu. Especialmente me chamou a atenção a parte humanística, a população que se beneficia com o Aqüífero”. Sílvio Gotz- geólogo
"O tema é extremamente atual e oportuno. Eu sou biólogo e estou fazendo doutorado de recursos hídricos na UFRGS. Acho muito interessante poder unir a Geologia e a Engenharia para ter uma visão mais global do assunto Aqüífero Guarani". Daniel Pereira-biólogo "Gostei bastante. O assunto me interessa. Já tinha ouvido falar do Aqüífero, mas de forma geral. Agora vejo bem a importância que tem para os quatro países do Sul.". Cláudia-estudante de Biologia e Geologia na UNISINOS. “Heraldo foi muito feliz na sua exposição. Achei muito importante o mapeamento para a sustentação de um número tão significativo da população sul americana”. Leonardo Maltchik – professor do PPG Biologia- UNISINOS
O NOVO ESPÍRITO DO CAPITALISMO BOLTANSKI, Luc – CHIAPELLO, Ève, Le Nouvel Esprit du Capitalisme. Paris: Gallimard, 1999. 843p. Acaba de ser lançada a tradução espanhola do livro: El nuevo espíritu del capitalismo, Edición de C. Prieto. Traducción de M. Pérez, A Riesco y R. Sánchez Akal. Madrid, 2002, 712 p. 42 euros.
Apresentamos uma recensão do livro feita por Inácio Neutzling e apresentada, em Curitiba, em junho de 2000, no evento ‘Abrindo o Livro’ promovido pelo Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT – tendo como público alvo militantes sindicais, de movimentos sociais e estudantes universitários. No segundo momento, traduzimos e publicamos a entrevista concedida pelos autores quando do lançamento da tradução espanhola ao jornal El País. No terceiro, traduzimos e publicamos a recensão do livro publicada no jornal El País, 18 de maio de 2002.
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Apresentação do livro
Por Inácio Neutzling
O novo espírito do capitalismo
As questões que estão na origem deste livro têm a sua fonte na mudança quase completa da situação e nas fracas resistências críticas que têm sido feitas a esta evolução. Queremos entender mais detalhadamente por que a crítica foi tão impotente em compreender a evolução que se produzia, por que ela se extinguiu brutalmente no fim dos anos 70, deixando o campo livre para a reorganização do capitalismo durante quase duas décadas e por que numerosos militantes de 68 se sentiram à vontade na nova sociedade que advinha, a tal ponto que se tornaram seus porta-vozes e impulsionadores. Um capitalismo regenerado e uma situação social degradada Apesar das crises constantemente evocadas, desde 1973, os vinte últimos anos foram marcados por um capitalismo florescente. A reestruturação do capitalismo, no decorrer das duas últimas décadas, que se fez a partir e em torno dos mercados financeiros e dos movimentos de fusões-aquisições das multinacionais num contexto de políticas governamentais favoráveis em matéria fiscal, social e salarial, foi acompanhada igualmente, de importantes movimentos no sentido de aumentar a flexibilização do trabalho. O capitalismo mundial, entendido como a possibilidade de fazer frutificar seu capital pelo investimento ou pela colocação econômica, se comporta muito bem. As sociedades, para retomar a separação do social e do econômico, com a qual nós vivemos há mais de um século, vão mal. Os dispositivos críticos disponíveis não oferecem, no momento, nenhuma alternativa de envergadura. Permanecem, somente, a indignação em estado bruto, o trabalho humanitário e o sofrimento que se torna espetáculo (os semdocumentos, os sem-casa, os sem-terra), aos quais faltam ainda representações mais ajustadas, modelos de análise renovados e uma utopia social. O objetivo do livro é reforçar a resistência ao fatalismo, sem cair, no entanto, num passado nostálgico, e suscitar, no leitor, uma mudança de disposição, ajudando-o a considerar de outra forma os problemas do tempo, sob um outro ângulo, isto é, como um processo sobre o qual é possível agir. Pareceu-nos útil, assim, abrir a garrafa escura dos últimos trinta anos, para olhar a maneira como os homens fazem sua história. Esta obra tem por objeto as mudanças ideológicas que acompanharam as transformações recentes do capitalismo. Ela propõe uma interpretação do movimento, que vai dos anos que seguem os acontecimentos de maio de 1968, durante os quais a crítica do capitalismo se exprime com força, aos anos 80, quando, no silêncio da crítica, as formas de organização sobre as quais repousa o funcionamento do capitalismo se modificam profundamente, até a busca de novas bases críticas na segunda metade dos anos 90. Ela não é somente descritiva. Ela pretende, a partir do exemplo histórico, propor um quadro teórico mais geral, capaz de compreender a maneira pela qual se modificam as ideologias associadas às atividades econômicas, com a condição de dar ao termo ideologia não o sentido redutor – o qual, muitas vezes, se refere à vulgata marxista – de um discurso moralizador, visando a esconder os interesses materiais e sem cessar desmentido pelas práticas, mas aquele – desenvolvido, por exemplo, na obra de
Louis Dumont – de um conjunto de crenças partilhadas, inscritas nas instituições, engajadas nas ações e por meio delas ancoradas no real.
1- O Espírito do Capitalismo
Uma definição mínima do capitalismo Das diferentes caracterizações do capitalismo nós retemos a fórmula mínima, colocando o acento sobre a exigência de acumulação ilimitada do capital por meios formalmente pacíficos. Seguindo Fernand Braudel, distinguiremos o capitalismo da economia de mercado. De um lado, a economia de mercado se constitui passo a passo e é anterior ao aparecimento da norma da acumulação ilimitada do capitalismo. De outro, a acumulação capitalista só se dobra à regulação mercantil, quando os caminhos do lucro mais diretos são fechados, de tal forma que o reconhecimento dos poderes benfazejos do mercado e da aceitação das regras e dos limites dos quais depende o seu funcionamento ‘harmonioso’(livre troca, interdição dos monopólios, etc) podem ser considerados como ‘surplus’, revelação de uma forma de autolimitação do capitalismo. Outra característica central do capitalismo é a forma de organização do trabalho. O trabalho assalariado significa que uma parte da população, que detém pouco ou nenhum capital e ao proveito da qual o sistema não é naturalmente orientado, extrai das rendas da venda do seu trabalho (e não da venda dos produtos do seu trabalho), que não dispõe dos meios de produção e que depende, portanto, das decisões daqueles que os detêm para trabalhar (pois, em virtude do direito de propriedade, estes últimos podem lhe recusar o uso destes meios) e, enfim, que abandona, no quadro da relação salarial e em troca de sua remuneração, todo direito de propriedade sobre o resultado do seu esforço que volta na totalidade para os detentores do capital. Um segundo traço importante do assalariado é que ele é teoricamente livre para recusar o trabalho nas condições propostas pelo capitalista, como este é livre para propor o emprego nas condições pedidas para o trabalhador, de sorte que, se a relação é desigual no sentido que o trabalhador não pode sobreviver por longo tempo sem trabalhar, ela se distingue, contudo, claramente do trabalho forçado ou escravo e incorpora deste sempre uma certa parcela de submissão voluntária.
A necessidade de um espírito para o capitalismo
O capitalismo é, sob vários aspectos, um sistema absurdo. Os assalariados perderam a propriedade do resultado do seu trabalho e a possibilidade de levar uma vida ativa fora da subordinação. Quanto aos capitalistas, eles se encontram encadeados a um processo sem fim e insaciável, totalmente abstrato e dissociado da satisfação das necessidades de consumo, mesmo de luxo. Para estas duas espécies de protagonistas, a inserção no processo capitalista tem necessidade de justificação. Ora, a acumulação capitalista, ainda que em graus desiguais, segundo o caminho do lucro, exige a mobilização de um número muito grande de pessoas cujas chances de lucro são fracas e a cada uma delas é atribuída uma responsabilidade ínfima, em todo caso difícil de ser avaliada, no processo global de acumulação, de tal sorte que elas não são particularmente motivadas a se engajar nas práticas capitalistas, quando não lhe são hostis. Nós chamamos espírito do capitalismo a ideologia que justifica o engajamento no capitalismo. Ele, hoje, conhece uma crise importante testemunhado pelo desânimo e o ceticismo social.
De que é feito o espírito do capitalismo
O desenvolvimento da ciência econômica, quer se trate da economia clássica ou do marxismo, contribuíram, como mostrou Louis Dumont (1977), a construir uma
representação do mundo radicalmente nova em relação ao pensamento tradicional e marcando “a separação radical dos aspectos econômicos do tecido social e sua construção em domínio autônomo”. Esta concepção permitiu dar corpo à crença segundo a qual a economia constitui uma esfera autônoma independente da ideologia e da moral e obedece às leis positivas, deixando na sombra o fato que uma tal convicção era ela mesma o produto de um trabalho ideológico e que ele não teria se constituído se não tivesse incorporado, em parte recoberto pelo discurso científico, as justificações segundo as quais as leis positivas da economia estão a serviço do bem comum. Certamente seria pouco realista não compreender estes três pilares justificativos centrais do capitalismo – progresso material, eficácia e eficiência na satisfação das necessidades, modo de organização social favorável ao exercício das liberdades econômicas e compatível com os regimes políticos liberais – no espírito do capitalismo. O espírito do capitalismo próprio a cada época deve assim fornecer, em termos historicamente muito variáveis, recursos para aquietar a inquietude suscitada pelas três questões seguintes: 1.- em que o engajamento nos processos de acumulação capitalista é a fonte de entusiasmo, e inclusive para aqueles que não serão, necessariamente, os primeiros beneficiários dos lucros realizados? (autonomia) 2.- em que medida aqueles que se implicam no cosmos capitalista podem ser assegurados de uma segurança mínima para eles e seus filhos? (segurança) 3.- como justificar, em termos de bem comum, a participação na empresa capitalista e defender, face às acusações de injustiça, a maneira pela qual ela é animada e gerida? (bem comum) O ‘primeiro’ espírito do capitalismo, associado à figura do burguês, era consoante às formas do capitalismo, essencialmente familiar, de uma época em que o gigantismo não era ainda buscado, salvo em raros casos. Os proprietários e os patrões eram conhecidos pessoalmente pelos empregados; o destino e a vida da empresa eram fortemente associadas àqueles da família. O ‘segundo’ espírito, que se organiza ao redor da figura central do diretor (ou dirigente assalariado) e dos quadros, é ligado a um capitalismo das grandes empresas, já muito importantes para que a burocratização e a utilização de um enquadramento mais forte e cada vez mais diplomado seja um elemento central. Mas poucas, somente, dentre elas, podem ser qualificadas de multinacionais. Os acionistas se tornam cada vez mais anônimos, numerosas empresas se encontram separadas do nome e do destino de uma família particular. O ‘terceiro’ espírito deverá ser, portanto, isomórfico a um capitalismo ‘mundializado’, operando novas tecnologias, somente para citar os dois aspectos mais característicos do capitalismo hoje.
2- O capitalismo e seus críticos
A noção de espírito do capitalismo nos permite, igualmente, associar numa mesma dinâmica, a evolução do capitalismo e as críticas que lhe são feitas. Se o capitalismo não pode economizar a orientação para o bem comum para obter motivos de engajamento, sua indiferença normativa não permite que o espírito do capitalismo seja gerado a partir dos seus únicos recursos de tal sorte que ele tem a necessidade dos seus inimigos, daqueles que ele indigna e que se opõem a ele, para encontrar os pontos de apoio morais que lhe faltam e incorporar dispositivos de justiça sem os quais não teria nenhuma razão para encontrar a sua pertinência. O sistema capitalista se revelou infinitamente mais robusto do que o pensavam os seus detratores. Mas é importante perceber que ele encontrou nos seus críticos os caminhos da sobrevivência. A nova ordem capitalista que emergiu da Segunda Guerra Mundial nada tem em comum, por exemplo, com o fascismo e o comunismo, pelo fato de dar uma grande importância ao Estado e a um certo dirigismo econômico? É provavelmente esta surpreendente capacidade de sobreviver por endogeneidade de uma parte da crítica que tem contribuído para desarmar as forças anticapitalistas, tendo como conseqüência paradoxal, nos períodos em que o capitalismo é triunfante – como atualmente -, a
manifestação de uma fragilidade que aparece precisamente quando os concorrentes reais desapareceram.
O efeitos da crítica sobre o espírito do capitalismo
O impacto da crítica sobre o espírito do capitalismo é de três ordens. Deslegitimar os espíritos anteriores e questionar sua eficácia. A crítica tem como segundo efeito que, opondo-se ao processo capitalista, ela obriga aos seus porta-vozes que o justifiquem em termos de bem comum. Um terceiro tipo de impacto possível da crítica está na sua análise muito menos otimista quanto às reações do capitalismo. O velho mundo denunciado desaparece, mas não se sabe o que dizer do novo. A crítica age assim como um aguilhão para acelerar a transformação dos modos de produção, os quais entram, então, em tensão, com as expectativas dos assalariados formatados sobre a base dos processos anteriores, o que instigará para que se recomponha a luta ideológica destinada a mostrar que o mundo do trabalho continua tendo um “sentido”.
As formas históricas da crítica do capitalismo
A indignação é a fonte primeira da crítica ao capitalismo. A crítica necessita do apoio técnico e de uma retórica argumentativa para dar voz e traduzir o sofrimento individual em termos que fazem referência ao bem comum. Por isso existem, realmente, dois níveis na expressão de uma crítica: um nível primário, do domínio das emoções, que é impossível fazer calar e um nível secundário, reflexivo, teórico e argumentativo, que permite sustentar a luta ideológica que supõe o recurso a conceitos e esquemas que permitem ligar as situações históricas que se quer submeter à crítica a valores suscetíveis de serem universalizados. Quando falamos do desarmamento da crítica é a este segundo nível que nos referimos. Desde a sua formação, se o capitalismo mudou, sua ‘natureza’ não se transformou radicalmente ainda que as fontes de indignação, que continuamente têm alimentado a sua crítica, permanecem as mesmas no curso dos dois últimos séculos. Elas são fundamentalmente quatro: 1.- o capitalismo como fonte de desencantamento e de inautenticidade dos objetos, da pessoas, dos sentimentos e, de modo mais geral, da forma de vida que lhe é associado; 2.- o capitalismo como fonte de opressão enquanto ele se opõe à liberdade, à autonomia e à criatividade dos seres humanos submetidos, sob seu império, de um lado à dominação do mercado como força impessoal que fixa os preços, designa os homens e os produtos-serviços desejáveis e rejeita os outros; de outro lado, às formas de subordinação da condição salarial; 3.- o capitalismo como fonte de miséria entre os trabalhadores e de desigualdades nunca vistas no passado; 4.- o capitalismo, fonte do oportunismo e do egoísmo que, favorecendo os únicos interesses particulares, se revela destruidor dos laços sociais e das solidariedades comunitárias, particularmente das solidariedades mínimas entre ricos e pobres.
A Crítica Artista e a Crítica Social
Uma das dificuldades do trabalho crítico é a quase impossibilidade de manter juntos estes diferentes motivos de indignação e de integrá-los num quadro coerente, ainda que a maior parte das teorias críticas privilegiem um eixo em detrimento de outros em função do qual elas desenvolvem a sua argumentação. Podemos distinguir uma crítica artista e uma crítica social. A crítica artista que se enraíza na invenção de um modo de vida boêmio, ataca sobretudo as duas primeiras fontes de indignação: de um lado, o desencantamento e a inautenticidade e de outro, a opressão, que caracterizam o modo burguês associado à avalanche do capitalismo. Esta crítica coloca o acento na perda de sentido e, particularmente, na perda do sentido do belo e do grande, que decorre da estandardização e da capacidade de mercantilizar tudo: objetos cotidianos, obras de arte
e os seres humanos. Ela insiste sobre a vontade objetiva do capitalismo e da sociedade burguesa de dominar, de submeter os homens a um trabalho prescrito tendo como fim o lucro, mas invocando hipocritamente a moral, à qual ela opõe a liberdade do artista, sua rejeição de uma contaminação da estética pela ética, sua recusa de toda forma de sujeição no tempo e no espaço e, nas suas expressões mais extremas, de qualquer espécie de trabalho. A crítica social, inspirada pelos socialistas e, mais tarde, pelos marxistas, ataca sobretudo as duas últimas fontes de indignação: o egoísmo dos interesses particulares na sociedade burguesa e a crescente miséria das classes populares numa sociedade de riquezas sem precedentes, mistério que encontrará sua explicação nas teorias da exploração. Apoiando-se na moral e, muitas vezes, na temática de inspiração cristã, a crítica social rejeita, muitas vezes com violência, a imoralidade ou a neutralidade moral, o individualismo, ou seja, o egoísmo dos artistas. A estrutura central do livro é esta: Primeira parte: A emergência de uma nova configuração ideológica 1.- O discurso de management dos anos 90 2.- A formação da cidade por projetos Segunda parte: As transformações do capitalismo e o desarmamento da crítica 1.- 1968. Crise e renovação do capitalismo 2.- A De-construção do mundo do trabalho 3.- O enfraquecimento das defesas do mundo do trabalho Terceira parte: O novo espírito do capitalismo e as novas formas da crítica 1.- A renovação da crítica social 2.- À prova da crítica artista Conclusão: A Força da Crítica
II- Entrevista dos autores do livro O novo capitalismo coloca o Estado de bem-estar contra a parede
Traduzimos e publicamos, na íntegra, a entrevista concedida ao suplemento de livros do jornal espanhol El País, 18-5-02, pelos autores Luc Boltanski e Ève Chiapello, quando do lançamento da tradução espanhola do livro. Para o jornal, os autores renovaram a perspectiva crítica na França, sobretudo depois da publicação, em 1999, do livro O novo espírito do capitalismo. Nele falam sobre a amplitude da crise do capitalismo nas empresas e na sociedade e até que ponto esta é o resultado da conjunção do que estes sociólogos chamam de ‘crítica social’ (as aspirações de igualdade) e a ‘crítica artística’ (a autonomia e a liberdade). A tradução foi feita pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT – de Curitiba. A eles nossos agradecimentos. El País: Qual foi a recepção do livro de vocês na França? Boltanski e Chiapello: Foi realmente boa, principalmente entre a esquerda, que acumulou um déficit de análise sobre o que havia ocorrido durante os últimos trinta anos. O mal-estar que percebíamos era um sentimento compartilhado por um grande número de pessoas, seja por membros da geração de 1968 que, tendo depositado parte de suas esperanças na subida ao poder dos socialistas, se haviam decepcionado, seja tratando-se de pessoas mais jovens que haviam tomado consciência política entre 1985 e 1995, ou seja, num momento de máxima despolitização. Estes jovens se encontraram imersos numa sociedade na qual primava a desigualdade, na qual tudo era uma mercadoria e na qual uma parte da população se encontrava precarizada, enquanto o discurso político oficial não falava senão da inevitabilidade do mercado mundial e da necessidade de adaptar-se a ele.
El País: Vocês propõem uma confluência da crítica social e da crítica artística para colocar um desafio eficaz ao novo espírito do capitalismo. Boltanski e Chiapello: A precarização do trabalho é hoje tão elevada que um grande número de trabalhadores sofre tamanha insegurança que não é capaz de construir projetos de futuro, como construir uma família. Este fenômeno restringe enormemente a liberdade real das pessoas: o novo mundo permite que se desenvolvam aqueles que estão bem dotados de recursos que facilitam a mobilidade, enquanto fecha os demais numa situação em que sofrem a precariedade, quando não a exclusão. El País: Como as diferentes formas de crítica poderiam confluir? Boltanski e Chiapello: Historicamente, foi a crítica social que se tornou porta-voz das demandas por segurança, porque esta crítica se preocupou com a miséria e se indignou diante do egoísmo dos ricos. Contudo, mesmo que a ausência de segurança seja um obstáculo para a liberdade, a crítica artística, que se constitui em torno das demandas de autenticidade e de libertação, pode igualmente fazer da segurança econômica um dos seus cavalos de batalha. O tema da segurança foi, pois, o primeiro no qual pensamos para reunir as duas críticas no atual contexto. El País: Existem manifestações concretas desta junção? Boltanski e Chiapello: Sim. Pensemos no orçamento participativo de Porto Alegre. El País: Vocês assinalam os limites da crítica, mas indicam a importância de reconstruir uma resposta adequada às novas dimensões do capitalismo num ‘mundo em conexão’. São as redes, incluída a Internet, os cenários de uma exploração até agora ‘invisível’? Boltanski e Chiapello: A nova exploração em rede é uma exploração dos imóveis pelos móveis. No modelo de Marx, a exploração se baseia no diferencial da propriedade. Nos estudos críticos da burocracia, é o diferencial do poder na hierarquia que permite a exploração burocrática. No mundo da rede, a exploração se apóia também no diferencial da mobilidade. O mais móvel pode mudar-se a qualquer momento, deixando plantado o menos móvel, que então deve pagar para reduzir a mobilidade do outro e conseguir que adapte seu ritmo ao dele. El País: Habitualmente se identifica mobilidade com modernidade. Boltanski e Chiapello: No leque de valores do novo espírito do capitalismo, a mobilidade ocupa um lugar de honra. Apresenta-se como uma exigência da modernidade, merecedora de uma elevada retribuição. Pois bem, nós nos dedicamos a demonstrar que os heróis móveis da modernidade capitalista devem essa mobilidade à exploração de uma multidão de pessoas isoladas num lugar bem definido. O que nos conduz, finalmente, à seguinte observação: os movimentos críticos costumam tender, sem dúvida por força da eficácia, a definir-se isomorficamene com relação ao mundo que criticam. Deste modo, não há dúvida de que não podemos compreender a burocracia dos antigos partidos e sindicatos marxistas se não vemos que era o reflexo da grande empresa capitalista burocratizada. El País: Existe algum vínculo entre a debilidade das críticas do novo espírito do capitalismo e o aumento do descontentamento por parte da extrema direita na Europa? Boltanski e Chiapello: Evidentemente. E, uma vez mais, a questão da mobilidade nos parece, a este respeito, central. O capitalismo, com sua recente reorganização, restabeleceu o vínculo com uma tendência que lhe é fundamentalmente intrínseca: a do desenraizamento, que joga ao mercado de trabalho massas de pessoas que se viram despojadas do ambiente em que, até então, haviam podido subsistir. Contudo, e este é um fato relativamente novo, o capitalismo quebrou os vínculos ideológicos que mantinha desde o século XIX com as estruturas tradicionais, sobretudo com a família, para fazer da mobilidade seu valor supremo.
El País: Qual é a opinião de vocês sobre a situação da França? Boltanski e Chiapello: O que mais chama a atenção dos resultados das eleições na França é que não traduzem tanto uma luta de classes como a resistência e a angústia das classes populares, que já não dispõem dos recursos que lhes permitem aproveitar-se da mobilidade, contra, por um lado, aqueles que dispõem dos recursos que lhes permitem aproveitar-se plenamente da mobilidade (por exemplo, a figura do ‘burguês boêmio’) e, por outro, contra aqueles que, impulsionados pela mobilidade forçada e que sofrem uma precariedade ainda maior (imigrantes, indocumentados), são percebidos por parte destas classes populares como uma ameaça contra as últimas proteções de sua segurança. El País: Depois dos acontecimentos de Seattle, Gênova e Porto Alegre, existe um ponto de inflexão na potência crítica dos movimentos sociais? O novo espírito do capitalismo tem data de caducidade? Boltanski e Chiapello: Uma das características do novo capitalismo é ter colocado contra a parede as regulações e dispositivos estabelecidos pelo Estado de bem-estar organizado no marco do Estado-nação, que constituía também o cenário principal no qual se produziam as lutas sociais. O principal elemento de futuro na contestação é sua reconstrução em escala internacional, mas de uma forma descentralizada, que não tem nada a ver com os desvios autoritários que extraviaram o movimento operário ao longo do século XX. Um segundo ponto muito importante é que este movimento colocou em primeiro lugar não apenas a defesa dos trabalhadores precarizados, mas também a luta contra a mercantilização generalizada.
III- Recensão do livro Texto publicado por El País – 18-5-02. Autor: José Luiz Pardo. Tradução: colegas do CEPAT aos quais agradecemos.
O capitalismo do espírito Quando Max Weber escreveu A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, ninguém suspeitava que o capitalismo pudesse ter algo a ver com o ‘espírito’. Mais do que isso, a crítica reacionária não deixava de lamentar a maneira como o ‘materialismo’ das sociedades industriais pisoteava os valores espirituais (como ainda hoje o faz o Vaticano, de vez em quando), e a crítica revolucionária, tendo reduzido o espírito à degradada condição de falsa consciência, considerava-o como síntese de uma coleção de infames mentiras. Naquela obra, cujo rastro está longe de se ter esgotado, Max Weber fez compreender a uns e outros que nem sempre os valores espirituais estavam em oposição ao capitalismo (às vezes, pelo contrário, constituíam uma formidável aliança estratégica com ele), nem as justificativas ideológicas se reduziam a uma mera excrescência idealizada para enganar os explorados e limpar a consciência dos exploradores. Se o capitalismo fosse apenas essa fria máquina engenhosa de extrair mais valia que se encerra em si mesmo, como o vampiro que chupa o sangue dos aldeões para prolongar sua imortalidade, os aldeões já teriam queimado há muito tempo o castelo do enganador e lhe teriam cravado uma estaca no coração em algum fatídico amanhecer. Mas, o fato é que, assim como o Drácula somente pode aparecer durante a noite, o capitalismo somente pode realizar sua insaciável voracidade fundamentando-se em normas sociais e históricas concretas, e necessita da cumplicidade dos homens de carne e osso para existir e perpetuar-se; e estes homens de carne e osso, diferentemente da ‘fria’ máquina capaz de acumular abstratos benefícios, não podem agir sem dar às suas ações um sentido e sem buscar justificativas para a sua conduta. O ‘espírito’ do capitalismo é, tal como sugere Luc
Boltanski e Ève Chiapello, um conjunto dessas justificativas com as quais as pessoas explicam, melhor ou pior, sua adesão ao ‘sistema’ de vida no qual – querendo ou não, sabendo ou não, gostando ou não – se encontram imersas. Obrigado desse modo a forjar um ‘espírito’ mediante o qual se faz aceitável para os que o encarnam, o capitalismo não tem outro remédio senão abrir, por esse procedimento, um flanco para a crítica. Os autores de O Novo Espírito do Capitalismo reúnem essas críticas em duas grandes categorias: a crítica social (que reprova no capitalismo a desigualdade e a miséria que produz, e que, portanto, fala em nome da justiça) e a crítica artística (que, defendendo de certo modo os direitos da beleza, rechaça o capitalismo por sua restrição da liberdade e por sua opressão da autonomia pessoal): Marx e Baudelaire. Se a crítica social, que durante décadas exerceu praticamente sozinha o papel da crítica real (enquanto que a ‘crítica artística’ não passava de uma atitude estética minoritária e elitista, sempre sob a suspeita de nostalgia do antigo regime), parece ter alcançado sua obsolescência – como o prova a perda de eleitorado dos partidos comunistas – isso se deve sem dúvida, em parte, ao seu (relativo) êxito, ou seja, à sua paulatina integração no ‘sistema’ mediante a construção do chamado Estado do bem-estar. O ponto grave desse ‘êxito’ – que no tempo coincide aproximadamente com o apogeu do capitalismo macro-empresarial ou ‘fordista’ – supôs, pois, o ‘relevo’ para a crítica artística que, em 1968, passou de um discurso de minorias para converter-se num fenômeno de massas que denunciava o aburguesamento do ‘sujeito revolucionário’ e a escandalosa homogeneização de uma sociedade hiper-protegida, administrada e acomodada em seu ‘bem-estar’confortável e previsível. Os últimos trinta anos registraram o amargo ‘êxito’ dessa crítica, que a esquerda não comunista – no mesmo momento em que se afundavam os regimes ‘soviéticos’ e se organizava a ‘nova (e única) ordem mundial’ – converteu em sua ideologia de recâmbio diante da suposta ‘morte do marxismo’ e que, convenientemente recuperado pelas ‘teorias’ da gestão empresarial surgidas na década de noventa (e que rapidamente contaminou as técnicas de gestão estatal), assim como por toda classe de ‘identidades minoritárias’, se converteu no novo espírito do capitalismo (sua nova justificativa). A bandeira da autonomia, da liberdade e da criatividade serviu para desprestigiar todas as conquistas da proteção social dos trabalhadores (começando pelas organizações sindicais) e para debilitar e desinstitucionalizar tudo o que podia servir como foco de resistência para a sede insaciável do velho vampiro imortal. A esta altura, o corte ‘subversivo’ da crítica artística está completamente despotencializado, mas a crítica social (que permanece ancorada nos modelos de intervenção ultrapassada, se diluiu em ações de caráter ‘humanitário’ ou se fechou em atitudes de hostilidade incapazes de propor alternativas) não apresenta indícios de estar em condições de tomar o lugar de destaque. Mesmo que Boltanski e Chiapello não sejam o Max Weber do século XXI, não apenas aprofundam as razões pelas quais esse ‘espírito do capitalismo’ é hoje tão forte (e a crítica tão fraca) ou, o que é o mesmo, diagnosticam a doença pela qual a sociedade se degradou nas últimas décadas na mesma medida em que progrediu o capitalismo, mas que oferecem à visível desorientação do discurso da esquerda algumas idéias para a rearticulação dos discursos críticos.
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A VO L T A D E D EU S Artigo da semana: A volta de Deus, de Sérgio Paulo Rouanet, publicado na Folha de São Paulo, 19 de maio de 2002.
“Não chega a ser uma novidade que estamos assistindo desde algum tempo a um certo "reencantamento do mundo", isto é, a uma inversão daquele processo que Max Weber considerava típico da modernidade e que tínhamos nos habituado a ver como definitivo: a secularização”. Assim, Rouanet, autor de, entre outros, As Razões do Iluminismo e Mal-Estar na Modernidade (Cia. das Letras), inicia a brilhante análise na qual retoma e comenta, de maneira pertinente, a discussão do que J. Habermas tem chamado da sociedade pós-secular. A leitura do artigo é interessante, pois dá conta de uma série de autores recentes que se destacaram nesta discussão como J. Habermas com a sua importante alocução Glauben und Wissen,(Crer e conhecer) publicada originalmente no Süddeutesche Zeitung, 15-10-01 e cuja tradução portuguesa pode ser encontrada na Folha de São Paulo, 6-01-02 e na tradução feita pelo boletim CEPAT Informa nº . 80, janeiro de 2002, p. 33-42. Rouanet comenta o discurso de Richard Rorty ao receber o prêmio Meister Eckhart e entabula uma fina e aguda discussão com o livro Credere di Credere, de Gianni Vattimo, lamentavelmente não traduzido para o português, no qual o filósofo italiano do Il Pensiero Debole faz uma clarividente e pungente profissão de fé católica. A íntegra do discurso de Richard Rorty pode ser consultado no jornal alemão Süddeutsche Zeitung, 4-12-01. Segundo Rouanet, o texto de Habermas, de Rorty e o livro Dieu, un itinéraire (Deus, um itinerário). Paris: Odile Jacob, 2001, de autoria de Régis Debray, são três textos que merecem destaque especial depois que a tensão entre sociedade secular e religião explode, segundo Habermas, a partir do dia 11 de setembro de 2001. Régis Debray, na entrevista concedida à revista literária Lire, novembro de 2001, p. 3440, na qual fala longamente do seu livro acima citado, constata que “a secularização das sociedades não produziu sociedades agnósticas. Ela produziu sociedades supersticiosas, que cultuam personalidades delirantes, como no mundo comunista, ou criam um imaginário coletivo digno de uma sociedade do século X antes de Cristo, como os Estados Unidos, que são, no entanto, a sociedade tencnologicamente mais desenvolvida. Na fantasmagoria americana, Ben Laden é o anticristo, o grande manipulador do mal...” Esta entrevista, como também os textos de Habermas, a versão alemã do discurso de Rorty e a tradução francesa do livro de Vattimo, podem ser pedidos e consultados na secretaria do IHU.
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A PROFESSORA DE PIANO A Professora de Piano - (La Pianiste) França/Áustria/2000. Direção: Michael Haneke. Com: Isabelle Huppert, Annie Girardot, Benoît Magimel, Anna Sigalevich, Susanne Lothar. Udo Samel. Drama. (Censura: 18 anos.) Obs.: Este filme nos foi indicado, entre outros colegas, pelo prof. Dr. Pe. Marcelo Fernandes de Aquino, a quem agradecemos. Os que viram o filme nos sugerem a possibilidade de um cinefórum sobre o mesmo. Estamos estudando a possibilidade. Publicamos, a seguir, a crítica do filme publicada na página www.cineweb.com.br
A Professora de Piano
por Neusa Barbosa
Quando venceu três troféus no Festival de Cannes/2001, este drama do austríaco Michael Haneke, com certeza, não despertou unanimidade. Além de um bastante
polêmico Grande Prêmio do Júri, foram atribuídos troféus de melhor interpretação aos dois protagonistas, a atriz Isabelle Huppert e o ator Benoît Magimel. Apenas o de Mme. Huppert pareceu inconteste, especialmente diante da falta de concorrência à altura entre os títulos daquela competição. Mesmo levando em conta todos os predicados da que é hoje a grande dame do cinema francês, restou a dúvida se ela não estaria se repetindo em papéis sombrios como este, em que interpreta a professora de piano Erika Kohut. Verdadeira coleção de perversões sexuais enfeixadas numa personalidade reprimida, ela combina uma carreira bemsucedida, como mestra num conservatório, com a incapacidade de manter um único relacionamento normal em qualquer nível - seja com a mãe (Annie Girardot), seja com os alunos, mantidos a distância por um rigor que, muito freqüentemente, incide na crueldade. Mesmo assim, ou pelo gosto do desafio diante de uma mulher aparentemente tão inacessível, Erika começa a sofrer o insistente assédio de um candidato a aluno, Walter Klemmer (Benoît Magimel). Uma insistência que, afinal, é premiada com a proposição de um jogo sadomasoquista. Erika não se compraz em nenhuma modalidade de sexo convencional. Sua vida secreta inclui incursões por peep shows, voyeurismo e sessões de automutilação. Quando a professora lhe propõe unilateralmente os termos de uma relação doentia, o desejo de Walter se retrai. É então Erika que começa a caçá-lo, descendo todos os degraus da humilhação num crescendo que atinge a histeria. É nessa trajetória que o filme revela sua inconsistência dramática. Adaptando livro do escritor Elfriede Jelinek, o cineasta, e também roteirista, Haneke não demonstra nenhuma compaixão por sua talentosa intérprete, a ponto de se admirar da sua coragem ao ter se submetido aos rituais a que se assiste em cena. Mas, fora o prestigiado prêmio de Cannes, terá valido a pena? De algum modo, o calvário emocional da protagonista nunca parece inteiramente convincente, e isso decorre da maneira como seu personagem foi construído no roteiro. Por isso, apesar da entrega da intérprete, não há como esconder sua psicologia rasa, tanto mais imperdoável quando se atenta que o currículo do diretor registra um diploma nesta área, além de filosofia e teatro. Muito pior do que esta fragilidade, que impede que o personagem se torne inteiramente humano aos olhos do espectador, é também um traço de misoginia. Nesta história, todas as mulheres, sem exceção, são vítimas maniqueístas, viciadas na própria dor e perversas, a ponto de um personagem vulgar como o do mauricinho Walter chegar a parecer digno, por comparação. Como bem observou a crítica inglesa Barbara Ellen, no jornal The Times, este é um filme em que as mulheres estão sempre erradas. E nunca nenhuma delas é compreendida. Quanto ao diretor, de quem já se conhece no Brasil Violência Gratuita e Código Desconhecido, a esta altura já é possível desconfiar desta sua insistência num certo tipo de controvérsia especializada em cutucar com vara curta o limite do espectador. Talvez por ter estudado psicologia, ele guarde um interesse maior em casos patológicos. Se como cientista isso parece natural, como cineasta já está cheirando a redundância.
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Malanismo: cadáver adiado que procria
“A taxa-Selic foi mantida em 18,5%. Não haverá comemoração. Desta vez, este site acertou menos por seus méritos e mais pela evidência de que os erros do BC e do malanismo são de uma enfadonha constância. A melhor definição para o malanismo está expressa num verso de Fernando Pessoa: é o cadáver adiado que procria. Cadáver, porque está morto, seja qual for o futuro presidente. Mas
procria, porque, afinal, as armadilhas que criou estão aí, pegando as canelas do governo. É o caso do crescimento pífio. É o caso da meta inflacionária equivocada. E são esses erros que explicam o juro que não cai. E o juro não cai com o pretexto de que serve para melhor administrar os riscos” – sítio do Primeira Leitura, 23 de maio de 2002 – www.primeiraleitura.com.br O sócio e editor do sítio de Economia e Política Primeira Leitura é Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, foi presidente do BNDES e Ministro das Comunicações (governo FHC).
Reeleição de FHC e o FMI
“Não há como esconder que o Brasil quebrou em 1998. Sem o auxílio do FMI (por pressão dos EUA), talvez não tivesse havido a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. O FMI não determinou apenas o programa de 1999/2002 (melhor, aliás, do que o de 1995/1998). Determinou o destino político do País” – Antonio Delfim Netto, no artigo As versões tucanas, Carta Capital, 15 de maio de 2002, p. 23.
Argentina: Uma nação em dissolução?
“À medida que a destruição avança, buscam-se argumentos para justificar e pedir mais sacrifícios apoiando-se na repetida frase ‘não há outra saída’, como pretexto para narcotizar a consciência dos dirigentes. Tal pequenez espiritual e ética não sobreviveria sem o reforço daqueles que padecem da velha doença do coração: a incapacidade de sentir culpa” – Jorge Bergoglio, cardeal-arcebispo de Buenos Aires, jesuíta, no discurso feito no dia nacional argentino, 25 de maio, denunciando a ‘dissolução nacional’ da Argentina – Página 12 26-5-02.
O povo argentino não é culpado
“Sabemos muito bem que este povo poderá aceitar humilhações, mas não a mentira de ser julgado culpável por não reconhecer a exclusão de vinte milhões de irmãos com fome e com a dignidade pisoteada” – idem.
Tempo de ficção e bezerro de ouro
“Vivemos muito tempo de ficções, acreditando que estivéssemos nos primeiros mundos, nos atraía o bezerro de ouro da estabilidade consumista e turística de alguns, a custa do empobrecimento de milhões. Quando obscuras cumplicidades de dentro e fora, se convertem em atitudes irresponsáveis que não vacilam em levar as coisas até o limite sem reparar os danos, de pouco nos serve a ilusória tentação de exigir bodes expiatórios com vistas a um suposto surgimento de uma classe melhor, pura, mágica...” – idem.
A última advertência?
Washington Uranga, jornalista argentino que esteve, recentemente, aqui na UNISINOS (cfr. IHU On-Line, no. 13, 15de abril de 2002) no artigo “¿La última advertencia?”, publicado no jornal Página 12, 26-5-02, afirma: “Seguindo o caminho atual vamos inevitavelmente para um ‘beco sem saída’. Esta pode ser a síntese do que disse Bergoglio que, neste ponto, reflete a opinião da maioria da hierarquia católica argentina”. Segundo Uranga, trata-se do discurso mais contundente pronunciado desde o final da ditadura militar argentina.
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" Escândalos sexuais
No dia 20 de maio, a coordenação do IHU reuniu-se com o prof. Dr. Mário Fleig, coordenador do Laboratório de Filosofia e Psicanálise do Programa de Pós-Graduação de Filosofia. Estudouse a viabilidade da discussão e debate acadêmico sobre a eclosão da pedofilia e dos escândalos sexuais na Igreja.
Direitos Humanos
No dia 21 de maio, a coordenação do IHU reuniu-se com a profa. Dra. Cecília Pires, do Programa de Pós-Graduação de Filosofia. Discutiu-se o projeto do IHU, especialmente no que se relaciona ao tema Direitos Humanos.
Religiões e religiosidade
No dia 22 de maio, a coordenação do IHU participou de uma reunião com o prof. Dr. José Ivo Follmann, diretor do Centro de Ciências Humanas e articulador do grupo temático Religiões do IHU, profa. Dra. Edla Eggert , professora do PPG de Educação, prof. Dr. Castor Mari M. Bartolome Ruiz, do PPG de Filosofia e articulador do grupo temático Ética e Antropologia do IHU, a profa. Dra. Cleide Cristina S. Rohden, para discutir a continuidade do curso de extensão Religiões e religiosidade.
O Simpósio na Intenert
No dia 23 de maio, a coordenação do IHU se reuniu com Paulo Torino, diretor da Rádio Unisinos. Ele comunicou oficialmente que a Rádio Unisinos transmitirá on-line, via Internet, todas as atividades do Simpósio Nacional Bem Comum e Solidariedade. Por uma ética na economia e na política do Brasil, que se realizará de 25 a 27 de junho de 2002.
Direitos Humanos
No dia 23 de maio, a coordenação do IHU encontrou-se com o prof. Solon Eduardo Annes Viola para debater os encaminhamentos da articulação do subgrupo temático Direitos Humanos, do Setor Ética, Cultura e Cidadania.
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&'( A entrevistada relâmpago desta edição é...
) A professora Berenice Corsetti é vice-diretora do Centro de Ciências Humanas. Formada em História pela Universidade de Caxias do Sul, com mestrado em História Universal pela Universidade Fluminense e doutorado em Educação, pela Universidade de Santa Maria em convênio com a Unicamp. Um pouco de história - Nasci em Caxias do Sul, segunda filha de seis irmãos. Fiz toda minha formação do ensino básico, médio e a faculdade de História na minha cidade. Em 1983, terminei o mestrado em São Paulo e voltei à Caxias. Lecionei na rede estadual, em escolas particulares e na Universidade de Caxias do Sul. Duas paixões- Sou uma historiadora apaixonada pela educação; uma historiadora da educação e uma educadora da história. Minha paixão pela história está relacionada à busca do sentido da vida, aquela necessidade de me entender como sujeito social. E quando comecei a lecionar história foi nascendo minha paixão pela educação. Me chama a atenção o resgate da memória coletiva e o fato de ensinar as pessoas a pensarem historicamente, a se verem no fluxo da história. Outras atividades- Na UNISINOS, além da vice-direção do Centro, participo no PPG de Educação. Leciono nos Cursos de Pedagogia e História. Trabalho em um projeto de pesquisa da educação no RS, que tem como título A Escola Pública no RS de 30 a 64. Fora da Universidade, participo, entre outras coisas, de um projeto pedagógico-esportivo ligado ao Clube Internacional, à construção da identidade colorada. As escolas visitam o museu do Internacional, vão aos jogos, entram com os jogadores no campo, etc. Autor- Josep Fontana Livro- Análise do passado e projeto social, de Josep Fontana Filme- Chove sobre Santiago, de Helvio Soto e História Oficial, de Luis Puenzo. Nas horas livres- Vou ao Beira Rio para ver meu time. Eu sou uma colorada militante e assumida! Também gosto de ler e viajar. Um presente- Flores
Vice-diretora de Centro- Um desafio instigante e um compromisso real. UNISINOS: Uma Instituição na qual é possível construir nossos sonhos. IHU- Uma idéia inovadora enquanto instância de articulação orgânica dos pressupostos humanistas que dão fundamento a esta Universidade. Um sonho- Ajudar a construir um projeto para o País, com lideranças políticas capazes de afirmá-lo no cenário internacional.
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Aniversários 1º/6 – Vilma Pafiadache Rocha Dantas dantas@bage.unisinos.br
Ramal 1172
Cartas do Leitor
Parabéns, equipe do IHU On-Line, pelo ótimo trabalho! Parabéns pela escolha das matérias, sempre atuais e importantes, e principalmente, pela qualidade dos textos, pela sua profundidade e por fomentar a discussão de assuntos que interessam à comunidade em geral. Acredito que a essa altura, na 18º edição, já se poderia pensar para um futuro próximo, um formato impresso, quem sabe! Um abraço a todos. Tiago da S. Cesar Graduando de História, bolsista e integrante do GDIREC
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