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O Impacto das Peças Não Homologadas na Segurança de Voo na Aviação Agrícola
FERNÃO CAPELO — Dr. Rogério Ribeiro Cardozo
Técnico em Manutenção de Aeronaves
Um dos problemas que causam enorme impacto na segurança operacional na aviação a nível mundial é a utilização de peças não homologadas, não certificadas ou até mesmo as peças originais de fábrica, porém que não possuem sua documentação em ordem. Tais peças são chamadas de “Unnaproved Parts”, “Counterfeit Parts” ou “Bogus Parts” (Peças Fantasmas), pois não possuem rastreabilidade. Rastreabilidade é a capacidade de se reconstituir o passado histórico de uma peça ou componente desde a sua fabricação até os dias atuais e quando uma peça não possui a sua documentação ou tem a mesma adulterada, ela passa a ser considerada uma “Bogus Part”.
Como dito anteriormente esse problema ocorre a nível mundial e o mercado clandestino de peças e componentes atinge níveis globais. Se falarmos somente em termos de aviação geral, que engloba entre outras modalidades a aviação executiva, aviação particular e também a aviação agrícola; se faz necessário que os operadores e os gestores de manutenção e das próprias aeronaves, além dos prepostos em si tenham a sensatez e a firmeza de resistir aos “encantamentos” de um preço mais acessível. Na aviação agrícola muitas vezes essas funções se confundem e é o próprio piloto que executa além da pilotagem propriamente dita, o controle da manutenção da aeronave bem como a compra dos materiais peças e equipamentos para a operação durante e após as safras de cada ano.
Os dados abaixo se referem aos números de reportes de suspeita de peças não aprovadas entre 2011 e 2015 nos EUA. O Brasil não possui uma estatística tão apurada assim e infelizmente somente quando da ocorrência de um acidente é que os dados são coletados e entrarão para o banco de dados dos órgãos competentes.
Outro problema que afeta a segurança das operações é a instalação de equipamentos não homologados ou que muitas vezes são sequer materiais aeronáuticos. Certa feita realizando um curso do CENIPA no Rio Grande do Sul, (CPAA-AG) na cidade de Canoas – RS, nos deparamos com relatos e fotografias que se não estivessem sendo visualizados por cada um de nós, com certeza acharíamos que se tratava de alguma piada ou brincadeira. Não era! Eram fotos retiradas dos relatórios de acidentes realizados pelas pessoas credenciadas de altíssimo gabarito daquela instituição.
Todo equipamento para ser instalado em uma aeronave deve possuir um Certificado de Homologação Suplementar de Tipo (CHST) emitido pelo fabricante do produto e aprovado pelo fabricante da aeronave ou motor ou um documento equivalente que ateste que a sua instalação não provocará nenhum tipo de interferência que possa prejudicar o funcionamento da aeronave. Tal documento acompanha todo kit de acessórios produzidos sob licença do fabricante da aeronave e no Brasil a instituição que aprova tais projetos é o Centro Técnico Aeroespacial (CTA) em São José dos Campos – S.P.
Vale lembrar que todo material aeronáutico além da certificação específica passa por um exaustivo controle de qualidade o que habilita sua utilização nas mais diversas condições de esforço bem como condições adversas de temperatura e pressão para o qual foi projetado e fabricado. O que pode parecer barato inicialmente quando é ofertado uma peça ou componente praticamente pela metade do preço, pode sair extremamente caro pois o preço de um acidente é incalculável e pode comprometer a existência de uma empresa sem falar nas vidas que podem ser ceifadas por tal atitude.
