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Com a reformulação do projeto que um dia foi chamado de "Garotas Livres", nasce um veículo ainda mais abrangente: A Agorista. Nosso principal objetivo a partir de hoje é difundir os ideais de liberdade para pessoas comuns, interessadas em receber informação, conteúdo dinâmico e inovações culturais. Estou muito orgulhosa de cada um dos meus amigos que agora compõe o time A Agorista. Muito obrigada a cada maluco que resolveu embarcar comigo nessa jornada, pulando de cabeça nessa nova proposta. Obrigada também a você, que está nos cedendo seu tempo e lendo o conteúdo preparado com tanto carinho. Um feliz 2016 a todos! Mariana Diniz Lion Editora Chefe As ideias são o guia da ação humana. Propomos, com as publicações d’A Agorista, disseminar o princípio da defesa das liberdades individuais através de matérias com temas dinâmicos e com um ponto de vista desafiador e singular. Nunca antes estivemos tão privados de agir de forma livre. Não mais temos liberdade para vivermos, temos ‘autorizações’. A Agorista veio para questionar autoridades e sua legitimidade. Somos a voz daqueles que não mais aceitam que inocentes tenham suas liberdades banidas. Estamos trabalhando num conteúdo que defende que uma sociedade civilizada depende da colaboração voluntária e livre de coerção de todos os indivíduos que a compõem. Acreditamos que a persuasão tem o legítimo poder de mudar nossa realidade em busca de um mundo mais livre. Sejam bem-vindos à Agorista!
Darwin Ponge-Schmidt Vice Editor Chefe 2
“Ideias, e somente ideias, podem iluminar a escuridão.” (Ludwig von Mises) Nada tão abstrato como uma ideia, mas também nada tão concreto. O mundo pode ser destruído por ela, mas também pode ser salvo. Más ideias trazem a escuridão, mas boas ideias iluminam a escuridão. O libertarianismo é uma ideologia poderosa, dotada da razão, da realidade e da moral, componentes suficientes para classificá-la como algo bom. Eu acredito em ideias e no poder delas. A comunicação e a estética são as partes mais importantes do processo de difusão de um ideário, e por isso vejo com bons olhos o nascimento d’A Agorista. Essa revista vem para quebrar a hegemonia da mídia chapa branca e esquerdista, trazendo uma proposta inovadora, cool e informativa. Ela traz coisas que ninguém no meio libertário já conseguiu trazer e acredito que será referência para as próximas gerações. Mas para falar de instituições, é impossível não falar das pessoas que as compõem. A Editora-Chefe, Mariana Diniz Lion, é uma das pessoas mais promissoras no meio libertário. Acompanho de perto seu trabalho no Estudantes Pela Liberdade e atesto que é uma das pessoas mais competentes e pacientes com quem já trabalhei, além de ser minha escritora favorita. Também conheço e tenho um apreço muito grande pelos colunistas, já que também os conheço de perto. Ideias maravilhosas e pessoas sensacionais. Essa é a revista A Agorista, e ela vem para iluminar a escuridão.
Gustavo Oliveira foi Conselheiro no processo de criação de A Agorista, batizando o projeto.
Além disso, é Coordenador Estadual dos Estudantes Pela Liberdade em São Paulo e CEO do Instituto Mercado Popular.
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Sumรกrio
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Quem somos nós Conheça um pouco mais sobre quem escreve A Agorista, nesse dossiê rápido de apresentação do nosso time.
Mariana Diniz Lion Sou advogada, amante de música, poesia, leitura, filmes e séries. Comecei a escrever vários livros ao longo de meus 20 e poucos anos, mas parei todos para editar uma publicação mensal. Também coleciono canecas. @maricorday
/maricorday
Darwin Ponge-schmidt Fotógrafo e comerciante, 17 anos, me considero “austrolibertário anarcocapitalista agorista”. Além de fotografias, arte, música, economia e ciências, também gosto de arrumar confusão na Câmara dos Vereadores de São Paulo, ocasionalmente. @darwinpons
/darwinpons
Michelle Fransan Farmacêutica Bioquímica e Enóloga. Consultora de vinho e drogas pesadas para velhinhos com artrose, reumatismo e hemorroida. Amante de política, história, filosofia de boteco, mas boteco chique, porque eu sou chique, benhê. Escritora de meia pataca nas horas vagas. Cheers!
A Agorista - Fevereiro 2016
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Quem somos nós
Victor Pegoraro 21 anos, acadêmico de Direito e palpiteiro em economia e filosofia, sou apaixonado por fotografia, música e filmes. Conselheiro Executivo do Estudantes Pela Liberdade, sonho em ter uma banda de sucesso nas horas vagas. @PegoraroVictor
/pegoraro
Julia moioli Estudante de comunicação e marketing, prestes a me formar. Desde 2014 venho cultivando um ideal anarquista, mas jamais vou abrir mão de lutar cotidianamente por mais liberdade no Brasil. Política à parte, além de amar livros, séries e esportes, sou cantora de rock nas horas vagas e uma eterna viajante. @juliamoioli
/juliamoioli
A Agorista é uma revista que busca semear, para todos os públicos, os ideais de liberdade.
A Agorista - Fevereiro 2016
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Quem somos nós
Lucas Oleiro
Trabalho com Tecnologia da Informação e sou analista de sistemas há mais de 15 anos. Possuo formação superior em finanças e administração, e já atuei nos mais diversos tipos de projetos e empresas dos segmentos de prestação de serviços, indústria e comércio. Cozinheiro de final de semana, coleciono filmes relacionados à máfia e presença em shows de Heavy Metal. oleiro@gmail.com
/lucas.oleiro
Rafael Rizzo Sou formado em Produção Fonográfica e espero até hoje uma verba da lei Rouanet. Enquanto não vem, sou Diretor de “Memes” no Movimento Brasil Livre. /rafael.a.rizzo.1
Anna Luisa Salgado Graduanda de Ciências Sociais pela USP. Sim, eu sou liberal, eu juro. 20 anos. Eu assumo que há dias em que acordo “ancap”, mas me defino como minarquista na maior parte das vezes. Gosto de ler, pintar (óleo sobre tela) e brincar com os cadelos aqui de casa. @mexericatomica
A Agorista - Fevereiro 2016
mexericatomica
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Quem somos nós
Nathalia Motta 19 anos, libertária e estudante de economia. Amante de uma boa cerveja, riffs de guitarra e de todas as formas de anarquismo e desobediência civil. Delicadeza nunca foi meu forte.
/nathalia.motachaves
@oficialnatche
Caio Vioto Mestrando em História, 26 anos. Já desisti de ter uma "opinião política" definida, mas posso dizer que minhas principais referências intelectuais são Hayek, Mises, Tocqueville, Burke e Weber. /caio.vioto.7
Acompanhe A Agorista: @RevistaAgorista /RevistaAgorista Quer ser voluntário e escrever conosco? A Agorista - Fevereiro 2016 uma entrevista! Envie sua apresentação para aagorista@outlook.com e agende
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Liberdade Se há algo que podemos aprender com o estado é o quão prejudicial podem ser as interferências naquilo que deveria seguir seu curso natural. Uma economia sem intervenção estatal é chamada de livre mercado. Traficante de drogas, prostitutas, cafetões, toda a indústria pornô, vendedores ambulantes, transporte clandestino e outras centenas de “profissões” são pilares de uma economia verdadeiramente livre. O princípio que norteia o libertarianismo (que pode ser a corrente filosófica que muitos leitores seguem, ou pelo menos ouviram falar) é o de que é ilegítimo praticar agressão contra não agressores. Logo, a partir do momento em que essas ocupações não são exercidas através de coerção, muito pelo contrário, são frutos integralmente da oferta e demanda que é o motor do mercado, elas são consideradas legítimas, pois não há motivos lógicos para serem proibidas. Walter Block aborda essa questão genialmente em seu livro “Defendendo o indefensável”. A base de um mercado e sociedade livre é a tolerância. Para Mises, o livre mercado é a melhor forma de assegurarmos as demais liberdades civis. Defender a liberdade é entender que as pessoas gostam de coisas diferentes, tem opiniões diferentes e querem viver de maneiras diferentes. E qual o problema com isso, desde que não atrapalhe ninguém? Quem acredita que só aquilo que lhe agrada deve desfrutar da dádiva da liberdade não é um defensor dela - antes, tem muito mais afinidade com um ditador. Eu, particularmente, não sou admiradora do funk carioca, mas não tenho a mínima pretensão de que ele venha a ser proibido pois 9 sou defensora da liberdade
de expressão. O mesmo acontece com as drogas: um verdadeiro defensor do livre mercado em hipótese alguma pode ser contra a sua comercialização. Algumas pessoas podem usar sua liberdade para se voluntariarem a situações que consideramos degradantes e as quais não nos sujeitaríamos em nenhuma hipótese... mas qual o problema com isso? Qual dom divino possuímos para forçá-los a se encaixar naquilo que acreditamos ser bom? A liberdade para que cada um exerça sua moral dentro de uma ética social, exige que estejamos suficientemente maduros para aceitar a decisão de terceiros. Não impor nossa visão de correto para os outros é o primeiro passo para praticar a liberdade. Assumir responsabilidades é primordial para que possamos fazer escolhas, mas precisamos aprender a lidar com suas consequências, e isso é fruto de amadurecimento, e amadurecer dói. É muito mais fácil chorar pelo estado, para que ele proíba aquilo que não me agrada. A liberdade só será prazerosa como idealizamos quando todos entenderem que as pessoas podem optar, e, nem sempre elas optarão por aquilo que mais agrada a você. Um mundo livre exige pessoas tolerantes, que saibam ouvir “não”, pessoas com senso de responsabilidade, que rejeitem a ideia politicamente correta que hoje nos é imposta por pessoas que não têm essas virtudes, pessoas maduras, que assumam a responsabilidade de suas escolhas. Mais do que exigir e lutar por um mundo livre, devemos estar particularmente e moralmente preparados para lidarmos com a liberdade. A liberdade que incomoda, a liberdade bruta, é isenta de hipocrisia, falso moralismo e preconceitos. É essa a liberdade que devemos defender.
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O mercado para todos
Por Victor Pegoraro
Quando se fala em “mercado”, a imagem que, de imediato, vem à mente das pessoas é a de um pequeno grupo de homens, com seus charutos fedorentos e ternos caros, sentados à mesa planejando seus próximos passos para aumentar seu lucro e prejudicar a sociedade. Essa imagem, é importante dizer, é constantemente reforçada pela mídia, que noticia ao menos uma vez por mês que o “Governo se reuniu com o mercado para tentar acalmá-lo”, ou para tentar qualquer outra coisa do gênero. Quando noticias como essas são replicadas, de fato, o que houve foi uma reunião do Governo com
Foto: Darwin Ponge-Schimdt
alguns empresários bem conectados com políticos, para definir os rumos daquela nova tarifa de importação, ou aquela nova regulamentação ou, até mesmo, aquele novo subsidio para algum setor em específico. Obviamente, quando isso ocorre, não é uma reunião do Governo com “o mercado” (até porque isso seria impossível, haja vista que o mercado não é uma entidade dotada de personalidade e vida própria que anda por aí fazendo acordos escusos com Governantes). Esse tipo de noticia reflete outra coisa, e isso tem nome: o corporativismo.
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O mercado é um processo dinâmico onde todas as pessoas, incluindo eu e você, buscam aumentar sua própria satisfação e bem estar ao mesmo tempo em que aumentam a satisfação e o bem estar de muitas outras pessoas. O corporativismo representa o exato oposto. Dentro dessa lógica, grandes empreiteiras, bancos e outros setores sensíveis aos olhos do Governo buscam de forma constante o uso do aparato estatal para eliminar a concorrência e se beneficiar desse processo. Esse sistema representa uma negação à ideia de pessoas livres trocando bens e serviços da forma que melhor atenda seus desejos e necessidades. Mas voltemos a falar sobre o mercado: Recentemente um homem chamado Andy George, do canal How to Make Everything (Como Fazer Tudo) decidiu produzir seu próprio hambúrguer. O resultado, é claro, não foi minimamente inteligente quando imaginamos a alimentação de bilhões de pessoas ao redor do mundo. Mas com certeza foi uma experiência interessante que pode nos ajudar a ilustrar um pouco mais sobre o que é o mercado. Em resumo, George precisou de seis meses e US$ 1,5 mil para preparar um único hambúrguer que, segundo ele mesmo, nem ficou tão bom assim. Vale ressaltar que George se limitou à receita necessária para a produção do lanche, e não precisou produzir os acessórios utilizados no serviço, como a faca, as panelas, o liquidificador e etc. Nesse mesmo sentido, George já tinha acesso a todo conhecimento acumulado de outras pessoas que produziram o hambúrguer antes dele, não sendo necessário, dessa forma, testar e encontrar uma receita que lhe permitisse produzir o lanche. Enfim, é impossível detalhar todo o conhecimento utilizado no processo e todas as pessoas que trabalharam para que ele pudesse produzir seu hambúrguer "sozinho". Por outro lado, nós podemos comprar um hambúrguer mais gostoso em qualquer padaria na esquina de casa por apenas 10 R$ e que fica pronto em menos de 10 minutos. Aliás, hoje podemos pedir um lanche sem sair de casa, com apenas um clique em nossos celulares. Isso não acontece por acaso. Milhares de pessoas que não se conhecem cooperam (e competem) de forma descentralizada para que você possa comprar um pequeno e simples hambúrguer na esquina da sua casa ou através de seu celular. O fato mais interessante de tudo isso é que nenhum dos envolvidos nesse processo tem como objetivo final proporcionar um hambúrguer, ou um dogão, ou qualquer outra coisa para que você possa comer. A Agorista - Fevereiro 2016
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Pelo contrário, sua alimentação é o resultado secundário do trabalho de uma série de pessoas que não se conhecem e que tem em mente os seus próprios objetivos pessoais e profissionais. Dessa forma, cada pessoa envolvida na produção do seu hambúrguer consegue melhorar sua própria situação e você, como resultado disso, consegue matar sua fome - ou seu mero desejo, que seja, comendo seu lanche e melhorando, também, o seu bem estar. O corporativismo, por outro lado, foi comumente chamado por seus críticos de capitalismo ao longo da história, e tendo em mente que os defensores do livre mercado geralmente costumam referir-se a ele também como capitalismo, a confusão, que na maior parte dos casos é meramente linguística, está feita.
Os entusiastas do livre mercado são taxados de defensores do corporativismo. Por isso precisamos deixar claro para o mundo ao que nos referimos quando falamos sobre o mercado e não nos perder na confusão do significado dos termos. O mercado é formado por pessoas e é para todos, e no fim das contas é isso que nós defendemos e é nisso que nós acreditamos: nas pessoas e em sua incrível capacidade de fazer do mundo um lugar cada vez melhor.
Foto: Darwin Ponge-Schimdt
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O Liberalismo e a Academia por Anna Luisa Salgado
Entrei na faculdade. Era o curso que eu queria de acordo com o que eu pensava ser uma aptidão que tinha desde o ensino fundamental. Sempre gostei de ler e escrever bastante e achei que um curso mais voltado para a parte teórica das ciências humanas (o que venho descobrindo não ser tão verdade durante a graduação) seria perfeito para o que eu procurava em uma qualificação universitária. Escolhi as Ciências Sociais. Desde a época em que estava me preparando para os vestibulares, mesmo durante o ensino médio, já ouvia falar mal da faculdade e do curso que eu queria. Falavam-me que eu iria parar de tomar banho e fumar maconha o dia inteiro, uma péssima impressão para uma futura universitária. Eu queria estudar e construir um futuro acadêmico, mas me assustava a possibilidade de entrar em uma faculdade que tivesse tal reputação. No entanto, prestei os vestibulares e passei no curso. E aí eu vi o que realmente era (é) a faculdade de Ciências Humanas, em especial as Sociais. Não, calma, eu não vou começar a simplesmente acabar com a faculdade em palavras horríveis.
Minha intenção aqui é contar um pouco sobre como é a minha vida acadêmica, uma vez que já me chamaram de “infiltrada” naquela parte tão conhecida da universidade. Mas por que sou a “infiltrada”? Simplesmente porque não sigo a corrente de pensamento mais presente na minha faculdade: não sou “de esquerda”. Já flertei com ideias atribuídas à esquerda quando estava no ensino médio, fato com o qual muitos podem se identificar, em função da influência de professores de história e geografia. Eu lembro que pensava: “meu professor tem mestrado, ele não pode estar errado”. Algum tempo depois, conheci o libertarianismo por meio de alguns amigos que gostavam de discutir política e economia e passei a me interessar cada vez mais. O contraste entre as minhas opiniões e visões de mundo se deram quando percebi que eu tão logo estaria em curso dominado por ideias em parte semelhantes, mas em maior porção totalmente divergentes das minhas. Resumindo: minha transição foi entre a inscrição para o vestibular e matrícula da faculdade.
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Desde então, foram várias as situações em que me senti desconfortável na faculdade. Aposto que alguns leitores já se sentiram desse jeito, como um peixe (totalmente) fora d’água. Foram muitas piadas sem graça (dos próprios professores pós-docs tão conceituados daquela faculdade) e risos em comunhão que eu me sentia mal, enquanto tentava esconder que não via graça nenhuma. No começo do primeiro ano minha fuga foi ler muitos artigos de economia. Muitos mesmo. Só assim eu me sentia mais leve. Mas, sendo sincera, este não foi/é meu maior problema com a faculdade. O que mais me incomoda ainda é ausência de debate nas ciências humanas. O que eu quero dizer com “ausência de debate”? Simplesmente eu NUNCA vi ou ouvi falar de algum palestrante com um evento que – pelo menos, no mínimo – questionasse qualquer ideia defendida pelos meus colegas, veteranos e professores. Não vejo conflito de ideias, não vejo concorrência, não vejo discussão. No começo do curso ainda, quando tínhamos acabado de entrar na faculdade, houve uma eleição para chapa do DCE (Diretório Central Estudantil). Nós, recém-chegados, principalmente os que, como eu, estavam na primeira graduação, não tínhamos ideia do que era aquilo. Em todas as aulas, por umas duas semanas, alguns veteranos as interrompiam, espalhavam folhetos e ficavam por uns 15 minutos falando sobre a chapa. Sempre iniciavam com “Todos sabemos como político X cortou Y% da educação...” ou “Estamos sofrendo uma afronta ao ensino público, gratuito e de qualidade” e fechavam com “Precisamos da ajuda de todos vocês”. E isso aconteceu com mais outras eleições e movimentos estudantis, além de coletivos, no meu caso, mais fortemente o feminista. Nessa primeira eleição, inventei de ouvir um dos integrantes de chapa quanto às suas propostas para a representação discente. Pensei que poderia debater com ele. Tudo o que fiz foi perguntar as propostas. “Quero que os alunos produzam.” “Produzam o que?”, retruquei. “Ah, qualquer coisa”. Pedi exemplos. “Ah, sei lá, uma revista”. Achei legal por um segundo, mas lembrei de um fator e o questionei quanto aos custos e como eles fariam para arrecadar pelo menos um capital inicial. “A gente ocupa o Xerox e produz”. Perguntei quanto às pessoas que trabalham lá e precisam do dinheiro que lhes seria tirado por causa da ocupação (ideia tão bonita impregnada na cabeça do meu colega). Ele não soube responder. 15 A Agorista - Fevereiro 2016
Meu amigo, ouvindo tudo, disse para ele relaxar, pois eu era “difícil mesmo”. O integrante da chapa então disse que é importante que as pessoas os questionem e não engulam as informações. Realmente, não tive condições de engolir essas ideias dele. Minha faculdade é palco de algumas situações que até mesmo quem é “de esquerda” acha esquisito. Lembro-me de uma situação recente, que foi até gravada por um amigo, na qual um professor de Antropologia, no meio de uma explicação, interrompeu uma aluna que tentava questionar enquanto ele estava falando. Diante disso, a dita aluna falou em alto e bom tom que ele a estava “silenciando enquanto mulher”, enquanto ele a silenciou sim, no puro intuito de prosseguir com o fluxo de ideias e concluir o raciocínio. Com isso, iniciouse uma discussão sobre opressão em uma aula sem qualquer conexão com este tema. Na gravação, a conversa tem tom de gritaria, e não de debate. O professor, então, afirma que, sendo homem e homossexual, nunca se sentiu oprimindo ninguém, da mesma forma que não oprimiu a moça. Alguns colegas que estavam na aula e já tinham tido outras aulas com o professor disseram que as interrupções eram normais nas aulas dele, sendo feitas ora por homens, ora por mulheres. Entristece-me quão enraizada essa noção de opressão está na cabeça dos meus colegas e como absolutamente tudo pode virar motivo de preconceito.
“Questionei quanto aos custos e como eles fariam para arrecadar pelo menos um capital inicial. “A gente ocupa o Xerox e produz”. Perguntei quanto às pessoas que trabalham lá e precisam do dinheiro que lhes seria tirado por causa da ocupação. [...] Ele não soube responder.”
O professor precisou se expor como membro de uma minoria para ganhar o respeito da aluna. O jeito que ela montou sua fala fez parecer, de alguma forma, que ela estava sendo injustiçada e era digna desse respeito, talvez mais do que o próprio professor. Se ele fosse heterossexual haveria pelo menos uma nota de repúdio contra ele, não tenho dúvidas.
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“...a aluna falou em alto e bom tom que ele a estava “silenciando enquanto mulher”. [...]O professor, então, afirma que, sendo homem e homossexual, nunca se sentiu oprimindo ninguém. [...] Precisou se expor como membro de uma minoria para ganhar o respeito .”
Foram inúmeras outras situações que tive o prazer de presenciar. Tentei assistir o debate de chapas para o digníssimo DCE e fui embora ao meio da apresentação das chapas. Achei incrível o poder de defesa dos interesses e julgamentos dos meus colegas.
Houve bastante gritaria e xingamentos quando chamaram uma chapa que eles diziam ser “de direita” – creio que pelo apoio do PSDB, que, segundo eles, pertence a este lado do espectro político – quando, na verdade, poucas ideias diferiam e eu concordei com algumas delas. Essa chapa praticamente não teve espaço para exposição de ideias em meio a acusações de estupro e racismo de integrantes. Democracia só existe quando as visões de mundo estão em concordância, senão as deles são as melhores e não há discussão. Ponto final. Enfim, este foi só o começo de uma série de observações que venho fazendo a respeito da minha faculdade. São aspectos que, apesar de sérios e aparentemente irreversíveis, em função da longa trajetória histórica, acredito que são passíveis de mudança. Não, não estou querendo revolucionar ou acabar com o que a faculdade acabou se tornando. A questão é que, com o passar do tempo, me parece que os estudantes foram se acomodando a uma ideologia que lhes era confortável e razoavelmente fácil de ser defendida e, ao mesmo tempo, vendida. Na minha visão, a faculdade de Ciências Humanas tem como intuito básico o jogo de ideias, discussões, debates, questionamentos, enquanto tudo o que vi até hoje foi uma briga para ver quem gosta mais dos pobres ou quem tem mais pena dos pertencentes às minorias. Dá pra defender uma causa sem fanatismo? Sim, e não precisa ofender ninguém para conseguir isso ou tentar convencer alguém de que a sua visão é a melhor. Para isso, existe a concorrência, o que está em falta no tão fechado mercado de ideias na universidade. A Agorista - Fevereiro 2016
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Por Mariana Diniz Lion Uma das grandes divergências dentro dos ideais de liberdade envolve a compatibilidade entre liberdade e religião. Muitas pessoas acreditam que as duas coisas são essencialmente opostas, enquanto muitas pessoas acreditam que adotar uma religião é uma das maneiras de se exercer a liberdade. Mas, de fato, quais são os argumentos de ambos os lados e a qual conclusão devemos chegar ao final deste debate? Tentemos relacionar religião e estado. Para Locke, filósofo inglês liberal, o Estado surgiu para assegurar o cumprimento de uma Lei Natural, enquanto a Igreja* corresponde a uma associação livre e voluntária. Ora, se hoje enxergamos a corrupção do Estado ao seguir sua “função original”, é lógico supor que a
religião também possui seus desvirtuamentos. Para o filósofo teólogo francês Sebastian Castellion, a religião é, de modo geral, como uma “boa moeda”, que serve de lastro, não importando a imagem nela cunhada. É muito comum escutar de pensadores liberais e conservadores que não há uma sociedade livre e equilibrada sem a moral cristã, especificamente, e sem uma moral religiosa apurada, de modo geral, ainda que baseada em outras doutrinas. No entanto, muito embora 85% da população mundial de sete bilhões de pessoas afirme seguir alguma religião, os países mais ateus do mundo como Suécia, Dinamarca, Noruega, Japão, República Tcheca, Finlândia e França também se encontram classificados como “majoritariamente livres” no
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índice de liberdade, possuindo notas de 7 a 7.9 numa escala de 10, o que demonstra que não necessariamente devemos nos apegar à quantidade de pessoas declaradamente seguidoras de alguma religião como indicador de liberdade ou desenvolvimento social. De modo geral, a moral cristã prega o bem comum através do desenvolvimento individual. A moral no capitalismo, por si, é baseada na capacidade do indivíduo de produzir desenvolvimento separadamente, ocasionando a consequência coletiva de anulação da pobreza. É evidente, portanto, que o diálogo entre os dois prismas morais é completamente possível. A livre iniciativa capitalista tem como aspecto motivador o livre arbítrio, pressuposto essencial para legitimar
o ato mais básico exigido pela moral religiosa – a caridade real. O amor ao próximo vivenciado. Vale ressaltar, ainda, que mesmo quando se age de forma egoísta dentro da livre iniciativa, haverá, ainda que involuntariamente, mais de um beneficiado. A religião pode, sim, exercer o papel de bússola moral para a convivência em uma sociedade onde o Estado interfere pouco ou não interfere absolutamente na vida privada do indivíduo. Mas, devemos levar em consideração que nem toda estrutura religiosa é tolerante sobre doutrinas divergentes. Muitos dogmas são coercitivos e acabam rompendo a autonomia das pessoas – e aí se questiona o cerceamento da chamada “liberdade real”.
“Economia do Indivíduo – O Legado da História Austríaca” de Rodrigo Constantino, fala em seu capítulo 4 sobre liberalismo e religião.
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“The Conscious Resistance – Reflections on Anarchy and Spirituality” de Derrick Broze e John Viber, fala sobre a ausência de religiões e sua relação com a anarquia.
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"Na religião, não há liberdade para pensamento e contraditório. Como “"Penso que existe uma incompatibilidade sua moral é objetiva e divina, ontológica entre a existência do Ser (Deus qualquer questionamento, quando como ente primeiro) e a dinâmica essência não condenável à morte ou outras da liberdade, o Estar, força motriz da penas terríveis, é, no mínimo, evolução humana rumo à libertação última, descartado imediatamente. a do indivíduo. “ Liberdade e religião? Óleo e Água." (Sherman Soares, transumanista, empresário (Felipe Buarque, vlogger, ateu e e libertário) libertário) “O ser humano como um ser livre pode ter “Acredito que o judaísmo pode ser para si qualquer sistema de crença ou um grande aliado na defesa da doutrina que queira acreditar sem liberdade ao pregar a necessidade necessariamente interferir na liberdade de do respeito as regras privadas e ao outras pessoas, em relação a ética e proibir o uso da força para lidar com liberdade, não importa o que a pessoa transgressões que não violam a ética acredita e sim o que ela faz. Mesmo libertária - para tratar destes casos pessoas com crenças e opiniões são estabelecidas punições celestiais diametralmente opostas poderiam conviver e não vejo como a existência delas desde que respeitando mutuamente vida e pode ferir a liberdade de alguma propriedade um do outro.” forma. “ (Alexandre Carnevale, (Rock Barcellos, ilustrador, ateu e libertário) empreendedor, judeu e libertário)
Quer nos contar sua opinião sobre o tema? Envie um e-mail para aagorista@outlook.com
As pessoas acabam se deixando influenciar, por escolha própria, por esse tipo de “arrebanhamento”, levadas pela necessidade de possuir um guia rígido que lhes assuma as responsabilidades, da mesma maneira que o Estado faz na esfera política. Ao longo da história, inclusive, formatos religiosos originaram Estados totalitários ao imporem-se ao coletivo. Assim como é dito das formas de governo, o problema de instituições religiosas são as pessoas – falíveis, corruptíveis, que podem, ao falar “em nome do povo” ou “em nome de Deus”, respectivamente, atribuir a si mesmas o poder de coagir o outro
e mantê-lo servil. Ainda assim, é completamente válido, numa sociedade livre, que o indivíduo associe-se de maneira religiosa. Que adote todos os dogmas impostos pela religião que escolheu. Que faça valer as leis de seu Deus dentro de sua casa, exercitando sua fé. No entanto, é primordial que nem estes indivíduos nem os representantes de alta hierarquia de suas religiões busquem impor-se a todas as pessoas que não escolheram segui-la. É essencial que as religiões respeitadas por uma sociedade livre respeitem a sociedade livre da mesma maneira.
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É importante que cada pessoa exerça a fé raciocinada e analise a aplicação prática de todos os dogmas religiosos que escolheu. E que, acima de tudo, a entrega de sua fé não tome espaço da racionalidade no que diz respeito a refletir quais são os limites que se deve observar ao levar sua religiosidade para a vida em comum com outras pessoas. De todo modo, acredito que com a globalização, a propagação de boas ideias e o debate saudável, a tendência é que a espiritualidade e religiosidade passe a ser exercida de forma cada vez mais pessoal, desvinculadas de instituições fixas e fechadas. Se muitos de nós pregam a anarquia para o governo, podemos começar a refletir também sobre uma anarquia espiritual como “caminho do meio”. Não necessariamente devemos pregar a abolição de linhas religiosas fechadas, mas sim flexibilizar a maneira como internalizamos o conceito de moral, nos permitindo o estudo de outros aspectos e visões que podem, eventualmente, nos desvincular de conceitos autoritários e restritivos de divindade, como estamos fazendo com os conceitos autoritários e restritivos de Estado. Levando em consideração meios mais realistas de buscar o equilíbrio a curto prazo sem abrir mão de doutrinas fechadas, podemos ao menos escolher seguir religiões que permitem a todos os outros indivíduos o exercício pleno de sua liberdade. "Para fazer uma comparação: Anarquia está para o Estatismo assim como a Espiritualidade está para a Religião. Anarquia é a manifestação física de liberdade espiritualidade é sua manifestação mental. Em contraste, estatismo é o controle dos sentidos físicos. E, a religião, é o controle dos sentidos espirituais." (Derrick Broze & John Vibes)
A base teórica sobre a moral cristã e católica usada nesta matéria foi indicada pelo professor liberal José Guilherme Mansberger Ferreira, formado em Filosofia e História pela FFLCH-USP.
*Uso o termo “Igreja” me referindo a todas as instituições e estruturas religiosas que buscam exercer seus dogmas de forma coletiva. A Agorista - Fevereiro 2016
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Cinelogia por Lucas Oleiro
O Expresso do Amanhã ... ou de hoje? E se seguíssemos o que é ditado pela ciência, indiscriminadamente, sem contestar fundamentos éticos e lógicos? Esta é uma das ideias presentes no filme O Expresso do Amanhã (Snowpiercer, 2013, Coréia do Sul, República Tcheca, Estados Unidos e França). Baseado no premiado HQ francês, "O Perfuraneve", a história é uma distopia - aquele gênero literário que explora a possibilidade de uma sociedade com um governo extremamente interventor, violento e totalitário, que abusa do domínio dos seus cidadãos, cerceando liberdades. Por favor, tente não pensar no Brasil nos dias hoje, distopia é um estilo de narrativa. Nesta versão da história dirigida por Joon Ho Bong, lideranças e representantes dos países, motivados por temores cada vez maiores do "aquecimento global", criam o gás CW7, para resfriar o planeta. Dispersado simultaneamente na estratosfera de todos os continentes, o resultado ultrapassa expectativas, acelerando a Terra a uma nova Era Glacial, congelando sua superfície e acabando com toda a vida. Bem, toda não. Em 2031 resta apenas um pequeno grupo de pessoas, confinado em um trem fantástico, de tecnologia disruptiva, que é capaz de cruzar a Terra por um trópico, utilizando uma fonte de energia infinita. Com uma extrema condição de escassez, os responsáveis pelo Snowpiercer ou "Arca Expressa", usam a força para submeter os passageiros ao domínio centralizado, com manipulação e controle muito comuns a doutrinas sociais 'científicas' que presumem planificar seres humanos como entes iguais, de comportamento previsível. Ao ignoImagens da Internet
A Agorista - Fevereiro 2016
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por Lucas Oleiro
rar a natureza singular de cada indivíduo, as pessoas não passam de um grande rebanho. Os vagões do trem são divididos para refletir a divisão da população em castas, de acordo com um pressuposto social (o ticket de embarque adquirido), que é imutável. A porta-voz do "Grande Wilford" (criador da "Máquina Sagrada" que salvou a humanidade) após presenciar a agressão a uma funcionária deste "Grande Líder" pertencente à classe dominante, faz uma declaração do pressuposto de classes ao grupo menos favorecido, enquanto o agressor é punido com a amputação do braço que atirou o sapato: Passageiros... Isto não é um sapato. Isto é desordem. Isto é o caos no tamanho 44. Isto... estão vendo? Isto é a morte. Nesta locomotiva que chamamos de casa, há uma coisa que está entre o nossos corações quentes e o frio congelante. Roupas, escudos? Não, a ordem. A ordem é a barreira que repele a morte congelante. Todos nós, neste trem da vida, permanecemos em nossos lugares, cada um de nós precisamos ocupar nossas posições específicas, predestinadas.
E ainda reforça atribuições divinas, de veneração metafísica a entidades...físicas. No início tudo era prescrito pela sua passagem. Primeira classe e econômica, para aproveitadores como vocês. A ordem eterna é prescrita pela Máquina Sagrada. Todas as coisas fluem a partir da Máquina Sagrada. Todas as coisas em seus lugares. Todos os passageiros em seus setores. Toda água fluindo, tudo aumentando o calor...pagam homenagem também à Máquina Sagrada. Em suas próprias partículas, nas posições predeterminadas. E assim é.
Como na citação de Mark Twain, "a história não se repete, mas rima", e uma revolução dos menos favorecidos se instaura no trem. Mesmo que o principal objetivo desta revolução seja dominar a locomotiva, o final deste película é surpreendente, assim como é a natureza humana em qualquer época.
Imagens da Internet
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Ritmo de Liberdade
Por Julia Moioli
As letras libertárias e objetivistas compostas pelo icônico baterista Neil Peart Uma banda que chama a atenção pela habilidade de seus instrumentistas e pela inovação e criatividade que deixam um enorme legado ao rock progressivo. Mas, mais do que isso, outro elemento faz com que esta banda canadense se destaque na multidão: as letras libertárias e objetivistas compostas pelo icônico baterista Neil Peart. Neil Peart é sem dúvida alguma o integrante mais conhecido e prestigiado do Rush. Não é para menos, já que falamos de um dos melhores bateristas que o mundo já conheceu. Toda a complexidade sonora do Rush é promovida por um trio formado por Peart, que é também o grande compositor da banda, e mais dois músicos: o vocalista, baixista e tecladista Geddy Lee e o guitarrista Alex Lifeson. Diversas músicas revelam a inclinação de Peart ao libertarianismo e ao objetivismo de Ayn Rand. O álbum de 1976 da banda, intitulado 2112, foi dedicado “a genialidade de Ayn Rand”. Inspirado na novela de Rand “Anthem” (de 1937, antecessora de seus maiores clássicos A Revolta de Atlas e A Nascente), o disco fala sobre uma sociedade futurística na qual a redescoberta da guitarra ameaça uma sociedade totalitária. 2112 vendeu mais de três milhões de cópias desde seu lançamento e conta com letras fascinantes sobre liberdade e totalitarismo, como a consagrada frase da faixa “Something for Nothing”, que diz: “You don’t get something for nothing/You don’t get freedom for free*”. A letra que poderia ser eleita a mais libertária de todas, no entanto, é da música “Free Will”, do álbum Permanent Waves. “I will choose a path that’s clear/I will choose free will**”.
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Por Julia Moioli
A inspiração de Neil Peart, de acordo com o próprio, era sua liberdade individual. Ele cresceu nos anos 60 cultivando a ideia de que “você deve poder fazer o que quiser fazer, desde que não machuque ninguém no caminho”. O Rush era uma banda acima de tudo ousada, que pouco se importava com os padrões da época, em que o que se vendiam eram músicas de amor de três minutos de duração. Eles queriam criticar a sociedade totalitária em músicas ambiciosas, que durassem 20 minutos, com uma variedade de instrumentos e sintetizadores. Seria errado omitir que décadas se passaram e hoje em dia Neil Peart se identifica menos com Ayn Rand e, para a surpresa de muitos, já demonstrou apoio ao partido Democrata. Ele se define como um libertário bleeding-heart, ou seja, um tipo de libertarianismo mais à esquerda do espectro, que costuma ser extremamente sensível à questões sociais e defender que o Estado promova certo assistencialismo. Independentemente da ideologia por trás de músicos e compositores, as ideias da liberdade têm sido transmitidas por artistas de todas as épocas, nacionalidades e estilos musicais. Falar do Rush foi minha escolha para a estreia desta coluna, que vai percorrer de artistas consagrados à bandas que ainda estão emergindo, tanto no cenário internacional quanto no Brasil.
* Você não consegue algo por nada/Você não consegue liberdade de graça ** Escolherei o caminho que está claro/Escolherei o livre arbítrio A Agorista - Fevereiro 2016
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Trump, Sanders e o fim da
Democracia na América Por Caio Vioto
Em 1835, Alexis de Tocqueville escreveu “Da Democracia na América”, uma das obras mais importantes da História e da Ciência política e também uma das principais referências do pensamento liberal e conservador. Na obra, Tocqueville faz uma análise de como a democracia, considerada por ele um processo inevitável e irreversível, foi construída nos EUA. Para o autor, a democracia seria um processo de igualização, ou seja, do fim dos privilégios do Antigo Regime, que conduziria a sociedade, cada vez mais, à igualdade perante a lei. No entanto, ressaltava que a democracia poderia ocorrer ou não com liberdade e que os EUA, principalmente em comparação com a França revolucionária, eram o maior exemplo disso. Entre as características da democracia americana estavam a Constituição, que resguardava as liberdades individuais, a descentralização de poder, a existência de associações voluntárias e de leis garantidoras da liberdade. Porém, o que dava origem e mantinha todos estes princípios eram os hábitos e costumes dos indivíduos, sua ação política cotidiana em defesa da liberdade, que evitava a tirana e a massificação, “efeitos colaterais” do processo de igualização inerente à democracia. Ao longo de século XX, porém, esta situação começou a mudar paulatinamente nos EUA. O país passou a se envolver cada vez mais em guerras, a intervir mais na economia e o Estado passou a ser mais centralizado. O historiador Robert Higgs, no livro “Crisis and Leviathan: critical episodes in the growth of american government”, coloca que este processo ocorreu numa espécie de “efeito catraca”, ou seja, as intervenções e o crescimento do Estado, nas diversas esferas (militar, política, econômica, jurídica, social, etc.) nos momentos de crise foram se acumulando de modo que, mesmo passadas as fases de maior instabilidade, o Estado nunca voltava ao tamanho e ao escopo de atuação que tinha anteriormente. Além disso, este processo condicionou a população a aceitar a maior presença do Estado, muitas vezes justificada pela ideia de “segurança nacional” ou pela existência de um “inimigo externo” a ser combatido. A Agorista - Fevereiro 2016
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Dessa forma, a política dos EUA, antes uma democracia garantidora e respeitadora das liberdades individuais e com um Estado limitado, passou a ficar dividida entre nacionalistas, muitas vezes com viés reacionário e autoritário, e social-democratas, intervencionistas na economia e “construtivistas” em relação às ideias ditas progressistas, com cada vez menos espaço para políticos genuinamente liberais ou conservadores Assim, uma sociedade antes marcada pela autonomia e pelas relações privadas entre os indivíduos se tornou cada vez mais dependente do Estado e das decisões políticas de gabinete.
Atualmente, este cenário parece ter chegado ao seu “auge”, com a possibilidade de uma eleição presidencial entre Donald Trump, um candidato com perfil xenófobo, belicoso, intervencionista e autoritário, e Bernie Sanders, declaradamente socialista. Ainda que outros candidatos, e mesmo presidentes, se aproximassem destas mesmas características, nenhum as encarnava de maneira tão radical. Entre os republicanos, nenhum outro candidato, e nem mesmo o último presidente do partido, George W. Bush, se posicionava de maneira tão caricatural quanto Trump. Por seu lado, ainda que intervencionistas na economia e “progressistas”, nenhum democrata se colocava como genuinamente socialista. Ainda que não sejam candidatos, a possibilidade real de uma disputa presidencial entre Trump e Sanders tem um grande peso simbólico em relação ao que a “democracia na América” se tornou, ou melhor, em relação ao que deixou de ser.
A Agorista - Fevereiro 2016
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Referência Cultural ►►
Por Mariana Diniz Lion
Mirante 9 de Julho Em 1932 se desenrolava um levante histórico contra o Governo. Os paulistas, incomodados com a quebra da política do “café-com-leite”, iniciaram uma revolução armada contra o governo federal. Duas bandeiras foram levantadas para motivar a contenda: o Constitucionalismo, vendido como razão central para tentar angariar o apoio de outros estados brasileiros, e o Separatismo, bandeira velada e até hoje sufocada pelos livros de história. Apesar do mote separatista que corria em círculos restritos de intelectuais como Monteiro Lobato, a luta por uma constituição liberal e que garantisse a autonomia dos entes da federação foi a grande bandeira do Movimento de 1932. O movimento MMDC (nomeado em homenagem a jovens que morreram lutando em 23 de maio) iniciou, em 9 de julho, a marcha de suas tropas rumo ao Rio de Janeiro, tencionando tirar Getúlio Vargas do poder – e não foi bem sucedido por uma série de fatores, incluindo a falta de auxílio por parte de outros estados.
Mesmo com a derrota, São Paulo ainda carrega consigo monumentos e elementos urbanos que relembram a época da insurreição contra um governo que, mais tarde, se mostraria excepcionalmente ditatorial. Um desses locais icônicos é o famoso Mirante 9 de Julho. Recentemente reformulado, numa parceria público-privada do estado de São Paulo com o Grupo Vegas, o Mirante abriga um charmoso bar, exposições de arte urbana, projetos musicais, exibições de filmes ao ar livre e feiras independentes. Vamos retomar da hegemonia de frequentadores esquerdistas um monumento que essencialmente diz respeito à liberdade? Para conferir a agenda de eventos, a localização e detalhes do conteúdo que o Mirante disponibiliza, acesse https://mirante.art.br/. O horário de funcionamento do Mirante varia de acordo com a programação cultural.
A Agorista - Fevereiro 2016
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Por Michelle Fransan
Li um texto, pra mim, muito triste. Dizia que os homens não gostavam das mulheres dos dias de hoje. Dou razão a eles e deixo a pergunta cabal: Quem gosta? No texto, a autora dizia ter sido criada para ser independente. Não sabia cozinhar, limpar, sequer fazer um bolo, mas que tinha sido criada e incentivada para ser uma executiva, uma mulher de negócios, uma mulher “independente”. Eu fico ressabiada com esta independência feminina. Eu, senhores, não fui criada para ser executiva, nem fui criada para ser dona de casa, fui simplesmente criada para ser o que eu quisesse. Aprendi a limpar a casa, a lavar e passar roupa, a cozinhar, sei abrir vidro de palmito, latinha de caviar , trocar lâmpada, pregar um botão, coser um furo; recebo bem as pessoas, sei escolher muito bem vinhos e por uma bela mesa. Tenho duas faculdades, uma feita no exterior, trabalho com minhas duas profissões, morei fora por cinco anos, conheço gente do mundo todo. Uma coisa não anula a outra, ambas se completam. Ser independente não é ser executiva ou uma mulher de sucesso, ser independente é ter meios possíveis para garantir a nossa subsistência sem precisar de quem faça por nós. O problema desse feminismo piegas de hoje em dia é retalhar as mulheres em pequenos adjetivozinhos ao invés de nos transformar num grande substantivo. A mulher só é independente quando é dado a ela a oportunidade da livre escolha para que ela possa voar na direção que ela se sentir mais a vontade. Os relacionamentos são uma consequência do que aprendemos em casa e não há nada que demonstre mais amor que sermos nós a zelar pelo nosso lar. Encontrar um bom parceiro é a nossa missão, mas cabe a mulher ser o que tiver afim de ser. Sem se anular, sem conceitos pré-moldados, mas ir muito além das convenções sociais dessa modernidade líquida. É aí que está a diferença, quem tem um “Q a mais” se sobressai. A modernidade ensinou apenas uma coisa a estas mulheres ditas independentes - A voar menos alto que poderiam. Eu tenho pena!
Cheers! 29 A Agorista - Fevereiro 2016
Animus Jocandi
Imagem editada da internet
... sobre lâminas de barbear serem mais caras para mulheres:
“O humor, em regra, carrega uma roupagem própria e característica de sua forma de expressão, que [...]é marcada pelo exagero, muitas vezes pelo grotesco. E esse modo de linguagem, por óbvio, não pode gerar qualquer violação a direitos da personalidade. [...] É cada vez mais perceptível uma exacerbação da sensibilidade da opinião pública, avessa ao humor “chulo” (ou talvez à explicitação dessa forma de humor) ou mesmo a qualquer tipo de exploração das diferenças. [...] A expressão humorística deve ser respeitada num grau extremamente elástico, independentemente do tipo, da qualidade e, inclusive, do assunto tratado. Mesmo os temas que consistem em tabus sociais podem ser objeto de humor.” (Decisão do Juiz Tom Alexandre Brandão, da 2ª vara Cível de São Paulo, sobre o caso Rafinha Bastos x APAE)
Quer ver sua tirinha, quadrinho ou piada publicada na Agorista? Mande seu material para aagorista@outlook.com e divida conosco sua forma de humor!
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Fotos de “Ficha Técnica”, “Palavra de Editor”, “Recomendação” e “Quem Somos Nós?”: Acervos pessoais e individuais. “O Peso da Liberdade” – livro citado “BLOCK, Walter- Defendendo o indefensável- 2ª edição-São Paulo- Instituto Ludwig Von Mises Brasil-2010”. Imagem da Internet. “O Mercado Para Todos”: Imagens de Darwin Ponge-Schmidt. Citação da obra de Andy George. Notícia base - http://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2015/09/fazer-um-sanduichedo-zero-pode-custar-ate-r-58-mil.html. Canal do experimento: https://www.youtube.com/channel/UCfIqCzQJXvYj9ssCoHq327g. “Liberdade e Religião”: Imagens da Internet; Fontes: http://www.mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=104 http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=26 http://rodrigoconstantino.com/artigos/liberalismo-e-religiao-ou-a-virtude-da-empresa/ http://coral.ufsm.br/gpforma/2senafe/PDF/b47.pdf http://theconsciousresistance.com/wp-content/uploads/2015/01/TCR_NEW11.pdf http://www.liberdadeeconomica.com.br/ranking/2012 http://mundoestranho.abril.com.br/materia/qual-e-o-pais-com-mais-ateus-no-mundo CANAL YOUTUBE – FELIPE BUARQUE: http://youtube.com/feelipez AGRADECIMENTOS: Professor Guilherme Mansberger, Vinícius Cardoso Lacerda e Uriel Carrano Bueno. “Cinelogia”: Imagens da Internet. “Em Ritmo de Liberdade”: Imagens da Internet. “Trump, Sanders e o fim da democracia na América”: Imagens da internet. TOCQUEVILLE, Alexis de. A democracia na América. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1977. HIGGS, Robert. Crisis and Leviathan: critical episodes in the growth of American government. New York: Oxford University Press, 1987. “Referência Cultural”: Imagem de facebook.com/mirante9dejulho. “Animus Jocandi”: Imagens editadas da internet. Contato para críticas, elogios, dúvidas, sugestões ou observações: aagorista@outlook.com. Aceitamos a inscrição de articulistas fixos e temporários, além de designers, diagramadores , cartunistas e/ou chargistas. Todos voluntários não-remunerados. Aceitamos ceder espaço para anunciantes e patrocinadores que não interfiram no direcionamento de conteúdo da revista. A Revista Agorista não se responsabiliza pelas opiniões individuais de seus articulistas e entrevistados. Edição final, design e diagramação: Mariana Diniz Lion. Revisão de texto e identidade estética: Toda a equipe de forma rotativa.
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