IHU OnOn-Line Edição nº 195 – 11 de setembro de 2006 Fiódor Dostoiévski: pelos subterrâneos do ser humano Há 125 anos, morria Fiódor Mikhailovich Dostoiévski, uma das maiores personalidades da literatura russa e universal. Não por acaso Sigmund Freud considerava a sua última obra, Os Irmãos Karamá Karamázov, como o maior romance já escrito. Por muito tempo esquecido, foi Mikhail Bakthin que conseguiu captar o artifício da polifonia, vista pelos críticos ortodoxos como um exercício de rusticidade, como a grande novidade do autor russo. Ou seja, Dostoiévski "não tem a preocupação de encontrar um denominador comum para seus romances. Deixa todas as vozes pululando com o mesmo valor, sem que nenhuma se sobrepuje à outra", afirma Paulo Venturelli, professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Isso deixa as obras de Dostoiévski difíceis de serem encenadas, constata Elena Vássina, professora nos cursos de graduação e pós-graduação em Letras Russas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Luiz Felipe Pondé, professor da PUC-SP, reflete sobre o parricídio como a representação do corte filosófico e psicológico com o passado. Para Pondé, "a modernidade, sempre sob a ótica de uma teologia da modernidade, representa a defesa filosófica do parricídio: matamos Deus, matamos o Pai, somos livres para exercer o nada; esse nada é o niilismo articulado em todas as frentes, mas que Ivan, ao final do livro Os Irmãos Karamá Karamázov, parricida por excelência, percebe que diante de si está o vazio, o Diabo ou seu duplo, um cínico niilista". E Pondé, contundente, constata: “A modernidade é parricida com distinção e louvor, é militante e interpreta isso como liberdade, ao invés de perceber que essa liberdade é a do nada". Além dos acima citados, também publicamos nesta edição entrevistas com Joseph Frank, autor de uma biografia de Dostoiévski, em quatro volumes; com Paulo Bezerra, o primeiro tradutor da obra do escritor diretamente do russo para o português, pois as traduções anteriores eram feitas da versão francesa; com o médico neurologista Leonardo Cruz de
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SÃO LEOPOLDO, 11 DE SETEMBRO DE 2006