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Aviação Agrícola Brasileira Voa em Direção ao Uso do Baixo Volume

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LIVRE PARA VOAR

LIVRE PARA VOAR

Por Lucas Zanoni

Santa Fé Aviação Agrícola e Carlos Ferronato

Carlos Ferronato com esposa e filho em seu novo hangar.O piloto tem se destacado pelo serviço de aplicaçãoaérea em uma das regiões graneleiras mais produtivasdo mundo.

Carlos Ferronato é um piloto da nova geração da aviação agrícola brasileira. Começou no setor em 2010, como badeco, auxiliando pilotos em diversas aeronaves (Pawnee, Embraer, Thrush e Air Tractor). Em 2014 formou-se piloto agrícola em Ponta Grossa (PR) e seu primeiro emprego foi na região de Lucas do Rio Verde (MT), onde voou por três anos para uma empresa de aviação agrícola local, com um Ipanema 201 (fabricado em 1976).

Embraer Ipanema 203 de Ferronato recém saídoda fábrica, com um sistema de pulverização Zanonicompleto para ser instalado.

A partir daí, passou a trabalhar para o sogro, que é agricultor, e passou a realizar 100% de suas aplicações com aeronaves. Junto com a família de sua esposa, Carlos fundou uma empresa de aviação agrícola. Primeiro, compraram um Embraer Ipanema 201 e depois um Air Tractor 402. Passaram a atender outros agricultores da região de Lucas Rio Verde, Nova Mutum e Sorriso, hoje considerada um dos maiores centros produtores de grãos do mundo.

A empresa então vendeu o antigo Ipanema e comprou dois novos Embraer 203, prestando serviço de aplicação aérea para as lavouras de milho, algodão e soja, e também para pastagens e florestas de eucalipto. Na última temporada, eles atenderam 240.000 hectares na região, em sua maior parte com aplicações em BVO.

Uma Clínica de Aeronaves sendo conduzida com o AirTractor de Ferronato usando atomizadores rotativos.O operador diz que essas calibragens são essenciaispara maximizar os resultados e permitir um melhordesempenho da aeronave.

O piloto conta que, desde que entrou na aviação agrícola, sempre usou atomizadores rotativos, precisando apenas de bicos hidráulicos para aplicar herbicidas com maior vazão. Carlos destaca que os principais motivos são a qualidade da aplicação (tanto pela uniformidade da faixa quanto pela uniformidade do espectro de gotas), a eficiência da aeronave e a versatilidade do bico rotativo (que permite trabalhar com vazões menores para inseticidas e vazões ligeiramente maiores para fungicidas). Ele compartilhou algumas de suas perspectivas sobre este tipo de operação:

“Sempre tentamos trabalhar com algumas vazões mais baixas, dependendo do clima. Do início da manhã até as 9h, você tem um melhor desempenho dependendo do tipo de aplicação. Estamos fazendo vários testes com vazões diferentes, até encontrar o melhor resultado possível. Trabalhamos com 3 a 5 litros/ha para inseticidas e cerca de 8 a 10 litros/ha para fungicida, e os resultados estão cada vez melhores. Hoje em dia, com a qualidade das tecnologias que temos adicionado e utilizado, desde equipamentos DGPS, um bom sistema de pulverização, atomizador rotativo e toda a instrumentação para sua calibração perfeita (para largura de faixa e tamanho de gota), estamos otimizando a aeronave e nosso trabalho. Portanto, você precisa estar sempre buscando novas tecnologias e aberto a elas, porque essa é a única maneira de obtermos melhores resultados”.

Alan Poulsen e Taim Aero Agrícola

Alan Poulsen é um dos mais experientes pilotos agrícolas brasileiros em atividade e sempre foi uma pessoa que trouxe inovações para o setor no país. Ele certamente deveria ser homenageado com uma “medalha Mérito Aviação Agrícola” em algum momento.

Equipe da Taim reunida em um trabalho decampo. A empresa atende no sul do Brasil hátrês décadas. Seu fundador, Alan Poulsen, éresponsável por diversos desenvolvimentosimportantes para aplicação aérea com oIpanema.

Alan começou sua carreira em 1973, pilotando aeronaves executivas e táxi aéreo por cinco anos. Em 1979 começou a fazer aplicações aéreas para uma fazenda em Pelotas (RS) e em 1981 ingressou em uma empresa de aviação agrícola, a Mirim Aviação Agrícola. Com exceção de 1983, quando Alan trabalhou com voos executivos no estado do Pará, ficou na empresa até 1992.

Em seguida, o piloto formou a empresa Taim Aero Agrícola, localizada na mesma cidade de Pelotas. Com larga experiência no uso de aeronaves Ipanema, foi um dos pilotos que contribuíram para o aprimoramento da aeronave ao longo dos anos, realizando os primeiros testes do Ipanema 202 para a Neiva. Poulsen também ajudou a desenvolver o dispersor de sólidos para esse tipo de aeronave (o “swathmaster gaúcho”), hoje amplamente utilizado no Brasil.

A Taim atualmente atende pastagens e lavouras de arroz, soja, trigo e algodão, com aplicações líquidas e sólidas. A empresa também presta alguns serviços de combate a incêndios em uma reserva ecológica da região, o que é um caso peculiar por utilizar com sucesso aeronaves menores do que o restante das operações em todo o país. Poulsen também é atualmente um dos diretores do SINDAG, responsável pela segurança operacional na aviação agrícola.

Quando falamos em tecnologia de aplicação, Poulsen se destaca por ser o precursor na utilização do sistema eletrostático na América do Sul. Ele introduziu o uso dessa tecnologia na região em 2001, em parceria com a Spectrum Electrostatic System (de Houston, Texas).

Há duas décadas, a empresa vem desenvolvendo trabalhos com esse tipo de equipamento, sendo provavelmente um dos operadores aeroagrícolas com mais experiência no assunto em todo o mundo. Alan destaca algumas características desse tipo de operação:

“Trabalho com isso há duas décadas, com resultados bastante satisfatórios. O uso da tecnologia eletrostática nos permitiu alguns ganhos muito significativos. Em primeiro lugar, a possibilidade de trabalhar com gotas mais finas aumenta a eficiência da aplicação, dando-nos uma maior cobertura. A carga eletrostática também garante maior uniformidade no tamanho das gotas.

Temos feito pesquisas e pesquisas ao longo dos anos, conseguindo ver uma melhor deposição das gotas quando comparada às aplicações convencionais. Com vazões menores, normalmente trabalhando com 10 litros/ha, também obtive um ganho operacional significativo com minha aeronave e tivemos redução no uso de água.

Mas não devemos ver essa tecnologia como uma solução mágica, que acaba com a deriva ou outra coisa do tipo. Isso não existe. Tudo depende da manutenção precisa do sistema e, acima de tudo, de uma aplicação seguindo os parâmetros e condições corretos. É assim com qualquer tipo de trabalho. Você só consegue resultados satisfatórios com profissionalismo e a aviação agrícola não é um lugar para amadores”.

Uma das aeronaves de Taim equipada com onovo sistema eletrostático Zanoni-Spectrum.Alan Poulsen é o responsável por introduzir ouso dessa tecnologia na América do Sul.

Poulsen é responsável por costurar uma parceria entre a Spectrum dos EUA e a Zanoni Equipamentos do Brasil. As duas empresas estão desenvolvendo um novo sistema para aplicações aéreas utilizando eletrostática, mais moderno e eficiente. Alan já voa com ele há alguns anos e uma pesquisa, recentemente realizada em Taim com o equipamento, acaba de receber o “prêmio científico” do SINDAG em 2021. Liderados pelo professor Alfran Tellechea Martini, um grupo de agrônomos analisou o impacto do sistema eletrostático na deriva de fungicida.

Coleta de dados realizada com atomizadorZanoni em aeronave Ipanema 202. O projeto contribuiu com várias operadores brasileiros,ajudando a entender o espectro de gotas elargura de faixa neste tipo de aplicação.

Alan também tem ajudado a Zanoni Equipamentos com pesquisas científicas sobre seus atomizadores rotativos. Amigo de longa data de Sérgio e Graziela, ele disponibilizou no ano passado uma de suas aeronaves Ipanema para realizar uma bateria de testes, em diferentes vazões e configurações de bicos, que foi realizada pelo Dr. Henrique Campos. Os dados obtidos no projeto ajudaram dezenas de operadores brasileiros a encontrar a melhor configuração do atomizador Zanoni para trabalhar com inseticidas e fungicidas. Poulsen destaca a importância dos trabalhos científicos em nossa indústria:

“É muito bom ver o resultado de pesquisas sérias e bem feitas, como essas duas que fizemos aqui na Taim. É por meio de nossa experiência no campo e por meio dessas pesquisas que podemos ver o que funciona e o que não funciona. Onde há espaço para melhorias e o que podemos compartilhar como boas práticas com outros amigos da aviação agrícola. É assim que a indústria evolui”.

Anderson Pardal e Grupo Piaia

Um Air Tractor do Grupo Piaia trabalhando noestado do Piauí.

Anderson é mais um piloto agrícola da “nova geração” que vem se destacando na indústria brasileira. Ele começou na aplicação aérea em 2015, após uma breve passagem pelo transporte aéreo e aviação executiva. Suas duas primeiras temporadas foram com um Embraer Ipanema 202A (movido a álcool) e, depois que seu patrão adquiriu um Air Tractor, passou a operar o turbo, completando agora quatro temporadas com ele. O Grupo Piaia é uma empresa agrícola com fazendas na região de São Gabriel do Oeste (MS) e Campo Novo dos Parecis (MT), e também na região da Baixa Grande do Ribeiro (PI).

Uma visão detalhada da aplicação comatomizadores rotativos. Anderson destaca quesempre trabalhou com essa tecnologia e queatualmente é a mais utilizada em sua região.

As principais culturas que Anderson atende no Piauí são soja, milho e arroz, com aplicação de adubo foliar, inseticida e fungicida. Ele conta que sempre usou atomizadores rotativos e diz que não tem o que reclamar

“Há seis anos que trabalhamos dessa forma e esse foi um ano recorde. Voei 125.000 hectares e tivemos um ganho de produtividade de 50% em relação aos anos anteriores. Com a manutenção desse tipo de serviço, conseguimos controlar tanto pragas quanto doenças. Não tivemos surto de qualquer tipo. Sempre entrando na janela do calendário que precisa entrar e está sendo muito eficiente”.

O piloto conta que é comum trabalhar na região com vazões de 8 a 12 litros/ ha e que os atomizadores são a melhor solução para atender a essa demanda. Em sua operação, Anderson trabalha com vazões de 15 litros/ha para adubo foliar e 10 litros/ ha para inseticida. Com o fungicida, é comum aplicar 10 litros/ha no início do ciclo e, após 70 a 80 dias, passam para 15 litros/ha.

No ano passado, Anderson também começou a trabalhar como ferry pilot. Ele obteve seu ATP CTP e agora está trazendo novos Air Tractors dos Estados Unidos para a América do Sul, através da AgSur Aviones. Durante nossas conversas, ele também destacou a importância do compartilhamento de informações e publicidade em nosso setor:

“Gosto de divulgar o nosso trabalho, o trabalho da aviação agrícola. Sofremos preconceitos de todas as partes, no que diz respeito à segurança. Mas quando trabalhamos com profissionalismo, temos margem. Precisamos mostrar que o trabalho é sério, que está sempre em constante evolução. A aviação agrícola está crescendo muito aqui no Brasil e estamos apresentando o dia-a-dia da aplicação aérea. Você tem que ficar atento às inovações, acompanhar as novas ideias, para que as pessoas vejam o quanto somos sérios”.

Anderson durante uma operação de ferryflight, trazendo um Air Tractor dos EUA para aAmérica do Sul.

Zanoni Equipamentos e Sergio Zanoni

A Zanoni Equipamentos é fabricante de sistemas de pulverização para aeronaves agrícolas. Com uma ampla gama de produtos para aplicação aérea, a empresa é responsável pelo fornecimento de equipamentos para uma parcela considerável da frota aeroagrícola brasileira e para operadores em 15 países ao redor do mundo. Sergio Zanoni, CEO e engenheiro-chefe, destaca que desenvolveu esse tipo de tecnologia a pedido de seus parceiros, cada vez mais interessados na utilização de atomizadores rotativos:

“Somos uma empresa movida pela demanda, em busca de inovações que resolvam problemas. Antes, nosso trabalho se limitava à fabricação do próprio sistema de pulverização, como bombas, válvulas, barras etc. Aí recebemos pedidos de equipamentos de combate a incêndio. E, mais recentemente, os operadores de aviação agrícola começaram a nos solicitar soluções para aplicação aérea de melhor qualidade. Por isso, começamos a desenvolver algo que siga nossa filosofia em todas as outras frentes de trabalho: equipamentos duráveis e de alta qualidade.

Um produto desenvolvido para um único cliente acabou se tornando muito popular e hoje é um dos carroschefes da Zanoni. Aos poucos, fomos ajustando para atender o que cada parceiro precisava, o que é fundamental para desenvolver qualquer produto de qualidade, e atingimos um padrão de excelência em termos de aplicação aérea.

Alguns atomizadores para inspeção na fábricaZanoni. A empresa tem fabricado centenasdesses tipos de bicos para atender seusclientes em todo o mundo.

Temos trabalhado lado a lado com alguns dos mais renomados agrônomos do planeta e investido muito em pesquisas. Temos feito trabalhos em campo e em laboratório para auxiliar os usuários do atomizador Zanoni, buscando dados que contribuam para o melhor desempenho possível em termos de qualidade do espectro de gotas e uniformidade de faixa.

Além do equipamento em si, temos focado em prestar assessoria agronômica aos nossos parceiros e o trabalho do Dr. Henrique Campos (da Sabri) com sua Clínica de Aeronaves tem nos ajudado muito nisso. Também tenho muito a agradecer ao meu amigo de longa data Alan McCracken e a tantos outros cientistas brasileiros, que contribuíram para uma mudança substancial na forma como os pilotos agrícolas brasileiros vem trabalhando nos últimos anos. Profissionalismo e conhecimento são a chave para o sucesso.

É muito gratificante ver o Brasil liderando o caminho em novas tecnologias de aplicação de pesticidas nas lavouras. Eu acredito que temos muito a ensinar ao mundo sobre esse assunto. Temos muitos parceiros estrangeiros interessados em conhecer melhor o que está acontecendo aqui e certamente podemos contribuir para isso, pois hoje a aviação agrícola brasileira é destaque a nível global.

Um atomizador Zanoni sendo avaliado noLaboratório de Tecnologia de Aplicação dePesticidas (University of Nebraska-Lincoln,nos EUA). A pesquisa foi viabilizada porseus distribuidores americanos, da TurbineConversions.

Cassiano Melo, um dos engenheiros daZanoni, checando alguns atomizadores antesda realização de testes de avaliação doespectro de gotas e faixa.

Por outro lado, acho que há muito espaço para a gente trazer experiências estrangeiras para o Brasil com operações especiais de baixo volume. Junto com a família Hatfield (da Turbine Conversions), temos realizado diversos trabalhos de sucesso com operação de controle de mosquitos nos EUA e com manejo florestal no Canadá. O mesmo acontece com alguns de nossos parceiros na África que estão trabalhando no controle de gafanhotos. Essas aplicações especiais são áreas que provavelmente crescerão no Brasil no futuro, considerando o tamanho de nossa frota agrícola”.

Sabri e Henrique Campos

Henrique Campos é engenheiro agrônomo brasileiro com mestrado e doutorado em Tecnologia de Aplicação de Pesticidas pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Suas principais áreas de pesquisa são adjuvantes, bicos de pulverização e técnicas de mitigação de deriva, tendo também estudado na Universidade de Nebraska-Lincoln e sendo um analista internacional da NAAREF Operation S.A.F.E. (uma iniciativa do setor aeroagrícola norte-americano, concebida para demonstrar que a aviação agrícola reconhece sua responsabilidade de minimizar o potencial de efeitos adversos à saúde e ao meio ambiente).

Campos é associado à Sabri, um empresa de consultoria brasileira que reúne diversos doutores das mais diversas áreas relacionadas à agricultura. Entre a lista de associados da empresa estão alguns fabricantes de pulverizadores, drones, bicos de cerâmica, adjuvantes e agroquímicos, indutores e tanques pré-mistura e tecnologias digitais.

Dr. Henrique Campos analisando o estadode alguns bicos atomizadores duranteuma Clínica de Aeronaves. Seu serviço deconsultoria tem ajudado muitos operadoresbrasileiros a encontrar os melhores parâmetrospara aumentar a eficiência da aplicação aérea.

Com nove anos de experiência em pesquisas de campo e laboratório, o PhD é um dos agrônomos da “nova geração” que vem moldando os novos paradigmas de aplicação aérea brasileira. Com sua Clínica de Aeronaves Agrícolas DoPro, ele tem ajudado muitos operadores brasileiros na determinação da largura de faixa ideal para a aeronave, na verificação de perdas na distribuição do produto, no dimensionamento do potencial de deriva e na caracterização do tamanho das gotas. O trabalho é feito na base do cliente com uma série de tecnologias especiais desenvolvidas por pesquisadores americanos, universidades e pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Uma típica coleta de dados para análisedo espectro de gotas e largura de faixa. Acalibração da aeronave e a avaliação dosresultados antes da safra são essenciais paraotimizar o trabalho de aplicação aérea.

Já trabalhando juntos há alguns anos, agora em 2021 a Zanoni Equipamentos e a Sabri firmaram uma parceria para pesquisas com atomizadores. As duas empresas vão disponibilizar em breve uma plataforma com os resultados de diferentes condições de aplicação com o atomizador Zanoni, resultados de uma grande quantidade de testes em campo realizados por Henrique Campos. O pesquisador compartilhou conosco algumas de suas perspectivas sobre o futuro da aplicação aérea brasileira:

“Na minha opinião, o melhor de se trabalhar com atomizadores rotativos é a versatilidade e a precisão que oferece em termos de vazão e espectro de gotas. Vemos operadores no Brasil trabalhando com esses bicos desde ultrabaixo volume até aplicações com 20 e 30 litros/ha. Você pode produzir desde gotas muito finas a gotas grossas com grande uniformidade dependendo da sua necessidade, conseguindo assim um ótimo equilíbrio entre eficiência operacional e segurança.

Sabemos que há grande relutância em trabalhar com volumes menores devido a problemas de deriva e isso faz sentido. Mas gosto de dizer que qualquer trabalho profissional deve sempre seguir o caminho do meio, sem radicalizar para um lado ou para o outro, sempre olhando pragmaticamente os resultados. A deriva na aplicação também está relacionada à presença de culturas sensíveis, portanto, entender o ambiente é essencial para a sua mitigação. E estamos vendo ótimos resultados no Brasil, tanto em termos de qualidade de aplicação quanto em termos de segurança ambiental e sanitária”.

Campos apresentando alguns resultados aosseus parceiros. O especialista afirma queeficiência e segurança na aplicação aéreanão são antagônicas e que o operador devesempre olhar para “todos os lados”.

Alan McCracken

Alan McCracken é um agrônomo irlandês que mora nos Estados Unidos há décadas. Depois de passar por várias empresas multinacionais, sempre atuando como responsável pelas tecnologias de aviação agrícola, McCracken passou a atuar como consultor agronômico independente. Ele é o grande responsável por algumas das principais mudanças nos padrões de aplicação aérea em todo o mundo, inclusive na indústria brasileira, já tendo trabalhado em dezenas de países. Ele diz que passa mais da metade de cada ano viajando pelo mundo para ajudar nosso setor a voar na direção correta.

Alan McCracken durante uma de suas viagens ao Brasil, com dois pilotos (Erasmo Griebeler, à esquerda,e Rodrigo Kuhn, à direita). O agrônomo irlandês é umgrande especialista em aviação agrícola e contribuiupara algumas mudanças consideráveis nos padrões deaplicação aérea em todo o mundo.

Alguns histórias peculiares e de sucesso que ele gosta de contar são o controle da traça da azeitona na Espanha, o trabalho para controle de mosquito na antiga Iugoslávia, a luta contra os gafanhotos na Bolívia, a proteção das plantações de banana no Equador e o ajuste para aplicações de inseticida e fertilizante nas plantações de aspargos do México.

Na América do Norte, a McCracken ajudou os operadores a modificar seus parâmetros de aplicação em diferentes tipos de pulverização. Alguns dos trabalhos que ele destaca no Canadá são a calibração de aeronaves para o controle da spruce budworm, uma lagarta que ataca as florestas do país (e onde a aplicação já vem sendo feita há muitas décadas com operações de baixo volume) e a aplicação de fungicidas e dessecantes na cultura da canola. Nos Estados Unidos, seu trabalho se concentra na aplicação de fungicidas e inseticidas em todo o país nos mais diversos tipos de lavouras imagináveis.

Mais ao sul, McCracken é um dos agrônomos da “velha guarda” (apesar de ser um dos responsáveis por gerar muitas inovações na região), que influenciou muito o trabalho que hoje se faz no Brasil e na Argentina. Ele tem acompanhado de perto o desenvolvimento da indústria local, participando da maioria das convenções e prestando serviços a algumas das maiores empresas aeroagrícolas e fabricantes de tecnologias da América do Sul. Nessa região, seu trabalho se concentrou principalmente na gigantesca indústria de grãos (como soja, milho e arroz) e na citricultura. Ele foi o pioneiro na introdução de fungicidas de baixo volume para o controle da ferrugem da soja:

Pesquisa de campo realizada por Alan McCracken, noestado do Piauí, com um Air Tractor 402 utilizando umatomizador rotativo Zanoni.

“Quando todos os especialistas disseram para usar mais água, conseguimos o melhor controle possível, e com taxas menores. Por esta razão, muitas pessoas se referem a mim como o ‘homem de 5 litros’. Na minha opinião, isso é um elogio”.

Alan McCracken e a equipe do Grupo Piaia. O agrônomofoi o responsável por ajudar a encontrar uma soluçãopara a ferrugem da soja na América do Sul.

Voando para o futuro

A agricultura brasileira começou a desempenhar um papel cada vez mais importante na produção de alimentos para o mundo. Nos últimos 40 anos, a produção agrícola brasileira cresceu 385% e só aumentou em 32% a área cultivada, produzindo mais com menos e mantendo 2/3 de seu território como vegetação nativa.

Segundo a Embrapa (principal instituição brasileira de pesquisa agronômica), em apenas dez anos, a participação do Brasil no mercado mundial de alimentos saltou de US$ 20,6 bilhões para US$ 100 bilhões. Nas últimas duas décadas, a produção brasileira de grãos cresceu 210%, enquanto a produção mundial cresceu apenas 60%. Estima-se que a produção brasileira de grãos possa ultrapassar 500 milhões de toneladas até 2050. O Brasil passou de importador de alimentos para se posicionar como o maior produtor do mundo de laranja, café e soja, e o maior exportador de frango, carne bovina e açúcar, tornando-se o terceiro maior exportador agrícola do mundo.

O “Domínio da Agricultura Tropical” ou a “Conquista do cerrado brasileiro”, é resultado do esforço de milhões de pessoas. Desde os pioneiros que abriram as primeiras fazendas até os mais novos pesquisadores e cientistas, todos são responsáveis por posicionar o Brasil como uma potência agrícola que atualmente desenvolve tecnologias de ponta. Hoje, não apenas a nossa agricultura se beneficia de tecnologias estrangeiras, mas temos contribuído muito com o restante do planeta. É comum encontrar desenvolvimentos nacionais contribuindo com a produção de alimentos em vários outros países. Além de garantir a segurança alimentar global, o Brasil agora tem o papel de ensinar o mundo sobre o verdadeiro “jeito brasileiro” de se trabalhar no campo.

A indústria de aviação agrícola também faz parte desse avanço moderno: dos desenvolvedores de tecnologias de aplicação, fornecedores de agroquímicos, agrônomos especializados e até pilotos brasileiros que atuam em outros países, o Brasil decolou para ter a segunda maior frota agrícola do planeta. As experiências e sucessos das aplicações em baixo volume é apenas uma maneira pela qual podemos contribuir para o avanço do setor em nível mundial.

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