Revista A-temporal

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A- temporal Arquitetura e História

Em entrevista, o arquiteto Neander Furtado fala sobre sua obras favoritas e experiências vividas em sua permanência na Escócia.

• Stonehenge e seus mistérios • Coliseu x Mané Garrincha • Catedrais Góticas • Arquitetura na Mitologia



Hist贸ria da Arte e Arquitetura Ana Paula Gurgel

Adriano Torelly - 13/0099171 Camila Correia - 13/0104841 Eleonora Curado - 13/0154270 Guilherme Pinto - 13/0113221 Hiagson Souza - 13/0114146 Vin铆cius Ciabotti - 13/0136913 Yasmin Rodrigues - 13/0138231


Apresentação A revista A-Temporal trata de temas relacionados, principalmente, à arquitetura e à historia. Faz uma viagem ao tempo e trás matérias ligadas a cada período histórico, indo desde a pré história aos tempos atuais. Além de tais artigos, a A-Temporal apresenta uma entrevista exclusiva com o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, Neander Furtado, onde relata suas experiências no exterior e o que absorveu como aprendizado. Por meio dos artigos abordados na edição, que são de enorme relevância histórica, será possível o entendimento de como funciona o Stonehenge, monumento inglês que desafia os arqueólogos até hoje, e o aprendizado sobre os egípcios e seus costumes. Além disso, saiba mais sobre as semelhanças entra o Coliseu de Roma e o Estádio Nacional Mané Garrincha e compreenda as características das Igrejas Góticas e as diversidades da mitologia grega. A revista também apresenta matéria abordando o filme Ben Hur, o qual conta a vida de um judeu traído em busca de vingança, retratando parte da arquitetura romana.

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Índice Apresentação____________________________________________________________________________________ 3 Pré-História______________________________________________________________________________________ 5 - Stonehenge e seus mistérios Egito Antigo______________________________________________________________________________________ 11 - Um olhar para o passado: Os costumes no Egito Antigo Grécia__________________________________________________________________________________________ 15 - Mitologia na Arquitetura - Minotauro Roma___________________________________________________________________________________________ 20 - Coliseu x Mané Garrincha - Ben-Hur e arquitetura Entrevista_______________________________________________________________________________________ 28 - Entrevistando um arquiteto Idade Média_____________________________________________________________________________________ 30 - Catedrais Góticas Referências_____________________________________________________________________________________ 35

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Foto: Sonehenge above, Joe McNally.

Arquitetura Pré-Histórica: Stonehenge e seus mistérios. A pré-história começa com o surgimento da espécie humana e vai até o início da história documentada, com o surgimento da escrita em aproximadamente 3500 a.C. Neste período, apesar da falta de registros escritos é possível estudar com bastante clareza o modo de vida das mais diversas civilizações humanas da época, dado ao rico número de vestígios encontrados em todas as partes do mundo, que variam de pequenos artefatos como lanças de ossos de animais ou grandes construções.

Foto: Menires III, Manolo Paz.

Muitas dessas construções pré-históricas foram feitas em grandes blocos de estruturas esculpidas de uma única matriz rochosa, resultando num bloco esculpido único. Na Europa Ocidental um bom exemplo são os menires existem aproximadamente 50 mil deles, que são construções religiosas pré-históricas, normalmente em formatos circulares, ovais ou ferradura. Até o século XIX não haviam estudos coerente sobre o que eram os menires e até hoje não há nenhum vestígio encontrado sobre quem os ergueu. 5


Foto:Blue Boar Row,urban75

O Stonehenge localizado no Reino Unido, foi erguido aproximadamente a 3000 a.C. e seu propósito não é certo, pois a cultura não deixou nenhum registro. Acredita-se que possui função astrológica, que ajudaria nas colheitas e no plantio, pois se alinha com o sol nos solstícios. Outras teorias supõem que o local também teria propósito ritualístico, próximo ao local existem vários túmulos contendo inúmeras ossadas, é formado por blocos de pedra esculpidas e apoiadas umas às outras criando pórticos e acompanha um formato circular denominado “henge”.

Foto:Stonehenge, Fox Photos

Foram feitos processos de restauração em 1958, tentando remontar as ruínas, retirando pedras do chão desordenadas e as colocando em seus possíveis lugares originais, o que pode ter feito o monumento perder parte de sua história caso a interpretação dos arqueólogos da época ter sido errônea. Parte das pedras recolocadas caíram a partir dos anos 1700 e foram documentadas, o local que elas foram colocadas é provavelmente o original, alguns blocos de rocha na verdade são de concreto já que os blocos originais não foram encontrados.

É possível visita-lo pegando um ônibus com guia turístico em Salisbury passando por outros pontos turísticos da região. No local das pedras se encontra um museu com artefatos pré-históricos encontrados no local, maquetes e reconstruções do que o Stonehenge poderia ter sido. Fernand Niel em seu livro “Stonehenge, templo misterioso da pré-história” imaginou à primeira vista que o Stonehenge pode ter sido destruído por um terremoto, por conta do “caos” em que se encontravam algumas das rochas. Apesar do estado de ruínas é possível entender que o monumento possui uma escala humana e ao mesmo tempo passa uma ideia de grandeza e que foi construído com um propósito. Foto: Stonehenge

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Não se sabe bem quem construiu e a que civilização pertencia. Tenta-se estabelecer relação com as outras construções pré-históricas da Europa como os menires, mas sem sucesso. Uma estrutura semelhante é encontrada em Averbury a aproximadamente 30km de distância, pequenas pedras dispostas em círculos, mas essa é a única semelhança com o Stonehenge. Como disse Henry James “ele se ergue tão solitário na história quanto sobre a grande planície.”. O monumento em si inicialmente é dividido em dois círculos: um círculo externo chamado de círculo exterior ou de “sarsen” (arenito) era originalmente formado por trinta blocos de rocha separados, de secção retangular, reunidos dois a dois nos cumes, onde são encontrados encaixes, formando pórticos. Os blocos de rocha atingem 5m de altura e estão enterradas no solo a até 1,8m de profundidade, lhes garantindo uma boa estabilidade, seu peso chega em média a 30 toneladas; e um círculo interior ou de “pedras azuis” que possui pouco mais de 23m de diâmetro, composto de pedras menores e irregulares, provavelmente em estado bruto, que cerca duas estruturas: cinco blocos de arenito dispostos em forma de ferradura e uma quantidade de pedras azuis também dispostas em ferradura. No centro dessa ferradura se encontra um bloco de pedra chata repousando ao solo, chamada de “pedra do altar”. Ao redor do monumento se encontram alguns blocos de pedra que podem ser passados despercebidos, como a “pedra do calcanhar” e a “pedra dos sacrifícios”. Olhando ao redor do Stonehenge se nota que ele é rodeado por um fosso circular e um talude que emerge do solo a cerca de 30m de distância. O fosso é interrompido algumas vezes e é possível notar claramente a entrada do monumento no corte principal ao lado da pedra dos sacrifícios, que é onde passa a “avenida”, um aterro que se prolonga em linha reta por aproximadamente 600m e margeada por um fosso e um talude em ambos os lados. Essa avenida se bifurca em duas direções, uma para o norte chegando até outro aterro de 2,7km de comprimento por 100m de largura, o “Cursus”, e para o leste chegando até o rio Avon e o Campo de Vespasiano.

Imagem: Esquema de Stonehenge (adaptado).

Pedra do calcanhar.

Pedra do sacrifício.

Essa região está cheia de centenas de túmulos sob montes de terra alongados (long barrows) e circulares (round barrows), além de inúmeros vestígios de atividade pré-histórica como trincheiras, recintos, caminhos de pedregulhos, etc, indicando que a planície de Salisbury era muito povoada, sem dúvida mais povoada do que atualmente. Em seguida ao talude são encontrados 56 buracos dispostos em circunferência completa chamados de “buracos de Aubrey”. Em seguida são encontrados mais duas séries de buracos dispostos em circunferência, os buracos Y e Z, situados entre os buracos de Aubrey e o círculo externo do monumento e os buracos Q e R que não formam uma circunferência completa. Ainda há buracos que não aparentam ter nenhuma relação com o outros, ocupando posições aleatórias em relação aos elementos precedentes, que foram utilizados como túmulos, postes de madeira e também pedras. 7


Imagem: Representação do Stonehenge, a linha contínua representa onde a luz passa no solstício.

Sob a circunferência dos buracos de Aubrey são encontradas duas pedras de pequena altura a um diâmetro de distância e dois montículos não muito afastados dessas pedras, também com um diâmetro de distância entre si e a combinação desses elementos é chamado de “as quatro estações” que forma um plano simétrico. Como dito anteriormente não se sabe ao certo quem construiu o Stonehenge e sua construção levou mais de 1000 anos. Uma das hipóteses aceitas é que os homens de Windmill Hill, uma civilização pré-histórica que surgiu nas terras inglesas e que desenvolveram um modo de vida diferente do que se encontrava no local até então. Os homens de Windmill Hill praticavam a agricultura e a criação de animais, enquanto as comunidades locais se dividiam em clãs e eram nômades caçadores. Um dos motivos de se acreditar que eles tenham participado na construção do Stonehenge é de que era costume desse povo fazer grandes túmulos compridos e/ou circulares encontrados nos arredores do Stonehenge nos aterros de Cursus, o que indica que esse povo trazia àquele local certa veneração. Outro povo que pode ter participado da construção do Stonehenge podem ter sido os “neolíticos secundários”, que surgiram da miscigenação dos homens de Windmill Hill e dos clãs locais. Aproximadamente quatro séculos depois essa civilização dominava o comércio e um certo tipo de indústria primitiva. Eles construíram pastos, túmulos e entre outras coisas seguindo formas semelhantes às encontradas no monumento, estruturas em forma de ferradura e círculos (henges). Supõe-se que eles tenham feito os buracos de Aubrey, começando o estágio primitivo do Stonehenge, isso em torno de 3300 a.C.

Foto: Builders of Stonehenge

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Após essa fase desembarcaram nas terras inglesas um novo povo vindo do Reno ou da Península Ibérica, o “povo das taças”. Acredita-se que era uma sociedade belicosa e comercial, que dominou o lugar e que pode ter dado início ao monumento propriamente dito, eles possuíam conhecimento sobre os metais e seus machados eram capazes de cortar rochas isso em torno de 2500 a.C. Por fim em torno de 2200 a.C. estava concluído o Stonehenge com a construção da avenida, nesse período nota-se uma inconsistência da própria construção, as pedras foram reorganizadas e os pórticos desmontados e montados de outra maneira. Ao passar dos anos as pedras caíram, algumas foram utilizadas como material de construção por outros povos e então houve os processos de restauração no século XX.

Foto: ossos encontrados em Stonehenge.

Hoje existem inúmeras teorias sobre quem foi responsável por o construir, até extra-terrestres. Tanto como o seu uso, desde sacrifício humano até observatório astronômico. Novos estudos demonstram que a existência de fragmentos de ossos pode indicar a possibilidade de Stonehenge ter sido um cemitério para a elite. Fragmentos de ossos foram exumados do sitio há mais de um século, mas os arqueólogos no momento pensaram que os restos mortais foram enterrados sem importância. Os enterros ocorreram em cerca de 3000 AC e as pedras foram inicialmente trazidas do País de Gales, para marcar os túmulos. Os arqueólogos também encontraram uma tigela, possivelmente usada para queimar o incenso, sugerindo que as pessoas enterradas em túmulos podem ter sido elite religiosa ou política. Stonehenge pode ter sido construído com o sol em mente. Uma avenida que liga o monumento com o rio próximo alinha-se com o Sol no solstício de inverno. Evidência arqueológica revela que suínos foram abatidos em Stonehenge em dezembro e janeiro, sugerindo possíveis celebrações ou rituais no monumento em torno do solstício de inverno. Foto: Stonehenge no solstício de verão.

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Foto: Pedras de Stonehenge.

Outra teoria sugere que Stonehenge era visto como um lugar com propriedades curativas. Em 2008, arqueólogos identificaram que um grande número de esqueletos recuperados em torno de Stonehenge mostravam sinais de doença ou lesão. Também foi relatada a descoberta de fragmentos de pedras azuis em Stonehenge - as primeiras pedras erguidas no local - que haviam sido escavadas pelos povos antigos, talvez para usar como talismãs para fins de proteção ou cura. Uma teoria interessante acredita que a construção circular de Stonehenge tenha sido criada para imitar uma ilusão de som. Um pesquisador em arqueologia acústica diz que, se dois flautistas estivessem tocando os seus instrumentos num campo, um ouvinte irá notar um efeito estranho. As pedras de Stonehenge criam um efeito que anula certas ondas sonoras, em vez de ondas sonoras concorrentes, no bloqueio de som. Uma teoria propõe que talvez Stonehenge era algo como um exercício de construção de equipe antigo. O início da construção do local coincide com um momento de unidade maior entre as pessoas do Neolítico da Grã-Bretanha. Talvez inspirado pelo fluxo natural da paisagem, que parece ligar nascer do sol do solstício de verão e solstício de inverno, esses povos antigos podem ter-se unido para construir o monumento.

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Um olhar para o passado Costumes no Egito Antigo Sabemos que existem diferentes culturas pelo mundo todo, culturas que mudam com o tempo e com o local. Mas às vezes não nos interessamos por esse tipo assunto, não temos a curiosidade de pesquisar sobre essas coisas e fazer novas descobertas. Talvez você nunca tenha parado pra pensar na cultura do Egito Antigo, pode parecer algo tedioso, mas na verdade é bem fascinante! O Egito está localizado na extremidade Nordeste do país africano, na qual, antigamente poderíamos dividir em dois impérios: O alto e baixo Egito, onde o baixo Egito compreendia as terras rodeadas pelo Delta do Rio Nilo, e o alto Egito compreendia as terras localizadas ao sul do Delta do Rio Nilo. Antigamente e também nos dias de hoje o Egito corresponde a uma área desértica que possui uma terra muito fértil e com facilidade para o emprego da agricultura e pecuária, pelo fato de está localizado às margens do Rio Nilo, que é considerado o seu principal canal hidrográfico. Com isso, a vida e cotidiano da população que por ali moravam era guiada por esse canal, ou seja, quando havia épocas de seca a população sofria um pouco com a escassez de água, porém o alimento era garantido, pelo fato de o solo ser bem fértil mesmo em épocas de seca desse rio, o que fazia com que tivessem alimentos por todas as estações do ano. A vida em família no Antigo Egito fugia um pouco do padrão imposto pela sociedade em diferentes períodos da antiga história, onde o homem era posto como principal figura na sociedade, no Egito Antigo, tanto o homem quanto a mulher eram postos e tratados de igual maneira, não que o homem deixa de ser papel prin-

“Imagem: Cotidiano Antigo Egipcio, http://amora2013historiacomparada.pbworks.com, 06 de Junho de 2014”

cipal nas atividades realizadas na civilização, mas a mulher ganha seu papel e sua vez na história. O homem como sempre possuía uma postura marcante nas atividades braçais, sendo honrado pelas suas habilidades, sejam elas de trabalho, para garantir alimentos para sua família ou de batalhas. Já as mulheres além de serem tratadas como um papel fundamental na sociedade e serem mais respeitadas por tal, elas continuam com as funções de gerar filhos, cuidar da casa, da família e das plantações também. Já as crianças começam a aprender com seus pais, aonde elas vão para as plantações com eles, aprendendo e aperfeiçoando essas habilidades que segundo a sociedade da época eram consideradas úteis para uma vida adulta. Os mais jovens viviam na casa dos pais ate se casarem, os garotos se casavam por volta dos seus 19 a 20 anos, já as meninas eram consideradas aptas para uma vida conjugal por volta de 14 ou 15 anos de idade.

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“Imagem: Ritual Funerário Antigo Egito, http://oslusonautas.blogspot.com.br, 06 de Junho de 2014”

A religião era um dos pontos que regiam a vida em família no Antigo Egito, não havia uma descrição muito forte de um mundo real para um mundo espiritual, ou seja, para eles o universo sobrenatural influenciava no ambiente habitado na Terra onde viviam e vice-versa, as coisas que aconteciam na natureza era semelhança com o criador, desse modo cada força que estava presente na natureza era representada por um Deus, um deles era o Deus Hapi, o Deus do Rio Nilo, o mais importante, pois era o rio que dava vida aos habitantes. As pirâmides eram muito importantes para os egípcios, elas nada mais eram do que tumbas para enterrar os faraós. Eles acreditavam fielmente na vida após a morte, desse mod, quando o faraó morria, não era só o seu corpo que era enterrado, mas também todos os seus pertences, dinheiro, comidas e bebidas. Os túmulos pode-se assim dizer, era bem escondido para não haver casos de roubo. Para alcançar de fato a vida após a morte, o corpo deveria permanecer preservado ou mumificado. Para isso, os órgãos mais frágeis, incluindo o cérebro, eram removidos e guardados dentro de jarros com ervas, especiarias e óleos. Quem não era faraó também alcançava a vida após morte, mas somente se ela fosse uma boa pessoas. Os antigos

egípcios acreditavam que conforme a pessoa praticasse boas ações cada vez mais elas seriam capazes de superar as más ações praticadas na Terra. Quando a pessoa vinha a falecer, seu coração era removido do corpo e colocado em uma balança dentro de uma tumba para ser pesado pela deusa da verdade e da justiça. O deus do embalsamento, Maat. Anúbis observava a balança enquanto o deus da escrita, Thoth, anotava o resultado. Se o peso do coração ficasse balanceado a pessoa poderia entrar na vida após a morte. A educação no Egito antigo não era disponibilizada para todos, apenas para uma parcela da população. As escolas eram reservadas apenas para os meninos que pertenciam à elite. Eles sendo poucos, eram treinados pelos sacerdotes para se tornarem futuramente escribas. Algumas famílias ainda contratavam tutores particulares para ensinar a leitura e a escrita, enquanto os mais pobres eram ensinados em casa pelos próprios pais. Já na parte das meninas, apenas as que possuíam família muito rica recebiam educação, do contrário não. Tanto os meninos como as meninas da maioria das famílias passavam a maior parte da infância aprendendo os ofícios dos pais e trabalhando ao lado deles. Na-

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quela época, existiam também estabelecimentos que funcionavam como escolas avançadas, oficinas, bibliotecas e também como um local para que manuscritos fossem copiados, que eram chamadas pela população de “Casas de Vida”, porém esse local não era aberto para todas as pessoas, somente escrivas e sacerdotes eram autorizados para entrar nesse estabelecimento. Em relação à alimentação e habitação, os mais pobres viviam de forma simples, sem luxos, como por exemplo, suas casas só possuíam um cômodo, onde não era possível a acomodação de muitos móveis e se alimentavam basicamente de pão e água e raramente se davam ao luxo de comer carne e frutas. Já os mais ricos tinham um estilo de vida regido por um lado mais luxuoso, onde suas habitações eram grandiosas, possuíam vários cômodos, e eram extremamente decoradas por dentro e pintadas por fora, viviam em construções que eram feitas em materiais considerados não acessíveis a classe inferior na época, como os tijolos. O básico da cultura do Antigo Egito acabou de ser mostrada. Será que a cultura antes e agora mudou muito? Sim, mudou, hoje muita coisa é diferente, como a educação, a maneira de se portar e de se vestir, e até a mulher em si. O andar de mãos dadas entre homens e mulheres não

“Imagem: Decoração das residêcias da alta classe do Antigo Egito, https://colorindodesenhos.wordpress.com, 08 de Junho de 2014”

é bem visto, andar de maneira correta, é só tocando o outro com o dedo mindinho. Acaba que todo esse pudor é para não causar imaginações impuras ou até mesmo levar a algo mais. Beijo na boca? As consequências são claras, ou delegacia ou direto a casa do pai da moça para se explicar, ou pelo menos tentar.

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Mas por outro lado, vemos em público homens dando três beijos na face de outro homem demonstrando amizade e às vezes é possível vê-los andar de braços dados. Para mostrar que não há vergonha nesse ato, até os oficiais fazem isso. Mulher honrada casa virgem, e antes de casar não pode ficar conversando com os homens. Como diz, ela precisa ser preservada e para garantir que isso venha a acontecer, nas escolas os meninos sentam em lugares separados das meninas e há também o uso de véu (purdah) que esconde os cabelos delas. Quando casada, a mulher só pode mostrar seu cabelo para seu marido e membros da família. É de costume que ambos os sexos vistam longas túnicas (galabeyas), as mulheres usam a cor preta para demonstrar fidelidade ao marido. Outro costume muito forte entre os homens era usa barba e bigode. A punição mais rigorosa para eles era cortar o bigode a força, tanto é que os criminosos eram forçados a raspar o seu, aumentando a vergonha. Entretanto, com a ocupação francesa o costume começou a ser deixado para trás, apesar de haver ainda um pouco de resistência. Apesar de tudo, as mulheres são muito vaidosas, se enchendo de colares

e pulseiras e principalmente brincos extravagantes, não se preocupando com assaltos que são raros por lá. Também é possível ver as pessoas com roupas coloridas e cheias de vida, parecidas com as roupas carnavalescas do Brasil.

“Imagem: Cotidiano de mulheres da Classe Alta no Egito Antigo, http://gloria-ao-egito.blogspot.com.br, 08 de Junho de 2014”

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Mitologia na Arquitetura

A mitologia grega se desenvolveu por volta dos 700 a.C, quando Homero e Hesíodo registraram compilações de mitos. As mais célebres são os poemas Ilíada e Odisséia, de Homero. Essa mitologia é o corpo de mitos e ensinamentos que pertencem à Grécia Antiga. Nessa época como não havia explicações para grande parte dos fenômenos da natureza ou para acontecimentos históricos, os gregos procuravam criar várias histórias, nem sempre verdadeiras, com o objetivo de encontrar ou fornecer respostas. A mitologia grega tem uma extensa influência sobre a cultura, a arte e a literatura da civilização ocidental e permanece como parte da herança e da linguagem ocidental. Poetas e artistas desde os tempos antigos até o presente têm sua inspiração derivada da mitologia grega e têm descoberto significados contemporâneos e relevâncias em seus temas. Mito é o relato de um acontecimento ocorrido no tempo primordial, mediante a intervenção de entes sobrenaturais. Em outros termos, mito, segundo Mircea Eliade, é, pois, a narrativa de uma criação; conta-nos de que modo algo, que não era, começou a ser. Os mitos eram transmitidos verbalmente de geração para geração, geralmente através da literatura oral.

Figura 1: escultura representando a mitologia

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Segundo o autor Marcell Detienne, no livro ''A invenção da mitologia'', a memória possui uma enorme importância para os gregos, principalmente a memória repassada pela fala. Na Grécia Antiga, a oratória era uma atividade bastante comum e marcante e, portanto, mesmo após o aparecimento da escrita, com a formulação do alfabeto, as falas e seus conteúdos continuaram respeitados. Mesmo porque, a transferência de conhecimento por meio da escrita não provocaria as distorções e várias versões de histórias que a fala produz, o que a torna tão especial. Devido a isso, com o tempo e com o desenvolvimento da escrita, os mitos foram sendo, automaticamente, relacionados a mentiras, ou histórias exageradas, perdendo um pouco de veracidade. É importante lembrar que o que chamamos de mito, atualmente, não eram considerados mitos na época em que surgiram, eram acontecimentos do cotidiano ou relatos de fatos verídicos, sabendo que os gregos utilizavam as falas como forma de sedução. A mitologia era repassada e apreciada pelos cidadãos por meio de esculturas (Figura1) pinturas, mosaicos (Figura 2) e, também, pela arquitetura. A última representa muito bem as crenças mitológicas dos gregos, pois a arquitetura religiosa se fazia muito próxima ao caráter sagrado da sociedade.

Figura 2: mosaico representando o mito do Minotauro

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Para um melhor entendimento dessa relação, é importante a análise de ''Tratado de Arquitetura'' (De Architectura), de Vitrúvio, única obra sobre arquitetura datada da antiguidade clássica. Marcus Vitrúvio Polião (Figura 3) foi um renomado arquiteto romano em I a.C. Sua influência foi enorme no período, executou inúmeros projetos de igrejas, porém argumenta-se que, com a eclosão do gótico, o autor teria deixado de ser uma referência, uma vez que a sua obra não apresenta indicações ou referências ao emprego de abóbadas de cruzaria ou arcos apontados, a característica mais marcante da arquitetura do gótico. A obra foi dedicada ao Imperador Augusto e viria a influenciar, séculos mais tarde, as concepções estéticas renascentistas. De Architectura possuía informações sobre planejamento urbano, materiais de construção, aplicação civil e militar, etc. Na obra, o autor faz referências a mitos, como o episódio de Dinócrates vestido de Hércules, o qual Vitrúvio alegou: ''A mim, porém, ó imperador, não ofereceu a Natureza boa aparência, a idade desfeou-me o rosto e a doença subtraiu-me as forças. E porque estou privado desses apoios, espero conseguir a tua recomendação através dos méritos da ciência e através destes escritos.'' Uma importante referência à arquitetura na obra é relacionada à primeira e mais simples forma de coluna grega, a ordem dórica. Segundo o autor, os gregos, ao fundarem suas colônias na Ásia, encontraram uma metodologia relacionando a ordem dórica com o corpo masculino, a partir da planta do pé. “Tendo descoberto que o pé correspondia no homem à sexta parte de sua estatura, transferiram o mesmo para a coluna e, qualquer que fosse o diâmetro da base do fuste, elevaram-no seis vezes em altura incluindo o capitel. Deste modo, a coluna dórica começou a mostrar nos edifícios, a proporção, a solidez e a elegância de um corpo viril”.

Figura 3: arquiteto Marcus Vitrúvio

Figura 4: colunas da ordem dórica

Figuras 5 e 6: colunas da ordem dórica

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O mesmo ocorreu com a ordem jônica, com a diferença de que esta foi inspirada no corpo feminino: “Da mesma maneira levantaram depois um templo a Diana [...] levando para lá a delicadeza da mulher, e dispuseram em primeiro lugar o diâmetro da coluna segunda a oitava parte de sua altura, a fim de que ela apresentasse um aspecto mais elevado. Assim, lograram a invenção de dois tipos discriminados de coluna. Uma viril, sem ornamento e de aparência simples, a outra, com a subtileza, o ornato, e a proporção feminina”. Essa história comprova que o corpo era a medida de todas as coisas na antiguidade clássica.

Para compreender o estatuto do templo na antiguidade, é possível recorrer a um trecho da obra: “Por conseguinte, se os gregos nos transmitiram regras para todas as construções, elas destinam-se sobretudo aos templos dos deuses, porque as qualidades e os defeitos dessas obras permanecem eternos”. O mito tinha a função de legitimar a arquitetura religiosa como algo ligado, em sua origem, com os deuses. A relação entre mito e arquitetura também se da no âmbito da função da arquitetura religiosa, que como moradia do deus da cidade deveria conter as representações dos mitos ligados ao deus em sua estrutura.

De acordo com Fernand Robert, Atena e Poseidon dividem o templo de tal modo que cada um tem um espaço no interior da construção central. A disposição das janelas também foi pensada seguindo o mito, com vista para a cisterna com a água que Poseidon fez brotar e a oliveira sagrada, presente de Atenas.

Figura 6: Coluna jônica

Figura 7: colunas jônicas no Templo de Zeus, Atenas

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Minotauro e todo mistério que o cerca Um segundo mito muito conhecido em que pode-se perceber a presença da arquitetura é o mito do Minotauro. O Minotauro (touro de Minos) é uma figura mitológica criada na Grécia Antiga. Com cabeça e cauda de touro num corpo de homem, este personagem ficou no imaginário dos gregos, levando medo e terror. De acordo com o mito, a criatura habitava um labirinto na Ilha de Creta que era governada pelo rei Minos. Conta o mito que o minotauro nasceu em função de um desrespeito de seu pai ao deus dos mares, Poseidon. O rei Minos, antes de tornar-se rei de Creta, havia feito um pedido ao deus para que ele se tornasse o rei. Poseidon aceita o pedido, porém pede em troca que Minos sacrificasse, em sua homenagem, um lindo touro branco que sairia do mar. Ao receber o animal, o rei ficou tão impressionado com sua beleza que resolveu sacrificar um outro touro em seu lugar, esperando que o deus não percebesse.Muito bravo com a atitude do rei, Poseidon resolve castigar o mortal. Fez com que a esposa de Minos, Pasífae, se apaixonasse pelo touro. Isso não só aconteceu como também ela acabou ficando grávida do animal. Nasceu desta união o Minotauro. Desesperado e com muito medo, Minos solicitou a Dédalos que este construísse um labirinto gigante para prender a criatura. O labirinto foi construído no subsolo do palácio de Minos, na cidade de Cnossos, em Creta. Esse labirinto era um edifício com inúmeros corredores tortuosos que davam uns para os outros e que pareciam não ter começo nem fim, como o Rio Meandro, que volta sobre si mesmo e ora segue para adiante, ora para trás, em seu curso para o mar. Após vencer e dominar, numa guerra, os atenienses , que haviam matado Androceu (filho de Minos), o rei de Creta ordenou que fossem enviados todo ano sete rapazes e sete moças de Atenas para serem devorados pelo Minotauro. Devido a complexidade do labirinto, essas pessoas eram devoradas antes mesmo de encontrar a saída.

Após o terceiro ano de sacrifícios, o herói grego Teseu resolve apresentar-se voluntariamente para ir à Creta matar o Minotauro. Ao chegar na ilha, Ariadne (filha do rei Minos) apaixona-se pelo herói grego e resolve ajudá-lo, entregando-lhe um novelo de lã para que Teseu pudesse marcar o caminho na entrada e não se perder no grandioso e perigoso labirinto. Tomando todo cuidado, Teseu escondeu-se entre as paredes do labirinto e atacou o monstro de surpresa. Usou uma espada mágica, que havia ganhado de presente de Ariadne, colocando fim aquela terrível criatura. O herói ajudou a salvar outros atenienses que ainda estavam vivos dentro do labirinto. Saíram do local seguindo o caminho deixado pelo novelo de lã. O mito do Minotauro foi um dos mais contados na época da Grécia Antiga. Passou de geração em geração, principalmente de forma oral. Pais contavam para os filhos, filhos para os netos e assim por diante. Era uma maneira dos gregos ensinarem o que poderia aconteceu àqueles que desrespeitassem ou tentassem enganar os deuses.

Representação do Minotauro e Teseu

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Labirinto de Cnossos Segundo a mitologia grega, o Labirinto de Creta utilizado no mito do Minotauro foi construído pelo brilhante arquiteto e artesão Dédalo, a pedido do Rei Minos. Acredita-se que a lenda sobre a existência do labirinto tenha surgido a partir do Palácio de Cnossos, cuja complexidade da arquitetura, que incluía inclusive um sistema de esgoto, relaciona-se a complexidade do labirinto. As ruínas do Palácio de Cnossos são, até hoje, atração da ilha de Creta, na Grécia. Duas lendas gregas têm relação com o Labirinto de Creta: a do Minotauro e a de Dédalo, arquiteto que teria construído o labirinto e seu filho Ícaro. Ambas as lendas tem como antagonista o Rei Minos da lha de Creta, que segundo a mitologia grega, era filho de Zeus. A lenda grega de Dédalo e seu filho Ícaro é o desfecho da história do Minotauro, morto por Teseu, herói que conseguiu superar o complexo labirinto de Creta saindo vivo dele, levou o rei Minos a prender Dédalo e Ícaro no labirinto. Minos temia que o arquiteto revelasse os segredos da construção do labirinto. No entanto, Dédalo, em sua genialidade, teve a ideia de fugir do labirinto pelo céu, pois o mesmo não tinha teto. Para tanto, os prisioneiros construíram asas artificiais com as penas dos pássaros que voavam sobre o labirinto e que nele faziam seus ninhos, coladas com cera das abelhas que os mesmos recolhiam. O único perigo, segundo Dédalo alertara a seu filho, seria a cera derreter, caso a altitude do voo fosse maior, portanto mais próxima do sol. Ícaro, encantando com a experiência de voar, não atendeu as recomendações do pai, e voou em uma atitude superior. Suas asas derreteram e Ícaro caiu no mar, para o desespero de Dédalo, que chorou a morte do filho por toda sua vida. Ruínas do Labirinto de Cnossos

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Fotos: Colunas do Estádio Nacional (esq), Gustavo Marcondes; Colunas do Coliseu (dir), Andreas Solaro.

Das Colunas Clássicas ao Concreto Armado: Coliseu x Mané Garrincha

O Império Romano teve seu início no século III a.C. e dominou uma grande área, da Península Ibérica até o norte da África, e foi sem dúvida um dos maiores impérios da história. Seu fim aconteceu em 476 d.C. com a divisão do império e o início da Idade Média no continente europeu. Roma era o grande centro deste império singular que adotou inclusive o sistema de república como forma governamental, além do sistema de monarquia. Baseado numa cultura belicosa e de “pão e circo” Roma teve uma incrível atividade cultural e arquitetônica, que culminou na construção do famoso Coliseu de Roma. A política de pão e circo consistia em alimentar a grande massa popular, o pão, e garantir lazer, o circo, para manter o povo satisfeito, evitando revoltas em relação a desigualdade social e impostos pesados. Era no Coliseu de Roma onde o lazer se realizava, corridas de bigas, lutas de gladiadores e cristãos presos lutando contra feras selvagens, tudo isso ocorrendo dentro de um complexo arquitetônico fantástico apenas para divertir a população.

É possível perceber uma semelhança com o que ocorria em Roma com o que acontece atualmente no Brasil. A construção de estádios como o Mané Garrincha prova que basta garantir lazer à população que ela se sentirá satisfeita, isso funcionou bem por bastante tempo, os brasileiros se sentiram orgulhosos por sediarem a copa do mundo, chegaram a dizer que “o futebol finalmente está em casa”. Porém nem tudo são flores, a negligência do governo em relação ao uso dos impostos fez com que uma bolha de insatisfação estourasse. Promessa de melhorias não só nos estádios, mas também nas cidades, infraestruturam nos transportes e áreas públicas que não foram cumpridas. O desequilíbrio do “pão” em relação ao “circo”, enquanto estádios vão sendo reformados e construídos em várias cidades do país, o preço dos alimentos, combustível e transporte subiu com a inflação acima da média. Com isso, revoltas apareceram por todas as partes do país, mostrando que essa política não funciona sempre. 21


Foto: Coliseu de Roma por dentro, Interpass Club.

Coliseu O Coliseu, também conhecido como Anfiteatro Flavio está localizado em Roma, Itália e foi construído durante o Império Romano, entre os anos 70 e 80 da nossa era, durante os governos dos imperadores Vespasiano e Domiciano. Diferente dos demais teatros e anfiteatros romanos, ele não estava inserido numa zona de encosta, enterrado. Em vez disso, possuía um "anel" artificial de rocha à sua volta, para garantir sustentação e, ao mesmo tempo, esta substrutura serve como ornamento ao edifício e como condicionador da entrada dos espectadores. Construído em mármore, pedra travertina, ladrilho e tufo, uma pedra calcária com grandes poros. O Coliseu possui uma planta elíptica com dois eixos que se estendem aproximadamente de 190 metros por 155 metros. A fachada compõe-se de arcadas decoradas com colunas da ordem dórica, jônica e coríntia, de acordo com o pavimento em que se encontravam. Esta subdivisão deve-se ao fato de ser uma construção essencialmente vertical, criando assim uma diversificação do espaço.

A arena (87,5 m por 55 m) possuía um piso de madeira, normalmente coberto de areia para absorver o sangue dos combates, sob o qual existia um nível subterrâneo com celas e jaulas que tinham acessos diretos para a arena. Este anfiteatro era utilizado como palco de lutas de gladiadores, espetáculos com feras e até batalhas navais, pois o Coliseu possuía um sistema que transformava a arena num grande lago. Alguns detalhes dessa construção, como a cobertura removível que poupava os espectadores do sol são bastante interessantes, e mostram o refinamento atingido pelos construtores e engenheiros romanos. Formado por cinco anéis concêntricos de arcos e abóbadas, o Coliseu representa o avanço introduzido pelos romanos à engenharia de estruturas, técnicas até hoje utilizadas nas construções. Esses arcos são de concreto, de cimento natural, revestidos por alvenaria que era construída simultaneamente, servindo de forma para a concretagem, como se fosse um molde e estruturando o próprio arco.

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Foto: Colsseum at Dusk, Diliff.

Os assentos eram em mármore e a cavea, escadaria ou arquibancada, dividiam-se em três partes, correspondentes às diferentes classes sociais: o pódio, para as classes altas; as maeniana, sector destinado à classe média; e os portici, ou pórticos, construídos em madeira, para a plebe e as mulheres. O pulvinar, a tribuna imperial, encontrava-se situada no pódio e era balizada pelos assentos reservados aos senadores e magistrados. Rampas no interior do edifício facilitavam o acesso às várias zonas de onde podiam visualizar o espectáculo, sendo protegidos por uma barreira e por uma série de arqueiros posicionados numa passagem de madeira, para o caso de algum acidente ou conflito. Por cima dos muros ainda são visíveis as mísulas, que sustentavam o velarium, enorme cobertura de lona destinada a proteger do sol os espectadores e, nos subterrâneos, ficavam as jaulas dos animais, bem como todas as celas onde eram mantidos os prisioneiros e galerias necessárias aos serviços do anfiteatro.

Imagem: Corte Coliseu, Lexikon der gesamten Technik.

O Coliseu serviu aos romanos por muito tempo como um indispensável lugar de espetáculos, diversão e lazer, mantendo o povo de Roma entretido e satisfeito com o governo. Porém com o passar dos anos e já no final do império o Coliseu começou a entrar em decadência. No século V ele foi seriamente danificado por um terremoto e passou por um processo de restauração a mando do imperador Valentiniano III. Já na Idade Média ele foi transformado em fortaleza no século XIII pela família Frangipani e ao longo dos séculos a seguir foi alvo de saqueadores, principalmente nos séculos XV e XVI. Além dos saques e catástrofes naturais, a população retirava partes do Coliseu para usar como material de construção. 23


Foto: Estádio Nacional, Danilo Borges.

Estadio Nacional Mané Garrincha

O Estádio Nacional de Brasília, também conhecido como Mané Garrincha, é um estádio de futebol e arena multiuso brasileiro, situado na cidade de Brasília, Distrito Federal. Inaugurado em 1974, o antigo estádio possuía capacidade total para 45.200 pessoas. Após a reforma de 2010-2013, sua capacidade foi aumentada para 72.788 pessoas, tornando-se o segundo maior estádio no Brasil em 2014 e um dos maiores da América. O estádio foi reconstruído para a Copa do Mundo da Fifa para sediar 7 partidas, custando R$1,4 bilhão, envolvendo diversas controvérsias, entre elas por seu tamanho, e seu custo final com indícios de superfaturamento. A arquitetura do estádio tem como marca os diversos pilares em um anel, que segundo seu arquiteto, tem como inspiração as obras de Oscar Niemeyer. Uma característica marcante nas obras de Oscar Niemeyer são os pilares nas fachadas, criando uma grande varanda nos monumentos espalhados por Brasília. O artifício, que cria uma espécie de antessala precedendo o edifício principal, pode ser visto em monumentos como os Palácios do Planalto, da Justiça, do Itamaraty e da Alvorada, residência oficial da presidenta da República, Dilma Rousseff.

“Optamos por não quebrar essa filosofia arquitetônica. Propusemos criar uma floresta de pilares, como chamamos, com o anel superior que serve de suporte para a cobertura, e o estádio propriamente dito na parte inferior. A varanda serve de acesso para as pessoas que chegam ao estádio. Seria difícil criar um projeto que não tivesse nada a ver com Brasília”, explicou Eduardo Castro Mello, que ao lado de Vicente de Castro Mello, seu filho, assina o projeto como responsável técnico do projeto. Uma das críticas ao design do projeto seria em relação à sua escala, um tanto desproporcional em relação ao projeto de Brasília, com seus edifícios baixos e horizontais, onde o destaque da cidade é a parte governamental, onde situam os poderes que comandam o país: o Eixo Monumental e a Esplanada dos Ministérios, convergendo para o Congresso Nacional e a Praça dos Três Poderes, o estádio estaria roubando essa importância, por ser tão monumental.

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Foto: tentativa falha da explosão da arquibancada no dia 15/05/2011, Correio de Uberlândia.

Inicialmente, optou-se por demolir a arena antiga por meio de explosão. Mas o método não funcionou e a estrutura foi destruída por britadeira. Após as fundações, a parte de concreto do estádio foi a primeira a ser concluída, incluindo os três setores de arquibancadas. Isso inclui a instalação de 288 pilares com mais de 36 m de altura que rodeiam a arena e formam a área de acesso, além do anel de compressão e a primeira etapa da cobertura. As áreas reservadas ao público foram separadas em arquibancadas inferior, intermediária e superior. O estádio tem capacidade para 70.824 pessoas. As arquibancadas inferior e intermediária - esta formada por 74 camarotes, além de assentos normais - foram executadas em concreto moldado no próprio canteiro de obras. A arquibancada superior contou com a utilização de 1.064 peças de concreto pré-moldadas, com intuito de acelerar a execução da obra. Em 18 de maio de 2013, com a presença da presidente da república, Dilma Roussef, o estádio foi oficialmente reinaugurado. Eventos culturais só podem ser realizados no estádio ou no ginásio Nilson e Nelson caso a administração do estádio esteja interessada.

Foto: tentativa falha da implosão da arquibancada no dia 15/05/2011, Correio de Uberlândia.

Foto: Construção do novo estádio, Lula Lopes.

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Mané Garrincha x Coliseu : Uma comparação

"Se Darcy Ribeiro dizia que o Brasil é uma nova Roma, só que mais democrática, pois lavada em sangue negro e índio, essa Roma acaba de ganhar seu Coliseu". - Ministro do Esporte. “Por fora, parece o Coliseu romano. É diferente de todos os estádios que já vi na vida. Dentro, a proximidade entre as cadeiras e o campo deixa uma impressão incrível, coloca o público muito perto do jogo”. -Andy Smith (ciclista inglês) Em termos comparativos os edifícios possuem formato elíptico e três setores de arquibancada, enquanto um possui um anel artificial de rocha a sua volta para garantir maior sustentação o outro usa pilares por toda a sua volta. O uso dos materiais é bastante diferenciado, atualmente a diversidade e técnicas são diferentes, o Coliseu foi construído em rocha, alvenaria e concreto natural, de composição diferente do nosso contreto atual, enquanto o Estadio Nacional foi construído em estruturas de aço, concreto e alvenaria de tijolos. Com a importância e estrutura utilizada para a construção e uso dessas arenas, comparações entre elas, se mostram interessantes para uma análise completa de cada uma. O Coliseu, construído durante o Império Romano, em sua própria capital, Roma, era um dos pontos mais importantes da vida de lazer de seus cidadãos, assim como o Estádio Nacional, com sua destinação ao lazer da população com partidas de futebol e concertos. A reconstrução do Estádio Nacional foi alvo de criticas, principalmente por sua dimensão e por interferir com a paisagem do Eixo Monumental, área tombada. O Coliseu detém uma dimensão de menor impacto na paisagem romana, com edificações mais baixas e o coroamento do próprio Coliseu não interfere com a paisagem romana, como a de Brasília, que teve a sua paisagem alterada por uma estrutura de dimensão excessiva.

Imagem: jogos no Coliseu, autor desconhecido.

Ambos estão localizados em áreas de maior importância, em áreas centrais; o Coliseu na área do Fórum Romano e o Estádio Nacional no Eixo Monumental, próximo a Torre de TV de Brasília, no coração do Plano Piloto. “A verdade é que essa história do Mané Garrincha está virando um verdadeiro teatro dos horrores. Aliás estão comparando o estádio ao Coliseu de Roma, devido as apresentações de pão e circo que ocorrem no monumento bilionário.” – Odir Ribeiro.

Foto: jogo no Estádio Nacional, Coluna do Flamengo.

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Ben-hur e a arquitetura

Ben-hur é um filme de 1959, que conta a história de Judah Ben-hur, um príncipe da Judeia. O filme, que foi produzido pela empresa norte-americana Metro-Goldwyn-Mayer, a MGM, recebeu 12 indicações ao Oscar, tendo ganhado onze. As premiações que incluem melhor filme, melhor direção para William Wyler, melhor ator num papel principal para Charlton Heston e melhor ator num papel coadjuvante para Hugh Griffith, colocaram o filme entre dos mais premiados de Hollywood de todos os tempos, entre filmes como Senhor dos Aneis e Titanic, segundo o site especializado em filmes IMDb. A estória se passa na época em que a região começa a ser dominada pelo Império Romano, e é desse acontecimento que toda a trama se desenrola. O acontecimento principal da narrativa acontece quando Messala (interpretado por Stephen Boyd), na época, é nomeado comandante de uma legião romana. Realizado um sonho de criança de se tornar-se um comandante romano, Messala

fica ambicioso, passando por cima de velhas amizades para atender as demandas do Imperador. Após uma tentativa de acordo com Judah, em que a região da Judeia de Bem-hur seria administrada por Roma, em troca de cargos e outros benefícios para o príncipe judeu e sua família. Porém, a tentativa fracassa quando Judah, encara o acordo como uma traição para com seu povo. Não demora para Messala conseguir incriminar seu, agora, inimigo Judah Ben-hur. A partir daí, o filme é uma jornada do príncipe judeu em busca de vingança. O filme retrata bem a grandeza do império Romano, ilustrando na arquitetura e também nos costumes do império o reflexo dessa austeridade. Além das inúmeras qualificações de um bom filme, a escolha do filme permite à quem assiste uma melhor compreensão do período histórico em que ele passa, seja dos acontecimentos históricos – embora seja uma história fictícia – ou seja dos acontecimentos culturais da sociedade romana.

Circo Máximo no canto inferior esquerdo

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Cena do filme Ben-hur

Assim que Judah é feito escravo, logo após dos incidentes com o ex-amigo, ele é levado a remar nas galés. Galés eram barcos romanos, conduzidos à remo pelos escravos. Isso retrata bem a grande mão de obra escrava de que Roma dispunha, de acordo com Bénevolo. Utilizados tanto no comércio quanto para guerras. Com um tempo no barco Judah conquista a confiança de um cônsul Quintus Arrius, que após o naufrágio da galé, teve a vida salva por Judah. De volta a terra firme Judah é reconhecido pelo seu feito, mesmo por Roma que o tinha como escravo. Ele foi considerado a partir de então escravo particular de Quintus

Arrius. É nessa parte que o filme melhor representa a arquitetura do império romano, principalmente de Roma cidade, visitada por Judah. As grandes concentrações humanas, vista no filme, fazem referência, ao que Benévolo diz ser maior concentração humana realizada no mundo ocidental até então. Fora a grande concentração de pessoas, as cenas do Príncipe em Roma mostram a grande infraestrutura do espaço urbano, o que em Roma era recorrente. Aquedutos, espaços de diversão como Coliseu são indícios da preocupação com o cidadão na construção da arquitetura romana. Outro aspecto que fica claro nessas cenas é a organização da cidade. Segundo Bénevolo, “a cidade não é construída de modo descontínuo e sem alguma ordem, mas foi medida a estrutura dos bairros, deu-se largura às ruas, limitou-se a altura dos edifícios, abriram-se praças”.

Judah Ben-hur em uma Galé

Cena do filme Ben-hur

Depois de sair da situação de escravo, Judah vai ascendendo até que, no que talvez seja o ápice do filme, ele enfrenta Messala numa corrida de biga de quatro cavalos. Biga são charretes em que o condutor vão em pé. Mais uma vez mostra-se o grande aglomerado de pessoas, fora a grande estrutura que suportava a corrida de biga, o Circo Máximo como era chamado.

O filme, é uma boa contextualização do Império Romano, e fatos contemporâneos à ele. Personagens históricos também aparecem no filme, como Jesus, Pôncio Pilatos entre outros. Seja pelas qualidades de um bom filme, ou pelo seu valor pra História, Ben-hur é um filme que merece destaque na História do cinema. 28


ENTREVISTANDO UM ARQUITETO Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília (1986) e Doutor (Ph.D) em Arquitetura pela Strathclyde University, Reino Unido (1996) na área de projeto assistido por computador, Neander Furtado Silva (Figura 1) é atualmente professor adjunto da Universidade de Brasília e coordena desde 2000 um grupo de pesquisa de Laboratório de Fabricação Digital e Customização em Massa. Abaixo se encontra uma entrevista feita com ele sobre uma obra arquitetônica de sua preferência que ele teve a oportunidade de visitar e sobre o período histórico que ela representa. Figura 1: Neander Furtado Silva.

Figura 2: Mapa mostrando a localização da Escócia.

CONHECENDO UM POUCO SOBRE Chales Rennie Mackintosh: Charles arquiteto, designer e pintor escocês. Na área do design, destacou-se pela originalidade com que concebeu móveis, vidros, têxteis e outros elementos decorativos, muitas das vezes combinados com o design de Margaret MacDonald, sua esposa e também artista plástica. A Escola de Arte de Glasgow (1897-1909) foi considerada o primeiro exemplo da Arte Nova no Reino Unido, além de ser considerado sua obra-prima e também aquela que teve maior projeção internacional. Mackintosh também foi um talentoso pintor, dando maior dedicação nos últimos anos de sua vida.

Qual país você foi que teve uma obra arquitetônica que mais te chamou atenção? Não poderia deixar de escolher a Escócia (Figura 2), a qual, juntamente com a Inglaterra, o País de Gales e a Irlanda do Norte compõem o Reino Unido. Lá morei por quase cinco anos, na cidade de Glasgow, o centro industrial e comercial da Escócia. Esta hospeda, ao mesmo tempo, significativos acervos da arquitetura Gótica, Neoclássica, Vitoriana, Art Nouveau, Moderna, High-tech e Pós-moderna. Poderia citar obras de vários destes períodos, mas certamente não poderia escolher melhor exemplo do que o de Charles Rennie Mackintosh (Figura 3). Muitas são as suas obras que me chamam a atenção tanto em arquitetura quanto em vitrais, pinturas, luminárias e mobiliário. Não consigo pensar em apenas uma obra, mas tenho que citar quatro delas: Glasgow School of Art (Figura 4), Hill House (Figura 5), House for an art lover (Figura 6) e The Willow Tea Room (Figura 7). Comente um pouco sobre essas obras. Esta escola reuni, em um só edíficio, o melhor de Mackintosh, isto é, arquitetura, interiores, mobiliário e obras de arte. As outras três obras reunem o melhor do mesmo em termos de interiores, mobiliário, luminárias integradas em um mesmo projeto. O que mais te chama atenção sobres elas?

Figura 3: Charles Rennie Mackintosh.

A leveza sem ser minimalista, o cuidado com o detalhe sem ser sobrecarregado, a noção de que a forma também é uma função, ou seja ser belo é uma função, a inspiração na natureza integrando o retilíneo e o curvo, o uso da luz natural.

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O QUE É Art Nouveau? O Art Nouveau é um estilo de decoração que durou pouco mas foi muito significativo. Ele começou na virada do século XIX para o século XX. Era Sim, com o Art Nouveau. uma época de novos olhares sobre o mundo, o ser humano e a relação dele com o meio ambiente. O espírito era de mudança. E o Art Nouveau Porque você acha que elas pertencem a esse período? captou todas as novidades que estavam surgindo fazendo uma releituPelo período em que foram produzidas, pelo fato de Mackintosh ter ra e integração entre elas.

Você as identifica com algum período histórico? Qual?

vivido parte de sua vida na França, pelo motivos inspirados na natureza, pela integração das formas naturais com as formas retilíneas, pelo fato de não ser uma linguagem resultante de historicismo. Você acha que quando as pessoas olham para essas obras elas já pensam nesse período citado? Se têm um pouco de conhecimento de história da arte e arquitetura, sim. Essas obras serviram de influência, inspiração para alguma outra? Mackintosh está para a Escócia assim como Niemeyer está para o Brasil. Ele influenciou muitas obras no Reino Unido e seu trabalho foi de grande influência no Art Nouveau e manifesta alguns ecos no Art Déco.

Figura 6: House for an art lover.

Figura 7: The wikkow tea room. Figura 4: Glasgow School of Art. O QUE É Art Déco? O termo art déco ver de origem francesa e refere-se a um estilo decorativo que se afirma nas artes plásticas, artes aplicadas (design, mobiliário, decoração etc.) e arquitetura no entre guerras europeu. Ele liga-se na origem ao art nouveau, mas enquanto este explora as linhas sinuosas e assimétricas tendo como motivos fundamentais as formas vegetais e os ornamentos florais, o art déco segue outra direção em que há a predominação das linhas retas ou circulares estilizadas, as formas geométricas e o design abstrato.

Figura 5: Hill House.

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Catedral Gótica

Surge, nó século XII, próximo à Paris, a arquitetura gótica. Foi na construção da abadia de Saint Denis – as igrejas foram a expressão mais forte do gótico - que a combinação harmoniosa de três elementos, ou seja, o gótico em si, foi inventado. Sim, porque a inovação do gótico não foi nos elementos de composição isolados, porém, na composição. Segundo Pevsner, nem arco ogival, nem arcobotante, nem abóboda nervurada são invenções góticas, a novidade foi a combinação desses motivos para uma nova proposta estética. Ainda neste autor, a dinamicidade espacial atingida com essas técnicas em conjunto, ou seja, as vantagens estéticas, são muito mais importan-

Abadia de Saint Denis, França

tes do que as vantagens técnicas-construtivas que vieram com a utilização mais apropriada desses elementos arquitetônicos. Sabendo que durante anos as catedrais góticas foram as maiores construções da Europa (algumas delas sendo superadas apenas com a arquitetura de ferro), tem-se a dimensão da importância das inovações técnicas, e por sua vez a importância das características estéticas do período.

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Esse conjunto de inovações técnicas e estéticas aparece pela primeira vez reunido em Saint Dennis. A abóboda nervurada, uma variação das abóbodas de aresta, onde as nervuras reforçam as arestas. Quando criadas a partir de arcos ogivais, permite a modulação em retângulos. Segundo Pevsner, o vão retangular é mais vantajoso pois permite a utilização de mais pontos de apoio, podendo até duplicar os

quatro pontos de apoio habituais da abóboda de aresta. Dessa forma, o esforço se reduz à metade a cada um dos novos oito apoios, o que, de acordo com Yopanan, permite a utilização de apoios mais delgados. Já que, quanto maior o número de caminhos de transmissão de forças menor poderá ser a dimensão desses caminhos. É o que se vê em Saint Dennis, e no geral, é recorrente nas igrejas góticas. A menor espessura desses apoios aliada ao 32


grande comprimento reforçam a verticalidade, assim como as torres sineiras nas entradas das igrejas e os pináculos também o fazem. A verticalidade é uma característica muito almejada nas igrejas góticas. E tanto seu caráter simbólico quanto o caráter técnico merecem destaque.

Num primeiro momento será tratado sobre a verticalidade. A utilização de arcos ogivais já era recorrente na arquitetura árabe. Do ponto de vista da técnica o arco ogival representa um grande avanço sobre o arco pleno. Segundo Pevsner, a verticalidade completa, ou seja, a utilização de pilares, ofereceria a segurança total do ponto de vista estrutural. Já a horizontalidade, ou seja, a utilização de vigas, completa seria a causa de um desabamento imediato. As duas observações deste autor são válidas quando se lembra que a técnica construtiva utilizada na época, a cantaria, utiliza de um material, blocos de pedra, com baixa resistência a flexão. Dessa forma, de acordo com Yopanan, como a resistência do material não favorece determinado tipo de esforço, a geometria de sua composição – a utilização de arcos e colunas, ao invés de vigas – deve ser a qual em que predomine no material seu esforço favorável, no caso da pedra, a compressão. E por isso a maior eficiência dos arcos ogivais, resultando em maiores alturas alcançadas.

É de outra característica técnica-construtiva do arco ogival que vem boa parte do sua importância simbólica. Se para vencer um vão o arco escolhido é o semicircular, a altura dessa abertura será limitada a um único valor. E por consequência a altura da construção como um todo – se tomarmos uma construção, com vãos igualmente dimensionados, resultando em arcadas regulares, o que geralmente acontece – também será limitada. Porém, se para um mesmo vão o arco escolhido for o arco gótico, a quantidade de opções aumentam absurdamente. E, por consequência, a altura da abertura e da construção tem agora variadas alternativas sendo limitada apenas pela resistência do material, já que a geometria (o outro caráter da estrutura), teve um grande aumento nas possibilidades. Foi com isso que o arco ogival se fez significativo na arquitetura gótica. Segundo Pevsner o arco ogival, permite ao projetista se aproximar da verticalidade desejada. Verticalidade essa de alto valor simbólico por ser uma metáfora da proximidade com Deus. Os arcos góticos, com suas pontas, chegam a ser verdadeiras setas indicando o céu. O nome que recebe em inglês, ‘pointed arch’ (arco pontudo, ou que arco que aponta), é esclarecedor 33


Citado os arcos góticos e as abóbodas de nervuras, resta falar do último dos três elementos que associado com os outros dois primeiros permitem as inovações da arquitetura gótica: arcobotante. Essencialmente estrutural o arcobotante é uma continuação externa da estrutura interna das construções góticas. Se a verticalização dos arcos ogivais melhora a eficiência em relação aos arcos utilizados nos períodos anteriores, ela ainda não é perfeita. Por mais verticalizado que seja o, os arcos góticos ainda são arcos, e por isso tendem a abrir. A elevada altura das igrejas agrava essa tendência. Os arcobotantes apoiados nos contrafortes reforçam a estrutura, evitando essa abertura dos arcos das catedrais.

Construção de arcobotantes (à esquerda)

Posicionado do lado de fora das igrejas, os arcobotantes permitem a criação de espaços, corredores colaterais às naves. Esse elemento contribui também para reforçar uma mensagem que as catedrais góticas passavam para seus fiéis. Os volumes que eles formam são mais pesados que as leves nervuras de dentro das igrejas. Assim como as gárgulas e os vitrais, eles demarcam bem a oposição do que é externo à catedral e o que é interno; o que é da religião e o que é do profano. O que é a demarcação do espaço interior e exterior das catedrais é clara no gótico. Isso é uma forma de trazer o fiel para o espaço agradável que é o interior da igreja em oposição

Catedral de Laon, França

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ao espaço mundano. Os vitrais, por exemplo, além de mostrarem passagens bíblicas – o que é essencial, já que a cultura medieval depende da linguagem imagética; pois se são raros os livros são ainda mais os leitores -, os vitrais permitem a iluminação das igrejas góticas, característica reconhecida dessa arquitetura. Isso ajuda a criar um espaço agradável, trazendo para as catedrais, o espaço que mais se aproxima de Deus e do paraíso em Terra, um vislumbre do êxtase divino. Já as gárgulas, esculturas de criaturas aterrorizantes, ficam do lado externo das igrejas, e mostram as desgraças do mundo terreno, à margem da Religião, longe de Deus. Sem contar o caráter funcional, que muitas vezes desempenham, de escoamento de águas pluviais.

É em Saint Denis que a arquitetura gótica tem seu início. De acordo com Pevnser, é nela que as inovações técnicas e visuais aparecem pela primeira vez formando um conjunto gótico. Abóbodas ogivais cobrindo vãos de diferentes modulações; contrafortes substituindo as muralhas que separavam entre as capelas radiais, que agora (e daqui pra frente, em boa parte das catedrais góticas)estão mais internalizadas, no que segundo este autor constitui uma “franja ininterrupta e ondulante” ao redor do deambulatório; a leveza do interior, onde luz e ar circulam mais livremente que nas ‘igrejas-fortalezas’ românicas, reforçam as alegorias ao paraíso e êxtase extraterreno que a Igreja propunha. As divisões habituais de

Vitral

igrejas, em naves transeptos e deambulatório, continuam acontecendo, porém de forma mais sutil. De acordo com Pevsner, “a articulação permanece, mas trata-se de uma articulação infinitamente mais sutil e apurada”.

A partir de Saint Denis pequenas modificações foram sendo feitas, muitas pelo que se acredita com base na observação de catedrais já construídas. De tal forma que cada vez mais as catedrais góticas se distanciam das catedrais românicas. Num processo, as catedrais góticas chegam cada vez mais perto do objetivo inicial de seus projetistas, que segundo Pevsner, era a “animação de massas inertes de pedra, acelerar o movimento do espaço e reduzir toda a construção ao que, aparentemente, seria um sistema inervado de linhas”. Modificações de detalhes em projetos deixam claro essa evolução ao longo do tempo. A catedral de Laon utilizou de anéis nas colunas que marcavam muito a horizontalidade. Sendo que no gótico se preza pelo caráter vertical, os anéis logos foram abandonados, e catedrais posteriores não contam mais com esse elemento. Ocorrido semelhante com a padronização dos pilares cilíndricos que apoiam as colunas advinda nervura das abóbadas. Tais pilares eram diferenciados na catedral de Noyon.

As construções góticas conseguiram de forma exemplar unir técnica e estética, e conseguiram com isso alcançar grandes avanços na arquitetura. Os arquitetos da época, deixam como legado a utilização de técnicas e materiais já existentes porém de forma mais coerente com os seus objetivos. Dessa forma criaram novos elementos arquitetônicos e uma nova arquitetura com elementos já existentes. Em muito se aproximam dos modernistas. Destes, principalmente os que se propuseram a utilizar do concreto armado para ir além do que já existia, como fez Niemeyer na Pampulha. Se por um lado os góticos otimizaram a geometria de elementos já existentes para alcançar sua verticalidade, os modernistas utilizaram da resistência de um novo material criado a partir de outros dois já existentes (concreto e ferro criando concreto armado) para alcançar sua horizontalidade nos balanços, e mesmo nas vigas biapoiadas vencendo grandes vãos.

Gárgulas

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• Das Colunas Clássicas ao Concreto Armado: Coliseu x Mané Garrincha. Foto: Colunas do Estádio Nacional, Gustavo Marcondes, disponível em <http://www.correiobraziliense.c o m . b r / a p p / n o t i c i a / p o l i t i c a -brasil-economia/33,65,33,75/2012/12/08/interna_oscarniemeyer,338201/estadio-nacional-foi-concebido-c om-os-ideais-das-obras-de-niemeyer.shtml>, data de acesso: 08/06/2014. Foto: Jogos no Coliseu, autor desconhecido, disponível em <http://arelarte.blogspot.com.br/2009/06/arte-y-deporte-iii-etruria-y-roma.html>, data de acesso: 08/06/2014. Foto: Colunas do Coliseu, Andreas Solaro, disponível em <http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Notic i a s / 0 , , M U L 1 4 0 9 4 3 9 -17816,00-ATIVISTAS+DO+GREENPEACE+ESCALAM+COLISEU+PARA+PEDIR+ACORDO+EM+COPENHAGUE. html>, data de acesso: 08/06/2014. Foto: Construção do Estádio, Lula Lopes, disponível em <http://www.portal2014.org.br/noticias/10371/MANE+GARRINCHA+INCORPORADO+A+ARQUITETURA+MODERNA+DE+BRASILIA.html>, data de acesso: 08/06/2014. Foto: Jogo no Estádio Nacional, Coluna do Flamengo, disponível em <http://www.noticiasfla.com.br/2013/07/mane-garrincha-podera-sediar-partidas-outros-clubes.html>, data de acesso: 08/06/2014. Foto: Demolição da arquibancada, Correio de Uberlândia, disponível em <http://www.correiodeuberlandia.com.br/esportes/demolicao-de-arquibancada-do-mane-garrincha-fracassa-em-brasilia/>, data de acesso: 08/06/2014. Foto: Coliseu de Roma por dentro, Interpass Club, disponível em <http://blog.interpass.com/viagens/roma-veni-vini-vici/>, data de acesso: 05/06/2014. Imagem: Corte Coliseu, Lexikon der gesamten Technik, disponível em <http://en.wikipedia.org/wiki/Colosseum>, data de acesso: 05/06/2014. Foto: Estádio Nacional Brasília, Danilo Borges, disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Est%C3%A1dio_N a c i o n a l _ de_Bras%C3%ADlia_Man%C3%A9_Garrincha#mediaviewer/Ficheiro:Est%C3%A1dio_Nacional_Bras%C3%A Dlia.jpg>, data de acesso: 05/06/2014. Foto: Estádio Nacional de Brasília, Portal da Copa, disponível em <http://www.copa2014.gov.br/pt-br/noticia/brasilia-e-a-copa-do-mundo>, data de acesso: 05/06/2014. Foto: Colosseum at Dusk, Diliff, disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Colosseum_in_Rome,_Italy_-_April_2007.jpg>, data de acesso: 29/05/2014. Site: Mané Garrincha, No pão e circo o contribuinte vai dar ao Santos 800 mil, disponível em <http://www.blog r a d i o c o r r e d o r . c o m . b r / 3 8 1 4 / M a n e - G a r r i n c h a - N o -pao-e-circo-o-contribuinte-vai-dar-ao-Santos-R-800-mil-/>, data de acesso: 05/06/2014. Site: Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, disponível em <http://www.copa2014.df.gov.br/mane-garrincha/4970-estadio-nacional-de-brasilia-mane-garrincha>, data de acesso: 05/06/2014. Site: Coliseu de Roma, disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Coliseu_de_Roma>, data de acesso: 29/05/2014. Site: Coliseu de Roma, disponível em <http://www.suapesquisa.com/monumentos/coliseu_roma.htm>, data de acesso: 29/05/2014. Foto: Catedral de Saint Denis, autor desconhecido, disponível em < http://blog.awaystay.com/wp-content/uploads/2012/12/stdenisflicr.jpg>, acessado em 02/06/2014. Foto: Laon Cathedral, autor desconhecido, disponível em <http://classconnection.s3.amazonaws.com/180/flashcards/4817180/jpg/laon_cathedral-14428AFB19A6FFF9B2B.jpg> , acessado em 02/06/2014. Figura: Ghotic Vaults, autro desconhecido, disponível em dralquest.com/images/gothicvaults.jpg > , acessado em 02/06/2014.

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Foto: Vitral da Catedral de Chartres, autor desconhecido, disponível em < http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/cc/Vitrail_Chartres_210209_07.jpg >, acessado em 02/06/2014.

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Foto: Gothic Gargoyle, autor desconhecido , disponível em < http://www.exploring-castles.com/imagefiles/characteristics_gothic_architecture_gargoyle2.jpg >, acessado em 02/06/2014. Foto: Laon rib vaults, autor desconhecido, disponível em < http://www.23hq.com/StevieB/photo/3214917/large >, acessado em 02/06/2014. “A concepção estrutural e a arquitetura”; Rebello, Yopanan C. P; 271 p. “Panorama da arquitetura ocidental”; Pevsner, Nikolaus; 470 p. Filme: Imagem: Charlton Heston, cena do filme, disponível em < http://www.23hq.com/StevieB/photo/3214917/large >, acessado em 09/06/2014. Imagem: Ben-hur, cena do filme, disponívem em < http://i.telegraph.co.uk/multimedia/archive/02221/BenHur_2221984b.jpg > (adaptado), acessado em 09/06/2014. Imagem: Bem-hur, cena do filme, disponível em < http://blogs.d24am.com/cineset/files/2012/03/ben-hur-22.jpg >, acessado em 09/06/2014 Imagem: Bem-hur, cena do filme, disponível em < http://2.bp.blogspot.com/-jdQx0hI9ln0/T9jgAUv3mWI/AAAAAAAAAYE/v0eJdDgreOA/s1600/benhur6.jpg >, acessado em 09/06/2014. “História da cidade, A”; Benévolo, Leonardo; 728 p.

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