AAI em revista nº 69

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PROFISSÃO A especialização em Arquitetura Hospitalar: desafios e oportunidades Páginas 20 a 22

PROJ E TO Referência internacional, os diferenciais do trabalho do arq. e urb. João Filgueiras Limas na Rede Sarah de Hospitais Páginas 24 a 26

roteiro Os harmoniosos contrastes da arquitetura de Córdoba, na Argentina Páginas 28 a 31

SEMINÁRIO AAI Brasil/RS reúne expoentes da nova geração de profissionais de arquitetura em Porto Alegre Páginas 32 a 35

Ano 13 | OUT/NOV/DEZ | 2014

#69

Publicação da Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil/RS

projeto arq. e urb. Patrícia Sinisgalli, sócia do escritório Gebara Conde Sinisgalli Arquitetos | Foto: acervo

Arquitetura e saúde A identificação de que ambientes agradáveis podem ser mais do que coadjuvantes na promoção do bem-estar revela um promissor campo para o desenvolvimento de uma arquitetura mais humana nos estabelecimentos de assistência à saúde. Além disso, a permanente transformação dessas edificações para atender com mais conforto aos usuários e adequar os espaços às inovações em equipamentos e serviços configura um mercado em expansão para os arquitetos e urbanistas, que são competentes para projetar hospitais, clínicas, consultórios e laboratórios, abrangendo desde a concepção, dimensionamento, planejamento das complexas Páginas 18 a 21 instalações e tratamento dos seus espaços internos e externos.


tante, que merece a nossa atenção. Dedicamos esta edição da AAI em revista para tratar desse tema, apresentado sob diversos enfoques e de forma abrangente. Entendemos a necessidade e percebemos o esforço das instituições do setor da saúde pela humanização da arquitetura hospitalar. A qualificação dos espaços internos em prol do bem-estar, do conforto e da segurança dos pacientes e demais usuários dos estabelecimentos ganha ainda mais importância com a expansão da “tendência” da hotelaria hospitalar. Esse é um mercado que nos diz respeito e que exige capacitação profissional e atuação multidisciplinar. Nas próximas páginas, discorremos sobre a complexidade desse segmento e você observará que se trata de um significativo nicho de

aa i b r a s i l / r s

editorial

Arquitetura e Medicina. Uma relação impor-

IV Reciclagem profissional Ferramentas de trabalho para a arquitetura: ABNT – reformas; BIM e Pós-ocupação. Esses foram os temas dos três encontros realizados em agosto como parte do Programa de Atualização e Valorização Profissional da entidade. A quinta edição da Reciclagem Profissional está prevista para os dias 3, 10 e 17 de novembro.

AAI EM REVISTA - ARQUITETOS A 12ª edição da publicação anual da AAI Brasil/RS apresentará projetos de 20 arquitetos e urbanistas associados. São eles: Aclaene de Mello, Albert Wainer, Alessandra Alves e Daniela Zoppas, Ana Lore Burliga Miranda, Angela Limberger, Beatriz Regina Cherubini Alves e Isabel Grazziotin, Carlos Jardim e Lisete Jardim, Cristiana Brodt Bersano, Débora Schmitt Noronha e Maria Alice Carvalho, Gislaine Saibro, Karen Haas, Laline Bittencourt, Marcelo John, Nilza Colombo, Paula Araújo Ribeiro Lino, Tania Bertolucci Delduque de Souza e Tina Zimmermann. O lançamento acontecerá no dia 9 de dezembro, no Jantar Comemorativo ao Dia do Arquiteto, quando igualmente será revelado o vencedor do concurso ‘Melhores Trabalhos da Arquitetura de Interiores’ que conta, também, com o patrocínio do CAU/RS.

RT em debate Em junho, a AAI Brasil/RS promoveu novo encontro sobre “Reserva Técnica”, agora entre empresários e representantes da AsBEA/RS e do SAERGS e com a participação do coordenador da Comissão de Ética e Disciplina do CAU/RS, Marcelo Petrucci Maia.

atuação para quem se dedica à Arquitetura de Interiores. É preciso estar sintonizado com as necessidades específicas, com as inovações

Parceiros AAI Brasil/RS 2014

Estas empresas garantiram participação nos eventos e projetos da AAI Brasil/RS.

tecnológicas e com os preceitos de um projeto eficiente de arquitetura – como destacamos na matéria sobre o trabalho exemplar desenvolvido pelo grande arq. e urb. Lelé durante décadas à frente da Rede Sarah de Hospitais. Arq. e urb. Silvia Barakat Presidente AAI Brasil/RS - 2014-2015

DIRETORIA - Gestão 2014/2015 Arq. e urb. Silvia Monteiro Barakat Vice-Presidência Arq. e urb. Cármen Lila Gonçalves Pires dir. de exercício profissional Arq. e urb. Flávia Bastiani dir. de Relações Acadêmicas Arq. e urb. Maria Bernadete Sinhorelli e Rua Sport Club Arq. e urb. Elisabeth Sant’Anna São José, 67/407 dir. de comunicação / relacionamento Arq. e urb. Ana Paula Bardini Porto Alegre/RS dir. de MARKETING Arq. e urb. Andres Luiz Fonseca Rodrigues CEP 91030-510 dir. de organização de eventos Arq. e urb. Cezar Etienne Machado de Araújo Fone 51 3228.8519 www.aaibrasilrs.com.br dir. financeira / tesouraria Arq. e urb. Gislaine Saibro Presidência

JORNALISTA RESPONSÁVEL

Letícia Wilson (Reg. 8.757) leticia@santaeditora.com.br

Colaboração

Tatiana Gappmayer (Reg. 8.888)

CONSELHO EDITORIAL

Arq. e urb. Gislaine Saibro Letícia Wilson COMERCIALIZAÇÃO

Projetato Assessoria e Comunicação 51 3239.2273 - 51 8858.6556 projetato@projetato.com.br

Conceitos e opiniões emitidos por entrevistados e colaboradores não refletem, necessariamente, a opinião da revista e de seus editores. Não publicamos matérias pagas. Todos os direitos são reservados. Publicação trimestral, com distribuição dirigida a arquitetos e urbanistas, entidades de classe, instituições de ensino e empresas do setor. Órgão oficial da AAI Brasil/RS.

EDIÇÃO GRÁFICA

Evaldo Tiburski | Tiba



especial

a necessidade de adaptar os espaços de saúde às novas tecnologias e de deixá-los mais acolhedores vem ampliando o mercado para a atuação dos profissionais nessa área A o GCS rv

Arquitetura pelo bem-estar Com espaços menos estressantes as pessoas curam-se mais rapidamente e as internações são menos prolongadas, gerando maior rotatividade e movimento nos hospitais, garantindo o retorno do investimento na qualidade das estruturas. A experiência do arquiteto e urbanista João Filgueiras Lima, o Lelé – falecido em maio deste ano – na rede Sarah de Hospitais contribuiu muito para alterar as concepções tradicionais desses edifícios, integrando conceito arquitetônico às necessidades médicas e terapêuticas. “Mostrou ainda a importância da racionalização e da viabilidade econômica dos processos unidos aos cuidados com a higiene, com o aprimoramento dos espaços internos, entradas de luz natural e renovação do ar, o contato com a natureza através de ligações com jardins e solários, o uso de cores, bem 4

SEGUINDO O CONCEITO DA HOTELARIA, ÁREAS COMUNS DE HOSPITAIS E CLÍNICAS RECEBEM TRATAMENTO ATUAL E MODERNO, EM RELAÇÃO A REVESTIMENTOS E MOBILIÁRIO

e ac


Fotos: acervo GCSA

“Assim como o projeto de interiores, a luminotécnica tem o objetivo de descaracterizar a imagem fria hospitalar”, enfatiza a arq. patrícia Sinisgalli, sócia do escritório Gebara Conde Sinisgalli Arquitetos (GCSA). Nas fotos, projetos desenvolvidos por sua equipe, em são paulo

como a parceria das artes plásticas”, detalha a

adornos e complementos. “A melhoria dos am-

lugares transmitem a sensação de acolhimento,

professora doutora da Faculdade de Arquitetura

bientes internos e a hospitalidade também se tor-

trazem resultados físicos e emocionais e aumen-

e Urbanismo da PUCRS, Leila Nesralla Mattar.

naram primordiais nas unidades de internações,

tam os índices de satisfação em relação aos ser-

distinguindo-as dos empreendimentos mais an-

viços prestados”, aponta. Patrícia acrescenta que

tigos desse setor”, afirma Leila.

o principal desafio para os profissionais é proje-

Um dos conceitos que vem sendo traduzido nessas construções para atender às novas expectativas é o da hotelaria, uma vez que a hospeda-

A arquiteta e urbanista Patrícia Sinisgalli, sócia

tar ambientes que sejam ao mesmo tempo refe-

gem passou a ser valorizada tanto pelos pacien-

do escritório Gebara Conde Sinisgalli Arquitetos

rência de excelência, reduzindo o estresse e au-

tes como por seus acompanhantes. Dessa forma,

(GCSA) de São Paulo – que há 20 anos atua nes-

xiliando na recuperação da saúde, que originem

áreas comuns como recepções, circulações, es-

se segmento–, complementa que ao procurar um

maior produtividade aos funcionários e comuni-

tares e esperas começaram a ter uma atenção

hospital, inconscientemente, o usuário busca in-

quem sinais positivos aos clientes. A melhoria dos

especial quanto ao tratamento da luz natural e

dicadores de qualidade, competência e integri-

locais de saúde, inclusive, foi um dos temas abor-

artificial, revestimentos, mobiliário mais moder-

dade. Nesse sentido, o espaço é uma das refe-

dados durante o VI Congresso Brasileiro para o

no, utilização de tonalidades diferenciadas para

rências analisadas pelos pacientes e que deve

Desenvolvimento do Edifício Hospitalar, ocorrido

as diferentes alas, aparelhos que contribuem pa-

promover o máximo de conforto e funcionalida-

em Florianópolis, em agosto passado, assim co-

ra maior comodidade e segurança do paciente,

de. “Os recursos destinados para hotelaria nesses

mo as tendências nesse campo. 5


especial

Todos os complexos dessa área devem ser

Uma ressalva que a arquiteta faz refere-se aos

carrinhos e macas, possuir propriedades térmi-

criados de acordo com as regras da Agência Na-

materiais utilizados nesses prédios: além de suas

cas agradáveis, não ser tão frio como mármores

cional de Vigilância Sanitária (Anvisa), vinculada

características técnicas, estéticas e assépticas,

e granitos, absorver parcialmente os ruídos e por

ao Ministério da Saúde, assim como das vigilân-

devem ser consideradas questões ambientais, co-

permitir criar desenhos que auxiliam na setoriza-

cias estaduais e municipais de saúde, que as ajus-

mo o uso de produtos que causem baixo impac-

ção. A utilização de cores também afeta o com-

tam às especificidades locais. Eles devem res-

to ao meio ambiente, reuso da água, redução da

portamento humano, gerando estímulos que fa-

ponder às resoluções RDC-50/2002 e RDC-51/

geração de resíduos e eficiência energética, por

vorecem a saúde. Contudo, adverte Patrícia, é

2011, que tratam da regulamentação técnica pa-

exemplo. Ela conta que nos empreendimentos

preciso tomar cuidado com a superestimulação

ra planejamento, programa, elaboração e ava-

desenvolvidos pelo escritório costumam optar por

que pode promover resultados negativos nas pes-

liação de projetos físicos de estabelecimentos

itens como forro removível, que facilita o acesso

soas. Ela pondera que os arquitetos interessados

assistenciais de saúde.

e manutenção das instalações, e pisos em man-

em atuarem nesse setor precisam de especiali-

tas. Esse recurso é bastante empregado por ser

zação para conhecer como esses espaços fun-

resistente a produtos químicos e ao tráfego de

cionam e suas particularidades.

reduzindo a complexidade ças e ampliações, pensar a flexibilidade dos ambientes é essencial na concepção de projetos de hospitais, ressalta a sócia do escritório GCSA, que já realizou trabalhos em São Paulo de reforma e revitalização do prédio dos ambulatórios do Hospital das Clínicas, de interiores para a expansão do Hospital Nossa Senhora de Lourdes, de refor-

divulgação hospital de clínicas

Por serem edificações sempre sujeitas a mudan-

ma da unidade de internação e UTI pediátrica do Hospital Sírio Libanês, entres outros. Patrícia reforça ainda a importância de simplificar a complexidade dessas construções sempre que for viável, adotando soluções como circulações amplas e bem sinalizadas para ajudar o usuário a se localizar, priorizar o paciente e acompanhantes personalizando os espaços, empregar iluminação natural sempre que possível e proporcionar contato com o exterior. “Assim como o projeto de interiores, a luminotécnica tem o objetivo de descaracterizar a imagem fria hospitalar”, frisa. 6

uti de um dos novos anexos do hospital de clínicas de porto alegre . Na expansão da instituição, atenção à tecnologia, sustentabilidade e humanização. As salas têm ampla vista para a área externa


DIVULGAÇÃO UNIMED NORDESTE

hospital da unimed em caxias do sul: inovação, tecnologia e referências à tradição italiana no tratamento da fachada

o aquecimento de água através de trocadores de placas, não vamos usar resistências elétricas, será tudo através de troca térmica”, explica. Além disso, outras iniciativas sustentáveis serão adotadas como a recuperação de água do lençol freático, o reaproveitamento da água e a instalação de uma praça de convivência, que terá projeto paisagístico da arquiteta e urbanista Léa Japur. “A ideia é integrar a sociedade a esse espaço do Clínicas, tornando mais agradável a permanência das pessoas que ficam no entorno aguardando atendimento, muitas vezes vindas do interior do Estado e que não têm onde ficar”, salienta Silva. Com relação às cerca de 240 árvores que foram retiradas para o início dos trabalhos, o engenheiro destaca que serão plantadas como compensação aproximadamente três mil mudas. O hospital contratou uma bióloga para atuar em conjunto com a engenheira ambiental da instituição na avaliação do melhor lugar para concretizar esse plantio. Com previsão de conclusão em 2017, as duas edificações contarão ainda com dois subsolos cada uma, acrescentando 722 vagas de estaciona-

sustentabilidade em pauta

mento, ampliação do ambiente da Emergência

Com uma área construída que chegará a 88 mil

Martins Pereira da Silva, uma das inovações da

de 1.700 m2 para 5.159 m2 e dos 54 leitos do Cen-

m2, os dois novos anexos do Hospital de Clínicas

obra envolve o reaproveitamento dos insumos

tro de Tratamento Intensivo (CTI) para 110. Silva

de Porto Alegre foram projetados com caracte-

térmicos dos prédios. Para isso, está sendo er-

assinala que a humanização foi uma questão es-

rísticas de greenbuilding por uma equipe multi-

guido um complexo que funcionará como um cen-

sencial na concepção da expansão. “A CTI será

disciplinar formada por profissionais especializa-

tro de distribuição, englobando o conceito de

toda monitorada e os pacientes terão janelas pa-

dos em arquitetura e engenharia hospitalar. Se-

co-geração de energia. “Hoje, o sistema todo é

ra o lado externo”, descreve.

gundo o chefe do Serviço de Engenharia e Edi-

gerado e co-gerado a gás natural. O excedente

A recepção e o registro ambulatoriais recebe-

ficações da instituição, engenheiro civil Fernando

das temperaturas dos gases será utilizado para

rão novas instalações, mais amplas, modernas e 7


especial

Fotos: marcelo donadussi / divulgação hospital mãe de deus

novas instalações do hospital mãe de deus, em porto alegre. mudanças passaram pela reorganização do processo de acolhimento para proporcionar mais agilidade no atendimento e segurança aos pacientes

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acolhedoras aos usuários. Ele complementa que

modinâmica, Endoscopia e parque de Imageno-

usuários passam, agora, por triagem inicial e, em

a sala de recuperação pós-anestésica passará dos

logia completo. Além do projeto arquitetônico,

seguida, são encaminhados para o novo espaço

atuais 22 leitos para 90 e possuirá mais 60 pol-

o escritório concebeu o detalhamento do mobi-

e recebidos nos consultórios médicos do local. O

tronas de restabelecimento. “As modificações, as-

liário e a comunicação visual. Outra particulari-

padrão adotado também prevê uma considera-

sim como atenderão melhor às pessoas, aumen-

dade da edificação refere-se a como o conceito

ção especial para os acompanhantes dos clien-

tarão a produção assistencial e aperfeiçoarão o

de humanização foi traduzido nas fachadas. “Co-

tes, com um fluxo de informações mais ágil sobre

atendimento e os processos realizados no Clíni-

mo o prédio encontra-se em Caxias do Sul, re-

cada um deles.

cas. Isso traz um ganho fantástico em termos de

gião de tradição italiana, utilizamos uma com-

De acordo com o diretor geral do Sistema de

qualidade e segurança à saúde”, argumenta.

posição com elementos que remetem à lingua-

Saúde Mãe de Deus, Claudio Seferin, o objetivo

gem clássica, com um desenho de esquadrias

é atender aos pacientes em menos tempo, des-

Ênfase na humanização

muito usado nas casas coloniais”, revela. Dessa

congestionando a emergência e dando atenção

A principal característica do projeto do Hospital

forma, o projeto promoveu uma identificação do

personalizada a cada usuário e familiar. Seguin-

da Unimed Nordeste, em Caxias do Sul, foi o fo-

paciente com sua cultura, de maneira que a ar-

do a premissa de reorganização do processo de

co no lado humano. “Nossa preocupação era ofe-

quitetura já o acolhesse conforme ele se apro-

acolhimento, para proporcionar mais agilidade e

recer espaços nos quais os usuários se sentissem

ximasse do edifício, assim como, em alguns mo-

segurança, uma Sala de Monitoramento e Con-

confortáveis e valorizados. Pesquisadores indi-

mentos, o emprego de materiais como o vidro

trole de Fluxo de usuários será responsável pelo

cam que a mente, o cérebro e o sistema nervoso

espelhado permite que os usuários identifiquem

sistema de gerenciamento do atendimento de

podem ser diretamente influenciados pelos ele-

nas fachadas a alta tecnologia correspondente

cada cliente, assim como pelos tempos deman-

mentos sensoriais do meio ambiente e propõem

ao seu interior.

dados em cada etapa: exames, medicação e pe-

que, em vista disso, os locais sejam estimulantes

ríodo de internação, entre outras informações

e dinâmicos”, detalha o responsável pelo empreen-

REORGANIZAÇÃO DOS FLUXOS

dimento, arquiteto e urbanista Jonas Badermann,

A ampliação e melhoria da área de Emergência

Com investimentos de cerca de R$ 5 milhões,

do escritório Badermann Arquitetos Associados,

e Pronto-atendimento do Hospital Mãe de Deus

a Emergência conta atualmente com cinco con-

de Porto Alegre. Nesse sentido, em um hospital,

(HMD), foram concluídas no primeiro semestre

sultórios e sala de medicação com seis lugares.

a humanização, ambiência e a consequente res-

deste ano, sob a responsabilidade do arquiteto e

O lugar onde já funcionava esse espaço ficou de-

posta positiva das pessoas a estímulos como co-

urbanista Paulo Cassiano. A intervenção resultou

dicado exclusivamente aos pacientes de alta com-

res são fundamentais para disponibilizar “espa-

em um modelo diferente de acolhimento dos pa-

plexidade e teve sua estrutura expandida. A sala

ços terapêuticos”, como define o profissional es-

cientes, estabelecido por meio da separação fí-

de observação, por exemplo, antes com nove lei-

pecializado em arquitetura hospitalar.

sica da recepção dos casos de alta, média e bai-

tos, hoje possui 16 leitos e a UTI da Emergência

Inaugurado em dezembro de 2004, o com-

xa complexidade. Para isso, a instituição investiu

ganhou mais três leitos, além dos dez já existen-

plexo possui uma área construída de 12.280 m2,

na criação de um ambiente específico para os

tes. Todas as mudanças realizadas resultarão em

116 leitos, sendo 20 de Unidade de Terapia In-

atendimentos de baixa complexidade, que repre-

um aumento de 30% na capacidade de atendi-

tensiva, oito salas de cirurgia e serviços de He-

sentam cerca de 70% da procura no HMD. Esses

mento do Mãe de Deus.

em tempo real.

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especial

Inovação em complexo médico Tudo no mesmo lugar. Essa é a essência do novo empreen-

banista Sandra Axelrud, responsável pelo projeto, acrescenta

dimento que a Cyrela Goldsztein está desenvolvendo em Por-

que tanto pacientes quanto profissionais da saúde contarão com

to Alegre, o Medplex Medical Center. Voltado para atender

espaços bem planejados e facilidades como operações “ânco-

aos profissionais da saúde em praticamente todos os níveis

ra”, café, farmácia, fitness com pilates, auditório, salas de reu-

de suas necessidades, o prédio com duas torres – localizado

niões e área gourmet com terraço e banco.

no Bairro Santana, próximo à Avenida Ipiranga – terá desde

Sandra explica que o empreendimento busca, além de enten-

elevadores com grande capacidade para evitar filas e trans-

der os seus usuários, oferecer atributos de comodidade, segu-

portar macas até descarte de lixo hospitalar em todos os an-

rança e “muita arquitetura funcional”. “As regulamentações da

dares e redes de infraestrutura específicas. O projeto contem-

Anvisa aplicáveis a edifícios de saúde foram observadas deta-

pla também corredores com 2m de largura, portas com folhas

lhadamente para que o ambiente fosse adequado aos serviços

duplas e abertura de 1,3m, banheiros com acessibilidade em

ali realizados e, assim, o profissional o reconhecesse como seu”,

todos os pisos, consultórios preparados para junções em qua-

afirma. Segundo ela, o complexo permite ainda intercalar ativi-

tro, seis e oito unidades para formação de clínicas, estaciona-

dades de estudo, lazer, esporte e confraternização, uma vez que

mento rotativo com serviço de manobrista e lojas e consultó-

as pessoas que trabalharão no local passam, muitas vezes, a

rios com iniciativas integradas e complementares. A previsão

maior parte do dia longe de suas residências.

de entrega é 2017.

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Com relação aos desafios de projetar um estabelecimento li-

Conforme o diretor de Negócios da companhia, Ricardo Jor-

gado à saúde, Sandra observa que, em primeiro lugar, a equipe

nada, a possibilidade de comprar uma unidade em um polo de

de arquitetura, engenharia e desenvolvimento imobiliário teve

saúde completo é um dos principais diferenciais do complexo.

de sair de sua “zona de conforto” para pensar em um conceito

“Normalmente, existe apenas a locação como modelo possível

inédito para eles. “Contratamos a assessoria da Lúcia Lisboa

nesse tipo de construção. No Medplex, o médico, por exemplo,

Arquitetura Hospitalar para contribuir com as ideias de fluxo e

é dono do seu endereço”, ressalta. A integração é outro ponto

de operação de um centro como esse”, salienta. Com uma área

destacado por ele, uma vez que a edificação reúne, na mesma

total de 30.500 m2, em um terreno de 7 mil m2, o Medplex pos-

estrutura, clínicas day hospital, bloco cirúrgico de oftalmologia,

suirá 187 consultórios de 35 m2 a 375 m2, com junções de até

demandas ambulatoriais e outros serviços, como exames labo-

745 m2, e três lajes inteiras de 745 m2 para grandes clínicas. Já

ratoriais, diagnósticos por imagem e terapias. A arquiteta e ur-

a Torre Office, terá 154 salas comerciais de 29 m2 a 215 m2.


com área total de 30,5 MIL METROS QUADRADOS NO BAIRRO SANTANA, EM PORTO ALEGRE, EMPREENDIMENTO VAI INTEGRAR DUAS TORRES, REUNINDO HOSPITAL DIA, CONSULTÓRIOS MÉDICOS,

IMAGEM: divulgação CYRELA GOLDSZTEIN

LABORATÓRIOS E ESPAÇOS DE LAZER E DE ESPORTES

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hebiátrica localizada em florianópolis. projeto da idein – Ideia + desenvolvimento – arquitetura, dirigida por emerson

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acervo idein arquitetura

E N T R E V I S TA sala de espera de umA clínica de psiquiatria infantil e


a complexidade do desenvolvimento do edifício hospitalar mereceu a criação de um congresso nacional específico. em sua SEXTA edição, realizada em agosto, o CBDEH tratou da excelência em ambientes de saúde: experiências e evidências

Um novo modelo Estabelecimentos de saúde de menor porte, descentralizados nas grandes cidades e hotelaria hospitalar são algumas das chamadas tendências do

AAI em revista – O CBDEH apresentou modelos nacionais e internacionais de hospitais privados e públicos em diversos países. Dos exemplos apresentados, quais os diferenciais e qual a tendência no exterior no planejamento desses espaços? Emerson – O Congresso trouxe diversas experiências do exterior, em especial os trabalhos que vêm sendo realizados na Argentina, Espanha, Escandinávia, Estados Unidos e Austrália. Foram várias contribuições, mas cabe destacar uma reflexão bastante interessante para o contexto urbano – a redução no tamanho das edificações hospitalares. A tendência é a cons-

setor, como aponta, nesta entrevista à AAI em revista, o arquiteto e urbanista Emerson da Silva, presidente do CBDEH e

trução de hospitais com no máximo 200 leitos, em estruturas de saúde descentralizadas, distribuídas pela cidade, contribuindo para a redução dos trajetos e fluxos internos do ambiente urbano. A maior proximidade entre a estrutura assistencial e os bairros permite um acesso fácil ao equipamento e menores deslocamentos, exatamente o que preconizam as cidades contemporâneas preocupadas com a sustentabilidade e a qualidade do viver urbano.

futuro presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar. O congresso foi realizado em Florianópolis/SC

Outro destaque é a evolução nos estudos que demonstram que um ambiente hospitalar adequadamente projetado, de caráter acolhedor, seguro e organizado, pode contribuir significativamente para a cura dos usuários. Essa situação está cada vez mais sendo pauta de pesquisas em centros renomados pelo mundo afora. A “ambiência” dos espaços vem sendo tratada por diversas disciplinas, com destaque para a psicologia, onde as reflexões sobre a psicodinâmica dos ambientes recebe especial atenção nos estudos mais recentes. 13


ACERVO PESSOAL

ENTREVIST A

muito exíguas, pois se tornam pouco rentáveis na sua operação; e nem de proporções exageradas, que dificultem o controle e a manutenção das ações do cotidiano.”

AAI em revista – Em que nível estão os projetos

financiamentos do setor (ex.: FINAME) exigem re-

brasileiros nesta área?

gistros nacionais dos produtos, e uma alternativa

Emerson – Temos diversos exemplos de relativa

amplamente empregada pelos grandes players

expressividade no contexto internacional, em es-

do setor é a instalação de unidades no Brasil.

pecial nas questões regulatórias, onde o Brasil

Da mesma forma, muitos fabricantes nacionais,

tem destaque e vem sendo copiado por outros

vêm desenvolvendo linhas de produtos orienta-

países que estão em processo de desenvolvimen-

das para esse segmento. O momento de reestru-

to de seus marcos regulatórios. Outro item que

turação de grandes complexos, a necessidade de

nos coloca em destaque internacional é o avan-

construção de novos equipamentos e a exigência

ço nas questões de segurança nos ambientes hos-

cada vez maior dos usuários do sistema impul-

diretor de relacionamento da

pitalares, alguns hospitais são referência neste

sionam o setor e tornam o mercado muito atrati-

Idein arquitetura e presidente do

assunto, é o caso do Hospital Moinhos de Vento,

vo para empresas que não exploravam esse setor.

arq. e urb. emerson da silva,

congresso, defende a especialização na área. “Não é mais admissível que

em Porto Alegre, que possuí um sistema de ges-

edifícios com tamanha complexidade

tão de infraestrutura, compatível com os grandes

AAI em revista – Diretores de instituições de

sejam projetados e construídos com

centros internacionais.

saúde costumam reclamar da falta de mão de

desconhecimento de causa”

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“os estabelecimentos de saúde não devem ser de proporção

obra especializada para a construção de edifíAAI em revista – O mercado nacional, em relação

cios hospitalares. Segundo eles, é grande o des-

a materiais e equipamentos, está bem abastecido?

preparo de construtoras e empreiteiras. Essa é

Emerson – Como em outras áreas da economia,

uma realidade local, regional, nacional? Como

o Brasil vem recebendo atenção especial dos fa-

resolver essa questão?

bricantes internacionais de materiais e equipamen-

Emerson – Definitivamente, essa situação não é

tos médicos. Esses, vislumbrando um mercado

uma peculiaridade local ou regional. Falta mão de

atrativo, implantam aqui suas unidades de produ-

obra qualificada para o setor de construção nesse

ção e distribuição, uma vez que grande parte dos

segmento, em especial por conta de sua peculia-


ridade. As instalações especiais, os acabamentos

mentos na sua implantação urbana. Outra ques-

AAI em revista – Esse é um mercado que está

diferenciados, os sistemas e a complexidade das

tão importante diz respeito ao controle e a ras-

em expansão, considerando as diversas inicia-

relações entre eles exigem um conhecimento mais

treabilidade dos diferentes agentes que interagem

tivas empresariais na região Sul, especialmen-

específico para a execução a contento das obras

no ambiente hospitalar, pessoas e insumos, ad-

te, com a construção ou reforma de hospitais

hospitalares. Muitos critérios de segurança a se-

ministrá-los em grandes proporções vem se tor-

e de centros médicos? Qual a motivação, na

rem seguidos e um controle mais rígido do crono-

nando uma operação cada vez mais complexa e

sua opinião?

grama de execução – uma vez que diferentes agen-

onerosa. A alternativa de centros com dimensões

Emerson – O mercado de saúde vem sendo mo-

tes interagem no mesmo espaço, no mesmo ins-

mais reduzidas pode permitir uma gestão mais

tivado pelo momento econômico que o País vive

tante ou em momentos sincronizado, fazem com

assertiva e direcionada.

nesta década. A pirâmide social brasileira vem

que poucas empresas explorem esse segmento.

sofrendo uma alteração significativa – um “inchaAAI em revista – Você considera possível, em

ço” na faixa etária compreendida entre os 20 e

AAI em revista – Você costuma dizer que o mo-

médio prazo, que os imponentes e complexos

60 anos, exatamente o período mais produtivo

delo ideal de edifício hospitalar deve compor-

edifícios hospitalares deixem de existir, em subs-

da vida, onde o poder aquisitivo, resultado desta

tar até 200 leitos. Por quê?

tituição a unidades menores e descentralizadas?

etapa economicamente ativa, impulsiona o cha-

Emerson – A gestão de um complexo com gran-

Emerson – Acredito que sim. A tendência, cada

mado “poder de compra”. Também é nessa eta-

des proporções vem se mostrando cada vez mais

vez maior, é a busca por equipamentos mais sus-

pa de vida que se formam as famílias, e a saúde

ineficaz, sejam nas suas relações internas ou ex-

tentáveis, sejam pelas questões ambientais, eco-

aparece como elemento indispensável nesse ce-

ternas. No ambiente urbano, as operações de trá-

nômicas ou sociais. Talvez os grandes complexos,

nário, com filhos em fase de crescimento. É ce-

fego estão se tornando cada vez mais restritivas,

já configurados, permaneçam como estão, mas,

nário fortuito para os planos de saúde, que vêm

o grande fluxo de pacientes, carga e descarga

os novos devem seguir essa orientação. Eles não

implantando, cada vez mais, seus serviços pró-

em grandes montas, a geração de resíduos em

devem ser de proporção muito exíguas, pois se

prios – centros de saúde, unidades de diagnósti-

larga escala colocam em risco a ambiência do

tornam pouco rentáveis na sua operação; e nem

co, hospitais e estruturas de atendimento.

entorno. Operações menores podem ser uma al-

de proporções exageradas, que dificultem o con-

ternativa para mitigar o impacto desses equipa-

trole e a manutenção das ações do cotidiano.

Por outro lado, a população brasileira envelheceu, e muito, nos últimos anos. No início dos 15


E N T R E V I S TA Sala de espera secund谩ria de um laborat贸rio de Florian贸polis. Projeto da IDEIN Arquitetura 16


acervo idein arquitetura

“o profissional de arquitetura que se dedique ao entendimento de toda a complexidade do tema devE ser o ‘maestro’ dessa operação. Mas, para tanto, deve ter consigo uma equipe muito bem preparada.”

anos 1990, a expectativa de vida era de 66,9

a segurança de um empreendimento de saúde

anos. Hoje, passa dos 74. A vitória da longevida-

estão cada vez mais associadas à localização,

de, a perspectiva de viver mais, no entanto, nos

aos projetos e à manutenção adequada, além

trouxe um novo problema. O perfil das enfermi-

da adaptação aos novos tratamentos, profissio-

dades que mais afligem os brasileiros mudou.

nais e tecnologias incorporadas pela medicina

São as doenças crônicas mais comuns em idosos

contemporânea.

e o tratamento especializado para elas o maior gargalo do sistema de saúde. As estruturas exis-

AAI em revista – Considerando a tendência de

tentes são insuficientes para tamanha demanda.

investir cada vez mais na promoção do bem-es-

Temos muito por fazer.

tar do paciente, hospitais têm adotado claramente a linguagem do segmento hoteleiro. Qual

AAI em revista – Como o arquiteto e urbanis-

a importância desse movimento e quais os re-

ta pode e deve se preparar para atuar nesse

sultados reais possíveis?

mercado?

Emerson – A hotelaria hospitalar já é uma reali-

Emerson – Assim como em qualquer negócio,

dade em diversos centros de atenção à saúde.

a especialização e a compreensão dos temas

Mas, ela é bem mais complexa do que vem sen-

em questão permitem ao profissional maior in-

do difundido por aí. Nesse contexto, os serviços

serção no segmento. Não é mais admissível que

de apoio, normalmente esquecidos ou relegados

edifícios com tamanha complexidade sejam pro-

como questões secundárias, são vitais para o ple-

jetados e construídos com desconhecimento de

no funcionamento das operações. Não se pode

causa. O planejamento é o principal aliado. Com

exigir que a alimentação seja adequada e satis-

as verbas disponíveis, poderia ser feito muito

fatória se o local onde ela é produzida não este-

mais se tudo fosse pensado de acordo com as

ja projetado e implementado a contento. Como

necessidades de cada localidade. A eficiência e

exigir que o atendimento do corpo de enferma17


ENTREVIST A

“A hotelaria hospitalar já é uma realidade em diversos centros de atenção à saúde. Mas, ela é bem mais complexa do que vem sendo difundido por aí.”

gem seja de excelência se as estações de traba-

AAI em revista – Em relação à promoção da se-

ambiente hospitalar seguro. Para tanto, é neces-

lho não apresentam condições adequadas para

gurança no espaço hospitalar, quais os desafios?

sário o estabelecimento de protocolos rígidos du-

o desenvolvimento das rotinas? Enfim, para que

Emerson – São vários aspectos envolvidos com

rante o processo de projeto, instalação e operação.

os protocolos possam ocorrer com eficiência e o

o tema segurança no ambiente hospitalar, tanto

Afinal, de nada adianta a instalação de um sistema

atendimento ser de excelência, precisamos pro-

que em 2013 a ANVISA publicou uma Resolução

complexo se não temos uma manutenção especí-

jetar o edifício hospitalar com muito rigor, sejam

Diretiva de Colegiado, a RDC 36, específica para

fica e adequada para o seu pleno funcionamento.

nas áreas onde se executam as atividades “fim”

esse tema, com vistas à promoção de ações para

(assistenciais), ou as atividades “meio” (apoio).

a segurança do paciente em serviços de saúde. Ações de gestão dos riscos no serviço de saú-

uma equipe multidisciplinar é imprescindível

AAI em revista – Com a crescente oferta de uni-

de conforme as atividades desenvolvidas pela uni-

para um projeto eficiente, certo? O arquiteto e

dades hospitalares, essa questão passará a ser

dade, que vão desde a implementação de pro-

urbanista é o profissional habilitado a coorde-

considerada pelo paciente na escolha do local

cessos, passando pelo controle da qualidade das

nar esta equipe?

onde quer ser internado?

instalações e infraestrutura até os protocolos de

Emerson – Acredito que o profissional de arqui-

Emerson – Acredito que não só pelos pacientes,

controle de contaminação, e nesse contexto o

tetura que se dedique ao entendimento de toda

mas também pelos médicos e equipes assisten-

ambiente seguro é uma meta a ser atingida pelas

a complexidade do tema deva ser o “maestro”

ciais. Um cirurgião renomado e sua equipe com

instituições.

dessa operação. Mas, para tanto, deve ter consi-

certeza irão optar por unidades de saúde que

18

AAI em revista – Percebe-se que a formação de

go uma equipe muito bem preparada. Com a par-

lhes permitam maior segurança e confiabilidade

AAI em revista – A promoção do conforto am-

ticipação de profissionais de diversas áreas, des-

no desenvolvimento das suas atividades, bem co-

biental e a garantia da qualidade do ar, por exem-

de o engenheiro clínico, indispensável na defini-

mo maior conforto e tranquilidade no seu coti-

plo, parece ser um dos maiores desafios, certo?

ção das instalações adequadas para a implemen-

diano de trabalho. Esses agentes são os que cha-

Emerson – O sistema de condicionamento de ar,

tação do parque tecnológico, até o corpo de en-

mamos de “clientes internos”, os geradores de

e todos os seus agregados – exaustão, renovação

fermagem, que realmente “presta o serviço as-

clientela externa. Um bom cirurgião que opere

e outros sistemas térmicos –, se não for bem pro-

sistencial”, passando por um grupo de engenhei-

no meu corpo clínico atrairá uma clientela expres-

jetado e operado dentro dos critérios adequados

ros com conhecimento específico das instalações

siva para o meu negócio!

de mantenabilidade, torna-se um grande vilão do

e peculiaridades do ambiente hospitalar.


acervo idein arquitetura

Outro ângulo da sala de espera da clínica de psiquiatria infantil e hebiátrica em Florianópolis

19


P RO F ISSÃO

acervo GCSA

recepção do hospital SÃO LUIZ JABAQUARA/REDE D’OR, em São paulo. projeto da GEBARA CONDE SINISGALLI ARQUITETOS

20


Conhecimento especializado Projetos na área da saúde demandam profissionais com formação aprofundada

A busca por uma vida mais saudável tem leva-

sileiros e argentinos que trabalham no setor, são

do um número cada vez maior de pessoas a pro-

oferecidas pela instituição até 40 vagas anual-

curarem os serviços médicos de maneira preven-

mente para arquitetos e urbanistas e engenheiros

tiva. Esse movimento, em conjunto com a atuali-

civis que buscam aprofundar conteúdos que vão

zação permanente dos espaços de hospitais, clí-

desde como aliar, em seus projetos, os quesitos

nicas e consultórios, representa uma oportunida-

arquitetônicos às exigências das vigilâncias sani-

de de negócios para os arquitetos que desejam

tárias, ao entendimento das funções de cada uma

atuar nesse segmento. Contudo, para entrar nes-

das unidades e serviços de um hospital. Os alu-

se mercado, é preciso conhecimento especializa-

nos saem preparados para avaliar as necessida-

do devido à complexidade das estruturas de as-

des de instalações especiais, mobiliário e equi-

sistência à saúde.

pamentos, como climatização, gases medicinais,

Desde 2007, o Instituto de Administração Hos-

instalação elétrica, proteção radiológica e pre-

pitalar e Ciência da Saúde (IAHCS), em Porto Ale-

venção contra incêndio. Conforme Badermann,

gre, conta com a pós-graduação em Arquitetura

aqueles que não destinam tempo para o estudo

Hospitalar com o objetivo de capacitar os profis-

não têm condições para atuar nesse campo por

sionais nos aspectos técnicos e normativos espe-

causa dos inúmeros processos e requisitos legais

cíficos para o planejamento físico e funcional des-

que envolvem a construção de um empreendi-

ses ambientes. “A saúde precisa ser vista de mo-

mento dessa natureza.

do global, abrangendo também seus sistemas,

“O profissional precisa saber o que acontece

organização, recursos tecnológicos e humanos e

na portaria, em uma sala de cirurgia, no berçário,

legislação”, observa o arquiteto e urbanista Jonas

conhcer as rotinas e os fluxos, por exemplo. Com

Badermann, coordenador do curso e especialista

isso, ele ganha mais segurança para projetar”,

em Administração e Arquitetura Hospitalar.

aponta o coordenador. Ele explica que o curso

Com duração de 18 meses e professores bra-

do IAHCS foi criado em razão da inexistência de 21


P RO F ISSÃO

disciplinas exclusivas nos currículos de gradua-

Sobre as vantagens de quem se aprimora na área,

provou a relevância do papel do arquiteto no es-

ção sobre o planejamento arquitetônico de esta-

ela ressalta o reconhecimento dos arquitetos es-

paço hospitalar. Adriana salienta que os princi-

belecimentos assistenciais de saúde.

pecialistas, inclusive, com concursos que solici-

pais desafios que se enfrenta nessa área são as

Com experiência de 16 anos no desenvolvimen-

tam esse diferencial, a contribuição que eles dão

adaptações que precisam ser feitas, às vezes, em

to de especializações em arquitetura e saúde, a

ao bem-estar das pessoas e a capacitação para

função das obrigações legais e o entendimento

coordenadora do Departamento de Cursos do

planejar qualquer complexo relacionado à saúde.

do cliente em relação a essa questão.

Instituto de Arquitetos do Brasil no Estado (IAB/ RS), Tatiana Santiago, reforça a importância da-

da teoria à prática

denador da especialização em Arquitetura Hospi-

queles que trabalham nesse setor estudarem as

A arquitetura hospitalar tem um cunho social. Ela

talar da TGS, o segmento atrai poucos profissio-

especificidades das estruturas hospitalares para

não cura o paciente, mas ajuda na sua recupera-

nais devido a sua complexidade e às regras espe-

poder criar bons projetos. “Uma das grandes di-

ção. Dessa forma a arquiteta Adriana Silva da Sil-

cíficas de cada uma das unidades de um estabe-

ficuldades enfrentadas pelos profissionais envol-

va define o segmento em que atua. Para ela, o

lecimento de assistência à saúde. “É preciso com-

ve a não aprovação dos complexos pelo não aten-

ambiente hospitalar é um local onde ocorre um

preender as relações entre as alas, a relevância da

dimento às resoluções RDC 50 e 51, da Agência

cruzamento de sentimentos, de expectativas, um

proximidade entre algumas delas e os projetos

Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”, relata.

espaço que o profissional busca tornar mais ame-

arquitetônicos devem ser compatíveis com outros,

Tatiana comenta que o IAB já realizou, neste ano,

no, levando conforto àqueles que nele permane-

como os relacionados ao conforto e à assepsia.

um curso específico sobre Normatização exata-

cem. Trabalhando exclusivamente com estruturas

São muitas variáveis a serem respeitadas”, argu-

mente para tratar das exigências legais que de-

médico-hospitalares, Adriana fez pós-graduação

menta. Na pós-graduação, a meta era apresentar

vem ser cumpridas nos empreendimentos. Ela

em Arquitetura e Engenharia de Estabelecimen-

os diferentes locais que compõem um hospital,

antecipa que os próximos encontros abordarão

tos Assistenciais de Saúde (promovida pelas ins-

com suas particularidades e as obrigações deter-

temas como projetos para estabelecimentos de

tituições Unievangélica e TGS) e em Gestão de

minadas pelas normas existentes. Ao final do cur-

saúde e prevenção contra incêndio.

Recursos Físicos e Tecnológicos em Saúde (da

so, os alunos concebiam a ideia de um ambiente.

Criadas para responder à demanda dos arqui-

22

Para o arquiteto Paulo Cassiano, que foi coor-

Fiocruz), ambas na capital gaúcha.

Cassiano salienta que os benefícios para aque-

tetos, as atividades do Instituto são de curta du-

O interesse pelo setor começou quando ainda

les que se qualificam nesse assunto vão do me-

ração, de 12 a 48 horas, e têm como caracterís-

era estudante de Arquitetura e foi estagiar na

lhor credenciamento para a idealização desses

tica principal serem informativas e práticas, com

parte Administrativa do Hospital Luterano, da Ul-

empreendimentos até a possibilidade de entrar

a possibilidade de aplicar o conhecimento adqui-

bra, em Porto Alegre. “Essa experiência com os

em um mercado em que um número pequeno de

rido logo em seguida. A coordenadora revela que

pacientes, seus familiares e funcionários naquele

pessoas se aventura. O arquiteto adianta que, em

já formou mais de 300 profissionais ao longo de

local me motivou a procurar mais conhecimentos

breve, deve ser lançado um novo curso de espe-

sua trajetória, iniciada no Centro de Ensino Con-

dentro do meu campo”, revela. Ela também pas-

cialização na área de gestão de espaços de saú-

tinuado (Cenec) e após na sua empresa TGS, que

sou pelo outro lado da moeda, sendo contratada

de, em uma parceria entre a Escola de Saúde da

teve sua última turma de especialização em Ar-

pela Vigilância Sanitária de Canoas, lugar em que

Unisinos e o Hospital Mãe de Deus. Mais informa-

quitetura Hospitalar concluída em maio de 2014.

aprovava projetos voltados para a saúde e com-

ções: espec-poa@unisinos.br.


23

www.expressodooriente.com.br

/expressodoorientetapetes

mts


proj e to

Fachada e espaço externo do hospital da rede sarah em salvador, inaugurado em 1994. tomando partido da grande área de terreno destinada ao empreendimento, lelé adotou uma implantação horizontal, em apenas dois níveis. dessa forma, foi possível integrar todas as áreas de tratamento e de internação aos amplos jardins de ambientação. a coordenação do projeto ficou a cargo do arq. e urb. haroldo pinheiro, que já havia atuado com ele no hospital do sarah de brasília

24


ícone da arquitetura hospitalar, João Filgueiras Lima, Lelé, deixa um legado na área da saúde no país que se tornou referência internacional

Medicina e arquitetura Um dos membros da tríade responsável pelo nascimento de Brasília, o

Os prédios hospitalares projetados associam estética e tecnologia, com

arquiteto e urbanista carioca João da Gama Filgueiras Lima, conhecido

o emprego de métodos desenvolvidos por ele próprio, como da pré-fabri-

como Lelé, foi considerado “o construtor” por Lucio Costa – autor do pro-

cação de componentes em série e o da argamassa armada. O máximo apro-

jeto do Plano Piloto da Capital Federal –, ao lado do colega Oscar Nieme-

veitamento da ventilação e da luz naturais é outra característica marcante,

yer, o “criador”. Na defesa da racionalização e da industrialização na ar-

dispensando o uso de aparelhos condicionadores de ar e, assim, reduzindo

quitetura, Lelé deixou sua marca em Brasília, mas ganhou fama e notorie-

o risco de infecções. Esse princípio básico da era da “sustentabilidade” era

dade pelo trabalho exemplar desenvolvido junto à Rede Sarah de Hospi-

considerado por ele, simplesmente, resultado de um bom projeto de arqui-

tais desde o final dos anos 1970 até maio deste ano, quando faleceu, em

tetura. “Não precisamos desenvolver teorias de sustentabilidade para saber

Salvador, aos 82 anos.

que quando você pôe um vidro na fachada, ele esquenta; e que se você não fotos: Divulgação Rede Sarah

proteger o vidro, ele vai ter mais calor”, disse ele em uma entrevista concedida ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) em 2012. Na oportunidade, lamentou que a “industrialização esteja fora de moda” no meio, considerando os fortes lobbies existentes no setor da construção civil. “Temos que ocupar os nichos que surgirem”, enfatizou. O início do legado na área da saúde se deu em 1980, com a inauguração do primeiro hospital da Rede Sarah Kubitschek, em Brasília, especializado em neurorreabilitação de pacientes. Nos anos 1990, a rede inicia o projeto de expansão, inaugurando unidades em São Luís, Belém, Macapá, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Os primeiros projetos concebidos como hospitais satélites da Rede Sarah foram os da cidade de São Luís e de Salvador. Ambos foram elaborados simultaneamente, empregando a tecnologia de pré-fabricação e argamassa armada desenvolvida na Fábrica de Equipamentos Comunitários (FAEC) de Salvador, criada nos anos 1980 por Lelé e que produziu de bancos e passa25


Divulgação Rede Sarah

proj e to

destaque para As aberturas dos sheds, voltadas intencionalmente para a direção dos ventos dominantes e a favor. “O efeito de sucção produzido dessa forma também ajuda na extração do ar dos ambientes”, enfatizou lelé no seu livro “Arquitetura, uma experiência na área da saúde”. Muros vazados pré-fabricados em argamassa pintada, com 1,80m de altura, promovem o fechamento. Neles, a arte do parceiro athos bulcão

relas de pedestres a escolas e creches. Em seu

de água, prevista na entrada de cada galeria, além

e paredes das galerias. As tubulações de esgoto

livro “Arquitetura, uma experiência na área da saú-

de funcionar como filtro para captação de partí-

foram dispostas fora do corpo das galerias, mas

de”, lançado em 2012 pela editora Romano Guer-

culas em suspensão, proporciona também, pelo

são acessíveis através de caixas herméticas loca-

ra, o arquiteto descreve em detalhes as técnicas

efeito de evaporação, um rebaixamento de tem-

lizadas ao longo das paredes. O objetivo foi evi-

utilizadas em seus projetos hospitalares. Vale acres-

peratura em cerca de dois graus centígrados”,

tar que um eventual vazamento possa provocar

centar que no ano passado a publicação conquis-

escreveu Lelé na publicação. A proteção contra

a contaminação do ar insuflado que penetra nos

tou o segundo lugar na categoria Arquitetura da

a insolação norte foi garantida pelas criação de

ambientes do hospital.

55a edição do Prêmio Jabuti, a maior e mais tra-

amplas varandas, com 2,50 metros de largura,

O arquiteto considerou a dificuldade de mobi-

dicional premiação de literatura do País.

que também funcionam como áreas de estar e

lidade dos pacientes, projetando equipamentos

de tratamento, integradas aos jardins externos.

e instalações específicas. As piscinas, externas e

O sistema de ventilação natural implantado,

26

considerado mais eficiente que o adotado na uni-

A infraestrutura do conjunto de edifícios é cons-

interna, contam com rampas para a entrada de

dade de Brasília, foi, mais tarde, aperfeiçoado pa-

tituída de uma trama de galerias subterrâneas

pessoas em cadeiras de rodas ou macas. Nos

ra os demais hospitais instalados no Nordeste.

que acompanha a distribuição dos pilares da su-

quartos, os pacientes acamados têm acesso ao

Executada na direção piso-teto, a proposta resul-

perestrutura, projetada em aço. Essas galerias

controle de luz individual, ao interruptor para cha-

ta basicamente do aproveitamento das galerias

exercem tripla função: constituem o próprio sis-

mada da enfermagem e ao ponto de insuflação

de tubulação localizadas nos subsolos para insu-

tema de fundações do edifício; canalizam o ar

de ar exterior conduzido através das galerias. Ino-

flamento de ar nos ambientes. “O deslocamento

externo para todos os ambientes do hospital; e

vação, pioneirismo, técnica e bom senso a favor

do ar nas galerias é provocado pelo próprio ven-

aloja todas as tubulações gerais de suprimentos

da saúde e do bem-estar. O trabalho de Lelé na

to ou por ventiladores localizados em suas res-

e serviços, possibilitando sua fácil manutenção.

área hospitalar é a prova da eficiência de um bom

pectivas aberturas para o exterior. A pulverização

Todas as tubulações correm ao longo dos tetos

projeto de arquitetura.


27


ROTEIRO

EDIFICAÇÕES de diferentes estilos constroem um rico diálogo EM CÓRDOBA, a segunda cidade mais populosa da Argentina

Harmonia arquitetônica texto e fotos: tatiana gappmayer

A forte herança jesuítica, ordem que chegou a Córdoba por volta de 1589, deixou importantes marcas nas edificações locais. Uma caminhada pela região Central e pelos bairros próximos revela, através da arquitetura, traços da trajetória dessa cidade de cerca de 1,3 milhão de habitantes. Patrimônios nacionais como a Manzana Jesuítica – que reúne a Iglesia de La Compañía de Jesus (a mais antiga do país), Capilla Doméstica, Colégio Nacional de Monserrat e a antiga sede da Universidade Nacional de Córdoba – e a Catedral convivem em perfeita sintonia com prédios góticos e contemporâneos e deixam a paisagem urbana cordobesa diversificada e ainda mais interessante. Outra característica que chama a atenção são os vários calçadões (peatonales) na área do Centro, privilegiando a circulação dos pedestres, e os caminhos de pedra existentes entre os edifícios históricos. passeio de pedras originais no caminho entre o museu da memória e a catedral. os casarões históricos ganham novos usos, com a inauguração de espaços culturais, comerciais e de serviços, integrando ainda mais o centro histórico às edificações modernas erguidas na região nos últimos anos

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Paseo Buen Pastor: de asilo e presídio feminino a um dos mais importantes centros de compras e lazer da cidade

Aliás, o contraste entre o passado e o presente é constante e a ocupação de sobrados em estilo colonial, transformados em lojas e cafés, demonstra na prática a possibilidade de preservar a memória e manter uma personalidade única sem deixar de estar atualizado com o que há de mais moderno nas técnicas construtivas. Preservação e revitalização andam juntas nos recentes empreendimentos em desenvolvimento na localidade e a criação do espaço cultural e de lazer Paseo Buen Pastor, no bairro Nueva Córdoba, é um exemplo dessa harmonia. A edificação, que já funcionou como um asilo de mesmo nome e uma prisão de mulheres, inclusive no final dos anos 1970, durante a ditadura argentina, passou por modificações para recuperar a estrutura e receber novas funções. Foram mantidas originais a fachada voltada para a Avenida Hipólito Yrigoyen e a capela, seus afrescos e o 29


ROTEIRO

Um olhar de valorização Na mesma linha de restauração arquitetônica está o Museu Emilio Caraffa, que alia um edifício de características neoclássicas a um mais moderno. Outros destaques de Córdoba são suas diversas igrejas, com diferentes estilos que impressionam pela riqueza das pinturas, do teto ao chão, e seus museus, como o Palácio Ferreyra e o da Memória – prisão clandestina da época da ditadura, onde homens e mulheres eram torturados. Um triste retrato de um dos tempos mais duros vividos pelos argentinos. A antiga casa conta a breve trajetória de pessoas que continuam desaparecidas até hoje através de depoimento de familiares e amigos e de seus objetos. A história e sua preservação têm papéis importantes na construção da identidade dos coro museu de belas artes Emilio Caraffa é outro exemplo de restauração, integrando o edifício de estilo neoclássico projetado em 1915 pelo arquiteto juan kronfuss com o anexo de linhas modernas criado em 2008 pelo arquiteto Lucio Morini e pela equipe do escritório GGMPU Arquitectos

dobeses, que valorizam seu passado e seus patrimônios arquitetônicos. Para chamar ainda mais a atenção de moradores e visitantes, a municipalidade elaborou uma iniciativa diferente para atrair

formato em cruz grega, ambiente que atualmen-

trabalho desempenhado pelos artesãos da ci-

o olhar dos pedestres que passam diante de edi-

te é usado para apresentações musicais e teatrais.

dade, que tornaram a construção uma verdadei-

ficações simbólicas e que, na correria diária, nem

ra obra de arte.

as percebem. Foram instaladas, no Centro da ci-

Devido às condições dos muros e demais pré-

30

dios, foi optado pelo governo de Córdoba optou

Inaugurado em 2007, o projeto do Paseo tem

dade, sombras feitas de pedras brancas nas cal-

por demolir o que havia, abrindo o complexo

mais de 10 mil m2 de área e cerca de 3 mil m2 de

çadas em frente a esses prédios, levando as pes-

para mais ruas e permitindo visualizar a impres-

área construída e foi conduzido pelo arquiteto

soas a desviarem a visão e apreciarem esses lo-

sionante Iglesia Del Sagrado Corazón, da ordem

Héctor Spinsanti. Hoje, abriga restaurantes, ba-

cais. Outras ações estão em andamento nessa

dos Capuchinhos. Desenhada em estilo neogó-

res, lojas de produtos locais e áreas para mostras

área, com muitos edifícios de valor cultural, reli-

tico pelo artista e engenheiro italiano Augusto

e exposições de arte, espaços distribuídos em

gioso e social em obras de revitalização. A ocu-

Ferrari, a igreja possui duas torres, porém ape-

uma construção contemporânea com destaque

pação desses espaços, com eventos ligados à ar-

nas uma delas está acabada, simbolizando a per-

para o uso de vidro e estruturas metálicas, uma

te, atrai um grande público e traz segurança pa-

feição de Deus ante a imperfeição humana. Em

interferência urbana que não “briga” com a par-

ra circular em regiões como a Praça San Martín,

cada escultura e detalhe ornamental nota-se o

te conservada.

o edifício do Cabildo e a Calle de las Flores.


pátio olmos SHOPPING, no bairro nueva córdoba, instalado em edificação de arquitetura centenária. Criado pelo arquiteto Elías Senestrari em 1909, o prédio abrigava uma escola. parcialmente destruída por um terremoto em 1977, a estrutura permaneceu abandonada por duas décadas até a sua transformação em shopping

31


aa i b r a s i l / r s

associação reúne expoentes da nova geração de arquitetos e urbanistas wem mais uma edição do seminário de qualificação profissional

Referências Técnica, pesquisa, talento, ousadia e muita criatividade. É dessa mistura que nascem projetos surpreendentes das mãos e das mentes de expoentes da nova geração de arquitetos e urbanistas brasileiros. Já bastante conhecidos por profissionais e estudantes de Arquitetura e Urbanismo – divulgados pela imprensa especializada nacional e pelas redes sociais – alguns desses destaques foram apresentados em detalhes por seus autores no Seminário realizado pela AAI Brasil/RS no dia 16 de outubro, na Fiergs, em Porto Alegre. Mais de 60 pessoas participaram do evento, que contou com o patrocínio do CAU/RS e das empresas Expresso do Oriente e Puxadores & Cia. Sob o tema “Uma Viagem pela Arquitetura”, os palestrantes foram convidados a apresentar seu trabalho com ênfase na inovação, nos diferenciais e nos desafios superados. Thiago Rodrigues e Antonio Carlos Figueira de Mello, dois dos quatro sócios do escritório paulista Superlimão Studio, fundado em 2002, detalharam trabalhos que revelam o interesse deles pela transformação de materiais industriais, reciclados ou recicláveis, em revestimentos e estruturas. Eles destacaram a característica do desenvolvimento de uma linguagem estética inspirada no cotidiano das grandes metrópoles.

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Fotos: Acervo AAI Brasil/RS

seminário atraiu profissionais e estudantes para as apresentações dos arquitetos e os jornalistas convidados pela aai brasil/rs que elegeram o vencedor do

urbanistas convidados. com a proposta de oferecerem uma “viagem pela arquitetura”, os palestrantes abordaram sobre alguns de

“Prêmio imprensa” dentre

seus principais trabalhos, destacando os

os projetos finalistas do

diferenciais de projeto e de métodos

concurso “Melhores Trabalhos de Arquitetura de Interiores”

construtivos e os desafios enfrentados para execução das propostas. Na foto, os palestrantes com a diretoria da AAI Brasil/RS

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MF Arquitetos, criado há 15 anos, representado pelo arq. e urb. Rodrigo Marcondes Ferraz, um dos três sócios. Em sua definição, eles procuram realizar uma arquitetura “contemporânea, investigativa e inovadora”. Totalizando quase 300 projetos desenvolvidos, o grupo acumula diversos prêmios nacionais e internacionais. Recentemente conquistou o Re-Thinking The Fu-

Fotos: Rafaela Netto / Divulgação FGMF

aa i b r a s i l / r s

De São Paulo, também foi convidada a equipe do FG-

ture Awards; o Internacional Rogélio Salmona, recebido na Colômbia; e o Wan 21 for 21, ingressando na seleta lista dos 21 escritórios de arquitetura do século 21. Outro destaque do evento foi a participação da jovem designer inglesa Francesca Wade, radicada em São Paulo. Ela é a mentora do disputado workshop de criatividade Mesa & Cadeira e do estúdio multidisciplinar Todos. Única representante gaúcha dentre os palestrantes, a arquiteta e urbanista Kelen Tomazelli apresentou o trabalho da Pop Studio Arquitetura Criativa, fundada em 2011 em Porto Alegre. A empresa é especializada no desenvolvimento de projetos de arquitetura efêmera e de arquitetura de interiores, residenciais e comerciais. O mais experiente dentre os palestrantes era o arquiteto e urbanista paranense Sérgio Parada, que comanda empresa própria desde 1997, com sede em Brasília (DF), a Sérgio Parada Arquitetos Associados, em sociedade com Rodrigo Mônaco Biavati e Kyle Bussinger Spínola de Andrade. O profissional já atuou em outros escritórios, em Curitiba; em grandes construtoras, em Brasília; no governo municipal da Cidade do México; foi professor universitário; e possui importante trajetória na defesa da classe, junto ao IAB. Acumula prêmios e homenagens, tanto no Brasil como no exterior. “Seja qual for o programa 34

Edifício comercial corujas, em São Paulo. Com gabarito baixo, o empreendimento foi planejado considerando os jardins do entorno das antigas casas do bairro, na escala do usuário. restaurante Deliqatê, recém-inaugurado na capital paulista. estrutura em aço, fachada envidraçada para manter “contato permanente com a rua”. Acima, detalhe da “casa grelha”, em madeira e vidro: respeito à topografia, à vegetação existente, à privacidade dos moradores e ao visual da serra da mantiqueira. projetos da fgmf arquitetos


Fotos: Divulgação

arquitetônico a ser traduzido em um edifício, desde o mais corriqueiro até o mais sofisticado, sempre resultará numa atitude complexa”, é a mensagem transmitida pelo arquiteto.

a premiação Durante o seminário, foi realizada a última das três etapas do processo de escolha dos vencedores da primeira edição do concurso “Melhores Trabalhos de Arquitetura de Interiores”, apartamento, em são paulo, projetado em 2011 pela equipe do

realizado pela AAI Brasil/RS com o apoio do

escritório superlimão estúdio. Abaixo, montagem de fotos

CAU/RS. Na ocasião, para análise e votação

do “paradouro gaúcho” no Evento criado pelo SEBRAE/RS, em parceria com o Governo do Estado para receber os

secreta de todos os participantes do evento,

visitantes durante a Copa do Mundo 2014. montado no

foram apresentados os três projetos finalistas,

Armazém B do Cais do Porto, em porto alegre, o espaço foi

sem a identificação dos autores. Cinco jorna-

projetado pela pop studio

listas especialmente convidados pela AAI Brasil/RS, presentes no seminário, elegeram ainda, dentre esses trabalhos, aquele que receberá o “Prêmio Imprensa”: Eleone Prestes, do caderno Casa & Cia da Zero Hora; Eduardo Bins Ely, do Jornal do Comércio; Patrícia Castro dos sites Pauta Social e Palpitadas.com; Lisiani Mottini, da TVCOM; e Marcela Brown, da Revista Decor. Os vencedores serão divulgados no evento comemorativo ao Dia do Arquiteto, que será realizado pela AAI Brasil/RS no dia 9 de dezembro, em Porto Alegre. O projeto vencedor estampará a capa da 12ª edição da publicação anual AAI em revista - arquitetos. Participaram do concurso, os trabalhos de ambientes participantes da publicação, os quais se inscreveram para a premiação. A primeira seleção ocorreu no dia 3 de setembro, pelo Conselho Editorial e pela presidência da Associação, mantendo todos os inscritos. A segunda etapa foi eliminatória, durante um café da manhã promovido no dia 1 de outubro especialmente para a ocasião, quando um júri formado por arquitetos e urbanistas convidados apontou os três finalistas, considerando a solução técnica adotada a partir do programa de necessidades, das condicionantes de projeto e do problema apresentado pelo cliente. 35


tero da linha SPA têm como destaque a inovação tecnológica. Com jatos para massa-

Foto: roberto Majola / divulgação

Fotos: divulgação

G A LERI A

Os novos chuveiros de teto italianos da Al-

gem de diferentes intensidades e LEDs cromoterápicos, o produto está disponível em três versões: 42X26cm, 42X42cm e 60X60cm.

Saiba mais em www.altero.com.br Seguindo o conceito de móveis planejados para “vestir a casa”, a Dell Anno firmou parceria, este ano, com o estilista Pedro Lourenço, que assinou um padrão de madeira que alia desenho orgânico

de Design e Arte, realizada em Gramado em setembro, a Sergio Bertti apresentou a Poltrona Zózimo, assinada pelo designer Ronald Scliar Sasson, na mostra “Inéditos: design-arte”. Somente 28 peças faziam parte do acervo montado por Alberto Vicente e

FONSEC Foto: CLAUDIO

Na primeira edição da IDA – Exposição Internacional

A / divulgação

com textura futurista. Batizada de Moon, a superfície foi inspirada na era da corrida espacial e chegada do homem à Lua, no final dos anos 1960, em que as casas no mundo passavam por um período de transição com uso de elementos orgânicos em abundância, como a madeira, a pedra e o couro, e estabeleciam contraste com o metal, que refletia a aspiração pela tecnologia, pelo futurismo.

Saiba mais em www.dellanno.com.br

Marcelo Vasconcellos, proprietários da galeria carioca Mercado Moderno (MEMO). Com revestimento metálico maciço, o móvel foi produzido em uma série de apenas três unidades, duas em cobre e uma em latão. O nome da poltrona é uma homenagem ao prestigiado colunista social carioca Zózimo Barrozo do Amaral (1941-1997). 36

Arrojado, o pendente TD 593 da Taschibra combina a sutileza do vidro com o requinte da madrepérola, em base de alumínio.

Outras informações em www.taschibra.com.br


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P RODUTOS & SERVIÇOS


você ainda não é parte da AAI? A primeira e única Entidade do Brasil exclusivamente de arquitetos e urbanistas que atuam em Arquitetura de Interiores. A Associação de Arquitetos de Interiores do Rio Grande do Sul - AAI-RS foi criada em 1997, em Porto Alegre/RS; o objetivo é a valorização do exercício profissional, divulgando a produção dos associados e esclarecendo o mercado quanto as particularidades da atividade. Em 2009, passou a chamar-se AAI Brasil/RS, Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil - Seccional RS, congregando a entidade nacional também fundada no Estado, a Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil - AAI Brasil.

por que participar? A AAI Brasil/RS promove a troca de experiências entre seu associados, incentiva o aprimoramento profissional, propondo o debate sobre a Arquitetura e Urbanismo; busca o estabelecimento de procedimentos uniformes para os aspectos principais do exercício profissional, promovendo a valorização da Arquitetura de Interiores; com outras entidades, sugere ações de para a regulamentação e fiscalização do exercício profissional da Arquitetura de Interiores nos âmbitos estadual e nacional.

Arquiteto e urbanista, faça parte de um grupo especial de profissionais!

venha para a AAI: Para saber mais: AAI Brasil/RS www.aaibrasilrs.com.br e 51 3228 8519 Projetato Assessoria projetato@projetato.com.br www.facebook.com/aaibrasilrs twitter: @aaibrasilrs


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