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Células-tronco embrionárias Algumas ponderações éticas e científicas Editorial Neste mês de dezembro, o STF deverá julgar a ação

compartilham “dos mesmos princípios morais”. Favorável

direta de inconstitucionalidade que barra a pesquisa com

aos avanços da ciência, ele contesta a utilização de

células-tronco embrionárias autorizada pela nova Lei de

embriões nos estudos e comenta que “nem todos os

Biossegurança. Uma discussão científica e ética está em

métodos que os cientistas usam são eticamente

curso. Na busca incansável pela cura de doenças

aceitáveis”. Já para Volnei Garrafa, professor da UnB, o

degenerativas e com o intuito de prolongar a vida

embrião não pode ser considerada como uma pessoa.

humana, membros da comunidade científica defendem o

Segundo ele, “a ciência tem se mostrado impotente para

uso de células-tronco embrionárias para pesquisas. Em

definir sob o prisma acadêmico quando se dá o início da

contrapartida, surge o questionamento: é ético utilizar-

vida humana, quando um embrião passa a ser pessoa.

se de embriões para tal atividade? Esse tema polêmico

Jamais chegaremos a um consenso, seja biomédico, seja

está em debate nas páginas da IHU On-Line desta

religioso, seja moral”.

semana. Para Lluís Montoliu, pesquisador científico do

Laurie Zoloth, pesquisadora e diretora do Centro de Bioética, Ciência e Sociedade da Universidade

Departamento de Biologia Molecular e Celular do Centro

Northwestern, dos Estados Unidos, é favorável ao uso de

Nacional de Biotecnologia, com sede em Madrid, na

embriões nas pesquisas, e argumenta que não deve haver

Espanha, o principal desafio ético dessas pesquisas,

limites na ciência. “A pesquisa com células-tronco

consiste no debate “sobre o status, a condição que se

embrionárias humanas é um grande avanço para a

atribui a um embrião em seus estágios pré-

humanidade, porque destrava enigmas-chave sobre como

implantatórios”. No entanto, para o subprocurador geral

crescem as células jovens”, considera. A idéia de Zoloth

da República Cláudio Fonteles, a resposta é

é compartilhada pelo pesquisador José Garcia Abreu

irretorquível: “a vida é inviolável”. Fundamentado na

Júnior, da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Constituição de 1988, Fonteles é contrário à utilização de

(UFRJ). Segundo ele, embora a reprogramação celular

embriões para pesquisa e afirma que o estado deve

avance, os estudos com embriões ainda são

“garantir a dignidade da pessoa humana”. Do mesmo

indispensáveis como fonte comparativa de células-tronco

pensamento compartilha Francesco D’Agostino,

somáticas. Nesse sentido, salienta, “as pesquisas são

professor de Filosofia do Direito e de Teoria Geral do

desenvolvidas com o objetivo final de preservar a vida ou

Direito, na Facoltà di Giurisprudenza da Universidade de

melhorar a qualidade dela”. Considerações parecidas são

Roma. Para ele, a humanidade precisa superar suas

feitas por James Edgar Till, Ph.D. em Biomedicina, pela

diferenças extrínsecas e perceber que todos

Universidade de Yale. O pesquisador defende que

SÃO LEOPOLDO, 03 DE DEZEMBRO DE 2007 | EDIÇÃO 246

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