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4. OBSERVAR O TEXTO COM MUITA ATENÇÃO
A falta de atenção é um dos principais fatores que levam à má interpretação bíblica no meio do povo de Deus. Os membros das igrejas, em muitos casos, fazem uma leitura rápida do texto e tiram conclusões mais apressadas ainda, baseados não naquilo que está escrito, mas sim naquilo que eles acham estar escrito. O resultado só pode ser altamente negativo, para o próprio intérprete e para aqueles que por ventura venham a ouvi-lo sem a devida crítica, tão necessária para se evitarem erros.
Se cremos, como professamos, ser a Bíblia a Palavra de Deus, nossa única norma de fé e conduta, temos que dar a ela toda a nossa atenção. Temos que procurar ouvir cada pormenor da forma mais clara possível, buscando sempre o significado exato para a época em que foi escrita e, ainda, para os nossos dias.
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Esta observação atenciosa envolve muito mais do que alguém sentar-se em frente ao texto e passar horas estático a contemplá-lo. Além de exigir a leitura correta do texto que está sendo analisado, e isto várias vezes e em várias versões, se possível também na língua original do escrito, é preciso esclarecer cada uma das palavras e termos difíceis ou desconhecidos que possam surgir.
Quem quer saber exatamente o que a Bíblia está dizendo, não pode contentar-se com apenas uma versão da mesma, e em hipótese alguma pode deixar de consultar um bom dicionário ao encontrar alguma palavra difícil ou desconhecida, além de mapas e outros auxílios, para a boa compreensão.
O texto deve ser observado de todos os ângulos, buscando-se as palavras-chave, aquelas que mostram a base central do assunto, e o significado da passagem como um todo.
Para que se perceba a importância de uma observação atenta, detalhada e de vários ângulos, de alguma coisa, aqui é proposto um pequeno exercício, o qual foi inspirado no filme Sociedade dos Poetas Mortos. O leitor deve escolher um dos ambientes da sua própria casa. Quem sabe o tão conhecido quarto de dormir, ou a sala, ou a cozinha, um dos lugares mais conhecidos. Depois de escolhido, deve relembrar tudo aquilo que normalmente tem observado nesse lugar tão familiar e passar, por escrito em uma folha de papel o resultado da observação normal do dia a dia. Em seguida deve observar de outros ângulos, diferentes dos quais geralmente tem observado. Por exemplo: se o ambiente tem sido observado, geralmente, estando o observador em pé, agora deve ser observado de outra posição, como deitado, sentado, ou, ainda, do alto de uma mesa, escada ou cadeira. Feito isso, o observador ficará impressionado com a nova visão que terá do seu “tão conhecido” ambiente. Certamente, muitas coisas novas, então desapercebidas, se mostrarão de forma surpreendente. Tudo já estava lá, quem sabe há anos, mas estavam fora do seu ângulo normal de observação.
É claro que aqui não está sendo sugerida a mudança de uma posição física durante a leitura da Bíblia (pensar assim seria interpretar mal o que foi escrito acima), está sendo demonstrada a necessidade de se abordar o texto de todas as formas possíveis e imagináveis, com toda a atenção. Isto fará com que realidades ocultas, do ponto de vista costumeiro de observação, passem a revelar-se naturalmente. Cada intérprete deve ter a liberdade para buscar e encontrar os ângulos de observação ideais, pois eles não são fixos e podem variar de texto para texto. Contudo, aqui será apresentado um possível exemplo, utilizado pelo autor desta obra, baseado na própria Bíblia.
Sugerimos, inicialmente, que o leitor faça uma leitura corrida dos três últimos capítulos do livro de Zacarias e procure descrever em uma frase curta o seu conteúdo, a interpretação do texto, do ponto de vista do ângulo observado. Não se preocupe com a dificuldade. Esse texto tem dado muita dor de cabeça a grandes estudiosos do assunto. Só estamos fazendo um exercício.
Em seguida, depois da observação feita a partir do ângulo sugerido, faça outra leitura mais cuidadosa. Mas, agora, com lápis cera ou canetas coloridas, vá marcando, com as mesmas cores, as expressões que se repetem no texto. Esta é uma leitura feita de outro ângulo.
Ao término dessa leitura poderá ser observado que a expressão “naquele dia” foi escrita 17 vezes pelo autor, de acordo com a versão que estamos utilizando, além de uma vez aparecer a expressão “dia do Senhor” (14.1). Isto pode estar mostrando que o assunto básico desses três capítulos, tão difíceis, não é outro senão os acontecimentos daquele dia. O que vem a ser isso já é outro assunto e dificuldade, mas, chegando-se a essa conclusão, ainda que parcial, estamos no caminho certo para a interpretação correta e final.
Como não é possível ter certeza de que o leitor foi até o texto de Zacarias como pedido para este exercício, será apresentado a seguir, como exemplo, ao menos os nove primeiros versículos do capítulo 12.
O texto é o seguinte:
1 Sentença pronunciada pelo Senhor a respeito de Israel. O Senhor , que estendeu o céu, fundou a terra e formou o espírito do ser humano dentro dele, diz:
2 — Eis que eu farei de Jerusalém um cálice de atordoamento para todos os povos vizinhos e também para Judá, durante o sítio contra Jerusalém.
3 NAQUELE DIA, farei de Jerusalém uma pedra pesada para todos os povos. Todos os que tentarem erguê-la ficarão gravemente feridos. E todas as nações da terra se ajuntarão contra ela.
4 NAQUELE DIA, diz o Senhor , farei com que todos os cavalos fiquem espantados e os seus cavaleiros fiquem loucos. Manterei os meus olhos abertos sobre a casa de Judá e farei com que todos os cavalos dos povos fiquem cegos.
5 Então os chefes de Judá pensarão assim: “Os moradores de Jerusalém têm a força do Senhor dos Exércitos, seu Deus.”
6 NAQUELE DIA, porei os chefes de Judá como um braseiro aceso debaixo da lenha e como uma tocha acesa entre os feixes de trigo. Eles destruirão à direita e à esquerda todos os povos ao redor, e Jerusalém será habitada outra vez no seu lugar, na própria Jerusalém.
7 O Senhor salvará primeiramente as tendas de Judá, para que a glória da casa de Davi e a glória dos moradores de Jerusalém não sejam exaltadas acima de Judá.
8 NAQUELE DIA, o Senhor protegerá os moradores de Jerusalém. O mais fraco dentre eles, NAQUELE DIA, será como Davi, e a casa de Davi será como Deus, como o Anjo do Senhor diante deles.
9 NAQUELE DIA, procurarei destruir todas as nações que vierem contra Jerusalém.
Terminando esse ponto, nunca é demais alertar para o fato de que não basta ler o texto. Isto tem que ser feito com muita atenção e de todos os ângulos possíveis, na esperança de não deixar que se perca nem um dos preciosos ensinos e, menos ainda, que venham a ser deturpados pela má interpretação, o que pode ser considerado ainda pior, pois com ela se acaba dizendo que Deus disse aquilo que Ele jamais disse.